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Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques Autor: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF 24 de Março de 2021 37171323005 - Júnior Souza Ferreira Sumário Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 2 Lei nº 13.185/2015 ............................................................................................................................................. 2 Lei nº 13.257/2016 ............................................................................................................................................. 5 1 - Regras próprias ......................................................................................................................................... 5 2 - Leis alteradas ............................................................................................................................................ 8 Lei 13.431/2017 ................................................................................................................................................. 9 1 - Introdução ................................................................................................................................................. 9 2 - Direitos e garantias ................................................................................................................................. 13 3 - Escuta Especializada e Depoimento Especial .......................................................................................... 15 3.1 - Escuta especializada ............................................................................................................................................... 15 3.2 - Depoimento especial .............................................................................................................................................. 15 4 - Integração das Políticas de Atendimento ............................................................................................... 18 5 - Crimes ...................................................................................................................................................... 21 Decreto nº 9.603/2019 .................................................................................................................................... 22 1 - Disposições preliminares ......................................................................................................................... 22 2 - Disposições Gerais ................................................................................................................................... 28 3 - Da escuta especializada, do depoimento especial e da capacitação dos profissionais do sistema de garantia de direitos ...................................................................................................................................... 34 4 - Disposições finais .................................................................................................................................... 38 Legislação Destacada ....................................................................................................................................... 39 Considerações Finais ........................................................................................................................................ 42 Questões Comentadas ..................................................................................................................................... 42 Lista de Questões ............................................................................................................................................. 52 Gabarito............................................................................................................................................................ 56 Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 2 56 LEI Nº 13.185/2015, 13.257/2016 E 13 .431/2017 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nessa aula veremos três legislações recentes sobre os direitos da criança e do adolescente. São elas: A Lei 13.185/2015, que institui “Programa de Combate à Intimidação Sistemática”; A Lei nº 13.257/2016, que altera o ECA e confere proteção especial às crianças nos primeiros anos de vida; A Lei nº 13.431/2017, que altera um dispositivo do ECA e traz vários dispositivos novos. Bons estudos a todos! LEI Nº 13.185/2015 Neste capítulo vamos analisar a Lei 13.185/2015, que institui “Programa de Combate à Intimidação Sistemática”, também conhecido como bullying. Inicialmente, vejamos o art. 1º da referida norma que conceitua a prática: Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional. § 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. § 2º O Programa instituído no caput poderá fundamentar as ações do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, bem como de outros órgãos, aos quais a matéria diz respeito. Logo, para fins de prova, podemos sintetizar o conceito da seguinte forma: Bullying: Atos de violência física ou psicológica praticados por uma pessoa ou grupo contra quem está em posição de inferioridade. O art. 2º, nesse contexto, retrata as formas de perpetração dessa violência: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 3 56 Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda: I - ataques físicos; II - insultos pessoais; III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; IV - ameaças por quaisquer meios; V - grafites depreciativos; VI - expressões preconceituosas; VII - isolamento social consciente e premeditado; VIII - pilhérias. Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial. No art. 3º, em esforço de especificação, o legislador descreveu exemplos de condutas que podem implicam em bullying. A leitura atenta é o suficiente para fins de prova: Art. 3º A intimidação sistemática (bullying) pode ser classificada, conforme as ações praticadas, como: I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente; II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores; III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar; IV - social: ignorar, isolar e excluir; V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar; VI - físico: socar, chutar, bater; VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem; VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescentep/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 4 56 Em síntese, podemos considerar o bullying como toda e qualquer violência pratica contra uma pessoa que esteja em situação de inferioridade frente ao agressor. A partir da definição acima, são fixados os objetivos do programa instituído pela lei: Art. 4º Constituem objetivos do Programa referido no caput do art. 1º: I - prevenir e combater a prática da intimidação sistemática (bullying) em toda a sociedade; II - capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema; III - implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e informação; IV - instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores; V - dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores; VI - integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade, como forma de identificação e conscientização do problema e forma de preveni-lo e combatê-lo; VII - promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos de uma cultura de paz e tolerância mútua; VIII - evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil; IX - promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, com ênfase nas práticas recorrentes de intimidação sistemática (bullying), ou constrangimento físico e psicológico, cometidas por alunos, professores e outros profissionais integrantes de escola e de comunidade escolar. Do rol acima, destaca-se o inc. VIII que especifica que o programa não tem por objetivo buscar a punição dos agressores. Nota-se que a preocupação é de cujo educativo, uma vez que a prática é perpetrada em grande medida por crianças e adolescentes em ambientes sociais. Por fim, confiramos os dispositivos finais da norma: Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying). Art. 6º Serão produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de intimidação sistemática (bullying) nos Estados e Municípios para planejamento das ações. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira ==1bd45a== 5 56 Art. 7º Os entes federados poderão firmar convênios e estabelecer parcerias para a implementação e a correta execução dos objetivos e diretrizes do Programa instituído por esta Lei. Art. 8º Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias da data de sua publicação oficial. Encerramos com isso a análise da Lei 13.185/2015. LEI Nº 13.257/2016 Neste tópico vamos analisar a Lei 13.257/2016. Trata-se de norma que trouxe para o ordenamento jurídico afeto à proteção da criança, um tratamento diferenciado àquelas que estiverem nos primeiros 72 meses ou seis anos de vida. A proteção aos menores de 18 anos parte das regras constitucionais, mas são, essencialmente, aprofundadas ao longo do Estatuto da Criança e do Adolescente. Fora isso, temos algumas regras específicas, tais como a que agora estudamos. A Lei 13.257/2016 se estrutura em duas partes: Em um primeiro bloco de artigos temos as regras próprias da Lei, que são marcadas por algumas definições importantes e, também, pela estruturação das políticas públicas aplicadas à primeira infância. No segundo bloco temos algumas normas alteradoras. A Lei operou mudanças importantes no ECA, no CPP, da CLT e em leis específicas. Evidentemente, que o nosso foco serão as regras do primeiro bloco. A segunda parte ela é melhor detalhada nos respectivos conteúdos. 1 - REGRAS PRÓPRIAS O art. 1º da Lei é claro em informar o objetivo da Lei. Trata-se de norma que tem por finalidade estabelecer princípios e diretrizes para adoção de políticas públicas voltadas à primeira infância, considerando a especificidade e relevância da situação. Qual o conceito de primeira infância? Primeira infância constitui o período que abrange os primeiros seis anos ou 72 meses de vida da criança. Lembre-se: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 6 56 O conceito de criança, de acordo com o ECA abrange o período de vida que vai até os 12 anos incompletos. Portanto, a Lei da Primeira Infância não se aplica a todas as crianças, mas apenas àquelas cuja idade é inferior a 6 anos. A pretensão do legislador é despender proteção específica à criança nesses primeiros anos de vida. Importante frisar também que da leitura da norma, nota-se que a proteção específica não se restringe ao período de vida da criança. Vale dizer, desde o momento da gestação, há um esforço no sentido de se conferir direitos e de se assegurar um resguardo ao nascituro, com a finalidade de o desenvolvimento seja adequado. Essa proteção específica se dá pela construção de políticas públicas específicas. Os direitos assegurados são os mesmos, os princípios e valores adotados no ECA são iguais. Portanto, o que irá definir esse atendimento especializado é um conjunto próprio de políticas públicas. Com foco naquilo que podem ser explorado em questões de prova, citamos o art. 4º, que estabelece quais os objetivos das políticas públicas: Art. 4o As políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância serão elaboradas e executadas de forma a: I - atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã; II - incluir a participação da criança na definição das ações que lhe digam respeito, em conformidade com suas características etárias e de desenvolvimento; III - respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento das crianças e valorizar a diversidade da infância brasileira, assim como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e culturais; IV - reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança na primeira infância, priorizando o investimento público na promoção da justiça social, da equidade e da inclusão sem discriminação da criança; V - articular as dimensões ética, humanista e política da criança cidadã com as evidências científicas e a prática profissional no atendimento da primeira infância; VI - adotar abordagem participativa, envolvendo a sociedade, por meio de suas organizações representativas, os profissionais, os pais e as crianças, no aprimoramento da qualidade das ações e na garantia da oferta dos serviços; PRIMEIRA INFÂNCIA primeiros seis anos ou 72 meses de vida Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 7 56 VII - articular as ações setoriais com vistas ao atendimento integral e integrado; VIII - descentralizar as ações entre os entes da Federação; IX - promover a formação da cultura de proteção e promoção da criança, com apoio dos meios de comunicação social. Parágrafo único. A participação da criança na formulação das políticas e das ações que lhe dizem respeito tem o objetivo de promover sua inclusão social como cidadã e dar-se-á de acordo com a especificidade de sua idade, devendo ser realizada por profissionais qualificadosem processos de escuta adequados às diferentes formas de expressão infantil. A leitura atenta aos dispositivos acima é o suficiente. Uma observação, contudo, é importante! O inc. II trata da inserção dessas crianças na formulação de políticas públicas. Isso, em um primeiro momento, poderá causas estranheza. Afinal, como uma criança de 6 anos terá condições de manifestar-se para orientação de políticas públicas? O parágrafo único responde ao questionamento ao informar que haverá um processo de escuta especializada por profissionais capacitados para ouvir as demandas e necessidades dessas crianças. Essas informações serão consideradas para formação de políticas públicas. A partir dessa novidade legislativa doutrina cunhou uma expressão: “criança cidadã”. Esse conceito não se relaciona com o voto, modo regular de exercício da cidadania, mas na ideia de considerar a participação direta das crianças com até 6 anos de idade na formulação de políticas públicas. Dando sequência, o art. 5º também merece referência direta: Art. 5o Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para a primeira infância a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistência social à família da criança, a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como a proteção contra toda forma de violência e de pressão consumista, a prevenção de acidentes e a adoção de medidas que evitem a exposição precoce à comunicação mercadológica. Esse dispositivo estabelece as áreas prioritárias de atuação na primeira infância. Sabemos, até mesmo por força do art. 3º da Lei, que vige o princípio da prioridade absoluta em Direito da Criança e do Adolescente. Cotejando esses dispositivos poderíamos afirmar que temas como saúde, convivência familiar e comunitária, nutrição e alimentação, para citar alguns exemplos do art. 5º, são ainda mais prioritárias. Trata-se, portanto, de uma prioridade qualificada em relação a essas áreas, frente à atuação já prioritária em matéria de infância e juventude. A partir daí temos uma série de regras e orientações para definição da denominada “Política Nacional Integrada para a primeira infância”. Esse tema, tem menor relevância me termos de cobrança em prova de modo que, em forma de pontos, vamos sintetizar as principais informações: A política será desenvolvida de forma intersetorial, com a articulação de diversas políticas setoriais. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 8 56 Os entes federativos (União, estados-membros, Distrito Federal e municípios) podem criar comitês específicos para tratar das políticas de primeira infância. Ä A proteção à primeira infância é objetivo comum de todos os entes da Federação. Há necessidade de formação profissional específica de profissionais que atuam com crianças na primeira infância, bem como acesso garantido e prioritário à educação. Devem ser agregadas informações e cadastro de crianças na primeira infância para fins estatísticos e para acompanhamento do crescimento e desenvolvimento. Na estruturação de políticas e programas necessário inserir apoio às famílias que tenham crianças na primeira infância, considerando visitas domiciliares, promoção da paternidade e maternidade responsáveis e fortalecimento da família. Em relação a crianças que estejam em situação de vulnerabilidade haverá prioridade na formulação de políticas públicas. Constitui área de atuação prioritária na formulação de políticas públicas o desenvolvimento da educação e cultura. Em síntese, é o que destacamos dos arts. 6º a 17. 2 - LEIS ALTERADAS Para encerrar a lei, vamos tratar, em caráter informativo, das alterações que foram promovidas em outras leis. Os arts. 18 a 36 são todas alterações promovidas no ECA, local em que é estudado de forma detalhada. O art. 37 faz referência a pontual alteração na CLT para permitir à gestante ter direito a dois dias para consultas e um dia por ano para acompanhar filho na primeira infância em consultas médicas. O art. 38 traz alterações promovidas na Lei 11.770/2008, que é o Programa Empresa Cidadã, que proporciona extensão do período de licença-maternidade e paternidade. O art. 41, por sua vez, traz regras alterações do CCP em relação à necessidade de se saber se o investigado ou acusado possui filhos na primeira infância, a fim que seja dada atenção a essa situação. Além disso, fixou a Lei a possibilidade prisão domiciliar: da gestante, independentemente do tempo da gestação e da situação de saúde, justamente com o intuito de proteger o nascituro; da mãe ou do pai (no caso deste, se for o único responsável) com filho de até 12 anos de idade incompleto. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 9 56 Por fim, o art. 42 destaca a necessidade de adesão pelos estabelecimentos de saúde públicos e privados ao sistema de informatizado de registros de nascimento. Com isso, encerramos a análise da Lei 13.256/2016. LEI 13.431/2017 1 - INTRODUÇÃO Vamos analisar neste tópico, a Lei 13.431/2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. A ideia da lei é simples: conceder um tratamento diferenciado à criança ou ao adolescente que é vítima ou testemunha de violência. É fácil perceber que um ambiente policial ou judicial, na sua forma tradicional, é impactante. Partes e testemunhas relatam fatos ocorridos, são questionadas sobre detalhes, são incitadas a contradição. Agora, pense em uma criança ou adolescentes, vítimas ou testemunhas, passando por tais situações. Considerando se tratar de pessoa em desenvolvimento, o legislador notou a necessidade de criar regras e procedimentos específicos, principalmente quando envolve situações de violência, entre as quais podemos citar a sexual e a física. Portanto, a pretensão é proteger os direitos fundamentais, de crianças e adolescentes vítimas de violência. Nesse contexto, o art. 2º traz um rol de direitos que são assegurados. A leitura é importante: Art. 2º A criança e o adolescente gozam dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhes asseguradas a proteção integral e as oportunidades e facilidades para viver sem violência e preservar sua saúde física e mental e seu desenvolvimento moral, intelectual e social, e gozam de direitos específicos à sua condição de vítima ou testemunha. Parágrafo único. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios desenvolverão políticas integradas e coordenadas que visem a garantir os direitos humanos da criança e do adolescente no âmbito das relações domésticas, familiares e sociais, para resguardá-los de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, abuso, crueldade e opressão. Embora ao longo do texto, falemos em crianças e adolescente, destaque-se, desde já, que o art. 3º, parágrafo único, prevê que a Lei será facultativamente aplicada aos jovens, vale dizer, àqueles entre 18 e 21 anos de idade. Ainda, o art. 1º da Lei lista quais são os assuntos objeto de regramento: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 10 56 É isso que veremos ao longo dos artigos que estudaremos da Lei 13.431/2017. Ainda em relação à parte introdutória deste tópico, dois pontos devem ser destacados: regras de aplicação e interpretação e conceito de violência. Na aplicação e interpretação da Lei devem ser consideradosdois parâmetros: 1º - fins sociais a que ela se destina; e 2º - condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Assim, quando o magistrado, o delegado de polícia, o membro do Ministério Público e órgãos que integram a regra protetiva de crianças e adolescentes tiverem dúvidas sobre a interpretação e aplicação das regras da Lei 13.431/2017 deverão buscar a decisão que atenda aos fins pretendidos pela norma (proteção específica de crianças e adolescentes em situação de violência) e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Para encerrar esse primeiro ponto, não podemos escapar da leitura atenta ao art. 4º. Prepare-se, é extenso: Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de violência: I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico; II - violência psicológica: a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional; O QUE TRAZ A LEI 13.431/2017 normatiza e organiza o sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência; cria mecanismos para prevenir e coibir a violência; e estabelece medidas de assistência e proteção à criança e ao adolescente em situações de violência. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 11 56 b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este; c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido, particularmente quando isto a torna testemunha; III - violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda: a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de terceiro; b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico; c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação; IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização. Precisamos bem compreender os conceitos acima lidos. São quatro espécies de violência sob tutela da Lei: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 12 56 A violência física é aquela ofensiva à integridade física ou corporal ou a que causa sofrimento físico. A violência psicológica é constatada em três situações: 1ª – discriminação, depreciação ou desrespeito que comprometa o seu desenvolvimento psíquico ou emocional; Essa situação é uma das mais amplas, tanto é que a própria lei tomou o cuidado de listar várias hipóteses de discriminação, depreciação ou desrespeito contra menores. Entre elas, destaca-se o bullying (ou intimidação sistemática) que envolve a violência física ou psicológica praticada de forma intencional e repetida a causar dor e angústia, o qual coloca a vítima em situação de inferioridade e subordinação frente aos demais indivíduos do grupo. 2ª – alienação parental; e A violência decorre da interferência na formação psicológica do menor quando alguém da família promove ou induz o repúdio contra um dos genitores. Na alienação parental temos prejuízo ao pleno exercício da convivência familiar e comunitária, em razão da dissolução do vínculo com um dos genitores promovida pela atitude espúria desse genitor. 3ª – conduta que exponha criança/adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento contra membro da família ou da rede de apoio do menor de 18 anos. A terceira situação é comum nos casos em que a criança/adolescente presencia crimes violentos, sendo chamada falar sobre os fatos em procedimento de inquérito ou penal. A violência sexual envolve o constrangimento de crianças ou de adolescentes a praticar ou presenciar conjunção carnal ou ato libidinoso, incluindo a exposição do corpo em imagens e vídeos. Assim, mesmos que o menor não compreenda a atitude terá havido violência sexual que compreende o abuso sexual, a exploração sexual para fins comerciais e o tráfico de pessoas. A violência institucional, por último, é aquela praticada por instituição pública ou conveniada. Quanto aos parágrafos do art. 4º, que abaixo citamos, destaca-se: a oitiva de crianças e adolescentes expostos a situação de violência se dará por intermédio da escuta especializada e do depoimento especial, que estudaremos adiante; e • física • psicológica • sexual • institucional A LEI 13.431/2017 TUTELA DIREITOS DAS CRIANÇAS/ADOLESCENTE S EM CASO DE VIOLÊNCIA Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 13 56 cabe aos órgãos envolvidos adotar procedimentos com o objetivo de buscar a revelação espontânea da violência, que deverá ser confirmada em juízo. Veja: § 1º Para os efeitos desta Lei, a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência por meio de escuta especializada e depoimento especial. § 2º Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão os procedimentos necessários por ocasião da revelação espontânea da violência. § 3º Na hipótese de revelação espontânea da violência, a criança e o adolescente serão chamados a confirmar os fatos na forma especificada no § 1o deste artigo, salvo em caso de intervenções de saúde. § 4º O não cumprimento do disposto nesta Lei implicará a aplicação das sanções previstas na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Finalizamos, assim, o extenso art. 4º e o primeiro tópico da lei. 2 - DIREITOS E GARANTIAS Em relação aos direitos e garantias, temos dois dispositivos. O primeiro dispositivo lista um rol de direitos, o segundo trata da questão afeta às medidas protetivas. Devido à importância para a sua prova, vamos iniciar com o art. 6º.As medidas protetivas contra o autor da violência devem ser requeridas pela vítima, no caso pela criança ou pelo adolescente. Evidentemente que estarão representados ou assistidos a depender do caso. Contudo, é importante que você compreenda que se trata de requerimento formulado pelo menor à autoridade judicial. Confira: Art. 6º A criança e o adolescente vítima ou testemunha de violência têm direito a pleitear, por meio de seu representante legal, medidas protetivas contra o autor da violência. Parágrafo único. Os casos omissos nesta Lei serão interpretados à luz do disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), na Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), e em normas conexas. Quanto ao art. 5º, entendemos que a leitura atenta é o suficiente para fins de prova: Art. 5º A aplicação desta Lei, sem prejuízo dos princípios estabelecidos nas demais normas nacionais e internacionais de proteção dos direitos da criança e do adolescente, terá como base, entre outros, os direitos e garantias fundamentais da criança e do adolescente a: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 14 56 I - receber prioridade absoluta e ter considerada a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; II - receber tratamento digno e abrangente; III - ter a intimidade e as condições pessoais protegidas quando vítima ou testemunha de violência; IV - ser protegido contra qualquer tipo de discriminação, independentemente de classe, sexo, raça, etnia, renda, cultura, nível educacional, idade, religião, nacionalidade, procedência regional, regularidade migratória, deficiência ou qualquer outra condição sua, de seus pais ou de seus representantes legais; V - receber informação adequada à sua etapa de desenvolvimento sobre direitos, inclusive sociais, serviços disponíveis, representação jurídica, medidas de proteção, reparação de danos e qualquer procedimento a que seja submetido; VI - ser ouvido e expressar seus desejos e opiniões, assim como permanecer em silêncio; VII - receber assistência qualificada jurídica e psicossocial especializada, que facilite a sua participação e o resguarde contra comportamento inadequado adotado pelos demais órgãos atuantes no processo; VIII - ser resguardado e protegido de sofrimento, com direito a apoio, planejamento de sua participação, prioridade na tramitação do processo, celeridade processual, idoneidade do atendimento e limitação das intervenções; IX - ser ouvido em horário que lhe for mais adequado e conveniente, sempre que possível; X - ter segurança, com avaliação contínua sobre possibilidades de intimidação, ameaça e outras formas de violência; XI - ser assistido por profissional capacitado e conhecer os profissionais que participam dos procedimentos de escuta especializada e depoimento especial; XII - ser reparado quando seus direitos forem violados; XIII - conviver em família e em comunidade; XIV - ter as informações prestadas tratadas confidencialmente, sendo vedada a utilização ou o repasse a terceiro das declarações feitas pela criança e pelo adolescente vítima, salvo para os fins de assistência à saúde e de persecução penal; XV - prestar declarações em formato adaptado à criança e ao adolescente com deficiência ou em idioma diverso do português. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 15 56 Parágrafo único. O planejamento referido no inciso VIII, no caso de depoimento especial, será realizado entre os profissionais especializados e o juízo. Finalizamos, com isso, mais um tópico. 3 - ESCUTA ESPECIALIZADA E DEPOIMENTO ESPECIAL A essência da Lei está neste ponto. A escuta especializada e o depoimento especial constituem os instrumentos específicos a serem adotados para evitar maior sofrimento à criança e ao adolescente que for vítima de violência ou que tenha presenciado tal fato. A fim de sistematizar o nosso estudo, vamos começar com a escuta especializada. 3.1 - Escuta especializada A escuta especializada é compreendida como procedimento de entrevista sobre uma situação de violência pela criança ou pelo adolescente perante a rede de proteção. Não é um instrumento judicial, mas um primeiro contato feito, por exemplo pelo Conselho Tutela, pelas entidades de acolhimento institucional, por intermédio do qual pretende-se que o menor revele de forma espontânea a situação de violência. Leia o art. 7º: Art. 7º Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade. A escuta especializada será realizada de forma não haver contato, mesmo que visual, com o suposto agressor ou autor, a fim de gerar constrangimentos na criança/adolescente. Além disso, deverá ocorrer em local apropriado e acolhedor. 3.2 - Depoimento especial O depoimento especial, definido no art. 8º, é procedimento de oitiva de criança ou de adolescente vítima ou testemunha de violência, perante o juízo ou perante o delegado de polícia. Tal como vimos acima, evita-se o contato com o suposto agressor e busca-se local apropriado e acolhedor. É justamente isso que refere o art. 9º e 10. Vejamos os dispositivos citados: Art. 8º Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária. Art. 9º A criança ou o adolescente será resguardado de qualquer contato, ainda que visual, com o suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que represente ameaça, coação ou constrangimento. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 16 56 Art. 10. A escuta especializada e o depoimento especial serão realizados em local apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência. Por se tratar de meio de prova e em razão da pessoa a ser ouvida (a criança/adolescente, carecedora de proteção especial), são estabelecidas algumas regras: o ato ocorrerá uma única vez; No processo judicial regular, podemos ter diversas oitivas da vítima: perante a autoridade policial, perante o órgão do Ministério Público em alguns casos e perante o juízo. A fim de evitar que a criança retome sucessivas vezes esses momentos traumáticos, adota-se único depoimento. o depoimento especial, sempre que possível, será colhido em sede de produção antecipada de provas; A técnica antecipada de colheita de provas é medida cautelar tradicionalmente utilizada para garantir, para conservar, para proteger eventual prova que, à época da instrução processual, possa não mais existir. Logo, temos uma situação urgente, que requer a conservação da prova. No caso da Lei 13.431/2017 a urgência decorre da necessidade de se ouvir a criança ou o adolescente o quanto antes para que possa superar esse problema e seguir com o seu desenvolvimento, longe de quaisquer formas de violência. Desse modo, instaura-se procedimento cautelar que será obrigatório em duas situações: a) criança menor de 7 anos; e b) violência sexual. Nos demais, casos ficará a critério da autoridade judicial, a partir de requerimento das partes envolvidas no processo. garantia da ampla defesa e do contraditório. Por se tratar de meio de prova, necessário que o acusado ou réu possa se defender,mesmo que não possa presenciar a tomada do depoimento. a tomada de novo depoimento especial embora vedada, será excepcionalmente admitida quando imprescindível e na hipótese de concordância da criança/adolescente vítima ou testemunha ou do seu representante legal. Analisadas as regras de forma didática, é momento para leitura da legislação: Art. 11. O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que possível, será realizado uma única vez, em sede de produção antecipada de prova judicial, garantida a ampla defesa do investigado. § 1o O depoimento especial seguirá o rito cautelar de antecipação de prova: I - quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos; II - em caso de violência sexual. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 17 56 § 2o Não será admitida a tomada de novo depoimento especial, salvo quando justificada a sua imprescindibilidade pela autoridade competente e houver a concordância da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal. Na sequência vamos conferir as regras de procedimento do depoimento especial. Leia com atenção: Art. 12. O depoimento especial será colhido conforme o seguinte procedimento: I - os profissionais especializados esclarecerão a criança ou o adolescente sobre a tomada do depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e os procedimentos a serem adotados e planejando sua participação, sendo vedada a leitura da denúncia ou de outras peças processuais; II - é assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situação de violência, podendo o profissional especializado intervir quando necessário, utilizando técnicas que permitam a elucidação dos fatos; III - no curso do processo judicial, o depoimento especial será transmitido em tempo real para a sala de audiência, preservado o sigilo; IV - findo o procedimento previsto no inciso II deste artigo, o juiz, após consultar o Ministério Público, o defensor e os assistentes técnicos, avaliará a pertinência de perguntas complementares, organizadas em bloco; V - o profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem de melhor compreensão da criança ou do adolescente; VI - o depoimento especial será gravado em áudio e vídeo. § 1o À vítima ou testemunha de violência é garantido o direito de prestar depoimento diretamente ao juiz, se assim o entender. § 2o O juiz tomará todas as medidas apropriadas para a preservação da intimidade e da privacidade da vítima ou testemunha. § 3o O profissional especializado comunicará ao juiz se verificar que a presença, na sala de audiência, do autor da violência pode prejudicar o depoimento especial ou colocar o depoente em situação de risco, caso em que, fazendo constar em termo, será autorizado o afastamento do imputado. § 4o Nas hipóteses em que houver risco à vida ou à integridade física da vítima ou testemunha, o juiz tomará as medidas de proteção cabíveis, inclusive a restrição do disposto nos incisos III e VI deste artigo. § 5o As condições de preservação e de segurança da mídia relativa ao depoimento da criança ou do adolescente serão objeto de regulamentação, de forma a garantir o direito à intimidade e à privacidade da vítima ou testemunha. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 18 56 § 6o O depoimento especial tramitará em segredo de justiça. Desse dispositivo, destacamos algumas informações importantes: assegura-se à criança/adolescente a livre narrativa, com intervenção de profissional especializado a fim de atender à elucidação dos fatos; as perguntas serão organizadas em blocos e adaptada pelo profissional especializado para melhor compreensão da criança ou do adolescente; embora haja transmissão em tempo real da escuta especializada na sala de audiências com gravação, é possível restringir a transmissão e gravação em caso de risco à vida ou à integridade física da vítima ou testemunha; e o procedimento tramite em segredo de justiça. Com isso, chegamos ao final do ponto mais importante deste estudo. 4 - INTEGRAÇÃO DAS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO Nesta parte do conteúdo, veremos várias regras relativas à política de atendimento à criança/adolescente vítimas ou testemunhas de violência. Em síntese, temos a fixação de diretrizes para adoção de políticas públicas e a definição de regras para: a área de saúde; a assistência social; a segurança pública; o acesso à justiça. Primeiramente, fique atento que o art. 13 da Lei estabelece dever de comunicar às autoridades ou à rede de proteção em caso de violência contra criança ou adolescente. Assim: Cientes de tais fatos, as entidades acima deverão comunicar imediatamente o Ministério Público. DIANTE DE SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA OU CONTRA O ADOLESCENTE PARA É DEVER DE QUALQUER PESSOA COMUNICAR: aos serviços de recebimento e monitoramento de denúncias; ao conselho tutelar; à autoridade policial. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 19 56 Visto isso, vamos às diretrizes, as quais citamos para rápida leitura: Art. 14. As políticas implementadas nos sistemas de justiça, segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar ações articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao atendimento integral às vítimas de violência. § 1o As ações de que trata o caput observarão as seguintes diretrizes: I - abrangência e integralidade, devendo comportar avaliação e atenção de todas as necessidades da vítima decorrentes da ofensa sofrida; II - capacitação interdisciplinar continuada, preferencialmente conjunta, dos profissionais; III - estabelecimento de mecanismos de informação, referência, contrarreferência e monitoramento; IV - planejamento coordenado do atendimento e do acompanhamento, respeitadas as especificidades da vítima ou testemunha e de suas famílias; V - celeridade do atendimento, que deve ser realizado imediatamente - ou tão logo quanto possível - após a revelação da violência; VI - priorização do atendimento em razão da idade ou de eventual prejuízo ao desenvolvimento psicossocial, garantida a intervenção preventiva; VII - mínima intervenção dos profissionais envolvidos; e VIII - monitoramento e avaliação periódica das políticas de atendimento. § 2o Nos casos de violência sexual, cabe ao responsável da rede de proteção garantir a urgência e a celeridade necessárias ao atendimento de saúde e à produção probatória, preservada a confidencialidade. Na sequência vejamos mais alguns dispositivos relevantes: política de atendimento na área de saúde: Art. 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), serviços para atenção integral à criança e ao adolescente em situação de violência, de forma a garantir o atendimento acolhedor. Art. 18. A coleta, guarda provisória e preservação de material com vestígios de violência serão realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) ou por serviço credenciado do sistema de saúde mais próximo, que entregará o material para perícia imediata, observado o disposto no art. 5o desta Lei. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 20 56 políticade atendimento na área de assistência social: Art. 19. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão estabelecer, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas), os seguintes procedimentos: I - elaboração de plano individual e familiar de atendimento, valorizando a participação da criança e do adolescente e, sempre que possível, a preservação dos vínculos familiares; II - atenção à vulnerabilidade indireta dos demais membros da família decorrente da situação de violência, e solicitação, quando necessário, aos órgãos competentes, de inclusão da vítima ou testemunha e de suas famílias nas políticas, programas e serviços existentes; III - avaliação e atenção às situações de intimidação, ameaça, constrangimento ou discriminação decorrentes da vitimização, inclusive durante o trâmite do processo judicial, as quais deverão ser comunicadas imediatamente à autoridade judicial para tomada de providências; e IV - representação ao Ministério Público, nos casos de falta de responsável legal com capacidade protetiva em razão da situação de violência, para colocação da criança ou do adolescente sob os cuidados da família extensa, de família substituta ou de serviço de acolhimento familiar ou, em sua falta, institucional. política de atendimento na área de segurança pública: Art. 20. O poder público poderá criar delegacias especializadas no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência. § 1o Na elaboração de suas propostas orçamentárias, as unidades da Federação alocarão recursos para manutenção de equipes multidisciplinares destinadas a assessorar as delegacias especializadas. § 2o Até a criação do órgão previsto no caput deste artigo, a vítima será encaminhada prioritariamente a delegacia especializada em temas de direitos humanos. § 3o A tomada de depoimento especial da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência observará o disposto no art. 14 desta Lei. Art. 21. Constatado que a criança ou o adolescente está em risco, a autoridade policial requisitará à autoridade judicial responsável, em qualquer momento dos procedimentos de investigação e responsabilização dos suspeitos, as medidas de proteção pertinentes, entre as quais: I - evitar o contato direto da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência com o suposto autor da violência; Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 21 56 II - solicitar o afastamento cautelar do investigado da residência ou local de convivência, em se tratando de pessoa que tenha contato com a criança ou o adolescente; III - requerer a prisão preventiva do investigado, quando houver suficientes indícios de ameaça à criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência; IV - solicitar aos órgãos socioassistenciais a inclusão da vítima e de sua família nos atendimentos a que têm direito; V - requerer a inclusão da criança ou do adolescente em programa de proteção a vítimas ou testemunhas ameaçadas; e VI - representar ao Ministério Público para que proponha ação cautelar de antecipação de prova, resguardados os pressupostos legais e as garantias previstas no art. 5o desta Lei, sempre que a demora possa causar prejuízo ao desenvolvimento da criança ou do adolescente. Art. 22. Os órgãos policiais envolvidos envidarão esforços investigativos para que o depoimento especial não seja o único meio de prova para o julgamento do réu. política de atendimento na área da justiça: Art. 23. Os órgãos responsáveis pela organização judiciária poderão criar juizados ou varas especializadas em crimes contra a criança e o adolescente. Parágrafo único. Até a implementação do disposto no caput deste artigo, o julgamento e a execução das causas decorrentes das práticas de violência ficarão, preferencialmente, a cargo dos juizados ou varas especializadas em violência doméstica e temas afins. Apenas um destaque final! Tanto na redação do art. 20, que trata das delegacias especializadas, como no art. 23, que discorre sobre as varas especializadas, o verbo utilizado pelo legislador é “poderá”. Valer dizer, compete à organização Polícia Civil e do Poder Judiciário de cada Estado adotar ou não essas delegacias e varas especializadas. Não se trata de obrigação imposta pela lei. Mais um tópico concluído! 5 - CRIMES Para encerrarmos o conteúdo teórico pertinente desta aula, vale a pena analisar o art. 24, que tipifica um crime específico: violação a sigilo processual. Veja: Art. 24. Violar sigilo processual, permitindo que depoimento de criança ou adolescente seja assistido por pessoa estranha ao processo, sem autorização judicial e sem o consentimento do depoente ou de seu representante legal. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 22 56 Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Primeiramente, cumpre observar que essa tipificação se restringe ao depoimento especial, não alcançando a escuta especializada. Assim, se um depoimento vazar a pessoa que não faça parte da relação jurídico- processual, sem que haja autorização judicial ou consentimento do depoente, o sujeito terá praticado crime apenado com reclusão de um a quatro anos, mais aplicação de multa. Logo: Nos arts. 25 a 29 temos algumas regras finais e transitórias de menor importância para fins de concurso público. Encerramos, portanto, o estudo teórico da Lei 13.431/2017. DECRETO Nº 9.603/2019 Passamos, agora, à análise do Decreto n. 9.603/2019, que regulamenta a Lei n. 13.431/2017, que acabamos de estudar, e estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Vejamos as disposições preliminares do Decreto. 1 - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Nesta parte, o Decreto trata sobre a sua finalidade (art. 1º), trata sobre os seus princípios regentes (art. 2º), expõe a finalidade do sistema de garantia de direitos e traz algumas disposições específicas e definições (arts. 4º, 5º e 6º). Vejamos uma a uma essas disposições. 1) Finalidade do Decreto e princípios regentes: Confira: Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. CRIME DE VIOLAR SIGILO DE DEPOIMENTO ESPECIAL vazar a pessoa estranha ao processo sem autorização judicial ou consentimento do depoente PENA reclusão de 1 a 4 anos; MAIS multa Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 23 56 Como já vimos, o Decreto tem por finalidade regulamentar a Lei n. 13.431/2017 e estabelecer o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Vejamos quais são os princípios regentes deste Decreto: Art. 2º Este Decreto será regido pelos seguintes princípios: I - a criança e o adolescente são sujeitos de direito e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e gozam de proteção integral, conforme o disposto no art. 1º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente; II - a criança e o adolescente devem receber proteção integral quando os seus direitos forem violados ou ameaçados; III - a criança e o adolescente têm o direito de ter seus melhores interesses avaliados e considerados nas ações ou nas decisões que lhe dizem respeito, resguardada a sua integridade física e psicológica; IV - em relação às medidasadotadas pelo Poder Público, a criança e o adolescente têm preferência: a) em receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) em receber atendimento em serviços públicos ou de relevância pública; c) na formulação e na execução das políticas sociais públicas; e d) na destinação privilegiada de recursos públicos para a proteção de seus direitos; V - a criança e o adolescente devem receber intervenção precoce, mínima e urgente das autoridades competentes tão logo a situação de perigo seja conhecida; VI - a criança e o adolescente têm assegurado o direito de exprimir suas opiniões livremente nos assuntos que lhes digam respeito, inclusive nos procedimentos administrativos e jurídicos, consideradas a sua idade e a sua maturidade, garantido o direito de permanecer em silêncio; VII - a criança e o adolescente têm o direito de não serem discriminados em função de raça, cor, sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou regional, étnica ou social, posição econômica, deficiência, nascimento ou outra condição, de seus pais ou de seus responsáveis legais; VIII - a criança e o adolescente devem ter sua dignidade individual, suas necessidades, seus interesses e sua privacidade respeitados e protegidos, incluída a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral e a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, das ideias, das crenças, dos espaços e dos objetos pessoais; e IX - a criança e o adolescente têm direito de serem consultados acerca de sua preferência em serem atendido por profissional do mesmo gênero. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 24 56 Destaques importantes: 1) Os princípios trazidos pelo art. 2º guardam uma relação direta com diversos conceitos que nós já conhecemos. Em especial, eles encontram inspiração no art. 100, parágrafo único, do ECA, que traz os princípios que regem a aplicação de medidas específicas de proteção; 2) No inciso I, se diz que as crianças e os adolescentes são sujeitos de direitos. Como se sabe, nem sempre foi assim. Considerar as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos é uma importante mudança de paradigma e a preocupação em expor essa mudança é muito importante para a compreensão do Decreto como um todo. No parágrafo único do art. 100 do ECA, também é feito esse destaque. Vamos relembrar: Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal; 3) No inciso I, também, se diz que a criança e o adolescente são pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. Essa expressão não é nova e corrobora com a ideia de que às crianças e aos adolescentes deve ser despendido um tratamento especial, no qual uma das maiores preocupações deve ser a de não atrapalhar ou influenciar de forma prejudicial o desenvolvimento dessas pessoas. A expressão aparece repetidas vezes no ECA (ex.: art. 69, I; art. 71; art. 121, caput); 4) No inciso I, ainda, se diz que as crianças e os adolescentes gozam de proteção integral. Essa expressão é importantíssima e deve nos remeter diretamente ao art. 227 da Constituição. Ela é tão importante, que o legislador a repete de forma destacada no inciso II. Devemos lembrar, também, do princípio da proteção integral e prioritária, trazido pelo art. 100, inciso II, do ECA: Art. 100 (...) II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares; 5) O inciso III nos remete ao melhor interesse da criança, princípio, também, consagrado no âmbito dos direitos da criança e do adolescente. No art. 100, do ECA, ele aparece como “interesse superior da criança e do adolescente”, expressão que pode ser tida como sinônima; 6) No inciso IV, fala-se em preferência. Isso deve nos remeter, também, ao art. 227 da Constituição e à ideia de absoluta prioridade (“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde (...)”); 7) No inciso V, fala-se em intervenção precoce, mínima e urgente. Esses conceitos também não são novos e vêm definidos no art. 100 do ECA. Vamos relembrar: Art. 100 (...) Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 25 56 VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida; VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente; 8) No inciso VI, vemos o direito que a criança e o adolescente tem de exprimir a sua opinião. Até aqui, nenhuma novidade também. No ECA se fala em “oitiva obrigatória e participação”: Art. 100 (...) XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. Vale lembrar, também, a disposição do art. 28, §§ 1º e 2º, que trata sobre a colocação da criança ou do adolescente em família substituta: Art. 28 (...) § 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência. 9) No inciso VIII, fala-se em respeito e proteção à dignidade individual, às necessidades, aos interesses e à privacidade. O ECA já falava em privacidade, mas apenas, o que nos traz a ideia de que houve uma expansão no que se refere a esse princípio. Vejamos: Art. 100 (...) V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; 10) E, por fim, os incisos VII e IX trazem disposições novas. O inciso VII traz o princípio da não discriminação e o IX fala sobre o direito que as crianças e os adolescentes tem de serem atendidos por um profissional do mesmo gênero (o que se revela importante, em especial, nos casos de violência sexual). Dito isso, quais são os princípios regentes do Decreto n. 9.603/2019? São eles: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 26 56 condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos; condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento; proteção integral; melhor interesse da criança; preferência (ou absoluta prioridade); intervenção precoce,mínima e urgente; oitiva obrigatória e participação; respeito e proteção à dignidade individual, às necessidades, aos interesses e à privacidade não discriminação direito que as crianças e os adolescentes tem de serem atendidos por um profissional do mesmo gênero Beleza? Seguindo! 2) Finalidade do sistema de garantia de direitos Vistos os princípios, qual é a finalidade do sistema de garantia de direitos? Vamos conferir o teor do art. 3º do Decreto: Art. 3º O sistema de garantia de direitos intervirá nas situações de violência contra crianças e adolescentes com a finalidade de: I - mapear as ocorrências das formas de violência e suas particularidades no território nacional; II - prevenir os atos de violência contra crianças e adolescentes; III - fazer cessar a violência quando esta ocorrer; IV - prevenir a reiteração da violência já ocorrida; V - promover o atendimento de crianças e adolescentes para minimizar as sequelas da violência sofrida; e VI - promover a reparação integral dos direitos da criança e do adolescente. Percebam que há, nos incisos do art. 3º, uma sequência lógica. Primeiro se deve mapear o problema e as particularidades. Depois se deve tentar preveni-lo. Caso a violência ocorra, devem-se envidar esforços para cessá-la, bem como, para prevenir a sua reiteração. Aqueles que já sofreram a violência devem ser atendidos, de modo a se minimizar as sequelas e a se promover a reparação integral dos direitos violados. Portanto, decore: Finalidade do sistema de garantia de direitos: Mapear a violência; Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 27 56 Prevenir a violência; Fazer cessar a violência; Prevenir a reiteração; Minimizar as sequelas; Promover a reparação integral. 3) Disposições específicas e definições Os arts. 4º, 5º e 6º, trazem algumas disposições específicas sobre o idioma em que as crianças e adolescentes devem ser ouvidos, sobre algumas definições e sobre a acessibilidade. Aqui, recomenda-se uma leitura atenta para a sua prova, com destaque para as definições, que são muito cobradas em concursos. Vejamos: Art. 4º A criança ou o adolescente, brasileiro OU estrangeiro, que fale outros idiomas deverá ser consultado quanto ao idioma em que prefere se manifestar, em qualquer serviço, programa ou equipamento público do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, tomadas as medidas necessárias para esse atendimento, quando possível. Art. 5º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se: I - violência institucional - violência praticada por agente público no desempenho de função pública, em instituição de qualquer natureza, por meio de atos comissivos ou omissivos que prejudiquem o atendimento à criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de violência; II - revitimização - discurso ou prática institucional que submeta crianças e adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem; III - acolhimento ou acolhida - posicionamento ético do profissional, adotado durante o processo de atendimento da criança, do adolescente e de suas famílias, com o objetivo de identificar as necessidades apresentadas por eles, de maneira a demonstrar cuidado, responsabilização e resolutividade no atendimento; e IV - serviço de acolhimento no âmbito do Sistema Único de Assistência Social - Suas - serviço realizado em tipos de equipamentos e modalidades diferentes, destinados às famílias ou aos indivíduos com vínculos familiares rompidos ou fragilizados, a fim de garantir sua proteção integral. Art. 6º A acessibilidade aos espaços de atendimento da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência deverá ser garantida por meio de: I - implementação do desenho universal nos espaços de atendimentos a serem construídos; Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 28 56 II- eliminação de barreiras e implementação de estratégias para garantir a plena comunicação de crianças e adolescentes durante o atendimento; III - adaptações razoáveis nos prédios públicos ou de uso público já existentes; e IV - utilização de tecnologias assistivas ou ajudas técnicas, quando necessário. Observe que o conceito de violência institucional (art. 5º, I, do Decreto) é diferente do conceito de violência institucional trazido pela Lei n. 13.431/2017 (art. 4º, VI, da Lei). Vamos em frente! 2 - DISPOSIÇÕES GERAIS No art. 3º, nós vimos qual é a finalidade do sistema de garantia de direitos. Mas ficaram algumas dúvidas: o que é o sistema de garantia de direitos? Quem compõe esse sistema? Essas dúvidas são esclarecidas pelos arts. 7º, 8º e 9º do Decreto. Vejamos a seguir: Art. 7º Os órgãos, os programas, os serviços e os equipamentos das políticas setoriais que integram os eixos de promoção, controle e defesa dos direitos da criança e do adolescente compõem o sistema de garantia de direitos e são responsáveis pela detecção dos sinais de violência. Art. 8º O Poder Público assegurará condições de atendimento adequadas para que crianças e adolescentes vítimas de violência ou testemunhas de violência sejam acolhidos e protegidos e possam se expressar livremente em um ambiente compatível com suas necessidades, características e particularidades. Art. 9º Os órgãos, os serviços, os programas e os equipamentos públicos trabalharão de forma integrada e coordenada, garantidos os cuidados necessários e a proteção das crianças e dos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, os quais deverão, no prazo de cento e oitenta dias, contado da data de publicação deste Decreto: I - instituir, preferencialmente no âmbito dos conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes, o comitê de gestão colegiada da rede de cuidado e de proteção social das crianças e dos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, com a finalidade de articular, mobilizar, planejar, acompanhar e avaliar as ações da rede intersetorial, além de colaborar para a definição dos fluxos de atendimento e o aprimoramento da integração do referido comitê; II - definir o fluxo de atendimento, observados os seguintes requisitos: a) os atendimentos à criança ou ao adolescente serão feitos de maneira articulada; b) a superposição de tarefas será evitada; Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 29 56 c) a cooperação entre os órgãos, os serviços, os programas e os equipamentos públicos será priorizada; d) os mecanismos de compartilhamento das informações serão estabelecidos; e) o papel de cada instância ou serviço e o profissional de referência que o supervisionará será definido; e III - criar grupos intersetoriais locais para discussão, acompanhamento e encaminhamento de casos de suspeita ou de confirmação de violência contra crianças e adolescentes. § 1º O atendimento intersetorial poderá conter os seguintes procedimentos: I - acolhimento ou acolhida; II - escuta especializada nos órgãos do sistema de proteção; III - atendimento da rede de saúde e da rede de assistência social; IV - comunicação ao Conselho Tutelar; V - comunicação à autoridade policial; VI - comunicação ao Ministério Público; VII - depoimento especial perante autoridade policial ou judiciária; e VIII - aplicaçãode medida de proteção pelo Conselho Tutelar, caso necessário. § 2º Os serviços deverão compartilhar entre si, de forma integrada, as informações coletadas junto às vítimas, aos membros da família e a outros sujeitos de sua rede afetiva, por meio de relatórios, em conformidade com o fluxo estabelecido, preservado o sigilo das informações. § 3º Poderão ser adotados outros procedimentos, além daqueles previstos no § 1º, quando o profissional avaliar, no caso concreto, que haja essa necessidade. Destaques: 1) Quem compõe, portanto, o sistema de garantia de direitos são os órgãos, os programas, os serviços e os equipamentos das políticas setoriais que integram os eixos de promoção, controle e defesa dos direitos da criança e do adolescente; 2) Esses órgãos, serviços, programas e equipamentos públicos trabalharão de forma integrada e coordenada, garantidos os cuidados necessários e a proteção das crianças e dos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência; Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 30 56 3) Em um prazo de 180 dias contados da publicação do Decreto, deve ser instituído o comitê de gestão colegiada da rede de cuidado e de proteção social das crianças e dos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência; 4) Esse órgão terá a finalidade de articular, mobilizar, planejar, acompanhar e avaliar as ações da rede intersetorial, além de colaborar para a definição dos fluxos de atendimento e para o aprimoramento da sua integração; 5) A definição dos fluxos de atendimento, que deve ser realizada pelo comitê, deverá observar os seguintes requisitos: a) os atendimentos à criança ou ao adolescente serão feitos de maneira articulada; b) a superposição de tarefas será evitada; c) a cooperação entre os órgãos, os serviços, os programas e os equipamentos públicos será priorizada; d) os mecanismos de compartilhamento das informações serão estabelecidos; e e) o papel de cada instância ou serviço e o profissional de referência que o supervisionará será definido; 6) Além do comitê, devem ser criados grupos intersetoriais locais para discussão, acompanhamento e encaminhamento de casos de suspeita ou de confirmação de violência contra crianças e adolescentes; 7) O atendimento intersetorial poderá conter os seguintes procedimentos: I - acolhimento ou acolhida; II - escuta especializada nos órgãos do sistema de proteção; III - atendimento da rede de saúde e da rede de assistência social; IV - comunicação ao Conselho Tutelar; V - comunicação à autoridade policial; VI - comunicação ao Ministério Público; VII - depoimento especial perante autoridade policial ou judiciária; e VIII - aplicação de medida de proteção pelo Conselho Tutelar, caso necessário. 8) Além desses procedimentos, poderão ser adotados outros, quando o profissional avaliar, no caso concreto, que haja essa necessidade No art. 10, o Decreto traz disposição específica sobre o atendimento à saúde das crianças e adolescentes em situação de violência, com destaque para os casos de violência sexual e a necessidade de realização de exames e de adoção de medidas profiláticas contra infecções sexualmente transmissíveis, anticoncepção de emergência, além da coleta de vestígios. Confiram: Art. 10. A atenção à saúde das crianças e dos adolescentes em situação de violência será realizada por equipe multiprofissional do Sistema Único de Saúde - SUS, nos diversos níveis de atenção, englobado o acolhimento, o atendimento, o tratamento especializado, a notificação e o seguimento da rede. Parágrafo único. Nos casos de violência sexual, o atendimento deverá incluir exames, medidas profiláticas contra infecções sexualmente transmissíveis, anticoncepção de emergência, orientações, quando houver necessidade, além da coleta, da identificação, da descrição e da guarda de vestígios. No art. 11, fala-se sobre a situação em que o profissional da educação identifica (ou a criança/adolescente revela) a ocorrência de atos de violência, inclusive no ambiente escolar, hipótese em que esse profissional deverá adotar uma série de medidas. Vejam: Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 31 56 Art. 11. Na hipótese de o profissional da educação identificar ou a criança ou adolescente revelar atos de violência, inclusive no ambiente escolar, ele deverá: I - acolher a criança ou o adolescente; II - informar à criança ou ao adolescente, ou ao responsável ou à pessoa de referência, sobre direitos, procedimentos de comunicação à autoridade policial e ao conselho tutelar; III - encaminhar a criança ou o adolescente, quando couber, para atendimento emergencial em órgão do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência; e IV - comunicar o Conselho Tutelar. Parágrafo único. As redes de ensino deverão contribuir para o enfrentamento das vulnerabilidades que possam comprometer o pleno desenvolvimento escolar de crianças e adolescentes por meio da implementação de programas de prevenção à violência. O art. 12 traz algumas disposições específicas sobre o Sistema Único de Assistência Social (Suas). Para os fins da sua prova, vale apenas uma leitura. Art. 12. O Suas disporá de serviços, programas, projetos e benefícios para prevenção das situações de vulnerabilidades, riscos e violações de direitos de crianças e de adolescentes e de suas famílias no âmbito da proteção social básica e especial. § 1º A proteção social básica deverá fortalecer a capacidade protetiva das famílias e prevenir as situações de violência e de violação de direitos da criança e do adolescente, além de direcioná-los à proteção social especial para o atendimento especializado quando essas situações forem identificadas. § 2º O acompanhamento especializado de crianças e adolescentes em situação de violência e de suas famílias será realizado preferencialmente no Centro de Referência Especializado de Assistência Social - Creas, por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, em articulação com os demais serviços, programas e projetos do Suas. § 3º Onde não houver Creas, a criança ou o adolescente será encaminhado ao profissional de referência da proteção social especial. § 4° As crianças e os adolescentes vítimas ou testemunhas de violência e em situação de risco pessoal e social, cujas famílias ou cujos responsáveis se encontrem temporariamente impossibilitados de cumprir sua função de cuidado e proteção, podem acessar os serviços de acolhimento de modo excepcional e provisório, hipótese em que os profissionais deverão observar as normas e as orientações referentes aos processos de escuta qualificada quando se configurarem situações de violência. Ricardo Torques Aula 07 - Somente em PDF D. da Criança e do Adolescente p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 1823834 37171323005 - Júnior Souza Ferreira 32 56 Já no art. 13, fala-se sobre os procedimentos a serem adotados pela autoridade policial. Vamos dar uma lida no dispositivo e depois vamos conferir alguns destaques: Art. 13. A autoridade policial procederá ao registro da ocorrência policial e realizará a perícia. § 1º O registro da ocorrência policial consiste na descrição preliminar das circunstâncias em que se deram o fato e, sempre que possível, será elaborado a partir de documentação remetida por outros serviços, programas e equipamentos públicos, além do relato do acompanhante da criança ou do adolescente. § 2º O registro da ocorrência policial deverá ser assegurado, ainda que a criança ou
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