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1 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 EPIDEMIOLOGIA Introdução à epidemiologia: Origem da epidemiologia: • Segundo Hipócrates “aquele que deseje compreender a ciência medica deve considerar os efeitos das estações do ano, as águas e suas origens, o modo de vida das populações”. • Hipócrates então começou a tentar racionalizar o motivo do porque as pessoas começavam a adoecer e desenvolver patologias, que antes eram fatos totalmente considerados místicos. • Dizia-se que deus castigava as pessoas que não o seguiam com doenças. • Em 1835, Pierre Louis esse medico resolver fazer um estudo sobre o tratamento da pneumonia. Usava-se na época como tratamento as sangrias, onde se cortava as pessoas para que elas sangrassem e assim as coisas ruins sairiam delas junto com o sangue. no entanto, Pierre observou que as pessoas que esperavam para realizar a sangria sobreviviam muito mais do que aquelas que as realizavam. Logo, chegou a conclusão de que sangria não era um bom tratamento. • William Farr em 1843 descreveu o comportamento das epidemias em curvas, na chamada Lei de Farr ou Lei das Epidemias. Essa se comportaria dessa maneira: • Em 1847 Ignaz que era ginecologista começou a observas que nos hospitais em que os estudantes de medicina examinavam as mulheres pós-parto essas morriam de infecções, dessa maneira chegou a conclusão da importância da higiene dos médicos para a saúde dos pacientes. • John Snow em 1854 foi considerado o pai da epidemiologia, ele mapeou Londres para entender onde as pessoas que haviam falecido por cólera moravam e aonde estavam a maior taxa de casos. Então concluiu que na região em que essa população vivia era onde uma empresa especifica abastecia de água. Conseguiu demonstrar então que a água dessa companhia que transmitia a bactéria da cólera. Logo conseguiu demonstrar que o problema era a água mesmo sem saber que a bactéria estava nela. • Em 1865 Louis Pasteur conseguiu identificar as bactérias, relacionar qual doenças cada uma causava, isolar elas com calor e outras técnicas. • A partir dai se iniciam muitos estudos acerca de doenças infecciosas. • Em 1954 Doll e Hill iniciaram estudos acerca da epidemiologia de outras doenças, como por exemplo as mortes por câncer de pulmão comparando fumantes e não fumantes e ai que se descobriu que esse é um grande agravante na doença e nas taxas de mortalidade pela mesma. • No final do século XIX e início do século XX o estudo de doenças era voltado para doenças transmissíveis infecciosas. • No início do século XX o estudo se abrange para o estudo de outros tipos de doenças. • A epidemiologia moderna hoje abrange as mais diversas áreas: hospitalar, comunitária, ambiental, ocupacional, social, clinica, nutricional, molecular, farmacológica, genética. • A epidemiologia se norteia em três princípios/pivôs principais: 2 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Conceito de epidemiologia: • O estudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados à saúde em populações especificas, e sua aplicação na prevenção e controle dos problemas de saúde. • Estudar o que causa e como se desencadeia os problemas de saúde na população e a partir disso nortear e estudar tratamentos possíveis de serem manejados para cada doença. • Epidemiologia não é só o estudo das doenças, mas sim o comportamento das pessoas (hábitos, tabagismo, alcoolismo), bem-estar, felicidade, qualidade de vida, acesso aos meios de saúde, então ela envolve muito mais do que somente o estudo das doenças propriamente ditos. Para que serve a epidemiologia? • Estudos sobre o estado de saúde das populações: estudar como está a transmissão de Coronavírus na população, por exemplo, estudando como esta a distribuição de uma patologia na população. Quais são os problemas de saúde que mais afetam a população, que mais possuem dificuldade de serem controlados. • História natural das doenças: é a evolução que uma doença tem se o ser humano não fizer nada a respeito. • Causalidade das doenças: são os fatores que causam as doenças, os agentes infecciosos e como os hábitos humanos podem interferir nessas causas. • Estudos sobre testes diagnósticos: testes rápidos e outros, qual o melhor para cada doença e assim por diante. • Estudos sobre tratamentos e outras intervenções: medidas preventivas, cuidados, melhores medicamentos e tratamentos e se esses são efetivos ou não para aumentar a saúde das populações. 3 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Epidemiologia e Saúde: O que são doenças transmissíveis? Uma doença transmissível (ou infecciosa) é aquela causada pela transmissão de um agente patogênico específico para um hospedeiro suscetível. Como ocorre a cadeia de infecção? Cadeia de infecção se da pela interação entre o agente infeccioso, o processo de transmissão, o hospedeiro e o ambiente em que tudo isso vai ocorrer, através dessa interação ocorreram as doenças infecciosas. Agente infeccioso: esse possui algumas características como: • Porta de entrada para infecções (nariz, mãos, saliva, sangue); • Fonte de infecção (fica na água, ar, objetos); • Reservatório do agente (onde os agentes ficam antes de estarem no organismo do hospedeiro); • Infectividade (capacidade que o agente tem de causar infecção); • Dose infectante (é a quantidade de agentes que a pessoa precisa se expor para ser contaminada. Quanto menor a dose infectante maior será a contagiosidade daquele agente); • Virulência (é a capacidade que o agente tem de gerar casos graves ou fatais). Patogenicidade: capacidade que o agente infeccioso tem de causar doença. A patogenicidade de um agente é estimada dividindo o numero de pessoas doentes pelo número de pessoas infectadas pelo agente. INFECÇÃO ≠ DOENÇA INFECCIOSA Infecção é quando um agente infeccioso invade o organismo de um indivíduo e se multiplica lá dentro, vive lá dentro. Já doença infecciosa é quando essa infecção faz com que o indivíduo tenha uma doença clínica, ou seja, sinais e sintomas. Processo de transmissão: a transmissão pode ocorrer de maneira direta ou indireta. EX: se eu encostar na mão de uma pessoa que espirrou e tem Coronavírus eu vou pegar a infecção (transmissão direta), já se eu encostar na mão de uma pessoa que tenha dengue ou hepatite eu não vou pegar a infecção, mas se eu for picada pelo mosquito ou compartilhar talheres eu irei pegar a infecção (transmissão indireta – precisa de um vetor ou veículo). Hospedeiro: Pessoa ou animal que proporciona um local adequado para que um agente infeccioso cresça e se multiplique em condições naturais. Esse hospedeiro vai possuir um período de incubação, um período de transmissibilidade, vai ter suscetibilidade e um determinado grau de resistência do hospedeiro. Ambiente: • Condições sanitárias; • Temperatura; • Poluição aérea; • Qualidade da água; • Fatores socioeconômicos: aglomeração e pobreza; • Entre outros. Doenças contagiosas: Doenças contagiosas são aquelas que podem ser transmitidas pelo toque, contato direto entre os seres humanos, sem a necessidade de um vetor ou veículo 4 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 interveniente. Todas doenças contagiosas se dão por transmissão direta. Todas doenças contagiosas são doenças transmissíveis, mas nem todas doenças transmissíveis são contagiosas. EX: piolho, sífilis, Coronavírus. Qual o impacto das doenças transmissíveis? As doenças transmissíveis são responsáveis por 14,2 milhões de óbitos a cada ano. Seis causas são responsáveis por cerca de metade das mortes prematuras (antes de chegar a expectativa de vida do país em que vive) e correspondema cerca de 80% dos óbitos por doenças infecciosas: 1. Infecção respiratória aguda (3,76 milhões); 2. HIV/AIDS (2,8 milhões); 3. Doenças diarreicas (1,7 milhão); 4. Tuberculose (1,6 milhão); 5. Malária (1 milhão); 6. Sarampo (0,8 milhão). Doenças epidêmicas e endêmicas: Epidemia: ocorrência de doença transmissível em uma região ou comunidade com um número de casos em excesso, em relação ao que normalmente seria esperado. Pode ocorrer por fonte comum (EX: cólera, a maioria das pessoas que faleceram por cólera foram contaminadas pela mesma água da determinada empresa. Salmonela pela maionese que tinha na festa e todo mundo comum.), é mais fácil de ser controlada pois é somente retirar a fonte de contagio. Ou pode ocorrer por contagio ou propagada que é mais difícil de ser controlada (EX: Coronavírus). Endemia: ocorrência de doença transmissível em uma área geográfica ou grupo populacional apresenta um padrão relativamente estável com elevada incidência ou prevalência. Quando essa doença ultrapassa a faixa esperada de casos pode vir a se tornar uma epidemia. EX: dengue no Estado do Acre. Infecções emergentes e reemergentes: Doenças emergentes são aquelas doenças que estão surgindo, as doenças novas, como a gripe aviaria e o Coronavírus, que surgiram e se tornaram grandes problemas de importância para a saúde pública. Já as doenças reemergentes são aquelas que existem a mais tempo e estavam controladas e ressurgiram, como por exemplo a sífilis e o sarampo. Qual o papel da epidemiologia nas doenças transmissíveis? A epidemiologia se desenvolveu a partir do estudo das doenças transmissíveis e tem aumentado a capacidade de controlar a dispersão das doenças transmissíveis através da vigilância, prevenção, quarentena e tratamento. Vigilância Epidemiológica: coleta, análise e interpretação sistemática de dados em saúde para o planejamento, implementação e avaliação das atividades em saúde pública. Os mecanismos de vigilância: notificação compulsória de algumas doenças, registros de doenças específicas (base populacional ou hospitalar), pesquisas populacionais repetidas ou contínuas, e agregação de dados. Os dados obtidos pela vigilância devem ser disseminados, permitindo a implementação de ações efetivas para a prevenção da doença. Doenças não transmissíveis: Doenças crônicas não transmissíveis: são doenças crônicas que não tem um agente infeccioso. EX: doenças cardiovasculares. Essas possuem a maior carga de morbidade e mortalidade no mundo. No Brasil: quase 75% das mortes (doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, câncer e diabetes). Além da mortalidade, têm elevado custo de tratamento e produzem limitações na qualidade de vida e no trabalho. Logo, é necessário a 5 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 adoção de políticas públicas de saúde para seu controle, com ênfase nos seus principais fatores de risco. Plano de enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis: ela é um plano feito em 2011 até 2022 e baseia no combate de quatro grupos de doenças crônicas não transmissíveis que são eles: • Doenças cardiovasculares; • Doenças pulmonares crônicas; • Câncer; • Diabetes. Além disso, esse plano possui foco em cuidar quatro fatores de risco que estão muito associadas a esse grupo de doenças que são: • Tabagismo; • Consumo nocivo de álcool; • Sedentarismo; • Alimentação inadequada. Por fim, analisam e sustentam três eixos prioritários: • Promoção da saúde; • Cuidado integral; • Vigilância. Transição epidemiológica e demográfica: A transição epidemiológica está acompanhando a mudança no perfil das doenças. Analisando um gráfico da ocorrência das doenças nos últimos anos se chega a conclusão de que houve uma diminuição da morbimortalidade por doenças transmissíveis e aumento da morbimortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, isso se dá através do estudo de transições epidemiológicas. Perfil de doenças e de mortalidade e efetividade dos cuidados em saúde. A transição demográfica é um conceito que descreve a dinâmica do crescimento populacional, decorrente dos avanços da medicina, urbanização, desenvolvimento de novas tecnologias, taxas de natalidade e outros fatores. Envelhecimento e crescimento populacional. 6 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Indicadores em saúde Os indicadores de saúde são os números que tentam quantificar saúde e doença em populações e períodos de tempo determinados. EX: numero de casos novos de COVID, numero total de casos de COVID, mortalidade por COVID, taxa de recuperação do COVID. Os indicadores de saúde são muito importantes para compreender o estado de saúde das populações e contribuem para o planejamento, gestão e avaliação das ações em saúde. Os indicadores são geralmente expressos em índices (números ou frações) ou taxas (proporção da população total; coeficientes como mortes por 100 mil). Os coeficientes (ou taxas) representam o “risco” de determinado evento ocorrer na população (que pode ser a população do país, estado, município, população de nascidos vivos, de mulheres, etc.) Índices: pode ser multidimensional – escore/ pontuação ou, razão entre duas quantias que expressem dimensões de natureza diferentes. EX: índice de massa corporal – peso altura (Quetelet); Glasgow (coma), Apgar, de autonomia etc. Características importantes de um indicador de saúde: • Validade: é capacidade do indicador em medir adequadamente o que se propõe a avaliar. • Confiabilidade: refere-se à reprodutibilidade da medida, ou seja, a capacidade de produzir resultados iguais ou muito semelhantes quando a aferição é repetida. • Magnitude: é importância do evento de saúde considerado no indicador para a saúde da população e/ou para a avaliação da eficácia dos cuidados em saúde. • Representatividade: refere-se à suficiência da quantidade de pessoas incluídas na amostra para caracterizar a população. • Operacionalidade: refere-se à utilidade do indicador em saúde, e à simplicidade e ao custo-benefício do processo de obtenção do indicador. Mortalidade: A lei de ferro da epidemiologia diz que todos que nascem, morrem. Por isso, o propósito da medicina não é evitar a morte por si só, mas evitar mortes, as doenças e o sofrimento que podem ser medicamente evitáveis. Vantagens de se estudar a mortalidade: • É um dos primeiros indicadores a ser estudado; • O indicador mais utilizado até os dias de hoje; • Morte é mais objetivamente definida que saúde/doença; • Cada óbito deve ser registrado. Desvantagens de se estudar mortalidade: • História incompleta da doença e seus determinantes; • Dificuldades no preenchimento do atestado de óbito; • Condições que raramente levam a óbito não são expressas; • Pouco útil para avaliações em curto/médio prazo. Principais indicadores de mortalidade: Mortalidade geral: é quantas pessoas morreram em um determinado período de tempo em um lugar especifico. SIM: Sistema de Informações sobre Mortalidade, é um programa criado pelo DATASUS para a obtenção regular de dados sobre mortalidade no país. A partir da criação do SIM foi possível a captação de dados sobre mortalidade, de forma abrangente, para subsidiar as diversas esferas de gestão na saúde pública. Abrange todo o país. Mortalidade proporcional por causa: é a quantidade de pessoas que morrem por causa de doenças, essas podem estar isoladas ou agrupadas. Quantos porcento das mortes foram causadas por uma doença ou um grupo de doenças específicas. 7 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 MORTALIDADE X LETALIDADE: Letalidade é quantos porcentos das pessoas que pegam a doença morrem, notétano por exemplo é uma letalidade muito alta quando não se pensa em vacinação. Mortalidade por sua vez é todas pessoas que morreram em uma determinada região, cidade, ou enfim e dessa porcentagem quantas morreram por uma doença especifica como tétano por exemplo. Expectativa de vida: é quantos anos se espera que uma pessoa viva em determinado lugar antes de morrer. Geralmente é calculado em cada país. A expectativa de vida esta diretamente relacionada com as condições da população, o aumento da saúde em relação a cura de doenças. Mortalidade materna: se refere ao número de óbitos relacionados à gestação, ao parto ou no puerpério por complicações geradas no parto. Esse indicador é importante porque se refere a pessoas que estão aumentando a população, logo traz consigo marcadores de saúde da população, assistência à saúde, entre outros. As principais causas que levam a mortalidade materna são: problemas nutricionais e problemas relacionados a infecções principalmente durante a gestação ou no momento do parto. SINASC: Sistema de Informação de Nascidos Vivos. SIM: Sistema de Informações sobre Mortalidade. OBS: para calcular o indicador de mortalidade materna se usa esses dois indicadores (SINASC e SIM) para realizar o cálculo. OBS: a mortalidade materna tem o problema de que mulheres que morrem durante a gestação e o feto morrer também, a mãe vai estar contada no numero de óbitos, mas o feto não vai estar no número de nascidos vivos. Mortalidade infantil: consiste na morte de crianças no primeiro ano de vida e é a base para calcular a taxa de mortalidade infantil, que consiste na mortalidade infantil observada durante um ano, referida ao número de nascidos vivos do mesmo período. Assim como na mortalidade materna se utilizam os indicadores SINASC e SIM para calcular. É um indicador tão importante que é utilizado no calculo de Índice de desenvolvimento humano (IDH) nos países. Ela pode ser dividida ainda em idades mais especificas: 8 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Morbidade: Em epidemiologia, morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento. Primeira coisa a ser analisada nesse indicador é a população que corre risco na doença que está em pauta. Algumas serão toda população, mas nem todas. Isso se chama de analisar a população em risco. EX: diabetes gestacional, somente mulheres em idade fértil podem ter esse risco, logo homens, crianças e mulheres na menopausa devem ser excluídas da conta. INCIDÊNCIA X PREVALÊNCIA: A prevalência mede a proporção de indivíduos em uma população que estão acometidos da doença em um determinado momento. Já a incidência refere-se ao numero de novos eventos ou casos novos que ocorrem em uma população de indivíduos em risco durante um determinado período de tempo. Quando se fala em incidência se fala em casos recentes, são casos muito novos e recentes, isso serve para se ter um controle da doença que está em progressão. Se fala da velocidade que está ocorrendo o aparecimento de novos casos. EX: Coronavírus, doenças agudas, doenças transmissíveis. Na prevalência se fala de todas pessoas que tiveram diagnostico. Vai entrar na conta todas pessoas que positivaram para determinada doença independente de quando. OBS: em casos de reinfecção, na prevalência ela conta como uma pessoa que teve ou não a doença, independente de quantas vezes. Já na incidência essa pessoa será contada quantas vezes ela reincidir com a doença. Quanto mais rápida as pessoas morrem em decorrência de uma doença, menor será a prevalência dessa doença, pois ela será excluída desses dados rapidamente. Doenças de duração curta, ou matam muito rápido ou curam muito rápido, terão menores prevalências. Já em compensação doenças com uma maior duração, que demoram mais para matar ou curar, essas terão uma maior prevalência, pois uma só pessoa ficara muito mais tempo “no copo” do que em relação a uma doença que mata ou cura muito rápido. Logo, em casos de doenças de curta duração, ou seja, que curam ou matam muito rápido, é melhor se basear pela incidência e não pela prevalência. 9 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 A prevalência aumenta quanto maior for a incidência e o tempo de duração da doença, seja para curar ou matar. Densidade de incidência: É um tipo especial de incidência muito usado em estudos que estão acompanhando uma população em risco, o surgimento de novos casos de uma doença. Densidade de Incidência fornece a estimativa do verdadeiro risco de adquirir uma doença a qualquer momento em dado tempo. EX: desde o inicio da pandemia se passaram 7 meses, eu sou uma pessoa que tem risco de pegar Coronavírus, no entanto não peguei, logo eu conto como 7 pessoas/mês. Ou seja, eu frequento determinado ugar e demorou 7 meses para a doença atingir lá. Já a minha amiga pegou Coronavírus depois de um mês da quarentena, logo ela conta como 1 pessoa/mês. Densidade de incidência para cada mês: N nº de casos durante o mês, dividido por N em risco durante o intervalo. EX: em agosto, 825 casos (pessoas) estiveram em risco no início do mês, e 800 no final. Em média, 812,5 crianças estiveram em risco durante o mês (800 delas contribuíram um mês e 25 contribuíram metade do mês). Ocorreram 25 casos em 812,5 pessoas em risco por mês – 0,03076 casos/pessoa-mês. Ou seja, 25/812,5/1 = 0,03076. Densidade de incidência inicial: N nº de casos desde o início, dividido por N em risco desde o início. EX: 200 casos ocorreram no final de agosto. 1000 casos (pessoas) estiveram em risco, no início de janeiro e, 800 no final de agosto. Em média, 900 pessoas estiveram em risco por 8 meses (800 delas contribuíram 8 meses e 200 contribuíram 4 meses). Ou seja, 200/900/8 meses = 0,0278 casos por pessoa-mês. Pessoa-tempo em risco: multiplica-se as pessoas que não ficaram doentes pelo numero de tempo que ela não ficou doente. 10 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Risco No sentido popular quando se fala em risco, geralmente é algo relacionado com perigo, ameaças que necessitam de atenção, seja na saúde, na vida em geral. Mas risco também pode ser falado no sentido de chances, possibilidades (EX: bolsa de valores). Quando se está falando da área de saúde em si, quando se fala de epidemiologia o risco adquire o conceito de: “É a probabilidade de ocorrência de um evento relacionado à saúde”. Existem três elementos que compõem o risco: ocorrência de doença/saúde/óbitos (numerador), população de referência (denominador) e período de tempo. OBS: o risco não precisa significar algo ruim, mas também pode significar algo positivo, como risco de ser feliz, o risco de conseguir tal coisa. Aplicações do risco na prática médica: Os epidemiologistas que atuam nessa área, eles têm condições de fazer previsões do futuro a partir de observações do passado. EX: A epidemiologia faz uma pesquisa em março sobre grupos de risco do Coronavírus, quais eram as pessoas que se encaixavam nesse grupo, se faz um estudo então de todas as características e desenvolvimento da doença nas pessoas que estavam precisando de mais ajuda ou acabavam vindo à óbito, a partir disso se faz a previsão do grupo de risco e como ele se manifesta. Toda essa previsão foi feita com um estudo iniciado a tempos que avalia todas as características. Isso tudo é feito com o objetivo de planejar intervenções preventivas e seleção de casos para maior vigilância. Além disso, uma incerteza mensurável se faz presente quando se fala em previsão de futuro, pois mesmo baseada em fatos e estudos,exceções sempre existem e vários fatores podem interferir nisso. O que são fatores de risco? Fator de risco é algo que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma doença. Fatores de risco são marcadores que visam a predizer a morbimortalidade futura, a partir da observação da ocorrência de eventos no passado em populações semelhantes. O objetivo da identificação dos fatores de risco é possibilitar intervenções preventivas. Uma pesquisa de fatores de risco é feita da seguinte forma: a população geral é dividida em dois grupos gerais, o grupo de população exposto aos fatores de risco e o grupo não exposto e com isso se vê a incidência de determinadas doenças. Como calcular riscos? Primeiro de tudo é feito um estudo para determinar o risco, para isso se utiliza uma determinada população (gestantes, crianças, mulheres, homens, professores, etc..). dentro dessa população vai ser observado pessoas que vão adoecer e pessoas que não vão adoecer. Qual o risco de desenvolver a doença em questão nessa população? Vale lembrar que dentro do grupo de população exposto aos fatores de risco vão existir expostos doentes e expostos não-doentes, assim como no grupo de população não exposto vão existir não expostos doentes e não expostos não doentes. Com isso no fim do estudo existiram grupos. Qual o risco de desenvolver a doença em questão no grupo dos expostos? 11 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Qual o risco de desenvolver a doença em questão no grupo dos não expostos? Qual o risco adicional de desenvolver a doença em questão após a exposição? Calculo feito para o grupo de população exposto: Calculo feito para o grupo de população não exposto: Quantas vezes mais provável é as pessoas expostas desenvolverem a doença em relação às não expostas? Quais as limitações para o uso do risco na prática médica? • Risco refere-se ao coletivo (refere-se ao grupo) – qual a aplicabilidade individual? • Vigilância médica, medicalização e culpabilização dos pacientes. • Desvalorização de evidências não numéricas. • Foco em evitar fatores que produzem doença ao invés de estimular fatores que promovem saúde. • Vulnerabilidade: síntese compreensiva das dimensões comportamentais, sociais e político-institucionais implicadas nas diferentes suscetibilidades de indivíduos e grupos populacionais a um agravo à saúde e suas consequências indesejáveis (sofrimento, limitação e morte). • Fatores de risco e causalidade? 12 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 causalidade O principal objetivo da epidemiologia é prevenir doenças e promover saúde. para que isso seja possível, é necessário conhecer as causas das doenças e agravos à saúde e as maneiras pelas quais podem ser modificados. O conceito de causa é fonte de muita controvérsia em epidemiologia. O processo pelo qual se faz ligação entre possíveis causas e seus desfechos é o principal tema da filosofia geral da ciência, e o conceito de causa tem diferentes significados em diferentes contextos. Conceito de causa: “A causa de uma doença ou agravo à saúde é um evento, condição, característica ou uma combinação desses fatores que desempenham um papel importante no desenvolvimento de um desfecho em saúde”. causa necessária: É aquela causa essencial para a ocorrência da doença, sem essa causa não é possível ocorrer a doença. EX: para que a pessoa tenha a doença causada pelo Coronavírus ela precisa ter contato com o vírus causador do COVID-19. EX: doenças infecciosas tem como causa essencial o agente causador da determinada doença, como a dengue pelo Aedes. Causa suficiente: É aquela causa que inevitavelmente produz a doença, é suficiente sozinha para produzir a doença. Envolve principalmente as causas genéticas. EX: Síndrome de Down, todas as pessoas que tem a trissomia do cromossomo 21 vão apresentar tal síndrome, essa alteração é causa suficiente para causas a síndrome. EX: fenilcetonúria, defeito congênito que é genético recessivo causado por problema em proteínas que vão acumular aminoácidos (fenilalanina) no organismo, o que por sua vez vai desencadear um odor de peixe podre na pessoa na tentativa de eliminar esse excesso de aminoácido nos fluidos corporais. E os fatores de risco? Fatores de risco não são nem suficientes nem necessários para a ocorrência de doenças!! Geralmente, fatores de risco são causas contribuintes, ou seja, colaboram para o aparecimento da doença. Fatores de risco não são necessários para causarem doenças: se fossem estaria sendo dito que para uma pessoa ter infarto agudo do miocárdio ela necessariamente precisa ser tabagista. Fatores de risco não são suficientes para a ocorrência de doenças: se fosse suficiente todas pessoas tabagistas teriam de infarto agudo do miocárdio. Causa única – Postulado de Koch: Esse postulado foi desenvolvido para explicar quando que vai ser determinado que aquele agente especifico é o agente causal de alguma doença clínica. Essa teoria diz que: • O organismo precisa estar presente em todos os casos de doença; • O organismo precisa ser isolado e cultivado em uma cultura pura; • O organismo precisa causar uma doença especifica quando inoculado em um animal; • O organismo precisa então ser recuperado do animal e identificado. Essa foi uma das primeiras teorias de determinação das causas da doença. O primeiro microrganismo que conseguiu cumprir esses 4 critérios foi o Antraz, atualmente o mais conhecido a cumprir é o da tuberculose. Múltiplas causas: As doenças, especialmente as doenças crônicas não transmissíveis são aquelas chamadas de multicausais, ou seja, são muitas causas que interferem no fato da pessoa ter aquela determinada doença, é uma rede de causas, uma hierarquia causal. 13 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Essas causa e fatores interagem entre si para desencadear uma única doença em questão. Inferência causal – Critérios de Hill: Inferência causal é dizer que determinada coisa é causa da outra e para dizer isso são necessários os critérios de Hill. A doença deve respeitar esses critérios. 14 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Delineamentos epidemiológicos É a maneira, o caminho do qual o pesquisador escolhe conduzir sua pesquisa. E essas maneiras de conduzir a pesquisa são os chamados delineamentos epidemiológicos. Existem pesquisas qualitativas e quantitativas. Nas pesquisas qualitativas é avaliado a qualidade do que a pessoa diz, enquanto a pesquisa quantitativa se baseia em números (quantas pessoas gostaram do EAD, por exemplo), mas não vai mais afundo disso. A pesquisa qualitativa não faz parte dos delineamentos epidemiológicos, a epidemiologia lida diretamente com pesquisas quantitativas. A maioria dos estudos são estudos observacionais, onde não ocorre a intervenção do pesquisador. • Modo de exposição: distingue os estudos de observação e de intervenção (ou de experimentação); • Propósito geral: distingue os estudos descritivos (só descrevem como está a situação, mas não explicam o porquê) e os analíticos (tentam explicar os porquês, tentam encontrar exposição e desfecho); • Direção temporal: distingue os estudos prospectivos (estudos de coorte), retrospectivos (estudos de caso controle) e transversais; • Unidade de observação: unidade indivíduo ou um grupo de indivíduos (estudo ecológico somente). Estudos de intervenção (estudos experimentais): O pesquisador traz as pessoas para o laboratório e oferece para essas pessoas uma intervenção (remédios, vacinas, exercícios físicos),ou seja, o pesquisador faz uma intervenção direta nos participantes da pesquisa. Ensaio clinico randomizado: Estudo que seleciona os indivíduos e os divide em dois grupos aleatoriamente, um dos quais recebe a intervenção (o experimental) e outro que não recebe a intervenção (o grupo controle); estabelecendo a relação intervenção-efeito através da comparação entre as taxas de incidência do efeito da intervenção entre os grupos. (Quais são os efeitos dessa intervenção?). Geralmente usado para testar tratamentos em pessoas doentes. Vantagens: alta credibilidade (ambiente bem controlado), procedimento decididos a priori, cronologia determinada dos eventos (respeito da temporalidade), pode-se determinar dose-resposta, poucos fatores de confusão. Desvantagens: questões éticas, necessidade de população estável e seguimento de indivíduos, necessidade de ótima estrutura administrativa. Randomização é sorteio, então para escolher que grupo irá receber o remédio e que grupo recebera o placebo será feito um sorteio, ou seja, é uma escolha aleatória. Ensaio de campo: Estudo semelhante ao ensaio clínico, que seleciona os indivíduos para receber uma intervenção (o experimental) e outros para não receberem a intervenção (o grupo controle); estabelecendo a relação intervenção-efeito através da comparação entre as taxas de incidência do efeito da intervenção entre os grupos, mas que trata de indivíduos sem doenças. (Quais são os efeitos dessa intervenção?). OBS: a principal diferença entre ensaio clinico randomizado e ensaio de campo é que nesse ultimo em vez de estarmos falando de pessoas com doença, estamos falando de pessoas sem doença, pessoas saudáveis, logo geralmente é usado para testar vacinas, medidas preventivas. 15 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Vantagens: boa credibilidade, procedimento decididos a priori, cronologia determinada dos eventos; pode-se determinar dose-resposta, poucos fatores de confusão. Desvantagens: questões éticas, necessidade de população estável e seguimento de indivíduos, necessidade de ótima estrutura administrativa. Estudos observacionais: O pesquisador não faz nenhum tipo de intervenção, somente observa tudo que está acontecendo. Estudos descritivos: Estudo que descreve indicadores em saúde (Como está a situação da população?). Geralmente realizados por instituições como IBGE, data folha, entre outros. Na maioria das vezes são dados colocados em um gráfico. Vantagens: apresentam dados relativos a indicadores em saúde, fornecendo informações importantes para a elaboração de políticas de saúde. Desvantagens: Não realização de análise dos fatores relacionados às alterações (aumento/manutenção/diminuição) nos indicadores em saúde. Estudos transversais: Estudo que examina a relação exposição-efeito em uma população em um mesmo momento. (Exposição e efeito estão associados?). EX: aulas em EAD estão associadas com ansiedade? “Tirou uma fotografia do momento”. Vantagens: simplicidade, baixo custo, rapidez, não necessita seguimento dos indivíduos. Desvantagens: viés da prevalência, viés da causalidade reversa (não respeita a temporalidade, não se sabe o que veio primeiro, pois as duas coisas estão sendo vistas em um mesmo momento), pode-se apenas calcular prevalência (incidência não), fatores de confusão (não pode fazer inferências causais). Estudos de coorte: Estudo que seleciona os indivíduos de acordo com a exposição (expostos e não expostos) e os acompanha ao longo do tempo, medindo no futuro os efeitos, para determinar a relação exposição-efeito. (Qual o efeito da exposição?). Vantagens: excelente qualidade dos dados, eventos em ordem cronológica, calcula-se incidência, muitos desfechos podem ser investigados. Desvantagens: alto custo, perdas de seguimento, grande número de indivíduos; não se aplica para doenças raras, resultados lentos, mudanças no hábito de vida podem levar a erros de classificação quanto à exposição. Estudos de caso controle: Estudo que seleciona os indivíduos partindo do efeito, ou seja, seleciona casos e controles, e a partir disso verifica o nível de exposição de cada um. (Qual a causa da doença?). As pessoas terão sido expostas ou não a doença, depois disso vai ser feito o estudo com pessoas doentes e não doentes, esse estudo investigara o passado desses expostos com doença, não expostos com doença e expostos e não expostos sem doença. Ou seja, o estudo vai na direção contraria do tempo atual, pois é algo que já foi vivido. Vantagens: resultados rápidos, baixo custo, muitos fatores de risco podem ser investigados, número pequeno de participantes, não necessita acompanhamento. 16 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Desvantagens: dificuldade de seleção do grupo controle, dados da exposição inadequados por terem ocorrido no passado; viés da “ruminação”, viés da causalidade reversa, viés do entrevistador, não se pode calcular incidência nem prevalência, muitos fatores de confusão. Estudos ecológicos: Estudo que utiliza estatísticas já existentes sobre grupos de indivíduos e as compara, visando a verificar associações. Vantagens: simplicidade, baixo custo, rapidez, conclusões generalizáveis. Desvantagens: não há acesso a dados individuais, falácia ecológica, diferentes fontes de informação, qualidade duvidosa dos dados, dificuldades nos métodos estatísticos, correlações ao acaso, fatores de confusão. 17 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Erros em epidemiologia As investigações epidemiológicas têm por objetivo fornecer medidas precisas da ocorrência das doenças (ou outros desfechos). No entanto, há muitas possibilidades de erro nessas medidas. Os epidemiologistas têm tentado minimizar esses erros e estimar o impacto daqueles que não podem ser eliminados para que o estudo feito seja um artigo confiável. Os erros podem ser aleatórios ou sistemáticos. Erro aleatório: O erro aleatório ocorre quando o valor medido na amostra de estudo diverge, devido ao acaso, do verdadeiro valor da população. Esse erro não pode ser completamente eliminado. As três principais causas de erro aleatório são: variação biológica individual, erro de amostragem e erros de medida. Variação biológica individual: a variação individual sempre ocorre e nenhuma medida é perfeitamente precisa. EX: diabéticos que realizam o HGT sempre no mesmo horário em jejum, nem todos os dias vão dar o mesmo valor, isso ocorre por uma variação do organismo individual, é algo natural do ser humano. Erros de medida: os erros de medida podem ser reduzidos através do uso de protocolos rigorosos e da realização um controle sistemático de qualidade. Os investigadores necessitam entender os métodos de medida que estão sendo utilizados no estudo e os potenciais erros que estes podem causar. Esse é um erro previsível e evitável. EX: aparelhos como balanças, termômetro, pipetas descalibrados ou mal regulados. Erros de amostragem: o erro de amostragem decorre, geralmente, da falta de representatividade da amostra (é necessário um grupo que represente todas as pessoas e contextos na amostra), que não contempla toda a variabilidade da população. A melhor forma de reduzir esse erro é aumentar o tamanho amostral. O tamanho da amostra deve ser grande o suficiente para que o estudo tenha poder estatístico para detectar as diferenças importantes. Para que esse erro seja minimizado ao máximo é importante fazer o cálculo amostral. Erro sistemático: O erro sistemático (ou viés) ocorre em epidemiologia quando os resultados diferem de uma maneira sistemática dos verdadeiros valores. Aspossíveis fontes de erros sistemáticos em epidemiologia são muitas e variadas. EX: quando para um grupo de obesos é utilizada uma balança descontrolada e para os outros uma balança calibrada. Mais de trinta tipos de vieses foram identificados, sendo os principais: vieses de seleção e vieses de mensuração. É um erro que precisa ser controlado e evitável. Viés de seleção: O viés de seleção ocorre quando há uma diferença sistemática entre as características das pessoas selecionadas para o estudo em relação àquelas que não foram selecionadas. Se os indivíduos que entraram ou permaneceram no estudo possuíam características diferentes daqueles que não foram inicialmente selecionados ou que saíram antes de terminar o estudo, o resultado é enviesado. EX: auto seleção (pessoas que se oferecem para participar de uma pesquisa), amostragem por conveniência, viés do trabalhador saudável (ao fazer uma amostra em ambientes de trabalho e pergunto somente para os que estão trabalhando, descartando os que estão afastados, de licença, de atestado, etc..). Viés de mensuração: O viés de mensuração ocorre quando a medida individual ou classificação da doença ou exposição são imprecisas, isto é, não medem corretamente o que se propõem a medir. Há inúmeras fontes de viés de mensuração e seus efeitos variam em importância. EX: viés de memória (pessoas internadas tem uma tendência muito maior em reviver a doença do que pessoas já curadas, mas que passaram pela mesma doença), viés do observador (involuntariamente por características que o observador sabe ele tende a beneficiar mais os resultados de um determinado grupo). 18 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Fator de confusão: O fator de confusão é outro grande problema nos estudos epidemiológicos. O fator de confusão ocorre quando o efeito de duas exposições (fatores de risco) não for diferenciado, levando à conclusão incorreta de que os efeitos são devido a uma variável e não a outra. Para ser fator de confusão, duas condições devem ser satisfeitas: a variável de confusão deve estar associada com a exposição, mas não ser consequência dela; e estar associada com os desfechos, independente da exposição. EX: Classe social e idade. EX: foi feito um estudo em que dizia que as pessoas que ingeriam café tinham doença cardíaca, mas foi encontrado um fator de confusão que é o ato de fumar, pois esse estava diretamente relacionado com as doenças cardíacas independente da ingestão de café, mas pessoas que ingerem café tem muitas vezes o habito de tomar um café fumando, o que leva a ocorrência de doenças cardíacas. Vários métodos estão disponíveis para controlar fatores de confusão. Esses métodos podem ser utilizados tanto no delineamento do estudo (quando se está no planejamento do estudo) quanto na análise dos resultados (menos efetivo). Os métodos mais comumente empregados para controlar fatores de confusão no delineamento de um estudo são: randomização (sorteio), emparelhamento (principalmente para o fator da idade, juntando as categorias) e restrição. Durante a análise dos resultados, os fatores de confusão podem ser controlados por: estratificação (separação dos grupos) e modelagem estatística. Validade e precisão: A validade expressa a capacidade de um teste de medir aquilo que se propõe a medir - um estudo é válido se os seus resultados correspondem à verdade; quando isso ocorre, não existe erro sistemático e o erro aleatório é o menor possível. A validade interna de um estudo diz respeito ao grau no qual os resultados de uma observação estão corretos em relação a um grupo particular de pessoas que estão sendo estudadas. EX: estudo inglês o quanto está correto nas proporções da população inglesa. A validade externa ou generalização é a extensão na qual os resultados de um estudo são aplicados para pessoas que não participam dele. A validade externa requer o controle de qualidade das medidas e o julgamento sobre quanto os resultados de um estudo podem ser extrapolados. EX: o quanto um estudo inglês é valido no Brasil. Se não se tem validade não se tem precisão, porque mesmo tendo precisão as informações ditas serão mentiras, descartando essa chance de precisão. O contrário é possível, mas danifica na qualidade do estudo. Considerações éticas: • Todos os estudos epidemiológicos devem ser revisados e aprovados por um comitê de ética. • Consentimento informado. • Confidencialidade. • Respeito pelos direitos humanos. • Integridade científica. 19 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Medicina baseada em evidências Na tentativa de promover a melhor conduta cientificamente embasada para diagnosticar o que um paciente tem e como trata-lo usa-se a medicina baseada em evidencias. O conceito dessa é: “Uso consciente, judicioso e explícito das melhores evidências disponíveis atualmente para a tomada de decisões acerca do cuidado dos pacientes.” Ou seja, essa medicina baseada em evidencias vai aliar as melhores evidencias cientificas disponíveis com as características do paciente e a experiencia do médico. Por que a APS precisa da MBE? A medicina baseada em evidencias é uma ferramenta muito importante que permite que os problemas sejam solucionados de uma maneira eficiente e também atende a um dos critérios do método clinico centrado no paciente que é a decisão compartilhada informada. Dessa maneira, a medicina baseada em evidencia se torna um dos pilares mais importantes do atendimento primário à saúde. Objetivos e princípios da MBE? • Reconhecer o papel das evidências na tomada de decisões clínicas efetivas; • Abordagem sistemática na solução de problemas; • Há uma hierarquia nos níveis de evidências; • Evidências são necessárias, mas não suficientes. Etapas da MBE: A medicina baseada em evidencia é dividida em quatro etapas: • Formular a questão do problema; • Buscar evidencias; • Analisar criticamente as evidencias; • Aplicas as evidencias ao contexto. Formulação do problema / questão: Estratégia PICO: P (problema, fazer perguntas referentes e pensar nele), I (intervenção ou indicador), C (comparação ou controle) e O (out comes, que são os desfechos dessa comparação ou controle). É importante formular uma questão objetiva a ser respondida que contenha os descritores da saúde e que seja centrada no sentimento, queixa e relato do paciente. O paciente é o centro da nossa consulta ao elaborarmos a questão problema. Buscar a melhor evidencia cientifica: Utilizar fontes seguras, livros-texto, revisões sistemáticas, sinopses, diretrizes e artigos originais, essas são as principais fontes de busca de evidencias utilizadas. Analisando criticamente as evidencias: Essa pirâmide traz no topo as melhores referencias e na base as evidencias de pior qualidade, ou seja, que apresentam uma margem de erro muito maior. Os livros muitas vezes possuem um sistema GRADE para direcionar de onde vem aquelas evidencias: Aplicando as evidencias: Relacionar todas as questões do contexto do paciente e toda nossa experiencia clinica quanto médicos para estabelecer a melhor maneira de solucionar o problema trazido pelo paciente. OBS: Tele Saúde RS – diversos médicos que auxiliam outros da atenção primaria com a MBE. 20 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Epidemiologia clínica: A epidemiologia clínica se originou a partir da prática clínica e surgiu da necessidade de melhorar o diagnóstico e o manejo dos doentes, por meio da utilização de métodos epidemiológicos já consagrados no estudo de populações. “A aplicação, por um médico que cuida diretamente de pessoas, de métodos estatísticos e epidemiológicos para estudar os processos diagnóstico e terapêutico com o intuito de produzir uma melhora na saúde”.“Epidemiologia clínica representa a forma com que a epidemiologia clássica, tradicionalmente orientada para estratégias populacionais, se expandiu para incluir as decisões clínicas do cuidado de doentes individuais”. Para alguns autores, a medicina baseada em evidências é a forma moderna de aplicação da epidemiologia clínica no cuidado das pessoas. Para outros, é uma evolução da epidemiologia clínica. PRATICA CLINICA + METODOS DA EPIDEMIOLOGIA = EPIDEMIOLOGIA CLINICA Normalidade e anormalidade: • Variabilidade individual, entre os indivíduos dentro de uma população e entre as populações (culturais e comportamentais); • Distinção entre normalidade e anormalidade encarada como “ou um ou outro”; • Diferenças entre normal e média o que foge da média é considerado anormal, por ser incomum, mas nem sempre isso precisa significar doença ou risco de saúde. doença é somente quando essa alteração provoca alguma complicação na vida da pessoa; • “Uma pessoa normal é alguém que ainda não foi suficientemente examinado”; • Nem sempre o que está dentro da media é o mais saldável, mais correto. • Lembrar que não é um critério ou outro, não é ou saúde ou normalidade, ou doença e anormalidade, isso está interligado e uma pessoa vai possuir dentre vários parâmetros todos os conceitos consigo. Raciocínios diagnósticos: Segundo analise de artigos, 80% dos dados obtidos para estudos vem da anamnese, ou seja, dos dados que o paciente conta e nos traz, logo a escuta ativa é o pontoo de grande importância. Exames físicos e exames complementares representam 8,75%. Raciocínio determinístico ou categórico: É o reconhecimento imediato de padrões. É um padrão muito característico que já faz a pessoa ao olhar reconhecer a patologia ou o que é. Isso é muito visto na dermatologia ao ver as lesões. Raciocínio causal ou hipotético-dedutivo: É a capacidade de explicar os achados do paciente a partir de um arcabouço teórico formado por conhecimentos clínicos e fisiológicos sobre um determinado problema ou doença. É o mais comum de ser visto dentre as pessoas da área da saúde, visto que isso se constrói com a formação acadêmica. Raciocínio probabilístico: Baseia-se em estimativas da probabilidade da doença em vários momentos do diagnóstico. Geralmente é usado indiretamente. 21 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Acurácia dos testes diagnósticos: Ao se fazer um exame simples, os resultados possíveis são: dar negativo ou dar positivo. No entanto, esses dois resultados podem ainda ter duas derivações de interpretação que são: verdadeiro positivo e falso positivo (o exame veio com resultado positivo, mas a pessoa não apresenta aquela condição que o exame estava pesquisando) e falso negativo (mesmo o exame vindo com resultado negativo a pessoa possui aquela condição que o exame estava investigando) e verdadeiro negativo. Dessa maneira, por esses motivos que quando temos um resultado de um exame positivo em mãos não podemos dar 100% de certeza para o nosso paciente de que esse é o diagnóstico, pois os exames podem apresentar esses erros de acordo com a sua sensibilidade e especificidade. Sensibilidade: proporção de indivíduos doentes que tem o teste positivo (verdadeiros positivos); capacidade do teste de detectar os doentes. Testes muito sensíveis são utilizados para fazer rastreamento na população (doação de sangue) e para excluir a doença quando negativos (câncer como causa de lombalgia). Especificidade: proporção de indivíduos sem a doença que tem o teste negativo (verdadeiros negativos); capacidade do teste de detectar os saudáveis (que não têm a doença). Testes muito específicos são utilizados para confirmar a doença quanto positivos (macicez à percussão no diagnóstico de derrame pleural). Acurácia: capacidade do teste de acertar o diagnóstico; porcentagem de vezes em que o teste acerta (verdadeiros positivos e verdadeiros negativos). Valor preditivo positivo: probabilidade de o paciente ter a doença quanto o resultado do teste é positivo. Valor preditivo negativo: probabilidade de o paciente não ter a doença quanto o resultado do teste é negativo. História natural da doença e prognóstico:
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