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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS Olá! Meu nome é Fabrício Pini Rosales. Sou zootecnista, formado pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA/USP) em 2004. No período de 2011 a 2013, realizei meu mestrado na área de Gestão de Sistemas Agroindustriais, no Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São (UFSCar), no qual tive a oportunidade de estudar a competitividade do complexo agroindustrial do leite de búfala no Estado de São Paulo. Atualmente, estou cursando doutorado na mesma instituição, pesquisando o impacto das diversas estruturas de governanças sobre a mitigação dos riscos do Agronegócio. Tenho experiência em consultorias ligadas principalmente à pecuária de corte e de leite, bubalinocultura, certificação governamental e administração rural, entre outras. Também tenho atuado, desde 2011, como pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais (GEPAI), no qual tenho desenvolvido e publicado trabalhos em revistas nacionais e internacionais ligadas ao Agronegócio. Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Fabrício Pini Rosales Batatais Claretiano 2015 ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgareli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de Souza Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 338.16 R699a Rosales, Fabrício Pini Análise das cadeias agroindustriais animais / Fabrício Pini Rosales – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 148 p. ISBN: 978-85-8377-437-2 1. Competitividade. 2. Comercialização. 3. Agronegócio. 4. Produtos agroindustriais. 5. Exportação. I. Análise das cadeias agroindustriais animais. CDD 338.16 INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Análise das cadeias agroindustriais animais Versão: dez./2015 Formato: 15x21 cm Páginas: 148 páginas SUMÁRIO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 15 3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE ............................................................... 20 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 21 5. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 22 UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 27 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 27 2.1. AGRONEGÓCIO: VISÃO SISTÊMICA E PARTICULARIDADES ................. 28 2.2. COMPETITIVIDADE E CADEIA AGROINDUSTRIAL ................................. 34 2.3. DIRECIONADORES DE COMPETITIVIDADE ............................................ 39 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 58 3.1. AGRONEGÓCIO: VISÃO SISTÊMICA E PARTICULARIDADES ................. 58 3.2. COMPETITIVIDADE DO AGRONEGÓCIO ................................................ 59 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 60 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 62 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 64 UNIDADE 2 – PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 67 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 67 2.1. CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA NO BRASIL ........................... 67 2.2. SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA .............................. 72 2.3. SUBSISTEMA DE INDUSTRIALIZAÇÃO.................................................... 77 2.4. CONSUMO INTERNO E EXPORTAÇÃO DE CARNE BOVINA .................. 80 2.5. COORDENAÇÃO DA CADEIA .................................................................. 84 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 89 3.1. CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA NO BRASIL ........................... 89 3.2. SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA .............................. 90 3.3. SUBSISTEMA DE INDUSTRIALIZAÇÃO.................................................... 90 3.4. CONSUMO INTERNO E EXPORTAÇÃO DE CARNE BOVINA ................... 91 3.5. COORDENAÇÃO DA CADEIA ................................................................... 92 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 93 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 95 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 95 7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 96 UNIDADE 3 – PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE BOVINO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 99 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 99 2.1. CADEIA PRODUTIVA DO LEITE BOVINO NO BRASIL ............................. 99 2.2. SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA .............................. 105 2.3. O AMBIENTE INSTITUCIONAL DO LEITE NO BRASIL ............................ 108 2.4. COORDENAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE BOVINO .............. 111 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................115 3.1. CADEIA PRODUTIVA DO LEITE BOVINO NO BRASIL ............................. 115 3.2. SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA .............................. 116 3.3. O AMBIENTE INSTITUCIONAL DO LEITE NO BRASIL ............................ 117 3.4. COORDENAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE BOVINO .............. 118 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 119 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 120 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 121 7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 121 UNIDADE 4 – PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE SUÍNA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 125 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 125 2.1. CADEIA PRODUTIVA DA CARNE SUÍNA NO BRASIL .............................. 125 2.2. SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA .............................. 129 2.3. EXPORTAÇÃO BRASILEIRA E CONSUMO INTERNO DE CARNE SUÍNA . 133 2.4. COORDENAÇÃO DA CADEIA ................................................................... 137 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 141 3.1. CADEIA PRODUTIVA DA CARNE SUÍNA NO BRASIL .............................. 142 3.2. SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA .............................. 142 3.3. EXPORTAÇÃO BRASILEIRA E CONSUMO INTERNO DE CARNE SUÍNA . 143 3.4. COORDENAÇÃO DA CADEIA ................................................................... 144 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 145 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 147 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 147 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 148 7 CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Conteúdo Mapeamento e avaliação da cadeia produtiva do Agronegócio bovino (carne, leite e derivados) e suíno. Análise de competitividade e estudo da gestão das alianças estratégicas. Estratégias de comercialização. Sistema de exportação e mercados externos. Bibliografia Básica ARAÚJO, M. J. Fundamentos de Agronegócios. 3. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2010. BATALHA, M. O. Gestão Agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2009. 2 v. CALLADO, A. A. C. (Org.). Agronegócio. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Bibliografia Complementar BONTEMPO, M. Alimentação para um novo mundo: a consciência ao se alimentar como garantia para a saúde e o futuro da vida na Terra. Rio de Janeiro: Record, 2003. BATALHA, M. O.; SOUZA FILHO, H. M. (Org.). Agronegócio no Mercosul: uma agenda para o desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2009. MENDES, J. T. G.; PADILHA JR., J. Agronegócio: uma abordagem econômica. São Paulo: Prentice Hall Brasil, 2007. SILVA, M. R. C. Pecuária leiteira Piracanjuba/Goiás 2000-2006: avançar para sistemas sustentáveis de produção. Goiânia: Editora da UCG, 2008. ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F.; NEVES, E. M. Agronegócio do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2006. 8 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––– Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes: Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber. Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdo Digital Integrador” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno, seja bem-vindo! Iniciaremos o estudo de Análise das Cadeias Agroindustriais Animais, por meio do qual você será capacitado para compreender a dinâmica de funcionamento das cadeias produtivas agroindustriais (CPA) e quais elementos interferem direta ou indiretamente na competitividade de tais cadeias. Com isso, você terá condições de formular comentários críticos mais consistentes e elaborar políticas públicas ou particulares, buscando melhorar o desempenho das CPA. Além disso, ofereceremos a você um estudo de três cadeias produtivas com características e modo de funcionamento bem distintos uns dos outros. Nosso objetivo é proporcionar a você fundamentos para a criação de uma visão crítica de um futuro gestor do Agronegócio, cuja atuação deverá sempre considerar as características das diversas cadeias produtivas e o ambiente no qual estão inseridas. O que é competitividade? Antes de entrarmos no assunto “competitividade” propriamente dito, é fundamental ter em mente dois tópicos básicos que devem sempre nortear os estudos de Agronegócio: visão sistêmica e particularidades do setor agroindustrial. Tais assuntos já foram abordados em outras disciplinas, mas vale a pena fazermos uma pequena revisão. As firmas que compõem os diversos segmentos das cadeias produtivas agroindustriais estão se tornando cada vez mais dependentes umas das outras. Por exemplo: o segmento de apoio (fornecedores de insumos, embalagens, máquinas e 10 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO equipamentos etc.) é o responsável pelo desenvolvimento de tecnologia (sementes, adubos, aditivos alimentares, tratores, implementos agrícolas etc.), que gera ganhos substanciosos de produtividade nos demais segmentos (produção rural, industrialização e varejo). O segmento de produção rural (produção de leite, carne, ovos, grãos etc.), outro exemplo, é fundamental para a determinação da qualidade do produto final, assim por diante. Essa interdependência entre os atores envolvidos na atividade agroindustrial é um dos pilares que guia os estudos do setor e caracteriza a visão sistêmica. Figura 1 Representação da cadeia produtiva da carne bovina. A Figura 1 representa esquematicamente a cadeia produtiva da carne bovina. Observe que o elo de indústrias de apoio é responsável por fornecer insumos e equipamento para todos os demais segmentos da cadeia. O desenvolvimento de algum produto que gere ganhos para qualquer um dos 11© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO segmentos terá reflexo direto sobre a cadeia como um todo. Por exemplo, se uma empresa que trabalhe com reprodução animal identificar um animal que produza carne mais macia e fornecer material genético deste animal aos pecuaristas, a melhoria na qualidade da carne trará benefício a todos os demais agentes produtivos. Outro exemplo típico é a questão do armazenamento dos produtos. Nesse caso, as indústrias química, de embalagens ou até mesmo a de eletrodomésticos podem desenvolver produtos como enzimas, embalagens e aparelhos domésticos que aumentem a durabilidade dos alimentos e permitem a armazenagem destes. Essasinovações geram benefícios para toda a cadeia, mesmo que de forma indireta. Esses ganhos indiretos são resultado do efeito sistêmico. Outro ponto que devemos relembrar são as características que diferenciam as atividades do setor agroindustrial dos demais setores produtivos. A dependência da produção rural como fornecedora das principais matérias-primas, a características dos produtos agroindustriais (na maioria das vezes, perecíveis e de difícil padronização) e a grande influência dos consumidores nas CPA como um todo geram algumas consequências que não podem ser negligenciadas nos estudos das cadeias agroindustriais, pois interferem diretamente em sua competitividade. Mas, afinal, o que é competitividade? Quais fatores ou elementos podem tornar uma CPA mais ou menos competitiva? Você já deve ter ouvido falar em competitividade e pode até ter visto mais de uma definição para esse termo. Na verdade, definir competitividade não é uma tarefa fácil, e existem diversas maneiras para defini-la e estudá-la. Podemos abordar competitividade em diversos níveis (empresarial, setorial, regional, por país, por produto etc.), sob diversos aparatos teóricos (marketing, economia, administração etc.), e utilizar os 12 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO mais variados indicadores (preço, participação de mercado, lucro, inovação, qualidade etc.). Em outras palavras: competitividade é um fenômeno dinâmico que sofre influência de muitos fatores, e, por isso, adequaremos as variáveis a serem analisadas e a definição aos objetivos e características do objeto de estudo. Para estudar a competitividade das cadeias de produção agroindustriais, utilizaremos o modelo desenvolvido por Van Duren et al. (1991) para o estudo das cadeias canadenses, e mais tarde adaptado por Silva e Batalha (1999) para as cadeias brasileiras. Esse modelo utiliza direcionadores de competitividade (fatores capazes de influenciar a competividade de determinada CPA) para estudar as cadeias agroindustriais. Existem muitos direcionadores de competitividade que podem ser adaptados às características das diversas cadeias produtivas. Entretanto, alguns direcionadores podem ser considerados mais importantes: tecnologia e inovação, insumos e infraestrutura, gestão, ambiente institucional, estrutura de mercado e coordenação da cadeia. Cadeia produtiva da carne bovina Responsável por grande parte da balança comercial brasileira, a cadeia produtiva da carne bovina passou por grandes avanços nos últimos anos e tem se profissionalizado cada vez mais. Entretanto, essa cadeia ainda é marcada pela grande heterogeneidade de seus agentes produtivos, coexistindo grandes indústrias frigoríficas especializadas em exportação e pequenos matadouros que operam, muitas vezes, sem as mínimas condições de higiene. Como a maioria dos produtos agroindustriais, a determinação da qualidade da carne bovina tem origem ainda no 13© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO segmento de produção rural. Por isso, o produtor rural deve estar atento à raça dos animais, alimentação e manejo, procurando sempre evitar estressar os bovinos e abatê-los ainda jovens. Uma das principais características da cadeia produtiva da carne bovina é o constante conflito entre pecuarista e frigorífico. Esse conflito é resultado de uma série de fatores, como a desconfiança por parte dos pecuaristas, principalmente quanto ao peso das carcaças e ao controle da qualidade, à compra de animais no mercado spot sem um relacionamento de longo prazo, à inexistência de um agente coordenador da cadeia e à falta de um padrão para tipificação das carcaças. Para tentar solucionar essa situação, alguns produtores têm procurado firmar contrato com os frigoríficos ou participar de alianças estratégicas. Cadeia produtiva do leite bovino A história da cadeia produtiva do leite bovino é marcada por duas fases bem distintas. O período de 1945-1990 foi caracterizado pela marcante regulamentação do governo na atividade por meio do tabelamento de preços e controle das importações. Essa fase, em que o mercado lácteo nacional era protegido do mercado internacional e o produtor tinha pouco ou nenhum incentivo para investir na atividade, foi marcada por uma era de grande estagnação tecnológica, em que os aumentos de produção eram alcançados apenas por meio do aumento do rebanho e das áreas de exploração. A segunda fase, iniciada com a desregulamentação governamental e a abertura comercial na década de 1990, é marcada pelo ganho de eficiência e pela concorrência com os produtos importados. Devemos destacar que, como consequência da estagnação tecnológica ocorrida nos anos anteriores, o 14 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO produtor brasileiro não tinha condições de concorrer com os produtores internacionais, principalmente do MERCOSUL, no quesito qualidade e preço. Nesse cenário, apenas a partir de 2004, após a criação de alíquotas à importação, desvalorização cambial e melhorias na qualidade, a balança comercial de produtos lácteos tornou-se superavitária. A coordenação da CPA do leite pode ser realizada de diversas maneiras. De maneira geral, a principal forma de relacionamento entre produtor de leite e laticínio é regida por contratos informais que determinam a forma de determinação do preço e a quantidade a ser coletada, podendo ou não ser estipulada uma cota. Outras formas de coordenação dessa cadeia são: contratos formais, cooperativismo ou integração vertical (principalmente no caso de produtores de leite Tipo A). Cadeia produtiva da carne suína Outro produto de destaque na balança comercial é a carne suína. Graças a uma série de avanços tecnológicos e organizacionais, a exportação brasileira de carne suína tem crescido vertiginosamente, e o Brasil tem se destacado como um dos principais produtores mundiais desse produto. Apesar de ser um dos principais produtores mundiais, a carne suína ainda é muito pouco valorizada pelo consumidor brasileiro. Um dos principais fatores que favorecem essa situação é a falta de informação do consumidor. De certa forma, a carne suína é associada pela maioria dos produtores a uma alimentação não saudável (excesso de gordura) e à transmissão de doenças (vermes como a "solitária" ou a "gripe suína"). Entretanto, vale destacar que essa percepção não condiz com a 15© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO realidade, e a carne produzida pela suinocultura industrial é um alimento saudável. Um dos fatores responsáveis pelo grande desenvolvimento da suinocultura no Brasil é a forma como a cadeia se coordena. Na maioria dos casos e principalmente na Região Sul (principal polo brasileiro produtor de suíno), a Agroindústria é a responsável pela coordenação da CPA da carne suína. Nesse caso, os produtores possuem contratos com os frigoríficos e responsabilizam-se apenas pelas etapas finais de produção, enquanto a Agroindústria controla as fases iniciais da criação e fornece os principais insumos para a terminação dos leitões. Apesar de ser menos frequente e mais comum nas Regiões Norte e Sudeste, a comercialização de animais pelo mercado spot também existe. Nesse sistema, os suinocultores, chamados de produtores independentes, responsabilizam-se por todas as etapas de produção e pela aquisição de insumos. 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados. 1) Suinocultura: atividade de criar suínos (porcos) com finalidade econômica (obtenção de lucro). 2) Abatedouro: agroindústria especializada na matança de animais cuja carne é destinada à alimentação humana, podendo ou não processar a carne. 3) Acabamento de carcaça: parâmetro utilizado para avaliar a qualidadeda carcaça bovina. Animais com 16 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO carcaças bem acabadas (ou terminadas) apresentam maior porção comestível após abatidos. 4) Agroindústria integradora: agroindústria (normal- mente um frigorífico) que assume a coordenação da cadeia, estabelecendo parcerias no processo de cria- ção de suínos. 5) Ambiente institucional: leis formais (constituição, leis, diretrizes, normas e outros criados pelo governo) e informais (cultura, hábitos, religião etc.) que regem o comportamento do ser humano. 6) Barreiras técnicas: normas que limitam a importação de produtos que não atendem a determinadas especificações técnicas. 7) Carcaça: bovino abatido após a sangria e remoção dos órgãos internos, cabeça e cauda. Basicamente, carne, osso e gordura. 8) Castrado: animal que teve seus órgãos de reprodução (testículo no macho e ovários nas fêmeas) removidos, tornando-se infértil. 9) Cevado: suíno gordo, pronto para ser abatido. 10) Confinamento: sistema de produção no qual o animal permanece preso em uma área restrita (galpão ou curral) e é alimentado exclusivamente no cocho. 11) Controle estatal: controle exercido pelo governo sobre determinado setor da economia. 12) Coordenação da cadeia: forma como os agentes de determinada cadeia produtiva transacionam (compram e vendem seus produtos). 17© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 13) Cota: no texto, refere-se à determinada quantidade de leite que o laticínio obriga a adquirir de um produtor. 14) Creche: etapa de criação de suínos que sucede o desmame dos animais (entre 28 e 70 dias em média). 15) Extracota: quantidade que excede a cota. 16) Fêmea vazia: fêmea que não está gestante. 17) Fronteira agrícola: região delimitada por áreas onde a atividade agropecuária ainda não expandiu sobre o meio ambiente. 18) Frigorífico: indústria especializada no processamento e na industrialização de carne. Nem sempre faz o abate de animais. 19) Genótipo: refere-se às características genéticas do animal. 20) Gramíneas: no texto, refere-se a um tipo de planta de elevado valor nutritivo, destinada à alimentação de animais. 21) Leitão: filhote do porco ainda na fase de amamentação. 22) Leite Tipo A: leite proveniente de apenas um rebanho, ordenhado em sistema de tubulação e envasado na mesma propriedade. 23) Macho inteiro: macho não castrado. 24) Marmoreio: gordura entremeada nas fibras muscula- res, responsável por dar maciez, suculência e sabor à carne. 25) Marrã: porca jovem que ainda não entrou em reprodução, ou de primeira cria. 18 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 26) Mastite: inflamação da glândula mamária e responsável por comprometer a saúde do animal e a qualidade do leite. 27) Maternidade: baia ou piquete destinado às fêmeas prestes a parir. 28) Matriz: fêmea destinada à reprodução. 29) Melhoramento genético: técnica que busca identificar e selecionar animais com potencial genético superior aos demais. 30) Mestiço: mistura de várias raças sem controle zootécnico. 31) Ordenha: prática de extrair o leite dos animais. 32) Parasitas: organismos que se hospedam em outros animais do qual tira meio para sobreviver. No texto há referência a carrapatos, bernes, piolhos e vermes. 33) Per capita: referente ao indivíduo. Renda per capita: renda por indivíduo; consumo per capita: consumo por indivíduo. 34) Pós-dipping: lavagem dos tetos das vacas após a ordenha. 35) Políticas protecionistas: políticas públicas que visam proteger o mercado interno (nacional) da concorrência internacional. 36) Pré-dipping: lavagem dos tetos das vacas antes da ordenha. 37) Precoces: no texto, há referência a animais que atingem a puberdade mais rapidamente. Estes animais ganham peso mais rápido (vão mais cedo para o abate) e iniciam as atividades reprodutivas mais cedo. 19© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 38) Prenhes: gestante. 39) Regulamentação governamental: forma de o governo intervir nas atividades econômicas e controlá-las. 40) Recorrentes: que acontece mais de uma vez, com frequência. No texto, há referência a transações não esporádicas que geram um relacionamento de longo prazo. 41) Rendimento de carcaça: porcentagem do peso da carcaça em relação ao peso vivo do animal. 42) Rotação de piquetes: técnica por meio da qual grandes áreas de pastagem são subdivididas em áreas menores (piquetes); nesses piquetes, os animais alternam entre período de pastejo e descanso. 43) Rústico: animal mais resistente a enfermidades. 44) Sanitária: referente à saúde animal. 45) Superavitária: situação em que a balança comercial é positiva, ou seja, o país exporta mais do que importa. 46) Subsídios: forma por meio do qual o governo fornece incentivos financeiros à determinada classe social, setor econômico, empresa etc. No caso do Agronegócio, pode ser por meio de empréstimos a juros inferiores ao praticados no mercado, compra de produtos, isenção de impostos etc. 47) Tácito: tipo de acordo informal. 48) Tanque de expansão: equipamento específico para armazenar e resfriar leite bovino. 49) Tarifa externa comum: tarifa comercial padronizada para um conjunto de países ou blocos econômicos. 50) Tardias: que não é precoce. 20 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 51) Taurino: raça de animais provenientes do continente europeu. 52) Taxa de lotação: quantidade de animais (em unidade ou peso) que pastejam em determinada área (normalmente hectare). 53) Terminação: fase em que o animal é engordado para ser abatido. 54) Tipificação de carcaça: sistema de classificação de carcaças bovinas. 55) Zebuíno: raças de animais provenientes da Índia. 3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Como você pode observar, uma cadeia de produção agroindustrial sofre a influência de uma série de fatores externos e internos capazes de torná-la mais ou menos competitiva. Esses fatores determinam a competitividade potencial da CPA e são chamados de direcionadores de competitividade. A interação entre dois direcionadores de competitividade irá determinar o desempenho da cadeia. O desempenho da cadeia, que pode ser medido pela participação de mercado, irá determinar sua competitividade revelada. A partir do entendimento desses direcionadores e de como cada um age sobre as cadeias de produção agroindustriais, você será capaz de elaborar políticas públicas ou privadas ou até mesmo estratégias para tornar as empresas e as cadeias mais competitivas. 21© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Fonte: adaptado de Silva; Batalha (1999). Figura 2 Esquema de Conceitos-chave de Análise das Cadeias Agroindustriais Animais. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, D. R. R. Leite: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai. In: BATALHA, M. O.; SOUZA FILHO, H. M. (Coord.). Agronegócio no Mercosul: uma agenda para o desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2009. AZEVEDO, P. F. Comercialização de produtos agroindustriais. In: BATALHA, M. O. (Org.). Gestão agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2011, p. 63-112. BATALHA, M. O.; SOUZA FILHO, H. M. Analisando a competitividade de cadeias agroindustriais: uma proposição metodológica. In: BATALHA, M. O.; SOUZA FILHO, H. M. (Coord.). Agronegócio no Mercosul: uma agenda para o desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2009. BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. Gerenciamento de sistemas agroindustriais: definições, especificidades e correntes metodológicas. In: BATALHA, M. O. (Org.). Gestão agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2011. p. 1-62. NEVES, M. F. (Coord.) Estratégias para a carne bovina no Brasil. São Paulo: Atlas, 2011. 22 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 5. E-REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRIGORÍFICOS– ABRAFRIGO. Homepage. Disponível em: <http://www.abrafrigo.com.br/>. Acesso em: 8 jun. 2015. BANKUTI, S. M. S. Análise das transações e estruturas de governança na cadeia produtiva do leite no Brasil: a França como referência. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2007. (Tese de Doutorado em Engenharia de Produção, 310p.). Disponível em: <http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/tde_arquivos/1/ TDE-2007-10-22T07:39:38Z-1504/Publico/TeseSMSB.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2015. BATALHA, M. O.; SOUZA FILHO, H. M. Os sistemas agroindustriais de carnes no Brasil: aspectos organizacionais. Disponível em: <http://www.redmercosur.org/iepcim/RED_ MERCOSUR/biblioteca/ESTUDOS_BRASIL/BRA_67.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2015. BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. (Coord). Cadeia produtiva da carne bovina. 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Acesso em: 8 jun. 2015. © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS 25 UNIDADE 1 COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Objetivos • Rever alguns pontos conceituais fundamentais para os estudos sobre competitividade das cadeias agroindustriais. • Compreender o conceito de competitividade apli- cado às cadeias agroindustriais. • Identificar os principais fatores que determinam a competitividade das cadeias agroindustriais. Conteúdos • Agronegócio: visão sistêmica e particularidades. • Competitividade e cadeia agroindustrial. • Direcionadores de competitividade. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 26 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS 1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade. 2) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteúdo Digital Integrador. 3) Um exercício muito útil e gostoso de ser feito é acompanhar as notícias nas mídias especializadas em Agronegócio e entender como os conceitos aprendidos podem ser aplicados na prática. 4) Não deixe de tirar suas dúvidas e de participar dos fóruns e atividades propostas; isso servirá de balizador para seu aprendizado. 27© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS 1. INTRODUÇÃO Vamos iniciar nossa primeira unidade de estudo. Você está preparado? Nesta unidade, identificaremos e compreenderemos quais fatores influenciam a competitividade das cadeias agroindustriais. Para isso, inicialmente retomaremos dois assuntos que já foram tratados anteriormente, mas que são essenciais para entendermos a competitividade das cadeias agroindustriais: a visão sistêmica e as particularidades do Agronegócio. Apenas para destacar a importância desses tópicos, podemos afirmar que são eles que diferenciam o Agronegócio dos demais setores da economia e justificam uma linha de estudo específica sobre o Agronegócio. Após essa breve revisão, abordaremos o tema “competitividade” propriamente dito. Aqui, cabem duas ressalvas. Não temos a intenção de esgotar os assuntos a serem tratados, por isso, caso você tenha interesse em se aprofundar em algum tópico específico, sinta-se à vontade para realizar pesquisas em sites confiáveis e solicitar ajuda a seu tutor. Outro ponto importante é que, como você verá mais à frente, existem muitas definições e conceitos para competitividade; entretanto, a maioria refere-se ao estudo das empresas individualmente. Como nosso objetivo é estudar competitividade relacionada à cadeia, utilizaremos uma abordagem específica para esse fim. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su- cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão 28 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteúdo Digital Integrador. 2.1. AGRONEGÓCIO: VISÃO SISTÊMICA E PARTICULARIDADES Nesta unidade, vamos conhecer quais fatores interferem positiva ou negativamente na competitividade de uma Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA). É importante deixar claro, também, que a teoria aqui apresentada pode ser aplicada a qualquer setor do Agronegócio. Com isso, se você compreender bem o conteúdo apresentado, terá maior facilidade para entender o funcionamento de qualquer CPA. Até meados do século 20, as propriedades ruraiseram independentes e autossuficientes, ou seja, na mesma unidade produtiva, ocorria a produção de matéria-prima (leite, carne, milho, ovos, arroz, feijão, café etc.), a industrialização dos produtos para consumo (queijo, farinha, fubá, café torrado etc.) e a aquisição de insumos era praticamente nula. Com o desenvolvimento das indústrias ditas de apoio (produção de máquinas e insumos), com o êxodo rural e a formação dos grandes centros urbanos (menos mão de obra rural para alimentar uma população urbana crescente), bem como o aperfeiçoamento de técnicas de processamento e armazenamento de alimentos (facilita o comércio entre mercados distantes), entre outras transformações, as propriedades rurais tornaram-se especializadas e dependentes de outros agentes produtivos, como, por exemplo, produtores de insumos, prestadores de serviços, varejista e mercado consumidor. É essa dependência entre as firmas dos diversos segmentos produtivos (indústria de apoio, produção rural, agroindústria 29© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS e comércio) que caracteriza o Agronegócio e o diferencia do enfoque de agricultura. Cada vez mais, para entendermos como funcionam os sistemas agroindustriais e como torná-los mais competitivos, temos de analisar este conjunto de empresas interligadas entre si, e não apenas a produção rural ou outro elo individualmente. Foi nesse cenário que, em 1957, Davis e Goldberg, dois economistas de Harvard, deram início aos estudos que culmina- ram com a definição de Agronegócio. Zylbersztajn (1995, p. 108) explica que: a visão de Davis e Goldberg propõe um sistema agroalimentar cuja evolução partiu de unidades agropecuárias autossustentadas e em estado de autossuficiência com respeito ao uso e produção de insumos, para um novo status onde prevalece a grande interdependência entre segmentos do sistema agroalimentar. Ainda em relação à definição de Agronegócio, devemos destacar a importância da visão sistêmica para os estudos ligados a este setor. Batalha e Souza Filho (2009) destacam dois aspectos importantes de um sistema. O primeiro é que o sistema é formado por uma coleção de componentes interdependentes que interagem por meio de interações dinâmicas que envolvem a troca de informações e estímulos. O segundo ponto destacado pelos autores é a existência de uma rede de relações funcionais que atuam em conjunto, visando alcançar um propósito determinado. Staatz (1997) descreve cinco conceitos que servem de guia para o enfoque sistêmico: 1) Verticalidade: significa que as condições de um elo do setor tendem a ser influenciadas pelas condições de outro elo da cadeia. 30 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS 2) Orientação pela demanda: a demanda é vista como uma máquina que puxa bens e serviços por meio do sistema vertical. Por isso, é importante conhecer a dinâmica da demanda e como os diversos elos podem atendê-la. 3) Coordenação dentro da cadeia: as relações comerciais dentro da cadeia e as formas alternativas de coordenação são fundamentais para o funcionamento da cadeia (voltaremos a falar de coordenação mais adiante). 4) Competição entre sistemas: um sistema pode apresentar mais de um canal de comercialização que podem concorrer entre si. Como exemplo, podemos citar o mercado doméstico e a exportação. O produtor ou a agroindústria sempre vai procurar o mercado que pague o maior valor por seu produto. Assim, caso o mercado internacional esteja valorizando mais determinado produto, a tendência é que a exportação de tal produto aumente, diminuindo, assim, sua oferta no mercado interno. Com isso, os preços no mercado doméstico tendem a ser ajustados para cima (lei da oferta e da procura), podendo inclusive haver falta do produto. 5) Alavancagem: desenvolver ações para ajudar um grande número de empresas de cada vez pode ser caro. Por isso, a análise sistêmica pode identificar pontos onde as ações podem ajudar várias empresas de uma vez só. São vários os exemplos de efeito sistêmico nas cadeias de produção agroindustriais. Um caso clássico é a importância das indústrias de apoio. A inovação e o desenvolvimento de novos produtos no setor agroindustrial quase nunca ocorrem nos 31© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS segmentos de produção rural, industrialização ou comercialização, mas sim no segmento das industriais de apoio. Na cadeia produtiva do leite bovino, por exemplo, o desenvolvimento de embalagens cartonadas e do processo UHT permitiu que o leite fosse armazenado por período mais longo. Essa nova realidade fez com que a demanda por esse produto aumentasse, o que trouxe benefícios para a cadeia como um todo. O setor agroindustrial apresenta algumas particularidades que o diferenciam das demais atividades, e, consequentemente, muitas ferramentas de gestão desenvolvidas para outras áreas, quando importadas para o Agronegócio, perdem parcial ou total- mente sua eficiência. Vale lembrar que são essas características que justificam a existência de uma linha de estudos específica para o Agronegócio. A matéria-prima empregada na produção de todo o sistema agroindustrial tem como origem a produção rural e é aí que surge uma das particularidades mais marcantes do Agronegócio: a dependência da natureza biológica da produção agrícola. Segundo Azevedo (2011, p. 67), “a necessária vinculação da produção agroindustrial à oferta de produtos agrícolas subordina essa atividade às restrições ditadas pela natureza”. Essa subordinação não deve ser negligenciada e apresenta consequências diretas tanto para a agropecuária em si como para a CPA como um todo. O primeiro aspecto a ser considerado é o longo período de maturação dos investimentos. A produção rural é altamente dependente do ciclo biológico da cultura à qual se dedica, ou seja, deve-se respeitar o limite de tempo necessário para o crescimento da planta ou animal em questão. Isso impõe ao produtor uma defasagem de tempo entre a realização do investimento e o retorno esperado. Um pecuarista, por exemplo, 32 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS que se dedica a comprar bezerros recém-desmamados (oito meses) e vendê-los para o abate (24-36 meses), terá o retorno do seu investimento entre 16 e 28 meses. Outra particularidade da agropecuária é o fato de ser dependente das condições naturais e biológicas. Por isso, a produção rural depende de ocorrência de chuvas em quantidades e épocas do ano ideais e está sujeita à ocorrência de pragas e doenças. Outra consequência da dependência da natureza biológica na produção rural é a sazonalidade na disponibilidade da matéria-prima. Batalha e Silva (2011) esclarecem que a maior parte da matéria-prima das agroindústrias é obtida diretamente da produção rural, o que faz com que essas empresas estejam subordinadas às condições de safras e entressafras. Segundo esses autores, essa situação gera dificuldades para o planejamento e o controle da produção nessas indústrias, além de comprometer o rendimento do capital investido, uma vez que, durante a entressafra, estas trabalham com grande capacidade ociosa. Para a produção rural, o rígido regime de safra-entressafra também pode gerar algumas complicações. Durante o período de safra, quando grande parte dos produtores comercializa seus produtos, ocorre uma queda muito acentuada no valor pago aos agropecuaristas. Quanto maior a quantidade de produtos disponíveis no mercado (diretamente proporcional ao tamanho da safra), menor será o valor. Assim, mesmo que um produtor invista na sua atividade e consiga colher uma boa safra, não há a garantia de um retorno financeiro satisfatório, já que todos os produtores também podem alcançar o mesmo êxito, resultando, assim,em abundância de produto no mercado, com consequente queda no preço. 33© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS As particularidades citadas até aqui estão diretamente ligadas à produção rural, mas os produtos agroindustriais também apresentam algumas características especiais que precisam ser consideradas. Batalha e Silva (2011) citam pelo menos duas características dos produtos agroindustriais: variação de qualidade da matéria-prima e do produto final e a perecibilidade dos produtos. A qualidade do produto final das CPA é resultado da ação de cada elo da cadeia, por isso é importante que cada agente, desde a produção rural até o varejo, adote as técnicas corretas de produção, processamento e armazenamento. Na produção de carne bovina, por exemplo, a escolha das matrizes que produzirão os animais para abate, os processos empregados na criação desses animais, a forma de abate e armazenamento da carne são alguns dos fatores que determinarão a qualidade do produto final. Assim, caso o pecuarista não empregue as técnicas corretas de produção, é praticamente impossível conseguir carne de qualidade, mesmo que os demais agentes utilizem técnicas modernas de produção. Outra característica citada por Batalha e Silva (2011) é a perecibilidade tanto da matéria-prima como do produto final. O fato de se trabalhar com produtos perecíveis cria nas CPA uma preocupação ainda maior com a logística, uma vez que tais produtos devem ser transportados e armazenados em condições especiais, sob a pena de perdas consideráveis de qualidade. O leite é um exemplo clássico de produto perecível e que necessita de uma logística eficiente. Logo após ser ordenhado, o leite necessita ser armazenado a uma temperatura de 4ºC e deve ser transportado para o laticínio assim que possível. O transporte até o laticínio também tem de ser feito em caminhões-tanques adequadamente refrigerados, devendo ser processado o mais rápido possível. 34 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Por último, e não menos importante, devemos destacar a importância das ações do consumidor sobre os diversos segmentos do Agronegócio. O consumidor está tendo cada vez mais acesso à informação, e preocupações com a qualidade de vida têm interferido diretamente em suas decisões de compra. Outra preocupação que vem ganhando espaço entre os consumidores está ligada às questões socioambientais. Nesse cenário, além de considerarem “o que”, “quanto” e “para quando” produzir, as empresas ligadas ao Agronegócio devem se preocupar em “como” produzir. 2.2. COMPETITIVIDADE E CADEIA AGROINDUSTRIAL Nesta seção, abordaremos o tema “competitividade” e adequaremos sua definição à realidade e necessidades das ca- deias produtivas agroindustriais. Segundo Rosales (2013), as várias possibilidades de enfoques teóricos aplicáveis nos estu- dos (economia, marketing etc.), os diversos parâmetros a serem analisados (preço, lucro, participação de mercado, qualidade, inovação etc.) e os muitos níveis de análises (país, firma, cadeia, produto) trazem certa confusão e ambiguidade ao termo “com- petitividade”. O autor, após analisar diversas definições de “com- petitividade”, encontrou os seguintes pontos comuns: habilidade de atender às necessidades do consumidor, o crescimento sus- tentável e a capacidade para superar o concorrente. Assim, “competitividade” pode ser caracterizada como um fenômeno dinâmico e contínuo que sofre influência constante de fatores externos (situação econômica, ações dos concorrentes e situações de mercado, entre outros) e, por isso, não pode ser avaliada como um simples indicador de medida estático. 35© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Além disso, deve haver uma correspondência entre o conceito, as variáveis a serem analisadas e as unidades de medidas empregadas, já que ambos são adaptáveis ao objetivo do estudo. Ferraz et al. (1996), ao tentarem definir um conceito para competitividade, identificaram duas famílias distintas para tal: competitividade revelada e competitividade potencial. No primeiro caso, a competitividade é vista como desempenho e pode ser medida pela participação de mercado alcançado por uma firma em determinado momento no tempo. Nessa visão, o mercado, ao escolher quais produtos serão adquiridos, determina a posição competitiva de cada empresa. Já a competitividade potencial é determinada pela eficiência da empresa em converter insumos em produtos com o máximo de rendimento. Nesse caso, seria o produtor que definiria sua competitividade ao escolher as técnicas a serem utilizadas diante das restrições impostas pelo ambiente no qual se encontra. Entretanto, Ferraz et al. (1995) consideram que ambas as visões são estáticas e, por isso, ineficientes para capturar a essência dinâmica da competitividade e não esclarecem as causas para sua evolução. Assim, os autores adotam a seguinte definição para competitividade: “a capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (FERRAZ et al., 1995, p. 3). Cabe aqui fazermos uma pequena ressalva: a unidade de análise dos conceitos de competitividade frequentemente apresentados na Literatura são as empresas, enquanto nosso foco são as CPA. Graças ao efeito sistêmico que permeia estas cadeias, a competitividade de tal não é o resultado da soma 36 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS da competitividade das firmas que a compõe. Com isso, nossa preocupação não é mais determinar e avaliar se uma empresa sobreviverá ou não no mercado e qual a sua participação de mercado, e sim qual a capacidade da cadeia produtiva, vista como um sistema aberto, em competir e sobreviver no mercado. A empresa que entender a importância do efeito sistêmico e assumir que sua eficiência interfere diretamente na competitividade do sistema como um todo pode alterar sua maneira de interagir com os demais elos da cadeia e adotar estratégias de produção mais voltadas a atender as exigências de mercado. Assim, adotar mecanismo de coordenação adequado, investir em melhoria de qualidade e adotar níveis adequados de tecnologia, entre outros, são exemplos de atitudes que podem gerar efeito sistêmico e melhorar a competitividade da cadeia produtiva como um todo. A cadeia produtiva da carne bovina é um exemplo em que o emprego da visão sistêmica tem trazido ganhos substanciais para os produtores rurais e para toda a cadeia. Para satisfazer o consumidor final de maneira adequada, essa cadeia precisa atender, entre outros, a alguns requisitos como constância de fornecimento e padronização da qualidade. Alguns pecuaristas, buscando mudar essa situação, uniram-se em associações e/ ou cooperativas e formaram alianças estratégicas, criando uma relação mais próxima com a agroindústria e o varejo. Nos casos em que estas iniciativas lograram êxito, todos os agentes produtivos foram beneficiados: o produtor recebe pagamento diferenciado baseado na qualidade, a agroindústria tem uma matéria-prima de qualidade superior à sua disposição e o varejo consegue atender aos mercados mais exigentes. 37© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS É importante notarmos que, quando se trata de cadeias de produção agroindustriais, existe uma gama muito grande de fatores que determinarão a competitividade destas. Assim, como destacado por Rosales (2013), além dos usuais indicadores econômico-financeiros, como, por exemplo, custos, preços e taxas de crescimento, entre outros, dimensões não financeiras como atendimento ao consumidor, qualidade, tecnologia, coordenação e segurança alimentar devem serconsiderados. Outro ponto que também deve sempre ser considerado são as ações do governo que podem estimular, potencializar ou até mesmo comprometer totalmente o desempenho de uma cadeia ou de determinado setor. A criação de subsídios, por exemplo, pode interferir nos custos de produção de alguns produtos, aumentando, assim, sua competitividade frente aos concorrentes. O inverso também é verdadeiro: a criação de taxas e impostos elevados aumentará os custos de produção, elevando, consequentemente, o preço do produto para o consumidor final. Para Batalha e Silva (2011, p. 38), “um sistema agroindustrial dever ser gerido de forma eficiente e eficaz”. Para esses autores, a eficácia é determinada pela capacidade de atender às necessidades do consumidor final, e, por isso, é essencial que cada elo da CPA procure atender a demanda com a qualidade e quantidade necessária; caso contrário, a competitividade da cadeia como um todo seria comprometida. Batalha e Silva (2011) dividem a eficiência em dois fatores: gestão interna da firma e coordenação do sistema. Segundo esses autores, é a gestão interna das empresas agroindustriais que vão capacitá-las, por meio da utilização de ferramentas gerenciais adequadas, a disponibilizar seus produtos com nível adequado de qualidade e preço. 38 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS A coordenação, segundo fator destacado por Batalha e Silva (2011), está relacionada à forma como os agentes produtivos transacionam entre si. Segundo esses autores, cada vez mais a competitividade dos sistemas agroindustriais será ditada pela capacidade de seus elos em se coordenarem de maneira a gerar estímulos e um funcionamento harmonioso e sustentável. Assim, para que uma cadeia de produção agroindustrial seja competitiva, é importante: • que os agentes produtivos empreguem ferramentas gerenciais que permitam maximizar a utilização dos recursos produtivos; • coordenar-se de maneira adequada, garantindo a transmissão de estímulos e informações ao longo de todo o sistema; • atender às exigências e expectativas do mercado consumidor em relação à qualidade, quantidade e preço. Batalha e Silva (2011) destacam, ainda, a influência, em um contexto mais amplo, dos aspectos legais, sociais, culturais, tecnológicos e econômicos que podem oferecer oportunidades e ameaças para os objetivos dos sistemas. A Figura 1 ilustra, resumidamente, os elementos que podem influenciar na competitividade das cadeias de produção agroindustriais. 39© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS . Fonte: Rosales (2013). Figura 1 Condições de competitividade das cadeias agroindustriais. 2.3. DIRECIONADORES DE COMPETITIVIDADE Fica claro, agora, que a competitividade de uma cadeia de produção agroindustrial depende não apenas dos fatores sobre os quais as firmas têm domínio e influência, mas também de um conjunto de elementos externos que fogem totalmente do domínio dos agentes produtivos. Ações do governo, a interação entre os diversos elos da cadeia, estrutura de mercado, comportamento do consumidor, logística e infraestrutura, entre outros, são alguns dos elementos capazes de tornar uma cadeia mais ou menos competitiva. Objetivando sintetizar os principais determinantes da competitividade das cadeias produtivas agroindustriais sem desprezar suas especificidades, Van Duren et al. (1991) 40 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS desenvolveram um modelo de análise posteriormente adaptado por Silva e Batalha (1999) para o estudo da competitividade dos sistemas agroindustriais brasileiros. Batalha e Souza Filho (2009), ao se referirem ao modelo proposto por Van Duren et al. (1991), afirmam que: a conjunção do impacto de uma série de fatores teria como resultado uma certa condição de competitividade para uma dada cadeia agroindustrial. Conforme foi mencionado anteriormente, estes fatores estão estreitamente relacionados com a eficiência e com a eficácia das cadeias agroindustriais. Aos fatores que impactam diretamente sobre a competitividade das cadeias agroindustriais, Van Duren et al. (1991) denominaram-nos direcionadores de competitividade. Rosales (2013) identificou uma gama de direcionadores presentes em estudos de competitividade do setor agroindustrial, como: coordenação da cadeia, qualidade, custos, produtividade, políticas setoriais e insumos, entre outros. Segundo esse autor, a escolha de direcionadores varia de acordo com a cadeia a ser estudada e com o objetivo do estudo. Contudo, alguns direcionadores são comuns a todas as cadeias e podem ser considerados mais importantes. São eles: tecnologia e inovação, insumos e infraestrutura, gestão, ambiente institucional, estrutura de mercado e coordenação da cadeia. Veremos, de forma sucinta, a definição de cada um desses direcionadores e como eles impactam na competitividade das empresas. Tecnologia e inovação Batalha e Souza Filho (2009) destacam que a tecnologia e a geração de inovações são essenciais para a sustentabilidade da competitividade das cadeias agroindustriais, pois pode 41© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS reduzir custos de produção, melhorar a qualidade dos produtos, aumentar a produtividade e proporcionar condições de diferenciar produtos, entre outras consequências capazes de conferir maior eficiência ao sistema como um todo. Aqui vale destacar um ponto importante: quando falamos em tecnologia para a produção rural, nem sempre estamos nos referindo ao emprego de maquinários modernos ou outros equipamentos de última geração. Algumas práticas de manejo, como, por exemplo, pastejo rotacionado, integração lavoura-pecuária-floresta e adubação de pastagem podem ser consideradas tecnologia e trazem ganhos consideráveis para o produtor. Outrossim, é que se deve sempre adequar o nível tecnológico à capacidade e à realidade do produtor. Muitas vezes, uma tecnologia considerada rudimentar ou simples pode trazer benefícios para um pequeno produtor familiar, por exemplo. A adoção de novas tecnologias por determinado agente produtivo pode se desdobrar em vantagens competitivas para a cadeia toda. No complexo agroindustrial, da pecuária leiteira, por exemplo, a utilização de embalagens cartonadas e a adoção da tecnologia que produz o leite UHT (também conhecido como leite longa vida) proporcionaram à agroindústria, ao varejo e ao consumidor condições de armazenar o leite por mais tempo. Essa nova realidade aumentou a demanda por leite cru, o que beneficiou o produtor de leite. Tratando-se de tecnologia e inovação no Agronegócio, deve-se considerar a importância das indústrias de apoio no desenvolvimento e difusão de novas tecnologias. Empresas do setor de Mecânica, Química, Farmacêutico e Metalúrgico, entre outros, são responsáveis por desenvolver equipamentos, insumos, remédios, aditivos, embalagens, sementes e outros 42 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS itens responsáveis pelas inovações tecnológicas das cadeias agroindustriais. Outro fator limitante à inovação das cadeias agroalimentares é o comportamento conservador do consumidor em relação ao alimento. Mudanças muito radicais nas características dos produtos não são bem vistas pelo consumidor final, que tem no alimento uma referência cultural e de tradição muito grande. Insumos e infraestrutura A disponibilidade de insumos a baixo custo e com a qualidade desejada para todos os agentes produtivos é capaz de influenciar a competitividade das CPAs. Como principais insumos, podemos citar disponibilidade de terra barata, mão de obra qualificada e de baixo custo, alimentação e sanidade, no caso da pecuária, sementes e defensivos químicospara a agricultura. Muitas vezes, o produto final de determinada cadeia agroindustrial pode servir de insumo para outra cadeia e, nesse caso, a proximidade geográfica dessas cadeias pode significar ganhos competitivos para uma delas ou para ambas. No confinamento de bovinos, o gasto com a nutrição dos animais pode significar até 70% do custo total de produção. Nesse sentido, tem-se observado uma migração dos confinamentos brasileiros para o Estado do Mato Grosso, o maior produtor nacional de grãos. Deve-se lembrar também que quanto maior o nível de tecnologia de um sistema de produção, maior será sua dependência dos insumos. Com isso, a falta ou a oscilação de qualidade e de preço poderá comprometer a competitividade de um sistema todo. 43© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Já na Agroindústria, o principal insumo normalmente é adquirido diretamente da produção rural. Nesse caso, os gestores devem estar preparados para lidar com algumas das características do setor agroindustrial, como, por exemplo, os regimes de safra e entressafra. Em contrapartida, o produtor rural deve se preocupar em fornecer produtos com a qualidade, a quantidade e os preços adequados. Outro insumo fundamental para as indústrias agroalimentares é a mão de obra qualificada. Uma infraestrutura de qualidade interfere na eficiência de qualquer setor da economia. A falta de investimento em infraestrutura básica como energia elétrica, rodovias e comunicação (internet, celular, telefonia fixa) pode comprometer o desempenho de toda a cadeia produtiva. Na produção de frangos, a falta de energia para ventilar os galpões, mesmo que por um período curto de tempo, pode acarretar a morte de centenas de animais. Já a falta de investimento em transporte (ferrovia, rodovia e hidrovia) e armazenagem pode inviabilizar a concorrência com outros países produtores, mesmo que todos os elos da cadeia sejam eficientes. Gestão da firma Rosales (2013) afirma que, com as mudanças ocorrendo cada vez mais rápido no mercado, é importante as empresas entenderem o comportamento do mercado e tomarem as decisões de maneira a se colocar em vantagem em relação aos concorrentes. Batalha e Silva Souza (2009) acrescentam que a capacidade de as empresas responderem às mudanças do mercado é influenciada fortemente pela adoção de ferramentas de gestão. Segundo esses autores, tais ferramentas permitem 44 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS controlar e monitorar os processos produtivos e financeiros e identificar gargalos, tomar decisões e construir estratégias. Este autor destaca ainda que a adoção de ferramentas ade- quadas de gestão faz com que a informação se torne parte da firma, ficando desvinculada da figura do gestor. Com isso, mes- mo que o responsável pela atividade se ausente por um período de tempo, outra pessoa terá condições de assumir sua posição. Deve-se ressaltar a resistência, principalmente dos produtores rurais, em incorporar ferramentas de gestão em suas ativida- des. Nesse cenário, torna-se praticamente impossível conhe- cer todos os detalhes da produção, e as decisões são tomadas empiricamente. Estrutura de mercado O número e as características dos agentes (compradores e vendedores) envolvidos em certo mercado determinam a estru- tura desse mercado e estão diretamente associados ao seu nível de concentração e competitividade. Mercados com muitos com- pradores e muitos vendedores, sem que nenhum deles tenha condições de influenciar o preço (concorrência perfeita), seria o mais coerente. Porém, situações de monopólio, em que existem muitos vendedores e um único comprador, podem comprometer a competitividade da cadeia. De maneira geral, a concentração de mercado favorece a influência de uma das partes (comprador ou vendedor) sobre o preço dos produtos. Cesar (2009) descreve as seguintes estruturas de mercado: 1) Concorrência perfeita: situação em que existe grande número de vendedores e compradores para um produto homogêneo. O acesso às informações é livre e não há possibilidades, nem do vendedor e nem do comprador 45© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS interferirem no preço dos produtos. Há que se destacar que, na prática, a ocorrência de mercados com concorrência perfeita, como está sendo descrita, é praticamente impossível, já que a disposição de informações nem sempre é simétrica entre os agentes produtivos. 2) Monopólio: situação em que um único vendedor tem condições de fixar o preço de seu produto, que não possui substituto muito próximo. 3) Oligopólio: poucosvendedores, com bens que são substitutos. 4) Monopsônico: grande quantidade para apenas um cliente. 5) Oligopsônico: reduzido número de compradores e grande número vendedores. Em se tratando especialmente de cadeias agroindustriais, deve-se considerar o poder de barganha dos compradores, que tem se tornado cada vez maior. Essa realidade tem condições de induzir os preços de mercado, pressão sobre os lucros e exigência de fidelidade. Para tentar contornar esse cenário, os produtores podem alterar a forma de coordenação da cadeia formando, por exemplo, alianças estratégicas ou integrações verticais, o que pode limitar o poder de compra das agroindústrias. Nesse sentido, Mendes e Padilha Júnior (2007) destacam que os produtos agrícolas in natura são bastante homogêneos, ou seja, produtos de empresas diferentes (milho, soja, leite, boi etc.) são substitutos perfeitos uns dos outros. Com isso, os produtores rurais não têm condições de estabelecer o preço de seus produtos, pois, caso tentem vender seu produto a um valor superior ao pago pelo mercado, o comprador encontra outro vendedor com facilidade. Dessa forma, o produtor torna-se um tomador de preços e aceita o preço pago pelo mercado. 46 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Ainda segundo Mendes e Padilha Júnior (2007), o mercado de comercialização de produtos agroindustriais apresenta características próximas à concorrência perfeita, já que existe um grande número de compradores e de vendedores. Por outro lado, os mesmos autores argumentam que o mercado de insumos e equipamentos agrícolas é caracterizado pelo oligopólio com um pequeno número de empresas vendendo seus produtos (insumos e equipamentos) e um grande número de compradores. Nesse cenário, os produtores rurais não têm condições de determinar nem o preço de venda de seus produtos, nem o preço de compra de seus insumos. Ambiente institucional Como já mencionamos anteriormente, a competitividade das cadeias agroindustriais sofre influência direta às ações do governo, da situação econômica, dos arranjos culturais, dos costumes e das tradições. A esse conjunto de regras e leis formais (criadas pelos governos) e informais (cultura e tradição) que condicionam o comportamento dos gestores e consumidores ao longo da cadeia é denominado ambiente institucional. Nesse ponto, percebe-se a influência do comportamento do consumidor em influenciar a competitividade das cadeias agroindustriais. A cultura, a religião, a tradição, os hábitos e os costumes, entre outros, determinarão o tipo de produto a ser consumido. Os seguidores da religião islâmica, por exemplo, consomem apenas alimentos produzidos seguindo determinadas regras do Islã, chamado de alimento Halal. Nesse caso, para exportar produtos para os países árabes onde se predomina essa religião, é necessário adotar tais regras de produção, o que, muitas vezes, significa alterar os processos produtivos tradicionais. 47© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Apesar da grande relevância para o assunto em questão, é muito difícil modificar o comportamento do consumidor,e leva-se muito tempo para haver mudanças significativas, mesmo com investimento em propagandas. Com isso, focalizaremos apenas as questões formais do ambiente institucional. Batalha e Souza Filho (2009) destacam alguns elementos relacionados ao ambiente institucional considerados centrais para esse estudo: 1) Condições macroeconômicas: a demanda, o estímulo ao consumo, o crescimento do mercado consumidor, os níveis de investimentos e a renda da população, entre outros, são fortemente afetados pelas taxas de juros, câmbio, inflação, investimentos públicos e privados e impostos. Dessa forma, as ações do governo afetam a competitividade das cadeias agroindustriais positiva ou negativamente. Alterações nas taxas de juros, impostos e câmbio afetam os preços relativos dos produtos, tornando-os mais ou menos caros para o consumidor final, e comprometem a receita das firmas. 2) Políticas de comércio exterior: a forma como um país se relaciona com seus parceiros comerciais pode restringir ou aumentar as oportunidades comerciais. Tratando-se de Agronegócio, tanto as barreiras tarifárias como as não tarifárias têm grande influência sobre a competitividade. As barreiras tarifárias (taxas e impostos sobre produtos importados) objetivam proteger o mercado interno de produtos importados. Tais encargos aumentam o preço das mercadorias importadas, de forma que esses produtos se tornam pouco competitivos frente aos similares nacionais. Já as barreiras não tarifárias 48 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS restringem as importações se baseando no aspecto técnico (padrão de qualidade, questões sanitárias, questões socioambientais etc.). Dessa forma, mesmo algumas cadeias eficientes podem encontrar dificuldade ao tentar acessar mercados internacionais. Todavia, acordos comerciais podem facilitar o acesso a mercados dinâmicos e permitir a expansão das cadeias. 3) Programas e políticas governamentais: alguns segmentos do setor agroindustrial têm maior dificuldade em produzir e sobreviver sob certas macroeconomias. Dado à importância socioeconômica ou até mesmo de segurança alimentar de algumas atividades, o governo pode criar programa e políticas governamentais específicas para tentar compensar e reverter essa situação. A disponibilização de linhas de crédito com juros inferior ao praticado no mercado, por exemplo, é uma forma de o governo favorecer uma cadeia ou segmento específico. 4) Serviços de inspeção e vigilância sanitária: cada vez mais a questão da segurança do alimento está se tornando essencial para se acessar alguns nichos de mercado nacional e, principalmente, os mercados internacionais mais exigentes. Assim, a criação de leis e de sistemas de inspeção específicos que atendam a essas exigências pode determinar o acesso ao mercado de determinados países mais exigentes. Como exemplo, podemos citar o SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos), criado para atender à determinação da União Europeia em importar apenas carne de animais rastreados. 49© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Coordenação da cadeia A coordenação é determinada pelas estratégias de transa- ções (compra e venda de produtos) adotadas pelos agentes pro- dutivos de uma CPA e impacta diretamente em sua competitivi- dade. Segundo Rosales (2013), a coordenação é responsável por transmitir estímulos, informações e controles internos à cadeia, e tem por objetivo facilitar os fluxos (de produtos, financeiros e de informações) entre os envolvidos na transação, beneficiando, com isso, o planejamento e a sincronização entre os envolvidos. Batalha e Silva (2011, p. 32) ressaltam que “existem ganhos de coordenação, normalmente revelados em arranjos contra- tuais especialmente adequados às condições dos vários merca- dos que articulam esta cadeia, que devem ser considerados na análise de competitividade do conjunto do sistema”. Como exemplo, podemos citar o caso de um frigorífico que decidiu atender a determinado nicho de mercado que requer produtos com qualidade superior. Caso a empresa não tenha à sua disposição matéria-prima (boi para abate) em quantidade e, principalmente, qualidade necessária para atender a sua deman- da, poderá adotar duas estratégias – integração vertical ou estí- mulo do mercado via contrato. Na integração vertical, o próprio frigorífico investiria na produção de bovinos segundo sua neces- sidade. No segundo caso, a empresa tentaria estimular o merca- do a produzir animais segundo suas especificações e poderia em- pregar o contrato como forma de garantir ao produtor o retorno esperado sobre seu investimento. Várias cadeias agroindustriais como, por exemplo, a de suíno e a de frango, têm apresentado ganhos de competitividade com o emprego de contratos. A adoção de uma coordenação adequada é responsável, entre outros, por: 50 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS 1) Garantir o fornecimento (ou a compra) dos produtos e viabilizar a estratégia das firmas. 2) Garantir a segurança e a agilidade nas trocas de infor- mações, proporcionando economia de tempo. 3) Incentivar melhorias na qualidade do produto. 4) Diminuir os conflitos entre os envolvidos nas transações. 5) Distribuir melhor os ganhos dentro da cadeia. Antes de descrevermos as principais formas de coordenação das cadeias de produção agroindustriais, devemos deixar claro que os mecanismos apresentam pontos positivos e negativos, não existindo, com isso, uma forma ideal ou superior às demais. Assim, cada transação deve procurar um mecanismo que melhor se adéque às suas características e, em muitos casos, pode-se empregar mais de um mecanismo de transação. Como indicado na Figura 2, os principais mecanismos de coordenação das cadeias agroindustriais podem fazê-las variar de mercado spot para integração vertical. É importante notar que cada forma de coordenação da cadeia é marcada por diferentes níveis de comprometimento, interdependência e intensidade de troca de informação entre os envolvidos. Assim, quanto mais próxima à integração vertical, maior é o controle sobre a transação, o comprometimento e o compartilhamento de informações. Contudo, perde-se em flexibilidade, independência e estímulo de mercado e aumenta-se os custos. Esses elementos devem ser levados em consideração, pois são responsáveis por garantir a eficiência da transação. 51© ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Fonte: adaptado de Peterson et al. (2001). Figura 2 Principais formas de coordenação das cadeias de produção agroindustriais. Segundo Azevedo (2011), o mercado spot, também conhecido como mercado físico, é caracterizado por transações que se resolvem em um único instante de tempo. Este autor afirma ainda que esse tipo de transação (compra ou venda) é tipicamente esporádico e, mesmo que se repita, não há compromissos futuros, ou seja, toda negociação terá de ser refeita. Em outras palavras, no mercado spot, todo processo de compra, pagamento e entrega da mercadoria é realizado em apenas um instante, e não existe compromisso futuro ou continuidade da relação entre os envolvidos. Na cadeia pecuária da carne bovina, na maioria das vezes, as transações entre pecuaristas e frigoríficos são realizadas via mercado spot. O pecuarista, quando possui animais prontos para abate, negocia com o frigorífico as condições para venda (valor, 52 © ANÁLISE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS ANIMAIS UNIDADE 1 – COMPETITIVIDADE DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS data da entrega, data de pagamento etc.). Após a concretização da venda (entrega dos animais e pagamento), encerram-se os compromissos entre as partes e, mesmo que haja outra transação entre os mesmos agentes, outra negociação deverá ser
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