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Esclerose Lateral Amiotrófica

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Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 
 
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença 
neurodegenerativa rara, caracterizada pela paralisia 
progressiva da musculatura voluntária refletindo a 
degeneração dos neurônios motores no córtex motor 
primário, vias corticoespinais, tronco cerebral e 
medula espinal. 
ELA, doença do neurônio motor (DNM), doença de 
Charcot e doença de Lou Gehrig são nomes utilizados 
para caracterizar a doença pelo mundo. Comumente, a 
ELA é um termo usado para designar um espectro de 
síndromes neurodegenerativas 
Explicação: O sistema de neurônios motores é composto por 
neurônios motores superiores e inferiores. Os neurônios 
motores superiores residem no córtex motor primário do 
cérebro, e seus axônios compreendem o trato corticobulbar 
(conectando-se ao tronco cerebral) e o trato corticoespinhal 
(conectando-se à medula espinhal). Neurônios motores 
inferiores, também referidos como neurônios motores alfa 
ou células do corno anterior, estão localizados nos núcleos 
motores no tronco cerebral ou na substância cinzenta 
anterior da medula espinhal. Seus axônios conectam aos 
músculos da região bulbar ou dos membros. Lesão no 
sistema do neurônio motor resulta na perda da função 
muscular voluntária que pode afetar o membro, bulbar, e / 
ou função respiratória, com os sintomas específicos 
dependendo de qual parte da via motora é afetada. 
Epidemiologia 
A prevalência ficou na faixa de 2,7 a 7,4 por 100.000 
(média 5,2 por 100.000) nos países ocidentais. 
Acredita-se que são diagnosticados, aproximadamente 
5.000 casos novos por ano da doença no mundo, isto é, 
13 por dia 
Um achado consistente em estudos é que existe um 
ligeiro predomínio masculino (razão M:F de 1,5:1) 
A idade média de início de ELA esporádica varia entre 
55 e 65 anos, com uma idade mediana de aparecimento 
aos 64 anos. Apenas 5% dos casos têm um início antes 
dos 30 anos, embora a forma juvenil esporádica venha 
sendo cada vez mais reconhecida. A forma bulbar de 
acometimento é a mais comum em mulheres e em 
grupos etários mais velhos 
A idade de início da ELA familiar é de cerca de uma 
década antes do que para os casos esporádicos, 
afetando homens e mulheres igualmente, e 
apresentando uma menor sobrevida. A ELA juvenil 
ocorre quando o acometimento acontece antes dos 30 
anos. A maioria dos casos apresenta herança 
autossômica recessiva, embora o padrão de herança 
dominante associada ao cromossomo 9q34 (ELA4, 
senataxin) tenha sido descrito. 
Embora a maioria dos casos de ELA seja esporádica, 
cerca de 5 a 10% dos casos têm história familiar (ELA 
familiar); destes, 20% têm uma mutação no gene 
SOD1 e cerca de 2 a 5% têm as mutações dos genes 
TARDBP (TDP-43), FUS, VCP, OPTN1 e ANG. 
**A mutação CORF72 é representada pela expansão do 
hexanucleotídio no cromossomo 9, sendo a forma mais 
prevalente de alteração gênica na ELA, representando 38% 
dos casos. 
**ELA padrão de herança autossômica dominante 
Locais específicos do Pacífico Ocidental apresental 
alta prevalência de ELA 
Fatores de risco 
Estão relacionados a algum risco para ELA: fatores 
dietéticos, lesão elétrica, história familiar de doença 
neurodegenerativa (doença de Parkinson ou doença de 
Alzheimer), residência geográfica (rural, suburbana ou 
urbana), serviço na Guerra do Golfo (veteranos 
masculinos), idade materna, número de nascimentos 
(em mulheres) e a ordem de nascimento, ocupação, 
atividade física, jogar futebol profissionalmente, 
infecção de poliomielite anterior, etnia, tabagismo, 
exposição a toxinas (produtos químicos agrícolas, 
conduzir), trauma (p. ex., lesão na cabeça), anos de 
educação. 
**Idade mais avançada, sexo masculino (relação 
homem/mulher ≈1,6:1) e suscetibilidade genética são 
os únicos fatores de risco comprovados 
Formas Clínicas 
**As características clínicas da ELA foram primeiramente 
descritas claramente como entidade clínico-patológica por 
Jean Martin Charcot, em 1869 
Os sintomas podem caracterizar uma síndrome 
relacionada ao neurônio motor superior ou inferior, 
achado típico da ELA. 
Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 
 
1. A disfunção do neurônio motor superior (DNMS) 
é caracterizada pela presença de fraqueza, reflexos 
tendíneos vivos e reflexos anormais. 
2. A disfunção do neurônio motor inferior (DNMI) é 
caracterizada pela presença de fraqueza, 
fasciculações, atrofia e atonia. 
3. A disfunção dos neurônios motores do tronco 
cerebral é caracterizada pela presença de disfagia e 
disartria. 
2/3 dos pacientes com ELA exibem a forma 
apendicular (clássica “forma de Charcot”): 
 Fraqueza muscular focal, com início dos 
sintomas podendo ser distal ou proximal 
(menos comum) nos membros superiores e 
membros inferiores. 
 Raramente, os pacientes podem notar atrofia 
antes do início da fraqueza, podendo 
apresentar espasticidade e perda de destreza. 
 Podem ser notadas fasciculações (espasmos 
musculares involuntários) ou cãibras anteriores 
ao aparecimento de fraqueza 
**A fraqueza geralmente tem início insidioso, e os 
pacientes podem notar que os sintomas são 
exacerbados por alterações térmicas. 
Embora sejam geralmente assimétricos de início, 
outros membros desenvolvem fraqueza e atrofia e, 
cedo ou tarde, a maioria dos pacientes passa a 
desenvolver sintomas bulbares e respiratórios (embora 
não necessariamente nessa sequência). Gradualmente, 
a espasticidade pode se desenvolver nos membros 
enfraquecidos e atróficos, afetando a destreza manual e 
a marcha. 
Às vezes, os sintomas encontrados incluem disfunção 
da bexiga, como urgência miccional, e sintomas de 
envolvimento de outros sítios do sistema nervoso 
central (SNC), por exemplo, demência frontotemporal 
e parkinsonismo. 
Os pacientes com DNM bulbar ou PBP geralmente 
apresentam disartria, disfonia ou disfagia, que, no 
início, pode ser aparente apenas depois da ingestão de 
uma pequena quantidade de líquidos. Os sintomas dos 
membros podem se desenvolver quase ao mesmo 
tempo que os sintomas bulbares e, na maioria dos 
casos, isso ocorre dentro de 1 a 2 anos. 
**Quase todos os pacientes com sintomas bulbares 
desenvolvem sialorreia (salivação excessiva) por conta da 
dificuldade de deglutir a saliva e pela fraqueza facial 
bilateral decorrente da lesão do neurônio motor central, 
que afeta a parte mais baixa da face. 
A apresentação pseudobulbar, com sintomas como 
labilidade emocional, choro e riso imotivados e bocejo 
excessivo, ocorre em um número significativo de casos 
na forma bulbar. 
Com a progressão da doença, os pacientes 
desenvolvem a característica combinação de sinais de 
envolvimento do NMS e do NMI, afetando territórios 
bulbar, cervicais, torácicos e lombares. Insuficiência 
respiratória e outras complicações pulmonares são 
causas comuns de morte em ELA. 
Fisiopatologia 
Toxicidade ambiental 
Os trabalhos epidemiológicos e, sobretudo, os 
experimentos com modelos animais têm permitido 
concluir que a doença está relacionada com a presença 
de algum fator genético, e a sua expressão clínica 
estaria relacionada com a exposição desse indivíduo, 
marcado geneticamente a algum fator, ou fatores, que 
funcionariam como gatilho para o desencadeamento do 
processo de degeneração do motoneurônio. Entre os 
gatilhos, destacam-se: processo inflamatório, 
exposição a agentes tóxicos (endógenos – do próprio 
indivíduo; ou exógenos – produtos do meio ambiente) 
e atividade física. 
Excitotoxidade 
A excitotoxicidade é considerada um importante 
mecanismo na causa da ELA, gerando a hipótese de 
um defeito na recaptação do glutamato pela célula da 
glia ou de um aumento da liberação dos terminais 
nervosos. Sob essas condições, a transmissão 
excitatória aumentada teria uma relação importante nos 
neurônios pré-sinápticos, levando a um 
comprometimento irreversível. 
Explicação: A atividade sináptica do neurônio motor é 
mediada pelo neurotransmissorexcitatório glutamato que 
atua sobre os seus receptores na membrana pós-sináptica. 
O neurônio motor apresenta quatro tipos de receptores de 
glutamato, sendo os mais importantes o AMPA e o NMDA, 
responsáveis pela sua atividade excitatória, que é regulada 
por subtipos de receptor denominados GLUR1 até GLUR6. 
Os receptores GLUR2 e GLUR 4 (responsáveis pelo 
controle do influxo de cálcio intracelular) estão reduzidos 
nos pacientes com ELA. O cálcio, íon fundamental para a 
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função das células, quando em excesso, causa morte 
celular. 
O glutamato é um aminoácido simples e age como o 
principal neurotransmissor excitatório no SNC. Ele 
desempenha um papel importante na transmissão rápida 
(resposta rápida ao estímulo) para a cognição, memória, 
movimento e sensação. Sua função excitatória, quando em 
excesso, causa despolarização da célula nervosa e ativação 
de enzimas digestivas, com subsequente edema da célula e, 
no final, a sua morte. O excesso de glutamato leva também 
à ativação de enzimas conhecidas como quinases ativadoras 
da mitogênese (MAPK), que provocam a fosforilação dos 
neurofilamentos do motoneurônio. Esses neurofilamentos 
fosforilados tendem a ser transportados mais lentamente e, 
assim, eles ficam acumulados no motoneurônio e 
contribuem para a sua degeneração. 
Receptores tipo 2 apresentam baixa permeabilidade ao 
cálcio, promovendo proteção contra a 
excitotoxicidade. 
O glutamato em excesso na fenda sináptica é 
transportado para o astrócito por um transportador de 
glutamato (EAAT2). Em pacientes com ELA, observa-
se uma diminuição desse transportador, permitindo-se 
uma ação continuada sobre o neurônio pós-sináptico. 
A glicina, um conhecido agente excitatório, presente 
com valores normais mais altos na medula espinal e no 
tronco cerebral, poderia explicar a vulnerabilidade 
maior dessas regiões à neurotoxicidade. Ela tem o 
poder de regular a transmissão de glutamato no 
receptor de NMDA, que tem uma ação excitatória, pela 
atuação no local da estricnina insensível no receptor. 
Explicação: Despolarização do terminal pré-sináptico após 
a chegada do potencial sináptico induz a entrada de cálcio e 
a fusão das vesículas, liberando glutamato na fenda 
sináptica. O glutamato ativa os receptores AMPA no 
neurônio pós-sináptico induzindo o influxo de sódio e a 
despolarização da membrana plasmática. A liberação de 
magnésio, normalmente bloqueando o receptor NMDA, leva 
à sua ativação e ao influxo de cálcio para dentro da célula. 
O glutamato é eliminado do meio extracelular por proteínas 
específicas localizadas nos astrócitos (GLT-1 e GLAST) e 
nos neurônios (EAAC1). Ele é, então, metabolizado à 
glutamina nas células gliais pela glutamina sintetase (GS), 
que é liberada e captada pelos neurônios. 
A recaptação alterada do glutamato induz ao acúmulo 
de glutamato, o qual resulta em morte celular. O 
influxo maciço de cálcio pela ativação excessiva dos 
receptores NMDA estimula diversas enzimas no 
interior da célula. O cálcio também induz a produção 
dos radicais livres, insuficiência mitocondrial e 
alteração nos lipídios, proteínas e DNA, contribuindo 
com o processo de morte celular. 
Estresse oxidativo 
Há indícios de que o motoneurônio apresente uma 
diminuição de capacidade de defesa contra o estresse 
oxidativo. Neurônios de pessoas idosas parecem ter um 
maior influxo de cálcio através dos canais de cálcio. É 
possível que o influxo de cálcio induzido pela ativação 
de receptor não NMDA possa aumentar com a idade, 
um fator que pode aumentar a lesão gradual de 
neurônios vulneráveis. 
Uma das maiores descobertas na ELA foi a 
identificação da forma familiar com a identificação de 
mutações na SOD1 (superóxido desmutase 
cobre/zinco). Esse achado é muito importante, uma vez 
que a maior função da SOD1 é de defesa antioxidante, 
com remoção de radicais tóxicos. Mutações na SOD1 
podem levar a uma alteração conformacional da 
enzima, permitindo que substratos aberrantes entrem 
no sítio ativo e reajam com o íon cobre, ocasionando 
um ganho de função tóxica. 
Fatores tróficos 
O fator de crescimento nervoso (NGF), o mais 
conhecido dos fatores neurotróficos, é uma molécula 
proteica específica que é sintetizada sobretudo em 
tecidos inervados por neurônios simpáticos e 
sensoriais. Liberado pelo órgão-alvo, o NGF é 
assimilado dentro de neurônios específicos por 
receptores próprios e é transportado retrogradamente 
no axônio para exercer seus efeitos fisiológicos e 
bioquímicos específicos no nível do núcleo. 
A deficiência de fatores tróficos transportados por 
fluxo axoplasmático anterógrado ou retrógrado teria 
uma implicação direta como causa de ELA. Além 
disso, defeitos no transporte axonal, uma função 
neuronal essencial, poderia causar alterações na 
densidade de elementos do citoesqueleto axonal, como 
neurofilamento (NF). O acúmulo de NF causa inchaço 
axonal, e a depleção de NF causa atrofia axonal. 
Inchaço axonal proximal que contém NF é uma 
característica da ELA. 
Disfunção mitocondrial 
A mitocôndria é uma organela intracelular, 
citoplasmática, constituída por uma dupla membrana 
com prolongamentos internos chamados cristas, sendo 
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responsável pela produção de energia por meio do 
mecanismo de fosforilação oxidativa, com produção de 
ATP para os mecanismos de funcionamento celular. 
Entre outras funções da mitocôndria, destaca-se a sua 
capacidade de tamponar o cálcio em excesso e de gerar 
as ROS. 
Anormalidades mitocondriais têm sido descritas em 
pacientes com ELA e em modelos animais. 
A lesão mitocondrial parece ser muito importante no 
processo que leva à destruição do motoneurônio, tanto 
nas formas familiares de ELA ligadas à mutação da 
SOD como nas formas esporádicas com excesso de 
glutamato. A mitocôndria pode ser lesada de várias 
formas, entre elas o acúmulo de cálcio intracelular 
(que leva à abertura de poros na membrana 
mitocondrial e perda da enzima COX) e de radicais 
livres. A lesão da mitocôndria contribui mais ainda 
para ativação de mediadores gênicos da morte celular 
programada (apoptose). 
Apoptose 
É o processo de morte celular programada, sendo o 
marco de muitas doenças neurodegenerativas, 
incluindo a ELA. 
Anormalidades do citoesqueleto 
O citoesqueleto constitui-se de: 
 Microtúbulos (proteínas de 24 nm de diâmetro) 
controlados pela expressão das proteínas MAP; 
MAP2 com expressão nos dendritos e Tau com 
expressão nos axônios, ambas com a função de 
promover a estabilidade; 
 Microfilamentos ou filamentos de actina (5 a 9 
nm), que direcionam o crescimento axonal e 
elaboração dendrítica; 
 Filamentos intermediários ou neurofilamentos que 
têm expressão especificamente relacionada ao 
tecido de atuação. 
Explicação: A constituição e a integridade do citoesqueleto 
e as interações proteicas do meio intra e extracelular são 
fatores primordiais para a manutenção de fluxo axonal 
adequado 
Por uma mesma via, ao mesmo tempo, há um fluxo 
anterógrado e outro retrógrado (fluxo bidirecional), ambos 
controlados por proteínas transportadoras. O fluxo 
anterógrado é controlado pela kinesina, que é subdividida 
em três componentes de transporte: rápido (vesículas e 
organelas), lento a (Sca) e lento b (Scb). O fluxo retrógrado 
é estabelecido pelo complexo proteico dineína/dinactina. 
A identificação de inibidores do transporte axonal e o 
perfeito balanço entre as proteínas transportadoras 
kinesina/dineína são essenciais para o controle das várias 
funções da célula, incluindo a integridade do citoesqueleto e 
a relação com outras proteínas. A expressão aumentada de 
periferina, um filamento proteico intermediário, 
ocasionando ativação microglial com posterior fosforilação 
e agregação proteica, tem sido relacionada com morte de 
motoneurônios em cultura celular. 
A alteraçãodo citoesqueleto com acúmulo de 
neurofilamentos no axônio e no corpo celular 
(agregados proteicos) representa achados 
característicos na forma familiar e esporádica da ELA. 
Agregação proteica 
Agregados proteicos, formados de proteínas mutantes 
enoveladas, são características comuns de várias 
doenças neurodegenerativas, mas ainda não há uma 
conclusão sobre se eles representam a causa primária 
da morte celular, se causam um efeito danoso à célula 
ou se eles são uma resposta da célula para se proteger 
de processos lesivos. 
A esclerose lateral amiotrófica é uma doença 
neurodegenerativa caracterizada pela agregação de 
proteínas ubiquitinadas em neurônios motores 
afetados. 
Explicação: As ubiquitinas, assim chamadas por serem 
onipresentes (formadas no citoplasma, as ubiquitinas 
espalham-se e circulam o tempo todo por todas as células 
dotadas de núcleo, com exceção das hemácias), funcionam 
como etiquetas que marcam quem deve morrer, e são 
essenciais no controle dos genes e das próprias células. 
Tudo no interior da célula é extremamente regulado. A 
limpeza inadequada acarreta acúmulo proteico, podendo 
ser o gerador das doenças degenerativas. 
Infecções viróticas 
Um agente viral é o causador direto da degeneração 
celular. Sugere-se que ELA pode ser consequência 
tardia de uma infecção subclínica de poliovírus 
(Poliomielite). 
Autoimunidade 
Em anos recentes, estudos imunológicos envolvendo 
ELA têm levado muitos autores a postularem uma 
causa autoimune para essa patologia. Há demonstração 
de infiltração da medula espinal por macrófagos e 
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linfócitos, além de indícios de ativação da micróglia e 
aumento da expressão de antígenos de 
histocompatibilidade em indivíduos com ELA/DNM. 
Vários autoanticorpos são encontrados na ELA, 
dirigidos contra canal de cálcio, neurofilamentos, 
antígenos neuronais, glicolipídios, gangliosídios, 
antígenos vasculares e proteínas musculares fetais. 
Alguns desses anticorpos são citotóxicos para 
motoneurônios in vitro, porém não se sabe se a 
alteração imune na ELA é um fator causal, um fator de 
propagação ou apenas um epifenômeno resultante da 
morte de motoneurônios. 
Diagnóstico 
O diagnóstico da ELA é essencialmente clínico, não 
havendo um exame específico. O diagnóstico requer a 
evidência de degeneração do neurônio motor inferior 
por exame clínico, eletrofisiológico ou 
neuropatológico; degeneração do neurônio motor 
superior por exame clínico; e disseminação progressiva 
dos sintomas ou sinais em uma região ou para outras 
regiões, conforme determinado pelo histórico ou 
exame. 
Além disso, o diagnóstico requer também a exclusão 
de outras causas potenciais para os achados conforme 
determinado por exame eletrofisiológico, 
neuroimaginologia e biópsia (se efetuada). 
Os critérios revisados de El Escorial e Awaji são 
critérios diagnósticos comuns usados para o 
diagnóstico clínico de ELA. É importante notar que 
estes são critérios de classificação e não uma medida 
da gravidade da doença. 
Esses critérios classificam os pacientes como tendo 
ELA definitiva, provável ou possível: 
: Evidência clínica ou ELA Definitiva
eletroneuromiografica de sinais do envolvimento do 
neurônio motor superior e inferior em 3 regiões ou 
mais. 
Sinais de NMS e NMI em duas regiões ELA Provável: 
(bulbar, cervical, torácica ou lombossacral) com algum 
sinal de NMS rostral aos sinais de NMI. 
ELA Provável Com Suporte Laboratorial (Apenas no 
 Sinais de NMS e NMI em 1 região ou El Escorial):
sinais de NMS ,em uma ou mais regiões, associadas à 
evidência de denervação aguda na 
eletroneuromiografia (ENMG) em 2 ou mais 
segmentos. 
Evidência clínica ou ELA Possível: 
eletroneuromiografica de sinais do envolvimento do 
neurônio motor superior e inferior em 1 região (bulbar, 
cervical, torácica ou lombossacral); OU isoladamente 
sinais do envolvimento do neurônios motor superior 
em ≥2 regiões; 
 
Sistemas que visam informar progressão e prognóstico 
da doença também foram propostos. 
O sistema de estadiamento do King classifica a ELA 
no estágio 1- início dos sintomas (envolvimento da 
primeira região); estágio 2A, diagnóstico; estágio 2B, 
envolvimento da segunda região; estágio 3, 
envolvimento da terceira região; estágio 4A, 
necessidade de gastrostomia; e estágio 4B, necessidade 
de ventilação não invasiva. 
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O sistema de estadiamento Milano-Torino começa no 
estágio 0 com sintomas, mas sem perda de 
independência e inclui os estágios 1 a 4 para perda de 
independência em um número de domínios derivados 
da escala de avaliação funcional ELA - revisada 
(ALSFRS-R) (deglutição, caminhada / autocuidado, 
comunicação e respiração); e o estágio 5 representa a 
morte. 
Exames solicitados para o diagnóstico de ELA 
Hemograma, velocidade de hemossedimentação 
(VHS), painel bioquímico geral, exame de urina, 
creatinofosfoquinase (CPK), aldolase, anticorpo 
antirreceptor de acetilcolina, anticorpos 
antigangliosídio (GM1, Asialo GM1, GD1B), 
eletroforese de proteínas, dosagem de imunoglobulinas 
(IgA, IgG, IgM), perfil reumatológico, vitamina B12, 
folato, marcadores tumorais (alfafetoproteína, antígeno 
carcinoembrionário [CEA], CA 15.3, CA19.9, CA 125, 
antígeno prostático específico [PSA], HU). 
Avaliação sistêmica 
1. Endócrina: tireoide, paratireoide, testosterona, 
hepática. 
2. Infecciosa: reação sorológica (sífilis, Lyme, HIV, 
HTLV-1 e 2, hepatites B e C). 
3. Tóxica: metais pesados (chumbo, mercúrio, 
alumínio, zinco, cobre). 
4. Avaliação enzimática: hexosaminidase A/B. 
5. LCR: eletroforese de proteínas, citologia, 
bioquímica, dosagem específica de globulinas, reações 
imunológicas, pesquisa de células neoplásicas. 
6. Biópsia muscular, biópsia de medula óssea. 
7. Exames de imagem: RM encefálica, de coluna. 
8. Avaliação de DNA: SOD1, VAPB, C9ORF72, 
sequenciamento genético, se necessário. 
9. Doença de Kennedy (expansão de trinucleotídio 
GCC no cromossomo X). 
Imagem 
A neurocondução nervosa Eletroneuromiografia: 
sensitiva apresenta-se normal e a motora encontra-se 
normal ou reduzida. 
A ENMG deve demonstrar sinais de desnervação ativa 
(potenciais de fibrilação e ondas agudas positivas) 
juntamente com desnervação crônica em vários 
miotomos. 
Devemos lembrar que as respostas motoras são 
frequentemente preservadas em ELA precoce ou 
lentamente progressiva por causa do surgimento 
colateral dos neurônios motores restantes. 
 RM de encéfalo e junção craniocervical para RM:
demonstrar ausência de lesão estrutural que expliquem 
os sintomas. 
A perda dos neurônios motores corticais resulta em 
adelgaçamento dos tratos corticospinais que seguem o 
seu trajeto pela cápsula interna. 
Imagem de ressonância magnética (RM) axial em T2 
dos ventrículos laterais do cérebro, revelando sinal 
hiperintenso anormal dentro dos tratos corticospinais 
(setas). Esse achado na RM representa aumento do 
conteúdo de água nos tratos de mielina, que estão 
sofrendo degeneração walleriana secundária à perda de 
neurônios motores corticais. Apesar desse achado está 
comumente presente na ELA, ele não é específico, e 
também pode ser visto na encefalopatia relacionada 
com Aids, infarto ou outras entidades patológicas que 
produzem perda neuronal corticospinal em distribuição 
simétrica. 
Tratamento 
Tratamento sintomático 
Tratamentos sintomáticos visam a melhorar a 
qualidade de vida dos pacientes e cuidadores. Os 
principais sintomas encontrados na ELA e sua 
administração são mostrados na Tabela 65.3. 
 
 
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Terapias Modificadoras da Doença 
Apenas dois agentes modificadores da doença estão 
disponíveis e ambos têm efeitos modestos sobre os 
resultados da doença. 
Riluzol, um inibidor da transmissão neuronal 
glutamatérgica, foi aprovado pela primeiravez em 
1995 após ter demonstrando um aumento de 12% na 
sobrevida de 1 ano em indivíduos tratados com 50 mg 
2 vezes ao dia em comparação com indivíduos tratados 
com placebo. Estudos repetidos com o riluzol 
demonstrou consistentemente um benefício modesto 
de sobrevivência com média 3 meses. 
Edaravone, que é um eliminador de radical livre, 
administrado por via intravenosa, que reduz o estresse 
oxidativo no contexto de lesão celular, foi aprovado 
em 2017 com base em um pequeno estudo de pacientes 
japoneses com ELA rapidamente progressiva. Nesta 
população, uma redução de 33% no declínio funcional 
avaliado a partir da Escala Funcional da ELA-
Revisada, foi vista ao longo do curso de 6 meses. 
Cuidados Voltados aos pacientes com ELA 
Pacientes que recebem cuidados multidisciplinares 
relatam melhor qualidade de vida e sobrevida mais 
longa e pacientes recebendo ventilação não invasiva 
precoce têm declínio mais lento na fraqueza 
respiratória e sobrevivência prolongada em 
comparação com os não tratadas. Em uma situação 
ideal pacientes com ELA teria avaliação 
multidisciplinar a cada 3 meses, na qual o índice de 
massa corporal e a capacidade vital forçada é 
cuidadosamente monitorada. Recomendações sobre 
nutrição, uso de equipamentos e dispositivos de 
mobilidade e intervenções respiratórias deve ser 
discutido e o suporte oferecido aos pacientes e 
cuidadores.

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