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Carolina Lucchesi | Medicina UNIT A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa rara, caracterizada pela paralisia progressiva da musculatura voluntária refletindo a degeneração dos neurônios motores no córtex motor primário, vias corticoespinais, tronco cerebral e medula espinal. ELA, doença do neurônio motor (DNM), doença de Charcot e doença de Lou Gehrig são nomes utilizados para caracterizar a doença pelo mundo. Comumente, a ELA é um termo usado para designar um espectro de síndromes neurodegenerativas Explicação: O sistema de neurônios motores é composto por neurônios motores superiores e inferiores. Os neurônios motores superiores residem no córtex motor primário do cérebro, e seus axônios compreendem o trato corticobulbar (conectando-se ao tronco cerebral) e o trato corticoespinhal (conectando-se à medula espinhal). Neurônios motores inferiores, também referidos como neurônios motores alfa ou células do corno anterior, estão localizados nos núcleos motores no tronco cerebral ou na substância cinzenta anterior da medula espinhal. Seus axônios conectam aos músculos da região bulbar ou dos membros. Lesão no sistema do neurônio motor resulta na perda da função muscular voluntária que pode afetar o membro, bulbar, e / ou função respiratória, com os sintomas específicos dependendo de qual parte da via motora é afetada. Epidemiologia A prevalência ficou na faixa de 2,7 a 7,4 por 100.000 (média 5,2 por 100.000) nos países ocidentais. Acredita-se que são diagnosticados, aproximadamente 5.000 casos novos por ano da doença no mundo, isto é, 13 por dia Um achado consistente em estudos é que existe um ligeiro predomínio masculino (razão M:F de 1,5:1) A idade média de início de ELA esporádica varia entre 55 e 65 anos, com uma idade mediana de aparecimento aos 64 anos. Apenas 5% dos casos têm um início antes dos 30 anos, embora a forma juvenil esporádica venha sendo cada vez mais reconhecida. A forma bulbar de acometimento é a mais comum em mulheres e em grupos etários mais velhos A idade de início da ELA familiar é de cerca de uma década antes do que para os casos esporádicos, afetando homens e mulheres igualmente, e apresentando uma menor sobrevida. A ELA juvenil ocorre quando o acometimento acontece antes dos 30 anos. A maioria dos casos apresenta herança autossômica recessiva, embora o padrão de herança dominante associada ao cromossomo 9q34 (ELA4, senataxin) tenha sido descrito. Embora a maioria dos casos de ELA seja esporádica, cerca de 5 a 10% dos casos têm história familiar (ELA familiar); destes, 20% têm uma mutação no gene SOD1 e cerca de 2 a 5% têm as mutações dos genes TARDBP (TDP-43), FUS, VCP, OPTN1 e ANG. **A mutação CORF72 é representada pela expansão do hexanucleotídio no cromossomo 9, sendo a forma mais prevalente de alteração gênica na ELA, representando 38% dos casos. **ELA padrão de herança autossômica dominante Locais específicos do Pacífico Ocidental apresental alta prevalência de ELA Fatores de risco Estão relacionados a algum risco para ELA: fatores dietéticos, lesão elétrica, história familiar de doença neurodegenerativa (doença de Parkinson ou doença de Alzheimer), residência geográfica (rural, suburbana ou urbana), serviço na Guerra do Golfo (veteranos masculinos), idade materna, número de nascimentos (em mulheres) e a ordem de nascimento, ocupação, atividade física, jogar futebol profissionalmente, infecção de poliomielite anterior, etnia, tabagismo, exposição a toxinas (produtos químicos agrícolas, conduzir), trauma (p. ex., lesão na cabeça), anos de educação. **Idade mais avançada, sexo masculino (relação homem/mulher ≈1,6:1) e suscetibilidade genética são os únicos fatores de risco comprovados Formas Clínicas **As características clínicas da ELA foram primeiramente descritas claramente como entidade clínico-patológica por Jean Martin Charcot, em 1869 Os sintomas podem caracterizar uma síndrome relacionada ao neurônio motor superior ou inferior, achado típico da ELA. Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1. A disfunção do neurônio motor superior (DNMS) é caracterizada pela presença de fraqueza, reflexos tendíneos vivos e reflexos anormais. 2. A disfunção do neurônio motor inferior (DNMI) é caracterizada pela presença de fraqueza, fasciculações, atrofia e atonia. 3. A disfunção dos neurônios motores do tronco cerebral é caracterizada pela presença de disfagia e disartria. 2/3 dos pacientes com ELA exibem a forma apendicular (clássica “forma de Charcot”): Fraqueza muscular focal, com início dos sintomas podendo ser distal ou proximal (menos comum) nos membros superiores e membros inferiores. Raramente, os pacientes podem notar atrofia antes do início da fraqueza, podendo apresentar espasticidade e perda de destreza. Podem ser notadas fasciculações (espasmos musculares involuntários) ou cãibras anteriores ao aparecimento de fraqueza **A fraqueza geralmente tem início insidioso, e os pacientes podem notar que os sintomas são exacerbados por alterações térmicas. Embora sejam geralmente assimétricos de início, outros membros desenvolvem fraqueza e atrofia e, cedo ou tarde, a maioria dos pacientes passa a desenvolver sintomas bulbares e respiratórios (embora não necessariamente nessa sequência). Gradualmente, a espasticidade pode se desenvolver nos membros enfraquecidos e atróficos, afetando a destreza manual e a marcha. Às vezes, os sintomas encontrados incluem disfunção da bexiga, como urgência miccional, e sintomas de envolvimento de outros sítios do sistema nervoso central (SNC), por exemplo, demência frontotemporal e parkinsonismo. Os pacientes com DNM bulbar ou PBP geralmente apresentam disartria, disfonia ou disfagia, que, no início, pode ser aparente apenas depois da ingestão de uma pequena quantidade de líquidos. Os sintomas dos membros podem se desenvolver quase ao mesmo tempo que os sintomas bulbares e, na maioria dos casos, isso ocorre dentro de 1 a 2 anos. **Quase todos os pacientes com sintomas bulbares desenvolvem sialorreia (salivação excessiva) por conta da dificuldade de deglutir a saliva e pela fraqueza facial bilateral decorrente da lesão do neurônio motor central, que afeta a parte mais baixa da face. A apresentação pseudobulbar, com sintomas como labilidade emocional, choro e riso imotivados e bocejo excessivo, ocorre em um número significativo de casos na forma bulbar. Com a progressão da doença, os pacientes desenvolvem a característica combinação de sinais de envolvimento do NMS e do NMI, afetando territórios bulbar, cervicais, torácicos e lombares. Insuficiência respiratória e outras complicações pulmonares são causas comuns de morte em ELA. Fisiopatologia Toxicidade ambiental Os trabalhos epidemiológicos e, sobretudo, os experimentos com modelos animais têm permitido concluir que a doença está relacionada com a presença de algum fator genético, e a sua expressão clínica estaria relacionada com a exposição desse indivíduo, marcado geneticamente a algum fator, ou fatores, que funcionariam como gatilho para o desencadeamento do processo de degeneração do motoneurônio. Entre os gatilhos, destacam-se: processo inflamatório, exposição a agentes tóxicos (endógenos – do próprio indivíduo; ou exógenos – produtos do meio ambiente) e atividade física. Excitotoxidade A excitotoxicidade é considerada um importante mecanismo na causa da ELA, gerando a hipótese de um defeito na recaptação do glutamato pela célula da glia ou de um aumento da liberação dos terminais nervosos. Sob essas condições, a transmissão excitatória aumentada teria uma relação importante nos neurônios pré-sinápticos, levando a um comprometimento irreversível. Explicação: A atividade sináptica do neurônio motor é mediada pelo neurotransmissorexcitatório glutamato que atua sobre os seus receptores na membrana pós-sináptica. O neurônio motor apresenta quatro tipos de receptores de glutamato, sendo os mais importantes o AMPA e o NMDA, responsáveis pela sua atividade excitatória, que é regulada por subtipos de receptor denominados GLUR1 até GLUR6. Os receptores GLUR2 e GLUR 4 (responsáveis pelo controle do influxo de cálcio intracelular) estão reduzidos nos pacientes com ELA. O cálcio, íon fundamental para a Carolina Lucchesi | Medicina UNIT função das células, quando em excesso, causa morte celular. O glutamato é um aminoácido simples e age como o principal neurotransmissor excitatório no SNC. Ele desempenha um papel importante na transmissão rápida (resposta rápida ao estímulo) para a cognição, memória, movimento e sensação. Sua função excitatória, quando em excesso, causa despolarização da célula nervosa e ativação de enzimas digestivas, com subsequente edema da célula e, no final, a sua morte. O excesso de glutamato leva também à ativação de enzimas conhecidas como quinases ativadoras da mitogênese (MAPK), que provocam a fosforilação dos neurofilamentos do motoneurônio. Esses neurofilamentos fosforilados tendem a ser transportados mais lentamente e, assim, eles ficam acumulados no motoneurônio e contribuem para a sua degeneração. Receptores tipo 2 apresentam baixa permeabilidade ao cálcio, promovendo proteção contra a excitotoxicidade. O glutamato em excesso na fenda sináptica é transportado para o astrócito por um transportador de glutamato (EAAT2). Em pacientes com ELA, observa- se uma diminuição desse transportador, permitindo-se uma ação continuada sobre o neurônio pós-sináptico. A glicina, um conhecido agente excitatório, presente com valores normais mais altos na medula espinal e no tronco cerebral, poderia explicar a vulnerabilidade maior dessas regiões à neurotoxicidade. Ela tem o poder de regular a transmissão de glutamato no receptor de NMDA, que tem uma ação excitatória, pela atuação no local da estricnina insensível no receptor. Explicação: Despolarização do terminal pré-sináptico após a chegada do potencial sináptico induz a entrada de cálcio e a fusão das vesículas, liberando glutamato na fenda sináptica. O glutamato ativa os receptores AMPA no neurônio pós-sináptico induzindo o influxo de sódio e a despolarização da membrana plasmática. A liberação de magnésio, normalmente bloqueando o receptor NMDA, leva à sua ativação e ao influxo de cálcio para dentro da célula. O glutamato é eliminado do meio extracelular por proteínas específicas localizadas nos astrócitos (GLT-1 e GLAST) e nos neurônios (EAAC1). Ele é, então, metabolizado à glutamina nas células gliais pela glutamina sintetase (GS), que é liberada e captada pelos neurônios. A recaptação alterada do glutamato induz ao acúmulo de glutamato, o qual resulta em morte celular. O influxo maciço de cálcio pela ativação excessiva dos receptores NMDA estimula diversas enzimas no interior da célula. O cálcio também induz a produção dos radicais livres, insuficiência mitocondrial e alteração nos lipídios, proteínas e DNA, contribuindo com o processo de morte celular. Estresse oxidativo Há indícios de que o motoneurônio apresente uma diminuição de capacidade de defesa contra o estresse oxidativo. Neurônios de pessoas idosas parecem ter um maior influxo de cálcio através dos canais de cálcio. É possível que o influxo de cálcio induzido pela ativação de receptor não NMDA possa aumentar com a idade, um fator que pode aumentar a lesão gradual de neurônios vulneráveis. Uma das maiores descobertas na ELA foi a identificação da forma familiar com a identificação de mutações na SOD1 (superóxido desmutase cobre/zinco). Esse achado é muito importante, uma vez que a maior função da SOD1 é de defesa antioxidante, com remoção de radicais tóxicos. Mutações na SOD1 podem levar a uma alteração conformacional da enzima, permitindo que substratos aberrantes entrem no sítio ativo e reajam com o íon cobre, ocasionando um ganho de função tóxica. Fatores tróficos O fator de crescimento nervoso (NGF), o mais conhecido dos fatores neurotróficos, é uma molécula proteica específica que é sintetizada sobretudo em tecidos inervados por neurônios simpáticos e sensoriais. Liberado pelo órgão-alvo, o NGF é assimilado dentro de neurônios específicos por receptores próprios e é transportado retrogradamente no axônio para exercer seus efeitos fisiológicos e bioquímicos específicos no nível do núcleo. A deficiência de fatores tróficos transportados por fluxo axoplasmático anterógrado ou retrógrado teria uma implicação direta como causa de ELA. Além disso, defeitos no transporte axonal, uma função neuronal essencial, poderia causar alterações na densidade de elementos do citoesqueleto axonal, como neurofilamento (NF). O acúmulo de NF causa inchaço axonal, e a depleção de NF causa atrofia axonal. Inchaço axonal proximal que contém NF é uma característica da ELA. Disfunção mitocondrial A mitocôndria é uma organela intracelular, citoplasmática, constituída por uma dupla membrana com prolongamentos internos chamados cristas, sendo Carolina Lucchesi | Medicina UNIT responsável pela produção de energia por meio do mecanismo de fosforilação oxidativa, com produção de ATP para os mecanismos de funcionamento celular. Entre outras funções da mitocôndria, destaca-se a sua capacidade de tamponar o cálcio em excesso e de gerar as ROS. Anormalidades mitocondriais têm sido descritas em pacientes com ELA e em modelos animais. A lesão mitocondrial parece ser muito importante no processo que leva à destruição do motoneurônio, tanto nas formas familiares de ELA ligadas à mutação da SOD como nas formas esporádicas com excesso de glutamato. A mitocôndria pode ser lesada de várias formas, entre elas o acúmulo de cálcio intracelular (que leva à abertura de poros na membrana mitocondrial e perda da enzima COX) e de radicais livres. A lesão da mitocôndria contribui mais ainda para ativação de mediadores gênicos da morte celular programada (apoptose). Apoptose É o processo de morte celular programada, sendo o marco de muitas doenças neurodegenerativas, incluindo a ELA. Anormalidades do citoesqueleto O citoesqueleto constitui-se de: Microtúbulos (proteínas de 24 nm de diâmetro) controlados pela expressão das proteínas MAP; MAP2 com expressão nos dendritos e Tau com expressão nos axônios, ambas com a função de promover a estabilidade; Microfilamentos ou filamentos de actina (5 a 9 nm), que direcionam o crescimento axonal e elaboração dendrítica; Filamentos intermediários ou neurofilamentos que têm expressão especificamente relacionada ao tecido de atuação. Explicação: A constituição e a integridade do citoesqueleto e as interações proteicas do meio intra e extracelular são fatores primordiais para a manutenção de fluxo axonal adequado Por uma mesma via, ao mesmo tempo, há um fluxo anterógrado e outro retrógrado (fluxo bidirecional), ambos controlados por proteínas transportadoras. O fluxo anterógrado é controlado pela kinesina, que é subdividida em três componentes de transporte: rápido (vesículas e organelas), lento a (Sca) e lento b (Scb). O fluxo retrógrado é estabelecido pelo complexo proteico dineína/dinactina. A identificação de inibidores do transporte axonal e o perfeito balanço entre as proteínas transportadoras kinesina/dineína são essenciais para o controle das várias funções da célula, incluindo a integridade do citoesqueleto e a relação com outras proteínas. A expressão aumentada de periferina, um filamento proteico intermediário, ocasionando ativação microglial com posterior fosforilação e agregação proteica, tem sido relacionada com morte de motoneurônios em cultura celular. A alteraçãodo citoesqueleto com acúmulo de neurofilamentos no axônio e no corpo celular (agregados proteicos) representa achados característicos na forma familiar e esporádica da ELA. Agregação proteica Agregados proteicos, formados de proteínas mutantes enoveladas, são características comuns de várias doenças neurodegenerativas, mas ainda não há uma conclusão sobre se eles representam a causa primária da morte celular, se causam um efeito danoso à célula ou se eles são uma resposta da célula para se proteger de processos lesivos. A esclerose lateral amiotrófica é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela agregação de proteínas ubiquitinadas em neurônios motores afetados. Explicação: As ubiquitinas, assim chamadas por serem onipresentes (formadas no citoplasma, as ubiquitinas espalham-se e circulam o tempo todo por todas as células dotadas de núcleo, com exceção das hemácias), funcionam como etiquetas que marcam quem deve morrer, e são essenciais no controle dos genes e das próprias células. Tudo no interior da célula é extremamente regulado. A limpeza inadequada acarreta acúmulo proteico, podendo ser o gerador das doenças degenerativas. Infecções viróticas Um agente viral é o causador direto da degeneração celular. Sugere-se que ELA pode ser consequência tardia de uma infecção subclínica de poliovírus (Poliomielite). Autoimunidade Em anos recentes, estudos imunológicos envolvendo ELA têm levado muitos autores a postularem uma causa autoimune para essa patologia. Há demonstração de infiltração da medula espinal por macrófagos e Carolina Lucchesi | Medicina UNIT linfócitos, além de indícios de ativação da micróglia e aumento da expressão de antígenos de histocompatibilidade em indivíduos com ELA/DNM. Vários autoanticorpos são encontrados na ELA, dirigidos contra canal de cálcio, neurofilamentos, antígenos neuronais, glicolipídios, gangliosídios, antígenos vasculares e proteínas musculares fetais. Alguns desses anticorpos são citotóxicos para motoneurônios in vitro, porém não se sabe se a alteração imune na ELA é um fator causal, um fator de propagação ou apenas um epifenômeno resultante da morte de motoneurônios. Diagnóstico O diagnóstico da ELA é essencialmente clínico, não havendo um exame específico. O diagnóstico requer a evidência de degeneração do neurônio motor inferior por exame clínico, eletrofisiológico ou neuropatológico; degeneração do neurônio motor superior por exame clínico; e disseminação progressiva dos sintomas ou sinais em uma região ou para outras regiões, conforme determinado pelo histórico ou exame. Além disso, o diagnóstico requer também a exclusão de outras causas potenciais para os achados conforme determinado por exame eletrofisiológico, neuroimaginologia e biópsia (se efetuada). Os critérios revisados de El Escorial e Awaji são critérios diagnósticos comuns usados para o diagnóstico clínico de ELA. É importante notar que estes são critérios de classificação e não uma medida da gravidade da doença. Esses critérios classificam os pacientes como tendo ELA definitiva, provável ou possível: : Evidência clínica ou ELA Definitiva eletroneuromiografica de sinais do envolvimento do neurônio motor superior e inferior em 3 regiões ou mais. Sinais de NMS e NMI em duas regiões ELA Provável: (bulbar, cervical, torácica ou lombossacral) com algum sinal de NMS rostral aos sinais de NMI. ELA Provável Com Suporte Laboratorial (Apenas no Sinais de NMS e NMI em 1 região ou El Escorial): sinais de NMS ,em uma ou mais regiões, associadas à evidência de denervação aguda na eletroneuromiografia (ENMG) em 2 ou mais segmentos. Evidência clínica ou ELA Possível: eletroneuromiografica de sinais do envolvimento do neurônio motor superior e inferior em 1 região (bulbar, cervical, torácica ou lombossacral); OU isoladamente sinais do envolvimento do neurônios motor superior em ≥2 regiões; Sistemas que visam informar progressão e prognóstico da doença também foram propostos. O sistema de estadiamento do King classifica a ELA no estágio 1- início dos sintomas (envolvimento da primeira região); estágio 2A, diagnóstico; estágio 2B, envolvimento da segunda região; estágio 3, envolvimento da terceira região; estágio 4A, necessidade de gastrostomia; e estágio 4B, necessidade de ventilação não invasiva. Carolina Lucchesi | Medicina UNIT O sistema de estadiamento Milano-Torino começa no estágio 0 com sintomas, mas sem perda de independência e inclui os estágios 1 a 4 para perda de independência em um número de domínios derivados da escala de avaliação funcional ELA - revisada (ALSFRS-R) (deglutição, caminhada / autocuidado, comunicação e respiração); e o estágio 5 representa a morte. Exames solicitados para o diagnóstico de ELA Hemograma, velocidade de hemossedimentação (VHS), painel bioquímico geral, exame de urina, creatinofosfoquinase (CPK), aldolase, anticorpo antirreceptor de acetilcolina, anticorpos antigangliosídio (GM1, Asialo GM1, GD1B), eletroforese de proteínas, dosagem de imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM), perfil reumatológico, vitamina B12, folato, marcadores tumorais (alfafetoproteína, antígeno carcinoembrionário [CEA], CA 15.3, CA19.9, CA 125, antígeno prostático específico [PSA], HU). Avaliação sistêmica 1. Endócrina: tireoide, paratireoide, testosterona, hepática. 2. Infecciosa: reação sorológica (sífilis, Lyme, HIV, HTLV-1 e 2, hepatites B e C). 3. Tóxica: metais pesados (chumbo, mercúrio, alumínio, zinco, cobre). 4. Avaliação enzimática: hexosaminidase A/B. 5. LCR: eletroforese de proteínas, citologia, bioquímica, dosagem específica de globulinas, reações imunológicas, pesquisa de células neoplásicas. 6. Biópsia muscular, biópsia de medula óssea. 7. Exames de imagem: RM encefálica, de coluna. 8. Avaliação de DNA: SOD1, VAPB, C9ORF72, sequenciamento genético, se necessário. 9. Doença de Kennedy (expansão de trinucleotídio GCC no cromossomo X). Imagem A neurocondução nervosa Eletroneuromiografia: sensitiva apresenta-se normal e a motora encontra-se normal ou reduzida. A ENMG deve demonstrar sinais de desnervação ativa (potenciais de fibrilação e ondas agudas positivas) juntamente com desnervação crônica em vários miotomos. Devemos lembrar que as respostas motoras são frequentemente preservadas em ELA precoce ou lentamente progressiva por causa do surgimento colateral dos neurônios motores restantes. RM de encéfalo e junção craniocervical para RM: demonstrar ausência de lesão estrutural que expliquem os sintomas. A perda dos neurônios motores corticais resulta em adelgaçamento dos tratos corticospinais que seguem o seu trajeto pela cápsula interna. Imagem de ressonância magnética (RM) axial em T2 dos ventrículos laterais do cérebro, revelando sinal hiperintenso anormal dentro dos tratos corticospinais (setas). Esse achado na RM representa aumento do conteúdo de água nos tratos de mielina, que estão sofrendo degeneração walleriana secundária à perda de neurônios motores corticais. Apesar desse achado está comumente presente na ELA, ele não é específico, e também pode ser visto na encefalopatia relacionada com Aids, infarto ou outras entidades patológicas que produzem perda neuronal corticospinal em distribuição simétrica. Tratamento Tratamento sintomático Tratamentos sintomáticos visam a melhorar a qualidade de vida dos pacientes e cuidadores. Os principais sintomas encontrados na ELA e sua administração são mostrados na Tabela 65.3. Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Terapias Modificadoras da Doença Apenas dois agentes modificadores da doença estão disponíveis e ambos têm efeitos modestos sobre os resultados da doença. Riluzol, um inibidor da transmissão neuronal glutamatérgica, foi aprovado pela primeiravez em 1995 após ter demonstrando um aumento de 12% na sobrevida de 1 ano em indivíduos tratados com 50 mg 2 vezes ao dia em comparação com indivíduos tratados com placebo. Estudos repetidos com o riluzol demonstrou consistentemente um benefício modesto de sobrevivência com média 3 meses. Edaravone, que é um eliminador de radical livre, administrado por via intravenosa, que reduz o estresse oxidativo no contexto de lesão celular, foi aprovado em 2017 com base em um pequeno estudo de pacientes japoneses com ELA rapidamente progressiva. Nesta população, uma redução de 33% no declínio funcional avaliado a partir da Escala Funcional da ELA- Revisada, foi vista ao longo do curso de 6 meses. Cuidados Voltados aos pacientes com ELA Pacientes que recebem cuidados multidisciplinares relatam melhor qualidade de vida e sobrevida mais longa e pacientes recebendo ventilação não invasiva precoce têm declínio mais lento na fraqueza respiratória e sobrevivência prolongada em comparação com os não tratadas. Em uma situação ideal pacientes com ELA teria avaliação multidisciplinar a cada 3 meses, na qual o índice de massa corporal e a capacidade vital forçada é cuidadosamente monitorada. Recomendações sobre nutrição, uso de equipamentos e dispositivos de mobilidade e intervenções respiratórias deve ser discutido e o suporte oferecido aos pacientes e cuidadores.
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