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0 CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA 433X – APS – SOLUÇÕES PARA ENERGIA EÓLICA EM CIDADES DO LITORAL SANTOS 2021 1 Ricardo Firmino dos Santos Junior - B9299A-9 SOLUÇÕES PARA ENERGIA EÓLICA EM CIDADES DO LITORAL Atividade Prática Supervisionada semestral apresentada no curso de Graduação em Engenharia Mecânica da UNIP - Universidade Paulista SANTOS 2021 2 RESUMO A utilização de soluções energéticas que agridem em menor escala o meio ambiente tem destacado a energia eólica como uma fonte alternativa de grande importância na elaboração de novos cenários energéticos ecologicamente melhores. Porém, como toda tecnologia energética, o aproveitamento dos ventos para geração de energia elétrica apresenta algumas características ambientais e sociais desfavoráveis. Este trabalho apresenta um estudo sobre a energia eólica, apresentando uma análise dos impactos socioambientais decorrentes da instalação de parques eólicos nas cidades litorâneas. Palavras chave: energia eólica, fontes renováveis. 3 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................04 2. O QUE É ENERGIA EÓLICA .......................................................................05 3. COMO FUNCIONA .......................................................................................07 3.1 AEROGERADOR DE EIXO VERTICAL ..................................................09 3.2 AEROGERADOR DE EIXO HORIZONTAL ............................................12 4. APLICABILIDADE ........................................................................................19 5. CUSTOS .......................................................................................................24 6. VANTAGENS E DESVANTAGENS .............................................................26 7. SOLUÇÕES PARA ENERGIA EÓLICA EM CIDADES DO LITORAL ........29 8. SOLUÇÕES PARA ENERGIA EÓLICA........................................................45 9. USINAS EÓLICAS NO BRASIL E NO MUNDO ...........................................48 10. CONCLUSÃO ..............................................................................................55 11. REFERÊNCIAS ...........................................................................................57 4 1. INTRODUÇÃO A questão energética é um dos grandes problemas do Mundo Moderno. A maior parte da energia utilizada no planeta é de origem não renovável, ou seja, tem origem em recursos que, quando utilizados, não podem ser repostos pela ação humana ou pela natureza em um prazo útil. Além disso, soma-se o fato de que muitos deles têm um grande potencial destruidor do meio ambiente, fazendo com que a energia gerada seja altamente poluente, como por exemplo o petróleo, o carvão e o gás natural. A energia pode ser gerada de forma mais inteligente, menos poluente e menos dispendiosa, por meio de fontes como a energia eólica. Entre as fontes de energias alternativas, esta é a que representa as maiores taxas de expansão no mundo, cerca de 26%. No Brasil, segundo o Ministério das Minas e Energia, estima- se que o potencial eólico chegue a 143 mil MW, mais de dez vezes o que é gerado, por exemplo, pela Usina Hidrelétrica de Itaipu, apesar da fonte eólica representar, em 2014, apenas 1,38% da matriz energética nacional. Observa-se, principalmente na última década, um avanço, registrando-se incentivos mais amplos no contexto da produção de energias alternativas no Brasil, através de políticas de incentivo voltadas para a implantação de parques eólicos ao longo, principalmente, da sua costa litorânea, se destacando a região Nordeste do país. Apesar de ser considerada uma energia renovável e limpa, para sua produção é necessária a instalação de parques eólicos que impactam os territórios locais, onde os conflitos tornam-se visíveis, como a destruição visual e descaracterização da paisagem, perda de habitat, alteração do uso do solo (privatização de antigas áreas comunais de plantio, pesca e criação de animais), aumento da vulnerabilidade dos ecossistemas naturais e das dinâmicas sociais, culturais e econômicas, com impactos nas atividades turísticas, na saúde, nas tradições e na história da população local. 5 2. O QUE É ENERGIA EÓLICA A energia eólica é a energia cinética que existe no vento (massas de ar em movimento) e tem sua origem no aquecimento causado pela energia eletromagnética do sol (energia solar). A energia cinética do vento normalmente é convertida em energia mecânica por moinhos e cataventos, ou em energia elétrica por turbinas eólicas (ou aerogeradores). Em outras palavras, a energia eólica é a energia obtida pelo movimento do vento. A turbina eólica captura a energia cinética do vento e a transforma em eletricidade. O termo eólico vem do latim aeolicus, pertencente ou relativo a Éolo, deus dos ventos na mitologia grega e, portanto, pertencente ou relativo ao vento. A aplicação da energia eólica em trabalhos mecânicos por moinhos e cataventos, como a moagem de grãos e o bombeamento de água, remonta à origem da utilização dessa fonte de energia pela humanidade, a qual só passou a ser considerada uma alternativa para a geração de energia elétrica a partir da crise do petróleo, na década de 70. História da energia eólica O primeiro registro histórico da utilização da energia eólica para bombeamento de água e moagem de grãos através de cata-ventos é proveniente da Pérsia, por volta de 200 a.C. Esse tipo de moinho de eixo vertical veio a se espalhar pelo mundo islâmico sendo utilizado por vários séculos. Acredita-se que antes da invenção dos cata-ventos na Pérsia, a China (por volta de 2000 A.C.) e o Império Babilônico (por volta 1700 A.C) também utilizava cata-ventos rústicos para irrigação. Um importante marco para a energia eólica na Europa foi a Revolução Industrial no final do Século XIX. Com o surgimento da máquina a vapor, iniciou-se o declínio do uso da energia eólica na Holanda. Já no início do século XX, existiam apenas 2.500 moinhos de ventos em operação, caindo para menos de 1.000 no ano 6 de 1960. Preocupados com a extinção dos moinhos de vento pelo novo conceito imposto pela Revolução Industrial, foi criada, em 1923, uma sociedade holandesa para conservação, melhoria de desempenho e utilização mais efetiva dos moinhos holandeses. 7 3. COMO FUNCIONA A energia eólica com a finalidade de conversão em energia elétrica pode ser obtida de várias formas. A mais comum é por meio de aerogeradores. Um aerogerador é um gerador elétrico integrado ao eixo de um cata-vento e que converte energia eólica em energia elétrica. Pode ser implantado em terra ou mar (offshores), onde a presença do vento é mais regular. É um equipamento que tem se popularizado rapidamente por ser uma fonte de energia renovável e não poluente. As turbinas eólicas são compostas por: Anemômetro: mede a intensidade e a velocidade do vento. Funciona em média de dez em dez minutos; Biruta (sensorde direção): capta a direção do vento. A direção do vento deve sempre estar perpendicular à torre para o maior aproveitamento; Pás: captam o vento, convertendo sua potência ao centro do rotor; Gerador: item que converte a energia mecânica do eixo em energia elétrica; Mecanismos de controle: adequação da potência nominal à velocidade do vento que ocorre com mais frequência durante um período determinado; Caixa de multiplicação (transmissão): responsável por transmitir a energia mecânica do eixo do rotor ao eixo do gerador; 8 Rotor: conjunto que é conectado a um eixo que transmite a rotação das pás para o gerador; Nacele: compartimento instalado no alto da torre composto por: caixa multiplicadora, freios, embreagem, mancais, controle eletrônico e sistema hidráulico; Torre: elemento que sustenta o rotor e a nacele na altura apropriada ao funcionamento. A torre é um item de alto custo para o sistema. Existem dois tipos básicos de rotores eólicos: os de eixo vertical e os de eixo horizontal. Os rotores diferem em seu custo relativo de produção, eficiência, e na velocidade do vento em que têm sua maior eficiência. Existem também os aerogeradores de baixa tensão, que se diferenciam dos aerogeradores de alta tensão principalmente por terem tamanho e peso reduzidos em relação a estes, que usualmente são instalados nos cumes das montanhas ou em grandes planícies. O peso médio de um aerogerador de baixa tensão é de 100 kg. Este tipo de equipamento pode ser definido como um aerogerador doméstico, pois a quase totalidade dos equipamentos é instalada em habitações ou micro- indústrias. São usados isoladamente para alimentar localidades remotas e distantes da rede de transmissão. Podemos também encontrar conjuntos de aerogeradores constituindo um parque eólico. Eles são necessários para que a produção de energia elétrica torne- se rentável. Só são construídos após estudos exaustivos de viabilidade econômica e de impacto ambiental. Normalmente estas instalações encontram-se em terra, mas é cada vez mais frequente instalá-las no mar (offshore) onde a presença do vento é mais regular. Estes parques eólicos “offshore” permitem a redução dos inconvenientes provocados pelo ruído e pela poluição da paisagem. O uso de aerogeradores tem algumas restrições técnicas: - Nas proximidades dos parques eólicos é detectada poluição sonora, devido ao ruído produzido. Alguns também consideram a poluição visual; - Os aerogeradores só podem ser instalados de forma rentável em áreas de vento constante. 9 3.1 AEROGERADOR DE EIXO VERTICAL Aerogeradores de eixo vertical (AEVs) tendem a ser mais seguros, mais fáceis de construir, podem ser montados mais perto do solo e lidam muito melhor com condições de turbulência. Possuem torres baixas, entre 0,1 e 0,5 vezes a altura do próprio rotor, o que permite a colocação de todo o dispositivo de conversão de energia (gerador, caixa de velocidades, etc.) na base do aproveitamento, o que facilita as operações de manutenção. Além disso, neste tipo de aerogerador não é necessário o dispositivo de orientação da turbina face ao vento, tal como acontece nos aerogeradores de eixo horizontal. Possuem também uma velocidade de arranque mais baixa do que a dos aerogeradores de eixo horizontal, o que lhes dá vantagem em condições de vento reduzido. Por outro lado, eles não são tão eficientes como os aerogeradores de eixo horizontal. Isso acontece porque o vento junto ao solo é de mais fraca intensidade, o que implica um menor rendimento deste tipo de aerogeradores e a torre fica sujeita a elevados esforços mecânicos. Devido a essas razões, os construtores atualmente privilegiam os aerogeradores de eixo horizontal. 10 Este tipo de aerogeradores é especialmente indicado para meios urbanos porque além de ser silencioso, aproveita o vento mesmo que a direção deste não seja constante e haja a formação de turbilhões, o que acontece frequentemente em áreas com edifícios, árvores e outros obstáculos. Aerogeradores de eixo vertical são difíceis de se encontrar à venda. Isso acontece porque apesar de terem vantagens em algumas circunstâncias, perdem claramente em rentabilidade quando as condições de vento são boas. Por isso nunca veremos um parque eólico com AEVs, resumindo-se o seu uso a pequenos projetos e a algumas instalações em ambiente urbano. Os rotores de eixo vertical são geralmente mais baratos que os de eixo horizontal, pois o gerador não gira seguindo a direção do vento, apenas o rotor gira enquanto o gerador fica fixo. Porém, como já foi dito, seu desempenho é inferior. Os dois tipos de estruturas de aerogeradores de eixo vertical mais utilizados baseiam-se no princípio do acionamento diferencial ou da variação cíclica de incidência da força. Rotor de Savonius: baseia-se no princípio do acionamento diferencial. Os esforços exercidos pelo vento em cada uma das faces do corpo oco são de intensidades diferentes, resultando um binário responsável pelo movimento rotativo do conjunto. Esquema do princípio de funcionamento do Rotor de Savonius rotor de Savonius Rotor de Darrieus: baseia-se no princípio da variação cíclica de incidência. Um perfil colocado ao vento segundo diferentes ângulos fica submetido a forças de 11 intensidade e direção variáveis; a resultante destas forças gera um binário motor responsável pela rotação do dispositivo. Esquema do rotor de Darrieus. O rotor do tipo darrieus é constituído por 2 ou 3 pás (como as dos helicópteros), funciona através de força de sustentação tendo assim uma eficiência melhor que a do rotor savonius, podendo chegar a 40% em ventos fortes. 12 3.2 AEROGERADOR DE EIXO HORIZONTAL Os aerogeradores de eixo horizontal baseiam-se no princípio de funcionamento dos moinhos de vento. São constituídos por turbinas de uma a três pás ou multipás (acima de três pás), com um perfil aerodinâmico. Rotores de 3 pás são os mais comuns, pois constituem um bom compromisso entre coeficiente de potência, custo e velocidade de rotação, bem como uma melhor estética comparada às turbinas de 2 pás. Apesar dos rotores com 2 pás serem mais eficientes, são mais instáveis e propensos a turbulências, trazendo risco a sua estrutura, o que não acontece nos rotores de 3 pás que são muito mais estáveis, barateando seu custo e possibilitando a construção de aerogeradores de mais de 100 metros de altura e com capacidade de geração de energia que pode chegar a 5 MW (megawatts). Seu pico de geração de energia é atingido com ventos fortes e sua eficiência pode passar dos 45%. Rotores multipás são mais utilizados para bombeamento de água de poços artesianos, mas nada impede que sejam utilizados para geração de energia elétrica. Impulsionados tanto por força de arrasto como por força de sustentação, esses rotores têm seu pico de eficiência em ventos fracos, com uma eficiência de 30% Aerogeradores de eixo horizontal são os mais utilizadas porque o seu rendimento aerodinâmico é superior aos de eixo vertical e estão menos expostos aos esforços mecânicos, compensando seu maior custo. 13 Existem duas categorias de aerogeradores de eixo horizontal: Frontais (upwind): o vento sopra pela parte frontal. As pás são rígidas e o rotor é orientado segundo a direção do vento através de um dispositivo motor. Esquema de um aerogerador de eixo horizontal “upwind” . Retaguarda (“downwind”): o vento sopra pela retaguarda das pás. O rotor é flexível e auto-orientável. Esquema de uma eólica de eixo horizontal“downwind” 14 A colocação da turbina no topo é a forma mais utilizada por ser a mais simples e a que conduz a melhores resultados para grandes potências; são menores os esforços de manobra e melhor a estabilidade. As pás da turbina devem sempre ser orientadas segundo a direção do vento. Atualmente, aerogeradores de eixo horizontal com um rotor do tipo hélice possuem grande importância para a produção de eletricidade em grande escala. Componentes de um gerador convencional de eixo horizontal Descrição da função dos principais componentes: Pás do Rotor: Capturam a energia eólica e a convertem em energia rotacional no eixo. 15 Eixo: Transfere a energia de rotação para o gerador. Nacele: Carcaça onde são abrigados os componentes. Caixa de Engrenagens: Aumenta a velocidade de rotação do eixo entre o gerador e o cubo do rotor. Gerador: Usa a energia rotacional para gerar eletricidade utilizando eletromagnetismo. Unidade de Controle Eletrônico: Monitora todo o sistema, realiza o desligamento da turbina em caso de falha e ajusta o mecanismo de alinhamento da turbina com o vento. Controlador: Alinha o rotor com a direção do vento. Freios: Em caso de falha no sistema ou sobrecarga de energia, detém a rotação do eixo. Torre: Sustenta o rotor e a nacele, além de erguer todo o conjunto a uma altura onde as pás possam girar com segurança e distantes do solo. Equipamentos Elétricos: Transmitem a eletricidade do gerador pela torre e controlam os elementos de segurança da turbina. 16 Em suma, os aerogeradores apresentam hélices que se movimentam com a força dos ventos. Parte da energia cinética devido ao movimento dos ventos é transferida para as pás do rotor e se torna a energia rotacional das pás. Consequentemente, o eixo, que está acoplado às pás, gira junto com elas. A energia rotacional do eixo (que é a mesma que a das pás) é transformada em energia elétrica pelo gerador. Por fim, o transformador é responsável por distribuir externamente esta energia gerada. A potência elétrica produzida é função do cubo da velocidade do vento “v”: Fórmula para cálculo da potência Onde: “ρ” é a densidade do ar em kg/m³; “Ar” é calculado por π.D2/4, em que D é o diâmetro do rotor; “Cp” é o coeficiente aerodinâmico de potência do rotor; e “η” é a eficiência do conjunto gerador/transmissor. A absorção de energia cinética reduz a velocidade do vento a jusante do disco do rotor gradualmente e essa velocidade recupera-se ao misturar-se com as massas de ar predominantes do escoamente livre. Das forças de sustentação aerodinâmica nas pás do rotor resulta uma esteira helicoidal de vórtices, a qual também gradualmente dissipa-se. Após alguma distância a jusante da turbina, o escoamento praticamente recupera as condições de velocidade originais e turbinas adicionais podem ser instaladas, minimizando as perdas de desempenho causadas pela interferência da turbina anterior. Na prática, essa distância varia com a velocidade do vento, as condições de operação da turbina, a rugosidade do terreno e a condição de estabilidade térmica vertical da atmosfera. De modo geral, uma distância considerada segura para a instalação de novas turbinas é da ordem de 10 vezes o diâmetro “D”, se instalada a jusante, e 5 vezes “D”, se instalada ao lado, em relação ao vento predominante. Observe a figura abaixo: 17 O diâmetro “D” é inversamente proporcional à velocidade angular do rotor. Para minimizar a emissão de ruído aerodinâmico pelas pás, usualmente a rotação é otimizada no projeto. Descreve-se abaixo a fórmula prática para a avaliação da rotação nominal de operação de uma turbina eólica. Fórmula para cálculo das rotações por minuto. Onde: “RPM” são rotações por minuto; e “D” é o diâmetro do rotor. À medida que a tecnologia propicia dimensões maiores para as turbinas, a rotação reduz-se: os diâmetros de rotores no mercado atual variam entre 30m e 100m, o que resulta em rotações da ordem de 35rpm a 12rpm, respectivamente. As rotações baixas tornam as pás visíveis e evitáveis por pássaros em vôo. 18 Quanto aos níveis de ruído, turbinas eólicas satisfazem os requisitos ambientais (cerca de 45 decibéis-dB) mesmo quando instaladas a distâncias da ordem de 300m de áreas residenciais (segundo a Associação Americana de Energia Eólica – AWEA). Esses aspectos contribuem para que a tecnologia eólico-elétrica apresente o mínimo impacto ambiental entre as fontes de geração na mesma ordem de gigawatts. O grande problema do gerador com eixo horizontal é a necessidade de medir constantemente a velocidade do vento para decidir se ele deve permanecer ligado ou não. Caso esteja ventando muito pouco, o custo para manter o gerador ligado é maior do que a energia produzida por ele, tornando necessário que o mesmo seja temporariamente desligado. Apesar da grandiosidade dos modernos moinhos de vento, a tecnologia utilizada continua a mesma há 1000 anos. Porém, tudo indica que brevemente será suplantada por outras tecnologias de maior eficiência, como é o caso da turbovela, uma voluta vertical apropriada para capturar vento a baixa pressão ao passar nos rotores axiais protegidos internamente. Esse tipo oferece certos riscos de colisões das pás com objetos voadores (animais silvestres) mas não interfere na áudiovisão. Essa tecnologia já é uma realidade que tanto pode ser introduzida no meio ambiente marinho, uma vez que os animais aquáticos não correm riscos de colisão, como no ambiente terrestre. 19 4. APLICABILIDADE Segundo o relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apenas 13% da superfície terrestre mundial se adequa a esse fator, o que já impõe um limite para a sua aplicabilidade na maior parte das regiões. Os melhores locais para a obtenção são os mais ventosos. Neles são colocados aerogeradores, postes enormes com geralmente 3 pás que se movem com a força do vento e que a convertem em energia. Os aerogeradores são colocados em grupos, dando origem a fazendas eólicas. No Brasil, mais de 71 mil km² do território nacional apresentam velocidade de vento superior a 7 m/s ao nível de 50 m de altura. Este potencial proporcionaria ao país o equivalente a 272 terawatt-hora por ano (TWh/ano), o que representa aproximadamente 64% do consumo nacional de energia elétrica, que gira em torno de 424 TW/ano. Esse potencial está concentrado sobretudo na região nordeste do país, seguido da região sul. A escolha do local de instalação é complexa e não está só relacionada à velocidade do vento. Ela envolve fatores como terreno plano, pouco ondulado e sem obstáculos, para que o fluxo do vento não seja quebrado. De forma geral, o litoral brasileiro tem todas essas características, além, é claro, de contar com ventos de velocidades médias relativamente altas e constantes, com pouca ou nenhuma turbulência. Isso faz do nosso litoral um local ideal para a instalação de parques eólicos. Os melhores trechos estão listados (com média anual superior a 8,0 m/s de velocidade do vento, medidos a 50 metros de altura): No litoral do Rio Grande do Sul ➢ da Barra do Chui a Estação ecológica do Taim ➢ de Rio Grande a Bojurú ➢ de São Simão a Palmares No litoral de Santa Catarina ➢ da Praia Esplanada a Praia Figueirinha ➢ da Praia Figueirinha a Laguna – melhores ventos médios anuais ➢ de Laguna a Ibirumba 20 No litoral do Rio de Janeiro ➢ do Arraial do Cabo a Armação de Búzios ➢ de Campos dos Goytacazes a Barra de Itabapoana No litoral do Espírito Santo ➢ da Barra de Itabapoana a Itapemirim ➢ Praia do Riacho Doce No litoral da Bahia ➢ da Praia CostaDourada a Mucuri No litoral de Sergipe ➢ Pirambu a Brejo Grande No litoral do Rio Grande do Norte ➢ de Bela Formosa a Praia de Pirangi ➢ da Praia de Pirangi a São Bento do norte – melhores ventos médios anuais ➢ da Ponta do Mel a Tibau – melhores ventos médios anuais No litoral do Ceará ➢ de Tibau a Parajuru – melhores ventos médios anuais ➢ de Parajuru a Icaraí de Amontada ➢ de Icaraí de Amontada a Bitupitá – melhores ventos médios anuais No litoral do Piauí ➢ todo litoral – melhores ventos médios anuais* No litoral do Maranhão ➢ das Ilhas da Canárias a Tutóia – melhores ventos médios anuais Escolha do local A escolha de um local propício para a instalação de turbinas eólicas é uma tarefa bastante complexa uma vez que envolve a consideração de diversos fatores. 21 Entretanto, existem alguns pontos principais que ajudarão a identificar o melhor local para instalação das turbinas eólicas como, morfologia do terreno, regime de ventos, localização do centro de consumo e a existência ou não de outros projetos já em funcionamento e que estejam próximos à região estudada. Estes fatores influirão direta ou indiretamente no rendimento e na vida útil do sistema instalado, sendo por isso, de extrema importância. O primeiro fator a ser considerado é a localização do centro de consumo, pois, a menos que o objetivo do projeto seja para a geração de energia conectada à rede elétrica (o que permite um maior leque de opções), este, definirá a região a ser estudada uma vez que o local de geração não poderá ser muito distante para se evitar perdas e encarecimento das instalações. A escolha de um local próximo ao centro de consumo evita também que se tenha de instalar um equipamento com potência nominal muito maior do que o necessário (o que também seria mais oneroso) para compensar as perdas na transmissão. A existência de outros projetos bem sucedidos próximos à região visada pode ajudar na definição do local. Porém a comparação só é válida se ambos os locais apresentarem características de ventos e morfologia bastante semelhantes, além de ser próximos. O segundo fator a considerar é o regime dos ventos (velocidade, freqüência, variações sazonais, turbulências), que varia de local para local. Algumas regiões (com terrenos planos ou pouco ondulados e com poucos obstáculos, assim como as regiões litorâneas – principalmente o litoral nordeste brasileiro, e regiões altas) costumam apresentar regimes de ventos bastante favoráveis, com velocidades médias relativamente altas e constantes e pouca ou nenhuma turbulência. Mas o regime de ventos também pode sofrer grandes interferências da morfologia do terreno como discutiremos a seguir. Em regiões de topografia acidentada os ventos costumam sofrer o efeito de frenagem pelas montanhas ou elevações criando regiões de turbulência ou calmaria nos vales e nas encostas. Em contrapartida, no cume das elevações geralmente se encontram velocidades de vento maiores tornando-os bastante propícios para a instalação de turbinas eólicas, a não ser que ocorra o efeito de “canalização” do vento predominante (o que pode ocorrer em vales, cursos de rios, etc.), fazendo com que as maiores velocidades de vento ocorram nesses “canais” ao invés dos cumes. Outro fator que pode fazer com que a velocidade nas regiões mais baixas seja maior do que nos cumes é quando as cristas das elevações estão situadas 22 longitudinalmente à direção do vento predominante. Além do relevo próprio da região outros elementos geográficos podem interferir no regime dos ventos diminuindo sua velocidade e causando turbulência. É o caso de prédios, construções e vegetação. Ou seja, tudo o que constituir barreira para a passagem dos ventos tem capacidade de interferir nele. Estes fatores fazem com que nem sempre os locais mais altos sejam os mais propícios para a instalação das turbinas e interferem também na altura das mesmas a fim de reduzir o efeito da turbulência causada pelo terreno. Cabe analisar cada situação e região individualmente. Aplicações dos sistemas eólicos Um sistema eólico pode ser utilizado em três aplicações distintas: sistemas isolados, sistemas híbridos e sistemas interligados à rede. Os sistemas obedecem a uma configuração básica, necessitam de uma unidade de controle de potência e, em determinados casos, de uma unidade de armazenamento. Sistemas Isolados: Os sistemas isolados, em geral, utilizam alguma forma de armazenamento de energia. Este armazenamento pode ser feito através de baterias, com o objetivo de utilizar aparelhos elétricos, ou na forma de energia gravitacional, com a finalidade de armazenar a água bombeada em reservatórios para posterior utilização. Alguns sistemas isolados não necessitam de armazenamento, como no caso dos sistemas para irrigação onde toda a água bombeada é diretamente consumida. Sistemas Híbridos: Os sistemas híbridos são aqueles que, desconectados da rede convencional, apresentam várias fontes de geração de energia como, por exemplo, turbinas eólicas, geração diesel, módulos fotovoltaicos, entre outras. A utilização de várias formas de geração de energia elétrica aumenta a complexidade do sistema e exige a otimização do uso de cada uma das fontes. Nesses casos, é necessário realizar um controle de todas as fontes para que haja máxima eficiência na entrega da energia para o usuário. Em geral, os sistemas híbridos são empregados em sistemas de médio a grande porte destinado a atender um número maior de usuários. Por trabalhar com cargas em corrente alternada, o sistema híbrido também necessita de um inversor. Devido à 23 grande complexidade de arranjos e multiplicidade de opções, a forma de otimização do sistema torna-se um estudo particular a cada caso. Sistemas Interligados à Rede: Os sistemas interligados à rede utilizam um grande número de aerogeradores e não necessitam de sistemas de armazenamento de energia, pois toda a geração é entregue diretamente à rede elétrica. Os totais de potência instalada no mundo de sistemas eólicos interligados à rede somam aproximadamente 120 GW. 24 5. CUSTOS A maioria das formas de geração de eletricidade requerem altíssimos investimentos de capital e baixos custos de manutenção. Isto é particularmente verdade para o caso da energia eólica, onde os custos com a construção de cada aerogerador de alta potência podem alcançar milhões de reais, os custos com manutenção são baixos e o custo com combustível é zero. Na composição do cálculo de investimento e custo nesta forma de energia levam-se em conta diversos fatores, como a produção anual estimada, as taxas de juros, os custos de construção, de manutenção, de localização e os riscos de queda dos geradores. Sendo assim, os cálculos sobre o real custo de produção da energia eólica diferem muito, de acordo com a localização de cada usina. Há 20 anos atrás a indústria de geração de energia eólica avançou em passos gigantescos, reduzindo seus custos de implantação, em mais de oito vezes. Embora seu custo de instalação esteja situado por volta dos US$ 1.500.000 por cada MW de capacidade instalada, as variações nos regimes e fluxos dos ventos apresentam graus de incerteza maiores do que as variações da vazão dágua. Isso se reflete em Fatores de Capacidade de cerca de 35% contra 65% das hidroelétricas. Aqui no Brasil, no leilão da Aneel realizado em 27 de agosto de 2010, o preço da energia de origem eólica ficou em R$ 130,8/MWh, tendo sido inferior ao preço da energia de biomassa e de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). No leilão de agosto de 2011, o preço da energia eólica atingiu um novo patamar, ainda mais baixo, de R$ 99,58/MWh, ficando atá mais barato que a energia de termoelétricas a gás natural. Neste leilãofoi vendido mais de 1.900 MW, valor maior que o total de energia eólica instalado no país até o momento. Assim, a produção de energia eólica no país vai mais que dobrar até 2014, ano de conclusão dos projetos vendidos no leilão. A queda do preço do aço, importante para a produção das turbinas eólicas, pode tambem servir de incentivo no curto prazo. Outro fator que tem propiciado esse forte crescimento é a consolidação de uma indústria especializada em geração eólica. Apesar de usar a tecnologia já consolidada nas gerações tradicionais, hidroelétrica e térmica, algumas adaptações devem ser feitas, pois a velocidade de rotação das turbinas é muito inferior a da 25 geração tradicional, com a velocidade do vento variando na faixa de 5 a 25 m/s, para as alturas das turbinas hoje existentes. Com uma taxa de crescimento acima de 20% desde 2001 e novas tecnologias sendo estudadas, tanto a potência quanto a altura das torres tem aumentado. Hoje a maioria dos fabricantes já comercializam turbinas de 2 MW, com 80 m de raio. Já existem protótipos de turbinas de 5 MW, com 130 m de raio. Segundo o fabricante (Wobben), o valor médio em investimento inicial para usinas de médio e grande porte (acima de 30MW) é de R$4.200.000,00 por MW instalado. Este valor inclui o aerogerador, infra-estrutura civil e elétrica, tudo isso dependendo das características de cada empreendimento, devendo assim ser analisado caso a caso. A instalação de uma usina eólica demanda cerca de 18 meses, o que torna esta modalidade de geração de energia altamente competitiva em relação a outros projetos de produção de energia elétrica, tanto alternativos quanto convencionais, que levam em média 24 meses para instalação. A figura abaixo mostra uma comparação de custo entre diversos tipos de energia. 26 6. VANTAGENS E DESVANTAGENS A principal vantagem da energia eólica é que se trata de uma fonte de energia renovável e "limpa", pois não emite os gases do efeito estufa que contribuem para a o aquecimento global, e não produz resíduos ao gerar eletricidade. Além disso, a fonte é considerada inesgotável e não há custos associados à obtenção de uma matéria-prima, diferentemente do que ocorre também com combustíveis fósseis. Os custos de implantação são relativamente baixos. A necessidade de manutenção é baixa e são criadas novas oportunidades de emprego em áreas que normalmente recebem pouco investimento. Uma crítica muito comum à energia eólica é referente à sua intermitência. A energia eólica depende da ocorrência de vento em densidade e velocidade ideais, e esses parâmetros sofrem variações anuais e sazonais. Portanto, para a energia eólica ser considerada aproveitável do ponto de vista técnico, a usina eólica (ou parque eólico) deve ser implantado em um local em que a densidade da massa de ar seja maior ou igual a 500 watts por metro quadrado (W/m²) a uma altura de 50 metros, e a velocidade do vento seja de sete a oito metros por segundo (m/s). No entanto, a construção de um parque eólico não pode partir apenas do atendimento a fatores técnicos relacionados à disponibilidade dos ventos. O procedimento também requer a realização de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que servem para definir a melhor localização não somente do ponto de vista estratégico, mas também em termos socioambientais. Parques eólicos (ou usinas eólicas) são espaços em que há ao menos cinco turbinas eólicas (aerogeradores) que podem produzir energia elétrica. Essa concentração de aerogeradores em um mesmo local provoca uma série de externalidades negativas. Um dos impactos ambientais negativos recai sobre as populações de aves. Ao voarem muito perto das turbinas, muitos pássaros são atingidos pelas pás e http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/1294-aquecimento-global-o-perigo-se-tornou-real.html http://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/2646-o-que-sao-externalidades-negativas-positivas-como-afetam-vida-sociedade-efeitos-indiretos-problemas-beneficios-sociais-economicos-ambientais-bens-produto-servico-diferenca-custos-privados-lucros-empresa-prejudicam-consumo-sustentavel-consciente-.html 27 sofrem ferimentos graves e até morrem. A implantação de parques eólicos pode influenciar a mudança nas rotas de fluxos migratórios de populações de aves. Além disso, parques eólicos também podem impactar negativamente o ecossistema local e as populações humanas do entorno devido ao alto ruído que as turbinas produzem ao operarem. A poluição sonora é considerada um problema de saúde pública, pois está associada ao aumento do estresse, agressividade e transtornos psíquicos, dentre outros impactos à saúde. O ruído também pode provocar o afastamento de populações de animais, afetando o ecossistema local. A comunidade do entorno pode ser afetada pela poluição visual. A construção de parques eólicos provoca significativas mudanças na paisagem. Outro impacto relacionado às turbinas é a interferência que causam em radares meteorológicos. Esses radares são usados para prever o volume de chuva, risco de queda de granizo e outras ações no tempo. Para serem capazes de executar tais atividades, devem ser equipamentos muito sensíveis. Essa sensibilidade os torna suscetíveis a interferências externas. Uma única turbina eólica que esteja em funcionamento em uma área próxima a um radar meteorológico pode afetar as suas previsões. Como radares são ferramentas importantes na prevenção de eventos críticos em períodos chuvosos, e usados pela Defesa Civil para basear medidas de emergência, foram estabelecidas distâncias mínimas que devem ser atendidas entre radares e aerogeradores. Segundo o relatório do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, nenhuma turbina eólica deve ser instalada a distância menor que 5 km de radares de banda C (frequência entre 4 GHz e 8 GHz) e 10 km de banda S (frequência entre 2 GHz e 4 GHz). Ao se tratar da implantação de parques eólicos, as distâncias a serem consideradas são de 20 km e 30 km para cada tipo de radar, respectivamente. Apesar da energia eólica não produzir resíduo durante a geração de eletricidade, é preciso atentar que há resíduos oriundos do processo de fabricação das pás das turbinas, que costumam ser confeccionadas com fibra de vidro. A fibra de vidro em si não é tóxica, no entanto, os aditivos que são usados para reforçar o material podem ser como a resina epóxi. Uma pá tem um tempo de vida médio equivalente a 20 anos e, devido aos materiais dos quais é feita, requer o descarte http://www.ecycle.com.br/component/content/article/63-meio-ambiente/2733-poluicao-sonora-o-que-e-como-afeta-dia-a-dia-meio-ambiente-cidade-saude-decibeis-ruido-estresse-depressao-insonia-perda-de-atencao-memoria-dor-de-cabeca-surdez-cansaco-efeitos-exemplos-o-que-fazer-combate-locais-barulhentos-protetor-auditivo.html http://www.ecycle.com.br/component/content/article/63-meio-ambiente/2738-poluicao-visual-o-que-e-como-nos-afeta-dia-a-dia-propaganda-anuncios-banners-publicidade-desvio-atencao-danos-estresse-desatencao-acidentes-motoristas-eleicoes-santinhos-papel-gasto-com-agua-entupimento-bueiros-solucoes-cidade-limpa-impacto-regulamentacao.html http://www.cemaden.gov.br/cemadenarquivos/publicacoes/estudo_tecnico_de_avaliacoes_de_riscos.pdf http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35-atitude/958-fibra-de-vidro-materia-prima-de-muitos-materiais-pode-expor-riscos-no-processo-de-producao.html 28 correto. Ainda não existe uma tecnologia que torne a reciclagem de pás economicamente viável devido à alta complexidade do material com o qual ela é feita. Outro impacto é referente aos resíduos sólidos e líquidos provenientes das atividades do canteiro de obras e das atividades construtivas. Os resíduos sólidos devem ser manejados adequadamente. Orisco de contaminação do solo por resíduo líquido, devido à operação e manutenção de parques eólicos, é reduzido, mas existe, ainda mais em se tratando da instalação sobre as dunas, o que possibilita a contaminação e alteração do nível hidrostático do lençol freático. Outro fator que contribui para essa alteração está vinculado à produção de concreto (volume grande de material empregado) para a confecção das fundações das torres eólicas. Ou seja, há também a interferência na disponibilidade hídrica local devido ao elevado consumo de água na sua fabricação. A implantação de usinas geradoras de energia eólica pode promover interferência em sítios arqueológicos, o que traz a necessidade de, além de estudos técnicos precedentes, haver o monitoramento da área afetada. Para além disso, existem estudos em outros países, que analisam a influência da luminosidade causada pelo movimento das hélices, durante o dia e a noite, na saúde mental da população do entorno (efeito estroboscópico dos aerogeradores). Nesse efeito, o grau de sombreamento intermitente depende da distância da torre, da latitude do local, do período do dia e do ano. Torna-se mais relevante quanto menor for a distância das pás e o receptor, bem como o fato de estar em uma mesma altitude. Segundo pesquisas, o sombreamento intermitente pode causar incômodo e prejudicar pessoas que sofrem de epilepsia, além de náuseas e dores de cabeça nos moradores afetados. É o chamado efeito estrosbocópico (PIRES, 2010). Ele é sentido em uma distância até dez vezes o diâmetro das pás e depende da direção das turbinas eólicas de residências, sendo bem documentado em diversos países do mundo, porém mal regulamentado (FILHO, 2013). Além disso, há relatos de que o sombreamento reduz a área para a plantação e criação de animais. 29 7. SOLUÇÕES PARA ENERGIA EÓLICA EM CIDADES DO LITORAL Sem dúvida, o Brasil é um paraíso para as energias renováveis, pois possui um potencial hidrelétrico imenso, sol o ano todo, ótima quantidade de ventos, um litoral gigante que pode prover energias renováveis a partir de eólicas offshore, marés e ondas. No litoral do Nordeste brasileiro, em especial no Ceará e no Rio Grande do Norte, as condições são excelentes, chegando a uma média anual de 8 metros por segundo. Apesar de não queimarem combustíveis fósseis e não emitirem poluentes, os parques eólicos não são totalmente desprovidos de impactos ambientais e sociais, assim como toda tecnologia energética. Quando implantados na faixa litorânea, em paisagens praticamente intocadas pela intervenção humana progressiva, com a presença apenas de comunidades tradicionais de pescadores e agricultura de subsistência, descaracterizam a paisagem, afetam as tradições e a identidade dessas comunidades, como também abalam atividades vinculadas ao turismo de sol e praia que é forte no litoral potiguar. Suas torres e hélices alteram a paisagem, impactando os territórios locais, onde os conflitos tornam-se visíveis, como a destruição visual e descaracterização da paisagem, perda de habitat, alteração do uso do solo (privatização de antigas áreas comunais de plantio, pesca e criação de animais), aumento da vulnerabilidade dos ecossistemas naturais e das dinâmicas sociais, culturais e econômicas, com impactos nas atividades turísticas, na saúde, nas tradições e na história da população local. A alteração das paisagens e a percepção de possível impacto ambiental têm suscitado controvérsias (no sentido de desacordo entre vários atores sociais, eminentemente discursivo) e mesmo conflitos. Surgem movimentos de resistência à implantação de parques eólicos em determinada localização, encabeçados geralmente por moradores e autoridades locais ou organizações não governamentais (de defesa do meio ambiente, de defesa do patrimônio, da paisagem, do turismo entre outros). .No Rio Grande do Norte, por exemplo, onde a maioria dos parques eólicos foram construídos na faixa litorânea, a mata nativa foi retirada em alguns trechos para dar lugar a largas estradas por onde transitam imensos caminhões, carros, máquinas pesadas com partes das torres e, assim, comprometida. Em geral, é introduzido um material sedimentar para impermeabilização e compactação do solo, 30 quando da etapa do processo de implantação, visando proporcionar o tráfego de veículos sobre a rede de vias de acesso aos aerogeradores, ao canteiro de obras, ao depósito de materiais, do escritório e do almoxarifado. Toda essa dinâmica de transportes e pessoas provoca, de maneira indireta, um desequilíbrio no meio ambiente local, no habitat natural onde vivem os animais característicos dessa região, que têm sua rotina alterada, seu silêncio quebrado e seu habitat invadido pela ação antrópica, para dar lugar ao progresso. Para a construção de parques eólicos, são privatizados extensos trechos do litoral, entre as comunidades litorâneas e a faixa de praia, restringindo o livre acesso aos sistemas ambientais de usufruto ancestral por parte de populações tradicionais, incluindo indígenas e quilombolas. Portanto, os parques eólicos contribuíram para o surgimento de conflitos ambientais envolvendo estas comunidades, uma vez que os seus territórios ancestrais foram privatizados e as relações de subsistência com o mar se alteraram. Em São Miguel do Gostoso/RN, a praia divide o cenário com os aerogeradores (Foto: Felipe Gibson/G1) Muitas dessas características negativas podem ser significativamente minimizadas e até mesmo eliminadas com planejamento adequado e inovações tecnológicas. É urgente um olhar da gestão pública sobre essa nova realidade, 31 apontando para a necessidade de adotar modelos de planejamento que visem à sustentabilidade dessas áreas e que possam mitigar os problemas e impactos decorrentes das mudanças impostas ao território e que têm transformado as realidades social e ambiental nessas áreas produtoras de energia eólica. Se não podemos ainda avançar em indicadores efetivos de sustentabilidade ambiental, é fundamental que os municípios coletem dados, registrem as informações das mudanças ambientais e realizem um acompanhamento contínuo dessas variáveis. Esses dados podem ser ferramentas úteis na avaliação ambiental dos padrões de desenvolvimento. Quanto menos organizada institucionalmente é uma municipalidade, quanto menos informação coletada e organizada ela tem, na mesma proporção está mais sujeita a erros de planejamento, a ter sua população e seu território utilizado por agentes externos como melhor lhes convir. Outro problema apontado é de que a instalação dos parques eólicos aumenta a pressão sobre a diversidade biológica da região, com impactos diretos sobre a fauna (sobretudo aves, morcegos e tartarugas marinhas), a flora, e não esquecendo as rotas de migração de espécies nativas. Fora das rotas de migração, os pássaros são raramente incomodados pelas turbinas eólicas. Estudos com radares em Tjaereborg, região oeste da Dinamarca, mostram que no local onde foi instalada uma turbina eólica de 2 MW, com 60 m de diâmetro, os pássaros tendem a mudar sua rota de voo entre 100 a 200 m, passando por cima ou ao redor da turbina, em distâncias seguras. Esse comportamento tem sido observado tanto durante a noite quanto durante o dia. Na Dinamarca é comum um grande número de ninhos de falcões nas torres das turbinas eólicas. Avanços tecnológicos já estão sendo desenvolvidos no sentido de minimizar outros impactos, como por exemplo o desenvolvimento de turbinas menos prejudiciais aos pássaros e no desenvolvimento de tecnologias para a reciclagem do material que compõe as turbinas. Em nível mundial, existe também uma preocupação com questões como o ruído, a poluição sonora ou os efeitos sobre a saúde. O barulho pode também afetar a reproduçãodas tartarugas marinhas, entre outras espécies. O ruído no interior ou em torno de uma usina eólica varia consideravelmente dependendo de uma série de fatores, como o modelo de turbinas instaladas, o 32 relevo do terreno, a velocidade e a direção do vento, entre outros. O aumento das emissões de som das turbinas eólicas está relacionado com aumento da velocidade do vento. Quando há pessoas que vivem perto de uma usina eólica, os cuidados devem ser tomados para garantir que o som das turbinas de vento seja em um nível razoável em relação ao nível do som ambiente da área. Vários estudos registraram um conjunto comum de efeitos adversos à saúde de pessoas que vivem próximas aos aerogeradores. Esses sintomas começaram após o funcionamento das usinas eólicas, incluindo distúrbios do sono, dor de cabeça, zumbido nos ouvidos, pressão no ouvido, náuseas, tonturas, taquicardia, irritabilidade, problemas de concentração e memória, episódios de pânico com sensação de pulsação interna ou trêmula que surgem quando acordado ou dormindo. O impacto ambiental do ruído gerado pelo sistema eólico ao girar suas pás foi um dos mais importantes temas de discussão e bloqueio da disseminação da energia eólica durante a década de oitenta e início da década de noventa. O desenvolvimento tecnológico nos últimos anos, juntamente com as novas exigências de um mercado crescente e promissor, promoveram um avanço significativo na diminuição dos níveis de ruído produzido pelas turbinas eólicas. Este problema está relacionado com fatores como a aleatoriedade do seu funcionamento e a variação da frequência do ruído uma vez que este se ajusta diretamente com a velocidade de vento incidente. Com o avanço dos estudos a respeito do ruído mecânico gerado pelas turbinas eólicas, é possível a construção das mesmas com níveis de ruído bem menores, melhorando a tecnologia. Outra tecnologia utilizada em turbinas eólicas está no uso de um gerador elétrico multipolo conectado diretamente ao eixo das pás. Esse sistema de geração dispensa o sistema de engrenagens para multiplicação de velocidade, pois o gerador funciona mesmo em baixas rotações. Sem a principal fonte de ruído presente nos sistemas convencionais, as turbinas que empregam o sistema multipolo de geração de energia elétrica são significativamente mais silenciosas. O ruído aerodinâmico é um fator influenciado diretamente pela velocidade do vento incidente sobre a turbina eólica. Ainda existem vários aspectos a serem pesquisados e testados tanto nas formas das pás quanto na própria torre para a sua 33 redução. Pesquisas em novos modelos de pás, procurando um máximo aproveitamento aerodinâmico com redução de ruído, são realizadas, muitas vezes, de modo semi-empírico, proporcionado o surgimento de diversos modelos e novas concepções em formatos aerodinâmicos das pás. O resultado de um estudo do Instituto Alemão de Energia Eólica (Deutsches Windenergie-Institut - DEWI) sobre o nível de ruído de diversas turbinas eólicas disponíveis no mercado, no ano de 1995, mostrou que as turbinas eólicas até então disponíveis apresentavam um nível de ruído entre 90 e 100 dB, ou seja, essas turbinas, na sua maioria, eram muito barulhentas. As leis referentes ao nível de ruído na Alemanha recomendam um afastamento de 200m de distância do mais próximo morador para níveis de ruído em 45 dB. As relações entre distâncias e os níveis de ruído variam para vários tipos de construção ao longo do dia e também da noite. Essas distâncias estipuladas por lei na Alemanha restringiram a implantação de parques eólicos próximos aos grandes centros urbanos. Muito esforço foi feito desde 1995 no desenvolvimento de uma geração de turbinas eólicas agora disponíveis no mercado. O desenvolvimento de tecnologias, ao longo dos últimos dez anos, na aerodinâmica das pás e nas partes mecânicas críticas, principalmente a caixa de engrenagem, tornou possível uma significativa redução dos níveis de ruído nas turbinas modernas. Existem muitos desafios envolvidos no aproveitamento do vento para geração de eletricidade. À medida que regulamentos e exigências para usinas de energia eólica continuam em evolução, novos obstáculos são impostos para conectá-las à rede e manter plena produção. Os projetos de usinas de energia eólica podem ser atrasados pela escolha inadequada de equipamentos ou instalações incorretas, limitando receitas e possivelmente levando a penalidades financeiras. Os efeitos do impacto visual têm sido minimizados, principalmente, com a conscientização da população local sobre a geração eólica. Através de audiências públicas e seminários, passa-se a conhecer melhor toda a tecnologia e, uma vez conhecendo-se os efeitos positivos da energia eólica, os índices de aceitação melhoram consideravelmente. A defesa de fontes de energia não poluentes e mitigadoras das alterações climáticas opõe-se à proteção da paisagem natural e dos ecossistemas. Assim, os benefícios ambientais globais são obtidos à conta de impactos locais. 34 Estudos realizados pela EWEA têm mostrado que o projeto cuidadoso de uma fazenda eólica evita qualquer distúrbio em sistemas de telecomunicações (ondas de rádio e microondas são utilizadas para uma grande variedade de propósitos de comunicação). Isto, contudo, não é suficiente para uma correta determinação das questões envolvidas uma vez que qualquer grande estrutura em movimento pode produzir interferência eletromagnética (IEM). Turbinas eólicas podem causar IEM por reflexão de sinais das pás de modo que um receptor próximo recebe um sinal direto e um refletido. A interferência ocorre porque o sinal refletido é atrasado devido à diferença entre o comprimento das ondas alterado por causa do movimento das pás. A IEM é a maior em materiais metálicos, que são refletores e mínimos para pás de madeira, que absorvem. A fibra de vidro reforçada com epoxi, que é utilizada na maioria das pás modernas, é parcialmente transparente às ondas eletromagnéticas e, portanto diminui o efeito da IEM. Os sinais de comunicação civis e militares podem ser afetados por IEM, incluindo transmissões de TV e rádio, comunicações de rádio microondas e celular, comunicação naval e sistemas de controle de tráfego aéreo. Os projetistas de turbinas eólicas consultam as autoridades civis e militares para determinar as interferências e problemas que afetem os links microondas e sistemas de comunicação aérea devem ser evitados. A interferência em um pequeno número de receptores de televisão doméstica é um problema ocasional que normalmente é sanado com uma gama de medidas sem alto custo, como a utilização de uma série de retransmissores e/ou receptores. Turbinas eólicas e sistemas de telecomunicações coexistem em muitos locais da Europa. As fazendas eólicas devem ser instaladas em áreas livres (sem obstáculos naturais) para que sejam comercialmente viáveis, sendo, desta forma, visíveis. A reação provocada por um parque eólico é altamente subjetiva. Muitas pessoas olham a turbina eólica como um símbolo de energia limpa sempre bem-vindo, outras reagem negativamente à nova paisagem. Rio Grande do Norte - superarando obstáculos para explorar potencial da energia eólica no litoral Posicionado na chamada "esquina do continente", o Rio Grande do Norte é responsável pela maior produção de energia eólica do Brasil, pouco mais de 30% do 35 total, mas ainda patina nas tentativas de aproveitar todo o seu potencial e colocar a eletricidade gerada a partir dos ventos como alternativa real no país - uma oportunidade reforçada após o apagão da última semana. Investidores do setor alegam que o atraso na construção de linhas de transmissão e uma estrutura melhor para escoar equipamentos no porto de Natal são empecilhos para o desenvolvimento. O RN possui 67 parques eólicos, que produzem comercialmente 1,79gigawatts de energia, segundo levantamento do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias Renováveis (Cerne). Dos mais de 130 gigawatts produzidos no país, a imensa maioria vem de hidrelétricas e termelétricas. Os parques eólicos no Brasil inteiro ainda respondem por uma parcela de 3,5%, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Na Dinamarca - país tido como referência no setor - esse índice chega a 43%. A meta do país, de acordo com a Agência de Energia Dinamarquesa, é chegar a 2050 produzindo somente energia e calor limpos, eliminando as emissões de dióxido de carbono. Lá, o problema das linhas de transmissão foi resolvido com a construção de cabos subterrâneos. O Brasil planeja aumentar a produção de energia por fontes renováveis. Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2023, do Ministério de Minas e Energia, as energias eólica e solar devem registrar crescimento de 8% nos próximos anos. Vantagens ambientais - Hugo Alexandre, diretor executivo da Bioconsultants, empresa que presta consultoria ambiental para empresas de energia eólica, diz que termelétricas e hidrelétricas de fato geram mais eletricidade. Mas o diferencial da energia gerada a partir dos ventos está atrelado aos impactos ambientais. "Toda e qualquer atividade vai gerar impacto, principalmente se for na geração de energia. O importante é sempre tentar casar a geração de energia com a nova política mundial colocada, que é a política da sustentabilidade", afirma Hugo Alexandre. Com base nessa ideia, ele compara a geração de energia eólica com as demais fontes da matriz energética. Alexandre detalha que os parques eólicos ocupam uma média de 30% a 40% das terras em que são instalados, não geram resíduos e causam pouco desmatamento se comparados às demais fontes da matriz energética. "A eólica convive com outras atividades como pecuária, agricultura e preservação do meio 36 ambiente. É comum você ter as torres gerando em cima e as plantações embaixo. A comunidade e o proprietário da terra podem utilizar a área tranquilamente", conta. Bacia dos ventos - A vocação natural do RN se explica pela localização na "esquina do continente". O diretor-presidente do Cerne, Jean-Paul Prates, explica que o estado fica no caminho de uma bacia de ventos e é provavelmente um dos melhores lugares do mundo para a energia eólica. "É uma formação regular de ventos que vêm do Atlântico Sul, batem na costa africana e acabam na ponta do Brasil, onde o RN está", observa. Especializada em energias renováveis, a empresa francesa Voltalia foi uma das que aterrissou no Rio Grande do Norte para explorar os ventos. Com 15 projetos contratados por meio de leilões organizados pelo governo federal, o diretor geral da empresa, Robert Klein, afirma que os investimentos não devem parar por aí. "Já investimos cerca de R$ 400 milhões e no conjunto de todos os projetos devemos chegar a um valor entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2 bilhões. Queremos ampliar os parques e estamos estudando participar de novos leilões", afirma. A Voltalia iniciou em novembro deste ano a operação comercial de um dos três projetos do complexo eólico de Areia Branca, no litoral Norte potiguar. A empresa já começou a construção de oito parques nos municípios de Serra do Mel e São Miguel do Gostoso, também no litoral Norte. Outras quatro usinas estão contratadas para serem implantadas em Serra do Mel. Expansão - As empresas que atuam no Rio Grande do Norte planejam se expandir no estado. Levando em conta a operação de todos os projetos, está prevista para os próximos anos a geração de mais de 4 gigawatts, segundo previsão da Aneel. Atualmente, o destaque fica por conta da região do Mato Grande, onde estão os municípios de João Câmara e Parazinho, cidades com a maior parte dos projetos funcionando comercialmente, além dos parques em construção e contratados. Fora as regiões localizadas no litoral ou próximas dele, o estado também possui projetos em construção em regiões serranas, onde a força e constância dos ventos são influenciadas não pela proximidade do mar, mas sim pela altitude. A região chamada de Serra de Santana, onde estão as cidades de Lagoa Nova, Bodó, Santana do Matos, Florânia e Tenente Laurentino Cruz, também aparece no mapa eólico do estado. O processo - Toda a energia produzida, independente da fonte, vai para as redes do Sistema Interligado Nacional. O diretor de Energia Eólica do Cerne, Milton Pinto, 37 costuma fazer uma analogia para explicar a distribuição da energia no país (veja o vídeo). "É semelhante a uma grande piscina em que as fontes jogam água. Cada uma joga um tipo de água. A água da piscina será um mistura de cores que representa energia elétrica consumida no final", diz. O processo de geração de energia eólica começa quando o vento atinge o aerogerador. De acordo com o professor Alexandro Vladno, coordenador do curso de energias renováveis do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), o fluxo de ar faz as pás girarem, gerando um movimento mecânico. Rocha acrescenta que um gerador transforma a energia mecânica em elétrica. A eletricidade então segue para o transformador e é adequada para entrar na rede elétrica. Na subestação, o nível de tensão é adaptado para chegar ao consumidor. Atrasos em linhas de transmissão - Dono da maior potência eólica instalada em todo o país, o Rio Grande do Norte tem como principais concorrentes para atrair projetos os estados da Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul. A presidente da Associação Brasileira Energia Eólica, Elbia Melo, explica que os leilões têm se tornado cada vez mais competitivos e que a questão da infraestrutura tem pesado. No caso do RN, a perda de espaço em alguns leilões tem uma causa específica apontada por especialistas: o atraso na entrega das linhas de transmissão - responsáveis por levar a energia gerada nas usinas para as redes distribuidoras da eletricidade. Embora acredite que a demora na entrega das linhas tenha sido um fator de desequilíbrio em leilões pontuais, a presidente da Abeeólica não acha que os dados sejam tão relevantes. "Os leilões estão extremamente competitivos. Vencem os que possuem melhores condicões de infraesturura, onde entram as linhas de transmissão. Esse atraso colocou o Rio Grande do Sul um pouco a frente dos estados do Nordeste em alguns leilões porque lá as linhas de transmissão já estavam construídas", analisa Elbia Melo. Logística - A infraestrutura do Rio Grande do Norte para receber os projetos também é um dos alvos de questionamentos nas discussões sobre energia eólica. O material usado na construção dos parques chega em navios e é transportado em carretas, que acompanhadas pela escolta de batedores, são levadas até os 38 empreendimentos para serem montados. Por serem equipamentos pesados, as torres e pás usadas nos aerogeradores precisam de espaço para o escoamento. É aí onde, segundo investidores, reside um dos problemas. Por estar localizado em um bairro de ruas estreitas como a Ribeira, na Zona Leste da capital, o porto de Natal exige uma logística mais complexa para o transporte dos equipamentos. "É um porto confinado por terra", afirma o diretor geral do Cerne, Jean-Paul Prates. A falta de espaço também impede o desenvolvimento da cadeia produtiva no entorno, como acontece nos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, constantemente escolhidos como pontos de transporte de carga dos parques eólicos instalados no RN. Para a presidente da Abeeólica, Elbia Melo, a questão portuária é o que falta para um salto ainda maior do Rio Grande do Norte no setor. "Não é um porto adequado para este tipo de operação. São máquinas grandes, pesadas e que requerem um cuidado especial. A logística é um ponto muito importante. Tanto que os portos maiores atraem muitos fabricantes de equipamento.O porto de Natal não tem condições físicas para receber o tipo de carga que um empreendimento eólico movimenta", opina. Piauí - referência em energia renovável O Piauí está se destacando nacionalmente como o estado mais promissor de alternativas de geração de energia, aliadas à sustentabilidade e proteção ao meio ambiente. A Hidrelétrica de Belo Monte vai produzir algo em torno de 12 mil megas (megawatts - mw) de energia. Com três mil torres para energia eólica, o Piaui vai produzir a metade, ou seja, 06 mil megas, sem nenhum conflito, nenhuma morte e sem impacto ambiental, e ainda ter a energia fotovoltaica em curso. Atualmente, a produção total de energia renovável no Piauí alcança cerca de 1.200 MW/mês. O investimento em infraestrutura e o interesse das empresas que buscam nosso estado nos leva a avaliar que, daqui há três ou quatro anos, seremos o maior produtor de energia eólica da América Latina”, defendeu o secretário estadual de Mineração, Petróleo e Energias Renováveis, Luís Coelho. Destaque - De fato, o Piauí tem sido bastante procurado por empresas interessadas em investir nessa modalidade de geração de energia, empresas que tem ganhado 39 os leilões nacionais e que já trabalham na implantação de fazendas de energia fotovoltaica (solar) e eólica no estado e no país. Recentemente o Piauí foi apontado pela rede BBC como o 4º maior produtor de energia eólica do Brasil, superando a meta do estado, que era de ser a 5ª até 2017. O Estado também foi destaque na 9ª Feira Internacional de Energias Renováveis - All About Energy, realizado em junho na cidade de Fortaleza.Conheça a seguir mais detalhes sobre as captações de energia eólica e solar. Em meio à paisagem de céu azul e sol forte, lá estão elas, imponentes, integradas à paisagem. As torres de captação de energia eólica medem 180 metros de altura por 40 a 50 metros totais de suas hélices. Serão ao todo 3 mil unidades espalhadas pelo estado. "Podemos observar que envolve praticamente toda a costa. Nesse ponto, na serra do Ibiapaba, pega três municípios: São Miguel do Tapuio, Buriti dos Montes e Assunção do Piauí. Depois podemos ver aqui aquela região de Simões, chamada de Vento do Araripe, então seguimos aqui até a Serra da Mangabeira, na divisa da Bahia com o Piauí. Esse trajeto todo do norte até aqui por essa costa do estado, tem um potencial de captação de 6 mil megas”, explicou Luís Coelho enquanto apontava no mapa, fixado na parede de seu gabinete, os municípios promissores em energia eólica. Para o secretário, não há dúvidas de que o Piauí será um grande exportador de energia renovável. “Digo isso porque o nosso consumo médio deve ser em torno de 700 mw. Metade daquela região que vimos no mapa vai produzir mais de três mil megas de energia eólica. Para entendermos melhor, somente 2 megas já abastece uma cidade do porte 0.6 (06 mil habitantes). Uma torre dessas produz 2 megas, ou seja, somente uma dessas já da pra atender seis mil habitantes. "E o melhor é que as torres não impedem as pessoas de seguirem suas rotinas próximos às elas, não atrapalha em nada as atividades", completou o secretário. Do projeto para a prática - Atualmente os municípios de Parnaíba e Ilha Grande já abrigam usinas geradoras. As Centrais Geradoras Eólicas Delta 1 e Pedra do Sal produzem 70 e 18 mw, respectivamente, num total de 88 mw produzidos. Além destes, já existem projetos construídos e em construção na região dos Ventos do Araripe, nos municípios de Caldeirão Grande, Marcolândia, Curral Novo, 40 Padre Marcos, Simões, Paulistana, Betânia, Queimada Nova, Lagoa do Barro e Dom Inocêncio. Empresas como a Ômega Energia, Queiroz Galvão Energias Renováveis, Casa dos Ventos, Votorantim Energias Renováveis, Consórcio Contour Global e Atlantic Energias Renováveis, já tem projetos em execução e em fase de pesquisa com início previsto para os anos de 2016 a 2019. Expansão da produção de energia eólica gera protestos no litoral do Piauí Desde a implantação dos parques eólicos na região da Pedra do Sal, alguns transtornos foram causados aos moradores, alterando o cotidiano da comunidade. Áreas antes livres hoje estão cercadas e mantidas sob forte segurança. Nestes locais, atividades de extrativismo, como a colheita de caju, a extração da palha de carnaúba e o acesso a várias lagoas para a prática da pesca foram impossibilitadas. A Associação dos Moradores da Pedra do Sal entrou com o pedido solução junto à Prefeitura de Parnaíba. "A comunidade hoje está certa que quer isso: que não haja mais aumento na energia eólica nesta faixa da Tractebel até o Pontal de Luís Correia", assinalou Carlos Fernando, presidente da entidade. Uma parte da região da praia será alugada por uma das usinas, que fará a expansão do seu parque eólico. Uma das discussões da comunidade da Pedra do Sal é sobre a proibição do tráfego e da visitação nas regiões de praia assim que a segunda etapa começar a funcionar. Pesquisa realizada com 250 moradores apontou que 70% dos entrevistados é contra a ampliação do parque eólico, que contará, a partir de 2016, com 70 aerogiradores, gerando energia para uma população de 600 mil habitantes, ou seja, 20% de todo o Piauí. O prefeito de Parnaíba, Florentino Neto (PT), participou de uma reunião entre empresa e moradores e se disse favorável à expansão - desde que a usina traga benefícios socioambientais aos nativos. "Se a empresa e todos os organismos chegarem a um convencimento, tudo é compatível. Os moradores estão lá e não vão sair de lá. Mas é preciso que se respeite as atividades econômicas da Pedra do Sal". No escritório da empresa que pretende expandir seu parque eólico, o diretor informou sobre projetos socioeducativos e culturais realizados ao longo dos anos em 41 Ilha Grande e também na Pedra do Sal. Gustavo Matos garantiu livre acesso à população para a realização de atividades rotineiras. "Uma das obrigações que a gente tem é a manutenção das atividades locais. Tem uma questão importante: na área que a gente construiu as usinas, é utilizada apenas 4% do terreno para construção do empreendimento; os outros 96% são áreas nas quais a gente mantém flora e fauna. Somos grandes preservadores daquela região", argumentou. Soluções em infraestrutura, logística e tarifas Para iniciar um novo setor industrial, principalmente de geração de energia, é necessária uma base instalada de fabricação. No caso da energia eólica, cujo desenvolvimento era totalmente feito no exterior, não seria economicamente viável depender das variações cambiais para utilizar a fonte no Brasil. Contudo, a necessidade de incentivar energias renováveis que substituíssem as usinas termelétricas e diversificassem a matriz elétrica brasileira – além do aumento na competitividade da eólica ao longo dos anos – mostrou a urgência em nacionalizar sua produção e desenvolvimento. Nesse cenário, coube ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o papel de estimular a produção da fonte em território brasileiro. Para aderir ao programa de financiamento de projetos eólicos oferecidos pela instituição, foi determinado pelo banco que 80% dos equipamentos do setor fossem fabricados no País, exigindo um conteúdo nacional progressivo, ao mesmo tempo que desenvolvesse a cadeia produtiva dentro do Brasil. A iniciativa foi importante na avaliação dos representantes do setor e necessária para implementar um índice de nacionalização aos produtos. Hoje, são 11 fábricas de equipamentos eólicos operando no País, segundo o balanço da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). A grande maioria formada por empresas internacionais que se estabeleceram no Brasil. Segundo a presidente-executiva da ABEEólica, Elbia Melo, a cadeia produtiva precisou de aproximadamente três anos para se firmar, depois que teve sua primeiracontratação bem-sucedida no leilão de 2009. Apenas em 2012 começou-se a desenvolver e a gerar a energia de forma competitiva, ou seja, que está em operação comercial. 42 “Estamos falando de algo em torno de dois a três anos. Não houve tempo suficiente para ter tanta eólica quanto a gente imagina que deveria ter. Com o tempo, ela vai aumentar sua participação, mas é preciso esse período de investimento”, pontuou. Infraestrutura - Além do pouco tempo de desenvolvimento, desafios a serem superados em infraestrutura foram pontuados por Elbia Melo. Por exemplo, a questão logística, no transporte de equipamentos pesados, como aerogeradores e pás. O setor demanda peças de grande porte e dimensão, como torres de mais de 100 metros e esse tipo de deslocamento, dificultado com a situação precária de várias estradas brasileiras, encarece a produção. Para o presidente do Conselho de Energia Eólica da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Roberto Veiga, a logística se torna cara devido à falta de novos programas de infraestrutura. “Não tem cabotagem no Brasil, que é o transporte de navio costa a costa. As estradas para chegar aos locais são terríveis. Praticamente se obriga o fabricante a abrir uma fábrica em um estado que não tem nenhuma capacidade de atender a cadeia produtiva. Por exemplo, a Bahia tem fabricante de aerogerador, mas não tem o fabricante do parafuso, então tem que trazer de São Paulo”, advertiu. A situação afeta não apenas o setor eólico, mas toda a indústria brasileira. Mais investimentos em estradas, portos e demais áreas logísticas estão entre as principais necessidades, segundo Veiga. Sem recursos nessas áreas, não se cria a demanda correspondente à quantidade de profissionais qualificados que o setor precisaria. A falta de incentivo na geração de energia gera um efeito em cadeia que repercute na falta de demanda, que por sua vez obriga as empresas a não treinar os recursos humanos essenciais na área eólica. “Pelo menos hoje, o campo eólico é um ponto fora da curva, porque tem demanda. Ela não é gigantesca, mas é uma demanda que sustenta as empresas que estão nesse setor”, comentou Veiga. Tarifas - No próximo leilão de energia, programado para agosto, é previsto que a tarifa teto da energia eólica esteja em R$ 184 por megawatt/hora. O valor é considerado modesto pela indústria, apesar dos esforços do governo de manter o preço baixo para estimular seu uso pelos consumidores. No entanto, os empreendedores do campo eólico acreditam que se a tarifa estivesse maior, seria possível aumentar a oferta de parques eólicos. 43 De acordo com Roberto Veiga, caso a tarifa subisse para um patamar entre R$ 200 a R$ 210, seria possível ter uma participação maior dos investidores nas contratações. Como o teto dos leilões é de R$ 184, que é o valor máximo, diminui a partir do momento que vai à competição. “Se abaixar muito [o preço], o empresário não consegue comprar as máquinas, nem pagar o aluguel, e uma porção de coisas. E se o governo baixar muito, ele compra pouco. Aumentar a tarifa vai deixar os investidores muito mais seguros, podendo executar o projeto com muito mais segurança”, garantiu. Mas essa mudança é um assunto que as entidades reguladoras dos leilões sequer pretendem debater tão cedo, especialmente pelo fato de a fonte ter se consolidado como uma alternativa de menor custo. “A vantagem de se fazer leilão é que permite a introdução dessa fonte com menor preço possível para o consumidor, porque você estimula a competição, e isso tem se mostrado um modelo de sucesso”, lembrou o presidente da EPE, Maurício Tomalsquim. A Agência Nacional de Energia Eólica (Aneel) reconhece que a conciliação dos interesses de consumidores e investidores trata-se de uma das maiores dificuldades dos órgãos reguladores. Em nota, a entidade respondeu que “tem buscado o equilíbrio, com foco primordial no interesse público.” Parques eólicos - Nos leilões, as empresas eólicas competem entre si para construir o parque eólico. O vencedor terá um contrato de 20 anos e, durante esse tempo, receberá pela energia gerada. Com bases de metal reciclável, a estrutura das torres permite um reaproveitamento em caso de desativação do espaço no futuro, segundo Elbia Melo. “A indústria eólica não tem mais do que 20 anos no mundo. Então, quando se fala de descomissionamento - quando parques ou usinas ficaram velhos -, no caso da eólica é muito simples, porque eles são todos em base metal e recicláveis. Uma turbina pode se reciclar completamente, por exemplo”, explicou a presidente- executiva da ABEEólica. A vantagem é um dos atrativos não apenas para os investidores, mas para o meio ambiente. Além da possibilidade dos seus parques serem reaproveitados, o setor contribuiu desde sua implantação para reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) em aproximadamente 12 milhões de toneladas de CO2 - o equivalente ao produzido por 7 milhões de automóveis anualmente, conforme os dados do Conselho Global de Energia Eólica (Gwec, na sigla em inglês). 44 Produção de energia eólica pode se tornar mais barata e eficiente Em fase de testes, sistema criado por pesquisadores japoneses também faz menos barulho que os atuais Na Universidade de Kyushu, Japão, alguns pesquisadores desenvolveram uma turbina eólica capaz de gerar três vezes mais, do que a quantidade de energia gerada pelas turbinas em operação atualmente. A Lente Eólica, como foi batizada a nova tecnologia, já está sendo testada em alguns protótipos no centro acadêmico da universidade. A turbina possui um formato similar ao de um anel e envolve toda a área das pás, que por sua vez aceleram o fluxo de ar nas lâminas, o que justifica sua maior eficiência. Segundo o principal responsável pela pesquisa, o professor Yuji Ohya, os novos geradores não fazem tanto barulho quanto os atuais, e no futuro podem reduzir o preço da eletricidade eólica. Competindo com fontes, que vão da nuclear ao carvão, o novo sistema pode gerar uma queda nos valores de energias alternativas. 45 8. Soluções para Energia Eólica Pensando no assunto energia eólica num todo, seja em cidades litorâneas ou não. Existem muitos desafios envolvidos no aproveitamento do vento para geração de eletricidade. À medida que regulamentos e exigências para usinas de energia eólica continuam em evolução, novos obstáculos são impostos para conectá-las à rede e manter plena produção. E os projetos de usinas de energia eólica podem ser atrasados pela escolha inadequada de equipamentos ou instalações incorretas, limitando receitas e possivelmente levando a penalidades financeiras. A empresa S&C Electric Company que é envolvida neste assunto, pode ajudar. Eles oferecem soluções completas comprovadas em campo para integrar usinas de energia eólica à rede de forma previsível e simplificada, e podemos resolver até mesmo os problemas mais complexos. Sistemas de compensação VAR A natureza intermitente do vento pode criar problemas de estabilidade de tensão no sistema de transmissão ao qual uma usina de energia eólica está conectada. Para evitar essas ocorrências, concessionárias e reguladoras estão criando exigências de interconexão de redes cada vez mais exigentes que as usinas de energia eólica devem atender para não correrem o rico de reduções de produção. As soluções para controle de energia reativa da S&C podem ajudar as usinas de energia eólica a cumprir as exigências de interconexão à rede. A equipe de engenheiros acompanha de perto as alterações nas exigências de interconexão em todo o mundo e pode oferecer consultoria especializada. Primeiro, realizaremos estudos analíticos para determinar as ações corretivas necessárias para a usina. Com base nos resultados dos estudos, vamos propor a solução mais econômica
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