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Parecer Jurídico

Alguém tem um bom modelo de parecer jurídico para eu pegar a estrutura?

Obrigado

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Ingrid Vanessa

PARECER JURÍDICO Nº 01/2015

1. Assunto: Debate acerca da Redução da maioridade penal

2. Ementa: Maioridade Penal; Constitucionalidade; Delinquentes; Crimes; Inimputabilidade e Imputabilidade Penal; Psiquiatria Forense; Reformulação do ECA; Conselhos Tutelares.

3. Interessado: Colegiado da Faculdade de Ilhéus –Curso de Direito – Disciplina de Processo Penal – Avaliadora: Professora Taiana Levinne C. Cordeiro

4. Relatório: Trata-se de análise formulada através de Seminário Jurídico

Perguntas:

a) A redução da maioridade penal é constitucional?

b) Pontos favoráveis

c) Pontos desfavoráveis

d) É preciso uma reformulação no E. C. A.

e) Solução

Respostas:

a) A redução da maioridade penal sob o aspecto constitucional não resta nenhuma dúvida sobre sua inconstitucionalidade tendo em vista que ferem todos os princípios inerentes a pessoa humana, não só da garantia individual, mas também, da garantia do Estado em promover todos os direitos e o amparo legal, bem como garantir a tutela de seus direitos de cidadão, parte integrante de um contexto social e familiar, diga-se de passagem, em formação que depende do apoio de todos os envolvidos responsáveis neste processo.

“Os considerados menores podem até ter concluído curso superior ou já trabalharem com carteira assinada. A presunção de inimputabilidade é absoluta decorrente do art. 228 da CF/88 e do art. 27 do Código Penal e não se admite prova em contrário. Debate-se muito a possibilidade da diminuição da maioridade penal e qual seria o instrumento necessário para considerar imputáveis. Sobre o auspicioso há basicamente duas posições:

I. A redução de maioridade penal somente seria possível com o advento de nova Constituição, fruto de Poder Constituinte Originário. Portanto, a maioridade penal constitui-se em cláusula pétrea implícita, referente ao direito fundamental de todo o menor de dezoito anos de não ser processado, julgado e condenado pela justiça comum;

II. Já noutro posicionamento é suficiente uma emenda constitucional, por não se tratar de cláusula pétrea, mas de norma constitucional inserida, mas de norma constitucionalmente inserida no capítulo inerente à família, à criança, ao adolescente e ao idoso. Aliás, transita no Senado brasileiro várias propostas de emenda constitucional visando à redução da maioridade penal.

A menoridade de dezoito anos acarreta a inimputabilidade por imaturidade natural o que é confirmado pela presunção penal, na qual por motivos de questões de política criminal, entendeu o legislador brasileiro que não gozam de plena capacidade de entendimento que lhe permita imputar a prática de um fato típico e ilícito.

Considera-se maior, o agente que completou dezoito anos no dia da prática do delito. E, compete ao juízo da Vara da Infância e da Juventude, ou ao juiz da comarca. Exercer tal função processar e julgar o ato infracional cometido por menor inimputável, ainda que a infração seja equiparada ao crime eleitoral (STJ, CC 38430/BA, Relator Ministro Feliz Fischer, S3, DJ 18/8/2003, p.150).[1]

b) Se formos analisar apenas do ponto de vista penal, poderíamos em primeira mão aceitar e compreender que tal medida traria um resultado favorável na sociedade, no que diz respeito aos (crimes), atos infracionais cometidos por estes menores, pois de forma aparente, a prisão ou internamento desses infratores, poderiam trazer para a sociedade uma suposta ideia de redução de ilícitos penais, em sua primeira vista, esse entendimento poderia ser até presenciado por todos, até um dado momento, mas com certeza em médio prazo inversão desses valores traria enormes prejuízos à sociedade, tendo em vista que estaríamos dessa forma formando novas mentes criminosas, aquilo em que foi classificado de “ato infracional”, agora passará a ser chamado de “ato criminoso”, pois tal ação repressiva em nada transformará a conduta dessas crianças, chamadas de “marginais”.

Falar desta forma é ir de encontro a outros fatores que se encontram por trás deste cenário e que de forma maculada fechamos nossos olhos e escondemos nossos rostos por trás das cortinas de uma sociedade conivente com o erro e tenta transferí-lo para a parte mais frágil desse contexto histórico social, que a criança.

c) Ainda que analisemos na ótica penal, a redução da maioridade, em seu primeiro momento traria uma nova expectativa de resultados eficazes, pois veríamos em primeira mão, veiculado na mídia, diversas ações da polícia em prender esses pequenos marginais, que agora estão amparados na qualidade de grandes marginais, considerando também que nesse primeiro momentotestemunharíamos inúmeras prisões, pois prender uma criança, que agora é comparada com um adultoé muito mais fácil, do que aquele que está no crime por toda uma conduta criminosa até sua idade adulta e que detém todos os meios periculosos e organizacionais em dificultar a ação policial.

“As estatísticas mostram que grande número de ilícitos praticados por menores a mando, ou sob o controle de adultos que utilizam tal menoridade para se assegurar de impunidade. Porém, tais propostas distam em muito de resolver ou aplacar qualquer conflito desta espécie, funcionando como autêntico engodo”.[2]

d) Todas as leis servem para regular as ações humanas, sejam elas sociais, comerciais, etc., e essas mesmas leis que foram criadas após um exaustivo processo de análises, discussões, que visaram exclusivamente a ordenação jurídica do mecanismo estatal, elas chegam a um determinado momento da vida humana, que precisam ser reavaliadas, muitas vezes até revogadas, tendo em vista o grande avanço em que a sociedade vem sofrendo, novas transformações e novos modelos, daí o Estado de Direito precisa acompanhar esse novo processo que surge, com o intuito de atender todas as “demandas sociais”, em todas as suasdiversidades e complexidades.

No tocante ao Estatuto da Criança e do Adolescente, embora houvesse tais transformações sociais, políticas, econômicas, descritas acima, não poderíamos nos aproximar dessas mudanças ao universo da criança. Pois, quando falamos em mudanças, diz-se respeito ao contexto e o conceito de uma sociedade produtiva e provedora, em relação ao “menor”, falamos de um ser em formação que depende de nossa estrutura familiar, daí entendemos que se for falar em mudanças, essas mudanças terão que surgir do seio familiar, pois criança continua sendo criança em todas as eras e sociedades.

É por esta razão, que entendemos que não há necessidade de alteração ou mudança do Estatuto da Criança e do Adolescente, pois não há de que falar em mudanças comportamentais sofridas ou modificadas no meio e universo infantil, é a sociedade que muda seus conceitos, é ela que é responsável pelos novos valores impostos, a criança no contexto de família, é que são os receptores dessas mudanças. Portanto, as medidas a serem mudadas, seria reformular novos conceitos de sociedade, em perguntarmos: Qual a sociedade que quero para mim e para as gerações futuras?

“ Com relação ao ECA, a deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), por sua vez, ressalta que é preciso tirar do papel o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), criado pela Lei 12.594/12, que também modificou o ECA. O SINASE regulamenta a execução das medidas destinadas ao adolescente infrator.

Ela aponta que a punição e a ressocialização são apenas uma parte da questão: (É preciso trabalhar a redução da miséria e do analfabetismo, a inserção dessas crianças em situações de risco no espaço escolar). Dorinha defende uma articulação maior entre os ministérios da Educação e da Saúde para a garantia dos direitos.

Para a consultora da área de direitos humanos da Câmara Débora Azevedo, um dos grandes avanços promovidos pela ECA foi à exigência de criação, pelos municípios dos conselhos tutelares para zelar pelos direitos de crianças e adolescentes. Em 25 anos, foram estabelecidos no País mais de 5,7 mil desses institutos, embora ainda haja 44 municípios que não criaram o órgão. Formados por membros eleitos pela comunidade, os conselhos devem ser acionados sempre que se perceba abuso ou situações de risco contra menores de 18 anos”.

e) As crianças e jovens delinqüentes que cometem crimes e contravenções e que são manipuladas por outros delinqüentes adultos são, grosso modo, filhos de uma sociedade injusta assentada em bases econômicas e sociais indignas e perversas. Muitos destes não tiveram a oportunidade de um mínimo para a vida digna, nem família, nem educação, saúde, lazer, e desprovidos de uma formação moral (e ética) e, por isso, atuam contra o direito, e respondem por sua miséria com os únicos gestos que conheceram: a violência, desrespeito à lei e à sociedade.

Guido Arturo Palomba – Em sua obra Tratado de Psiquiatria Forense civil e penal, critica a menoridade penal:

(...) Talvez a mais grave seja o fato de se passar da inimputabilidade para a imputabilidade, sem a admissão de uma zona fronteira entre ambas. Com efeito, hoje juridicamente, aqui no Brasil, um indivíduo com 17 anos, 11 meses e 29 dias, se cometer um delito, por mais hediondo que seja, é absolvido do crime, por força da lei (art. 28 do CP). Se esse indivíduo praticasse o mesmo crime um dia depois, ou seja, com 18 anos, sofreria conseqüências jurídicas completamente diferentes, podendo resultar em condenação com a pena de reclusão, por longo tempo. Assim passa-se do nada para o tudo, da inimputabilidade para a imputabilidade, da absolvição para a condenação, cujo maniqueísmo agride frontalmente as leis da natureza e da vida (...)

Reduzir a menoridade penal significará encarcerar adolescentes e, fornecer matéria-prima para a “indústria do crime”, transformando-os em delinqüentes mais perigosos e abdicar enfim de qualquer possibilidade de educá-los para uma vida digna.

(autoridade/pessoa jurídica ou pessoa física), acerca de (Copiar os dados trazidos).

5. “É o Relatório.

6. “Passo a opinar”.

“Ante o exposto, respondendo a cada um dos questionamentos formulados na consulta, com base na explanação dos itens acima, opino pela não redução da maioridade penal, por infringir todas as garantias constitucionais e os direitos fundamentais”.

7. Fundamentação Jurídica:

Abordar a questão da redução da maioridade penal, neste momento da nossa história, não é tarefa simples e se configura como um dos desafios atuais para o direito e a Psicologia Jurídica. Vivemos um momento no qual a espetacularização da violência, a judicialização das relações sociais, tem ganhado espaço cada vez maior. O debate sobre a redução da idade penal se insere neste contexto. Embora os movimentos em defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes tenham frutificado e conseguido importantes conquistas.

Adolescentes que cometem atos infracionais perante a justiça brasileira hoje recebem tratamento diferenciado quando comparados à população de adultos que cometem delitos, por serem considerados sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento.

A perspectiva colocada no plano legal é Socioeducativo e não penal. O Estatuto da Criança e do Adolescente, ao contrário da ideia que vem sendo amplamente difundida, não compactua com a impunidade e prevê medidas para a responsabilização do adolescente a quem é atribuída à autoria de ato infracional.

Nesse sentido, cabe exigir do Estado a efetiva implementação das medidas socioeducativas e também o investimento em educação de qualidade, além de medidas que eliminem as desigualdades sociais.

Falta, no Brasil, a execução de políticas públicas que fortaleçam os laços familiares e a formação moral das crianças, posto que a juventude deste país é vítima da inexistência de políticas de inclusão e não deve ser criminalizada por essa falha para a qual não concorreu.

A delinquência juvenil é, portanto, um indicador de que o Estado, a sociedade e a família não têm cumprido adequadamente seu dever de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos da criança e do adolescente.

Criminalizar o jovem com penalidades no âmbito carcerário seria a escolha mais simples para a não solução de um problema, bem como sua ocultação até um novo e inevitável colapso social.

“É o Parecer”.

8. Conclusão:

Não há dados que comprovem que a redução da idade penal reduz os índices de criminalidade juvenil. Cabe ressaltar que nos países onde a maioridade é inferior a 18 anos não houve redução da prática de atos infracionais. 

A busca impetuosa de um “bode expiatório” para os fracassos sociais são o sustentáculo dos argumentos de defesa da redução da idade penal. Instala-se um circulo vicioso de violação de direitos no qual a omissão do Estado (governo e sociedade civil) e as verdadeiras causas permanecem ignoradas. 

Experiências exitosas indicam que são as políticas sociais, e não a repressão desmedida, que têm o potencial para diminuir o envolvimento dos adolescentes com a violência. 

ECA não propõe impunidade, mas a responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de medidas socioeducativas.

A violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição, antes pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a produzem.

Dessa forma, a PEC vai contra os avanços da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente da qual o Brasil é signatário.

Ademais, acredita-se que as causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis penais severas. Abrir a porta da prisão a jovens, menores de 18 anos, é fechar a porta não somente para o seu próprio desenvolvimento, mas também para o desenvolvimento do país.

Atacar o indivíduo, desconsiderando as causas da violência e da criminalidade, é a resposta irracional a um apelo da sociedade de caráter mais amplo, por justiça social. Ao contrário a redução da maioridade penal, posto que a aprovação da PEC não irá reduzir a violência, nem suas causas, servindo apenas para desviar a atenção do problema real, que só poderá ser sanado por meio de políticas sociais efetivas.

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