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Imunologia I - Aula 03 SISTEMA COMPLEMENTO SISTEMA COMPLEMENTO: * Descoberto em 1894 por Jules Bordet como um componente termolábil do plasma que “complementava” a ação de Anticorpos. São proteínas que complementam a ação celular dos nossos glóbulos brancos. * Complementa a atividade celular → Complexo de ataque a membrana * Composto de aproximadamente 30 proteínas, muitas com função de proteases que se auto-ativam. OBS: Protease: proteína com função enzimática de ativar outra proteína → enzima proteolítica (quebram ligações peptídicas entre os aminoácidos das proteínas → de clivagem proteolítica, mecanismo comum de ativação ou inativação de enzimas envolvido principalmente na digestão e na coagulação sanguínea). * Inícia síntese no primeiro trimestre da vida fetal * Produzidas no fígado (por hepatócitos) e por macrófagos * Pra quê serve o Sistema Complemento: Opsonização, Lise celular, chemotaxis, ativação de mastócitos FUNÇÕES DO COMPLEMENTO: Benefícios ao organismo: * Opsonização p/ aumentar fagocitose * Atração e ativação de fagócitos * Lise de bactérias e células infetadas * Regula respostas de anticorpo Prejuízos ao organismo: * Inflamação, anafilaxia (reação alérgica aguda) DEFINIÇÕES: * Ativação do Complemento: alteração de proteínas de Complemento (C - zimógenos ou pró-enzimas) para elas interagirem com o próximo componente OBS: São chamadas de pró-enzimas, pois é uma proteína que irá clivar outra proteína e assim repetidamente, como um efeito dominó. * Fixação do C (Complemento): utilização de C através de complexos de Ag-Ac * Convertase/esterase: proteína do C que age como uma enzima proteolítica para outro componente do C 1 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 NOMENCLATURA DAS PROTEÍNAS: * C1(qrs), C2, C3, C4, C5, C6, C7, C8, C9; - C1 age na via clássica * Fatores B, D, H e I, properdina (P); * Lecitina ligadora de manose (MBL), serinas proteases associadas à MBL (MASP-1, MASP-2); * Inibidor de C1 (C1-INH) e fator acelerador de decaimento (DAF); * Receptor de C1 (CR1) e proteína-S OBS: Proteína MBL: Lecitina ligadora de Manose PRODUTO DE ATIVAÇÃO DE PROTEÍNAS DE COMPLEMENTO: * Componente ativado tem um traço em cima * Quando clivado enzimaticamente, se divide em dois uma porção maior se liga ao complexo ou membrana de ativação e o peptídeo de menor tamanho é libertado no microambiente. * A letra “b” é usada na nomenclatura da porção maior * “a” para o peptídeo menor * Por ex, C3b/C3a, C4b/C4a, C5b/C5a * EXCETO para o C2 (a porção maior, que liga-se a membranas é C2a e a menor é C2b). VIAS DE ATIVAÇÃO DO COMPLEMENTO: Por que ter 3 vias? → A via clássica só se ativa quando há anticorpo (imunidade adaptativa → pelo menos 7 dias p/ ativar essa via). → A via da manose é ativada pela manose ou açúcar similar, presentes em vários patógenos (imunidade inata). → A via alternativa serve para ser ativada em outras situações. 2 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 VIA CLÁSSICA: imunidade adaptativa → dependente de anticorpo * Precisa de antígeno, de anticorpo, aí o complexo C1qrs se liga. → O complexo C1 é formado por 3 subunidades: C1q, C1r, C1s. * Precisa do anticorpo IGM ou IGG → iniciadores da via clássic OBS: Com IGM tem infecção aguda em curso. Com IGG: memória imunológica - já teve contato (por infeção ou vacinação), mas não está ativo (ex.toxoplasma) IgG: 1 estrutura monomérica de anticorpo. IgM: 5 estruturas monoméricas de anticorpo. (M de Mais estruturas) Complexo C1: * Formado por 3 tipos de subunidades: C1q, C1r e C1s * Em cada complexo C1qrs, há duas moleculas C1r e C1s e uma de C1q (6 subunidades idênticas) * A ativação do complemento ocorre quando o Ac está ligado à superfície de um Ag. * Os Acs que mais ativam complemento são IgG e IgM. * O complexo C1 ao ser ligado ao conjunto Ag-Ac inicia a ativação do complemento pela via clássica. Passos: * Entra o patógeno no corpo: célula dendrítica irá apresentar o antígeno para a célula T Clivagem de C4 e C2 simultâneamente: * Clivagem de C4: em porção B (maior), a qual se ligará na superfície celular (membrana) e porção A (menor, é liberada no ambiente) * Clivagem do C2: C2 é exceção a regra, porção A é maior e a B é a menor que será liberada. * C4b2a é C3 convertase (C3 conversasse cliva C3) - Geração da C3-convertase: ligação do C4b + C4a “solto” -> C2b e C4a soltos + Mg + C4b2a (C4b + C2a) é C3 convertase; * C4b2a3b é C5 convertase (C5 convertase cliva C5) - Geração da C5-convertase: C2b e C3a soltos + C4b2a3b (C4b, C2a, C3b) é C5 convertase; 3 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 TRANSCRIÇÃO DO VÍDEO QUE ELA RECOMENDOU: → Ativação do complemento acontece na superfície de uma bactéria; é inicada por anticorpos que se ligam à superfície bacteriana. Liga-se a eles o complexo C1 (que é formado por um C1q, duas C1r e duas C1s). Ao se ligar ao AA, C1r e C1s são clivadas, ativando o complexo C1. → Chega uma C4, que é clivada e ativada por C1s, levando à formação de 2 pedaços: C4a (que é menor, é uma anafilotoxina e vai para o local da inflamação) e C4b (que vai se depositar, se ligando covalentemente na superfície da bactéria e é maior) → Depois chega uma C2, que se liga ao C4b e só depois é clivada pelo complexo C1 (a proteína que cliva é a C1s). C2 é a exceção da nomenclatura, a C2a é a maior e a que fica na bactéria, enquanto a C2b é menor, é anafilotoxina e vai para o local da inflamação. Assim, está formada uma nova protease, C4bC2a, que também é chamada de C3 convertase. → C3 convertase vai clivar várias moléculas de C3, liberando diversas C3a (menores e anafilotoxicas) e C3b. A primeira C3b se associa a C4bC2a e formando o complexo C3/C5 convertase, ou também C4bC2aC3b protease. As outras C3 que vão chegar vão se ligar covalentemente à superfície da bactéria e vão induzir a fagocitose. → Chega uma C5, que vai ser clivada pelo complexo C3/C5 convertase. C5a é uma potente anafilotoxina e é a molécula mais quimioatrativa que é liberada do sistema complemento. → C5b inicia o complexo de ataque à membrana, que é a parte final da cascata do sistema complemento. Como isso acontece: C5 se liga a C6 e C7. C5 não se associa à membrana, mas C7 sim, levando o complexo para mais perto da membrana bacteriana, ficando mais na superfície. C8 é uma molécula que se liga ao complexo e se insere ainda mais na membrana, começando a transpassa-la. Essa conformação catalisa a ligação de muitas C9, que vão formar um poro cilíndrico na membrana da bactéria, levando-a à morte, porque ele desestabiliza o equilíbrio osmótico e iônico da bactéria. INFORMAÇÕES EXTRAS: * Quanto mais imunocomplexos → mais ativação da via clássica. Se houver muita ativação da via clássica, irá induzir o processo inflamatório, que fará mal ao corpo humano. * Ativação da via clássica faz produzir C3b, e quando ele está em excesso começa a se ligar aos imunocomplexos, fazendo com que o nosso corpo queira retirar os imunocomplexos + C3b. VIA DA LECTINA: independente de anticorpo → imunidade inata Complexo lecitina ligadora de manose ou Complexo MBL: * A manose é um açúcar presente na superfície de muitos patógenos, e a Lecitina consegue ligar-se a resíduos desse açúcar (e de alguns outros também). MBL significa “lectine bounder manose”. * Componentes da via da lecitina: manose, MBL, C4, C2, MASP1 e MASP2 * Para iniciar: manose + lecitina ligadora de manose + MASP-1 e MASP-2. (Como se fosse o complexo). * Ainda não há formação de anticorpos → RI inata * Complexo MBL liga-se a resíduos de manose e outros acúcares da superfície de patógenos Manose: estrutura muito comum na superfície de patógenos (se não é manose, é um açúcar similar). 4 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 * O complexo MBL é formado pela MBL e 2 proteases zimogênicas: MASP-1 e MASP-2. A via da leptina é semelhante ao Complexo C1: * A estrutura das MASP-1 e MASP-2 são muitosemelhantes às estruturas da C1r e C1s, possibilitando a conversão de C2 e C4. * O caminho é exatamente o mesmo da Via Clássica, só que ao invés de C1qrs, é MBL (inclusive em alguns livros a MBL é chamada de “Complexo Ativado Semelhante ao C1”). * Novamente, cliva C2 e C4 * C4b2a (C4b e C2a) é convertase de C3 VIA ALTERNATIVA: independente de anticorpo → imunidade inata ( primeira linha de defesa) Substâncias que ativam a Via Alternativa: 1. CONSTITUINTES DA PAREDE OU PRODUTOS DE PATÓGENOS: * Zimozan * Acido teicóico * Lipopolissacarídeos * Proteases 2. VENENOS * Serpentes * Sapos * Vespas / Abelhas 3. OUTROS: * Polímeros aniônicos (decantador de água) * Sulfato de dextrana (extração de DNA e RNA)) * Carboidratos – Agarose, Insulina * Enzimas do sistema de hemostasia e calicreínas/cininas * Hidrólise espontânea * Componentes da Via Alternativa: C2, Fator B, Fator D e Properdina. * Consiste basicamente na ativação espontânea do C3 circulante → Não tem mais C4 e C2 na Via Alternativa. * Após ativo C3, cliva-se em C3b e C3a, o C3b une-se ao fator B. * A clivagem pode ser espontânea ou por algum dos elementos da lista anterior. 5 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 * C3b vai ser ligado com o fatorB pelo fatorD. * Ativação espontânea de C3 → geração da C3 convertase (C3b, Bb e C3b); - C3b-Fator B se auto cliva com ajuda do fator D, gerando uma molécula responsável por clivar outros C3, ou C3 convertase. Portanto, a C3 convertase da via alternativa é “C3bBb”. - O normal de acontecer nesse momento, é a C3 convertase clivar mais um C3, e, com auxílio de uma Properdina (P), o C3b adicional juntar-se também a essa molécula, formando o C3bBbC3b, que é a C5 convertase da via alternativa. - Mas, se isso não ocorrer, essa C3 convertase da via alternativa também pode clivar outros C3, e os C3b formados podem se juntar com outros fatores B, que vão ser clivados com a ajuda do Fator D e formar novos C3bBb, e continuar o ciclo. Este ciclo chama-se “Alça da amplificação da ativação do C3” ou “Alça amplificadora de C3”. * Alça de amplificação de ativação do C3: ocorre se o C3b gerado espontaneamente não for degradado Controle da ativação espontânea de C3 via DAF (Fator Acelerado de Decaimento): * Quando C3b se liga à célula do hospedeiro algumas proteínas reguladoras do complemento combinam-se para impedir as etapas posteriores de ativação. * DAF Inibe a ligação do fator B ao C3b. (C3convertase) * Ou se a ligação já aconteceu: DAF promove a dissociação do Bb do complexo C3bBb, como uma forma de controlar a resposta imunológica (tipo um Feedback negativo) Controle da ativação espontânea de C3 via CR1: Retira Bb * Estabilização do C3b e ativação do C5: C3b se fixa a uma membrana ativadora protetora (membrana celular autóloga) → C5 convertase estável (C3b, Bb, C3b - da via Alternativa); * Faz o controle da ativação espontânea do C3, na via alternativa. Assim que o C3b se ligar ao CR1 (Cell-receptor 1), o Fator H liga-se ao C3b, deslocando Bb. Bb é um cofator para o fator I, que dissocia mais uma vez, pois ele é uma protease que cliva C3b, impedindo que seja funcional. * Além disso, o fator H, pode agir junto com o CR1 e fazer o mesmo que o DAF faz: retirar o Bb do C3bBb. 6 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 Degradação espontânea de C3: * Apesar da degradação espontânea do C3 ativar o complemento, se não houver local para ele se ligar, vai continuar se degradando espontaneamente até C3dg (C3 degradado) que não é funcional. DIFERENÇA DA C5-CONVERTASE NAS VIAS DE ATIVAÇÃO: a) Via clássica e via da lectina: C4b, C2a, C3b. b) Via alternativa: C3b, Bb, C3b. MAC - COMPLEXO DE ATAQUE À MEMBRANA: * Todas as vias do complemento convergem para um ponto em comum: a C5 convertase dá início à formação do Complexo de Ataque à Membrana (MAC). * Geração da C5 convertase → leva à formação do MAC; * Componentes do MAC: C5, C6, C7, C8, C9; * Ativação do C5 levando à formação do MAC: C4b, C2a, C3b, C5b + C5a solto; * O complexo lítico começa a se formar com a junção do C5b aos componentes C6 e C7. * O complexo lítico fica completo após inserção do componente C8 e até 15 moléculas de C9. - A função desse complexo é fazer a lise do alvo através da formação de um poro – um “canudinho” – na membrana. Esse poro permite a passagem de fluidos e moléculas para dentro e para fora da célula. Se um número suficiente de MAC’s for criado, a célula eventualmente sofrerá apoptose. - A formação desse MAC é bem simples: as C5 convertases de cada via (C4b2a3b para clássica e da lecitina, C3bBb3b para alternativa) vão clivar C5 em C5a (outra anafilotoxina e pró-inflamatório) e C5b, que irá se unir à membrana. - A partir desse ponto, não há mais clivagem em “a” e “b”. C6, C7, C8 e múltiplos C9 irão se unir, nessa ordem, em um complexo circular estruturado em volta do C5b, formando o “canudinho” que é o MAC!!!! REGULADORES DO COMPLEMENTO: * A regulação do sistema de complemento deve ser feita para que o próprio hospedeiro não saia prejudicado e com doença, por isso existem os chamados Reguladores do Complemento que podem ser: * Inibidor C1 – C1INH - Age na via clássica, ligando-se ao complexo C1qrs, deslocando asporções “r” e “s”. Inibe a ativação do complexo. a) Liga-se ao C1r → C1 ativado → remoção do C1 ativado de C1q; b) Quebra do C1qrs pode ser inibida pelo C1INH. (inibe via clássica) * Fator I → Protease que cliva C3b, auxiliado por H. * Factor H → Liga-se ao C3b e desloca Bb, cofator para I. * Proteína S → Impede a inserção de C5b-C7 na membrana. * Receptores C3 7 Isabelle Padilha Imunologia I - Aula 03 * DAF (Fator acelerador de decaimento) -> Proteína de membrana que desloca Bb de C3b. * CD59 → Impede a formação do MAC (complexo de ataque à membrana). - CD59 liga-se ao MAC antes da união do C9 e impede a formação do poli-C9, impossibilitando, assim, o a formação do MAC. Controle da ativação espontânea de C5 via CD59 e Proteína S: 1. Ativação dos componentes tardios do complemento → formação do MAC; 2. CD59 inibe a montagem do poli-C9 → inibição da formação do MAC; 3. Proteína S inibe a inserção de C5b-C7 na membrana → inibição da formação do MAC. Doenças relacionadas ao Sistema do Complemento: Sistema Complemento na Doença - Lupus Eritromatoso Sistemico (LES) * A deficiência homozigótica hereditária de C1q, C1r, C1s, C4 e C2 está fortemente associada com a susceptibilidade ao LES. O comprometimento na ativação da via clássica, decorrente dessa deficiência, vai refletir, diretamente, na solubilização, bem como na remoção dos complexos * No LES, a ativação de complemento, por complexos imunes que se depositam em múltiplos órgãos, está diretamente ligada à fisiopatogenia da doença. * Já na def. de C2 e C4 → 50% dos pacientes desenvolvem uma doença que lembra a doença auto-imune LES. Não aumenta suscetibilidade às infecções. EVASÃO DE PATÓGENOS: * Def. de C3 está associada a infecções bacterianas piogênicas sérias freqüentes que podem ser fatais. * Def. dos componentes terminais (C5-C9) → propensão a infecções disseminas por Neisseria Gonerrhoeae e meningitidis. * Staphylococcus aureus fabrica uma proteína chamada SCIN (inibidor do complemento do estafilococo) que se liga, e inibe C3 convertases das 3 vias. * Trypanossoma Cruzi, causador do Chagas, se liga a C3b e impede a formações de C3 convertase OBJETIVOS DA AUKA: * Entender os diferentes padrões de ativação da cascata de complemento; * Identificar as propriedades biológicas dos produtos de ativação do complemento; * Compreender a importância na resistência aos microorganismos, na inflamação e nos danos ao próprio organismo; * Entender os mecanismos de regulação da ativação do complemento e de seus produtos. 8 Isabelle Padilha
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