Buscar

Apostila - História da saúde

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO EM SAÚDE 
2 
 
 
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR 
 
Professora Me. Andressa Lorena Ieque, Mestrado em Ciências da Saúde pelo 
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Estadual de 
Maringá (UEM) (2018). Graduada em Biomedicina pela UEM (2016). Possui 
experiência no desenvolvimento e atuação em atividades de pesquisa, ensino e 
extensão na área da saúde, mais especificamente, saúde pública, microbiologia 
clínica e doenças infecciosas. Na área de extensão educacional, participou 
desenvolvendo atividades e palestras para comunidade, que buscam esclarecer e 
educar sobre assuntos da área da saúde relevantes a cada grupo específico, sendo 
estes crianças e adolescentes em escolas da rede pública de ensino, trabalhadores e 
idosos em Unidades Básicas de Saúde (UBS). 
 
 
3 
 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Olá caro (a) aluno (a)! Seja bem-vindo à disciplina História da Saúde. 
Estudaremos como a saúde se consolidou e quais fatores históricos contribuíram para 
o seu desenvolvimento desde a antiguidade até os dias atuais. Veremos que a 
preocupação com a saúde dos indivíduos nem sempre ocorreu de modo natural, pois 
muitas vezes foi forçada a receber atenção devido ao aparecimento de doenças que 
devastaram a vida de muitas pessoas ou apoiado na necessidade de crescimento 
econômico. 
Os fatores que despertavam o interesse do governo para a saúde variavam 
muito de acordo com o momento histórico que estava sendo vivido, e por esse motivo, 
é importante conhecer seu percurso histórico. Nesse contexto, compreenderemos de 
modo geral e pontual, as influências que a religião, a cultura, a política e a economia 
exerceram sobre o processo de construção do sistema de saúde, no mundo e no 
Brasil. 
 
4 
 
 
SUMÁRIO 
 
Unidade I – Aspectos históricos da saúde pública no mundo: da antiguidade à 
revolução Industrial .................................................................................................. 5 
A saúde na antiguidade ........................................................................................... 6 
A Era do pensamento científico ............................................................................. 11 
 A Revolução Industrial e a Reforma Sanitária ...................................................... 18 
Unidade II – Aspectos históricos da saúde pública no mundo: a evolução da 
ciência e da educação em saúde ......................................................................... 277 
A Era bacteriológica ............................................................................................. 288 
A atenção à grupos específicos da sociedade e a educação em saúde ................ 33 
A Saúde moderna .................................................................................................. 36 
Unidade III – Aspectos históricos da saúde pública no Brasil: da colônia à Era 
Vargas ...................................................................................................................... 42 
A colônia ................................................................................................................ 43 
A República ............................................................................................................ 45 
A Era Vargas ......................................................................................................... 49 
Unidade IV – Aspectos históricos da saúde pública no Brasil: a consolidação do 
sistema de saúde .................................................................................................... 53 
O fim da Era Vargas ............................................................................................... 54 
A ditadura ............................................................................................................... 55 
A consolidação do sistema de saúde ..................................................................... 57 
 
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………….63 
 
 
5 
 
 
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA SAÚDE 
Unidade I – ASPECTOS HISTÓRICOS DA SAÚDE PÚBLICA NO MUNDO: DA 
ANTIGUIDADE À REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Professora Me. Andressa Lorena Ieque 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
 Conhecer a história da saúde na antiguidade; 
 Definir as principais doenças que acometiam os povos antigos; 
 Compreender como os povos egípcios e gregos contribuíram para os 
primórdios da saúde; 
 Analisar como a cultura e a religião influenciaram a assistência em saúde na 
Idade Média; 
 Entender como o início do pensamento científico incentivou a promoção de 
mudanças na saúde; 
 Avaliar como a Revolução Industrial influenciou as condições de vida e 
impulsionou a Reforma Sanitária; 
 Explanar as principais doenças e epidemias que acometiam os povos desde a 
antiguidade até o período da Revolução Industrial; 
 Apresentar personagens médicos e políticos que contribuíram na evolução do 
sistema de saúde. 
 
 Plano de estudo: 
 
Tópico 1 – A saúde na antiguidade. 
Tópico 2 – A Era do pensamento científico. 
Tópico 3 – A Revolução Industrial e a Reforma Sanitária. 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
INTRODUÇÃO À UNIDADE 
 
Olá! A partir de agora daremos início à disciplina História da Saúde, na qual 
abordaremos os vários aspectos históricos que contribuíram para a formação do 
sistema de saúde tal como possuímos hoje. Esses aspectos históricos serão tratados 
por meio de uma linha do tempo, dessa forma compreenderemos como e por quais 
motivos as mudanças foram ocorrendo. Portanto, iniciaremos nosso estudo na 
antiguidade até a atualidade. 
Para melhor entendimento, nossas unidades serão divididas em tópicos, sendo 
que em cada um deles, trataremos de um período diferente da história. É importante 
destacar que essa divisão foi feita com base em fatos que marcaram a época, 
influenciados, principalmente pelo modo de pensar da sociedade, pela cultura, pela 
política e também pela economia. Apesar de essa divisão existir e facilitar nossa 
trajetória, devemos ter a consciência de que a transição entre um período e outro não 
acontece de uma hora para outra, pelo contrário, os pensamentos vão mudando e as 
mudanças vão se instalando lentamente. 
Nessa primeira unidade, temos a divisão em três tópicos: a saúde na 
antiguidade, em seguida a Era do pensamento científico e no terceiro a Revolução 
Industrial. No primeiro tópico, estudaremos os primórdios da saúde na Idade Antiga e 
veremos alguns acontecimentos que datam de alguns anos antes de cristo até 
aproximadamente o século XVI, que marca o fim da Idade Média. 
No tópico 2, compreenderemos como o Renascimento provocou mudanças 
importantes no modo de pensar da humanidade e impulsionou a busca pelo 
conhecimento científico, além de começar a transformar os serviços de assistência à 
saúde. Por fim, no último tópico, entenderemos como a Revolução Industrial contribuiu 
para o início da Reforma Sanitária. 
 
A SAÚDE NA ANTIGUIDADE 
 
Achados arqueológicos de 2.000 anos antes de Cristo mostram que a 
preocupação com as condições sanitárias existe desde as antigas civilizações. No 
Egito, Tróia e Creta foram evidenciadas construções de banheiros e esgotos, com 
sistemas de destino de dejetos e de suprimento de água adequada para beber 
7 
 
 
(ROSEN, 1994). 
Por muito tempo o povo associou o surgimento de doenças a causas naturais 
e divinas, assim, quando enviadas por deuses seriam punições devido à perversidade 
do ser humano. A partir do século V e IV a.C, esse pensamento começou a mudar 
com os gregos, que desenvolveram um olhar mais racional e científico, então 
passaram a associar as causas das doenças ao clima e ao ambiente físico, porém, 
sem abandonar completamente o julgamento naturalista (ROSEN, 1994). 
Os primeiros relatos de doençastransmissíveis são encontrados na literatura 
da Grécia. Episódios de graves dores de garganta com formação de membranas, 
amígdalas ulceradas e voz anasalada sugerem casos de difteria, que parece ter 
provocado endemias na Índia, na Grécia, na Síria e no Egito. Os registros também 
indicam a ocorrência de malária, alguns escritores chegaram a relacionar sua causa 
com a sazonalidade e a origem da água, apesar de não compreenderem muito bem a 
relação (ROSEN, 1994). 
A profissão médica passou a receber maior atenção no final do século V, com 
o objetivo de oferecer mais assistência à população. Os médicos apresentavam um 
pensamento filosófico e para eles a saúde residia na harmonia entre o homem e o 
ambiente, e por essa razão, trabalhavam com um olhar sanitarista. Tanto que, a 
literatura sugere que os médicos deveriam ser consultados durante os movimentos de 
colonização grega, para que investigassem as condições do lugar, porque para eles 
os fatores físicos do ambiente tinham forte influência sobre o equilíbrio do corpo 
humano (ROSEN, 1994). 
Nesse cenário os médicos também defendiam a prática da higiene e de uma 
nutrição equilibrada para manter uma vida saudável, porém, diante da economia 
escravista, apenas um número pequeno de pessoas pertencentes à classe nobre tinha 
acesso a tais condições (ROSEN, 1994). 
Os romanos foram os principais responsáveis pelo aprimoramento das 
condições sanitárias, pois contribuíram fortemente para o conhecimento de 
construções e instalações sanitárias. Além de muitas cidades apresentarem sistema 
de esgoto, esse império ficou marcado pelo desenvolvimento de suprimento de água 
através de sistemas de aquedutos, que permitiam o transporte e a utilização de água 
à distância (ROSEN, 1994). O sistema de suprimento distribuía água para fontes, 
banheiros e outras estruturas públicas, contribuindo para as necessidades básicas da 
8 
 
 
vida civil. Além disso, eles dedicavam atenção especial à pureza da água, 
preocupando-se em separar os aquedutos que possuíam água adequada para beber, 
dando outro destino útil aos que não possuíam (ROSEN, 1994). 
Graças às instalações públicas acessíveis, os romanos adquiriram o costume 
de tomar banho regularmente, sendo comum encontrar ambientes com salas para 
banhos. Isso contribuiu para melhorar as condições de higiene, apesar de algumas 
práticas anti-higiênicas terem surgido nos últimos anos do Império (ROSEN, 1994). 
Apesar das dificuldades em estabelecer um diagnóstico preciso, há evidências 
de que ocorreram epidemias de tifo exantemático, peste bubônica e varíola na história 
de Roma. Com menor frequência e menos duradouras, também ocorreram epidemias 
de difteria, malária, febre tifoide, disenteria e tuberculose. O autor George Rosen, em 
seu livro “Uma História da Saúde Pública” defende que: 
 
O cuidado da Roma imperial com o suprimento de água, e o destino 
da água de esgoto, provavelmente ajudou na prevenção da febre 
tifoide e da disenteria. O apreço dos romanos pelo banho, e a 
consequente diminuição do Pediculus corporis, talvez tenha evitado 
surtos de tifo exantemático (ROSEN, 1994, p. 45). 
 
Entre as principais contribuições de Roma para a medicina, estão o surgimento 
de um serviço público de médicos municipais e também a criação de hospitais. No 
início, a medicina era exercida por sacerdotes, escravos e mais tarde, homens livres 
na república romana. A partir do século III a.C, os médicos gregos começaram a 
migrar para Roma e passaram a ser mais requisitados (ROSEN, 1994). 
Entretanto, a medicina era acessível apenas para quem tinha dinheiro, 
enquanto os pobres recorriam à medicina popular e aos deuses. No século II d.C., os 
médicos foram nomeados e distribuídos para atender aos pobres em várias cidades e 
também a ensinar a medicina. Além disso, a partir do século I d.C., iniciaram-se as 
construções de enfermarias para escravos e hospitais públicos para civis e militares 
(ROSEN, 1994). 
No fim do século V, com a invasão dos bárbaros e o surgimento de novas 
políticas econômicas e sociais, houve a queda do regime romano e iniciou-se o 
período da Idade Média. As principais epidemias que marcaram o início da Idade 
Média foram peste de Justiniano e Peste Negra. Outras doenças como lepra, peste 
bubônica, varíola, difteria, sarampo, influenza, malária, ergotismo, tuberculose, 
9 
 
 
escabiose, erisipela, antraz, tracoma, malária também estavam presentes. As 
doenças que tiveram maior impacto na saúde pública medieval foram lepra e peste 
bubônica (ROSEN, 1994). 
 
 
Baseado na cultura cristã, ainda prevalecia o pensamento de que o 
adoecimento era uma forma de punição pelos pecados. Nesse contexto, as pessoas 
buscavam combater as doenças através da religião e recorriam aos mosteiros para 
SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: 
 
 A lepra é uma das doenças que causaram mais terror à humanidade. Ela 
começou a se espalhar pela Europa por volta dos séculos VI e VII, alcançando um pico 
assustador nos séculos XIII e XIV. A população pobre era a mais acometida, 
representando um problema social e sanitário muito sério. 
Baseado no fato de que a lepra era contagiosa e colocava em risco outras 
pessoas, a notificação passou a ser obrigatória. Porém, juntamente a essa medida 
evolutiva de saúde pública, o isolamento dos leprosos também passou a ser exigido, 
tirando a liberdade e direitos de muitas pessoas. 
A igreja tomou para si a responsabilidade de controlar o problema baseada no 
princípio de contágio do Velho Testamento, passando a considerar os leprosos como 
impuros, por apresentarem uma condição patológica. Como solução, os leprosos 
deveriam isolar-se da comunidade e submeterem-se aos rituais de purificação. Nesse 
contexto, surgiram as casas de leprosos, que chegaram a cerca de 19 mil em toda a 
Europa. 
Hoje em dia essa doença é chamada de Hanseníase e sabe-se que ela é 
causada por uma bactéria, que foi descoberta em 1873 (Mycobacterium leprae). O 
tratamento é realizado através da rede pública de saúde e apesar de longo, alcança a 
cura. 
Para ler mais sobre o assunto, acesse a matéria “Lepra: a maldição divina”, no 
link abaixo: 
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-
divina.phtml 
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml
10 
 
 
realizar orações. Consequentemente, no século IX, surgiram mosteiros que 
apresentavam muitos recursos e isso impulsionou a construção de comunidades 
urbanas (ROSEN, 1994). 
As cidades surgiram na forma de aglomerados com muitos problemas, 
principalmente relacionados à distribuição de água limpa, criação de animais e 
aumento de sujeira nas ruas. Para combater esses problemas, foram criados 
regulamentos para exigir organização da população, além disso, as ruas foram 
pavimentadas e a criação de animais de frente à rua foi proibida para manter a limpeza 
e organização (ROSEN, 1994). 
Existia uma crença de que o surgimento de doenças estava associado a pontos 
que vendiam alimentos, que poderiam estar estragados. Desse modo, iniciou-se a 
inspeção rigorosa dos alimentos como uma medida preventiva de doenças, sendo um 
importante marco da administração pública medieval (ROSEN, 1994). 
A preocupação da população em viver mais veio acompanhada de 
regulamentações acerca da higiene e cuidados pessoais com habitação, limpeza, 
sono e nutrição. No fim da Idade Média, as assistências médicas e sociais estavam 
bem mais evoluídas. A classe médica foi dividida em clínicos, cirurgiões e os 
chamados itinerantes, responsáveis por procedimentos mais sérios e difíceis. Além 
disso, ainda no século XII aumentaram as construções de hospitais e instituições 
beneficentes, como asilos e abrigos para homens, mulheres e crianças, e a partir do 
século XIII, a responsabilidade dos hospitaispassou a migrar das mãos da igreja para 
a municipal. 
11 
 
 
 
 
A ERA DO PENSAMENTO CIENTÍFICO 
 
A transição da Idade Média para o Renascimento ocorreu de forma lenta e 
gradual, com o surgimento de uma revolução tecnológica, caracterizada pelo 
crescente interesse em progredir, principalmente industrialmente, que abriu espaço 
ao interesse pela ciência. No campo da saúde pública, a teoria voltada à ciência 
evoluiu rapidamente, porém a prática sanitária mudou muito pouco (ROSEN, 1994). 
Estudiosos focaram em conhecer o corpo humano e as doenças, buscando 
elaborar teorias científicas que provassem os fenômenos naturais. A área da 
epidemiologia e a da observação clínica evoluiu muito no conhecimento teórico e 
contribuíram para a descrição de várias doenças, como a coqueluche, a febre tifoide 
e a escarlatina. Essa caracterização clínica representa um passo importante para a 
definição de doenças importantes, além de abrir caminho para implementação de 
medidas de controle de saúde pública específica (ROSEN, 1994). 
SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: 
 
 A pandemia da peste bubônica parece ter surgido no século XIV na Ásia Central, 
em uma região de roedores selvagens das estepes. A doença se espalhou para o oeste 
até atingir o mar Negro, alcançando a Europa em 1348. A peste arrasou a Europa 
durante 3 anos e ainda permaneceu presente em surtos intervalados até 1388. 
As pessoas que pegavam a doença assumiam um estado de pânico pela 
associação à ira divina e à negação da comunidade. O princípio da notificação e 
isolamento iniciado com a lepra foi aplicado para peste bubônica, com a diferença de 
que os enfermos eram isolados durante 40 dias em suas próprias casas. As pessoas 
que ali residiam com o doente também ficavam em isolamento. 
Mais tarde, as medidas de controle adotadas para a lepra e a peste bubônica, 
evoluíram para sistemas capazes de combater doenças contagiosas, com a criação de 
estações de observação e isolamento e procedimentos de infecção, sendo hoje práticas 
comuns na saúde pública. 
O documentário a seguir ilustra um pouco da história da Peste Negra na Idade 
Média: https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk 
https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk
12 
 
 
As epidemias estudadas ou observadas pela primeira vez nos séculos XVI e 
XVII foram: o suor inglês, tifo exantemático, escorbuto, escarlatina, varicela e a sífilis. 
A sífilis surgiu no século XV e seu caráter sexual foi definido rapidamente e logo foram 
tomadas medidas em busca de controlar as fontes da infecção. Essas medidas de 
controle eram baseadas em outras doenças contagiosas como a lepra e a peste, com 
notificação dos casos e tratamento em locais destinados especificamente para esse 
grupo de doentes (ROSEN, 1994). 
Vários estudiosos tentaram esclarecer a origem dessas doenças e para eles o 
contágio estava relacionado com a atmosfera. Thomas Sydenham e Fracastoro 
postularam teorias de que a constituição da atmosfera determinava o aparecimento 
de enfermidades devido à presença de agentes infecciosos, tratados como sementes 
ou seminárias na época, que tinham a capacidade de se reproduzir e persistir no 
ambiente, e ainda, invadir o corpo humano e causar doença. Essas teorias receberam 
o nome de miasmáticas, as quais caíram apenas após o descobrimento da 
bacteriologia (ROSEN, 1994; ANDRADE, 2001). 
Por volta de 1560, surgiram os primeiros relatos de doenças e acidentes 
relacionados ao trabalho dos mineiros, chamando a atenção para o grupo dos 
trabalhadores. Esse grupo passou a ser estudado e mais tarde, a Revolução Industrial 
impulsionou o surgimento da medicina preventiva já por volta do século XIX, na qual 
a saúde pública introduz medidas preventivas baseadas nestes riscos ocupacionais 
(CAMPOS, 2012). 
O Estado passou a direcionar o governo visando o bem-estar da sociedade 
como idêntico ao bem-estar do Estado. Esse sistema ficou conhecido como 
mercantilismo e influenciou a administração da Saúde Pública (ROSEN, 1994). Para 
os políticos, o aumento do poder e riqueza nacional dependiam de uma população 
grande e saudável, e, portanto, esta relação levantou a necessidade de dar atenção 
aos problemas de saúde. Uma população saudável apresenta alta produtividade no 
trabalho, o que é essencial para o crescimento da indústria e, consequentemente do 
país (CAMPOS, 2012). 
Nesse sentido, o Estado passou a investir na análise dos problemas de saúde 
através da aplicação de métodos estatísticos e, isso contribuiu para o estudo e 
desenvolvimento da Saúde Pública. Entre as variáveis estudadas estavam taxa de 
nascimentos e de mortes, variações das taxas de mortes, segundo as estações ou 
13 
 
 
local de moradia. Portanto, as condições civis, morais e econômicas estavam sendo 
analisadas por teorias matemáticas, que permitiam calcular as perdas econômicas em 
consequência das doenças e esclarecer sobre a morbidade e mortalidade da 
população (ROSEN, 1994). 
 Esses estudos passaram a acontecer de forma fragmentada pela Europa, até 
que os governos pudessem reunir conhecimentos suficientes para a implantação de 
uma política de saúde pública. Como verificamos, no decorrer da história, as 
autoridades tomavam decisões que julgavam mais convenientes para a resolução de 
problemas pontuais. Agora, com a criação de um sistema nacional de saúde pública, 
passa a existir um conselho permanente, que é responsável por avaliar com base 
científica os problemas de saúde e tomar medidas de controle para todos os 
problemas, que de alguma forma, influenciavam no bem-estar da população (ROSEN, 
1994). 
 A limpeza das ruas era de responsabilidade dos próprios moradores e foram 
determinadas medidas punitivas como multas para quem as poluísse ou deixassem 
animais perambulando, especialmente porcos, devido ao risco de sujeira por 
excrementos. A partir do século XVI, as autoridades começaram a empregar 
limpadores de ruas para recolher sobras e material dos esgotos. Porém, o destino dos 
esgotos continuou sendo um problema até meados do século XIX (ROSEN, 1994). 
 O suprimento de água a partir de poços e nascentes naturais passou a ser 
insuficiente com o crescimento da população, sendo necessário um aprimoramento 
do sistema. No fim do século XVI e no século XVIII, houve um aumento marcante na 
instalação de sistemas hidráulicos e na criação de companhias de água, que se 
tornaram responsáveis pelo suprimento de água em um nível industrial. Essas 
mudanças só foram possíveis graças às inovações tecnológicas que estavam 
acontecendo na época, como por exemplo, as bombas de água. A prática de filtração 
da água teve início no século XVI, porém, a sua aplicação ao nível de cidades ocorreu 
apenas no século XIX (ROSEN, 1994). 
 O desenvolvimento da ciência no século XVI e XVII, inclusive no campo da 
anatomia e fisiologia, permitiu um conhecimento mais preciso das doenças e os 
estudiosos passaram a concretizar a ideia de que as doenças transmissíveis eram 
causadas por microrganismos. Porém, esse crescimento não resultou em muitas 
mudanças sobre a administração dos problemas de saúde comunitária até o século 
14 
 
 
XIX (ROSEN, 1994). 
Apesar do crescimento do conhecimento tecnológico e científico nos séculos 
XVI, XVII e XVII, os problemas de saúde pública continuaram sendo tratados de 
maneira semelhante àquela que se fazia na Idade Média. As mudanças mais 
marcantes na administração da saúde pública e a fundação do movimento sanitário 
ocorreram efetivamente no século XIX (ROSEN, 1994). 
O autor Rosen descreve em seu livro “História da Saúde Pública”, que: 
 
Cada vez mais os homens, tendo experimentado a transformação, 
achavam difícil conceber uma sociedade estática. Discutia-se a 
conveniência de uma mudança, ou o modo de realizá-la, mas todos 
viam a mudança como inerente à sociedade. Essa atmosfera 
intelectual e emocional, e suas atitudes, nascem do Iluminismo e da 
Revolução Industrial.As situações criadas por esses movimentos 
serviram como sementeira para a germinação de ideias e tendências 
revolucionárias da Saúde Pública no século XIX. (ROSEN, 1994, p. 
113). 
 
 O Iluminismo regia a aceitação da inteligência e a utilização da razão para o 
progresso da humanidade. A obra Enciclopédia das Artes, Ciências e Ofícios 
publicada em 1751, reuniu o conhecimento de vários pensadores e filósofos que se 
concentravam na reforma da sociedade. O filósofo Diderot, em seus artigos, escreveu 
sobre a importância de combater a mortalidade infantil para o crescimento 
populacional e sugeriu mudanças na assistência médica, chamando atenção para 
fatores que poderiam contribuir para melhorar o funcionamento dos hospitais 
(ROSEN, 1994). 
 A consciência e o conhecimento das consequências que as doenças causavam 
fizeram com que alguns grupos da população como, médicos, clérigos e mercadores 
e outros cidadãos de espírito público exigissem melhoras. No fim do século XVII e 
início do XVII, houve um aumento marcante no número de habitantes, devido a uma 
alta na taxa de nascimento e uma queda na taxa de mortes. Vários movimentos 
populares contribuíram para esse cenário, como por exemplo: 
 
 O movimento do bem-estar da criança que impulsionou a reforma das condições 
responsáveis pela mortalidade infantil; 
 A Campanha contra o Gim, que resultou no controle do licenciamento e teor de álcool 
da bebida e o declínio do consumo teve um efeito considerável na mortalidade; 
15 
 
 
 A luta contra o abandono e morticínio de crianças por negligência, bebês indesejados 
ou até mesmo assassinatos. Na França, Alemanha e Londres surgiram linhas de defesa 
exigindo direitos das crianças à vida e à liberdade, sendo que em alguns casos, foram 
definidas regras sobre amamentação, alimentos, vestes e exercícios para as crianças. 
Concomitantemente, houve também esforços para melhorar a obstetrícia e redução da 
mortalidade materna; 
 Atenção às condições de saúde dos trabalhadores, com tomada de medidas para 
exterminar doenças ocupacionais como o escorbuto dos marinheiros, doenças dos 
mineiros e metalúrgicos e também de soldados; 
 Reforma do sistema penal e situação dos presídios; 
 Atenção à demência e reforma do tratamento dos doentes em hospícios. Philippe Pinel 
e William Tuke e seus pensamentos precederam as mudanças iniciais na evolução do 
sistema humano de cuidados aos doentes mentais. Eles defendiam que os hospícios 
deveriam oferecer um ambiente familiar aos pacientes, livres de brutalidades e 
correntes. Esses pensamentos iniciaram por voltar de 1792 e contribuíram para a 
criação de hospitais psiquiátricos municipais em 1815, que demonstravam progresso 
nos métodos de tratamento e padrões profissionais no cuidados dos enfermos mentais 
(ROSEN, 1994, p. 117-123). 
 
Com o crescimento das cidades, muitos trabalhadores migraram para as 
metrópoles e surgiu a necessidade de atenção à saúde da população pobre, que não 
tinha condições de pagar pelos serviços médicos. Nesse contexto, principalmente em 
Londres, foram criados associações e hospitais beneficentes, com focos especiais de 
atendimento. O Hospital de Londres foi fundado para oferecer atendimento a todas as 
pessoas doentes, em particular, manufatureiros, marinheiros e suas esposas e filhos. 
O Hospital de Middlesex, criado em 1746, tinha o objetivo de atender pacientes com 
varíola, o Hospital Lock para pacientes com doenças venéreas e o Hospital de São 
Lucas, para pacientes com doenças mentais, entre muitos outros. Esse movimento se 
espalhou, inicialmente para cidades vizinhas, até atingir outros locais da Europa 
(ROSEN, 1994). Este autor ainda salienta que: 
 
Essas instituições não nasciam do governo, mas resultavam de 
esforços de cidadãos e subscrições e heranças as financiavam […] 
Não obstante, ajudaram a criar um padrão de comportamento, comum, 
nos esforços da Saúde Pública do século XIX, na luta contra os 
problemas trazidos pela industrialização. Esse padrão se caracteriza 
por várias fases: primeiro um indivíduo, ou um pequeno grupo 
influente, reconhece um mal social; em seguida, empreendem-se, 
mediante iniciativa individual, estudos, experimentos ou 
melhoramentos; por fim, essa agitação leva o governo a agir e, em 
caso do êxito, à legislação. (ROSEN, 1994, p. 126). 
 
 Embora os hospitais representassem um grande avanço para a saúde, havia 
um lado que deixava a desejar por práticas primitivas de enfermagem e higiene pobre. 
16 
 
 
As melhorias nas instalações sanitárias e do padrão de limpeza foram influenciadas 
por James Lind, o pioneiro da higiene naval. A reforma dos hospitais passou a ser 
levada a sério e a produzir mudanças efetivas no início do século XIX (ROSEN, 1994). 
Os esforços para melhorar a qualidade da água aconteciam, mas demoraram 
a mostrar êxito. Em meados de 1820, os canos de suprimento de água passaram a 
ser substituídos por canos de ferro fundido. Em 1829, James Simpson introduziu em 
Londres a filtração arenosa, lenta, feita por camadas de pedras grandes e pequenas, 
cascalho e areia. Nessa época, o propósito principal era remover a poluição grosseira 
e clarear a água (ROSEN, 1994). 
 Alguns médicos, influenciados pelas doutrinas dos filósofos políticos e dos 
teóricos da ciência política, tentaram aplicar esses conceitos a problemas de saúde 
pública. Desde então, surgiu à ideia da criação de uma política médica pelo governo 
e maior o empenho para alcançar esse objetivo, baseados, principalmente nas obras 
de dois autores na Alemanha: Johann Peter Frank e Franz Anton Mai (ROSEN, 1994). 
Frank, em sua obra de 1779, apoia que a saúde do povo deve ser 
responsabilidade do Estado e apresenta um modelo de sistema de saúde pública 
guiado pelo humanismo, contribuindo em maior parte para guiar o sistema de higiene 
pública e privada. Em sua obra, Frank chama atenção para cuidados com a gestante 
e com a saúde da criança, com a higiene do alimento, da roupa, da recreação e da 
moradia. Em relação às instalações sanitárias, defende que a limpeza das cidades é 
dever de autoridades municipais e sugere que o lixo seja destinado à terrenos 
distantes da cidade. Também discute a necessidade de construção de privadas que 
não contamine as fontes de água de beber. Frank também buscou lidar com a 
medicina militar, doenças venéreas, hospitais e doenças epidêmicas e comunicáveis, 
chegando a formulação de uma política de saúde abrangente e coerente (ROSEN, 
1994). 
Mai criou um código de leis que coordena a saúde em todos os aspectos, com 
o objetivo de manter e também de promover a saúde. O autor baseava-se nas 
mesmas ideias de Frank, mas defendia com muita ênfase a educação na área da 
saúde, considerando os agentes de saúde como educadores e responsáveis por 
instruir a comunidade nos assuntos da área da saúde. Apesar das origens das 
políticas de saúde pública terem surgido na Alemanha, o desenvolvimento e aplicação 
dessas teorias ocorreram na Inglaterra e na França em meados do século XIX 
17 
 
 
(ROSEN, 1994). 
O final do século XVII e início do XVIII foram marcados pela produção e 
incentivo de estudos relacionados à epidemiologia das doenças, no qual relacionavam 
as condições da saúde com dados geográficos sobre o clima, hidrografia, plantas e 
também sobre o modo de vida dos habitantes. Segundo o Comitê da Sociedade 
Médica do Estado de Nova York, o objetivo principal era “apurar as influências do 
clima, do solo, das diferentes ocupações, e das causas normais e físicas, na produção 
e na modificação das doenças (ROSEN, 1994)”. 
O impulso do Iluminismo para a educação em saúde ajudou a preparar o 
caminho para o desenvolvimento de campanhas de saúde durante o século XIX. 
Esperava-se que ao desenvolver a educação em saúde sobre higiene, o espírito de 
revolução moral e racionalidade do Iluminismo, seriam suficientes para incentivar 
ações individuais satisfatórias para melhorar (ROSEN,1994). 
 As doenças que ameaçavam o período do século XVII e XVIII eram: a peste, 
principalmente na Inglaterra; a febre amarela na América; e a varíola na Grã-Bretanha, 
no continente e nas Américas. Embora essas doenças representassem o terror da 
humanidade, outras doenças como escorbuto, raquitismo, tuberculose, coqueluche, 
escarlatina e difteria, matavam milhares de indivíduos, em sua grande maioria 
crianças (ROSEN, 1994). 
 A varíola foi a doença que teve maior impacto no século XVIII, chegando a ser 
a principal responsável pelas altas taxas de mortalidade infantil. Daí surgiu a 
necessidade de combater a varíola através da prevenção. Já sabiam que surtos de 
varíola conferia imunidade e surgiu a ideia de inoculação da doença advinda de um 
indivíduo que sobreviveu, em indivíduos saudáveis, esperando provocar um caso 
benigno que culminasse na proteção da forma grave da doença. Essa prática ganhou 
força depois que os filhos da família real passaram pelo procedimento em 1722, e 
apesar dos perigos e do surgimento de grupos opostos, a prática continuou e se 
afirmou (ANDRADE, 2001; ROSEN, 1994). 
Edward Jenner, um médico inglês, teve a ideia de inocular matéria vacinal de 
uma pessoa que tinha adquirido a doença naturalmente em um indivíduo e utilizar a 
matéria colhida desse indivíduo para inocular em outras pessoas. Em 1796, ele 
colocou essa ideia em prática inoculando matéria da varíola da mão de uma 
ordenhadora que tinha contraído a doença naturalmente. Jenner inoculou a varíola no 
18 
 
 
menino depois de algumas semanas e ele não desenvolveu a doença, provando a 
teoria da imunidade. Após esse acontecimento, a vacinação da varíola se difundiu por 
todo o mundo rapidamente (ANDRADE, 2001; ROSEN, 1994). 
 
Edward Jenner nasceu em 17 de maio de 1749 e morreu 
em 26 de janeiro de 1823. Em 1796, realizou a primeira 
experiência contra varíola sobre James Phipps, de oito 
anos de idade. Em 1797, após a Royal Society exigir mais 
provas da sua descoberta da imunidade, fez mais 
experimentos em várias outras crianças, incluindo seu 
próprio filho de 11 meses de idade. Em 1798, seus 
resultados foram finalmente reconhecidos. Jenner foi 
amplamente ridicularizado, principalmente pela igreja, que 
achava repulsivo a prática de inocular material de um 
animal doente nas pessoas. Apesar disso, sua teoria 
ganhou força e tornou-se famoso, sendo considerado o 
pioneiro da vacinação contra a varíola e o pai da imunologia. 
Figura: Edward Jenner. 
Fonte: http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/jenner_edward.shtml 
 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A REFORMA SANITÁRIA 
 
O início do movimento de reforma sanitária no século XIX ocorreu 
primeiramente na Inglaterra, impulsionado pelos efeitos nocivos da Revolução 
Industrial que ali se desenvolveram com maior força (ROSEN, 1994). 
Muitas estradas, vias férreas e fluviais foram construídas, principalmente na 
Inglaterra, França e Estados Unidos. Concomitantemente, ocorreu o progresso 
mecânico, com desenvolvimento de transportes e máquinas de produção. Esse 
crescimento está ligado ao aumento de número de trabalhadores e organização da 
indústria em fábricas (ROSEN, 1994). 
Desde 1800, exigiam-se melhorias das condições de trabalho, com foco inicial 
nas fábricas. Após muitas lutas, aprovou-se o Ato Fabril em 1833, porém esse ato 
oferecia proteção apenas ao trabalho infantil, que proibidas de trabalharem nas 
fábricas, passaram a ser enviadas para trabalhar em minas de carvão. Daí, a 
investigação iniciou-se sobre o trabalho das minas e relevou um quadro sombrio sobre 
19 
 
 
as condições de trabalho, principalmente de mulheres e crianças, que eram 
incompatíveis com uma vida longa e saudável (ROSEN, 1994). 
Após incansáveis tentativas de projetos de lei, apenas em meados do século 
XIX, foram tomadas medidas que regulavam as condições de trabalho nas minas e 
fábricas. Ao longo de todos esses anos a preocupação com a saúde ocupacional 
acumulou-se aliada à pesquisa médica, reforma social e às ações administrativas, a 
assistência à saúde do trabalho evoluiu consideravelmente no século XX (ROSEN, 
1994). 
Em 1834, a Inglaterra aprovou a Lei dos Pobres, na qual o governo era 
responsável por dar assistência aos pobres. Com o tempo, perceberam que essa além 
dos custos altíssimos, contribuía para a diminuição da oferta de trabalhadores para a 
indústria, já que os pobres desempregados estavam sendo sustentados por essa lei 
(ROSEN, 1994). 
Os filósofos defendiam também a tese de que essa ajuda legal impedia o 
progresso e que correto seria o governo manter-se neutro, pois isso incentivaria os 
pobres a irem atrás de seus próprios interesses, desse modo, se estimularia a 
educação e o aperfeiçoamento moral. Assim, o parlamento nomeou uma Comissão 
Real para investigar a Lei dos Pobres. Edwin Chadwick fazia parte dessa comissão e 
escreveu o relatório que incorporou novos princípios à lei. Mais tarde, essa comissão 
viria a contribuir para a reforma sanitária. 
Na Nova Lei dos Pobres, a assistência passou a ser limitada a pessoas que 
não tivessem capacidade física de exercer o trabalho e aos que vivessem em 
situações mais miseráveis (ROSEN, 1994). 
As novas condições de trabalho dentro de fábricas e o desenvolvimento de 
centros urbanos sem planejamento trouxe novos problemas de saúde. A necessidade 
de trabalhar impulsionou a aglomeração de pessoas e moradias coletivas nos centros 
urbanos. Os mais pobres viviam em cortiços pequenos, amontoados e mal ventilados, 
em condições precárias e miseráveis (ROSEN, 1994). 
O pouco interesse em tomar medidas sanitárias encontrava suporte na crença 
de que os indivíduos seriam capazes de suprir as próprias necessidades e de que os 
problemas consequentemente, se resolveriam com esse progresso. Esse descaso 
associado ao aumento do número de pessoas e moradias precárias e aglomeradas, 
levou ao acúmulo de lixo nas ruas e deu origem à prática de usar pátios como 
20 
 
 
depósitos. Além disso, a maioria das casas não possuía privada e as práticas de 
higiene tornaram-se um problema insalubre (ROSEN, 1994). 
As epidemias que marcaram o século XIX foram febre amarela e cólera. Outras 
doenças como a varíola, a febre tifoide, disenteria, difteria e escarlatina também foram 
muito recorrentes, pois atingiam a população que ficava impossibilitada de trabalhar, 
gerando prejuízos econômicos, além dos sociais. A cólera, a disenteria e a febre 
tifoide, são doenças intestinais que afetavam com maior força as comunidades mais 
pobres que viviam nas áreas mais poluídas, devido à transmissão por meio de água, 
alimentos ou outros utensílios contaminados. A difteria, a escarlatina e o sarampo 
eram transmitidos de pessoa a pessoa, e a situação de aglomerados em que as 
comunidades eram formadas facilitava a difusão e surtos (ROSEN, 1994). 
A reforma sanitária iniciou diante do desamparo, imundície, pobreza e da 
doença, mas impulsionada em sua maior parte pelo interesse econômico, pois 
preservar o trabalhador era essencial para o crescimento industrial. Um dos principais 
estudiosos responsáveis pela reforma sanitária foi Chadwick, que como membro da 
Comissão Real de estudo da Lei dos Pobres, era o único com a visão de relacionar à 
saúde às condições sociais e físicas de vida dos pobres. Ele defendia que a prevenção 
de enfermidades era importante e poderia contribuir sob o aspecto econômico, além 
de incentivar o uso de informações estatísticas na prevenção de doenças (ROSEN, 
1994). 
 
Edwin Chadwick nasceu em 24 de janeiro de 1800 na 
Inglaterra e morreu em 6 de julho de 1890 em Surrey. 
Advogado e reformador social dedicou sua vida à 
reforma sanitária na Grã-Bretanha. Participou da 
comissão real de reforma da Lei dos Pobres (1834-
1846) e comissário do Conselho de Saúde (1848–
1854). Defendia que a saúde pública deveria ser 
administrada localmente, sendo o grande responsávelpor elaborar o sistema sob o qual o país era dividido em 
grupos de paróquias administradas por conselhos de guardas eleitos, cada junta com seu 
próprio oficial médico. 
Figura: Edwin Chadwick. 
Fonte: https://www.britannica.com/biography/Edwin-Chadwick 
 
https://www.britannica.com/biography/Edwin-Chadwick
21 
 
 
O espírito da aplicação de inquéritos que já havia surgido no século XVIII, foi 
ampliado no século XIX para investigar esses assuntos e avaliar quais seriam as 
melhores ações. Esses inquéritos foram incentivados pela Comissão da Lei dos 
Pobres e a partir deles, foram realizados relatórios regionais das condições sanitárias 
da população que provava a relação da doença com a imundície do ambiente e as 
condições insalubres de abastecimento de água. Nesse relatório, Chadwick especifica 
os achados e descreve quais ações deveriam ser tomadas para resolver os 
problemas, iniciando a reforma sanitária (ROSEN, 1994). 
Após a publicação desse relatório, foi criado em 1843 por Sir Robert Peel, a 
Comissão Real para Investigação da Situação das Cidades Grandes e dos Distritos 
Populosos. As primeiras propostas desse Comitê foram: 
 
 O estabelecimento de corpos de saúde em comunidades 
urbanas; 
 A nomeação de um inspetor nas cidades grandes, que fosse 
responsável por exigir o cumprimento das regras sanitárias; 
 A aprovação de um ato de sistema de esgotos; 
 A aprovação de um ato para regular as construções futuras; 
 Atenção especial para o sistema de abastecimento de água, que 
deveria ser amplo e inspecionado (ROSEN, 1994, p. 174). 
 
Em 1845, após muitas investigações, o Comitê apresentou a recomendação de 
uma nova legislação. Daí surgiu à proposta de que o governo seria o responsável por 
regulamentar a situação sanitária de todas as comunidades urbanas. Entretanto, o 
governo não agiu imediatamente e os sanitaristas recorreram à estratégia usada no 
século XVIII, com a criação de organizações e movimentos voltados à reforma 
sanitária que objetivavam a disseminação de informação ao público e atrair a atenção 
do governo (ROSEN, 1994). 
Nessa conjuntura, surgiram grupos e associações voltados a algumas 
melhorias em específico, como as moradias de classes trabalhadoras, das condições 
de trabalho nas indústrias e da promoção da limpeza entre os pobres. Em meio à 
pressão, o governo aprovou algumas medidas legislativas como o “Ato Sanitário de 
Liverpool” (1846), “Ato da Remoção de Incômodos e de Prevenção de Doenças” 
(1846), “Ato dos Banhos e Lavanderias” (1846), “Ato das Cláusulas de Melhoria das 
Cidades” (1847) e “Ato da Saúde Pública” (1848) (ROSEN, 1994, p. 176). 
Em 1848 foi criado o Conselho de Saúde, que delegava autoridade aos 
22 
 
 
conselhos locais para cuidar do abastecimento de água, do sistema de esgotos e da 
regulamentação de outros assuntos. Chadwick, Shaftesbury e Southwood Smith 
foram nomeados e contribuíram para instalação de vários sistemas de esgoto e de 
abastecimento de água em várias comunidades urbanas. Também foi criada a função 
de médico de Saúde Pública, na qual os médicos eram indicados pelo município para 
preencher essa posição (ROSEN, 1994). 
O Conselho enfrentou muita resistência sobre as propostas, principalmente 
devido à centralização do poder pela influência de Chadwick. As críticas eram tantas, 
que em 1854, o Parlamento decidiu recusar a renovação do Ato de Saúde Pública, e 
o primeiro Conselho Nacional de Saúde chegou ao fim, juntamente com a contribuição 
de Chadwick que se afastou do processo (ROSEN, 1994). 
Apesar de todo o conhecimento adquirido sobre os problemas sanitários, a falta 
de instrumento administrativo impedia que esses problemas fossem solucionados. 
Havia a necessidade de um departamento central de saúde que organizasse o 
processo de mudança, que segundo Rosen (1994) se desenvolveu lentamente 
apoiado em três principais marcos: 
 
1. O reestabelecimento do Conselho Geral de Saúde, em 1848, 
após o afastamento de Chadwick; 
2. A criação do Conselho do Governo Local, em 1871; 
3. A aprovação do Ato de Saúde Pública, em 1875, que passou a 
supervisão da saúde pública para o Conselho Privado. (ROSEN, 1994, 
p. 182-183). 
 
Em 1855, John Simon assumiu como funcionário médico responsável pelo 
Departamento médico do Conselho Privado (1858-1871), e produziu relatórios que 
refletiam sobre a situação anual das doenças, condições de trabalho, higiene e 
habitação da população. Em 1869, foram dados os primeiros passos para resolver os 
problemas de administração da saúde pública. Com a criação de um Comitê Real para 
estudar a administração sanitária da Inglaterra, foi recomendada: união de todas as 
funções de saúde do governo, inclusive a de administração da Lei dos Pobres, em um 
só Departamento, o Departamento Médico do Conselho Privado; consolidação de toda 
a legislação de Saúde Pública e padronização das repartições sanitárias (ROSEN, 
1994). 
Assim, criaram o Conselho do Governo Local que comportava o Conselho da 
23 
 
 
Lei dos Pobres e o Departamento Médico do Conselho Privado. Em 1875, aprovaram 
o Ato de Saúde Pública, que dividiu o país em distritos sanitários que deveriam ser 
supervisionados pelo Conselho do Governo Local. Esse sistema foi o primeiro a 
demonstrar capacidade suficiente para combater os problemas de saúde pública 
(ROSEN, 1994). 
Concomitantemente a essa organização da administração pública, surgiram as 
Associações de Saúde das Cidades, que eram constituídas por um grupo de médicos 
e leigos, que lutaram pela correção dos problemas da vida urbana através do apoio 
público. A contar destas associações, fundou-se em 1852, a Associação Sanitária de 
Manchester e Salford e, em 1856, a Associação Metropolitana de Médicos 
Sanitaristas. Com o crescimento de funcionários sanitarista, essa associação também 
cresceu e se tornou a Sociedade dos Médicos Sanitaristas, que tinha grande influência 
sobre os conselhos do governo (ROSEN, 1994). 
Esse processo de reforma sanitária difundiu-se para outros lugares além da 
Inglaterra, alcançando a Europa e a América, a Alemanha, a França, Bélgica, Prússia 
e outros Estados continentais. De modo geral, o desenvolvimento da reforma 
sanitária, nesses outros países foi impulsionado pelos mesmos problemas 
encontrados na Inglaterra, como as condições insalubres das comunidades que 
estavam se formando nas cidades em busca de trabalho, que levavam à disseminação 
de doenças (ROSEN, 1994). 
A evolução seguiu a tendência da formação de movimentos que exigiam 
melhorias e à aplicação de inquéritos sanitários para compreender melhor os 
problemas, de acordo com cada localidade, e assim, definir as ações necessárias para 
melhorar. Com o passar do tempo iam surgindo propostas de organizações, 
regulamentações baseadas em leis governamentais e criação de Conselhos 
responsáveis por administrar todas as ações voltadas à reforma. 
Nos Estados Unidos, Shattuck escreveu um “Relatório”, que representa um 
marco para a evolução da saúde comunitária. Na época que foi publicado, em 1850, 
não teve muito efeito, mas suas recomendações se realizaram em grande parte 
durante muitos anos depois e influencia sanitaristas modernos até os dias de hoje. 
Shattuck defendia que organização da Saúde Pública deveria começar pelo 
estabelecimento de um Departamento Estadual de Saúde, e também deveriam existir 
departamentos em cada uma das cidades. Ele incentivava o uso de inquéritos 
24 
 
 
sanitários associados à avaliação estatística das variáveis, levando em consideração 
a idade, sexo, raça, ocupação, situação econômica e habitação. Shattuck também 
previu cuidados quanto ao saneamento ambiental, controle de alimentos e de doenças 
transmissíveis, enfatizava valor da vacinação contra varíola, controle do uso de 
drogas, alcoolismo, atenção à saúde mental e da criança, além de pregar o ensino da 
medicina preventiva (ROSEN, 1994). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAISChegamos ao fim da nossa primeira unidade, agora já temos uma visão das 
principais influências trazidas pelos períodos históricos no tocante à história da saúde 
no mundo. 
Na antiguidade, os povos não tinham muita consciência da importância da 
saúde. Apesar de alguns médicos defenderem a prática de higiene, eles nem sempre 
a associavam ao risco de desenvolver doenças ou prejudicar a saúde do indivíduo. 
Entretanto, eles ao menos possuíam a visão de harmonia entre o homem e o 
ambiente, acreditando que essa era a base para manter uma vida saudável, apesar 
da falta de embasamento científico. 
O início do desenvolvimento de sistemas de abastecimento de água e de 
esgoto foi uma das principais contribuições das antigas civilizações, principalmente 
dos romanos, para a área da saúde. Naquela época, a igreja tinha muito poder e 
existia a cultura cristã de que as doenças eram punições divinas, e pouco se fazia 
para combater essas enfermidades. 
O desenvolvimento do pensamento científico, impulsionado pelo interesse de 
evoluir industrialmente, contribuiu com a volta da atenção do Estado para a saúde. 
Essa atenção era baseada no interesse em manter a população saudável e garantir 
mão de obra para o crescimento industrial. Esse período ficou marcado pela crescente 
preocupação com as doenças e a higiene, principalmente com a limpeza da cidade e 
com o sistema de esgoto, que evoluíram gradualmente. 
Com o início da Revolução Industrial, instalou-se o caos das condições de vida 
que os trabalhadores estavam levando. As condições precárias de moradia 
associadas à pobreza e falta de higiene pessoal e do ambiente, contribuíram para o 
aumento de epidemias de doenças graves, estas colocavam em risco a mão de obra 
25 
 
 
do governo. Nesse contexto, a reforma sanitária começa a se instalar, iniciando com 
a aplicação de inquéritos para investigar quais seriam as melhores ações para resolver 
esses problemas. 
Apoiada pelo Estado, a reforma sanitária voltou-se, principalmente para a 
classe trabalhadora, afinal eles carregavam o peso da revolução nas costas e 
precisavam manter-se firmes e saudáveis. Foi apenas nesse momento, que as ações 
visando a melhoria da saúde pública começaram a acontecer com maior força, pois 
nos momentos anteriores, apesar do conhecimento teórico, pouco era colocado em 
prática. 
 
ATIVIDADES DE AUTOESTUDO 
 
1. Na antiguidade, os médicos baseavam-se em alguns fundamentos para 
oferecer assistência à população. Assinale a alternativa que não representa 
esses fundamentos 
A) Pureza da água. 
B) Higiene. 
C) Harmonia entre o homem e o ambiente. 
D) Pureza do ar. 
 
2. Quais são as principais doenças que atingiam os povos antigos? 
A) Difteria, febre tifoide, peste bubônica e varíola. 
B) Difteria, febre tifoide, peste bubônica e doença de chagas. 
C) Febre tifoide, peste bubônica, varíola e febre amarela. 
D) Febre tifoide, peste bubônica, varíola e meningite. 
 
3. Assinale a alternativa que não representa uma das principais contribuições 
do período da Idade Média para a saúde. 
A) Crescimento da classe médica. 
B) Construções de hospitais e instituições beneficentes. 
C) Isolamento de leprosos. 
D) Limpeza e organização das ruas e alimentos. 
 
26 
 
 
4. O progresso científico no período Renascentista era guiado principalmente 
por qual objetivo? 
A) Progresso industrial. 
B) Extinção de doenças. 
C) Reforma sanitária. 
D) Diagnóstico de doenças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
DISCIPLINA – HISTÓRIA DA SAÚDE 
Unidade II – ASPECTOS HISTÓRICOS DA SAÚDE PÚBLICA NO 
MUNDO: A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA E DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
Professora Me. Andressa Lorena Ieque 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
 Conhecer a história e o processo de crescimento científico sobre a bacteriologia 
e as doenças transmissíveis; 
 Compreender como o conhecimento das doenças contribuiu para a evolução 
da saúde; 
 Definir os principais personagens envolvidos nos estudos de microrganismos e 
caracterização das doenças; 
 Entender o processo de edificação da educação em saúde; 
 Explorar os primeiros grupos que receberam atenção voltada especificamente 
para eles; 
 Apreender o sistema de organização e situação atual da saúde pública 
moderna; 
 Apresentar os principais problemas da saúde pública moderna. 
 
Plano de estudo: 
 
Tópico 1 – A Era Bacteriológica. 
Tópico 2 – A educação em saúde. 
Tópico 3 – A Saúde moderna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
INTRODUÇÃO À UNIDADE 
 
 Olá aluno (a)! Nessa nova unidade, continuaremos explorando os aspectos 
históricos da saúde, respeitando a linha do tempo. Agora, chegamos à Era 
bacteriológica, que será abordada no primeiro tópico. De início, conheceremos quais 
foram os estudiosos que marcaram o início da bacteriologia médica e de que forma 
eles contribuíram para aprimorar o conhecimento sobre microrganismos, 
relacionando-os às doenças transmissíveis. Também compreenderemos como esse 
período influenciou a tomada de decisões sobre a saúde da população. 
 No tópico 2, daremos continuidade ao estudo sobre as influências da Era 
bacteriológica e avaliaremos as principais medidas tomadas para o controle de 
doenças e outros problemas específicos que afetavam a saúde da comunidade, 
apoiando-se em um novo caminho: a educação em saúde. 
Por fim, no último tópico, apreenderemos a situação da saúde 
contemporaneamente, buscando entender como o sistema de organização evoluiu, 
quais as principais mudanças, vistas ao comparar a saúde dos anos anteriores com 
os dias de hoje e também, quais os problemas que surgiram ou que ainda persistem 
amedrontando a comunidade. 
 
A ERA BACTERIOLÓGICA 
 
 Desde a antiguidade existiam teorias de que as doenças eram causadas por 
“vermes” e com o advento da Revolução Industrial e estímulo do pensamento 
científico, vários estudiosos buscaram desenvolver teorias sobre o contágio de 
doenças. Em 1840, Jacob Henle marcou a história da bacteriologia e das doenças 
comunicáveis, com a formulação de uma teoria que de que organismos vivos eram a 
causa das doenças contagiosas e infecciosas. Ele defendia que a matéria mórbida 
aumentava na medida em que a doença progredia, sendo assim, essa matéria devia 
ser de natureza viva, já que apenas os organismos vivos eram capazes de se 
multiplicar. Henle tentou investigar a natureza desses organismos vivos, porém 
percebeu que isso só seria possível, através de experimentações difíceis de serem 
executadas (ROSEN, 1994). 
O trabalho de Henle e de outros estudiosos contribuíram para a descoberta de 
29 
 
 
muitos fungos, parasitas e mais tarde, bactérias. Porém, a dificuldade em provar 
pontualmente a origem da doença com o microrganismo prejudicou a força da teoria 
microbiana, que continuou sem aceitação por muitos profissionais médicos e 
cientistas (ROSEN, 1994). 
Leeuwenhock descobriu as bactérias em 1683, mas não conseguiu esclarecer 
sobre a origem desses organismos. Com o passar do tempo, descobriram que esses 
organismos estavam envolvidos em processos de putrefação e fermentação e nesse 
contexto, alguns defendiam a teoria da geração espontânea, de que os organismos 
poderiam surgir de matéria inanimada (ROSEN, 1994). 
A teoria microbiana ganhou força assente em estudos envolvendo fermentação, 
que era utilizado na produção de vinhos, pães, queijo e cerveja. No século XIX, o 
crescimento urbano favoreceu o aumento da procura desses alimentos e o processo 
passou a receber maior atenção para que fosse possível a produção em larga escala. 
Em 1863, os estudos de Louis Pasteur sobre fermentação contribuíram para o fim da 
teoria da geração espontânea, principalmente devido ao seu achado de que alguns 
organismos cresciam apenas na ausência do ar. Esse achado levou-se a acreditar 
que a putrefação era uma espécie de fermentação e ocorria devida à atividade de 
micróbios anaeróbios (ROSEN, 1994). 
Em 1865, Antoine Villeminapresentou uma série de estudos experimentais, 
estes indicavam que a tuberculose era causada por um germe microscópio e 
transmitido via aérea. Casimir Devaine também estava desenvolvendo estudos sobre 
o antraz. A partir de 1870, as técnicas de isolamento e manuseio de organismos 
microscópios começaram a avançar, tornando possível o estudo das bactérias. Os 
cientistas passaram a utilizar meios de cultura para realizar o isolamento de bactérias 
e estudar sua morfologia (ROSEN, 1994). 
Robert Koch realizou experimentos para estudar o antraz e fez descobertas 
sobre seus mecanismos de crescimento e reprodução, demonstrando como a doença 
era transmitida. Nesse contexto, Koch conseguiu provar a teoria de Henle e foi o 
primeiro a elucidar a história natural de uma doença, provando sua origem microbiana 
e contribuindo para o nascimento da bacteriologia médica (ROSEN, 1994). 
30 
 
 
Robert Heinrich Hermann Koch nasceu em 11 de dezembro 
de 1843 e morreu em 27 de maio de 1910. O médico e 
cirurgião alemão foi um dos fundadores da bacteriologia. 
Ele descobriu o ciclo da doença do antraz (1876) e as 
bactérias responsáveis por causar a tuberculose (1882) e a 
cólera (1883). Suas descobertas e inovações técnicas 
vieram acompanhadas de conceitos fundamentais sobre a 
etiologia de doenças. Por suas descobertas em relação à 
tuberculose, ele recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou 
Medicina em 1905. Muito antes de sua morte, seu lugar na 
história da ciência foi universalmente reconhecido. 
Figura: Robert Heinrich Hermann Koch. 
Fonte: https://www.britannica.com/biography/Robert-Koch 
 
Com o avanço das técnicas de estudo, várias descobertas aconteceram 
rapidamente. Em 1877, Pasteur descobriu que era possível alterar a virulência dos 
micróbios e baseado na vacinação da varíola por Jenner, passou a defender a ideia 
da prevenção de doenças através da produção de vacinas de cepas atenuadas dos 
micróbios (ROSEN, 1994). 
Estudos experimentais de vacinação começaram a ser desenvolvidos para 
várias doenças. A partir desses estudos, a imunologia se desenvolveu e a indução de 
resistência através da injeção de germes vivos atenuados ou mortos passou a ser 
chamado de imunização ativa. Concomitantemente, também descobriram a 
imunização passiva, que era feita através da administração de soros que continham 
anticorpos capazes de destruir organismos invasores, podendo ser usado com 
objetivo profilático e também terapêutico (ROSEN, 1994). 
Com o tempo foram surgindo vacinas profiláticas para a cólera, peste e febre 
tifoide, tuberculose, febre amarela e poliomielite. O soro de imunização passiva 
também começou a ser utilizado para difteria, tétano, envenenamento por picada de 
cobra e botulismo. A imunologia também contribuiu para o desenvolvimento de testes 
diagnósticos de várias doenças e esses avanços produziram forte impacto e influência 
na criação de um programa de Saúde Pública (ROSEN, 1994). 
 
 
https://www.britannica.com/biography/Robert-Koch
31 
 
 
Louis Pasteur nasceu em 27 de dezembro de 1822, e 
morreu em 28 de setembro de 1895. Químico e 
microbiologista francês, foi um dos mais importantes 
fundadores da microbiologia médica. Foi pioneiro no 
estudo da assimetria molecular; descobriu que 
microrganismos causam fermentação e doença, 
originou o processo de pasteurização, salvou as 
indústrias de cerveja, vinho e seda na França, e ainda, 
desenvolveu vacinas contra o antraz e a raiva. Ocupou 
numerosas posições acadêmicas e suas realizações 
científicas renderam-lhe a mais alta condecoração da 
França, a Legião de Honra. Hoje existe um número 
impressionante de instituições que levam seu nome, um 
conjunto de honrarias concedidas a poucos cientistas. 
Figura: Louis Pasteur. 
Fonte: https://blog-mundo-biologia.blogspot.com/2016/10/biografia-de-louis-pasteur.html 
 
 
 
 Os achados bacteriológicos contribuíram também para a resolução de 
problemas associados às cirurgias. Baseado nos estudos de Pasteur, Davaine e Koch, 
o médico cirurgião Joseph Lister, passou a associar a esses organismos vivos a causa 
de infecções e mortes cirúrgicas (ROSEN, 1994). 
Em 1865, Lister aplicou o princípio antisséptico no tratamento de feridas, no 
qual se associava o uso de desinfetantes químicos capazes de matar os 
microrganismos causadores de feridas. Em 1880, esse princípio evoluiu para o 
SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: 
 
 Robert Koch e Louis Pasteur foram personagens ilustres e muito importantes 
no desenvolvimento da área da microbiologia, que representou uma evolução 
científica importante no processo de construção do serviço de saúde. O link abaixo 
traz informações sobre a biografia de figuras importantes da história da saúde 
pública: 
http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html 
https://blog-mundo-biologia.blogspot.com/2016/10/biografia-de-louis-pasteur.html
http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html
32 
 
 
princípio da assepsia e desenvolvimento de técnicas, que asseguravam um campo 
operatório livre de bactérias. Esses princípios foram aplicados e contribuíram na saúde 
pública, principalmente no controle de doenças transmissíveis. De acordo com Rosen 
(1994): 
 
À proporção que se identificavam os microrganismos, e se expunham 
os modos de ação dos microrganismos, abria-se o caminho para um 
controle de doenças infecciosas, mais racional, e específico. E as 
autoridades sanitárias puderam desenvolver essa atividade em uma 
escala sem igual (ROSEN, 1994, p. 258). 
 
Em meados de 1890, começaram a surgir laboratórios de bacteriologia com o 
fito de desenvolver pesquisas, e também laboratórios de diagnóstico. Os 
Departamentos de Saúde passaram a assumir o diagnóstico de doenças 
transmissíveis para controlá-las, além de fornecer produtos biológicos de graça aos 
médicos e sanitaristas, com intuito de promover esse controle (ROSEN, 1994). 
 
A responsabilidade do governo na proteção da saúde do povo tem no 
Laboratório de Saúde Pública um exemplo. O laboratório representa o 
resultado prático do período microbiológico, como a organização dos 
Departamentos de Saúde tinha sido o produto do movimento pela 
reforma sanitária. Assim como estes forneceram o mecanismo para a 
administração dos problemas de saúde comunitária, os laboratórios 
ofereceram um instrumento científico para a execução do programa 
de Saúde Pública. (ROSEN, 1994, p. 260). 
 
Como consequência das epidemias de cólera em 1890, surgiu o conceito de 
portador humano e o processo de transmissão de doenças na comunidade foi 
compreendido. Vários estudiosos ajudaram a consolidar a ideia de que pessoas não 
doentes poderiam contribuir no contágio de doenças, pois portavam organismos 
virulentos, capazes de causar doenças em outras pessoas. Esse conceito foi 
importante para o esclarecimento da transmissão de outras doenças além da cólera, 
como a difteria, a febre tifoide e mais tarde, a meningite e poliomielite (ROSEN, 1994). 
A última lacuna a ser preenchida no esclarecimento de transmissão de doenças 
foi preenchida com a descoberta do vetor animal. Foi descoberto que alguns 
organismos poderiam sobreviver no interior de insetos, e esses insetos eram 
responsáveis por transmitir a doença aos humanos. Em 1894, Patrick Manson 
descobriu que a transmissão da malária era feita através de mosquitos e o enigma da 
33 
 
 
doença começou a ser desvendado. À luz dessa teoria, descobriram que a peste 
bubônica era transmitida por pulgas de ratos, e que a febre amarela era causada por 
um parasito que vivia no interior de mosquitos (ROSEN, 1994). 
Todas essas evoluções pontuais contribuíram para melhorias na saúde da 
população que aconteceram gradativamente, mas que agiram com forte impacto e 
representaram grandes mudanças. As medidas tomadas fizeram com que as doenças 
infecciosas começassem a diminuir, e a mortalidade também. Esses elementos foram 
importantes para oenvelhecimento da população, que é característico em países de 
economia avançada. Infelizmente essas mudanças não ocorreram de forma uniforme 
para todas as comunidades do mundo, e sempre haverá discrepâncias marcantes na 
qualidade de vida entre as várias classes (ROSEN, 1994). 
 
A ATENÇÃO A GRUPOS ESPECÍFICOS DA SOCIEDADE E A EDUCAÇÃO EM 
SAÚDE 
 
A desigualdade social e a existência de classes mais pobres que viviam sob 
condições ruins de saúde despertou o interesse de movimentos, que se preocupavam 
com o bem-estar social. A primeira guerra mundial serviu de incentivo para a adoção 
de medidas que melhorassem as condições de saúde e diminuíssem os índices de 
mortalidade, pois uma população maior também geraria maior alistamento militar. A 
preocupação com as fases da vida infantil foi foco de melhoria, surgindo programas 
voltados para o cuidado da maternidade e da criança. A amamentação passou a ser 
estimulada e foram instaladas estações que forneciam leite puro e limpo (ROSEN, 
1994). 
No início do século XX, a educação em saúde começou a crescer, influenciada 
em grande parte pela preocupação em instruir as mães sobre os cuidados infantis. As 
grávidas passaram a receber acompanhamento médico desde o início, a partir da 
notificação de sua gravidez, e esse suporte se estendia para a criança após o 
nascimento. Em 1909, houve um surto de febre tifoide em Nova York que teve como 
fonte de infecção o leite. A partir daí a pasteurização passou a ser exigida para os 
leites usados para bebês (ROSEN, 1994). 
Paralelamente aos cuidados com a mãe e os bebês, nasceu a vertente de 
desenvolvimento de serviços de saúde voltados para a criança em idade escolar. As 
34 
 
 
escolas começaram a passar por visitas e inspeções médicas, devido a preocupações 
com as instalações sanitárias dos prédios e prevenção de doenças transmissíveis 
(ROSEN, 1994). 
Era comum o aparecimento de doenças como difteria, sarampo, escarlatina, 
doenças de pele, dos olhos e subnutrição. A educação dos pais para combater esses 
males foi reconhecida e foram desenvolvidas abordagens educacionais, além da 
inserção de profissionais da saúde, como enfermeiros, nas escolas para trabalhar com 
medidas de acompanhamento e exames periódicos (ROSEN, 1994). 
O problema da subnutrição foi resolvido com o movimento da merenda, com o 
objetivo de ajudar na suplementação da alimentação das crianças. A segunda guerra 
mundial influenciou no “Ato da Educação” de 1944, que regulamentava a 
obrigatoriedade de as autoridades fornecerem, sem custo, merenda e leite a todas as 
crianças que desejassem (ROSEN, 1994). 
Diante do descobrimento da importância da educação em saúde, surgiu a 
necessidade de formar um sanitarista capaz de trabalhar e ensinar, de acordo com as 
necessidades da população. Daí surgiu à enfermagem em saúde pública, que dava 
assistência à saúde por meio da visitação dos grupos necessitados, seja em suas 
casas ou em outros estabelecimentos, como, por exemplo, as escolas. Inicialmente, 
as enfermeiras não precisavam ter conhecimento da área de enfermagem e 
trabalhavam como voluntárias. Com o tempo, passaram a exigir algum tipo de estudo 
na área e iniciou-se uma tendência de especialização, com focos específicos de 
trabalho (ROSEN, 1994). 
A promoção da saúde e a prevenção da doença foram realizadas em grande 
parte por ação voluntária, com o surgimento de agências que tinham o propósito de 
solucionar problemas de saúde comunitária. A Associação Nacional de Tuberculose 
é o exemplo mais antigo desse tipo de organização e representa o movimento 
voluntário em saúde (ROSEN, 1994). 
A tuberculose foi um problema muito grande, pois além de causar doença 
crônica, incapacitava muitas de suas vítimas. Desde 1887, foram criadas várias 
organizações com o objetivo de educar e dar suporte aos doentes tuberculosos, que 
representam a consciência do valor da organização sanitária como meio de controlar 
a doença (ROSEN, 1994). 
A ideia de organizar agências para controle de outras enfermidades se difundiu 
35 
 
 
e surgiram grupos com foco na atenção em doenças venéreas, higiene mental, 
paralisia infantil, saúde da criança, entre outras. O aumento dessas organizações 
despertou a necessidade de coordenação de fundos, esforços e de orientação. Para 
suprir essa necessidade, foi criado o Conselho Nacional de Saúde, em 1921 (ROSEN, 
1994). 
Nas primeiras quatro décadas do século XX, foram aprovadas muitas leis e 
regulamentações trabalhistas para lidar com os problemas de saúde ocupacional. 
Paralelamente, o Ministério do Trabalho ficou responsável por um sistema de inspeção 
das fábricas, e o Ministério da Saúde, por supervisionar as condições sanitárias do 
local de trabalho. Nesse campo, foram reconhecidos vários perigos para a saúde do 
ambiente de trabalho e várias medidas foram adotadas visando diminuir os riscos e 
consequências deletérias ao trabalhador (ROSEN, 1994). 
 
SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: 
 
O artigo a seguir discute os principais aspectos históricos da educação em saúde e 
como isso ocorreu no mundo, inclusive no Brasil. Para acessar o artigo na íntegra, acesse o 
link abaixo: 
https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html 
 
 
Por volta de 1830 começam a surgir críticas à Lei dos Pobres, pois muitos 
acreditavam que a ajuda aos doentes deveria ser fornecida em instituição específica, 
mas muitas delas estavam em condições degradantes, portanto os miseráveis 
preferiam receber a ajuda em suas próprias casas. Logo, a pobreza dos não doentes 
foi associada à falha moral. 
 
A reforma na Lei dos Pobres de 1834 acabou com essa obstrução do 
mercado de trabalho [...] muitos dos pobres mais necessitados foram 
abandonados à sua sorte quando se retirou a assistência externa, e 
entre aqueles que sofreram mais amargamente estavam os ‘pobres 
merecedores’ [...]. [...] Se a Speenhamland impedira a emergência de 
uma classe trabalhadora, agora os trabalhadores pobres estavam 
sendo formados nessa classe pela pressão de um mecanismo 
insensível (POLANYI, 1980, p. 105). 
 
Em meados de 1900, foi criada uma Comissão Real para examinar a Lei dos 
https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html
36 
 
 
Pobres, pois achavam que as medidas estavam muito restritas a uma parte da 
população. Em 1909, foi sugerido o abandono dos princípios da Lei dos Pobres, 
porém, não foi acatado devido à concordância quanto a várias questões consideradas 
essenciais. Ao invés de extinguir a Lei dos Pobres, o Comitê publicou dois relatórios, 
um da minoria e um da maioria (ROSEN, 1994). 
Enquanto o relatório da maioria tinha uma proposta mais fragmentada com 
sugestões de seguro-desemprego, seguro-saúde e rodízio de trabalhadores o 
relatório da minoria trazia a proposta de um serviço médico unificado. O plano era 
combinar os serviços da Lei dos Pobres com o das autoridades de Saúde Pública, 
sendo que a administração ficaria a serviço de um Departamento Nacional de Saúde. 
Esse plano originou o Serviço Nacional de Saúde, fundado em 1943 (ROSEN, 1994). 
O processo de determinação de como o sistema de assistência médica aos 
trabalhadores seria oferecido foi extenso e complicado. Muitas assembleias e 
conferências foram realizadas para definir como o serviço de assistência. As linhas 
mais fortes eram: assistência oferecida unicamente pelo governo ou através de 
programas privados de pagamento prévio. A partir de 1935, houve crescimento de 
programas de pagamento prévio para hospitalização e assistência médica (ROSEN, 
1994). 
 
A SAÚDE MODERNA 
 
Por fim, vimos todos os aspectos históricos que contribuíram para a construção 
do sistema de saúde pública dos dias atuais. O resultado geral disso tudo coincidiu 
com o fato de a saúde ser responsabilidade do Estado (CAMPOS, 2012; ROSEN, 
1994). Baseado na história, o Estado teve papel muitoimportante para a edificação 
dos serviços de saúde pública, porque a comunidade almejava um governo que fosse 
responsável pela saúde do povo. Entretanto, vimos que a participação da comunidade 
foi essencial em muitas situações, como por exemplo, a criação de agências que 
ofereciam serviços voluntários e que foram essenciais para ajudar na assistência de 
doentes. Nesse sentido, a cooperação da Comunidade-Estado é valorizada, pois 
facilita o êxito de programas de saúde pública e de seguridade social. Rosen (1994) 
destaca: 
 
37 
 
 
É necessária, em suma, participação de cada membro de uma 
comunidade na obra de melhoria da saúde individual e coletiva. Para 
esse propósito, a educação em saúde representa o instrumento 
fundamental. (ROSEN, 1994, p. 354). 
 
Em uma perspectiva mundial, o Estado passou a ser o responsável pela saúde 
pública, contando com a participação da comunidade. A assistência à saúde sob o 
olhar do Estado moderno veio com preocupações voltadas às necessidades 
individuais, familiares, comunitárias e de seguro social. O Estado, como autoridade 
única e central em investir poderes para promover o bem-estar da população, também 
tem que organizar suas ações de acordo com a economia nacional (ANDRADE, 2001; 
ROSEN, 1994). 
Para garantir a eficiência do Estado na conciliação de recursos, surgiu a 
necessidade de criar sistemas de administração para realizar a organização dessas 
ações. Assim, as unidades menores de organização foram sendo substituídas e 
complementadas por unidades maiores, com a criação de Departamentos e 
Conselhos Nacionais de saúde pública. Todas essas unidades deviam organizar as 
ações de saúde baseadas no conhecimento da comunidade, ou seja, respaldando-se 
em estudos epidemiológicos (ROSEN, 1994). 
A criação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948 consolidou esse 
processo, que agora permite um olhar sobre a saúde em âmbito mundial. A iniciativa 
de criar a OMS surgiu da Organização das Ações Unidas (ONU), preocupada em criar 
uma organização que fosse dedicada exclusivamente à saúde mundial. O Objetivo da 
OMS é promover o acesso universal à saúde, considerando o bem-estar físico, mental 
e social do indivíduo. As suas ações são voltadas para melhorias no saneamento, na 
saúde da família, na capacitação de profissionais da área da saúde e fortalecimento 
dos serviços médicos e na luta contra doenças (ROSEN, 1994). 
Atualmente, a OMS é responsável por estabelecer normas e padrões de 
atenção em saúde, monitorar e avaliar as tendências de saúde baseadas em estudos, 
investigações e relatórios e também definir quais são as medidas necessárias para 
controlar um problema de saúde pública. Todas essas decisões são tomadas na 
Assembleia Mundial da Saúde com a participação de todos os Estados que fazem 
parte da organização (FERREIRA, 2014). 
Apesar da existência de organizações para padronizar o serviço, existem 
38 
 
 
muitas variações nos serviços de assistência à saúde no mundo todo. Portanto, já que 
não podemos generalizar os fatos, devemos ao menos conhecer o sistema de 
organização de saúde pública do nosso país. 
 Todos os períodos estudados que representam a linha do tempo da construção 
do serviço de saúde até os dias de hoje, passaram por situações que na época eram 
pouco entendidas e difíceis de serem controladas. No momento atual isso não é 
diferente e novamente estamos vivendo um período de complexidade, no qual surgem 
problemas novos que ainda não possuem solução. Porém, pelo menos já possuímos 
um sistema organizado para guiar a compreensão e determinar medidas para 
combater esses problemas. 
 Ao avaliarmos a situação da saúde nos períodos anteriores e compará-la com 
a nossa realidade atual, temos, que de modo geral, as doenças da infância 
diminuíram, a mortalidade de recém-nascidos reduziu, a expectativa de vida 
aumentou, não sofremos mais tanto com doenças epidêmicas, mas sim com doenças 
crônicas ou degenerativas, justamente devido a esse aumento da expectativa de vida 
e estabelecimento de uma população mais velha. As doenças mais comuns são 
câncer, doenças cardiovasculares, doenças renais, diabetes, artrite e alterações 
mentais. O controle e combate a essas doenças é um dos problemas que ainda não 
possui uma solução concreta (ANDRADE, 2001; ROSEN, 1994). 
 Os acidentes envolvendo veículos também atraem a atenção pública porque é 
responsável por um grande número de mortes. Vários estudos geoespaciais, 
epidemiológicos, estatísticos e de engenharia de segurança vêm sendo realizados 
para tentar diminuir esse problema. A preocupação com a saúde mental também 
cresceu, pois a ela têm sido associados muitos outros problemas de saúde 
comunitária (ANDRADE, 2001; ROSEN, 1994). 
 Um problema que ganhou atenção apenas nos últimos anos foi o da poluição 
atmosférica, que Rosen (1994) compara à preocupação com a água de antigamente. 
Foram notados surtos e epidemias associados à poluição do ar e isso despertou 
preocupação das autoridades, porém a importância da indústria, que é a principal 
responsável por essa poluição, ainda impede a resolução total do problema. 
 O problema de habitação, que acontece desde a época da Revolução 
Industrial, ainda existe. As autoridades reconhecem que esse problema está 
interligado à condição econômica e tenta resolver esse problema dando auxílio 
39 
 
 
moradia, sendo que alguns países oferecem habitações para indivíduos que não 
possuem condição financeira ou que vivam sob situações precárias em cortiços 
(ROSEN, 1994). 
 No contexto geral, muitos desafios já foram solucionados em teoria devido ao 
processo contínuo e crescente de estudos e aumento do conhecimento. Entretanto, a 
aplicação desses conhecimentos nem sempre é possível de imediato, ou o processo 
da prática até iniciou-se, porém não alcançou resultados satisfatórios ainda. Mas o 
importante é continuar lutando para combater todos esses problemas e oferecer uma 
vida mais digna e saudável. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Com o fim de mais essa unidade, temos o panorama geral da história da saúde 
até os dias de hoje. Vimos que os estudos sobre microrganismos representaram um 
avanço enorme para a comunidade científica, médica e política no que diz respeito 
aos cuidados com a saúde da comunidade. 
Na área científica, os pesquisadores estavam empenhados em conhecer a 
natureza das doenças, e nesse sentido, várias teorias foram formuladas e colocadas 
em prática através de estudos experimentais, buscando comprovar e ganhar 
reconhecimento das autoridades. O desenvolvimento de técnicas diagnósticas e de 
vacinas revolucionou o controle de doenças, pois agora existiam alternativas 
concretas para combater os problemas de saúde. 
Na área médica, os estudos permitiram compreender como as doenças eram 
causadas e quais eram os principais mecanismos de transmissão, esclarecendo sobre 
quais seriam as melhores condutas para combater a doença. E na área política, todo 
esse conhecimento acumulado permitiu a implantação de medidas de controle que 
fossem capazes de impedir que essas doenças continuassem se espalhando e 
denegrindo a saúde da comunidade. 
Nesse contexto, várias melhorias de saúde aconteceram e refletiram na 
diminuição das epidemias por doenças infecciosas e da mortalidade. Além da área de 
doenças transmissíveis, outros problemas de saúde pública também começaram a 
receber maior atenção. Essa atenção foi baseada em um novo sistema, o de educação 
em saúde, que visava oferecer informação à população com o objetivo de ensinar 
40 
 
 
sobre situações que poderiam contribuir para melhorar a saúde individual, familiar e 
social. 
Para que o processo de educação em saúde acontecesse, o governo investiu 
na capacitação profissional com perfil de saúde pública, ou seja, que fosse capaz de 
dar atenção e educação em saúde ao mesmo tempo. Com a evolução desse sistema, 
vários grupos da comunidade passaram

Continue navegando