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FACULDADE FUTURA CONTEÚDO E METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA VOTUPORANGA – SP SUMÁRIO 1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ESCOLAR: UMA ESCOLA PARA TODOS.........................................................................................................................4 1.1 Educação especial e educação inclusiva .............................................................. 4 1.2 Inclusão escolar .................................................................................................... 9 2 o que é comunicação alternativa? ......................................................................... 15 2.1 Histórico da comunicação alternativa ................................................................. 15 2.2 Comunicação alternativa..................................................................................... 17 2.3 Sistemas de CAA ................................................................................................ 18 2.4 PCS – Picture Communication Symbols / Símbolos de Comunicação Pictórica (JOHNSON, 1981) .................................................................................................... 19 2.5 PIC – Pictogram Ideogram Communication (MAHARAJ, 1980) .......................... 41 2.6 O PECS-Adaptado .............................................................................................. 42 2.7 Programa de comunicação alternativa e ampliada no contexto familiar – (ProCAAF) ................................................................................................................. 45 3 O QUE FAZER QUANDO UM ALUNO NÃO É CAPAZ DE ESCREVER? ............ 47 3.1 Dilemas sobre a linguagem escrita ..................................................................... 47 3.2 Sobre a linguagem escrita .................................................................................. 49 3.3 O processo de aquisição da leitura e da escrita ................................................. 52 3.4 Dificuldades da criança na leitura e na escrita: características ........................... 58 3.5 Os fatores que determinam as dificuldades na escrita ....................................... 62 3.6 Dificuldades de aprendizagem na escrita, fatores que interferem e possibilidades de avanço a partir de um olhar psicopedagógico ...................................................... 66 3.7 Algumas estratégias para o ensino da leitura e escrita ....................................... 68 3.8 Algumas maneiras de iniciar a compreensão da língua escrita .......................... 69 4 MATERIAL DE APOIO .......................................................................................... 71 4.1 Recursos para a educação inclusiva .................................................................. 71 4.2 Mudanças na escola ........................................................................................... 74 4.3 A organização e a oferta do AEE ........................................................................ 75 5 COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E/OU SUPLEMENTAR .................................... 81 5.1 Definindo a comunicação alternativa e/ou suplementar ...................................... 82 5.2 Principais sistemas de comunicação .................................................................. 83 5.3 Alguns cuidados no momento da confecção do recurso de comunicação suplementar e/ou alternativa ..................................................................................... 86 5.4 Técnicas de seleção dos símbolos ..................................................................... 87 5.5 Cuidados nas estratégias selecionadas para o uso de comunicação alternativa 88 6 SISTEMAS SUPLEMENTARES E/OU ALTERNATIVOS DE COMUNICAÇÃO (SSAC).......................................................................................................................89 6.1 Sistemas de Comunicação não-verbal ............................................................... 90 6.2 Terminologia Básica ........................................................................................... 91 6.3 Objetivos Gerais ................................................................................................. 91 6.4 Utilização de um SSAC ....................................................................................... 92 6.5 Algumas indicações ............................................................................................ 92 6.6 Considerações quanto à prescrição de um SSAC .............................................. 92 6.7 Breve histórico .................................................................................................... 93 6.8 Descrição sumária dos SSAC mais utilizados .................................................... 95 6.9 Classificação ....................................................................................................... 96 6.10 Símbolos criados por Charles Bliss.................................................................... 97 6.11Símbolos Internacionais ..................................................................................... 97 6.12 Fatores que interferem no significado dos símbolos Bliss................................. 98 6.13 Picture Communication Symbols (PCS) / Sistema Pictográfico de Comunicação............................................................................................................. 98 6.14 Características do sistema................................................................................99 6.15Suporte físico para a disposição dos sistemas de comunicação com ajuda ....................................................................................................................... 100 6.16 Seleção dos símbolos.......................................................................................100 7 RECURSOS DE BAIXA TECNOLOGIA .............................................................. 102 7.1 Mediação pedagógica: ação inerente à prática docente ................................... 103 7.2 Tecnologia assistiva como resposta às necessidades educacionais ................ 105 7.3 Recortes do cotidiano: o desenvolvimento do trabalho ..................................... 107 8 RECURSOS PARA TRABALHAR COM ALUNOS QUE APRESENTAM DIFICULDADES NA ESCRITA ................................................................................ 115 8.1 A dificuldade de aprendizagem na escrita: o que é? Como ajudar? ................. 115 8.2 Ações e atitudes adequadas de professor e pais ............................................. 117 8.3 A Disortografia .................................................................................................. 118 9 PSICOMOTRICIDADE E SEU AUXÍLIO NA COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA... 122 9.1 A psicomotricidade ............................................................................................ 122 9.2 Elementos básicos da psicomotricidade ........................................................... 123 9.3 Esquema corporal ............................................................................................. 123 9.4 Lateralidade ...................................................................................................... 125 9.5 Estrutura espacial ............................................................................................. 127 9.6 Estrutura temporal ............................................................................................ 128 9.7 Coordenação global, fina e óculo-manual ......................................................... 129 9.8 Percepção visual e auditiva .............................................................................. 131 9.9 Pré-escrita .........................................................................................................132 9.10 Intervenção psicomotora ................................................................................. 134 9.11 Educação inclusiva e psicomotricidade.............................................................134 9.12 A psicomotricidade e suas contribuições no processo de aprendizagem de portadores de necessidades educativas especiais ................................................. 138 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 145 1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ESCOLAR: UMA ESCOLA PARA TODOS1 A escola contemporânea foi planejada para atender um determinado perfil de aluno, entretanto, hoje, a demanda é outra: temos estudantes bastante diversificados. Tal demanda exige da escola uma reformulação e inovação em todo o seu sistema, com estratégias de ensino que possibilitem atender a todos os indivíduos. A educação inclusiva traz consigo uma mudança dos valores da educação tradicional, o que implica desenvolver novas políticas e reestruturação da educação. Para isso, é necessária uma transformação do sistema educacional, ainda exclusivo, direcionado para receber crianças dentro de um padrão de normalidade estabelecido historicamente. De acordo com Nascimento (2014), é preocupante o fato de muitas escolas ainda não assegurarem uma educação de qualidade e ter uma prática que é mais excludente do que inclusiva. Grande parte das escolas não apresentam condições estruturais e didático-pedagógicas satisfatórias para atender todas as crianças, além de discriminar também os marginalizados. É preciso transformá-las, e esta transformação depende de cada um, da sociedade em geral e principalmente dos professores, pois é um passo importante para que os alunos sejam recebidos em sala de aula. Sabemos que não é uma tarefa fácil para a escola e muito menos para o professor, mas as experiências de muitos professores têm demonstrado que é possível e gratificante trabalhar em sala de aula com diversidade e, também, implementar uma educação inclusiva, enfrentar e superar desafios com a participação daqueles envolvidos com a educação, pois a inclusão é responsabilidade de todos. 1.1 Educação especial e educação inclusiva2 A Educação Especial nasceu quando a educação ainda era privilégio da 1 Extraído na íntegra do artigo: SILVA NETO, A. O.; ÁVILA, E. G.; SALES, T. R. R.; AMORIM, S. S.; NUNES, A. K.; SANTOS. V. M. Educação inclusiva: uma escola para todos. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 31, n. 60, p. 81-92, jan./mar., 2018. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/24091/pdf >. Acesso em: 13 junho 2018. 2 Ibidem. minoria econômica. Para falar de Educação Especial e Educação Inclusiva, é necessário entender a história, o comportamento, o contexto e os moldes da sociedade em determinada época. Falar em inclusão é sempre desafiador, pois, para muitos, ainda é um campo desconhecido, mas para compreender melhor o discurso atual da inclusão e seus aspectos, que causam por vezes angústias e também algumas polêmicas, é preciso voltar ao tempo para compreender o processo histórico da Pessoa com Deficiência, perpassar pela educação especial até chegar ao movimento da Educação Inclusiva. Assim, de acordo com Blanco (2003), nesse processo, podemos fragmentar o tratamento dado às Pessoas com Deficiência em quatro fases diferentes: A primeira delas corresponde ao período anterior ao século XIX, chamada de “fase da exclusão”, na qual a maioria das pessoas com deficiência e outras condições excepcionais era tida como indigna da educação escolar. Nas sociedades antigas era normal o infanticídio, quando se observavam anormalidades nas crianças. Durante a Idade Média a Igreja condenou tais atos, mas por outro lado, acalentou a ideia de atribuir a causas sobrenaturais as anormalidades de que padeciam as pessoas, explicando-as como punição, em decorrência de pecados cometidos. Assim, as crianças que nasciam com alguma deficiência eram escondidas ou sacrificadas (BLANCO 2003, p. 72). A história humana evidencia, desde a Antiguidade, a descrição de pessoas com alterações anormais por motivo genético. A essas pessoas era negado o convívio social; elas eram enclausuradas em suas próprias casas ou em outro lugar para tratamento, pelos familiares ou pelas autoridades. De acordo com Souza (2006), a pré-história é exemplo disto, pois as pessoas com problemas intelectuais eram rejeitadas pela sociedade e abandonadas pela família. Na Antiguidade acreditava-se que estas pessoas eram dominadas pelo demônio, sendo tratadas numa concepção demonológica. E na Idade Média houve o período de escuridão para a ciência, logo, o indivíduo que não fosse “normal” poderia ser entendido como demônio ou considerado um profeta em transe. Os padrões sociais eram determinados sob forte influência da Igreja. Aqueles que não se enquadravam eram punidos ou condenados. Nessa época, ter um filho com alguma deficiência era visto como maldição, muitas vezes ligada a algo diabólico. Os “diferentes”, assim como no período da Inquisição, poderiam ser executados na forca ou queimados vivos. Segundo Souza (2006), já no Renascimento foi considerado o processo de transformação da mentalidade, no qual ficou compreendida outra concepção de anormalidade. A partir de então, com os avanços da Medicina, surgiu a noção patológica que se aproxima do conceito dos dias atuais, marcando o início de um novo tratamento: No século XVII, os deficientes, principalmente os com deficiência mental, eram totalmente segregados, internados em orfanatos, manicômios e outros tipos de instituições estatais. Esses internatos acolhiam uma diversidade de sujeitos com patologias distintas, alguns deficientes, outros doentes (AMARAL, 2001, p. 32). Essa fase ficou conhecida como fase da exclusão, porque qualquer pessoa que não estivesse no padrão de comportamento e de desenvolvimento instituído pela sociedade era totalmente excluída. Para Amaral (2001), no final do século XVIII e início do século XIX, revelou- se a segunda fase, e nela surgiram instituições especializadas no tratamento para Pessoas com Deficiências. Acredita-se então ter surgido nesse período a educação especial. Ainda de acordo com Amaral (2001), houve uma divisão do exercício educacional nessa época. Nasceu, naquele momento, uma pedagogia especializada e institucionalizada, que separava indivíduos de acordo com diagnósticos em quociente intelectual. Este primeiro momento ficou conhecido como fase de segregação, tais escolas especiais cresciam e se multiplicavam por diferentes etiologias: pessoas com cegueira, surdez, com deficiência física, intelectual, etc. Estes núcleos especiais possuíam programas próprios, como técnicos e especialistas, que constituíam um sistema de educação especial diferenciado em relação ao sistema educacional geral, ou seja, dentro do sistema educacional existiam dois subsistemas que não se interligavam: educação especial e educação regular: Na segunda metade do século XX, especialmente a partir da década de 70, seria a terceira fase que constitui a fase da integração, quando o portador de deficiência começou a ter acesso à classe regular, desde que se adaptasse e não causasse nenhum transtorno ao contexto escolar. Embora a bandeira da integração já tivesse sido defendida a partir do final dos anos 60, nesse novo momento houve uma mudança filosófica em direção à ideia de educação integrada, ou seja, escolas regulares aceitando crianças ou adolescentes deficientes nas classes comuns ou, pelo menos, em ambientes o menos restrito possível. Entretanto, só se consideravam adaptar-se à classe regular como está se apresentava, portanto, sem modificação no sistema escolar (BLANCO, 2003, p.28). A partir da década de 1970 começaram as reivindicações. Para Nascimento (2014), as Pessoas com Deficiência, até então, sendo educadas em instituições especializadas, deveriam ser reinseridas na comunidade. Esta época foi marcada por importantes mudanças na educação especial, e por consequência de mobilizações dos pais de crianças com Deficiência, que queriam espaços nas escolas regulares para seus filhos, resultou no direito à educação pública gratuita para todas as crianças com Deficiência. É importante salientar que não só os pais, mas também os profissionais passaram a reivindicar e pressionar a sociedade em geral, a fim de garantir direitos essenciais e evitar discriminações. De acordo com Nascimento (2014), as conquistas decorrentes das manifestações levam ao declínio da educação especial paralela à educação regular. No lugar da expressão Deficiência passou a ser utilizado o termo “Necessidades Educativas Especiais”, ampliando possibilidades para integração da Pessoa com Deficiência na escola regular. Porém, apesar desta integração ter sido considerada um grande avanço para igualdade de direitos, houve poucos benefícios para promover de fato o seu desenvolvimento. A Deficiência era considerada um problema de quem a possuía, assim, esta deveria tornar-se apta à integração ao meio social. Não cabia à escola se adaptar às necessidades dos alunos, mas às Pessoas com Deficiência adaptar-se à escola (inclusive em termos econômicos). Destacamos aqui a ideia de integração física que envolvia a construção de classes especiais em escolas, mas organizadas de modo que também não atendiam plenamente à inclusão. Surge então a “inclusão total”, que era a forma mais radical de legitimar a inclusão de todas as pessoas na classe regular e a proposta de eliminar os programas paralelos de educação especial. Na década de 1990 reforçava-se cada vez mais a ideia de Educação Inclusiva para alunos com Deficiência. Com a proposta de aplicação prática ao campo da educação a partir de um movimento mundial, denominado “Inclusão Social”, surge o termo “Educação Inclusiva”. Para Nascimento (2014, p. 18), “o movimento pela Educação Inclusiva significa uma crítica às práticas marginalizantes encontradas no passado, inclusive as da própria Educação Especial”. Segundo Lima (2006), o ensino inclusivo não deve ser confundido com educação especial, embora o contemple. A educação especial nasceu a partir de uma proposta de educação para todos, independentemente da origem social de cada um. E a escola inclusiva, juntamente com uma sociedade inclusiva, refletiu-se em encontros internacionais, por meio de grupos que reivindicavam seus direitos sociais: O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, [...] dentro e fora da escola (BRASIL 2007, p. 1). No Brasil, a Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva, assegura acesso ao ensino regular a alunos com deficiências diversificadas: intelectual, física, surdos, cegos, com transtornos globais do desenvolvimento e a alunos com altas habilidades/superdotação, desde a educação infantil até a educação superior: A sociedade inclusiva já começou a ser construída a partir de algumas experiências de inserção social de pessoas com deficiência, ainda na década de oitenta. Em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, modificações pequenas e grandes vêm sendo feitas em setores como escolas, empresas, áreas de lazer, edifícios e espaços urbanos, para possibilitar a participação plena de pessoas deficientes, com igualdade de oportunidades junto à população geral (SASSAKI, 1998, p. 8). A inclusão resulta da longa trajetória histórica que foi construída por todos ao longo dos anos, num processo marcado pela segregação, discriminação e até morte. Segundo Blanco (2003, p. 72), quando se discute inclusão, não estamos “apenas repetindo um termo ou um conceito, mas referindo também aqueles que passaram suas vidas aprisionados em hospícios ou que acabaram em uma fogueira para salvar a alma de um corpo deficiente, como ocorreu na Idade Média”. Acrescente-se ainda que o Brasil acompanhou os demais países e o ensino especial foi, na sua origem, um sistema separado de educação das crianças com deficiência, fora do ensino regular, baseado na crença de que as necessidades das crianças com deficiência não podiam ser supridas nas escolas regulares, pois, conforme Lima (2006), ainda não tínhamos recursos, não disponibilizávamos de professores capacitados, estruturas adequadas das escolas, dinâmica da escola para recebermos alunos especiais, recursos pedagógicos, entre outros. Por meio dessa síntese histórica, pode-se notar como a situação da inclusão se apresenta de forma delicada, ao longo do tempo, a fim de compreendê-la nos dias atuais. 1.2 Inclusão escolar A Educação Inclusiva é a transformação para uma sociedade inclusiva, um processo em que se amplia a participação de todos os alunos nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas, de modo que estas respondam à diversidade dos alunos. É uma abordagem humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos: A educação inclusiva pode ser definida como a prática da inclusão de todos – independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde as necessidades desses alunos sejam satisfeitas (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 21). Martins et al. (2008, p. 19) acrescenta esse “movimento que busca repensar a escola, para que deixe de ser a escola da homogeneidade e passe a ser a escola da heterogeneidade, para que a escola da discriminação dê lugar à escola aberta a todos”. Neste mesmo sentido, Mantoan (2003, p. 19) afirma que o mais relevante no conceito de inclusão escolar é que “todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular”. A escola é um ambiente multicultural, diversificado, que atende um público com objetivos, ideologias e necessidades diferenciadas. Enfim, essa é uma característica própria, que acolhe indivíduos com aspectos múltiplos, sejam religiosos, políticos, sociais, entre muitos outros. A escola é responsável pela transformação do indivíduo, o que corresponde a um conjunto de alterações comportamentais que se tem por aprendizagem. Quando se trata de alunos com deficiência, é preciso compreender que o processo de aprendizagem é possível dentro de sala de aula regular e modificar o pensamento excludente de que esses alunos não são capazes de estudar, conviver e aprender com os demais. É na escola que este processo de transformação acontece de forma contínua (depois da família), é neste espaço único que os indivíduos são capazes de assimilar conteúdos, interagir e construir conhecimentos: Ainda há profissionais que acreditam que a presença dos alunos com deficiência quebrará a rotina da escola. Por isso, temos que pensar em uma inclusão que afaste o pensamento de fracasso, assumindo posturas de novos ensinos e novas aprendizagens. Isso consiste em uma renovação da escola (CUNHA, 2015, p. 71). Para Cunha (2015, p. 153), “em sala de aula, há inúmeras vozes que se cruzam, quando todos os alunos contribuem com seus pensamentos de forma a construir um diálogo, através do qual se pode colherassim os frutos do conteúdo abordado”. A escola possui função essencial na vida dos alunos, ela tem um importante papel que proporciona desenvolvimento cultural, social, intelectual e físico dos escolares. A ela é atribuída inúmeras funções na vida do indivíduo, como responsável pela educação formal, na promoção de valores sociais e culturais indispensáveis à formação do cidadão: A escola não pode continuar ignorando o que acontece ao seu redor. Não pode continuar anulando e marginalizando as diferenças – culturais, sociais, étnicas – nos processos pelos quais forma e instrui os alunos. Afinal de contas, aprender implica ser capaz de expressar, dos mais variados modos, o que sabemos; implica representar o mundo a partir de nossas origens, de nossos valores e sentimentos (MANTOAN, 2003, p. 15). É preciso que a escola ande em conformidade com a família, numa proposta de educação compartilhada, principalmente no caso dos alunos com deficiência, para que haja resultado satisfatório de aprendizagem dos alunos. Um ponto importante que precisa ser destacado para incluir alunos com deficiência está na qualificação da equipe de profissionais escolares e dos recursos pedagógicos. Não podemos falar somente em inclusão escolar de forma passional, mas devemos fazer o debate segundo a visão de quem faz a escola, sejam professores, coordenadores, diretorias, porteiros, entre outros. Não basta que o aluno seja matriculado por força da lei em uma turma de ensino regular, pois é de fundamental importância uma equipe preparada para que a inclusão se efetive. Conforme Cunha (2015, p. 69), “incluir é muito mais que inserir. Além de tudo, é preciso dar condições de permanência e possibilidade de desenvolvimento da aprendizagem, maximizando, assim, suas potencialidades”, ou seja, É necessário que essa discussão se estenda para que não só os intelectuais e especialistas saibam que os indivíduos com necessidades educacionais especiais têm potencialidades, inteligência, sentimentos, direito à dignidade, mas também que eles têm direito à vida, em todos os seus aspectos, apesar das limitações que possam ter. Todos nós temos limitações; é preciso apenas respeitá-las (SOUZA, 2013, p. 162). De acordo com Cunha (2015), a inclusão de Pessoas com Deficiência na escola precisa de fundamentos teóricos, como também da lida diária da prática para estabelecer dados concretos que incentivem, guiem e deem segurança aos educadores. Também é preciso que o sistema de Educação Inclusiva observe as necessidades gerais dos alunos, exigindo da escola sensibilidade em trabalhar com as individualidades. A Educação Inclusiva tem por proposta a educação de todos os alunos juntos, deixando-os aptos para o convívio em sociedade a partir da escola, conforme afirma Mantoan (2003, p. 33), “incluir é não deixar ninguém de fora da escola comum, ou seja, ensinar a todas as crianças indistintamente”. Quando os alunos com diversos níveis de deficiências estão numa sala inclusiva, eles podem aprender mais e melhor, assim como aos demais é dada a oportunidade de aprendizado, compreensão, respeito e convivência com as diferenças. Conforme falamos anteriormente, a escola atual tem uma demanda bastante diversificada de estudantes, entretanto, a inserção de alunos com deficiência no ensino regular, ainda é considerada um desafio. Infelizmente, ainda vemos muitas escolas com uma prática excludente, cometendo os mesmos equívocos de segregação de séculos passados: Quando as pessoas com deficiência eram excluídas da sociedade sob a alegação de que eram incapazes ou incapacitadas, e por isso eram postas à margem do convívio social, inclusive da acessibilidade à escola. Esse processo passa por mudanças atitudinais e, principalmente, pela existência de leis que assegurem direitos às pessoas com deficiência (CUNHA, 2015, p. 70-71). Porém, hoje o discurso é que os professores não estão preparados para receber o aluno com deficiência e a escola não dispõe de infraestrutura adequada e não possui recursos didático-pedagógicos para atender esse público, mesmo sendo um direito estabelecido por lei. É preciso entender que a inclusão de Pessoas com Deficiência no ensino regular é fazê-las integrantes da escola num sistema único de educação. Nas escolas de educação especial, os alunos conviviam somente com outros com deficiências (iguais ou diferentes da dele). Todavia, vivemos em um momento em que o mundo prega o respeito à diversidade, e que esta seja entendida como um processo natural, pois “defender a inclusão escolar é necessário para que seja dada a oportunidade a todos os alunos de estarem na escola e, juntos, aprenderem o respeito às diferenças” (CUNHA, 2015, p. 71). A escola inclusiva apresenta a característica de ajudar os alunos que sozinhos não conseguem solucionar problemas devido a sua deficiência, e superar seus limites. Faz-se necessário esforço contínuo, com a finalidade de colaborar com o outro, logo, Se não houver outra utilidade, adaptar as escolas e as turmas para incluir todos significa dizer, implicitamente, “a escola pertence a todos”. Qualquer cultura que diga “você é importante” aumenta a probabilidade de seus membros serem capazes de dizer o mesmo uns para os outros e para si mesmos (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 404). A inclusão escolar perpassa pelas várias dimensões humanas, sociais e políticas, e vem gradualmente se expandindo na sociedade contemporânea, de forma a auxiliar no desenvolvimento das pessoas em geral, de maneira a contribuir para a reestruturação de práticas e ações cada vez mais inclusivas e sem preconceitos. O conceito de Inclusão no âmbito específico da Educação implica, antes de mais, rejeitar por princípio a exclusão (presencial ou acadêmica) de qualquer aluno da comunidade escolar. Para isso, a escola que pretende seguir uma política de Educação Inclusiva (EI), desenvolver políticas, culturas e práticas que valorizam o contributo ativo de cada aluno para a construção de um conhecimento construído e partilhado e, dessa forma, atingir a qualidade académica e sociocultural sem discriminação (RODRIGUES, 2006, p. 2). Para Mantoan (2003, p. 28), “as crianças precisam da escola para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimentos à parte”. A Educação Inclusiva se configura na diversidade inerente à espécie humana, buscando perceber e atender as necessidades educativas especiais de todos os sujeitos-alunos, em salas de aulas comuns, em um sistema regular de ensino, de forma a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Prática pedagógica coletiva, multifacetada, dinâmica e flexível requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação humana dos professores e nas relações família-escola: Educação Inclusiva não consiste apenas em matricular o aluno com deficiência em escola ou turma regular como um espaço de convivência para desenvolver sua ‘socialização’. A inclusão escolar só é significativa se proporcionar o ingresso e permanência do aluno na escola com aproveitamento acadêmico, e isso só ocorrerá a partir da atenção às suas peculiaridades de aprendizagem e desenvolvimento (GLAT; PLETSCH; FONTES, 2007, p. 344). Para Carvalho (2007), a Educação Inclusiva pode ser definida como a prática da inclusão de todos, independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou cultural. A proposta de Educação Inclusiva traduz uma aspiração antiga, se devidamente compreendida como educação de boa qualidade para todos e com todos, buscando meios e modos de remover barreiras para aprendizagem e para a participação dos aprendizes, indistintamente. De acordo com Cunha (2015, p. 63), a aprendizagem não deve ser confundida com os processos naturais de crescimento humano,pois ela envolve um indivíduo nas mais diferentes etapas da vida, isto é, quando se aprende algo não se esquece: Educação Inclusiva significa pensar uma escola em que é possível o acesso e a permanência de todos os alunos, e onde os mecanismos de seleção e discriminação, até então utilizados, são substituídos por procedimentos de identificação e remoção das barreiras para a aprendizagem (BLANCO, 2003, p. 16). A inclusão vem demonstrar que as pessoas são igualmente importantes em determinada comunidade, e, com isso, a diversidade e as diferenças tornam o meio escolar culturalmente rico, possibilitando novas aprendizagens para Pessoas com Deficiência ou pessoas que por qualquer motivo não se adaptam ao sistema escolar e são excluídas. De acordo com Lima (2006), tal inclusão é o modo ideal de garantir igualdade de oportunidades e permitir que alunos com deficiência possam relacionar se com outros e estabelecer trocas para construir uma sociedade mais igualitária e consciente da necessidade de inclusão. Nessa relação, todos se desenvolvem, pois são necessários exemplos que superem fraquezas e despertem potencialidades; a igualdade nos relacionamentos permite trocas e não estagna o desenvolvimento. Dentro de um amplo projeto de educação, os princípios da inclusão vão além de inserir crianças com deficiência na rede regular de ensino. É preciso que entendamos que o ato de incluir é, antes de tudo, uma lição de cidadania e de respeito para com o próximo. Incluir é reconhecer que existem outros de nós que precisam participar de todos os meios, seja profissional, educacional, social, independente das diferenças. A inclusão escolar não é um trabalho fácil. Estamos a rediscutir valores e preconceitos que estão enraizados em nossa cultura, mas estamos no caminho para alcançar a inclusão plena, pois é necessária uma reestruturação progressiva e uma transformação do pensar a escola. 2 O QUE É COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA?3 2.1 Histórico da comunicação alternativa No processo de redemocratização do Brasil, sobretudo, a partir da metade dos anos 80 as discussões sobre os direitos sociais que precederam a Constituinte, enfatizaram as reivindicações populares e as demandas de grupos ou categorias até então excluídos dos espaços sociais, e neste movimento tomou vulto a luta pela ampliação do acesso e da qualidade na educação das pessoas com deficiência (FERNANDES, 1998; FERREIRA; GLAT, 2003; GLAT, 1995; GLAT; NOGUEIRA, 2002). Nos últimos 30 anos, indivíduos impossibilitados de se expressar de maneira adequada oralmente, ou seja, pela fala, vêm tendo a oportunidade de utilizar recursos alternativos para que a sua comunicação se efetive (NUNES, 2004). A comunicação alternativa teve início no Brasil na década de 70 na escola Quero-Quero em São Paulo com o uso do método Bliss por estudantes com deficiência motora, porém sem alterações cognitivas, possibilitando o uso de um sistema simbólico altamente abstrato. Na década de 80 as escolas especiais começaram a utilizar alguns sistemas com fotos e figuras como sistema de comunicação alternativa com alunos não oralizados e com deficiência motora e também nas escolas destinadas ao atendimento de pessoas com autismo. Mas foi na década de 90 que a Comunicação Alternativa começa a ser questionada e implementada no campo científico, passando a compor a metodologia utilizada por pesquisadores de programas de pós-graduação em educação especial, sendo colocados a prova diferentes métodos e recursos destinados a compensar a ausência de fala por sujeitos com diferentes deficiências. Atualmente existem inúmeros trabalhos já publicados e os resultados vêm apontando grande vantagem no uso da Comunicação Alternativa nos diferentes contextos da vida. Novas técnicas e sistemas pictográficos estão sendo utilizados nas diferentes regiões do Brasil e daí a necessidade dos profissionais da área se reunirem e organizarem uma associação 3 Extraído na íntegra: WALTER, C. C. F. A comunicação alternativa no contexto escolar: inclusão de pessoas com autismo. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/tecnologia-assistiva/>. Acesso em: 13 junho 2018. para divulgar e discutir a Comunicação Alternativa e sua aplicabilidade nos diferentes contextos e principalmente no modelo inclusionista. Segundo pesquisas realizadas principalmente nesta década (SCHIRMER, 2004, WALTER, 2006; PELOSI, 2008; DELIBERATO, 2006; NUNES, 2003, 2004, 2006, entre outros) a realização de adaptações curriculares é o caminho para o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos e dentre elas a Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa são de extrema importância para suprir e compensar os graves distúrbios da comunicação oral de pessoas não verbais incluídas no ensino regular. No entanto, identificar essas “necessidades” requer que os sistemas educacionais modifiquem não apenas as suas atitudes e expectativas em relação a esses alunos, mas que se organizem para construir uma real escola para todos, que dê conta dessas especificidades. A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. De acordo com o MEC/SEESP/SEB (1998), essas adaptações curriculares realizam-se em três níveis: Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual. Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula. Adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento a cada aluno. Uma escola inclusiva é aquela em que todos os alunos recebem oportunidades adequadas às suas habilidades e necessidades. O princípio orientador da declaração de Salamanca de 1994 é de que todas as escolas devam receber todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais, emocionais ou intelectuais (CARVALHO, 1997). 2.2 Comunicação alternativa É uma área da prática clínica e educacional que se propõem a compensar (temporária ou permanentemente) a incapacidade ou deficiência do indivíduo com distúrbio severo de comunicação. Tem como objetivo valorizar todos os sinais expressivos do indivíduo, ordenando-os para o estabelecimento de uma comunicação rápida e eficiente. Dizemos que a comunicação é aumentativa, quando o indivíduo utiliza outro meio de comunicação para complementar ou compensar deficiências que a fala apresenta, mas sem substituí-la totalmente. E que comunicação é alternativa, quando o indivíduo utiliza outro meio para se comunicar ao invés da fala, devido à impossibilidade de articular ou produzir sons adequadamente (TETZCHNER; MARTINSEN, 1992). O termo Comunicação Alternativa e Ampliada é utilizado para definir outras formas de comunicação como o uso de gestos, língua de sinais, expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos, até o uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada (GLENNEN, 1997). A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) é uma das áreas da TA que atende pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever. Busca então, através da valorizaçãode todas as formas expressivas do sujeito e da construção de recursos próprios desta metodologia, construir e ampliar sua via de expressão. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (desenhos representativos de ideias), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia nos permite também a utilização de vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou do computador, com softwares específicos, garantindo grande eficiência na função comunicativa. Desta forma, o aluno com deficiência, passa de uma situação de passividade para outra, a de ator ou de sujeito do seu processo de desenvolvimento (BERSCH; SCHIRMER, 2005). A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não apresenta outra forma de comunicação e, considerada ampliada quando o indivíduo possui alguma comunicação, mas essa não é suficiente para suas trocas sociais. No Brasil a CAA4 vem sendo traduzida de diferentes maneiras: Comunicação Aumentativa e Alternativa Comunicação Alternativa e Suplementar Comunicação Alternativa e Ampliada Para a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA, 1991) um sistema de Comunicação Alternativa é "o uso integrado de componentes incluindo símbolos, recursos, estratégias e técnicas utilizados pelos indivíduos a fim de complementar a comunicação". 2.3 Sistemas de CAA Um sistema de Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) refere-se ao recurso, estratégia e técnicas que suplementam modos de comunicação existentes ou substituem as habilidades inexistentes. Os sistemas podem ser MANUAIS ou GRÁFICOS Sinais manuais: São sistemas que não requerem ajudas externas, permitindo maior independência ao usuário. São eles: gestos de uso comum, gestos idiossincrásicos, alfabeto digital e Língua Brasileira de Sinais, mas sem as flexões e outros marcadores gramaticais complexos já que são utilizados por ouvintes. Sistemas gráficos: existem vários, cada um com símbolos diferentes e logística própria. Fazem parte desses símbolos as fotografias, os desenhos de alta iconicidade, os desenhos abstratos e a ortografia tradicional. Os sistemas gráficos mais conhecidos são: Oakland Schools Symbols, Minspeak, Picsyms, Rebus, Picture Communication Symbols (PCS), Pictogram Ideogram Communication Symbols (PIC) e Blissymbols. Todos esses sistemas são utilizados na América do Norte, os quatro últimos são os mais utilizados na Europa e os três últimos os mais utilizados no Brasil e por este motivo, serão brevemente descritos Blissymbols (BLISS, 1965). 4 Aqui usarei o termo Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA), tradução utilizada pelo grupo de pesquisa da UERJ sob orientação da Profa. Leila Nunes. Os símbolos são compostos de um número pequeno de formas chamadas de "elementos simbólicos". Seguindo um sistema lógico estes elementos básicos são usados em várias combinações para representar milhares de significados. Os símbolos são de três tipos: Pictográficos: desenhos que parecem com aquilo que desejam simbolizar; Arbitrários: desenhos que não tem relação pictográfica entre a forma e aquilo que desejam simbolizar; Ideográficos: desenhos que simbolizam a ideia de uma coisa, criam uma associação gráfica entre o símbolo e o conceito que ele representa; Compostos: grupos de símbolos agrupados para representar objetos ou ideias. O Sistema Bliss utiliza basicamente símbolos ideográficos. Os símbolos são organizados sintaticamente nas pranchas de comunicação, tendo cada grupo sintático uma cor específica. 2.4 PCS – Picture Communication Symbols / Símbolos de Comunicação Pictórica (JOHNSON, 1981) Este sistema foi criado para indivíduos com comprometimento em sua comunicação oral e que não conseguiam compreender um sistema gráfico mais ideográfico. Ele é basicamente pictográfico, beneficiam indivíduos de qualquer idade, portadores de qualquer patologia, para quem um nível simples de expressão seja aceitável. Isto porque o sistema tem um vocabulário limitado, apesar de aceitar a inclusão de outros desenhos e fotos. Segue a mesma divisão sintática e cores dos Símbolos Bliss. No Brasil o PCS foi traduzido como Símbolos de Comunicação Pictórica. O sistema PCS possui como características: desenhos simples e claros, fácil reconhecimento, adequados para usuários de qualquer idade, facilmente combináveis com outras figuras e fotos para a criação de recursos de comunicação individualizados. São extremamente úteis para criação de atividades educacionais. O sistema de símbolos PCS está disponível no Brasil por meio dos softwares Boardmaker e Boardmaker com Speaking Dynamically Pro. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html A ISAAC - International Society for Augmentative and Alternative Communication, associação mundialmente conceituada e respeitada no campo da Comunicação Alternativa publica há anos o AAC Journal que apresenta importantes pesquisas sobre comunicação alternativa e muitas delas apresentam trabalhos sobre os três sistemas simbólicos mais difundidos em todo o mundo: o PCS, o Blissymbols e o Rebus. Da mesma forma, a ASHA - American Speech-Language-Hearing Association possui uma extensa relação de pesquisas envolvendo o sistema de símbolos PCS5. Utilizados por terapeutas brasileiras também desde a década de 80, encontramos no Brasil uma grande produção científica que refere os símbolos PCS em trabalhos universitários, em programas de especialização, mestrado, doutorado e outros apresentados em congressos, como aqueles organizados pelo capítulo brasileiro de sócios da ISAAC Internacional, a ISAAC Brasil6. 5 Extraído na íntegra: SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. O que é comunicação alternativa? Assistiva: tecnologia e educação, 2017. Disponível em: <http://www.assistiva.com.br/ca.html>. Acesso em: 14 junho 2018. 6 Ibidem. O que são os softwares Boardmaker e o Speaking Dynamically Pro7? Uma tradução livre de Boardmaker no contexto da comunicação alternativa significa “produtor de pranchas” (board = prancha e maker produtor/construtor). O Boardmaker é um programa de computador que foi desenvolvido especificamente para criação de pranchas de comunicação alternativa, utilizando os Símbolos PCS e várias ferramentas que permitem a construção de recursos de comunicação personalizados. Uma característica marcante do programa é sua facilidade de uso, propiciada pelas ferramentas intuitivas que dispõe em sua interface de trabalho. Com elas pode-se criar e imprimir uma prancha de comunicação complexa em poucos minutos. Com o Boardmaker são confeccionados recursos de comunicação ou materiais educacionais que utilizam os símbolos gráficos e que serão posteriormente impressos e disponibilizados aos alunos e demais usuários. O Boardmaker poderá estar associado a outro programa chamado de Speaking Dynamically Pro (SDP) que significa "falar dinamicamente". O Speaking Dynamically Pro (SDP) dá vida às pranchas criadas no Boardmaker, pois utiliza os recursos do computador para agregar funcionalidades poderosas como permitir que as pranchas falem através de síntese de voz, abram arquivos de música ou vídeos, interligue pranchas entre si e outras funções que permitem criar jogos e estratégias de comunicação e aprendizagem. Estes dois softwares em conjunto compõe uma importante ferramenta para a construção pranchas que propiciam não só uma comunicação eficiente, mas também permitem a construção de atividades escolares com acessibilidade e dentro do conceito de Desenho Universal na Aprendizagem. O Speaking Dynamically Pro foi um dos primeiros programas desenvolvidos nesta área e tem sido o inspiradorde outros softwares similares mais recentes, pois introduziu uma série de ferramentas de programação fáceis de usar e que permitem a criação personalizada de atividades educacionais, recreativas e de comunicação. Outra importante característica deste software é a acessibilidade. Um exemplo disso é que a seleção de teclas de mensagens ou de teclas para escrita 7 Os softwares Boardmaker e Boardmaker com Speaking Dynamically Pro são comercializados no Brasil pela Clik Tecnologia Assistiva, através do site www.clik.com.br poderá acontecer por meio de varredura e acionadores. Como já mencionado, o Boardmaker permite a construção de materiais que serão impressos e utilizados pelos usuários da CA. Conhecendo os desafios educacionais que os alunos enfrentam no cotidiano escolar e utilizando-se de muita criatividade, o professor especializado poderá criar os recursos de comunicação e acessibilidade necessários aos seus alunos por meio das várias ferramentas de seu Boardmaker. Abaixo vamos descrever e ilustrar algumas ideias de aplicação deste software. Atividades educacionais acessíveis: Com o Boardmaker você pode criar várias atividades educacionais para garantir acessibilidade e participação de alunos que utilizam a CA em sala de aula. Lembre-se da importância da interlocução entre o professor do Atendimento Educacional Especializado, que construirá os recursos de acessibilidade, e o professor da sala de aula comum. Sem conhecer o plano de ensino do professor da sala comum, com seus objetivos e atividades previstas, será impossível propor, construir e disponibilizar os recursos de acessibilidade para o aluno. O professor especializado deverá também ensinar as estratégias de utilização destes recursos para o aluno, seu professor, para os colegas, comunidade escolar e família. Desta forma ajudará a todos a entender e a utilizar estas ferramentas de acessibilidade. Vejamos alguns exemplos de atividades personalizadas com o Boardmaker: Atividades escolares Descrição das imagens: Três atividades foram construídas para que o usuário da CA possa responder questões apontando os símbolos gráficos PCS. A primeira pede para apontar os animais; a segunda para apontar os vegetais e a terceira para apontar os minerais. Abaixo de cada questão visualiza-se uma série de símbolos gráficos com imagens representativas dos três reinos da natureza. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Uma atividade de matemática com o tema sobre "igual" e "diferente" foi construída com o Boardmaker. Utilizando a "escrita com símbolos" está a pergunta: Qual é o igual? Visualiza- se então o símbolo de uma boneca. Abaixo estão três opções de símbolos: "carro", "boneca" e "sorvete". O aluno deverá apontar a resposta correta. Logo abaixo está a outra pergunta sobre "qual é o diferente?" e visualiza-se o símbolo da "borboleta". Abaixo duas opções de resposta: "vaca" e "borboleta". Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Textos com símbolos Textos com símbolos são muito interessantes para favorecer e ampliar a aquisição de repertório de símbolos gráficos (usuários de CA), favorecer a relação símbolo e signos e auxiliar na alfabetização de alunos com deficiência intelectual, auxiliar no aprendizado do português escrito para alunos surdos. No Boardmaker a escrita com símbolos é feita com a ferramenta "Simbolar". Descrição de imagem: Um boneco indica o ícone da ferramenta "Simbolar", conforme ela é representada na área de trabalho do Boardmaker. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: O primeiro verso da poesia "Leilão de Jardim", de Cecília Meireles, foi digitada com o recurso "Simbolar" do Boardmaker. Desta forma, cada palavra aparece com a representação simbólica do PCS, acima do texto escrito. O verso diz: Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de várias cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos? Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Culinária com o Boardmaker Fichas de receitas ou receitas completas podem ser descritas com a sequência de símbolos gráficos associados com a escrita. Para confecção destes recursos a ferramenta Simbolar será muito útil. Descrição de imagem: Um boneco aponta para uma ficha de culinária onde está descrita, com texto e símbolos, a receita de salsicha com molho. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Em sete frases, escritas com texto e símbolos, está uma sequência de atividades que deverão ser feitas para a preparação de um sanduíche de geleia com queijo. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Livros com símbolos Descrição de imagem: Visualiza-se a página de um livro. A frase escrita foi também representada por símbolos PCS: "Bateu Portas e janelas com força". Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Visualiza-se a página de um livro construído pelos alunos. Há a ilustração de um pato. Sobre a ilustração estão colados, em sequência, de cartões de comunicação alternativa com símbolo e texto: "Lá vem o pato, pato aqui, pato acolá. Lá vem o pato para ver o que é que há"? Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Livros de atividades As atividades previstas no currículo escolar, ou que fazem parte do no livro didático impresso, podem ser personalizadas para usuários de CA. Para disponibilizá- las em sala de aula o professor especializado deverá receber, do professor de sala comum, estas atividades, com a antecedência necessária para que ele possa construí-las com o Boardmaker. Descrição de imagem: Um livro de atividades sobre animais domésticos, selvagens, aquáticos e em extinção foi construído com o Boardmaker. O Livro de Atividades possui uma prancha de símbolos móveis para que o aluno destaque o símbolo e cole, com Velcro, no campo de resposta correspondente. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Pranchas temáticas para interpretação de livros e conteúdos Pranchas de comunicação temáticas poderão ser construídas para que o aluno usuário da CA possa participar de atividades de interpretação de histórias ou também para que possa perguntar, responder e argumentar sobre os conteúdos estudados e atividades desenvolvidas em sala de aula. Descrição de imagem: Um livro de história, que fala sobre temas de ecologia, está acompanhado de uma prancha temática, com a qual o usuário da CA poderá apontar ações positivas e negativas relativa à preservação do meio ambiente. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Uma lista de perguntas sobre fenômenos da natureza está relacionada. Para responder estas perguntas o usuário de CA apontará para um dos símbolos gráficos dispostos em uma coluna lateral. Na parte inferior da prancha, há uma sequência horizontal de símbolos que possibilitarão ao aluno fazer perguntas "onde", "como", "por que", "quando" e afirmar "não entendo", "incrível", "mudei de ideia", "quero saber mais". Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Calendários personalizados Nas "pranchas modelo" do Boardmaker você encontrará grades de calendários para serem personalizadas. Basta localizar os símbolos apropriados e colar sobre a o dia em que o evento acontecerá. Descrição de imagem: Uma folha de calendário do mês de janeiro de 2011 foi personalizada com os símbolos PCS. Visualiza-se símbolos representativos do verão "guarda sol" e "sorvete", símbolo da "festa de Ano Novo", "viagem", "praia", "chegada da vovó", "aniversário"e "retorno a casa". Os símbolos foram aplicados sobre as datas destes eventos. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Porta-pranchas Pastas do tipo arquivo, folhas laminadas e encadernadas, porta documentos, pastas do tipo cardápio (pasta dupla ou trifolder) poderão ser "portadores de pranchas". No Boardmaker, em "Pranchas Modelo" você encontrará uma série de modelos de grades já prontas para a criação destes recursos de comunicação. Economize trabalho e utilize as grades que facilitarão a criação das pranchas. Descrição de imagem: Carteira do tipo porta documentos com páginas de sacos plásticos onde estão pranchas de comunicação com símbolos de alimentos. Pasta com sacos plásticos, em tamanho ofício, encadernados em espiral, e cada página há uma prancha temática de símbolos gráficos. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Pastas tipo cardápio, trifolder ou duplas, apresentam modelos de grades com diferentes tamanhos e quantidades de espaços para símbolos. Visualiza-se também uma pasta dupla onde está uma prancha para escolhas de materiais de artes. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Pranchas para vocalizadores Nas "pranchas modelo" do Boardmaker você encontrará também grades desenhadas especialmente para utilização em vocalizadores. Se você utiliza um vocalizador procure o arquivo Boardmaker com o nome da "marca/modelo" do equipamento. Esta grade foi projetada para servir exatamente no tamanho e distância das teclas de mensagens. Descrição de imagem: Uma grade modelo do vocalizador GoTalk9+ foi personalizada com símbolos para comunicação em sala de aula. Depois de montar a prancha basta recortar a colocá-la no vocalizador. Ao lado visualizamos o vocalizador GoTalk9+ com suas 12 teclas de mensagens aparentes. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html O que é um vocalizador?8 É um recurso eletrônico de gravação/reprodução que ajuda a comunicação das pessoas em seu dia-a-dia. Através dele, seu usuário expressa pensamentos, sentimentos e desejos pressionando uma mensagem adequada que está pré-gravada no aparelho. As mensagens são acessadas por teclas sobre as quais são colocadas imagens (fotos, símbolos, figuras) ou palavras, que correspondem ao conteúdo sonoro gravado. A maioria dos vocalizadores grava as mensagens digitalmente e a capacidade de gravação varia de um aparelho a outro. Encontra-se vocalizadores de apenas uma mensagem enquanto outros podem gravar centenas delas. Outra variável intrínseca a este equipamento é o tempo total de gravação normalmente distribuído entre as teclas de mensagem oferecidas no equipamento. Em qualquer vocalizador o conteúdo gravado em cada célula é reconhecido através de figuras ou textos aplicados em pranchas de comunicação que ficam sobre as teclas. Quando a tecla de cada figura ou texto é pressionada, sua mensagem pré- gravada é imediatamente reproduzida e com volume ajustável. Descrição de imagem: Vocalizador retangular com vinte e cinco áreas de mensagens visíveis, onde estão símbolos gráficos. Cada área de mensagem ao ser pressionada emitirá uma mensagem de voz gravada anteriormente. Apresenta alça de transporte e botões de volume e troca de níveis. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html 8 Extraído na íntegra: SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. O que é comunicação alternativa? Assistiva: tecnologia e educação, 2017. Disponível em: <http://www.assistiva.com.br/ca.html>. Acesso em: 14 junho 2018.l Agendas personalizadas com símbolos Com o Boardmaker você pode criar agendas escolares, atividades da turma e também de ações pessoais da rotina. Para isso, você pode utilizar grades, das mais variadas formas, que se encontram em "pranchas modelos" no arquivo "agendas". Descrição de imagem: Visualiza-se uma sequência de atividades individuais de um usuário da CA que se chama Paulo. As atividades ilustradas em sequência de símbolos que representam sua rotina matinal desde o acordar, vestir-se, fazer a higiene pessoal, até tomar o café da manhã. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Uma agenda em formato vertical mostra uma sequência de símbolos para a primeira hora da manhã. Cinco atividades estão representadas em símbolos: tomar banho, comer, escovar os dentes, pegar a mochila, ir para escola de ônibus. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Uma grade para criação de agenda que contemplam a sequência de atividades que serão desenvolvidas na escola. O primeiro símbolo representa o grupo de alunos. Na sequência horizontal encontram-se espaços em brancos onde serão aplicados, com Velcro, os cartões de comunicação representativos das atividades escolhidas pelo grupo de colegas para serem realizadas naquele dia. No final há um espaço maior onde será colado um envelope. No término de cada tarefa, os cartões serão guardados neste envelope. Na parte inferior da grade estão os símbolos de CA para serem recortados, laminados e transformados em cartões de CA. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Numa parede de fundo preto foram fixados, com fita adesiva, os cartões de comunicação laminados. A composição da agenda descreve o mês, dia, dia da semana, sensação térmica (calor) e também todas as atividades escolares propostas para este dia. Além de cartões de comunicação há número em EVA (representado o dia 7) e palavras em feltro, com texto pintado com cola colorida (mês de novembro e dia da semana terça feira). Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Sinalizações em vários ambientes Você pode utilizar o Boardmaker para criar sinalizações dos vários ambientes da escola. Da mesma forma poderão ser criados cartazes com informações ou indicação de regras e orientações. Descrição de imagem: Cartaz com símbolos móveis para indicações de lugares e atividades realizadas pela turma. Podemos ler a frase: "Nossa turma está:" ao lado desta frase há um espaço onde será fixado com Velcro o cartão de CA correspondente ao lugar/atividade "no lanche". Na parte inferior do cartaz há outras opções de cartões de mensagens "na biblioteca", "no laboratório", "no parquinho". Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Um símbolo com a mensagem "Favor fechar a porta" foi confeccionado para colocar na parte interna da porta da sala de aula. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Uma coleção de símbolos para sinalização da escola foram criados para serem fixados sobre a porta destes ambientes: "sala de aula", "banheiro", "biblioteca", "cozinha", "direção", "informática", "sala de química", "sala de artes", ginásio", "recreio". Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Utilização de outras imagens digitais nas produções com o Boardmaker Você poderá introduzir novas imagens no seu Boardmaker e assim ampliará sua biblioteca de símbolos. As novas imagens poderão ser capturadas na internet, extraídas em banco de imagens, fotografadas com câmera digital ou também escaneadas de materiais impressos. Você poderá arquivar as imagens digitais na biblioteca do Boardmaker o que permitirá sua fácil localização para uso em produções futuras. Abaixo algumas fotos ilustram trabalhos feitos com o Boardmaker que utilizaram imagens capturadas de diversas origens. Descrição de imagem: Uma prancha de comunicação foi construída com fotografias e apresenta os símbolos "luva", "pantufa", "calça", "cão", "melão", "casaco", "telefone", e "rosa". Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem:Com fotografias escaneadas de um cardápio foi montada uma prancha de comunicação temática, para comprar o lanche. Visualizamos as imagens dos sanduíches, copo de refrigerante, salada e embalagem do lanche. Estas mesmas imagens aparecem organizadas numa prancha de comunicação. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html Descrição de imagem: Com fotografias feitas em passeios escolares no parque e no zoológico, foi confeccionado com o Boardmaker o registro dessas atividades. Aparecem as fotografias e a descrição, feita pelo aluno, do que foi realizado. Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html O Boardmaker é uma ferramenta de autoria?9 É exatamente isso. O Boardmaker é uma ferramenta que permite construir os recursos de comunicação e aprendizado que seu aluno necessitará em cada fase de seu desenvolvimento educacional. E esta é a principal e mais importante característica deste programa. Os exemplos e modelos que o Boardmaker possui servem apenas para mostrar aos professores o potencial de criação deste software. Conhecendo os desafios educacionais, os objetivos e atividades propostos para a turma e conhecendo também as características do aluno com deficiência (suas dificuldades e acima de tudo suas habilidades) o professor especializado irá projetar, construir e disponibilizar os recursos pedagógicos que garantam a acessibilidade, comunicação e participação no contexto da escola comum. Atualmente as pesquisas existentes a respeito do ensino e da aprendizagem nos permitem olhar para o que o aluno produz e identificar o que ele já sabe, as dificuldades que estão impedindo sua aprendizagem e determinar que ações serão necessárias para que o seu conhecimento avance. 9 Extraído na íntegra: http://www.assistiva.com.br/ca.html Nas últimas décadas tem se consolidado a concepção que considera o processo de aprendizagem como resultado da ação do aprendiz. Por isso a função do professor é criar condições para que o aluno possa exercer sua função de aprender participando de situações que favoreçam isto. Neste sentido, com relação aos alunos com deficiência, torna-se indispensável a criação de condições de aprendizagem pelo professor, através da construção de recursos de acessibilidade. O conhecimento não é gerado do nada, é uma constante transformação a partir do conhecimento que já existe. É o que cada aluno já conhece que explica as diferentes formas e tempos de aprendizagem, bem como as dificuldades e possibilidades que o aluno apresenta. Seja nas propostas de atividades, seja na forma como os professores encorajam e desafiam os alunos a se lançar com ousadia nas propostas de aprendizagem, os recursos (materiais educacionais) tem uma função decisiva nas possibilidades de aprendizagem dos alunos. O Boardmaker é uma ferramenta aberta e, portanto, servirá para confecção de recursos de acessibilidade que atendem diferentes concepções de ensino e aprendizagem. Por este motivo é importante considerarmos o modelo de escola, o que entendemos por aprendizagem e que postura nós pretendemos instigar no aluno, no sentido de ele ser ativo na construção do conhecimento. Se disponibilizarmos recursos ao nosso aluno permitindo e esperando apenas que ele responda o que consideramos correto, sem dar a ele oportunidades de questionar, propor alternativas, argumentar etc., possivelmente nós teremos um instrumento pobre de comunicação e também um instrumento pobre de educação. Portanto a palavra de ordem é conhecer a realidade e os desafios enfrentados pelo aluno e ser criativo. Junto com ele, iremos construir e utilizar os recursos que permitirão sua expressão e participação ativa em desafios educacionais. O professor deve funcionar como um diretor de cena, cabendo a ele observar as condições e necessidades de seus alunos e montar o cenário, através da construção das estratégias de ensino e dos recursos de acessibilidade, para possibilitar a construção do conhecimento de seus alunos. A beleza de um software de criação é que ele possibilita inovar, construir novas alternativas e materiais educacionais cada vez mais desafiantes e inéditos. O que são acionadores? São recursos que promovem acessibilidade tanto no uso do computador quanto em outras atividades não informáticas. A função única do acionador é gerar um clique que o computador interpretará como um comando de seu usuário. É a forma mais simples de se interagir com um computador, daí a sua importância como interface para a comunicação alternativa. Do ponto de vista elétrico, um acionador é uma chave de contato momentâneo normalmente aberto (NA), como um botão de campainha. Existem acionadores de diversas formas, pois sua maior característica é o design apropriado para diferentes utilizações. Quanto ao plugue de conexão, todos acionadores são padronizados internacionalmente com o miniplugue tipo P2. Descrição de imagem: Três modelos de acionadores, sendo os dois primeiros de pressão ao toque e o terceiro chamado de tração, pois funciona com o puxar de um cadarço que gera o clique Fonte: www.assistiva.com.br/ca.html 2.5 PIC – Pictogram Ideogram Communication (MAHARAJ, 1980) É um sistema basicamente pictográfico. Os símbolos constituem-se de desenhos estilizados em branco sobre um fundo preto. Apesar de serem visualmente fáceis de serem reconhecidos, é menos versátil que outros sistemas e também mais limitado, pois os símbolos não são combináveis. Segundo sua concepção original, as pranchas de comunicação devem ser organizadas semanticamente. Existem diversos sistemas de comunicação no mundo e, no Brasil, os mais conhecidos e utilizados são os dois primeiros (FERNANDES, 1999). Pesquisas recente com o uso de pictograma vêm demonstrando sua eficácia para estabelecer diálogos e proporcionar a melhoria da comunicação de pessoas não verbais inseridas no ensino regular. De acordo com os dados obtidos nas pesquisas desenvolvidas pelo ProPED da UERJ sob orientação e coordenação da Profa Leila Nunes, a CAA deve ser introduzida em todas as escolas regulares e especiais para que seja garantido o direito de comunicar a todos os alunos impossibilitados de se expressarem por meio da fala. A capacitação de professores deve ser continua e os pesquisadores devem orientar os professores em sala de aula e demonstrarem como utilizar e desenvolver pranchas e álbuns de comunicação com uso de pictogramas, favorecendo assim, a interação e relação interpessoal destes alunos com o mundo. 2.6 O PECS-Adaptado O PECS (The Picture Exchange Communication System, Bondy e Frost, 1984) utilizado no Programa para Autistas de Delaware (USA), é um sistema de comunicação por trocas de figuras e permitiu que muitos jovens autistas adquirissem a habilidade de comunicação dentro do contexto social. Com o uso do PECS, as pessoas que apresentavam comportamento não-verbal foram levadas a se aproximarem e a entregarem uma figura de algo desejado para um parceiro comunicativo, obtendo, portanto, o que realmente desejavam no momento, ou seja, solicitava-se que a criança iniciasse um ato comunicativo para que ocorresse resultado concreto dentro do contexto social. Walter (1998) descreveu um estudo mostrando algumas adaptações do PECS (BONDY; FROST, 1994) ao Curriculum Funcional Natural (LeBLANC, 1991), através da redução do número de fases e acrescentou algumas alterações no arranjo ambiental, como o uso da pochette com o álbum de comunicação. Esse estudo foi aplicado em 3 jovens com AI e resultaram em alterações positivas nos padrões de comunicação, como: a) aquisição de algumas palavras e gestos, b) espontaneidade para solicitar o item desejado nas diferentes situações de vida diária e prática. O estudo concluiu discutindo a necessidadede continuar as adaptações do PECS ao Currículo Funcional Natural e sugerindo a investigação sobre as adaptações de sistemas alternativos de comunicação para o contexto brasileiro. A comunicação do PECS-Adaptado inicia com atos funcionais que coloca a criança em contato com reforçadores eficazes determinados pelos itens selecionados mais desejados e necessários. Uma lista de itens mais preferenciais é preenchida pelos pais antes de iniciar o treinamento do PECS-Adaptado, com o objetivo de selecionar as figuras correspondentes a estes itens. Após a avaliação dos reforçadores, inicia se, portanto a aplicação PECS-Adaptado dividido em 5 Fases descritas a seguir segundo Walter (2009): Fase 1: troca da figura com auxílio máximo Objetivo final: Ao ver um item de “mais desejado”, o aluno deve pegar a figura do item, estender a mão ao treinador e soltar a figura na mão deste. Fase 2: aumentar a espontaneidade Objetivo final: O participante deve tirar a figura da tábua ou do álbum de comunicação, que está dentro da pochete, caminhar a distância necessária e entregar a pessoa, a fim de obter o objeto desejado. Fase 3: Discriminar figuras (Fase 3a.) e diminuir o tamanho das figuras (Fase 3b.) Objetivo final: O participante escolhe, entre vários itens, na tábua e no seu álbum de comunicação, a figura apropriada para o que deseja, dirigindo-se às pessoas para entregar a figura, sendo esta, com o seu tamanho reduzido. Fase 4: Estruturar frases simples Objetivo final: O participante deve solicitar itens que estavam presentes e não presentes no ambiente, usando muitas palavras em frases através da tábua de comunicação ou retirar o álbum de comunicação da pochete. Para tanto, deve escolher figuras-frases como “Eu quero”, "Eu estou", “Eu tenho”, colocá-las na tira porta-frase, em seguida, escolher a figura que desejava e colocá-la na sequência da tira porta-frase, formando assim, uma frase simples para ser entregue à pessoa com quem desejava se comunicar. No final desta fase o participante deve ter de 20-50 figuras no seu álbum e ser capaz de ser comunicar com várias pessoas e em várias situações. Fase 5: Estruturar frases complexas e aumento do vocabulário Objetivo final: O participante deveria usar uma variedade de conceitos e ampliar seu vocabulário utilizando uma linguagem funcional, em diferentes contextos sociais e linguísticos. Deveria utilizar sua pochete com o álbum de comunicação em várias situações: casa, escola, padaria, supermercado, casa de parentes, etc. Para aplicar o PECS-Adaptado é necessário que os pais estejam em acordo e forneçam as informações sobre os itens de maior desejo e interesse de seus filhos seguindo a seguinte categoria: 1. Coisas preferidas para comer 2. Coisas preferidas para beber 3. Atividades preferidas (assistir TV, sentar em alguma cadeira, girar objetos, etc.) 4. Brinquedos preferidos ou objetos que se interessa 5. Jogos e brincadeiras preferidas (esconder, cócegas, músicas, etc.) 6. Lugares que gosta de estar (lojas, parques, parentes, etc.) 7. Pessoas que conhece e costuma ficar Os registros podem seguir os critérios de pontuação sugerido por Cuccovia (2003) respeitando os níveis de apoio e independência nas solicitações dos itens desejados por meio do intercambio de figuras, como mostro o esquema abaixo Folha de Registro Diário do PECS - Adaptado10 Os níveis de apoio representam a seguinte legenda: 0 = quando não se tem o êxito esperado; 1 = quando e necessário oferecer apoio físico para o aluno pegar a figura e entregar na mão do professor; 2 = quando o professor dicas verbais para o aluno solicitar por meio da troca da figura e permanece com a mão aberta; 3 = quando o aluno retira a figura do álbum ou prancha de comunicação e a entrega para uma pessoa solicitando um item desejado ou mesmo oferecendo alguma informação (WALTER, 2000). 2.7 Programa de comunicação alternativa e ampliada no contexto familiar – (ProCAAF) Geralmente a Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) é vista como um simples método de apoio à fala ou que somente por sinalizações ou uso de alguns gestos poderia suprir a necessidade de se comunicar de pessoas que não falam. Muitas mães referem-se à CAA como um forte empecilho ao desenvolvimento da linguagem, podendo interferir na aquisição da fala, prejudicando seu aparecimento. Esse conceito está mudando, pois ele não condiz com a realidade e, muito pelo contrário, as pesquisas científicas vêm revelando resultados favoráveis ao aumento nas habilidades comunicativas em crianças, não verbais, que, precocemente, utilizam- se de sistemas alternativos de comunicação (WALTER, 2000; VON TETZCHNER et 10 Direitos reservados ao CASB - reprodução proibida al., 2005; NUNES, 2006, PELOSI; NUNES, 2008). Para definirmos o formato final de um recurso de comunicação poderemos ainda levantar as seguintes questões: Em que oportunidades este recurso será usado? Para conversar com familiares e amigos, para interagir na sala de aula, para fazer compras etc.? Em que local? Há a necessidade de ser um recurso portátil ou será fixado em lugar de fácil acesso ao usuário? O usuário pode ter uma pasta com várias pranchas e também pode ter pranchas fixadas em lugares estratégicos como na porta da geladeira, do armário, a mesa da sala de aula, a parede do banheiro etc.? Com quem o usuário irá se comunicar e quais a habilidades ou dificuldades do parceiro em estabelecer uma comunicação efetiva com ele? Qual será o objetivo deste recurso? Que vocabulário será utilizado? Quantos símbolos serão necessários? O mesmo usuário poderá ter várias pranchas para situações e atividades distintas como para um passeio, interpretação de um conteúdo escolar, durante um jogo, para expressar desejos etc.? Outras dicas de ensino para sucesso no uso da CAA: Deve ser inserida no ambiente natural do indivíduo. Planejar as sessões de estimulação da linguagem de forma que sejam ricas de interações naturais. Combinar o uso de pranchas com outros modos de expressão. Valorizar o que o aluno já faz. Utilizar símbolos altamente motivacionais para iniciar o uso da CAA Orientar e motivar os parceiros de comunicação. Encorajar a vocalização relaxada do usuário. Estruturar as atividades para garantir um alto grau de sucesso. Todos os métodos demonstrados e indicados têm como objetivo ampliar ainda mais o repertório comunicativo que envolve habilidades de expressão e compreensão, são organizados e construídos auxílios externos como cartões de comunicação, pranchas de comunicação, pranchas alfabéticas e de palavras, vocalizadores ou o próprio computador que, por meio de software específico, pode tornar-se uma ferramenta poderosa de voz e comunicação. Os recursos de comunicação de cada pessoa são construídos de forma totalmente personalizada e levam em consideração várias características que atendem às necessidades deste usuário. 3 O QUE FAZER QUANDO UM ALUNO NÃO É CAPAZ DE ESCREVER? 3.1 Dilemas sobre a linguagem escrita11 Por onde começar para ensinar a linguagem escrita? A primeira tensão aparece no momento de conjugar a aquisição dos dois tipos de habilidades que acabamos de mencionar: as de caráter “mecânico” e as de caráter “comunicativo”. Assim, por um lado, deve-se defender que o essencial é que os alunos encontrem um verdadeiro sentido para seus encontros com os impressos e sejam partícipes das possibilidades comunicativas que a linguagem escrita oferece, com todo seu fundo emocional, cognitivo e social. Por outro lado, também se4 pode argumentar que, sem dominar as habilidades mais básicas e elementares (reconhecer palavras, por exemplo), é impossível esse uso
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