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" Laís Rios Saad e Aline Custódio – T9 As células do epitélio folicular tireoidiano possuem 2 polos e, portanto, duas membranas: a membrana apical (voltada para o lúmen folicular ou “coloide”) e a membrana basal (voltada para o interstício e capilares). As reações bioquímicas de síntese hormonal ocorrem em torno da membrana apical, onde se encontra a enzima determinante de todo este processo: a Peroxidase Tireóidea (TPO), ou tireoperoxidase, localizada em suas microvilosidades. Existem 2 hormônios tireoidianos: o T4 (tetraiodotironina ou tiroxina) e o T3 (triiodotironina). Eles são formados pela iodação de resíduos de tirosina de uma glicoproteína chamada tireoglobulina. Esta acromolécula é sintetizada na própria célula tireoide, sendo em seguida secretada e armazenada no lúmen folicular (“coloide”). O iodo, sob a forma do íon iodeto, é captado pela célula tireoide através do carreador Na/I da membrana basal (membrana plasmática da face externa da célula). Este transporte ativo é capaz de garantir uma concentração de iodeto livre 30-40 vezes maior que a do plasma. A enzima peroxidase tireóidea atua catalisando três importantes reações: 1. Oxidação do iodo: combinando o iodeto com o peróxido de oxigênio (H2O2). 2. Iodação dos resíduos de tirosina da tireoglobulina, formando as Iodotirosinas: MIT = Monoiodotirosina; DIT = Diiodotirosina. 3. Acoplamento das iodotirosinas, formando os hormônios tireoidianos (iodotironinas): T3 (Triiodotironina) = MIT + DIT; T4 (Tetraiodotironina ou tiroxina) = DIT + DIT. Os hormônios tireoidianos (T3 e T4) são armazenados na tireoglobulina iodada, que se acumula no lúmen dos folículos (“coloide”). Estes hormônios são liberados através da proteólise da tireoglobulina. Pequenas porções de coloide são, a cada momento, engolfadas pela membrana apical da célula (pinocitose), formando vesículas que logo se fundem com lisossomas (ricos em proteases ácidas). No interior dos lisossomas, a tireoglobulina é hidrolisada, liberando MIT, DIT, T3 e T4, além de fragmentos peptídicos e aminoácidos. Nesse momento, o T3 e o T4 são liberados para a corrente sanguínea, passando pela membrana basal através de um carreador hormonal específico (não conhecido). Enquanto isso, o MIT e o DIT liberados no citoplasma sofrem ação de uma enzima desiodase tipo 1, devolvendo o iodeto para a célula (um mecanismo de conservação do iodo). A tireoide produz e libera muito mais T4 do que T3, numa proporção de 20:1. No entanto, o T3 é o maior responsável pela atividade fisiológica nos tecidos periféricos. Na verdade, o T4 penetra nas células dos órgãos- alvo e logo é convertido em T3 por intermédio da desiodase tipo 1 (maioria dos tecidos) ou tipo 2 (cérebro, hipófise, tecido adiposo marrom), ao retirar um átomo de iodo do anel externo do T4. Pode-se considerar o T4 como um pró-hormônio e o T3 como o hormônio ativo. Assim, como se sabe, o iodo é fundamental para a biossíntese dos hormônios tireoidianos. O organismo dispõe de mecanismos de poupar iodo, sendo os principais: a reabsorção tubular renal de iodo, a captação tireóidea e organificação, a reciclagem intratireóidea e extratireóidea do iodo (através da ação das desalogenases, enzimas que retiram o iodo de moléculas sem ação biológica, como MIT e DIT, permitindo que o iodo seja reciclado). A organificação do iodo depende de uma proteína chamada pendrina, presente na membrana apical das células tireoidianas. Esta proteína forma um poro de passagem do iodo para o interior do coloide. A síndrome de Pendred é uma doença genética em que há deficiência de pendrina, cursando com hipotireoidismo primário por deficiência parcial de organificação na tireoide e surdez neurossensorial. PRIMÁRIO problema na própria tireoide SECUNDÁRIO problema na hipófise TERCEÁRIO problema no hipotálamo O hipotireoidismo costuma ser classificado em 3 tipos de acordo com a origem do problema em 1º, 2º ou 3º. Sendo o hipotireoidismo primário, de longe, o mais comum, ocupando 90% dos casos. a principal cauda de hipoT primário hoje em dia (em regiões onde não há carência de iodo) é a Tireoidite de Hashimoto. é uma síndrome clínica ocasionada por síntese/secreção insuficiente ou ação inadequada dos hormônios tireoidianos nos tecidos, resultando em lentificação generalizada do metabolismo. PRIMÁRIO SECUNDÁRIO TERCEÁRIO Autoimune: tireoidite de Hashimoto (em áreas suficientes de iodo). Nutricional: carência de iodo. Iatrogênica: radioablação com ¹³¹I, tireoidectomia total, irradiação cervical. Drogas: principalmente as que contêm grande quantidade de iodo em sua formulação (como amiodarona e meio de contraste), mas também lítio, tionamidas (antitireoidianos), IFN-alfa, entre outras. Congênito: disgenesia da glândula (agenesia, hipoplasia, ectopia). Doenças infiltrativas: amiloidose, sarcoidose, esclerodermia, cistinose, tireoidite de Riedel (deposição de colágeno). Hipopituitarismo: tumores, cirurgia, irradiação, síndrome de Sheehan (infarto da hipófise no pós-parto), trauma, congênito. Doenças hipotalâmicas (hipotireoidismo terciário): tumores, trauma, desordens infiltrativas (ex.: sarcoidose, hemocromatose, tuberculose). Tireoidite “silenciosa” (pós- parto). Tireoidite subaguda. Trata-se de uma doença autoimune, o que implica dizer que a base de todo o problema está na quebra da autotolerância! Ainda não se sabe ao certo o que leva a isso, mas provavelmente há uma associação de fatores ambientais (como dietas ricas em iodo) e fatores genéticos (possivelmente mutações no gene CTLA-4). No final das contas, o que acontece é que nosso próprio sistema imune vai iniciar uma reação contra o tecido tireoidiano, que pode ser pela via celular, por meio do ataque direto de linfócitos TCD8+; ou pela via humoral, através da produção de autoanticorpos, sendo que dentre esses, os principais são os seguintes: › Antitireoperoxidase (anti-TPO); › Antitireoglobulina (anti-TG); › Antirreceptor de TSH; › Antitransportador de Iodo. Na Tireoidite de Hashimoto, a glândula do paciente vai ser destruída aos poucos pelo sistema imunológico e é justamente isso que nos faz entender uma questão bem peculiar do quadro clínico desses pacientes: no início da doença, pacientes com Tireoidite de Hashimoto vão desenvolver um quadro de hipertireoidismo! Isso acontece justamente pela destruição dos folículos tireoidianos. Quando o folículo tireoidiano rompe, o coloide extravasa e faz com que toda a produção hormonal seja liberada sem qualquer regulação, o que aumenta os seus níveis plasmáticos levando ao Hipertireoidismo. Com o avançar do quadro, no entanto, cada vez menos folículos estarão disponíveis na tireoide e aí o paciente regride para um estado normal e depois evolui para um hipotireoidismo. Quando a pessoa entra em um quadro hipotireoidismo, vai ter uma redução metabólica e isso se manifesta através de uma hipoatividade generalizada, associada a um acúmulo de glicosaminoglicanos no interstício dos tecidos. Os sintomas mais comuns são: fadiga, letargia, ganho de peso, inapetência, intolerância ao frio, rouquidão, constipação, fraqueza, mialgias, artralgias, parestesias, pele seca, queda de cabelo e humor deprimido. O tratamento inicial é feito com levotiroxina, tomada em jejum, 30 minutos antes do café da manhã. Para pacientes jovens, pode-se começar com dose de 1,6 µg/kg/dia (dose plena) sem necessidade de início gradual.Em adultos, costuma-se atingir essa dose de maneira escalonada, iniciando-se com 50 µg/dia. O aumento deve ser progressivo, em intervalos de 6 a 8 semanas, até que o TSH esteja normalizado. Em pacientes idosos ou com doença cardíaca, recomenda-se iniciar com 25 µg/dia, incrementando de maneira gradual, com 12,5 a 25 µg/dia a cada 2 semanas. O tratamento do hipotireoidismo subclínico é controverso, porém se recomenda tratar pacientes com TSH > 10 mUI/L ou em níveis menores (acima do limite da normalidade e menor do que 10 mUi/L) se o paciente tiver anti-TPO positivo, dado a alta probabilidade de evoluir para hipotireoidismo franco. Na presença de sintomas compatíveis com hipotireoidismo, um teste terapêutico também pode ser realizado se paciente desejar. Nesses casos, recomenda-se iniciar o tratamento com doses menores (25 a 50 µg/dia). O seguimento posterior é semelhante ao hipotireoidismo franco. Se a opção for por não tratamento, deve se repetir o TSH de 6 meses a um ano. A melhora dos sintomas após esse teste terapêutico não costuma ser grande. No início do tratamento, o paciente deve ser monitorizado com TSH a cada 2 a 4 meses até atingir nível dentro dos padrões de normalidade. Após isso, a revisão clínica e de TSH pode ser a cada 6 meses por 1 ano e, após estabilizada a dose, a revisão pode então ser anual. Não é necessário solicitar T4-livre ou T4 total para acompanhamento do tratamento com levotiroxina. O paciente deve ser orientado a antecipar a consulta em caso de sintomas que sugiram subdose (os mesmos do início do hipotireoidismo) ou sobredose (palpitação, hiperatividade, perda de peso com aumento de apetite). Pacientes com doses maiores de 2,5 mcg/kg/dia devem ser avaliados em relação à adesão, uso de medicamentos que interferem na absorção (ferro, carbonato de cálcio, suplementos minerais, hidróxido de alumínio, omeprazol) e metabolização da levotiroxina (fenobarbital, fenitoína e carbamazepina) e doenças que cursem com redução da acidez gástrica (necessária para absorção da tiroxina) ou má absorção intestinal, como doença celíaca e doença inflamatória intestinal. O seguimento do hipotireoidismo subclínico é o mesmo das pessoas com hipotireoidismo primário. Porém, para pacientes que não iniciaram tratamento, recomenda-se acompanhar com dosagem de TSH a cada 6 a 12 meses. Não é necessário solicitar ecografia ou T3 para diagnóstico ou acompanhamento de hipotireoidismo primário.
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