Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 1 1. INTRODUÇÃO HIDROLOGIA, ENGENHARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E APLICAÇÕES A Hidrologia é uma ciência interdisciplinar que se desenvolveu significativamente ao longo do tempo em face do aumento do uso da água, dos crescentes problemas decorrentes da ação antrópica nas bacias hidrográficas e dos impactos produzidos sobre o meio ambiente. O U. S. Federal Council for Science and Technology, citado por Vilella & Mattos (1975), dá uma definição da Hidrologia como ciência que é amplamente aceita. Por esta definição, a Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, estudando a sua ocorrência, circulação e distribuição, as suas propriedades físicas e químicas e as suas reações com o meio ambiente, incluindo suas relações com a vida. A ciência da Hidrologia, ou ciência hidrológica, é bastante abrangente e pode ser subdividida em diferentes áreas de conhecimento associadas, a saber: Hidrometeorologia, que estuda a água na atmosfera; Limnologia, voltada para o estudo dos lagos e reservatórios; Potamologia, que estuda os rios; Glaciologia, que é o ramo de estudo da água superficial, particularmente quando esta se apresenta sob a forma de gelo; Hidrogeologia, que é especificamente voltada para o estudo das águas na crosta terrestre, com ocorrência subterrânea. Considerado o alcance da definição apresentada para a ciência hidrológica, bem como a abrangência das subáreas do conhecimento acima enunciadas, pode-se prever com relativa facilidade a variedade de profissionais que potencialmente podem atuar nos diversos campos da Hidrologia. De fato, atuando nas mais diversas atividades relacionadas à Hidrologia encontram- se, freqüentemente, engenheiros, agrônomos, geólogos, geógrafos, biólogos, químicos, matemáticos e estatísticos, entre outros. Um pouco mais específica é a utilização da Hidrologia na engenharia de recursos hídricos, às vezes também denominada engenharia hidrológica. Neste caso, conforme Tucci (1993), a Hidrologia pode ser entendida como a área do conhecimento que estuda o comportamento físico da ocorrência e o aproveitamento da água na bacia hidrográfica, quantificando os recursos hídricos no tempo e no espaço e avaliando o impacto da modificação da bacia hidrográfica sobre o comportamento dos processos hidrológicos. Dessa visão, surge uma nova subdivisão da Hidrologia, representada pelas especializações nas seguintes subáreas da engenharia de recursos hídricos: Hidrometeorologia (já definida anteriormente); Geomorfologia de bacias hidrográficas: estuda as características do relevo da bacia hidrográfica para melhor interpretar os seus efeitos sobre o escoamento; Escoamento superficial: estuda o movimento da água sobre a superfície do terreno da bacia hidrográfica; Interceptação: avalia a interceptação da água de chuva pela cobertura vegetal e outros obstáculos na bacia hidrográfica rural ou urbana; Infiltração e escoamento em meio não-saturado: cuida da observação e previsão da infiltração da água no solo e do escoamento no meio não-saturado; Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 2 Escoamento em meio saturado: abrange o estudo do comportamento do fluxo em aqüíferos; Evaporação e evapotranspiração: estuda e avalia as perdas de água por evaporação de superfícies livres, como lagos e reservatórios, e pela transpiração das árvores e outros vegetais; Escoamento em rios e canais: envolve a análise do escoamento em rios e canais, normalmente tratados como escoamento unidimensionais; Fluxo dinâmico em reservatórios, lagos e estuários: estuda o escoamento turbulento em meios de características multidimensionais; Produção e transporte de sedimentos: ocupa-se da quantificação da erosão do solo e do transporte do sedimento na superfície da bacia e nos rios, decorrentes de condições naturais e do uso do solo na bacia hidrográfica; Qualidade da água e meio ambiente: nesta área, faz-se a quantificação de parâmetros físicos, químicos e biológicos da água, visando a interação dos diversos usos e a avaliação dos impactos sobre o meio ambiente aquático. Assim, considerada a amplitude das aplicações da Hidrologia na engenharia de recursos hídricos, pode-se dizer que este ramo da ciência está voltado para a solução dos problemas que abrangem a utilização dos recursos hídricos e a ocupação da bacia hidrográfica, bem como a preservação do meio ambiente. Na utilização dos recursos hídricos são relevantes os aspectos relacionados à disponibilidade hídrica, à necessidade de regularização de vazão, etc., dentro de um contexto que requer ações de planejamento, operação e gerenciamento dos recursos hídricos. Já os problemas decorrentes da ocupação da bacia pelo homem são vistos sob dois ângulos: de um lado, em decorrência da urbanização, analisa-se o impacto do meio sobre a população (enchentes, por exemplo); de outro, analisa-se o impacto sobre o meio ambiente provocado pelo uso do solo pelo homem. Neste último caso, as ações devem ser planejadas de modo a compatibilizar o desenvolvimento com a preservação do meio ambiente, isto é, assegurando-se a preservação da biodiversidade e os ecossistemas naturais, dentro do moderno conceito de sustentabilidade. A título de ilustração, enumeram-se, a seguir, um conjunto de exemplos de campos de atuação na engenharia e problemas correlacionados, conforme expostos por Vilella & Mattos (1975), onde a Hidrologia tem influência direta tanto nos projetos, quanto no planejamento do uso dos recursos hídricos. i) Abastecimento de água: - escolha das fontes para uso doméstico ou industrial. ii) Projeto e construção de obras hidráulicas: - fixação das dimensões hidráulicas de obras de arte: pontes, bueiros, etc.; - barragens: localização e escolha do tipo de barragem, da fundação e do extravasor e dimensionamento da barragem; - estabelecimento do método construtivo. iii) Drenagem: - estudo das características do lençol freático; - exame das condições de alimentação e de escoamento natural do lençol: precipitações, bacia de contribuição e nível d’água de rios e ribeirões. iv) Irrigação: - problema da escolha do manancial; - estudo de evaporação e infiltração. v) Regularização de cursos d’água e controle de inundações: - estudo das variações de vazão; Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 3 - previsão de vazões máximas; - exame das oscilações de nível e das áreas de inundação. vi) Controle da poluição: - análise da capacidade de autodepuração dos corpos d’água receptores de efluentes de sistemas de esgotos: vazões mínimas dos cursos d’água; capacidade de reaeração e velocidade do escoamento. vii) Controle de erosão: - análise da intensidade e frequência das precipitações máximas; - determinação do coeficiente de escoamento superficial; - estudo da ação erosiva das águas e da proteção por meio de vegetação e outros recursos. viii) Navegação: - obtenção de dados e estudos sobre construção e manutenção de canais navegáveis. ix) Geração de energia (aproveitamento hidrelétrico): - previsão das vazões máximas, mínimas e médias dos cursos d’água para o estudo econômico e o dimensionamento das instalações de aproveitamento; - verificação da necessidade de reservatório de acumulação; - determinação dos elementos necessários ao projeto e construção do reservatório de acumulação: bacias hidrográficas, volumes armazenáveis, perdas por evaporação e infiltração. x) Operação de sistemas hidráulicos complexos. xi) Recreação e preservação do meio ambiente. xii) Preservação e desenvolvimento da vida aquática. 1.1. O CICLO HIDROLÓGICO Na natureza, a água se encontra em permanente movimento, em um ciclo interior às três unidades principais que compõem onosso planeta, que são a atmosfera (camada gasosa que circunda a Terra), a hidrosfera (constituída pelas águas oceânicas e continentais) e a litosfera (ou crosta terrestre, camada sólida mais externa constituída por rochas e solos). A dinâmica das transformações e a circulação nas referidas unidades formam um grande, complexo e intrínseco ciclo chamado ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico refere-se à troca contínua de água na hidrosfera, entre a atmosfera e a água do solo, águas superficiais, subterrâneas e das plantas. Ele representa o caminho percorrido pela água nos seus três estados físicos (sólido, líquido e gasoso), conforme ilustra a Figura 1.1. Por conveniência e para facilitar a apresentação, introduz-se a consideração de que o ciclo hidrológico tem origem na evaporação da água dos oceanos, lagos e rios e das superfícies úmidas expostas à atmosfera. Dependendo das condições climáticas e da combinação de outros fatores físicos, o vapor d’água se concentra nas camadas mais altas, formando as nuvens que se modelam e se movimentam em função do deslocamento das massas de ar (vento). Sob determinadas condições físicas, surgem gotículas de água que, por efeito da ação da força da gravidade, se precipitam das nuvens. Essa precipitação pode ocorrer segundo variadas formas, incluindo-se a chuva, a neve, o granizo, o nevoeiro, o orvalho e a geada. Pela sua importância e magnitude frente às outras ocorrências, somente a precipitação na forma de chuva será considerada aqui. Assim, as águas de chuva que caem em um dado local se distribuirão como segue: i) Uma porção, conhecida como interceptação, é retida pelas construções, pelas copas das árvores, arbustos e outras plantas e obstáculos, de onde, eventualmente, evapora. O excesso, Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 4 isto é, o que supera a capacidade de interceptação, soma-se à parcela da chuva que atinge diretamente o solo; ii) Parte da água de chuva que atinge o solo retorna à atmosfera na forma de evaporação. Outras parcelas infiltram-se no terreno ou escoam-se superficialmente. iii) Da parcela da água de infiltração, parte vai ocupar a zona das raízes e é utilizada pelas plantas para, finalmente, retornar à atmosfera pelo processo conhecido como transpiração; iv) A água de infiltração que percola (escoa através dos espaços intergranulares) para as camadas mais profundas do solo vai constituir a água ou escoamento subterrâneo. v) Além da interceptação, evaporação e infiltração, o restante da água precipitada formará, inicialmente, poças ou pequenos armazenamentos nas depressões do terreno. Nova evaporação ocorrerá destes armazenamentos; vi) Após ser excedida a capacidade de armazenamento nas depressões do terreno, a água passa a escoar superficialmente e, sob a ação da gravidade, termina por se juntar aos cursos d’água naturais. Relativamente ao total precipitado, esta parcela da precipitação que se escoa pela superfície do terreno é chamada precipitação efetiva ou precipitação excedente. Sob o ponto de vista do escoamento superficial, é também conhecida como escoamento superficial direto ou runoff. Alguma evaporação também ocorre desse escoamento superficial. vii) Para ocorrer o runoff, a água deve se acumular antes de seguir o seu percurso. Essa camada acumulada constitui um tipo de armazenagem, conforme acima mencionado, conhecido como detenção, retenção ou armazenamento superficial, e também está sujeita à evaporação. viii) O destino final de todos os cursos d’água naturais são os lagos, mares e oceanos que, com mais intensidade, estão sujeitos à evaporação. ix) A evaporação de todas as fontes acima, juntamente com a transpiração, leva a umidade (vapor d’água) de volta à atmosfera e resulta na formação das nuvens. Em condições favoráveis terá origem nova precipitação, e o ciclo descrito pelos passos (i) a (ix) se repete. Figura 1.1 – O ciclo hidrológico Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 5 Os fatores que impulsionam o ciclo hidrológico são a energia térmica solar (fonte de energia de todo o processo), a ação dos ventos (que transportam o vapor d’água) e a força da gravidade (principal força atuante). Importa, ainda, destacar que o ciclo hidrológico só pode ser visto como fechado em nível global, o que significa que o total evapotranspirado (soma das águas de evaporação e transpiração) em uma região não necessariamente corresponderá ao total precipitado num dado intervalo de tempo. É importante esclarecer que, como resultado da ocorrência das chuvas, as águas infiltradas, que constituem os armazenamentos nos reservatórios subterrâneos e que fluem contínua e lentamente sob a ação da gravidade, terminam por aflorar por pontos de descarga subterrânea, tais como fontes de encosta, ou vão abastecer os corpos d’água superficiais (rios, lagos, lagunas, reservatórios), constituindo o que se denomina descarga ou escoamento de base. É exatamente devido a esse escoamento de base, ou básico, que se garante a perenização dos rios. Ainda, de todo exposto pode-se concluir que quanto maiores a retenção na cobertura vegetal, o armazenamento superficial e a infiltração das águas de chuva, menores serão os volumes excedentes disponíveis para o escoamento superficial. Assim, em consequência, especialmente em caso de chuvas intensas, menores serão as chances de incidência de enchentes e inundações. Portanto, tudo dependerá da quantidade de chuva, da capacidade de retenção superficial, das taxas de infiltração características do solo e da ocorrência de chuvas antecedentes (teor de umidade pré-existente no solo). Complementarmente, quanto maior a oportunidade das águas de chuva se infiltrar, maior será a recarga dos reservatórios subterrâneos, aspecto significativo que fortalecerá a capacidade de abastecimento dos corpos de água durante os períodos de estiagem. O conceito do ciclo hidrológico e a influência relativa de cada um dos seus componentes têm-se mostrado importante também no desenvolvimento de estratégias de gerenciamento da qualidade da água, pois os contaminantes podem ser introduzidos nos corpos d’água a partir das várias fases do ciclo, quando surgem, carreados pela água, diluídos ou concentrados. Todos estes conceitos serão novamente abordados ao longo do curso. Certamente, uma boa compreensão do ciclo hidrológico facilitará a assimilação dos modelos e formulações empregados na hidrologia e que são desenvolvidos nos capítulos seguintes. 1.2. AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DAS COMPONENTES DO CICLO HIDROLÓGICO: A EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO Os projetos em recursos hídricos são, essencialmente, exercícios que envolvem a quantificação das fases ou componentes do ciclo hidrológico visando, principalmente, conhecer a relação demanda-disponibilidade de água. Nestes projetos consideram-se como fontes de suprimento, fundamentalmente, as águas superficiais e subterrâneas. As técnicas de medir e avaliar dados quantitativos em recursos hídricos constituem os elementos básicos da Hidrologia, que serão tratados ao longo deste curso. No presente capítulo, é fornecido um resumo dos processos fundamentais que contribuem para a formação dos escoamentos superficial e subterrâneo. Para o engenheiro, um bom entendimento desses processos facilitará a análise e o planejamento tanto para o uso adequado quanto para o controle e a preservação dos recursos hídricos. Em termos quantitativos, o ciclo hidrológico pode ser representado por uma equação que expressa o princípio da conservação da massa, conhecida como equação da continuidade. Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 6 A equação do balanço hídrico, dependendo dos propósitos para o qual é escrita, pode admitir a subdivisão, a consolidação, ou a eliminação de um ou outrotermo. Em geral, a equação do balanço hídrico é empregada para: a) um determinado intervalo de tempo, que pode ser alguns minutos ou horas, ou um longo período, como um ano; b) uma área de drenagem natural (bacia hidrográfica) ou artificialmente limitada, ou um corpo d’água, como um lago ou reservatório, ou ainda um lençol subterrâneo; c) a fase vapor (atmosfera) acima da superfície terrestre. São comuns três aplicações da equação do balanço hídrico: 1) equação do balanço hídrico para bacias hidrográficas de grandes áreas de drenagem; 2) equação do balanço hídrico para corpos d’água, como rios, lagos e reservatórios; 3) equação do balanço hídrico para o escoamento superficial direto (runoff). Nos primeiros dois casos, são consideradas as quantidades acima e abaixo da superfície da terra. Em sua forma geral, a equação pode ser escrita para um determinado volume de controle, num dado intervalo de tempo, como: controle de vol.dointerior no acumulada quantidade da variação controle de vol.do sai que Quantidadecontrole de vol.no entra que Quantidade ou SGRTEGRP outoutinin , (1) em que P = precipitação, R = escoamento superficial, G = escoamento subterrâneo, E = evaporação, T = transpiração e S = armazenamento; os índices “in” e “out” referem-se às quantidades que entram e saem, respectivamente, do volume de controle. A equação pode ser escrita para as componentes com a dimensão de volume [L 3 ], vazão [L 3 T -1 ] ou comprimento [L]. Para isso, no segundo caso, as quantidades são escritas na forma de taxas (dividindo-se pela escala de tempo), enquanto que, no terceiro caso, as quantidades (volumes) devem ser divididas pela área de referência. 1.2.1. EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO PARA GRANDES BACIAS Em bacia de grande área de drenagem, a equação do balanço é usada na avaliação quantitativa dos recursos hídricos para a concretização de projetos que envolvem determinados usos e para os propósitos de avaliação das demandas e/ou disponibilidades hídricas. Nesse caso, o balanço hídrico é normalmente realizado para um longo intervalo de tempo (como num ciclo anual) e os valores das componentes envolvidas geralmente referem-se a um ano médio. Em termos médios e para um longo intervalo de tempo, as variações positivas e negativas do armazenamento tendem a se balancear, isto é, a variação média do armazenamento S pode ser desprezada. Ainda no caso de grandes bacias, as trocas de água subterrânea com as bacias vizinhas (“fugas”) são ignoradas, isto é, Gin – Gout = 0. Além disso, o único input na bacia é a precipitação (não pode haver escoamento superficial através da linha de contorno da bacia: Rin = 0). Assim, com todas essas considerações, a Eq. (1) reduz-se a: outRTEP , [L 3 , L 3 T -1 , ou L] (2) ou outRETP (3) Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 7 onde, na Eq. (3), ET representa a evapotranspiração (soma dos processos de evaporação e transpiração) e Rout é o volume (Vols), vazão (Q) ou altura de lâmina d’água (hs) correspondente na seção de saída da bacia. 1.2.2 EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO PARA CORPOS D’ÁGUA EM CURTOS INTERVALOS DE TEMPO No caso de reservatórios, lagos, rios e armazenamentos subterrâneos a equação do balanço hídrico é usada para prever as conseqüências das condições hidrológicas atuais sobre uma estrutura: a equação mostra-se importante nas análises que envolvem a operação diária da estrutura. O curto intervalo de tempo empregado na análise exige que o termo de variação do armazenamento, S, seja necessariamente considerado. Contudo, em curtos intervalos de tempo o termo de evaporação geralmente é muito pequeno e pode ser desprezado. Se não ocorrer uma chuva no período de análise, a equação pode ser representada, em termos de taxas volumétricas, como: t S QQ outin (4) onde Qin e Qout são as vazões de entrada e saída, respectivamente (representam todos os termos “in” e “out”), e S/t = variação do armazenamento no intervalo t. EXEMPLO 1.1 Num dado instante, o armazenamento num trecho de rio é de 68.200m 3 . Naquele instante, a vazão de entrada no trecho é de 10,6m 3 /s e a vazão de saída é de 15,9 m 3 /s. Transcorridas duas horas, as vazões de entrada e saída são, respectivamente, 17,0m 3 /s e 19,1 m 3 /s. Determine: a) A variação do armazenamento na calha do rio durante nessas 2 horas; b) O volume armazenado ao final das duas horas. Sugestão: Admitir variação linear das vazões de entrada e saída no trecho. Solução a) Em termos de volumes, a equação do balanço hídrico (Eq. 4) se escreve: StQtQ outin . O volume de entra é 3 in m3609936002 2 610017 tQ . ,, , que é numericamente igual à área sob a linha de variação da vazão de entrada no trecho (área do trapézio), conforme representado na Figura 1.2. Figura 1.2 – Comportamento das vazões de entrada e saída em um trecho de rio Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 8 De maneira análoga, o volume de saída é dado pela área sob a linha de variação da vazão de saída do trecho: 3 out m00012636002 2 915019 tQ . ,, . Assim, da Eq. (4), a variação do armazenamento em 2 horas será: 3m640.26S000.126360.99S . b) Como 02hinicialfinal SS SSS , então 3 h20h2final m560.41S 640.26200.68SSSS . 1.2.3 EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO PARA O ESCOAMENTO SUPERFICIAL DIRETO DURANTE UMA CHUVA INTENSA Para determinar o runoff devido a uma chuva intensa deve-se considerar a equação do balanço hídrico acima da superfície do solo. A equação, escrita para um curto intervalo de tempo, em termos de alturas médias, é da forma: 0SIREIntP D (5) onde P = altura da lâmina d’água precipitada; Int = interceptação; E = evaporação; R = escoamento superficial direto ou runoff; I = infiltração e SD = armazenamento nas depressões do terreno. Durante a chuva, em curtos intervalos de tempo pode-se desprezar a evaporação. E, se não se exige uma determinação exata, a interceptação e o armazenamento nas depressões do terreno também podem ser ignorados, o que permite reescrever a Eq. (5) na forma reduzida: IPR . (6) 1.2.4 FONTES DE ERRO NAS COMPONENTES DO BALANÇO HÍDRICO A quantificação das componentes do ciclo hidrológico que entram no cálculo do balanço hídrico sempre envolve erros de medida e de interpretação. As únicas componentes extensivamente observadas por meio de redes de monitoramento (estações) são a precipitação e a vazão. A evaporação raramente é mensurada e os dados de infiltração costuma ser limitados a bacias experimentais. As variações de armazenamento são normalmente obtidas a partir de observações do nível d’água e da umidade do solo. Além disso, é comum o uso de fórmulas empíricas para o cálculo da evaporação, da infiltração e do armazenamento. A duração do tempo de análise também é importante: os erros na média diminuem com o aumento do tempo considerado. A Tabela 1.1 traz algumas estimativas de erros associados às determinações mensais e anuais das diferentes componentes do ciclo hidrológico, baseadas em metodologias comumente adotadas. Em decorrência dos erros de medida e de estimativa das componentes do ciclo hidrológico, a equação do balanço hídrico não é equilibrada e poderia conter um termo de incerteza ou resíduo. Quando uma componente é estimada de uma fórmula empírica, o erro de previsão da fórmula é adicionado ao termo de resíduo da equação do balanço hídrico. Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 9 Tabela 1.1 – Erros nas componentes do ciclo hidrológico obtidas segundo metodologias usuais, conforme Ram S. Gupta (1989) Componente Tipo ou fontede erro Erro Percentual Estimativa Mensal Estimativa Anual 1. Precipitação equipamento de observação 2% 2% altura de colocação do medidor 5% 5% média na área 15% 10% densidade de medidores 20% 13% 2. Vazão molinete hidrométrico 5% 5% curva-chave 30% 20% alteração da seção fluviométrica 5% 5% regionalização de vazão --- 70% 3. Evaporação balanço de energia --- 10% tanque classe A 10% 10% tanque para o coeficiente do lago 50% 15% média na área 15% 15% BIBLIOGRAFIA GUPTA, R.S. (1989). Hydrology and Hydraulic Systems. Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey. PONTIUS, F.W. (technical editor) (199?). Source Water Quality Management, by Robert H. Reinert and John A. Hroncich. In: Water Quality and Treatment – A Handbook of Community Water Suplies, 4 th edition, American Water Works Association, Chapter 4. RAMOS, F, OCCHIPINTI, A.G., VILLA NOVA, N.A., REICHARDT, K. & CLEARY, R. (1989). Engenharia Hidrológica. Coleção ABRH de Recursos Hídricos. Vol. 2. ABRH / Editora da UFRJ. Rio de Janeiro (RJ). SEMADS – SECRETÁRIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – ESTADO DO RIO DE JANEIRO (2001). Enchentes no Estado do Rio de Janeiro: Uma Abordagem Geral. Projeto PLANÁGUA SEMADS / GTZ de cooperação técnica Brasil-Alemanha – Vol. 8. TUCCI, C.E.M., org. (1993). Hidrologia. Ciência e Aplicação. Ed. da Universidade - UFRGS / Ed. da Universidade de São Paulo – EDUSP / Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH. VILLELA, S.M. & MATTOS, A. (1975). Hidrologia Aplicada. Ed. McGraw-Hill. Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 10 EXERCÍCIOS 1.1) Estima-se que 60% da precipitação anual numa bacia hidrográfica de 24,67km 2 sejam evapotranspirados. Se a vazão média anual na desembocadura do rio principal é de 70,8/s, qual a precipitação anual na bacia? 1.2) Num trecho de rio, a vazão de entrada num dado instante é de 9,91m 3 /s e a vazão de saída é de 8,07m 3 /s. Decorridos 90min, as vazões de entrada e saída no trecho são de 7,08m 3 /s e 5,66m 3 /s, respectivamente. Calcular a variação do armazenamento em 90min. 1.3) As perdas por evaporação de um reservatório são de 185 mil metros cúbicos de água por dia. Se o reservatório tem superfície de área constante de 2,02km 2 e se a diferença entre as vazões de saída e entrada do reservatório é de 1,41m 3 /s, qual a variação do nível d’água do reservatório em um dia? 1.4) No problema anterior, se, devido a uma chuva, 76mm de água são admitidos no reservatório em um dia, qual a variação na profundidade do reservatório? 1.5) O reservatório da figura foi construído em uma região onde a precipitação anual média é de 610mm e a evaporação normal anual é de 1.524mm. A área média da superfície de água no reservatório é de 12km 2 e a área da bacia hidrográfica é de 242km 2 . Como informação adicional tem-se que apenas 20% do total precipitado escoam-se superficialmente. Isto posto, pede-se: a) calcular a vazão média de saída do reservatório, em m 3 /s; b) quantificar o aumento ou redução da vazão, em conseqüência da construção do reservatório. 1.6) O sistema de abastecimento de água de uma cidade deve utilizar como manancial um curso d’água natural cuja área de drenagem, relativa à seção de captação, é igual a 100km 2 . A precipitação média anual na região é de 1.200mm e as perdas por evapotranspiração são estimadas em 800mm. Sabendo-se que o consumo médio previsto é de 50.000m 3 /dia, verifique se esse manancial tem capacidade para abastecer a cidade. 1.7) A evaporação anual de um lago com superfície (área do espelho d’água) de 15km 2 é de 1500mm. Determinar a variação do nível do lago durante um ano se, nesse período, a precipitação foi de 950mm e a contribuição dos tributários foi de 10m 3 /s. Sabe-se, também, que naquele ano foi retirada do lago uma descarga média de 5m 3 /s para a irrigação de culturas e a manutenção da vazão ecológica, além de uma captação de 165x10 6 m 3 para refrigeração de uma unidade industrial. (Desprezar a variação da área do espelho d’água). 1.8) O total anual precipitado em uma bacia hidrográfica de 1.010km 2 de área de drenagem é de 1.725mm, em média. Sabendo-se que a evapotranspiração média anual é de 600mm, qual a vazão média anual, em m 3 /s, na foz do curso d’água principal desta bacia? E qual o deflúvio anual, em mm? 1.9) Uma barragem é construída na parte média da bacia hidrográfica da questão anterior, formando um espelho d’água de aproximadamente 60km 2 . Sabendo-se que a área de drenagem relativa à seção da barragem é de 600km 2 e que a evaporação média direta no lago é de 5mm/dia, qual a redução percentual esperada da vazão na foz do curso d’água principal? Elementos de Hidrologia Aplicada 1. Introdução Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 11 1.10) Numa bacia hidrográfica de área A= 360 km 2 o total anual precipitado é 1.420mm e a vazão média anual na seção exutória é de 11,35m 3 /s. a) Com base nas informações disponíveis e fazendo claramente as considerações que julgar necessárias, estimar a evapotranspiração anual na bacia. b) Se for construído um reservatório no curso d’água principal da bacia e se este inundar 10% da área total da bacia, qual será a variação percentual da vazão média na seção exutória, sabendo-se que a evaporação da superfície da água no local é de 1.240 mm/ano? Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 12 2. BACIA HIDROGRÁFICA 2.1. GENERALIDADES Embora a quantidade de água existente no planeta seja constante e o ciclo em nível global possa ser considerado fechado, os balanços hídricos quase sempre se aplicam a unidades hidrológicas que devem ser tratadas como sistemas abertos. Assim, na prática, nos estudos envolvendo a questão da disponibilidade de água, das enchentes e inundações, dos aproveitamentos hídricos para irrigação, da geração de energia, etc., adota-se a bacia hidrográfica como unidade hidrológica, principalmente pela simplicidade que oferece para a aplicação do equacionamento. 2.1.1 Definição A bacia hidrográfica é a área definida topograficamente, drenada por um curso d’água ou um sistema conectado de cursos d’água, de modo que toda a vazão efluente seja descarregada através de uma saída simples. Constitui-se no sistema físico ou área coletora da água da precipitação, que a faz convergir para uma única seção de saída, denominada exutória, foz ou desembocadura. Nas aplicações da equação do balanço hídrico em que o volume de controle é a bacia hidrográfica, o volume da água precipitada corresponde à quantidade de entrada, enquanto a quantidade de saída é dada pela soma do volume de água escoado pela seção exutória com os volumes correspondentes às perdas intermediárias, decorrentes da evaporação e transpiração. Ainda, dependendo da aplicação que se faz, as quantidades infiltradas profundamente podem ser tratadas como perdas (saídas) ou incorporadas no termo de armazenamento. 2.2. CONTORNO OU DIVISOR DE ÁGUA DA BACIA HIDROGRÁFICA O contorno ou divisor de uma bacia hidrográfica é definido pela linha de cumeada (pontos de cota máxima entre bacias), que faz a divisão das precipitações que caem em bacias vizinhas 1 . O divisor, dito topográfico, segue uma linha rígida em torno da bacia, sendo cortado pelo curso d’água somente na seção de saída. A bacia hidrográfica, conforme a sua definição, está limitada pela seção exutória do curso d’água principal, onde este deságua em outro curso d’água ou em um reservatório, baía, lago ou oceano. Entretanto, pode-se sempre definir, dentro de uma bacia maior ou principal, uma sub- bacia de um curso d’água menor limitada pela seção de confluência deste com outro curso d’água, ou ainda uma sub-bacia limitada por uma estação fluviométrica.A Figura 2.1 mostra uma bacia hidrográfica em planta, bem como um corte transversal da mesma que permite identificar, além do divisor de água topográfico, a presença de um divisor freático ou subterrâneo. Assim, pode-se dizer que existem dois divisores de água na bacia hidrográfica: o divisor topográfico, condicionado pela topografia, que fixa a área da qual provém o deflúvio superficial direto (runoff) da bacia; e o divisor freático, determinado pela estrutura 1 No interior de uma bacia hidrográfica podem existir picos isolados de cotas superiores às da linha de cumeada. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 13 geológica, que estabelece os limites dos reservatórios de água subterrânea, de onde é derivado o escoamento de base da bacia 2 . Quando os divisores freático e topográfico não são coincidentes, como na Figura 2.1, ocorrerão fugas de uma para outra bacia vizinha. Contudo, na prática, em aplicações da equação do balanço hídrico essas fugas são desprezadas, uma vez que sempre ocorrerão compensações. Durante os períodos de estiagem, a perenidade dos cursos d’água é garantida pelo escoamento de base e, em consequência, tem-se o rebaixamento do lençol freático. Figura 2.1 – Representação em planta e corte de uma bacia hidrográfica (Vilella e Mattos, 1975) 2.3. CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA As características climáticas de uma bacia hidrográfica particular determinam o escoamento superficial (runnof) na mesma, mas duas bacias hidrográficas sujeitas às mesmas condições climáticas podem apresentar diferentes escoamentos superficiais. Estas diferenças se devem às características dos cursos d’água naturais e aos aspectos físicos das áreas drenadas por estes cursos d’água. Por exemplo, uma bacia por ser mais íngreme que a outra produzirá maiores picos de vazão de escoamento superficial. Por isso, no estudo do comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica as suas características físicas revestem-se de especial importância pela estreita correspondência entre estas e o regime hidrológico da bacia. Pode-se dizer que o conhecimento das características físicas de uma bacia hidrográfica constitui uma possibilidade bastante conveniente de se conhecer a variação no espaço dos elementos do regime hidrológico na região. Na prática, a caracterização física de uma bacia hidrográfica possibilita o estabelecimento de relações e comparações entre as características físicas e os dados hidrológicos conhecidos. As relações matemáticas entre as variáveis hidrológicas e as características físicas da bacia, conhecidas como equações de regionalização, permitem a obtenção indireta de variáveis hidrológicas em seções ou locais de interesse nos quais faltem dados, ou em regiões onde, por fatores de ordem física ou econômica, não seja possível a instalação de estações hidrométricas. Sem querer de modo algum esgotar o assunto, apresentam-se neste capítulo alguns elementos que visam a caracterizar fisicamente uma bacia hidrográfica. 2 Os escoamentos através de uma seção qualquer de um curso d’água são provenientes das contribuições naturais subterrâneas, somadas às águas de chuva que se escoam superficialmente. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 14 2.3.1 Área de drenagem da bacia hidrográfica A área de drenagem da bacia hidrográfica ou, simplesmente, área da bacia hidrográfica, A, é a área plana (projetada sobre o plano horizontal) limitada pelos divisores topográficos da bacia. A área de drenagem é um dado fundamental para definir a potencialidade hídrica de uma bacia hidrográfica, uma vez que a multiplicação dessa área pela altura da lâmina d’água precipitada define o volume recebido pela bacia. A área da bacia hidrográfica constitui-se, ainda, em elemento básico para o cálculo de outras características físicas da bacia. A área da bacia hidrográfica é determinada em mapas topográficos. Para a sua determinação é preciso, em primeiro lugar, realizar o traçado do contorno da bacia, ou seja, estabelecer o traçado da linha de separação das bacias vizinhas. Delimitada a bacia, a sua área pode ser determinada com o uso de um planímetro ou eletronicamente (cálculo computacional), quando se dispõe do mapa digitalizado. Alternativamente ao uso do planímetro, embora mais laborioso, pode-se ainda utilizar o método das quadrículas: sobre o mapa topográfico se superpõe uma grade quadriculada em escala conhecida e contam-se as quadrículas interiores ao mapa topográfico; multiplicando-se o número de quadrículas pela área de cada quadrícula, obtém-se a área da bacia hidrográfica. Ás áreas de grandes bacias são normalmente medidas em quilômetros quadrados (1 km 2 = 10 6 m 2 ), enquanto bacia menores costumam ser medidas em hectares (1 ha = 10 4 m 2 e 1 km 2 = 100 ha). 2.3.2 Características de forma da bacia hidrográfica As bacias de grandes rios têm, normalmente, a forma de uma pera ou leque, enquanto as pequenas bacias assumem formas variadas. Dentre as bacias de mesma área, aquelas arredondadas são mais susceptíveis a inundações nas suas partes baixas que as alongadas. A importância da forma da bacia, particularmente para fins de inundação, está associada ao conceito de tempo de concentração, tc, que é o tempo contado a partir do início da precipitação, necessário para que toda a bacia contribua para a vazão na seção de saída (ou para a vazão na seção em estudo), isto é, corresponde ao tempo que a partícula de água de chuva que cai no ponto mais remoto da bacia leva para, escoando superficialmente, atingir a seção em estudo. Alguns índices de forma têm sido utilizados para caracterizar as bacias hidrográficas, como o coeficiente de compacidade e o fator de forma. a) Coeficiente de compacidade O coeficiente de compacidade de uma bacia hidrográfica, kc, é um índice que informa sobre a susceptibilidade da ocorrência de inundações nas partes baixas da bacia. É definido pela relação entre o perímetro da bacia e o perímetro do círculo de igual área. Assim, sendo A a área da bacia e Per o seu perímetro, e sendo r o raio do círculo, ter-se-á A r rA 2 . E, da definição de coeficiente de compacidade, A2 Per k r2 Per k cc , ou A Per 280k c , . (01) Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 15 O coeficiente de compacidade das bacias hidrográficas é sempre um número superior à unidade, uma vez que o círculo é a figura geométrica de menor perímetro para uma dada área A. Bacias que apresentam este coeficiente próximo de 1 são mais compactas, tendem a concentrar o escoamento e são mais susceptíveis a inundações. A título de exemplo, a bacia do rio do Carmo, que banha os municípios de Ouro Preto e Mariana, tem 2.280 km 2 de área de drenagem e seu perímetro mede 319 km de extensão. O coeficiente de compacidade desta bacia é igual a 1,87, o que é um índice relativamente alto. b) Fator de forma O fator de forma de uma bacia hidrográfica, kf, é definido pela relação entre a largura média da bacia e o seu comprimento axial. O comprimento axial da bacia hidrográfica, L, é igual ao comprimento do curso d’água principal mais a distância da sua nascente ao divisor topográfico. A largura média da bacia, , é obtida dividindo-se a área da bacia pelo seu comprimento axial: L A . Assim, o fator de forma resulta kf L AL 2 . (02) Bacias alongadas apresentam pequenos valores do fator de forma e são menos susceptíveis às inundações, uma vez que se torna menos provável que uma chuva intensa cubra toda a sua extensão. A bacia do rio do Carmo do exemplo anterior tem característicasde uma bacia alongada, com 132,3 km de comprimento axial e 17,2 km de largura média, e fator de forma igual a 0,13. Este valor do fator de forma, combinado com aquele anteriormente apresentado do coeficiente de compacidade da bacia do rio do Carmo, sugere que a forma dessa bacia a torna pouco propensa a inundações. 2.3.3 Sistema de drenagem O sistema de drenagem de uma bacia hidrográfica é constituído pelo curso d’água principal mais os tributários (Figura 2.2). O sistema inclui todos os cursos d’água, sejam eles perenes, intermitentes ou efêmeros. Os cursos d’água perenes são aqueles que contêm água durante todo o tempo, uma vez que o lençol subterrâneo assegura uma alimentação contínua e seu nível nunca desce abaixo do leito ou calha do rio. Já os cursos d’água intermitentes mantêm o escoamento apenas durante as estações chuvosas, e secam nas estiagens. Por fim, os efêmeros são aqueles cursos d’água que só se formam durante ou imediatamente após os períodos de chuva, isto é, somente transportam o escoamento superficial direto que chega à sua calha. As características da rede de drenagem de uma bacia hidrográfica podem ser razoavelmente descritas pela ordem dos cursos d’água, densidade de drenagem, percurso médio do escoamento superficial e pela sinuosidade do curso d’água, que são elementos adiante caracterizados. 2.3.3.1 Ramificações e desenvolvimento do sistema de drenagem O estudo das ramificações e do desenvolvimento do sistema de drenagem de uma bacia hidrográfica fornece um indicativo da maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 16 Figura 2.2 – Bacia hidrográfica e seu sistema de drenagem (Fonte: Agência Nacional de Água – ANA) a) Ordem do curso d’água A ordem do curso d’água principal de uma bacia hidrográfica reflete o grau de ramificação do sistema de drenagem desta bacia. A ordem de um curso d’água é um número inteiro estabelecido segundo diferentes critérios. Segundo o critério proposto por Horton e modificado por Strahler, a ordem do curso d’água principal de uma bacia hidrográfica é obtida como segue: i) as pequenas correntes formadoras, isto é, os pequenos canais que não têm tributários, têm ordem 1; ii) quando dois canais de mesma ordem se encontram, o canal formado é de ordem imediatamente superior; iii) da junção de dois canais de ordens diferentes resulta um outro cuja ordem será igual a maior dentre os formadores. b) Densidade de drenagem A densidade de drenagem de uma bacia hidrográfica, d, dá uma boa indicação do grau de desenvolvimento do sistema. É obtida dividindo-se o comprimento total dos cursos d’água da bacia hidrográfica, incluindo-se os perenes, intermitentes e efêmeros, pela área de drenagem. Numa representação matemática, A Li d . (03) Os valores deste índice para as bacias naturais encontram-se, geralmente, compreendidos na faixa de 0,5 km -1 a 3,5 km -1 , sendo que o limite inferior caracteriza as bacias com drenagem pobre e o limite superior aplica-se a bacias excepcionalmente bem drenadas. É importante destacar, ainda, que a densidade de drenagem que se obtém com o emprego da Eq. (03) depende muito da escala do mapa topográfico utilizado na sua determinação. Mapas com escalas reduzidas “escondem” detalhes e levam a uma subavaliação do comprimento total dos cursos d’água. Assim, é importante fornecer, juntamente com a densidade de drenagem, a escala do mapa empregado na sua determinação. A bacia do rio do Carmo, já citada, é muito bem drenada e apresenta densidade de drenagem d = 2,43 km -1 , determinada na escala 1:50.000. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 17 Exemplo 2.1: Determinar, aplicando o critério de Horton modificado por Strahler, a ordem do curso d’água principal da bacia hidrográfica mostrada na Figura 2.3. Solução: O critério de Horton-Strahler estabelece que as correntes formadoras têm ordem 1. Assim, o primeiro passo é lançar na planta da figura o número 1 ao lado de cada corrente formadora (cabeceiras). Em seguida, acompanhando o sentido da corrente, deve-se lançar o número 2 junto aos cursos d’água formados por duas correntes de ordem 1. Assim, ter- se-ão, até esta fase, já identificados os cursos d’água de ordens 1 e 2. O próximo passo é lançar a ordem dos cursos d’água formados pelas correntes já identificadas: no caso da junção de cursos d’água de ordens diferentes (1 e 2, no caso), a corrente formada terá ordem 2; no caso da junção de dois cursos d’água de ordem 2, a corrente formada terá ordem 3. Prossegue-se da mesma forma, isto é, atribuindo a maior ordem ao curso d’água formado por aqueles de ordens diferentes, e atribuindo uma ordem acima no caso do curso d’água formado por aqueles de mesma ordem. A Figura 2.3 traz o resultado da aplicação do método de Horton-Strahler e mostra que o curso d’água principal é de ordem 3. Figura 2.3 – Bacia hidrográfica do exemplo 2.1 2.3.3.2 Percurso médio do escoamento superficial O percurso médio do escoamento superficial, es, é uma medida indicativa da distância média que a água de chuva teria que escoar sobre os terrenos da bacia, caso o escoamento superficial se desse em linha reta desde o seu ponto de queda até o curso d’água mais próximo. Para a obtenção de es, a bacia em estudo é transformada em uma bacia retangular de mesma área e com o lado maior tendo comprimento igual à soma dos comprimentos dos rios da bacia (Figura 2.4). Figura 2.4 – Transformação da bacia em bacia retangular para a obtenção do percurso médio do escoamento superficial Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 18 De acordo com a Figura 2.4, onde o curso d’água principal é representado centrado, iLA 4es es iL4 A (04) ou, es d4 1 . (05) Para a bacia do rio do Carmo, o percurso médio do escoamento superficial é es 103 m. 2.3.3.3 Sinuosidade do curso d’água A sinuosidade de um curso d’água é um fator controlador da velocidade do escoamento e é definida pela relação entre o comprimento do rio principal e o comprimento do talvegue: twL L sin . (06) O comprimento do talvegue, Ltw, é a medida do comprimento da linha de fundo do vale (ou comprimento do vetor que liga a cabeceira à foz do rio principal). 2.3.4 Características físicas da bacia hidrográfica Em uma bacia hidrográfica, a velocidade do escoamento superficial é controlada, em boa parte, pela declividade do terreno. Além disso, a temperatura, a precipitação e a evaporação, que são fatores hidrometeorológicos, são funções da altitude e influenciam o deflúvio médio da bacia. Estas e outras influências das características físicas da bacia hidrográfica sugerem que o seu relevo deve ser bem conhecido para melhor entender o seu comportamento hidrológico. 2.3.4.1 Declividade da bacia A declividade da bacia é importante fator a influenciar a velocidade do escoamento superficial, que determina o tempo de concentração da bacia e define a magnitude dos picos de enchente. Além disso, a velocidade do escoamento condiciona a maior ou menor oportunidade de infiltração da água de chuva e afeta a susceptibilidade para erosão dos solos. A obtenção da declividade de uma bacia hidrográfica pode ser feita por meio de amostragem estatística das declividades normais às curvas de nível em um grande número de pontos localizados aleatoriamente no mapa topográfico. Este método, batizado de “método das quadrículas associadas a um vetor” (VILLELA & MATTOS, 1975), consiste em lançar uma malha quadriculada, traçada em papel transparente, sobre o mapa topográfico da bacia e, pelos pontos de interseção da malha (vértices), construirvetores normais às curvas de nível mais próximas, orientados no sentido do escoamento. Para obter a declividade associada a cada vértice, di, mede-se, em planta, a menor distância entre curvas de nível sucessivas, xi, e calcula- se: i i x z d , (07) sendo z a diferença de elevação entre as curvas de nível. Uma forma de representar a declividade da bacia hidrográfica consiste em fazer a construção do gráfico das declividades em função da frequência acumulada das ocorrências. Para isso, após a determinação das declividades pontuais, procede-se da seguinte forma: i) classificam-se as declividades em ordem decrescente; ii) em função do número de pontos de plotagem, define-se o tamanho do intervalo de classe; iii) contam-se as observações dentro de Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 19 cada intervalo e converte-se esta contagem em frequência relativa; iv) faz-se a contagem das frequências acumuladas. O gráfico é construído lançando-se os pares de valores das frequências acumuladas em função do limite inferior do intervalo de classe correspondente. Pelos pontos do gráfico, traça-se uma linha suave em torno destes pontos. Exemplo 2.2: Construir a curva de declividades da bacia do rio Capivari, afluente da margem direita do rio Araçuaí, com base no conjunto de 417 declividades pontuais obtidas pelo método das quadrículas associadas a um vetor, conforme a Tabela 2.1. Observar que, nesta Tabela, os dados já se apresentam classificados em ordem decrescente. Obter, ainda, a declividade média e a declividade mediana nesta bacia. Solução: Antes da contagem de frequência, define-se preliminarmente o tamanho do intervalo de classe através da operação: intervalo de classe = (maior declividade - menor declividade) número de intervalos. Desejando-se obter 10 pontos de plotagem, com os dados da Tabela 2.1, faz-se: intervalo de classe = (0,727 – 0,000) 10 = 0,0727. Constrói-se, então, a Tabela 2.2 com a contagem das observações e o cálculo das frequências relativa e acumulada nos intervalos correspondentes. A curva de declividades é construída lançando-se, em gráfico, os limites inferiores das declividades da primeira coluna da Tabela 2.2 em função das frequências acumuladas correspondentes. 3 Para o problema exemplo 2.2, este gráfico é representado na Figura 2.5. Do gráfico da Figura 2.5 tem-se que a declividade mediana, dmed, isto é, a declividade correspondente à frequência de 50%, é dmed 0,084, ou dmed 8,4%. Isto significa que 50% das declividades na bacia têm valores superiores (ou inferiores) a 0,084. A declividade média, d , pode ser estimada segundo ii dfd , (08) onde id representa o valor médio da declividade do i-ésimo intervalo de classe e fi é a frequência correspondente. Com os dados do problema exemplo 2.2, constrói-se a Tabela 2.3. O resultado do cálculo com a Eq. (08) é encontrado somando-se os elementos da última coluna da Tabela 2.3: d 0,113. Obs.: a declividade média da bacia poderia, ainda, ser obtida dividindo-se a área sob a curva do gráfico da Figura 2.5 por 100%. 3 Quando as declividades incluem várias ordens de grandeza, pode ser necessário empregar-se uma escala logarítmica nas ordenadas do gráfico da Figura 2.5. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 20 Tabela 2.1 – Declividades da bacia do rio Capivari obtidas pelo método das quadrículas, para o problema exemplo 2.2 0,727 0,253 0,177 0,139 0,117 0,096 0,082 0,066 0,048 0,029 0,000 0,000 0,587 0,250 0,176 0,138 0,116 0,096 0,082 0,066 0,048 0,028 0,000 0,000 0,564 0,248 0,173 0,138 0,115 0,096 0,081 0,065 0,048 0,028 0,000 0,000 0,554 0,243 0,173 0,137 0,115 0,095 0,081 0,065 0,047 0,028 0,000 0,000 0,508 0,241 0,167 0,137 0,114 0,095 0,080 0,064 0,047 0,027 0,000 0,000 0,483 0,241 0,167 0,137 0,114 0,094 0,080 0,064 0,046 0,027 0,000 0,000 0,474 0,236 0,164 0,135 0,113 0,094 0,079 0,062 0,046 0,027 0,000 0,000 0,434 0,232 0,162 0,135 0,113 0,093 0,079 0,062 0,046 0,027 0,000 0,000 0,429 0,232 0,161 0,133 0,111 0,093 0,079 0,062 0,046 0,027 0,000 0,000 0,385 0,230 0,161 0,132 0,111 0,092 0,078 0,062 0,045 0,027 0,000 0,000 0,380 0,224 0,160 0,131 0,111 0,092 0,077 0,061 0,045 0,027 0,000 0,000 0,372 0,221 0,160 0,130 0,111 0,091 0,077 0,061 0,045 0,026 0,000 0,000 0,371 0,221 0,160 0,130 0,110 0,091 0,077 0,061 0,042 0,026 0,000 0,000 0,369 0,219 0,158 0,129 0,109 0,091 0,077 0,061 0,041 0,026 0,000 0,000 0,366 0,218 0,157 0,129 0,108 0,090 0,076 0,061 0,041 0,025 0,000 0,000 0,365 0,218 0,157 0,128 0,108 0,090 0,076 0,061 0,041 0,024 0,000 0,000 0,363 0,216 0,156 0,128 0,107 0,090 0,074 0,060 0,040 0,024 0,000 0,000 0,361 0,216 0,156 0,126 0,105 0,090 0,074 0,059 0,039 0,023 0,000 0,000 0,349 0,216 0,156 0,126 0,105 0,090 0,073 0,059 0,038 0,023 0,000 0,000 0,349 0,212 0,154 0,124 0,105 0,089 0,072 0,059 0,038 0,022 0,000 0,000 0,322 0,211 0,152 0,124 0,105 0,088 0,072 0,058 0,037 0,021 0,000 0,000 0,320 0,209 0,152 0,122 0,104 0,088 0,072 0,058 0,037 0,021 0,000 0,318 0,209 0,151 0,122 0,102 0,088 0,071 0,057 0,036 0,021 0,000 0,316 0,208 0,149 0,122 0,102 0,088 0,071 0,055 0,036 0,020 0,000 0,307 0,205 0,147 0,121 0,100 0,087 0,071 0,054 0,035 0,020 0,000 0,281 0,205 0,146 0,121 0,100 0,086 0,071 0,053 0,035 0,017 0,000 0,281 0,204 0,146 0,121 0,100 0,086 0,070 0,053 0,034 0,016 0,000 0,281 0,201 0,145 0,121 0,100 0,086 0,070 0,053 0,034 0,012 0,000 0,280 0,200 0,145 0,120 0,099 0,085 0,069 0,052 0,034 0,000 0,000 0,273 0,196 0,145 0,120 0,099 0,085 0,069 0,051 0,033 0,000 0,000 0,271 0,189 0,143 0,119 0,099 0,084 0,069 0,050 0,033 0,000 0,000 0,269 0,187 0,142 0,118 0,099 0,084 0,068 0,049 0,032 0,000 0,000 0,267 0,186 0,141 0,118 0,098 0,084 0,068 0,049 0,032 0,000 0,000 0,261 0,185 0,140 0,118 0,098 0,083 0,067 0,049 0,031 0,000 0,000 0,259 0,184 0,139 0,118 0,096 0,083 0,066 0,049 0,030 0,000 0,000 0,254 0,184 0,139 0,117 0,096 0,082 0,066 0,049 0,029 0,000 0,000 Tabela 2.2 – Análise de frequência das declividades da bacia do rio Capivari intervalo de classe das declividades contagem frequência relativa, fi frequência relativa, fi (%) frequência acumulada, Fi (%) [0,7270; 0,6543[ 1 0,00240 0,240 0,24 [0,6543; 0,5816[ 1 0,00240 0,240 0,48 [0,5816; 0,5089[ 2 0,00480 0,480 0,96 [0,5089; 0,4362[ 3 0,00719 0,719 1,68 [0,4362; 0,3635[ 9 0,02158 2,158 3,84 [0,3635; 0,2908[ 9 0,02158 2,158 6,00 [0,2908; 0,2181[ 25 0,05995 5,995 11,99 [0,2181; 0,1454[ 49 0,11751 11,751 23,74 [0,1454; 0,0727[ 136 0,32614 32,614 56,35 [0,0727; 0,0000[ 182 0,43645 43,645 100,00 soma = 417 1,00000 100,000 -------- Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 21 Figura 2.5 – Representação gráfica da distribuição de frequência das declividades da bacia do rio Capivari. Tabela 2.3 – Elementos para o cálculo da declividade média da bacia do rio Capivari com base na Eq. (08) intervalo de classe das declividades declividade média, id frequência relativa, fi ii df [0,7270; 0,6543[ 0,69065 0,00240 0,001656 [0,6543; 0,5816[ 0,61795 0,00240 0,001482 [0,5816; 0,5089[ 0,54525 0,00480 0,002615 [0,5089; 0,4362[ 0,47255 0,00719 0,003400 [0,4362; 0,3635[ 0,39985 0,02158 0,008630 [0,3635; 0,2908[ 0,32715 0,02158 0,007061 [0,2908; 0,2181[ 0,25445 0,05995 0,015255 [0,2181; 0,1454[ 0,18175 0,11751 0,021357 [0,1454; 0,0727[ 0,10905 0,32614 0,035565 [0,0727; 0,0000[ 0,03635 0,43645 0,015865 soma = 1,00000 0,113 2.3.4.2 Curva hipsométrica A curva hipsométrica é uma forma de se fazer a representação gráfica do relevo médio da bacia hidrográfica.Ela fornece a variação de elevação dos terrenos da bacia com relação ao nível do mar. A sua construção gráfica é feita em termos da porcentagem da área de drenagem da bacia hidrográfica que se encontra acima (ou abaixo) das várias elevações. Para a construção da curva hipsométrica procede-se da seguinte maneira: i) delimitada a bacia hidrográfica no mapa, obtêm-se, por planimetria, as áreas entre as curvas de nível consecutivas; ii) determina-se a área total e calculam-se os valores relativos das áreas entre as curvas de nível; iii) obtêm-se os valores das áreas relativas acumuladas; iv) constrói-se o gráfico 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 frequência acumulada (%) d e c liv id a d e ( m /m ) Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 22 das cotas das curvas de nível versus as áreas relativas acumuladas correspondentes e, pelos pontos do gráfico, traça-se uma linha suave de concordância. Além da variação da altitude dada pela curva hipsométrica, outra informação normalmente requerida é a elevação média da bacia, pois estes elementos influenciam a precipitação e as perdas por evaporação e transpiração e, consequentemente, influenciam o deflúvio médio. Exemplo 2.3: Na Tabela 2.4 são fornecidas as áreas compreendidas entre as curvas de nível consecutivas da bacia do rio Capivari, afluente do rio Araçuaí, no Vale do Rio Jequitinhonha, estado de Minas Gerais. Estas áreas foram determinadas por planimetria, a partir de mapa topográfico fornecido pelo IBGE, em escala 1:100.000, com as curvas de nível espaçadas de 50 em 50 metros. Com base nos dados da Tabela 2.4, pede-se: a) construir a curva hipsométrica da bacia do rio Capivari. b) Obter os valores das cotas representativas da altura mediana e da altura média nesta bacia. Tabela 2.4 – Elementos para a representação do relevo da bacia do rio Capivari Cotas (m) Ai (km 2 ) Cotas (m) Ai (km 2 ) 1150 – 1100 9,07 750 – 700 72,35 1100 – 1050 11,20 700 – 650 60,32 1050 – 1000 36,70 650 – 600 51,22 1000 – 950 69,83 600 – 550 31,50 950 – 900 124,66 550 – 500 17,80 900 – 850 162,34 500 – 450 12,05 850 – 800 96,74 450 – 400 5,27 800 – 750 100,07 400- 350 0,44 área A =Ai = 861,56 Solução: Com base nos procedimentos sugeridos no item 2.3.4.2, constrói-se a Tabela 2.5, onde se representam as áreas relativas e áreas relativas acumuladas (3 a e 4 a colunas). A curva hipsométrica é construída lançando-se, nas abscissas, os valores das áreas relativas acumuladas da 4 a coluna da Tabela 2.5, em função das cotas correspondentes (limites inferiores da 1 a coluna da Tabela 2.5), nas ordenadas, e traçando-se uma linha suave pelos pontos. Esta curva, para a bacia hidrográfica do rio Capivari do problema exemplo 2.3, é mostrada na Figura 2.6. A elevação mediana, zmed, é estimada do gráfico da Figura 2.6, a partir da leitura da cota correspondente à área relativa acumulada de 50%. Desta Figura resulta zmed 840m, o que indica que 50% da área de drenagem da bacia encontram-se acima (e abaixo) da cota 840m. A elevação média, z , pode ser estimada segundo ii zA A 1 z , (09) onde Ai é a área compreendida entre duas curvas de nível consecutivas e iz é a média aritmética das cotas destas curvas de nível. Com os dados das colunas 5 e 6 da Tabela 2.5, e com a Eq. (09), obtém-se ii zA A 1 z = 816,5 56861 50436703 , ,. m. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 23 Tabela 2.5 – Elementos para a representação do relevo da bacia do rio Capivari Cotas (m) Ai (km 2 ) áreas relativas, Ai/A x100 (%) áreas relativas acumuladas (%) Cotas médias (m) Cotas médias x A 1150 - 1100 9,07 1,05 1,05 1125,0 10203,75 1100 – 1050 11,20 1,30 2,35 1075,0 12040,00 1050 – 1000 36,70 4,26 6,61 1025,0 37617,50 1000 – 950 69,83 8,11 14,72 975,0 68084,25 950 – 900 124,66 14,47 29,19 925,0 115310,50 900 – 850 162,34 18,84 48,03 875,0 142047,50 850 – 800 96,74 11,23 59,26 825,0 79810,50 800 – 750 100,07 11,61 70,87 775,0 77554,25 750 – 700 72,35 8,40 79,27 725,0 52453,75 700 – 650 60,32 7,00 86,27 675,0 40716,00 650 – 600 51,22 5,95 92,22 625,0 32012,50 600 – 550 31,50 3,66 95,87 575,0 18112,50 550 – 500 17,80 2,07 97,94 525,0 9345,00 500 – 450 12,05 1,40 99,34 475,0 5723,75 450 – 400 5,27 0,61 99,95 425,0 2239,75 400- 350 0,44 0,05 100,00 375,0 165,00 área A = 861,56 = 100,00 ---------- ---------- = 703.436,50 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 co ta , (m ) áreas relativas acumuladas (%) Figura 2.6 – Curva hipsométrica da bacia do rio Capivari do problema exemplo 5. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 24 2.3.4.3 Retângulo equivalente O retângulo equivalente é uma representação simplificada da bacia hidrográfica que serve para avaliar a influência do relevo da bacia sobre o escoamento. Dele se obtém as mesmas inferências da curva hipsométrica. A construção do retângulo equivalente é feita de modo que, na escala escolhida para o desenho: a área do retângulo seja igual à área de drenagem da bacia hidrográfica natural, isto é, retângulo e bacia hidrográfica têm mesma área A; o perímetro do retângulo seja igual ao perímetro da bacia natural (retângulo e bacia hidrográfica têm mesmo perímetro Per); e, além disso, bacia hidrográfica e retângulo devem apresentar o mesmo coeficiente de compacidade, kc. No interior do retângulo equivalente são, ainda, traçadas as curvas de nível na forma de segmentos de reta paralelos ao seu lado menor. Este traçado é feito de modo a respeitar a hipsometria da bacia natural, o que significa que, na escala do desenho, as áreas compreendidas entre duas curvas de nível devem ter correspondência com aquelas da escala real (Figura 2.7). Figura 2.7 – Retângulo equivalente de uma bacia hidrográfica hipotética – no desenho, zi indica a cota da i-ésima curva de nível. Os lados do retângulo podem ser determinados em função da área de drenagem da bacia hidrográfica e do seu coeficiente de compacidade. Para isso, escrevem-se as equações: A = L (10) e Per = 2 (L+). (11) Como, da Eq. (01), A Per 280k c , 2 (L+) = 0,28 Ak c . (12) Das equações (10) e (12), 0AL 560 Ak L c2 , A 1,12 Ak 1,12 Ak L 2 cc ou Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 25 2 c c k 1,12 11 1,12 Ak L (13) e 2 c c k 1,12 11 1,12 Ak . (14) 2.3.4.4 Declividade do leito ou álveo do curso d’água principal O rio principal de uma bacia hidrográfica é normalmente considerado como sendo aquele que drena a maior área dentro da bacia 4 . O seu comprimento, aqui indicado por L, é medido no mapa topográfico com o uso do curvímetro. A declividade do rio principal de uma bacia é uma medida representativa do seu relevo e é muito utilizada em estudos hidrológicos. A velocidade do escoamento em um curso d’água natural depende da declividade da calha fluvial ou álveo: quanto maior a declividade, maior a velocidade do escoamento. A declividade do álveo pode ser obtida de diferentes modos. Para rios que apresentam um perfil longitudinal razoavelmente uniforme, a declividade entre extremos, S1, é uma boa estimativa da sua declividade. A declividade entre extremos é obtida dividindo-se a diferença entre as cotas máxima (cabeceira) e mínima (foz) do perfil pelo comprimento do rio: L zz S fozcabeceira1 . (15) As unidades de medida da declividade deum rio são, normalmente, m/m ou m/km. Existem, ainda, outras medidas mais representativas da declividade de um rio. Uma possibilidade é o método da declividade S10-85, pelo qual a declividade é obtida a partir das altitudes a 10% e 85% do comprimento do rio, comprimento este medido a partir da sua foz. Para a avaliação das altitudes, os dois pontos são marcados no mapa topográfico e suas cotas são determinadas por interpolação a partir das curvas de nível disponíveis. Avaliadas as duas altitudes, a diferença é dividida por 75% do comprimento do rio principal: L0,75 zz S 10%85%8510 . (16) Na Figura 2.8 representa-se o perfil longitudinal do curso d’água (linha espessa) e as linhas de declividades S1 e S10-85. 4 Às vezes, é considerado como aquele de maior comprimento. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 26 Figura 2.8 – Perfil longitudinal e elementos para a determinação da declividade do rio Um valor médio mais representativo da declividade do curso d’água consiste em traçar no gráfico do perfil longitudinal uma linha de declividade S2, tal que a área compreendida entre esta linha e a abscissa seja igual à área compreendida entre a curva do perfil natural e a abscissa. A área sob a curva do perfil pode ser determinada diretamente por métodos gráficos, ou analiticamente somando-se as áreas de elementos trapezoidais, conforme indicado na Figura 2.9. Designando-se a área abaixo da linha do perfil por Ap, 2 xLzzxxzzxzz A nncabeceira12121foz1p , (17) onde zfoz e zcabeceira são as elevações do álveo na foz e cabeceira, e z1, z2, ... zn são as cotas de pontos intermediários que distam x1, x2, ... xn da foz, respectivamente. A declividade S2 pode ser obtida da igualdade: 22foz2foz2fozfozp LS 2 1 LzLLSz2 2 1 LLSzz 2 1 A donde L z 2 L A 2S foz 2 p 2 . (18) Outro índice representativo da declividade média do curso d’água é a declividade equivalente constante, S3, que se obtém a partir da consideração de que o tempo total de percurso da água no canal natural é igual ao tempo de percurso da água num canal hipotético de declividade constante S3. Para obter o tempo total de percurso da água no canal natural este deve ser dividido em um grande número de trechos retilíneos: o tempo total será igual à soma dos tempos de percurso em cada um destes trechos. Admitindo-se a validade da equação de Chèzy (movimento uniforme), tem- se para o i-ésimo trecho: i i iiiHi t L SKSRCV i (19) Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 27 Figura 2.9 – Perfil longitudinal do rio principal e elementos para a obtenção da declividade média S2 onde Vi = velocidade no trecho; Si = declividade do trecho; C = coeficiente de rugosidade de Chèzy; iH R = raio hidráulico; iHi RCK ; Li = comprimento do trecho; ti = tempo de percurso no trecho. O tempo total de percurso será ii i i SK L tT . (20) Para o canal de declividade equivalente constante S3, 33H SK L SRC L V L T , (21) onde L = Li = comprimento do canal. Identificando as Eqs. (20) e (21), e desconsiderando os efeitos de rugosidade e de forma do canal (Ki = K), tem-se i i 3 S L S L , ou, 2 i i 2 3 S L L S . (22) 2.3.5 Cobertura vegetal e camada superficial do solo A cobertura vegetal da bacia hidrográfica exerce importante influência sobre a parcela da água de chuva que se transforma em escoamento superficial e sobre a velocidade com que esse escoamento atinge a rede de drenagem. Quanto maior a área da bacia com cobertura vegetal, maior Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 28 será a parcela de água de interceptação. 5 Além disso, o sistema de raízes da vegetação retira a água do solo e a devolve à atmosfera através do processo de transpiração. A vegetação influencia, ainda, o processo de infiltração: as raízes modificam a estrutura do solo, provocando fissuras que, juntamente com a redução da velocidade do escoamento superficial, favorecem a infiltração. Por isso, quando uma bacia é parcialmente urbanizada, ou sofre desmatamento, tem-se em consequência um aumento do escoamento superficial, em decorrência das menores perdas por interceptação, transpiração e infiltração. Com o desmatamento, o escoamento superficial se dará de forma mais rápida sobre um terreno menos permeável e menos rugoso, o que intensifica o processo de erosão e de carreamento de sólidos às calhas fluviais, lagos e reservatórios, acelerando o assoreamento. O maior volume do escoamento superficial e o menor tempo de resposta da bacia resultam no aumento das vazões de pico que, juntamente com a redução da calha natural do rio, provocam frequentes inundações. O tipo de solo e o estado de compactação da camada superficial têm importante efeito sobre a parcela da água de infiltração. As características de permeabilidade e de porosidade do solo estão intimamente relacionadas com a percolação e os volumes de água de armazenamento, respectivamente. Solos arenosos propiciam maior infiltração e percolação, e reduzem o escoamento superficial. Por outro lado, os solos siltosos ou argilosos, bem como os solos compactados superficialmente, produzem maior escoamento superficial. Adiante, nos capítulos de Infiltração e Água Subterrânea, se tratará em maiores detalhes desse assunto. BIBLIOGRAFIA GUPTA, R.S. (1989). Hydrology and Hydraulic Systems. Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey. PONTIUS, F.W. (technical editor) (199?). Source Water Quality Management, by Robert H. Reinert and John A. Hroncich. In: Water Quality and Treatment – A Handbook of Community Water Suplies, 4 th edition, American Water Works Association, Chapter 4. RAMOS, F, OCCHIPINTI, A.G., VILLA NOVA, N.A., REICHARDT, K. & CLEARY, R. (1989). Engenharia Hidrológica. Coleção ABRH de Recursos Hídricos. Vol. 2. ABRH / Editora da UFRJ. Rio de Janeiro (RJ). SEMADS – SECRETÁRIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – ESTADO DO RIO DE JANEIRO (2001). Enchentes no Estado do Rio de Janeiro: Uma Abordagem Geral. Projeto PLANÁGUA SEMADS / GTZ de cooperação técnica Brasil-Alemanha – Vol. 8. TUCCI, C.E.M., org. (1993). Hidrologia. Ciência e Aplicação. Ed. da Universidade - UFRGS / Ed. da Universidade de São Paulo – EDUSP / Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH. VILLELA, S.M. & MATTOS, A. (1975). Hidrologia Aplicada. Ed. McGraw-Hill. WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION (1981). Guide to Hydrological Practices. Vol I. Data Acquisition and Processing. WMO – No. 168. Secretariat of the World Meteorological Organization. Geneva – Switzerland. 5 Água de chuva que fica retida nas folhagens e troncos. Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 29 EXERCÍCIOS (Balanço hídrico e características físicas da bacia hidrográfica) 2.1) Discorrer brevemente sobre o ciclo hidrológico na natureza, enunciando suas fases básicas, a fonte de energia e a principal força atuante. 2.2) Definir bacia hidrográfica. Como se demarcam os seus limites e se determina a sua área? 2.3) O desmatamento em uma bacia hidrográfica pode ser causa de assoreamento dos rios? Pode ser causa de inundações. Justifique. 2.4) O sistema de abastecimento de água de uma cidade de 250.000 habitantes deverá utilizar como manancial um curso d’água natural cuja área de drenagem, relativa à seção de captação, é de100km 2 . A precipitação média anual na região é de 1.200mm e as perdas anuais por evapotranspiração são estimadas em 800mm. Sabendo-se que o consumo médio é de 200/(hab.dia) e que a vazão residual (vazão ecológica) estipulada pelo órgão ambiental é de 0,5m 3 /s, verifique se esse manancial tem capacidade para abastecer a cidade. 2.5) Na tabela abaixo encontram-se representadas as áreas entre curvas de nível consecutivas referidas a uma determinada bacia hidrográfica. Estas áreas foram obtidas por planimetria, tomando-se um mapa topográfica em escala 1:50.000 (curvas de nível de 20 em 20 metros). Sabendo-se que a bacia tem 76 km de perímetro e que o curso d’água principal tem 25 km de extensão, pede-se: a) calcular a altitude média da bacia hidrográfica; b) fazer a representação gráfica do relevo médio da bacia hidrográfica (i.e., construir a curva hipsométrica) e representar nesta as altitudes média e mediana; c) calcular o coeficiente de compacidade e o fator de forma; d) construir o retângulo equivalente desta bacia. cotas (m) área (km2) 1000 - 980 3,0 980 – 960 3,5 960 – 940 4,2 940 – 920 5,0 920 –900 10,0 900 – 880 58,8 880 – 860 53,5 860 – 840 30,0 840 – 820 20,0 820 – 800 12,0 2.6) Para o cálculo da declividade de um curso d’água natural, é dado o seu perfil longitudinal, conforme tabela abaixo. Distância da foz (km) 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 Elevação em relação ao nível do mar (m) 900 910 930 960 1000 a) Calcular a “declividade entre extremos”, S1, e a declividade S10-85; b) calcular a “declividade média”, S2, definida de modo que se tenha a mesma área abaixo da curva “cota do leito versus distância”; c) calcular a “declividade equivalente constante”, S3, definida a partir da suposição de que o tempo de percurso de uma partícula de água no canal natural é igual àquele no canal de declividade S3. 2.7) Para o estudo das características fisiográficas de duas bacias foram efetuados levantamentos topográficos que produziram os resultados dados na tabela abaixo. Com base nestes elementos, Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 30 calcular a densidade de drenagem, o coeficiente de compacidade e o fator de forma da bacia hidrográfica. Interpretar os resultados. Parâmetro Bacia A Bacia B Área de drenagem (km 2 ) 320 450 Perímetro da bacia hidrográfica (km) 71 120 Comprimento do rio principal (km) 22 63 Comprimento total dos cursos d’água na bacia (km) 112 315 2.8) Na Figura 2.10 encontra-se representado, em escala, o retângulo equivalente de uma bacia hidrográfica. Com base nas propriedades deste retângulo e considerando a escala do desenho, pede- se: a) construir a curva hipsométrica da bacia; b) calcular as altitudes média e mediana da bacia; c) calcular o coeficiente de compacidade da bacia. Figura 2.10 – Retângulo equivalente para a questão 2.8 2.9) Utilizando o critério de Horton-Strahler, estabelecer a ordem do curso d’água principal da bacia representada na Figura 2.11. Figura 2.11 – Bacia hidrográfica e sistema de drenagem para a questão 2.9 Elementos de Hidrologia Aplicada 2. Bacia Hidrográfica Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 31 2.10) A partir de um mapa topográfico e utilizando o “método das quadrículas associadas a um vetor”, obteve-se, para uma dada bacia hidrográfica, a amostragem estatística de declividades normais às curvas de nível, conforme mostrado na tabela ao lado. Com base nestes dados, pede-se: a) construir uma curva de distribuição das declividades na bacia; b) determinar as declividades média e mediana da bacia. declividade (m/m) (intervalo de classe) número de ocorrências (frequência absoluta) ]0,0100 – 0,0090] 15 ]0,0090 – 0,0080] 12 ]0,0080 – 0,0070] 17 ]0,0070 – 0,0060] 10 ]0,0060 – 0,0050] 33 ]0,0050 – 0,0040] 58 ]0,0040 – 0,0030] 85 ]0,0030 – 0,0020] 120 ]0,0020 – 0,0010] 98 ]0,0010 – 0,0000] 123 Elementos de Hidrologia Aplicada 3. Precipitação Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 32 3. PRECIPITAÇÃO 3.1. ASPECTOS GERAIS O regime hidrológico ou a produção de água de uma região (bacia hidrográfica) é determinado por fatores de natureza climática ou hidrometeorológica (precipitação, evaporação, temperatura, umidade do ar, vento, etc.) e por suas características físicas, geológicas e topográficas. Temperatura, umidade e vento são importantes pela influência que exercem na precipitação e evaporação. A topografia é importante pela sua influência na precipitação, além do que determina a ocorrência de lagos e pântanos e influi (juntamente com o solo e a vegetação) na definição da velocidade do escoamento superficial. As características geológicas, além de influenciarem a topografia, definem o local do armazenamento (superficial ou subterrâneo) da água proveniente da precipitação. Para o hidrologista, a precipitação corresponde à água proveniente do vapor d’água da atmosfera que se deposita na superfície da terra sob diferentes formas, como chuva, granizo, neve, neblina, orvalho ou geada. Neste capítulo trata-se da precipitação sob a forma de chuva, por ser incomum a ocorrência de neve no Brasil e pelo fato de que as demais formas pouco contribuem para o regime hidrológico de uma região. A importância do estudo da distribuição e dos modos de ocorrência da precipitação está no fato dela se constituir no principal1 input na aplicação do balanço hídrico em uma dada região hidrológica. 3.2 FORMAÇÃO DAS PRECIPITAÇÕES. TIPOS A atmosfera, camada gasosa que envolve a Terra, é constituída por uma mistura complexa de gases que varia em função do tempo, da situação geográfica, da altitude e das estações do ano. De maneira simples, pode-se considerar atmosfera = ar seco + vapor d’água + partículas sólidas em suspensão. A composição média do ar seco é de 99% de nitrogênio mais oxigênio, 0,93% de argônio, 0,03% de dióxido de carbono e o restante de neônio, hélio, criptônio, xenônio, ozônio, hidrogênio, radônio e outros gases. A composição do vapor d’água na atmosfera varia de região para região, estando entre 0% nas regiões desérticas e 4% em regiões de florestas tropicais. As partículas sólidas em suspensão (aerossóis) têm origem no solo (sais de origem orgânica e inorgânica), em explosões vulcânicas, na combustão de gás, carvão e petróleo, na queima de meteoros na atmosfera, etc. A atmosfera pode ser considerada como um vasto reservatório e um sistema de transporte e distribuição do vapor d’água, onde se realizam transformações à custa do calor recebido do Sol. Apresentam-se, a seguir, os modos de formação e os tipos de precipitação. Nesta apresentação, feita de uma maneira muito sintética, não são fornecidos pormenores acerca do mecanismo de formação, nem discutidas as razões de suas variações, pois isto exigiria um maior 1 Também bastante importante é a evaporação, por ser responsável diretamente pela redução do escoamento superficial. Elementos de Hidrologia Aplicada 3. Precipitação Prof. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior 33 aprofundamento nos estudos da atmosfera, da radiação solar, dos campos de temperatura e pressão, bem como dos ventos e da evolução da situação meteorológica. 3.2.1 FORMAÇÃO A formação das precipitações está ligada à ascensão de massas de ar úmido. Essa ascensão provoca um resfriamento dinâmico, ou adiabático, que pode fazer o vapor atingir o seu ponto de saturação, também chamado nível de condensação – o ar expande nas zonas de menor pressão. A partir do nível de condensação, em condições favoráveis e com a existência de núcleos higroscópios2, o vapor d’água condensa, formando minúsculas gotas em torno desses núcleos. Enquanto as gotas não possuírem peso suficiente para vencer a resistência do ar,
Compartilhar