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Isadora Maciel Assis ACONSELHAMENTO PRÉ-CONCEPCIONAL • O aconselhamento pré-concepcional é um termo amplo que se refere ao processo de avaliação dos riscos sociais, comportamentais, ambientais e biológicos associados ao casal em idade fértil que planeja uma futura gestação. • O aconselhamento pré-concepcional é parte dos cuidados pré-natais e deve estar disponível a todas as mulheres em idade fértil que o desejarem, inclusive no âmbito da atenção primária. É também uma oportunidade única de proporcionar informações e orientações que efetivamente contribuam para a prevenção de defeitos congênitos. A CONSULTA MÉDICA • O ideal é que a consulta pré-concepcional ocorra pelo menos três meses antes da suspensão da anticoncepção. Essa consulta deverá incluir, além do histórico ginecológico e obstétrico, uma anamnese detalhada. • Avaliação médica: o Idade materna o Antecedentes médicos o Diabetes o Doenças da tireoide o Doenças tromboembólicas o Doenças psiquiátricas o Epilepsia o HAS o Historia familiar o Doenças infecciosas o Rubéola o Varicela o Toxoplasmose o Hepatites B e C o HIV o Infecção urinária o Imunizações o Medicamentos em uso • Avaliação psicossocial: Isadora Maciel Assis o Hábitos nutricionais o Exercício físico o Tabagismo o Uso de drogas o Uso de álcool o Situação familiar o Riscos ocupacionais • Exame físico: o Exame físico geral o Exame ginecológico completo, incluindo exame das mamas o Aferição de peso e altura o Medida da pressão arterial o Coleta de material para exame citopatológico do colo uterino • Exames laboratoriais: o Hemograma o Glicemia de jejum o VDRL o Anti-HIV o HbsAg o Anti-Hbs quantitativo o IgG para toxoplasmose o IgG para rubéola o TSH • Imunizações e infecções: A anamnese sobre infecções deverá ser dirigida aos possíveis riscos reprodutivos: a paciente deverá ser especificamente interrogada quanto à ocorrência de doenças infantis, como rubéola e varicela, que podem causar lesão fetal e para as quais existe vacina eficaz disponível. o Se houver dúvida, devem-se realizar sorologias específicas. As pacientes suscetíveis deverão receber as vacinas pelo menos três meses antes de suspender o anticoncepcional. o As vacinas contra Influenza (conforme campanha anual) e antitetânica (um reforço a cada dez anos) devem ser indicadas. o A investigação imunológica para toxoplasmose é recomendada, assim como a orientação, em pacientes suscetíveis, de cuidados preventivos de alimentação (carne Isadora Maciel Assis deve ser bem cozida, o leite pasteurizado, saladas bem lavadas), higiene e contato com transmissores (evitar exposição a fezes de gatos e higiene das mãos após contato com terra ou outra fonte potencialmente contaminada). o Sorologias para citomegalovírus são recomendadas em pacientes de alto risco (trabalho em contato com crianças ou em unidades de diálise, por exemplo). Um IgG negativo pode aumentar a motivação para a prática da boa higiene a fim de diminuir o risco de soroconversão durante a gestação. o Orientação sobre a prevenção de zika e microcefalia. Os sinais e sintomas mais frequentes da infecção por vírus zika (ZIKV) incluem manchas vermelhas na pele, prurido, olhos avermelhados, dores articulares e febre baixa. Ainda não foi desenvolvida vacina contra o ZIKV e não se sabe o risco da reinfecção. Os principais cuidados preventivos recomendados são medidas individuais para se evitar a picada do mosquito Aedes, como uso de telas em janelas e portas, uso contínuo de roupas compridas – calças e blusas – e a aplicação de repelente nas áreas expostas. Os cuidados coletivos incluem a eliminação dos focos de mosquitos nas residências (sendo cada um responsável pela sua casa), nos locais de trabalho e nas áreas públicas. O ZIKV também pode ser transmitido pelo ato sexual de uma pessoa com zika para os seus parceiros ou parceiras, e o uso de preservativos pode reduzir a chance de se contrair o ZIKV pela relação sexual. • Idade materna elevada: Sabe-se que a idade materna elevada define tanto a diminuição da fertilidade como o aumento do risco de algumas complicações na gravidez. Embora não exista uma definição única para gestação tardia, sabe-se que a taxa de fecundabilidade (probabilidade de gravidez por ciclo menstrual) inicia seu declínio em torno dos 32 anos, e esse declínio torna-se mais acentuado após os 37 anos. A principal causa de abortos espontâneos são as trissomias ou aneuploidias, que aumentam em frequência com o declínio da qualidade oocitária. Estima-se que 12% das gestações de mulheresabaixo de 30 anos evoluam para aborto espontâneo, sendo essa estatística de 15% em mulheres entre 30 e 34 anos, 25% entre 35 e 39 anos, 51% entre 40 e 44 anos e 93% para mulheres acima de 45 anos. 7 A idade materna superior a 35 anos também determina o aumento de 4 a 8 vezes na incidência de gestações ectópicas. Acredita-se que isso ocorra pela maior chance de a mulher ter adquirido infecção pélvica com comprometimento tubário. O risco aumentado de malformações congênitas associadas a gestantes mais velhas historicamente é atribuído ao aumento de aneuploidias com anormalidades estruturais. Isadora Maciel Assis • Idade paterna elevada: A idade paterna avançada é associada a aumento das mutações autossômicas dominantes fetais, que resultam em anormalidades congênitas como acondroplasia, síndrome de Apert e síndrome de Marfan. A principal hipótese é a de que, com a diminuição das enzimas antioxidantes, os espermatozoides se tornem mais vulneráveis a mutações. • Doenças maternas crônicas: As pacientes devem ser informadas acerca do efeito da gestação sobre sua doença. o O diabetes materno está associado a aumento na frequência de diversas malformações congênitas, incluindo defeitos de fechamento de tubo neural e cardiopatias congênitas. É recomendado que a hemoglobina glicada esteja abaixo de 6,5% antes da concepção. o As doenças da tireoide podem impactar significativamente os desfechos gestacionais. Hipotireoidismo no primeiro trimestre de gestação é associado a disfunções cognitivas na criança, aumento do risco de parto prematuro, descolamento prematuro de placenta (DPP), baixo peso ao nascer, morte fetal e aumento da morbidade e mortalidade neonatal. o A hipertensão crônica na gestação aumenta o risco de pré-eclâmpsia, parto prematuro, DPP, restrição de crescimento fetal (RCF) e morte fetal. 19 Os desfechos na gestação são diretamente associados ao grau da hipertensão. • Doenças genéticas: o histórico de doenças genéticas na família da paciente e de seu companheiro, na tentativa de identificar a segregação de patologias hereditárias que necessitem do apoio de um geneticista clínico no planejamento das tomadas de decisão antes e durante a gestação. o Indicações para aconselhamento genético pré-concepcional: ▪ Abortamentos de repetição (3 abortos ou mais). ▪ Casal portador de anormalidade cromossômica balanceada ▪ Consanguinidade ▪ História familiar ou pessoal de anomalias cromossômicas ▪ História familiar ou pessoal de malformações congênitas H ▪ istória familiar ou pessoal de doenças gênicas ▪ História familiar ou pessoal de doenças metabólicas ▪ Idade materna avançada ▪ Exposição a agentes teratogênicos (ocupacional, doença materna crônica) • Técnicas de reprodução assistida Isadora Maciel Assis • Uso de ácido fólico e suplementos dietéticos: A principal medida que a mulher que deseja engravidar pode tomar e que comprovadamente reduz a incidência de defeitos do tubo neural (DTN), como anencefalia e espinha bífida, é o uso do ácido fólico periconcepcional. A suplementação de ácido fólico deve ser realizada em todas as mulheres que desejam engravidar ou que estejam sem anticoncepção segura, pelo menos 30 dias antes da concepção, e deve ser mantida até a 12 a semanade gestação. o para mulheres em idade fértil com baixo risco para defeitos congênitos (prevenção primária), há evidência de eficácia com dosagens que variam entre 0,4 e 0,8 mg/dia. o Para pacientes que já tiveram filhos afetados por defeitos de tubo neural (prevenção secundária), a dose a ser prescrita é de 4 mg/dia. o Já para mulheres em uso de terapia anticonvulsivante, a dose a ser prescrita é de 4 a 5 mg/dia e, geralmente, deve ser mantida por toda a gestação. • Estado nutricional: peso pré-concepcional idealmente deve estar, no máximo, 15% acima ou abaixo do peso ideal para a estatura. • Obesidade: O diabetes gestacional é uma das complicações mais comuns em gestantes obesas. A perda de peso no período pré-concepcional reduz de maneira importante o surgimento dessa patologia, assim como o ganho de peso aumentado, especialmente na primeira metade da gestação, aumenta o risco de sua ocorrência. A obesidade também está relacionada a aumento do risco de malformações congênitas e complicações do parto e puerpério. o Na abordagem pré-concepcional de mulheres obesas, deve-se encorajá-las a buscarem programas de redução de peso com dieta, exercício físico, modificações comportamentais e avaliação da necessidade de tratamento medicamentoso ou cirurgia bariátrica. • Exercício físico: Pacientes que praticam exercícios físicos devem ser encorajadas a continuar a fazê-los durante o período pré-concepcional e durante a gestação. A atividade física contribui para que gestantes consigam atingir melhores ajustes neurais, hormonais, cardiovasculares e respiratórios, com objetivo de garantir a homeostase do organismo diante das demandas energéticas aumentadas. o A atividade física em gestantes consideradas de alto risco, como hipertensas, diabéticas, obesas e com gestações gemelares, deve ser individualizada e cuidadosamente acompanhada, sendo em alguns casos até mesmo contraindicada. o Os cuidados são no sentido de se manterem nutrição e hidratação adequadas antes e após a atividade física. Além disso, deve-se alertar as pacientes quanto ao superaquecimento corporal. A temperatura corporal e, consequentemente, a Isadora Maciel Assis temperatura intrauterina podem atingir os 39 °C após a prática de exercício vigoroso prolongado. Sabendo-se que a hipertermia no período embrionário causa malformações, é prudente que se evitem excessos dessa natureza. • Hábitos e ambientes: O uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas deverá ser totalmente suspenso junto com a anticoncepção. Todas as drogas recreacionais, lícitas e ilícitas, têm comprovadamente ação teratogênica em diferentes graus. o O álcool é o teratógeno humano de uso mais largamente difundido que impacta o crescimento fetal e o desenvolvimento em todos os estágios da gestação, além de estar associado a defeitos congênitos e deficiências no desenvolvimento, incluindo problemas neurocognitivos e comportamentais. Protocolos de sociedades médicas no mundo todo recomendam completa abstinência a partir da concepção e durante toda a gestação. Não existe dose segura de álcool na gestação, e não há uma clara relação dose-efeito. As crianças podem apresentar vários graus de alterações, desde alterações cognitivas leves até patologias graves como a síndrome alcoólica fetal. o O tabagismo materno está comprovadamente associado a redução do crescimento fetal. Neonatos de mães fumantes têm em média 200 gramas a menos do que os de não fumantes, e o risco de restrição de crescimento fetal (RCF) aumenta em 2 a 3 vezes. o O aconselhamento a respeito do consumo de cafeína é controverso. A cafeína está presente em café, chá, bebidas à base de cola, chocolates e medicamentos. Existem estudos observacionais que associam o consumo de cafeína a perdas gestacionais 44 e à redução do peso do recém-nascido. 45 É recomendado limitar o consumo de cafeína a menos de 200 mg/dia na gestação (em média dois cafezinhos ou duas xícaras de chá). o As pacientes que querem engravidar devem ser orientadas a evitar alguns tipos de peixes devido ao alto risco de contaminação por mercúrio, como tubarão, peixe- espada e peixes de águas profundas. Especialmente no Brasil, devem-se evitar peixes oriundos da Amazônia pelo alto teor de contaminação por mercúrio. • Sistema de informação sobre agentes teratogênicos (SIAT): O SIAT é um serviço gratuito que fornece informações atualizadas a respeito do risco de exposições durante o período pré- concepcional e durante a gestação. É uma importante ferramenta de auxílio ao manejo de doenças crônicas que necessitam de tratamento permanente, permitindo a opção por medicamentos com menor risco para o bebê. Isadora Maciel Assis • A concepção: Se a paciente tiver ciclos regulares, as relações sexuais sem proteção deverão começar cinco dias antes da data prevista para a ovulação (9 o dia em um ciclo padrão de 28 dias) e acontecer em dias alternados até cinco dias após a ovulação (19 o dia em um ciclo padrão de 28 dias). • 1. Gestação planejada; • 2. Primeira consulta pré-natal antes das 12 semanas de gestação; • 3. Uso de ácido fólico iniciado pelo menos três meses antes da concepção; • 4. Ausência de tabagismo; • 5. Ausência de depressão não controlada; • 6. Peso materno ideal (IMC > 18 e < 30 kg/m2 ); • 7. Ausência de doenças sexualmente transmissíveis; • 8. Glicemia bem-controlada em mulheres com diabetes pré-gestacional; • 9. Suspensão de teratógenos
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