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PARECER JURÍDICO

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PARECER JURÍDICO
Ementa:
DIREITO TRIBUTÁRIO. IPTU. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO PROMITENTE COMPRADOR. MAJORAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO POR ATO ADMINISTRATIVO. ADEQUAÇÃO EM 200 %. INCONSTITUCIONALIDADE. 
RELATÓRIO
1.		Trata-se de consulta formulada por João acerca da sua responsabilidade ao recolhimento de crédito tributário de IPTU referente à imóvel ao qual é promitente comprador. Inclui-se ao questionamento alvo deste parecer o assunto sobre a incolumidade e legitimidade do crédito tributário constituído.
2.		Faz-se imperioso destacar que o solicitante celebrou Contrato de Promessa de Compra e Venda de Imóvel, por meio do qual restou convencionado que o promitente-comprador entraria imediatamente na posse do imóvel. A titularidade do imóvel e, portanto, a propriedade somente será transferida ao final do adimplemento de todas as 150 (cento e cinquenta) parcelas pactuadas.
3.		São objetos desta perquirição, inicialmente, a existência de sujeição passiva do requerente, dado o cabimento ou não de responsabilidade solidária entre os promitentes. E, em segundo plano, a legitimidade e incolumidade do crédito tributário de IPTU constituído, com atenção à base de cálculo considerada e a sua majoração por ato administrativo, a qual promoveu adequação do valor em 200 %, comparado à base referencial do ano anterior.
 
FUNDAMENTOS JURÍDICOS
DA RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
4.		O Superior Tribunal de Justiça firmou precedente no sentido de que tanto o promitente comprador de imóvel (possuidor a qualquer título) quanto o proprietário deste, na figura de promitente vendedor são contribuintes responsáveis pelo recolhimento de créditos tributários de IPTU[footnoteRef:1]. [1: STJ. REsp n. 1.655.107/SP. Rel. Min. Francisco Falcão. Julgado em 09 de jan. 2018. Publicado em 16 de fev. 2018.] 
5.		Em seus fundamentos, disserta que o Código Tributário Nacional em seu artigo 34, ao apontar como contribuinte de IPTU o possuidor a qualquer título, refere-se às hipóteses de relações de direito real, englobando, portanto, os pactuantes no contrato de promessa de compra e venda de imóvel.
6.		Assim sendo, define na ratio decidendi que o promitente comprador, quanto possuidor a qualquer título de imóvel, possui responsabilidade tributária ao recolhimento do tributo de IPTU, cuja responsabilidade deverá ser somada a do proprietário/promitente vendedor, independente de registro do Contrato de Promessa de Compra e Venda em estabelecimento cartorário.
7.		No caso em análise, com atenção ao explanado anteriormente, conclui-se que João possui obrigação tributária de recolhimento de IPTU, sendo responsável tributário em conjunto com o promitente vendedor.
 DA BASE DE CÁLCULO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO CONSTITUÍDO
Da Discrepância entre o Valor de Negócio e o Valor de Lançamento
8.		Determina o art. 33 do Código Tributário Nacional que para arbitrar a base de cálculo de IPTU deverá ser considerado o valor venal do imóvel, obtido através de cálculos matemáticos pré-determinados por lei municipal. 
9.		Cumpre destacar que este montante não deve ser confundido com o valor de mercado do bem, assim como não deverá ser considerado valor de bens móveis mantidos de forma temporária ou permanente.
10.		Logo, inobstante a discrepância entre o valor de negócio do imóvel com o valor considerado no lançamento do crédito tributário, constata-se que a base de cálculo de IPTU diverge do valor de mercado, devendo ser esse fixado por expressão algébrica fixada em lei. Portanto, mostra-se legítima, neste aspecto, a base de cálculo considerada.
Da Adequação da Base de Cálculo por Ato Administrativo
11.		Determina o precedente firmado pela Corte Superior de Justiça que é defeso ao município atualizar a base de cálculo de IPTU por ato administrativo acima do índice constante do IPCA, prescrevendo ainda que o reajuste em porcentagem superior é possível desde que promovido por ato legislativo (lei municipal). Assim é o entendimento expressado na Súmula de nº 160 desta Colenda Corte.
12.		In casu, verifica-se que a base de cálculo do imóvel foi reajustado em 200% (duzentos por cento), comparado ao valor do ano anterior, tendo sido esta atualização promovida por ato administrativo.
13.		Logo, resta evidente que o ato administrativo promovido pelo Executivo Municipal está em desconformidade com o ordenamento jurídico pátrio, sendo manifestamente ilegal. Por conseguinte, demonstra-se inexigível o crédito tributário constituído, razão pela qual merece ser anulado e reconstituído com total observância aos ditames legais.

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