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2 SADRINE RANGEL DOS SANTOS RENAN JOSUÉ LIMA MATOS SILVA TRABALHO DE CRIMINOLOGIA Salvador, BA 2021 TEORIA DA SUBSCULTURA DELIQUENTE São vários os estudos apresentados por autores no sentido de definir criminologia, a depender do objeto de estudo relativo ao momento histórico, apresentando-se desde conceitos mais restritos, que se ligam apenas ao crime e criminoso, como àqueles mais críticos e abrangentes, que incluem a vítima e o controle social do comportamento delitivo. É possível compreender que a criminologia objetiva fornecer um diagnóstico qualificado do fenômeno criminal, ao estudar a criminalidade em todas suas causas. Por meio da investigação e análise experimental do crime, criminoso, vítima e do controle social, a criminologia possui condições de sugerir programas, diretrizes ou estratégias aos legisladores e poderes públicos, visando a prevenção, repressão do delito e ressocialização do delinquente numa perspectiva mais efetiva e com custos sociais adequados à população. Teoria da Subcultura Delinquente - Desenvolvida por Wolfgang e Ferracuti (1967), esta teoria defende a existência de uma subcultura da violência, que faz com que alguns grupos passem a aceitar a violência como um modo normal de resolver os conflitos sociais. Mais que isso, sustenta que algumas subculturas, na verdade, valorizam a violência, e, assim como a sociedade dominante impõe sanções àqueles que deixam de cumprir as leis, a subcultura violenta pune com o ostracismo, o desdém ou a indiferença os indivíduos que não se adaptam aos padrões do grupo. As teorias das subculturas criminais são diferentes teorias da criminologia que têm origem nas ideias da Escola Sociológica de Chicago. Elas objetivam o estudo das relações culturais e sociais que estão por trás dos crimes. Assim, essas teorias vão no sentido contrário das teorias que veem o crime como produto de distúrbios de personalidade ou de conflitos emocionais dentro de próprio indivíduo. A constituição das subculturas criminais representa a reação necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas diante da exigência de sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das limitadíssimas possibilidades legitimas de atuar. A subcultura, no entanto, não é uma manifestação delinquencial isolada. Vários indivíduos, cada um dos quais funcionando como objeto de referência dos outros, chegam de comum acordo a um novo conjunto de critérios e aplicam estes critérios entre si. Cada sociedade é internamente diferenciada em inúmeros subgrupos, cada um deles com distintos modos de pensar e agir, com suas próprias peculiaridades e que podem fazer com que cada indivíduo, ao participar destes grupos menores, adquira culturas dentro da cultura, isto é, subculturas. A teoria das subculturas começa a ser construída em um contexto de mudança na área da criminologia, pode-se considerar que há uma mudança de sentido no estudo, chamada pelo criminólogo Alessandro Baratta de ‘’Virada Sociológica’’. A lente, que antes era voltada pelo positivismo a se focar no indivíduo e suas possibilidades patológicas ou não de cometer um crime, passa agora a observar os corpos sociais, as relações culturais que envolvem uma comunidade e a possibilidade dessas influenciarem no cometimento de delitos. Pautadas pelos conceitos de Émile Durkheim, fundador do pensamento sociológico, como a ideia do desvio e da anomia, as escolas sociológicas da criminologia começam a se desenvolver e tentar explicar as causas sociais do crime, cabe aqui uma observação feita pela criminóloga Vera Malaguti acerca de certas manutenções: "Embora se desloque do paradigma positivista, ainda mantém seu caráter etiológico, com um deslocamento de causalidade natural e bioantropológica para uma causalidade social". A teoria das subculturas se constrói a partir daí com uma série de contribuições, mas em que certa medida, identificam nas relações culturais o seu ponto nuclear de observação, Gabriel Anituatraz uma pequena generalização que facilita essa compreensão: "A cultura é o conjunto de costumes, códigos morais e jurídicos de conduta, crenças, preconceitos, etc. que as pessoas de uma comunidade compartilham e aprendem no convívio social. Sem dúvida, esses teóricos das subculturas acreditavam que dentro da cultura geral podem existir subgrupos que, embora identificando-se, em geral, com esses valores fundamentais, distinguem-se dela em algumas questões relevantes. Conforma-se assim uma subcultura". Os estudos, ao identificar possíveis subculturas criminosas, mostram sua relação com as ideias funcionalistas, que de acordo com Alessandro Baratta, pretendem estudar o vínculo funcional do comportamento desviante com a estrutura social. O delito então seria fruto dos aspectos e da realidade cultural na qual o sujeito está imerso (reforçando assim a permanência de traços positivistas no estudo criminológico) e, a partir do estudo dos hábitos, dos territórios, da observação na adequação de indivíduos a costumes que lhe garantiam uma vida melhor em seu contexto socioeconômico, seria possível obter previsões e garantir prevenções, como foi tentado na cidade de Chicago, com uma série de reformas no esqueleto da cidade (evitando lugares ermos, de difícil acesso, etc.). As teorias das subculturas criminais negam que o delito possa ser considerado como expressão de uma atitude contrária aos valores e às normas sociais gerais, visto que afirma existirem valores e normas específicos dos diversos grupos sociais. Assim, não existiria um referencial absoluto frente ao qual o indivíduo age livremente, sendo culpável a atitude daqueles que, podendo, não se deixam ‘determinar pelo valor’, como quer uma concepção antropológica de culpabilidade, que se encontra, principalmente, na doutrina penal alemã (concepção normativa, concepção finalista). A partir da Sociologia, evidencia-se que não existe um conjunto de valores pré-constituídos, que se tomava como refletido nas leis, mas sim que existem, em conjunto com valores e regras sociais comuns, valores e regras específicas de grupos. Ainda, retomando-se a ideia das associações diferenciais e de desorganização social de Edwin Sutherland, se são as condições sociais, estruturas e mecanismos de comunicação e aprendizagem que determinam uma inversão de valores, normas, comportamentos e técnicas, a partir do pertencimento a uma subcultura, passa-se a questionar o real terreno de liberdade para autodeterminação. Essa visão sociológica, igualando o mecanismo de aprendizado do comportamento criminoso ao do comportamento conforme o direito relativiza a classificação das pessoas entre os que interiorizaram as normas, conformando-se com elas, e os desviantes. Diante do reconhecimento do reduzido espaço de escolha individual e determinação da vontade, “as teorias das subculturas constitui não só uma negação de toda teoria normativa e ética da culpabilidade, mas uma negação do próprio princípio da culpabilidade, ou responsabilidade ética individual, como”. Esta teoria defende a presença de subculturas em todas as sociedades, sendo que a existência de uma subcultura violenta faz com que alguns grupos passem a aceitar a violência como modo normal de resolução de conflitos, como o acontecido no Jacarezinho, bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro. Uma operação policial onde várias pessoas foram mortas por policias que optarão por usar a violência para combater a criminalização nesses locais. Diante das diferentes perspectivas dos conceitos das teorias criminológicas, entende-se que a criminologia é uma ciência empíricae interdisciplinar que investiga e reflete sobre o ato de punir e o complexo fenômeno criminal ao estudar o crime, criminoso, vítima e controle social, visando subsidiar o legislador na criação/modificação das normas penais e os poderes públicos para agirem na prevenção, repressão do delito, ressocialização do criminoso e restauração do círculo social afetado. Modernamente, seu objeto está consolidado em quatro vertentes: crime, criminoso, vítima e controle social. Utiliza-se, ainda, dos métodos biológicos e sociológicos, bem como da metodologia experimental, naturalística e indutiva na análise e observação da realidade do saber criminológico, além de possuir como elementos essenciais a autonomia, o empirismo e a interdisciplinaridade. TEORIA DA ANOMIA Ao longo dos séculos a busca pelo estudo do crime e suas relações na sociedade, produziram várias vertentes de estudos, na qual se basearam os mais diversos estudiosos sobre o tema, atrelados a várias teorias que formam a doutrina, da chamada criminologia. Diante disso, com base no criminologo Edwin H.Sutherland, grande criminologo do início do século XX, conceitua essa ciência em “Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo” Com base nisso, surgiram várias teorias acerca do tema, sendo uma delas a chamada de ANOMIA ou teoria ESTRUTURAL – FUNCIONALISTA apresentada por Émile Durkheim, grande pensador do século XX, em suas obras “Da divisão do trabalho social” e “O suicídio”, mas foi desenvolvida pelo criminologo americano Robert King Merton, com base nesse pesquisador a sociedade tem um consciente coletivo, baseada em um conjunto de valores que são considerados como ideais, e com isso irá elencar metas culturais que são características volitivas nas quais todo muito deseja alcançar, atrelado aos meios institucionais que são os métodos para se alcançar essas metas culturais. Por consequência, caso a busca por esses anseios de determinados agentes, não obedeçam às normas institucionais, poder-se-á entrar em um estado de ANOMIA que é a desordem e a desobediência dos métodos institucionais em busca das metas culturais, que a maioria da população busca em sua completude. Diante disso, aconteceu uma operação na comunidade do jacarezinho, na qual morreram vários suspeitos de crimes, em que a polícia investigativa junto com o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, em uma longa investigação e se baseando em fatos concretos. Sendo assim, entrou na comunidade denominada Jacarezinho para cumprir mandados de prisões de integrantes de uma Facção criminosa, na qual acabaram morrendo um policial civil e 28 suspeitos de aliciarem menores ao tráfico de drogas, em que fica tipificado o crime de corrupção de menores. Com base nisso, houve grandes manifestações em relação à operação policial, alegando que existiu um excesso por parte do poder público. Portanto, como não se concluiu as investigações sobre o tema, não há como apontar excessos e acertos por parte do órgão estatal até os fins da investigação. Porém, com base na criminologia e com uma das teorias do consenso que é a o da ANOMIA, percebe-se que vários suspeitos poderiam estar em busca da chamada meta cultural, que são bens, dinheiro, fama e outras consequências em que uma sociedade produz. Mas, essa procura pode encontrar obstáculos mais fáceis que são os meios não institucionais, e que com isso violem as normas, sendo então o poder público o garantidor jurídico desse então contrato social estabelecido pelos cidadãos Diante disso, percebe-se a consequência de estímulos contrários produzidos por uma sociedade, através de diversos fatores sociais e principalmente econômicos, gerando uma busca incessante pelo prazer e a busca da meta cultural estabelecida por Durkheim e Merton, pois, a operação no jacarezinho mostra como a busca por essas metas através do tráfico e a corrupção de menores gera um ciclo de violência, anarquismo e violação as normas institucionais estabelecidas por um contrato social desde os primórdios da humanidade. Por consequência, a teoria da Anomia se utiliza desses conceitos, para explicar a funcionalidade social em que diversos fatores multiculturais produzem em relação à sociedade e ulteriormente uma desobediência a normas pré-estabelecidas. Diante disso, no âmbito estatal, representado pela polícia judiciária do Estado do Rio de Janeiro, exige-se a utilização da força para a proteção dessas normas institucionais violadas com base no princípio da proporcionalidade, razoabilidade e com a preservação do contraditório e a ampla defesa. Sendo assim, com base em Max Weber, grande sociólogo do início do século XX, diz “O Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território”, ou seja, os órgãos governamentais que representam a figura jurídica do Estado possuem legitimidade e poder genuíno de utilizar-se de força como uma forma de intervenção, com base na necessidade do caso concreto, com o intuito da preservação de bens jurídicos e principalmente das normas e meios institucionalizados que perpetuam a sociedade há séculos, e que com isso houve grandes mudanças ao longo de todo o mundo, com ênfase no nacional. Como se vê, a teoria da Anomia explica alguns fatores sociais que cercam a sociedade no presente exposto. Pois, há uma criação por diversos seguimentos afins para a busca de metas culturais e fazendo com que haja uma busca incessante por esses prazeres matérias e psicológicos. Portanto, gerando uma maior violação das normas institucionais, com o intuito de obter essas “práxis” conforme o entendimento de Karl Marx, grande sociólogo e pensador do século XX, pois produz um caminho mais fácil ao materialismo fático que se encontra presente em grande quantidade no mundo contemporâneo. Portanto, o que aconteceu no jacarezinho é uma forma de exteriorização do mercantilismo e por ventura dos meios e normas sociais que existem hoje em dia e que geram violações a normas institucionais e por consequência uma força repressiva do Estado, como forma de obter-se uma maior confiança e segurança jurídica pelos meios estatais. 2