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Saude do trabalhador

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Saúde e adoecimento no trabalho 
Considera-se que uma das principais causas de adoecimento, falta ao trabalho e 
incapacidade de realizar as atividades laborais, entre os trabalhadores do setor 
industrial, são as lesões por esforço repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares 
Relacionadas ao Trabalho (DORT). De acordo com o estudo “Diagnóstico de saúde e 
estilo de vida”, realizado pelo SESI Nacional, os principais causadores dos males que 
acometem os trabalhadores da indústria brasileira são a pressão alta, depressão e 
obesidade. 
Ainda, segundo a mesma pesquisa: “O alto índice de deprimidos está 
relacionado à organização do trabalho, principalmente nos últimos tempos, com a 
ameaça de desemprego diante da crise financeira”. Sabe-se que os doentes com LER 
(Lesão por Esforço Repetitivo) tendem a sofrer de depressão, diante da desqualificação 
da doença, já que o sintoma é a dor. Muitos trabalhadores não relacionam a dificuldade 
de relacionamento, o cansaço frequente, e o sono difícil como sintomas de depressão. 
 
As transformações recentes nos processos produtivos das indústrias levam a uma maior 
intensificação do trabalho, com aumento no esforço requerido de tendões, músculos e 
articulações, levando a um importante aumento na incidência dessas lesões 
ocupacionais no trabalhador. 
Há ainda a questão da organização do trabalho que influi diretamente sobre o 
bem-estar dos trabalhadores. A falta de condições adequadas de trabalho é prejudicial 
tanto para os trabalhadores, aumentando a incidência do adoecimento e absenteísmo 
laboral (falta ao trabalho) entre eles, como para os empregadores, com a diminuição da 
produtividade e competitividade da indústria. 
Outros fatores ergonômicos também são importantes, como no caso de 
equipamentos mal projetados, que não podem ser ajustados de acordo com as diferenças 
individuais de cada empregado, e que por isso tornam sua utilização desconfortável, 
predispondo os trabalhadores a danos físicos e psíquicos. 
Atualmente, a progressiva automação das atividades industriais tem exigido 
que os trabalhadores realizem tarefas que requerem alta repetição de movimentos, 
principalmente dos membros superiores (ombros, braços e mãos), além de posturas 
fixas (estáticas) de todo o corpo, comprometendo, de muitas maneiras, o sistema 
músculo-esquelético. O uso excessivo dos músculos e articulações leva a pequenos 
traumas que se repetem durante a jornada de trabalho, provocando as Lesões por 
Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Ósteo-musculares Relacionados ao Trabalho 
(DORT). 
Portanto, pode-se perceber que o emprego de novas tecnologias 
frequentemente não é utilizado no sentido de aliviar a carga de trabalho ou de permitir 
uma maior autonomia do trabalhador na realização de suas tarefas, mas sim, no sentido 
de impor uma maior exigência do ritmo e frequência de trabalho, o que está estritamente 
relacionado à atual expansão das LER/DORT (MERLO, 2000). 
Na maioria dos trabalhadores acometidos por LER/DORT a doença evolui para 
uma forma crônica e com presença permanente de dor. Quando esta lesão se torna 
crônica, produz alterações consideráveis na vida destas pessoas, impossibilitando-os de 
realizar, não só sua atividade profissional, mas também suas atividades diárias. Os 
trabalhadores acometidos por tais doenças encontram-se em uma situação de 
permanente sofrimento físico e psíquico (MERLO et al, 2003). 
Geralmente os sintomas são de evolução insidiosa (sem diagnóstico aparente 
ou difícil de ser diagnosticado) até serem claramente percebidos. Com frequência são 
desencadeados ou agravados após períodos de maior quantidade de trabalho ou jornadas 
prolongadas e em geral, o trabalhador busca formas de manter o desenvolvimento de 
seu trabalho, mesmo que à custa de dor. A diminuição da capacidade física passa a ser 
percebida no trabalho e fora dele, durante as atividades cotidianas. 
As LER/DORT são as manifestações de lesões decorrentes da utilização 
excessiva, imposta ao sistema músculo-esquelético, e da falta de tempo para a sua 
recuperação. Lesões neuro-ortopédicas como as tendinites (inflamação dos tendões) e as 
compressões de nervos periféricos (síndrome do túnel do carpo) são exemplos de lesões 
relacionadas ao trabalho. 
Os fatores de risco para o surgimento das LER/DORT envolvem aspectos 
físicos, psicoemocionais e da organização do trabalho, os quais comumente interagem 
entre si. Entre eles temos: 
•Execução de movimentos repetitivos durante o trabalho; 
•Falta de rotatividade de tarefas; 
•Falta de pausas durante a jornada de trabalho; 
•Posturas desconfortáveis adotadas pelos trabalhadores; 
•Realização de esforço muscular excessivo; 
•Posto de trabalho e equipamentos ergonomicamente inadequados; 
•Estresse físico e mental; etc. 
O que pode ocorrer nos casos mais crônicos? 
Nos casos mais crônicos e graves, pode ocorrer: sudorese (suor) excessiva nas 
mãos e alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em pele 
normal). 
 
A prevenção do adoecimento do trabalhador é de grande importância para a indústria, 
pois um trabalhador doente torna-se ineficiente e improdutivo. Para tanto devem ser 
realizadas ações que visem a estimular o bem-estar físico e psicossocial dos 
empregados, evitando assim o surgimento de doenças ocupacionais. Entre as medidas 
gerais que podem ser aplicadas para alcançar este objetivo, pode-se citar: 
•Ergonomia – através de mudanças no ambiente de trabalho e no modo de 
produção (organização do trabalho). A intervenção ergonômica dentro de uma empresa 
deve ser realizada de forma a promover mudanças que busquem solucionar 
necessidades específicas de cada atividade. Para tanto, é preciso que, inicialmente, se 
realize a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) por um profissional habilitado 
(ergonomista) e através desta possam ser colocadas em prática as alterações mais 
adequadas e efetivas para cada caso. Medidas como a implantação de pausas durante o 
trabalho, rotatividade de tarefas e mecanização de atividades que exijam sobrecarga 
muscular do trabalhador, como o levantamento de carga, são exemplos de alterações 
benéficas para a saúde dos empregados; 
•Educação dos trabalhadores – ensinando sobre como realizar suas tarefas de 
forma correta e segura, evitando lesões e acidentes do trabalho; 
•Ginástica Laboral – o incentivo à prática de atividade física leva a melhora da 
saúde geral do indivíduo e a integração social dos trabalhadores, beneficiando os 
aspectos físicos e psicológicos durante o trabalho. 
Vários fatores provocam essas lesões, dentre elas destacamos: 
•Postos de trabalho que forçam o trabalhador a adotar posturas desconfortáveis, 
a suportar cargas excessivas e a se comportar de forma a causar ou agravar afecções 
músculo-esqueléticas; 
•Exposição a vibrações de corpo inteiro, ou do membro superior, pode causar 
efeitos vasculares, musculares e neurológicos; 
•Exposição ao frio pode ter efeito direto sobre o tecido exposto e indireto pelo 
uso de equipamentos de proteção individual contra baixas temperaturas (ex. luvas); 
•Exposição a ruído elevado, entre outros efeitos pode produzir mudanças de 
comportamento; 
•Pressão mecânica localizada provocada pelo contato físico de cantos retos ou 
pontiagudos de objetos, ferramentas e móveis, com tecidos moles de segmentos do 
corpo e trajetos nervosos provocando compressão de estruturas moles do sistema 
músculo-esquelético. 
•Posturas inadequadas podem causar LER/DORT. Estas posturas possuem três 
características que podem estar presentes simultaneamente: 
- Posturas em que as articulações são forçadas até o seu limite de movimento. 
- Força da gravidade impondo aumento de carga sobre os músculos e 
articulações. 
- Posturas que modificam a geometria músculo-esquelética e podem gerar 
estresse sobre tendões, músculos e articulações. 
•Sobrecarga mecânica músculo-esquelética. Entre os fatores que influenciam a 
carga músculo-esquelética, encontramos: a força,a repetição, a duração da carga, o tipo 
de preensão, a postura e o método de trabalho. A carga músculo-esquelética pode ser 
entendida como a carga mecânica exercida sobre seus tecidos e inclui: 
- Tensão muscular; 
- Pressão externa sobre músculos e nervos; 
- Fricção dos tendões sobre as estruturas ao seu redor; 
- Irritação dos nervos. 
Como essas lesões podem ser diagnosticadas? 
Observando-se: 
•Dor localizada, irradiada ou generalizada; 
•Desconforto; 
•Fadiga; 
•Sensação de peso; 
•Formigamento; 
•Dormência; 
•Sensação de diminuição de força; 
•Inchaço; 
•Enrijecimento muscular; 
•Choques nos membros; 
•Falta de firmeza nas mãos. 
É necessário um profissional médico para esse diagnóstico? 
Sim, é importante que estas lesões sejam diagnosticadas por um médico, pois 
com sua experiência e formação ele pode buscar dados por meio da história clínica, 
levando em consideração as atividades realizadas pela pessoa tanto no trabalho, quanto 
no lazer. Em seguida realiza um exame físico geral, dedicando especial atenção aos 
locais afetados. 
Existem exames complementares para auxiliar o médico no diagnóstico? 
Exames complementares podem ser solicitados para esclarecer o diagnóstico, 
incluindo: radiografias, ecografias, eletroneuromiografia, ressonância magnética e 
exames laboratoriais para condições reumáticas, dentre outros. 
 
O tratamento da LER/DORT têm início após um diagnóstico correto e deve buscar uma 
abordagem integrada, ao invés de tratar somente a sintomatologia: 
•Medidas ergonômicas visam a melhorias no local de trabalho que não 
induzam ao desenvolvimento das LER/DORT. Por vezes, pequenas adaptações fazem 
grandes diferenças. As pausas programadas durante a jornada de trabalho podem ser 
consideradas atitudes ergonômicas benéficas. 
•Exercícios físicos são benéficos, incluindo tanto exercícios aeróbicos como 
exercícios de alongamento, mas devem sempre ser orientandos por profissional 
especializado. 
•A fisioterapia é muitas vezes empregada na redução da dor e na recuperação 
da função e dos movimentos do membro afetado pela LER/DORT. 
•Medicamentos antiinflamatórios e analgésicos são utilizados para alívio da dor 
aguda e crônica. Devem ser utilizados com cautela e somente com recomendação 
médica. 
•Medicamentos corticóides são antiinflamatórios mais potentes, porém com 
mais efeitos colaterais, merecendo atenção médica redobrada. 
•Medicamentos antidepressivos e outros agentes com ação no sistema nervoso 
central são utilizados em quadros de dores crônicas provocadas pelas LER/DORT ou 
quando associadas a sintomas de humor e/ou ansiedade. 
•Intervenção cirúrgica é indicada para casos associados a más formações e 
deformidades ósteo-musculares irreversíveis ao tratamento medicamentoso. 
Como prevenir a ocorrência dessas lesões? 
•Identifique tarefas, ferramentas ou situações que causam dor ou desconforto e 
converse sobre elas com os profissionais da segurança e saúde do trabalho que atendem 
a sua empresa e com sua chefia; 
•Faça revezamento nas tarefas; 
•Procure aprender outras tarefas que exijam outros tipos de movimento; 
•Faça pausas obrigatórias de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados, 
evitando ultrapassar 6 horas de trabalho diário de digitação; 
•Auxilie na identificação das posições incorretas e forçadas no trabalho e ao 
mesmo tempo, procure dar sugestões sobre o que fazer para melhorar as condições de 
trabalho; 
•Informe claramente à sua chefia quando o tempo determinado para realizar uma tarefa 
for reduzido; 
•Diante dos sintomas de dor ou formigamento nos membros superiores, 
procure um médico; 
•Procure conhecer os recursos de conforto do seu posto de trabalho; 
•Procure adotar posturas corretas; 
•Levante-se de tempos em tempos, ande um pouco, espreguice-se, faça 
movimentos contrários àqueles da tarefa. 
Quais os exercícios ideais para prevenção e ou tratamento das LER/DORT? 
Alguns exercícios são indicados para prevenção e auxiliam no tratamento das 
LER/DORT, como estes: 
•Abra as mãos e encoste as palmas em "posição de rezar". Com os dedos juntos 
flexione os punhos e comprima uma mão contra a outra. (frente do peito); 
•Aperte dedo contra dedo, alongando-os um por um (polegar contra polegar, 
indicador contra indicador e assim por diante). Pode ser feito com todos os dedos ao 
mesmo tempo; 
•Cruze o dedo com dedo (gancho) e puxe alternando-os. Ex. Polegar com 
médio, anular com mínimo. A variedade fica por conta de cada um; 
•Feche bem as mãos como se estivesse segurando algo com força. Em seguida 
estique bem os dedos; 
•Abra os dedos afastando-os o máximo possível. Feche os dedos apertando-os 
com a mão esticada; 
•Faça "ondas" com a mão e os dedos. Como se a mão estivesse serpenteando 
no ar; 
•Balance as mãos; 
•Gire os punhos em círculo, com as mãos soltas, no sentido horário e anti-
horário. 
Veja mais sobre este assunto: 
O Trabalho entre Prazer, Sofrimento e Adoecimento: A Realidade dos 
Portadores de Lesões por Esforços Repetitivos. 
Conforme já foi assinalado, a área de atenção à saúde dos 
trabalhadores insere-se no campo das práticas em saúde coletiva, e o 
psicólogo poderá deparar-se com as questões do processo saúde-doença 
em sua relação com o trabalho, independentemente do lugar em que 
esteja atuando. 
Considerando o fato de a atual configuração teórica da área romper 
a concepção que estabelece um vínculo causal entre doença e um agente 
específico e introduzir a leitura dos condicionantes sociais, das condições 
e da organização do trabalho na determinação do processo de adoecer 
e sofrer no trabalho, tais preceitos repercutirão na prática psicológica, o 
que implica numa releitura teórica e metodológica dessa prática. A revisão 
da abordagem médico-científica, com ênfase nos fenômenos biológicos 
e uma visão mecanicista do adoecer, que não previa intervenções nos 
processos produtivos, foi modificada e ampliou os conhecimentos sobre a 
relação entre saúde e trabalho, privilegiando o olhar sobre o trabalhador. 
Na perspectiva de superar o reducionismo positivista das 
explicações que permeiam o adoecer no trabalho, impõe-se à área de 
Saúde do Trabalhador um olhar sobre o ser humano na relação com a sua 
atividade, isto é, na forma pela qual se insere no processo produtivo, além 
das condições, da organização e da divisão do trabalho. Dessa forma, 
é preciso reconhecer a subjetividade no trabalho, o significado que os 
indivíduos atribuem a determinadas situações, o modo como cada um 
reage a partir da sua história de vida, de seus valores, das suas crenças, 
das suas experiências e das suas representações sobre a atividade 
desenvolvida.
Torna-se evidente também a necessidade da participação dos 
trabalhadores nas ações voltadas para a proteção e a promoção da saúde 
como sujeitos capazes de contribuir com o seu conhecimento para o 
avanço da compreensão do impacto do trabalho sobre o processo saúde-
doença e de intervir para transformar a realidade. Nesse contexto, cabe 
à Psicologia contribuir com um olhar para cada sujeito, considerando-
o sujeito de um coletivo, resgatar o conhecimento e valorizar a 
subjetividade dos trabalhadores, para compreender melhor suas práticas 
de trabalho (SELLIGMANN-SILVA, 1994; SILVA FILHO, 1997). Seguindo 
O saber do psicólogo na prevenção, reabilitação e promoção 
da saúde dos trabalhadores
as diretrizes do SUS, as ações desenvolvidas devem ser orientadas para a 
promoção, a prevenção, a assistência e a reabilitação. Ao mesmo tempo, 
devem ser desenhadas a partir das singularidades que conformam cada 
território, em termos econômico-produtivos e socioculturais, cabendo 
especial atenção à especificidade da organização do movimento social-
sindical, pois, conforme já foi dito, o controle social é um dos princípios 
norteadores da política de Saúde do Trabalhador.
Dadas as circunstâncias, as práticas psicológicas em Saúde do 
Trabalhador devem ser desenhadas a partir de uma contínua atividadeinvestigativa que norteie a eleição de prioridades e que defina as formas 
de atuação. Deve-se considerar que a atuação do psicólogo nesse 
âmbito pode estar delimitada por determinações legais (como no caso 
da vigilância) e pode subsidiar a concessão de benefícios previdenciários 
(auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, por exemplo) e trabalhistas 
(direito à reintegração). 
Desse modo, com o intuito de apresentar as contribuições da 
Psicologia para a implantação e a implementação de ações na área 
da Saúde do Trabalhador, serão relatadas, a seguir, algumas atividades 
desenvolvidas nessa área. É importante salientar que muitas dessas 
ações tornaram-se referência para a implantação de diversas práticas; no 
entanto, não se trata da apresentação de modelos, pois as informações 
e demandas locais, as especificidades regionais, as atribuições e as 
competências de cada serviço norteiam a definição das ações, segundo 
os princípios do SUS, privilegiando as estratégias da atenção básica, o 
enfoque da promoção da saúde e o controle social.
Também vale lembrar que, da mesma forma que a Saúde do 
Trabalhador enquanto política pública não se restringe aos CERESTs, 
também a atuação do psicólogo nesse campo não pode ficar restrita 
a essa unidade especializada. Ela deve ocorrer nos mais diversos 
serviços do SUS, tais como unidades de atenção básica, ambulatórios 
de especialidades, CAPS, hospitais e serviços de vigilância em saúde. 
As particularidades e possibilidades de ação em cada local dependem 
das características loco-regionais e de determinações legais. Sendo 
assim, aqui também não se pretende delimitar as fronteiras de atuação 
do psicólogo em cada tipo de serviço, mas apresentar as diversas 
30
possibilidades de ação no campo da Saúde do Trabalhador em que 
esse profissional possa estar inserido. No que se refere ao papel de cada 
tipo de serviço no SUS, sugere-se consultar a legislação indicada nas 
referências ao final do documento.
2.1 A notificação dos agravos e das situações de risco para 
a saúde dos trabalhadores 
A notificação tem se colocado como um dos principais desafios à 
rede de atenção à saúde dos trabalhadores. 
Nos últimos anos, se ainda há escassez de dados, muito se avançou 
com a publicação, pelo Ministério da Saúde, do Manual de Doenças 
Relacionadas ao Trabalho (2001), cujo capítulo 10 discorre sobre os 
transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho, e da 
Portaria nº 777/GM, de 28 de abril de 2004, que institui a notificação 
compulsória de agravos à saúde do trabalhador, a saber:
§ 1º São agravos de notificação compulsória, para efeitos desta 
portaria:
X - Transtornos mentais relacionados ao trabalho.
Na prática, a notificação dos transtornos mentais será realizada por 
meio de um sistema de informações do Ministério da Saúde (Sistema de 
Informação de Agravos de Notificação – SINAN), já conhecido da rede de 
saúde, pois é utilizado para os demais agravos de notificação compulsória 
rotineiramente registrados pelos serviços de vigilância à saúde.
Embora as normas técnicas referentes à temática saúde mental 
e trabalho impulsionem o aperfeiçoamento das ações de registro e 
notificação dos transtornos mentais, faz-se necessária a incorporação 
dessa prática no dia a dia do psicólogo a partir da realização de um 
diagnóstico com o devido rigor ético e técnico.
No campo dos estudos epidemiológicos, a busca da determinação 
social da doença e os dados de caráter coletivo relacionados aos 
transtornos mentais favorecem o reconhecimento da categoria trabalho 
como determinante do adoecimento e permitem maior visibilidade ao 
sofrimento psíquico.
31
2.2 Informação: produção e organização de dados
A área da Saúde do Trabalhador tem, tradicionalmente, utilizado 
as informações produzidas por outros setores, tais como a Previdência 
Social (o registro das notificações de acidentes do trabalho) e o Ministério 
do Trabalho e Emprego (registro das empresas), dentre outros, uma vez 
que há carência de dados nos serviços de saúde relativos ao adoecimento 
produzido pelo trabalho, mapeamento dos riscos no trabalho etc. 
Por outro lado, as informações dos serviços devem alimentar os 
sistemas de informação em saúde, integrando os dados de saúde do 
trabalhador aos bancos de dados oficiais, o que garantirá a ampla difusão 
das informações e as disponibilizará para a sociedade.
2.3 Ações de assistência e promoção da saúde: uma abor-
dagem interdisciplinar
Independentemente do seu espaço de atuação, o psicólogo deve 
sempre colaborar com a saúde dos trabalhadores, ou seja, se na sua prática 
clínica não perder de vista a centralidade do trabalho na compreensão da 
subjetividade humana, essa dimensão será necessariamente levada em 
conta. Contudo, deve-se ressaltar que é na abordagem interdisciplinar 
que se pode dar conta da amplitude dos problemas de saúde relacionados 
ao trabalho.
Nesse sentido, observa-se que os psicólogos têm participado 
da elaboração de diferentes modalidades terapêuticas de atenção aos 
trabalhadores, dando especial destaque às atividades grupais com 
portadores de doenças crônicas (LER/DORT; lombalgia, PAIR etc.). Em tais 
atividades, são adotadas diversas perspectivas teóricas. De modo geral, os 
grupos têm caráter informativo-terapêutico, valorizam o conhecimento e 
a subjetividade dos trabalhadores e visam à ressignificação do processo 
de adoecimento, além de legitimar o seu discurso, estimular a sua 
participação e autonomia em relação ao tratamento, o que propicia o 
autoconhecimento. 
Um dos primeiros relatos de intervenção terapêutica grupal com 
trabalhadores portadores de LER/DORT desenvolvida em serviços 
públicos de Saúde do Trabalhador foi produzido por Sato et al. (1993). O 
32
artigo apresenta os resultados encontrados sobre a dimensão psicossocial 
e o sofrimento vivido pelos portadores, este associado à culpa e à revolta 
em relação ao adoecimento, à impossibilidade de realizar as atividades 
anteriores e à incerteza da melhora. Concluiu-se que tal abordagem 
propiciou a construção de estratégias individuais e coletivas visando a 
melhor qualidade de vida, o que contribui para a adoção de uma postura 
ativa. 
Lima e Oliveira (1995) abordam a temática da ideologia da 
culpabilização e os grupos de qualidade de vida tecendo uma crítica às 
explicações reducionistas adotadas pela Psicologia, ao enfocar o indivíduo 
como objeto exclusivo da investigação. Os autores enfatizam a importância 
do trabalho grupal como espaço de reflexão, ao instrumentalizar os 
indivíduos para o enfrentamento das situações vividas. 
A implementação das oficinas terapêutico-pedagógicas para 
portadores de LER/DORT (CHIESA et al. 2002) exemplifica um modelo 
de atenção psicoterapêutica desenvolvida no serviço público. Neste, 
consideram-se as características do processo de adoecimento e a 
superação da problemática a partir do resgate e da articulação das 
experiências de vida em um determinado contexto social.
Com ênfase na busca coletiva de soluções de tarefas, Hoefel et 
al. (2004) propuseram a formação dos grupos de ação solidária que 
estimulam o desenvolvimento da criatividade e a construção de formas de 
apoio social e laços solidários, o que desencadeia novas posturas frente às 
situações do adoecimento. A partir de uma “situação problema”, realiza-
se uma análise coletiva em busca de alternativas para uma intervenção e 
para o resgate da cidadania. 
Esse breve relato de atividades terapêuticas teve o intuito de 
ilustrar a dimensão psicológica e a compreensão do sofrimento psíquico 
relacionadas ao processo de adoecimento decorrente do trabalho. As 
atividades descritas têm sido desenvolvidas em diversos serviços de 
atenções primária, secundária e até mesmo terciária do SUS, mas ainda 
são os CERESTs que as realizam com um caráter sistemático, seja na 
atenção direta aos usuários seja no apoio técnico a outras unidades 
(GARBIN, 2003; BERNARDO, 2003; ALVARENGA ; SILVA, 2003; MERLO 
et al., 2001). 
33As perspectivas de atenção, tratamento e reabilitação na área 
da Saúde do Trabalhador incluem abordagens mais amplas do que 
a reabilitação para o trabalho, o que possibilita um viver criativo 
apesar da presença da doença. Trata-se, portanto, de uma reabilitação 
para uma nova inserção social. Nesse sentido, trabalha-se com a 
perspectiva de instrumentalizar os indivíduos para ações individuais 
e coletivas, buscando melhorar a qualidade de vida e ampliar a 
participação na sociedade, o que gera um pensamento crítico sobre a 
realidade, possibilita a transformação de relações de poder e aumenta 
a capacidade de os indivíduos sentirem-se ativos nos processos que 
determinam suas vidas. 
Convém ressaltar que diferentes condições de trabalho, a falta de 
trabalho ou mesmo a ameaça de perda do emprego podem provocar 
sofrimento mental. Os acidentes, doenças do trabalho e o desemprego 
podem afetar a saúde mental, levando aos chamados transtornos 
mentais e do comportamento, a quadros psicopatológicos específicos e 
a alterações no sistema nervoso (SELIGMANN-SILVA, 1997).
2.4 Análise dos processos de trabalho e vigilância
As ações de vigilância em Saúde do Trabalhador incluem 
a identificação, o controle e a eliminação dos riscos nos locais 
de trabalho. Partindo de dados epidemiológicos, de informações 
fornecidas pelos trabalhadores atendidos nas unidades de saúde e/ou 
pelos sindicatos, além da bibliografia especializada, definem-se as 
prioridades de atuação. O objetivo é identificar os riscos à saúde nos 
contextos de trabalho e indicar modificações, visando à prevenção 
primária. O processo de vigilância pode ser desencadeado por um 
evento sentinela, ou seja, a ocorrência de doença, invalidez ou mortes 
evitáveis. A partir do conhecimento de cada um dos eventos, ocorrerá 
uma investigação para determinar como eventos similares podem ser 
prevenidos no futuro. 
Um dos pressupostos que orientam a prática em vigilância é o 
diálogo entre a vivência e a experiência cotidiana dos trabalhadores e 
o conhecimento técnico-científico. É preciso ater-se cuidadosamente 
acerca desse ponto, pois, durante as avaliações, o local de trabalho 
34
costuma ser apresentado pela empresa de modo a aparentar menos 
danos à saúde: máquinas perigosas são desligadas, o ritmo de trabalho 
é diminuído etc. A situação real, nesses casos, fica praticamente 
inacessível. Além do mais, apenas com a participação dos trabalhadores 
poder-se-á garantir a implementação das mudanças sugeridas a partir 
dessas avaliações, já que os trabalhadores, quando participam da 
elaboração de propostas, tornam-se seus “fiscais” permanentes.
É principalmente enquanto pesquisador social que o psicólogo 
participa da equipe interdisciplinar de vigilância, atuando como agente 
de investigação crítico quanto à dimensão subjetiva nos ambientes de 
trabalho, sensível às formas particulares como os trabalhadores vêem 
os riscos do trabalho, os modos como eles lidam com estes e como se 
organizam em cada microuniverso (SATO, 1996; BERNARDO, 2002; 
SATO, LACAZ; BERNARDO, 2006). 
As ações de vigilância apresentam-se como modalidades 
diferenciadas de atuação para o psicólogo, e os aspectos relacionados 
à organização do trabalho representam desafios de investigação e 
modificação do trabalho, pois ameaçam os interesses do capital 
(BERNARDO, 2006). Os fatores relacionados ao tempo, ritmo, turnos, 
sobrecarga de trabalho, pressão por resultados, excesso de horas 
extras, horários irregulares e práticas de assédio moral são aspectos 
da organização do trabalho que merecem atenção, pois podem gerar 
efeitos deletérios sobre a saúde mental dos trabalhadores e repercutir 
na qualidade da vida familiar e social do trabalhador.
Assim, ao se inserirem nas equipes interdisciplinares que realizam 
as ações de vigilância, os psicólogos podem colaborar na apreensão de 
informações relacionadas ao modo como o trabalho está organizado e 
suas conseqüências para a saúde da população trabalhadora. Busca-se a 
descrição dos fenômenos e das relações no trabalho para a compreensão 
dos sentidos, processos, hábitos e representações construídos naquele 
espaço. Trata-se, portanto, de identificar a experiência subjetiva com o 
desafio de responder como se dá o trabalho real. A premissa básica nessa 
área de atuação considera que o trabalhador detém o conhecimento 
sobre o universo do trabalho, porém tal conhecimento nem sempre 
se apresenta pronto e acabado, sendo expresso em estratégias de 
35
enfrentamento das situações cotidianas e de soluções para os problemas 
identificados. 
Pode ser utilizada uma metodologia quantitativa ou qualitativa, por 
meio de questionários, entrevistas, observações e grupos focais, dentre 
outros, sempre considerando as questões éticas envolvidas: anonimato, 
consentimento e participação voluntária (FACCHINI, 1997).
2.5 Educação em saúde
Trata-se do desenvolvimento de cursos, seminários e estágios 
para técnicos, gestores e trabalhadores, com a finalidade de capacitar 
técnicos integrantes das instâncias de controle social e trabalhadores em 
geral, além de servir de modelo para as instâncias municipais e regionais 
do SUS. Refere-se, ainda, à produção de conhecimento, ou seja, à 
publicação de manuais, elaboração de artigos, organização de livros, 
apostilas e audiovisuais técnicos. 
O psicólogo, assim como os demais profissionais, pode 
contribuir para a identificação de problemas de saúde e de outras 
questões relacionadas ao trabalho que necessitam ser investigadas ou 
estudadas, de modo a produzir conhecimento especializado, divulgar 
os dados, estabelecer cooperação técnica e subsidiar a formulação e a 
implementação de políticas na área. 
No âmbito da educação permanente dos profissionais, incluída 
a atualização técnico-científica, o psicólogo pode atuar na formação e 
gestão do trabalho em saúde, estimulando as discussões relativas às 
mudanças nas relações e nos processos de trabalho e o trabalho em 
equipe.
2.6 O estabelecimento do nexo causal: um grande de-
safio que se apresenta ao psicólogo no campo da Saúde do 
Trabalhador 
Um grande desafio que se apresenta ao psicólogo, nesse campo, 
consiste no estabelecimento do nexo causal entre os transtornos mentais 
e os aspectos organizacionais do trabalho. Embora tal questão não esteja 
ainda resolvida, para uma análise da categoria trabalho como fator de risco 
36
para o desenvolvimento dos transtornos mentais e do comportamento, 
conta-se com o seguinte modelo, proposto pelo Ministério da Saúde, em 
20013:
I – o trabalho pode ser causa necessária para o adoecimento – a 
exposição a substâncias tóxicas – metais pesados: mercúrio, chumbo, 
manganês – pode comprometer funções cognitivas e levar ao quadro 
de transtorno orgânico de personalidade; a exposição a um evento ou 
situação estressante de natureza excepcionalmente ameaçadora – vítimas 
de assaltos, por exemplo, – pode desencadear o quadro de estresse pós-
traumático. Esse grupo abrange os diagnósticos de demência, delírio, não 
sobreposto a demência, transtorno cognitivo leve, transtorno orgânico 
de personalidade, transtorno mental orgânico, episódios depressivos, 
síndrome de fadiga e transtorno do ciclo vigília-sono. 
Os vários recursos de avaliação psicológica podem ser úteis na 
identificação de alterações permanentes de funções como memória, 
atenção concentrada e outras, advindas de transtornos orgânicos, 
que auxiliam o trabalhador a compreender a sua real condição e, em 
conseqüência, a defender os seus direitos.
II – o trabalho pode ser fator contributivo, mas não necessário – a 
vivência de esgotamento profissional em um contexto de estresse laboral 
prolongado, com ritmo de trabalho penoso e ambientes que passam 
por transformações organizacionais, pode levar à exaustão emocional e 
desencadear a síndrome de Bournout (esgotamento profissional) ou a 
neurose profissional, nas quais o trabalho pode ser considerado fator de 
risco no conjunto de fatores de risco associados à etiologia dadoença. 
III – o trabalho como provocador de um distúrbio psíquico 
latente ou agravador de doença já estabelecida – o trabalho em 
3 Quanto ao reconhecimento da importância do Manual de Procedimentos na Saúde do Trabalhador no cenário 
da Política Nacional de Saúde, deve-se fazer a seguinte ressalva: o quadro classificatório ali adotado, seguindo a 
classificação de Schilling (1984 BRASIL/MS, 2001), ao utilizar os termos genéricos “distúrbios mentais” e “doenças 
mentais” como exemplos do Grupo III - (do trabalho como desencadeador de um distúrbio latente ou de doença pré-
estabelecida) pode reforçar uma compreensão positivista e essencialista dos transtornos mentais, desconsiderando a 
variedade dos contextos de produção e a diversidade de condições específicas. Tal compreensão, que está associada 
a uma psicopatologia mais tradicional e contra a qual o profissional de Psicologia deve estar de sobreaviso, seria uma 
incoerência dentro do próprio Manual de Procedimentos, que, ao longo das páginas seguintes, traz vários exemplos 
de distúrbios mentais e comportamentais entre os grupos I e II, afirmando, por exemplo, que “o diagnóstico de trans-
torno orgânico de personalidade, excluídas outras causas não-ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da 
classificação de Schilling, em que o trabalho desempenha o papel de causa necessária”. (BRASIL, 2001, p.171).
37
condições degradantes, atividades que coloquem a vida do trabalhador 
em risco, jornadas extensas e/ou em turnos alternados ou noturnos, 
dentre outros, pode se tornar importante fator psicossocial que leva ao 
desencadeamento de distúrbios psíquicos latentes ou ao agravamento de 
doenças já existentes, tais como a síndrome de dependência do álcool. 
Esses casos exigem especial atenção do psicólogo para não 
atribuir o problema de saúde apresentado pelo trabalhador unicamente 
a fatores individuais. Conforme mostra Seligmann-Silva (1994), além 
do diagnóstico, o olhar para o contexto no qual o trabalho dá-se é 
fundamental. 
Pode-se dizer que, de um modo geral, o estabelecimento da relação 
causal entre doença e trabalho pode ser definido de acordo com as 
diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001, p. 31): “natureza da 
exposição, história ocupacional, grau ou intensidade da exposição, tempo 
de exposição, tempo de latência, evidências epidemiológicas e tipo de 
relação causal com o trabalho”.
Entretanto, de acordo com Jardim e Glina (2000), reforçamos que 
a investigação diagnóstica em saúde mental e trabalho deve combinar 
diferentes técnicas, como, por exemplo, entrevistas e testes psicológicos. 
No processo de investigação diagnóstica, deve-se sempre perguntar sobre 
o trabalho, realizar uma anamnese ocupacional, levantar aspectos da 
organização do trabalho, identificar as exigências físicas e mentais, inquirir 
sobre a percepção do trabalhador a respeito dos riscos, e observar o posto 
de trabalho, as condições ambientais e o processo de trabalho. Observa-
se, assim, que o nexo entre saúde/doença mental exige olhar e atuação 
interdisciplinar, na qual o psicólogo tem papel de destaque.
Ainda, conforme afirma Jacques (2007), deve-se lembrar que, 
“mesmo admitindo o reducionismo que a relação causal produz em 
se tratando de quadros psicopatológicos, a exigência legal a impõe 
para o reconhecimento de doenças relacionadas ao trabalho” (p.112), 
possibilitando, assim, que o trabalhador possa ter acesso às “garantias 
previstas pela legislação, tanto de caráter econômico como sua 
estabilidade por um ano quando do retorno ao trabalho” (p.117). A autora 
também ressalta que a ênfase na Psicopatologia pode encobrir o contexto 
em que se dá a relação entre o trabalhador e seu trabalho. Desse modo, 
38
é importante que, ao buscar estabelecer nexo entre trabalho e saúde/
doença mental, sejam considerados o contexto laboral, a subjetividade do 
trabalhador e, principalmente, a relação entre esses dois aspectos.
O estabelecimento de nexo causal ganhou um novo contorno ao 
entrarem em vigor a Lei nº11.430, de 26 de dezembro de 2006, o Decreto 
nº 6042, de 12 de fevereiro de 2007, e a Instrução Normativa nº 16, do 
INSS, de 27 de março de 2007 (IN 16), pois, a partir desse momento, 
o reconhecimento das doenças relacionadas ao trabalho passou a ser 
identificado, pelo INSS, mediante o estabelecimento de “nexo técnico 
epidemiológico” ligado à atividade profissional exercida, ou seja, quando 
um trabalhador for afastado do trabalho por uma determinada doença 
que tenha significância estatística no ramo econômico a que pertence o 
seu empregador, seu benefício será definido automaticamente pelo INSS 
como acidente de trabalho. Assim, quando os dados epidemiológicos 
indicarem que, em determinado ramo produtivo, há uma alta incidência 
de incapacidade laborativa decorrente de um mesmo problema de saúde, 
não caberá mais ao trabalhador inserido em uma empresa desse ramo 
a responsabilidade de comprovar que seu adoecimento – seja físico ou 
mental – foi causado pela atividade que desempenhava. Ao contrário, 
caberá ao empregador o encargo de provar que tal nexo não existe. 
Para finalizar este tópico, é importante ressaltar que o nexo entre 
adoecimento/sofrimento psíquico e trabalho é uma atividade importante 
na assistência aos trabalhadores que, de alguma forma, já tiveram sua 
saúde afetada pelo trabalho; no entanto, é importante lembrar que a 
identificação de tais situações na atividade clínica do psicólogo deve 
ser vista também como um alerta para o desencadeamento de ações 
preventivas (especialmente a vigilância em saúde, discutida no item 2.4) 
no sentido de evitar que outros trabalhadores permaneçam expostos às 
mesmas condições.
40
3. Aspectos éticos e políticos relacionados à atuação 
do psicólogo na Saúde do Trabalhador 
Se a Saúde do Trabalhador enquanto política pública surge como 
uma alternativa à saúde ocupacional – a qual, conforme afirma Nardi 
(1997), tem como foco primordial a “saúde da produção” e não a dos 
trabalhadores – pode-se dizer que o exercício da Psicologia na Saúde 
do Trabalhador no âmbito do SUS também assume características que 
diferem das práticas tradicionais dos psicólogos nas empresas.
Atuando no âmbito público, os profissionais da área de Saúde 
do Trabalhador no SUS não estão inseridos em nenhum dos pólos do 
conflito entre capital e trabalho. Eles são representantes do Estado, 
e, enquanto tais, têm o dever de proteger o lado mais frágil dessa 
relação. Para isso, devem estar atentos às condições de qualquer tipo 
de atividade laboral (formal ou informal) que possa representar riscos 
para a saúde dos trabalhadores, independentemente de que, para o 
seu equacionamento, sejam necessárias ações que se oponham aos 
interesses dos empregadores. 
Assim, quando atua na Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, 
o psicólogo deve priorizar a adequação das condições do ambiente e da 
organização dos processos de trabalho ao trabalhador, e não o contrário. 
Tais características ampliam significativamente os limites de atuação do 
profissional, pois deve-se lembrar que um psicólogo contratado por uma 
empresa está, em geral, subordinado a ela, e, por isso, pode ter bastante 
dificuldade no enfrentamento das questões relacionadas à saúde dos 
trabalhadores quando seu equacionamento envolver a redução do lucro 
ou o aumento dos custos de seu empregador. 
Conforme foi exposto no item referente às práticas do psicólogo 
na Saúde do Trabalhador, sua atuação pode ser bastante variada. 
Naturalmente, em todas as atividades, o Código de Ética Profissional do 
Psicólogo deve ser respeitado. No que se refere à Vigilância em Saúde, 
no entanto, esse profissional também estará subordinado aos aspectos 
éticos relativos à atividade de “autoridade sanitária”, que lhe conferem o 
papel de “polícia administrativa”, com o poder de estabelecer punições 
– tais como multas e penalidades educativas – aos empregadores que não 
41
respeitarem a legislação de saúde. Nesse contexto, não é aconselhávelaceitar presentes ou outras formas de remuneração que possam 
configurar crime de corrupção, nem exercer função remunerada pelas 
empresas situadas na região em que atua. 
Um outro importante aspecto que envolve a ética da atuação 
do psicólogo na área de Saúde do Trabalhador dá-se no âmbito das 
atividades de assistência e diz respeito ao estabelecimento de “nexo 
causal” entre o problema de saúde e o trabalho, especialmente quando 
o profissional é solicitado a emitir laudos e pareceres ou a depor em 
juízo. Nesses casos, deve seguir as determinações do Código de Ética 
Profissional e das resoluções do Conselho Federal de Psicologia, 
elaborando o seu laudo/parecer com fundamentação e qualidade técnica 
(Código de Ética Profissional, art. 2º, letra g), levando em consideração 
os aspectos expostos no item anterior deste documento, respeitando o 
sigilo profissional e prestando as informações estritamente necessárias a 
que teve acesso no atendimento ao trabalhador (Código de Ética, arts. 9º, 
10º e 11º). Também devem ser observadas as Resoluções do Conselho 
Federal de Psicologia, especialmente a nº 15, de 13/12/1996, que institui 
e regulamenta a concessão de atestado psicológico para tratamento de 
saúde por problemas psicológicos, e a nº 07/2003, que institui o Manual 
de Documentos Escritos produzidos pelos psicólogos. 
Finalmente, é importante lembrar que o olhar para as questões que 
envolvem a saúde do trabalhador deve ser incorporado pelo psicólogo 
independentemente do tipo de serviço no qual esteja inserido ou de sua 
área de atuação. Na prática clínica, na rede básica ou em unidades de 
emergência na rede de CAPS e na rede de CERESTs, além, é claro, da 
atuação nas empresas, é muito importante que, ao atender um indivíduo, 
o profissional esteja atento à possibilidade de que suas queixas estejam 
relacionadas ao trabalho. Tradicionalmente, a formação do psicólogo não 
contempla a relação entre trabalho e saúde mental, e o profissional acaba 
por negligenciá-la. Mas, ao deixar de considerar esse aspecto, o psicólogo 
arrisca-se a se tornar conivente com situações de “exploração, violência, 
crueldade e opressão”, o que pode configurar uma violação aos princípios 
fundamentais do Código de Ética Profissional.
44
 4. A formação do psicólogo no campo da Saúde do 
Trabalhador
Inicialmente, deve ser ressaltada a pouca ênfase que tem sido 
dada à categoria trabalho no contexto geral da formação do psicólogo, 
no Brasil. A relação trabalho/subjetividade ainda não foi devidamente 
reconhecida nesse contexto, o que representa uma séria barreira para a 
atuação desse profissional em todas as áreas, sobretudo no campo da 
Saúde do Trabalhador.
A base dessa formação deve ser a compreensão da “(...) gênese 
e (do) desenvolvimento da individualidade humano-societária, tendo o 
trabalho como categoria central e fundante do ser social” (CHASIN, 1999, 
p. 12). Não se trata, no entanto, de propor, como ponto de partida, um 
paradigma do trabalho ou mesmo uma “ontologia do trabalho restrita 
à sua positividade”, mas, sim, “o estatuto e os lineamentos de uma 
ontologia da sociabilidade ou do ser social, isto é, do ser autoconstituinte, 
na qual o trabalho é uma categoria central (...)”. 
Em suma, o trabalho deve ser entendido como “o ponto de partida 
de toda tentativa de se compreender o homem, (pois) é ele que funda, 
produz e reproduz o ser social sempre como um outro” (id. p. 16), ou, nos 
termos de Marx e Engels (1998): “O homem é o que faz e como o faz”. 
A maior implicação disso para a formação do psicólogo é que, pela 
compreensão do trabalho, torna-se possível apreender, de forma efetiva, 
como se dá o interfluxo subjetividade/objetividade, o que nos fornece a 
chave para compreender os processos psicológicos humanos. Isso significa 
que “todo ato humano, na medida em que tem no trabalho sua protoforma, 
é a permanente objetivação da subjetividade no mundo real” (CHASIN, 
1993). Dessa forma, o desvendamento dos processos de individuação, 
tarefa por excelência do psicólogo, exige “a delucidação efetiva de todos os 
patamares ou mediações da interatividade social” (CHASIN, 1999, p. 59-60), 
e, como o grande mediador dessa interatividade é o trabalho, este deve ser 
necessariamente desvendado e incorporado à formação desse profissional. 
Em síntese, pode-se dizer que a tarefa básica do psicólogo consiste 
em compreender como os indivíduos constituem-se , em uma dada época, 
a partir do desvendamento das formas de interação social e das formas 
45
de produção e reprodução da existência, e, para efetivar essa tarefa, deve 
partir dos indivíduos ativos e de sua autoprodução como resultado de sua 
própria atividade. Trata-se de uma perspectiva acima de tudo filosófica, na 
qual “o problema da individuação ganha legitimidade e dimensão próprias 
sempre em relação à realidade material, concreta, efetiva e histórica da 
produção dos indivíduos sociais” (ALVES, 1999, p. 4).
Por isso, o ponto de partida para a formação do psicólogo deve ser a 
compreensão do modo pelo qual os indivíduos produzem e reproduzem a 
sua existência, deixando aberta a possibilidade de se entender a produção 
no seu duplo sentido: produção das coisas e autoprodução dos indivíduos. 
Além disso, pode-se avançar no entendimento de que essa autoprodução 
dos indivíduos não ocorre no isolamento, mas em sociedade, o que os 
define, de forma imediata, como seres sociais. 
Em suma, a formação do psicólogo deve levar em conta:
1) a criação de disciplinas que tematizem adequadamente a relação 
subjetividade/objetividade, evitando dicotomias ou vieses que impeçam 
a visão adequada de como se efetiva tal relação e, sobretudo, o lugar 
ocupado pelo trabalho no interfluxo sujeito/objeto;
2) o enfoque nos processos de individuação, levando sempre em 
conta o seu caráter histórico e processual;
3) o enfoque nas diferentes possibilidades de atuação do psicólogo 
do trabalho, superando a visão estreita de uma atuação restrita ao 
contexto das organizações empresariais;
4) a ênfase na formação interdisciplinar, possibilitando ao 
profissional o acesso a conhecimentos proporcionados por disciplinas 
afins, tais como a ergonomia, a Sociologia, a Filosofia, a epidemiologia 
social, a Antropologia, a saúde coletiva, a Economia etc;
5) a criação de instrumentos que permitam melhor compreensão 
das vivências subjetivas no trabalho, conciliando a clínica com a análise 
da atividade (CLOT, 2006);
6) o desenvolvimento de habilidades que permitam ao profissional 
apreender as reais necessidades dos trabalhadores, ao assumir o 
compromisso com a preservação da saúde nos contextos laborais;
7) o conhecimento de políticas públicas, sobretudo aquelas voltadas 
para a saúde;
46
8) a aquisição de noções/conceitos sobre o mundo do trabalho 
(inserção no trabalho, relações de trabalho, processo, organização e 
condições do trabalho);
9) a ênfase em pesquisas visando ao avanço da disciplina e à 
resposta mais adequada às demandas sociais em torno da Saúde do 
Trabalhador, propondo um psicólogo como investigador prático, e não 
como mero aplicador de técnicas.
A percepção de que o trabalho pode ter conseqüências sobre a saú-
de mental dos indivíduos é muito antiga. Podemos encontrá-la no 
clássico "Tempos Modernos" de Charlie Chaplin - sensível à violên-
cia produzida pelas transformações contemporâneas do taylorismo e 
do fordismo sobre os trabalhadores —, até nos não menos clássicos 
estudos acadêmicos dos "pais" da Sociologia do Trabalho, Georges 
Friedman e Pierre Naville (1962), onde relatam as conseqüências do 
trabalho em linha de montagem. 
Nas origens da Psicodinâmica do Trabalho, temos os estudos de 
Le Guillant (1984), que, durante os anos 50, realizou as primeiras ob-
servações sistemáticas que lhe permitiram estabelecer relações entre 
trabalho e Psicopatologia. Seu trabalho mais citado foi feito em 1956 
sobre a atividade de telefonistas em Paris, no qual o autor diagnosti-
cou um distúrbio que ele nomeou como Síndrome Geralde Fadiga 
Nervosa, caracterizada por um quadro polimórfico que incluía altera-
ções de humor e de caráter, modificações do sono e manifestações 
somáticas variáveis (angústia, palpitações, sensações de aperto toráci-
co, de "bola no estômago", etc). O autor falava, ainda, da invasão do 
espaço fora do trabalho por hábitos do trabalho que ele chamou de 
Síndrome Subjetiva Comum da Fadiga Nervosa. Esta última síndro-
me caracterizava-se pela manutenção do ritmo de trabalho durante as 
férias, manifestando-se pela sensação de irritação, por uma grande di- 
ficuldade para ler em casa e pela repetição incontrolável de expres-
sões verbais do trabalho (Le Guillant, 1984: 382). 
Gillon (1962) considerava que não havia uma relação de especifi-
cidade entre o tipo de distúrbio mental e o trabalho efetuado, exceto nos 
casos provocados por intoxicações ou naqueles que ele atribuía a "con-
dições de trabalho particularmente penosas", sem precisar as atividades 
englobadas nessa qualificação. Ainda que ele considerasse como excep-
cional a possibilidade de que as condições de trabalho fossem responsá-
veis por distúrbios mentais, citava pesquisas que demonstravam que 
existiam "elementos desfavoráveis" no trabalho, a saber: 
A duração excessiva do trabalho, um trabalho considerado como 
monótono, muito leve ou muito sedentário, um trabalho exi-
gindo aptidões que não estão ao alcance da inteligência do ope-
rário, um trabalho exigindo um grau de atenção muito alta ou 
não permitindo suficientemente a iniciativa, um ciclo de traba-
lho muito longo (Gillon, 1962: 163). 
No entanto, Gillon marginalizava o papel que podia desempenhar 
a organização do trabalho ou as relações no trabalho e reproduzia a 
abordagem psiquiátrica comum na época, que via no trabalho apenas 
um instrumento neutro e indispensável para a ressocialização e a cura 
de doenças mentais. Ele defendia a idéia de que o trabalho era funda-
mentalmente bom e terapêutico, e que cabia ao trabalhador, na medida 
em que possuísse uma "saúde mental equilibrada", adaptar-se. E possí-
Psicodinâmica do trabalho 
Da Psicopatologia do Trabalho à Psicodinâmica do Trabalho 
O estudo das repercussões da organização do trabalho sobre o 
aparelho psíquico será muito inovado pelo trabalho de Christophe 
Dejours, com a publicação na França de Travail: usure mentale. Essai de 
psychopathologie du travail, em 1980, traduzido no Brasil sob o nome de 
A. Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho, em 1987. 
A utilização do conceito de Psicodinâmica do Trabalho, em 
substituição ao de Psicopatologia do Trabalho, deu-se a partir de um 
privilegia-mento do estudo da normalidade, sobre o da patologia. O 
que impor- 
vel perceber-se na sua interpretação uma influência do próprio pensa-
mento taylorista, cuja visão faz do trabalho um elemento essencial-
mente benéfico, segundo a qual a única forma possível de trabalho é 
aquela que tenha sido legitimada por sua "cientifícidade". Desta forma, 
só restando ao trabalhador a escolha entre a adaptação ou a doença. 
ta para a Psicodinâmica do Trabalho é conseguir compreender como 
os trabalhadores alcançam manter um certo equilíbrio psíquico, 
mesmo estando submetidos a condições de trabalho desestruturan-
tes (Dejours, 1993). Propõe-se a estudar o espaço que separa um 
comportamento livre de um outro estereotipado, referindo-se a pala-
vra livre, aqui, ao modelo comportamental que faz intervir uma ten-
tativa visando a transformar a realidade que o circunda, conforme os 
desejos do sujeito, no sentido do prazer. O objetivo principal do pro-
cedimento de pesquisa seria o de localizar o processo de anulação 
desse comportamento livre (Merlo, 1999: 37). Dejours (1987c: 735) 
define o campo da Psicodinâmica do Trabalho como aquele do sofri-
mento e do conteúdo, da significação e das formas desse sofrimento 
e situa sua investigação no campo do infrapatológico ou do pré-pato-
lógico. Para ele o sofrimento é um espaço clínico intermediário que 
marca a evolução de uma luta entre funcionamento psíquico e meca-
nismo de defesa por um lado e pressões organizacionais desestabili-
zantes por outro lado, com o objetivo de conjurar a descompensação 
e conservar, apesar de tudo, um equilíbrio possível, mesmo se ele 
ocorre ao preço de um sofrimento, com a condição que ele preserve 
o conformismo aparente do comportamento e satisfaça aos critérios 
sociais de normalidade. 
Uma outra característica importante é que a Psicodinâmica do 
Trabalho visa à coletividade de trabalho e não aos indivíduos isolada-
mente. Após diagnosticar o sofrimento psíquico em situações de tra-
balho, ela não busca atos terapêuticos individuais, mas intervenções 
voltadas para a organização do trabalho à qual os indivíduos este-
jam submetidos. Ela tem como uma de suas vertentes fundamentais 
as categorias da Psicanálise. Assim, compreende que frente a uma 
situação de agressão ao Ego, o indivíduo defende-se, primeiramen-
te, pela produção de fantasmas, que lhe permitem construir uma li-
gação entre a realidade difícil de suportar, o desejo e a possibilidade 
de sublimação. Para Dejours (1987c: 739), a situação de trabalho 
taylorizada está bloqueada entre o Ego e a realidade, pois o conteú-
do da tarefa, seu modo operatório e sua cadência são decididos pela 
direção da empresa. Nessas condições, é possível perceber-se que o 
fantasma não serve a nada. 
A Psicodinâmica do Trabalho tem, também, por referência fun-
damental, os conceitos ergonômicos de trabalho prescrito e de trabalho 
real. É no espaço entre esse prescrito e esse real que pode ocorrer ou 
não a sublimação e a construção da identidade no trabalho. Segundo 
Daniellou e colaboradores (1983: 39), existe sempre, no trabalho tay-
lorizado, uma separação entre trabalho prescrito e real, conseqüente 
à separação entre concepção e execução. 
Assim, a principal crítica que a disciplina dirige ao taylorismo é 
que ele impede a conquista da identidade no trabalho, a qual ocorre, 
precisamente, no espaço entre trabalho prescrito e trabalho real. A Orga-
nização Científica do Trabalho não se limitaria apenas à desapropria-
ção do saber; ela proibiria, também, toda a liberdade de organização, 
de reorganização e de adaptação ao trabalho, pois tal adaptação exigi-
ria uma atividade intelectual e cognitiva não esperada pelo taylorismo 
(Dejours, 1993: 38). 
Para Dejours (1987c: 730) outras abordagens diferentes, além da 
Psicodinâmica do Trabalho, são possíveis, entre as quais: 
- a tentativa de se evidenciarem doenças mentais especificamente 
ocasionadas pelo trabalho a partir de uma hipótese patogênica inspi 
rada no modelo toxicológico; 
—uma abordagem de tipo epidemiológica, que vai chocar-se com 
obstáculos importantes, como a seleção de uma amostra significativa, 
pois fica difícil determinarem-se as relações entre o sujeito que sofre 
de um distúrbio psíquico e o trabalho, na medida em que esse traba 
lho já foi perdido, na maior parte das vezes, por motivo de queda de 
performance profissional e de alterações na vida relacional. É neces- 
sário assinalarem-se, também, os problemas oriundos das dificulda- 
des de diagnóstico que encontra o pessoal de saúde (médico do traba- 
lho e mesmo os psiquiatras); 
—a abordagem "agressológica", que privilegia o estudo das conse- 
quências do estresse sobre o organismo humano e que poderia ser as 
semelhada à Psicodinâmica do Trabalho através da identificação en- 
tre estresse e sofrimento psíquico. A principal limitação dessa inter- 
pretação é a sua não-especifícidade com relação ao tipo de trabalho, 
isto é, as reações somáticas são sempre de mesma natureza, não im- 
portando o tipo de pressão no trabalho; 
- a abordagem psicanalítica, que apresenta, no entanto, limita- 
ções, pelo fato de que a Psicanálise privilegia o campo do fantasma 
em relação à realidade e, também, porque ela tem muitas dificuldades 
em articular essa realidade com uma estrutura psíquica concebida, 
quase exclusivamente, a partir de experiências infantis.No entanto, 
esse autor pensa que é possível utilizar-se o conceito de sublimação 
como um instrumento de compreensão de situações de trabalho (De-
jours, 1987c: 731). 
O conceito de sublimação tem sua origem na teoria de Freud so-
bre o desenvolvimento da sexualidade, segundo a qual, após o nasci-
mento, os órgãos sensoriais (pele, olhos, orelhas, etc.) "solicitam sa-
tisfação por sua própria conta", dentro de um mosaico primitivo 
onde apenas intervém o corpo e onde não existe aparelho psíquico 
para controlar essas operações. É o momento da indiferenciação so-
mato-psíquica. Para chegar a uma sexualidade adulta, é necessário 
que a criança passe por um estágio no qual ela unifique esse mosaico. 
Tal unificação faz-se através do olhar do outro e, em primeiro lugar, 
da mãe no momento dos cuidados com o corpo do bebe. Porém, pul-
sões parciais fogem a essa unificação. 
A sublimação é, portanto, o processo graças ao qual essas pulsões 
parciais — cuja satisfação é, originalmente, de natureza sexual — en-
contram uma saída substitutiva em uma atividade socialmente valo-
rizada. A idéia subjacente é a de que essas pulsões do sujeito, que 
deveriam desembocar sobre relações sexuais, são redirigidas ao tra-
balho, supondo-se que ocorra, preliminarmente, uma dessexuali-
zação e, também, uma atividade de substituição socialmente valo-
rizada. No entanto, essa substituição não é simples, pois trata-se de 
manterem-se juntos os aspectos semelhantes e os aspectos diferen-
tes e, dessa forma, fazê-los interagir. Por sua vez, o trabalho repeti-
tivo elimina toda possibilidade de sublimação e leva, por meio da re-
pressão, tanto a doenças somáticas, como a descompensações men-
tais (psiconeuróticas). 
Para que a sublimação possa ocorrer na atividade de trabalho, é 
necessário que certas condições sejam preenchidas: 
a) Condições psíquicas 
Em primeiro lugar, deve intervir uma dessexualização das pulsões 
parciais, como foi descrito anteriormente. Em segundo lugar, é ne-
cessário que se produza uma mudança de objetivo na pulsão, o que 
implica uma competência particular; na verdade, é fundamental que o 
indivíduo possa jogar com sua própria epistemofilia, este termo sen- 
do compreendido como um desejo de entender a realidade — no caso, 
a situação e a atividade de trabalho —, isto é, como a curiosidade ma-
nifestada em relação à situação presente e como a pesquisa do acesso 
à significação dessa realidade. A epistemofilia é uma característica 
muito difundida e ela é o resultado deste redirecionamento de objeti-
vos das pulsões. 
Toda situação de trabalho apresenta algo de enigmático para o su-
jeito, o que o obriga a mobilizar sua curiosidade, a qual será recom-
pensada pela compreensão obtida. Essa compreensão atingirá todo 
seu valor na medida em que ela provocar uma diminuição do sofri-
mento e possibilitar que a sublimação aconteça. 
b) Condições ontogenéticas 
O objeto transicional — que substitui o corpo da mãe — deve vir do 
exterior. Este é um elemento que terá um papel essencial nas relações 
de trabalho. 
Na sua infância (dos cinco anos até a puberdade), o trabalhador 
deve ser beneficiado por um espaço lúdico, onde ele aprenda a renun-
ciar, parcialmente, à atividade sexual e a se interessar por causas com 
um valor social. Essa fase da infância exige companheiros (a professo-
ra, os pais, etc). A relação que os pais têm com o seu trabalho e sua 
própria epistemofilia é, conseqüentemente, fundamental. No caso de 
pais para quem o trabalho não deixa nenhum espaço ao desenvolvi-
mento de sua própria epistemofilia, a curiosidade infantil é sentida 
como uma ameaça, pois ela vai de encontro a uma estratégia defensiva 
que eles tiveram muita dificuldade em estabelecer. Nesse caso, a escola 
não consegue, geralmente, fazer o contraponto frente à atitude dos 
pais, e a criança vai encontrar-se presa entre os dois campos. 
c) Condições organizacionais 
O espaço no qual pode ocorrer a epistemofilia é o mesmo no qual 
se desenvolve o processo de sublimação, o qual não acontecerá se 
esse espaço for muito estreito. A organização do trabalho deverá, 
portanto, responder a certas características para que tal mecanismo 
possa funcionar. Assim, deve-se nela encontrar: 
— um espaço entre organização do trabalho prescrita e organiza-
ção do trabalho real; 
—um espaço que permita assumirem-se responsabilidades, isto é, 
algum tipo de atividade de concepção; 
—uma correspondência entre a situação de trabalho e o estado in 
terno do sujeito. Trata-se de se estabelecer uma relação entre duas ce 
nas, a do teatro psíquico interno — que dá forma à curiosidade — e a do 
teatro do trabalho e de se passar de um teatro a outro. Essa relação — 
a ressonância simbólica — só poderá se operar se existir uma analogia, 
uma semelhança, entre os dois teatros, sendo o do trabalho que irá re 
tomar, de forma controversa, o teatro psíquico interno. As diferenças 
são aqui tão importantes como as coincidências, na medida em que 
são elas que vão permitir estimular-se novamente, a curiosidade do 
sujeito e transformá-lo. 
d) Condições éticas 
A relação que existe entre a organização real e a prescrita do tra-
balho é sempre conflitiva: o sujeito opõe-se, invariavelmente, à se-
gunda. As atitudes inventivas e as tentativas de se realizarem expe-
riências novas no trabalho implicam um sofrimento que se apresenta 
muito custoso no plano psicológico e para a saúde globalmente. 
Como retorno à contribuição dada pelo trabalhador à organização do 
trabalho, ele deve receber uma retribuição que não se resume à simples 
atribuição de um salário ou de um prêmio por produtividade, isto é, 
ela necessita ter, antes de mais nada, um caráter moral, devendo, nor-
malmente, tomar a forma de um reconhecimento. Isso significa que os 
interlocutores do trabalhador devem reconhecer que as atitudes des-
te último contribuíram para a realização do trabalho. Esse reconheci-
mento precisa acompanhar-se de um julgamento de utilidade, o que 
quer dizer que a atividade fornecida pelo empregado deve receber a 
gratidão de seus superiores hierárquicos na empresa, como alguma 
coisa que tenha utilidade do ponto de vista econômico, técnico, etc. 
e) Condições sociais da sublimação 
Para que a sublimação possa produzir-se no trabalho, o trabalha-
dor deverá constituir um conjunto de pares a quem dará a contribui-
ção. A valorização da atividade do trabalhador pelos seus próprios 
colegas reveste-se de muita importância na medida em que não é 
mais a hierarquia que a faz. Dejours (1987) chama de "julgamento de 
beleza", porque ela baseia-se em critérios que são, ao mesmo tempo, 
estéticos e econômicos (no sentido de economia do corpo) quanto à 
realização do trabalho. Porém, esse julgamento, por sua vez, é basea-
do em critérios estritos: para ser-se bom juiz é necessário pertencer 
ao métier e respeitar suas regras. Porém, um outro critério intervém 
nesse julgamento: a elegância e a leveza no trabalho. Na medida em 
que as regras são estritamente respeitadas, elas não mais são vistas. 
O "julgamento de beleza" c, assim, feito pelos pares, isto é, pelo 
coletivo de trabalho, que é a equipe ou a comunidade à qual a pessoa 
pertence, e esse julgamento é necessário para que se construa a iden-
tidade no trabalho. É ele que vai abrir um espaço ao individual, ou 
seja, permitir a cada um fazer parte do coletivo, conservando alguma 
coisa a mais, uma característica particular. 
Outra peculiaridade importante é que o julgamento deve referir-
se ao trabalho e não à pessoa, para permitir a construção da identi-
dade. O reconhecimento que se dirige diretamente à pessoa atinge, 
de fato, o domínio do amor, isto é, o domínio do erótico. A partir do 
momento em que o reconhecimento não passa mais pelo trabalho, a 
relação encontra-se erotizada e não permite mais a construção da 
identidade do trabalhador. 
O "julgamento de beleza" refere-se às regras do métier, construí-
das por subversão e transgressão daquelas prescritas. Trata-se, nesse 
caso, derealizar a "burla" frente às regras. É necessário, no entanto, 
em dado momento, haver um acordo mútuo quanto à maneira de 
transgredi-las: é preciso tornarem-se públicas as "burlas do métier", 
para que se possa merecer o "julgamento de beleza", o reconheci-
mento dos outros. 
Assim, os trabalhadores são levados a criar espaços públicos, que 
são espaços comuns no trabalho, onde eles possam decidir a melhor 
maneira de realizar uma determinada tarefa. Essa atividade deve con-
tar com a participação de todos, para que essas novas normas possam 
resultar de um consenso que as legitime. Porém, não existem apenas 
critérios técnicos que entram na definição desse consenso, pois a rea-
lização da "burla" depende da história pessoal de cada um e do seu 
conhecimento e experiência anteriores. 
Acreditamos que a Psicodinâmica do Trabalho é, também, herdei-
ra da Sociologia do Trabalho, na medida em que se baseia na mesma 
análise minuciosa e sistemática das organizações do trabalho taylori- 
zadas, do desvendamento das relações de poder que aí existem e da 
apropriação do saber operário que ocorre. 
O fracionamento da atividade, tal qual instaurada pelo tayloris-
mo, exige respostas fortemente personalizadas, que direcionam, prio-
ritariamente, aos dois sofrimentos mais importantes provocados 
pelo trabalho, a saber, o medo e a monotonia. 
O medo ressentido no trabalho pode ter várias origens (Dejours, 
1993: 97): 
a) o medo relativo à degradação do funcionamento mental e do 
equilíbrio psicoafetivo, o qual pode originar-se na desestruturação das 
relações entre os colegas de trabalho. Manifesta-se através da discrimina- 
ção, da suspeição ou ainda de relações de violência e de agressividade, 
opondo o trabalhador à sua hierarquia. Existe, também, um medo espe- 
cífico relativo à desorganização do funcionamento mental, devido à au- 
to-repressão exercida de encontro ao aparelho psíquico e pelo esforço 
empregado para se manterem comportamentos condicionados; 
b) o medo relativo à degradação do organismo e ligado, direta- 
mente, às más condições de trabalho. 
Sem negar a importância dos cerceamentos psíquicos ligados ao 
trabalho na geração do sofrimento, Dejours (1993: 64) chama a aten-
ção para o fato de que é, principalmente, a falta de possibilidades para 
se mudarem, ou mesmo aliviarem esses cerceamentos, a origem dos 
problemas de saúde. 
Será através dos mecanismos de defesa empregados pelo traba-
lhador que será possível estudar c desvendar seu sofrimento. Assim, 
Dejours (1987a: 22) estabelece uma separação fundamental entre os 
"coletivos de defesa" produzidos por sublimação e aqueles gerados 
por mecanismos simplesmente adaptativos: 
Se os coletivos de defesa por sublimação mantêm uma relação 
de relativa continuidade com o desejo, os coletivos originados 
em defesas estritamente adaptativas têm uma tendência maior a 
quebrar com a expressão do desejo [...]. Isto ocorre porque a su-
blimação, diferentemente de outras defesas, garante, frente ao 
sofrimento, uma saída pulsional, não destruidora para o funcio-
namento psíquico e somático, enquanto que a repressão é limi-
tante para o jogo pulsional. 
O sofrimento pode, assim, ter dois destinos diferentes: de um lado, a 
sublimação, como no exemplo dado por Dejours (1993: 102) da ativida-
de dos pilotos de caça, para os quais a defesa é a sublimação que permite 
aberturas novas e, de outro, os trabalhadores submetidos à execução de 
tarefas repetitivas, para quem as defesas contra o sofrimento são a re-
pressão pulsional, a auto-aceleração ou a ideologia defensiva de profis-
são que expulsam, de um lado, o sujeito de seu desejo e favorecem a lógi-
ca da alienação na vontade do outro (Dejours, 1987a: 21). 
O sofrimento pode tornar-se o instrumento de uma modificação 
na organização do trabalho ou gerar um processo de alienação e de 
conservadorismo. Este segundo caminho explica-se pelo fato de que, 
após terem-se desenvolvido mecanismos de defesa contra a organi-
zação do trabalho, torna-se penoso tentar uma modificação nessa si-
tuação. Como descreve Dejours (1993: 43), a ideologia defensiva fun-
cional tem por objetivo 
[...] mascarar, conter e ocultar uma ansiedade particularmente 
grave. [...] É ao nível da ideologia defensiva, na medida em que 
se apresenta como um mecanismo de defesa elaborado por um 
grupo social particular, que se deve buscar uma especificidade 
[...]. Uma ideologia defensiva não é dirigida contra uma angústia 
originada de conflitos intrapsíquicos de natureza mental, mas 
ela é destinada a lutar contra um perigo e um risco real [...]. Uma 
ideologia defensiva, para ser operatória, deve obter a participa-
ção de todos os interessados e [...], para ser funcional, deve ser 
dotada de uma certa coerência. 
É a partir do estudo das ideologias defensivas que se irá construir 
a investigação proposta por esta metodologia (Dejours, 1987b: 112). 
Outra contribuição da Psicodinâmica do Trabalho é a sua abor-
dagem da relação com o prazer que pode existir entre o trabalhador e 
seu trabalho. Na realidade concreta e na vivência individual do traba-
lho, não se encontram apenas sofrimento, mutilação e morte. A com-
preensão da maneira como se elaboram as duas facetas da organiza-
ção do trabalho, isto é, aquelas que são, respectivamente, fonte de so-
frimento e de prazer, é indispensável para se tentar uma interpretação 
mais global dos laços entre trabalho e saúde e, também, para se pro-
curarem alternativas satisfatórias. 
Se essa compreensão encontra sua origem na Psicanálise, que é 
voltada para o estudo e o tratamento terapêutico dos indivíduos na sua 
relação com uma história singular, a Psicodinâmica do Trabalho termi-
na por romper, de forma importante, com essa fonte de inspiração, 
ainda que sem abandonar seus conceitos essenciais. Ela constrói uma 
nova abordagem, na qual o trabalho não mais é visto, unicamente, co-
mo uma terapêutica universal para remediar "desequilíbrios mentais", 
vistos como o resultado exclusivo da história singular do trabalhador 
que se manifestariam em um indivíduo imaginário quase insensível aos 
ambientes e à organização do trabalho na qual está inserido. A Psicodi-
nâmica do Trabalho incorpora conceitos sociológicos para caracterizar 
e detalhar a organização taylorista; conceitos ergonômicos para identi-
ficar o espaço existente entre trabalho real e trabalho prescrito; e, en-
fim, conceitos psicanalíticos, tais como os de sublimação, para apreen-
der o indivíduo que entra no universo do trabalho como portador de 
uma história singular que foi construída desde sua infância. 
Méritos e limitações 
O principal mérito da Psicodinâmica do Trabalho é, sem dúvida, 
ter exposto as possibilidades de agressão mental originadas na orga-
nização do trabalho e identificáveis ainda em uma etapa pré-patológi-
ca. Na medida em que não é possível falar-se de distúrbio que possa 
ser associado a uma situação específica de trabalho, o desvendamen-
to do sofrimento psíquico desde o estado pré-patológico permite pro-
gredir-se na identificação das conseqüências da organização tayloris-
ta do trabalho sobre o aparelho psíquico dos indivíduos e pensar-se 
em uma intervenção terapêutica precoce. 
Em várias atividades nas quais não se encontram, praticamente, 
agressões imediatamente observáveis — diferentemente dos acidentes 
de trabalho ou intoxicações —, os instrumentos de investigação em-
pregados pela Psicodinâmica do Trabalho revelam-se preciosos auxi-
liares para se compreenderem as relações trabalho-doença. 
A abordagem adotada por essa disciplina permite ultrapassar-se a 
redução a um denominador comum de diversas situações de trabalho 
e buscarem-se vivências operárias específicas, que se inscrevem em 
realidades concretas de trabalho, como, por exemplo, com relação ao 
papel da inteligência operária e seu papel como mecanismo de defesa 
e construção de identidade no trabalho (Dejours, 1992). 
A metodologia da Psicodinâmica do Trabalho encontrou muita 
ressonância entre os pesquisadorese técnicos brasileiros que atuam 
na área da Saúde do Trabalhador (psicólogos, médicos do trabalho, 
fisioterapeutas, engenheiros de segurança, etc). E isso ocorreu pela 
capacidade dessa disciplina em preencher lacunas epistemológicas 
importantes no conhecimento em saúde c trabalho, que haviam sido 
relegadas a um segundo plano ou simplesmente negadas. 
Acreditamos, no entanto, que é uma metodologia ainda muito jo-
vem e em construção — e isso é dito sem nenhum demérito ao enor-
me esforço que vem sendo feito para construí-la —, que poderá (deve-
rá) sofrer um processo de amadurecimento, que lhe permitirá aportar 
respostas mais completas sobre as relações entre saúde mental e tra-
balho e definir de forma mais nítida suas fronteiras com as outras dis-
ciplinas com as quais ela tem interface. 
Psicopatologia do Trabalho
Os mais recentes estudos no campo da Ergonomia, principalmente aqueles 
desenvolvidos na França, levam-nos ao conhecimento de uma nova abordagem a respeito da 
inadequação entre o homem e o trabalho: a Psicopatologia do Trabalho.
Já delineada e com alguns de seus principais conceitos esboçados no início da década 
de 60, teria como expoente o incansável médico do trabalho, psicanalista e professor francês 
CHRISTOPHE DEJOURS, que através da publicação de diversos trabalhos, inclusive no Brasil, 
alterou profundamente a visão dos responsáveis pela Saúde Ocupacional do mundo, a partir da 
década de 80.
Dejours fundamenta seus estudos em três conceitos básicos:
- no SOFRIMENTO dos trabalhadores, baseado na inadequação observada entre os mesmos e as 
situações vivenciadas no trabalho e, até mesmo, fora dele;
- na ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, ou seja, a maneira como o trabalho é dividido, seja nas 
tarefas em si, seja na hierarquia e todas as formas de exploração usadas pelas empresas;
- nas ESTRATÉGIAS DE DEFESA adotadas pelos trabalhadores, justamente em função de uma 
tentativa em ocultar, omitir a qualquer custo, o sofrimento obrigatoriamente vivenciado.
A Psicopatologia do Trabalho, pois, estuda o sofrimento e as formas de defesa 
adotadas pelos trabalhadores, frente à uma organização de trabalho imposta pelas empresas, bem 
como as conseqüências de tal situação para os trabalhadores, para a própria empresa e para a 
sociedade como um todo.
A ABORDAGEM ERGONÔMICA CLÁSSICA
No início, a Ergonomia procurava estudar e reprojetar produtos e postos de trabalho 
com um enfoque limitado à análise de agentes agressivos presentes no ambiente do próprio posto, ou 
seu ambiente imediato. Assim, o ruído, a poluição atmosférica, com névoas, fumos e poeiras tóxicas, 
as temperaturas extremas e as posturas inadequadas foram diagnosticadas pelos ergonomistas, que 
passariam a tentar isolar os trabalhadores de tais agentes.
Um redimensionamento de cabines, painéis, dispositivos de controle e de informação, 
acessos, saídas, sistemas de iluminação, mobiliários, etc. foi, aos poucos, providenciado. Restava, 
contudo, uma indagação: ao voltar ao posto de trabalho, agora reprojetado com bases ergonômicas, 
o profissional surpreendia-se com a rápida perda de entusiasmo dos trabalhadores que ali trabalham. 
As posturas, os alcances, a visibilidade, os níveis adequados de iluminação, a cadeira nova, um plano 
de trabalho que respeita as dimensões antropométricas dos operários, nada é ainda capaz de produzir 
profundas alterações no comportamento destes.
Verdade que o número de acidentes caiu, as constantes reclamações de dores no corpo 
diminuíram, a produção de peças erradas já não é tão intensa...etc. Mesmo assim, ainda há 
insatisfação. A pergunta é: Por que ?
Passa, então, a Ergonomia, para uma nova fase: a abordagem clássica é considerada 
incompleta e ineficaz. O estudo aprofundado das relações entre o homem e seu trabalho, 
principalmente nas formas como este é organizado, começa a ser levantado.
A Organização do Trabalho, para ser estudada e compreendida, necessita que o aluno 
conheça o Taylorismo.
O TAYLORISMO, OU ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DO TRABALHO
A O.C.T., idealizada por Frederick Winslow Taylor, um engenheiro norte-americano 
(1.856 - 1.915), tinha por objetivo uma análise científica da tarefa, de sorte a eliminar e evitar, a todo 
custo, desperdícios de tempo na execução da mesma, por parte dos operários. Assim, os modos de 
execução, movimentos, arranjos, o tempo de execução, o espaço de trabalho e os modos operatórios 
foram tabulados por Taylor. Este atribuía à baixa produtividade observada em certas linhas de 
montagem como sinal de vadiagem por parte dos trabalhadores. Os acidentes do trabalho, de sua vez, 
eram atribuídos à negligência dos mesmos.
Apesar do nome “Organização Científica do Trabalho”, os estudos desenvolvidos por 
Taylor e seus atuais seguidores não devem ser considerados científicos, pois os estudos concentraram 
sua atenção apenas sobre as atividades motoras dos operários, desconsiderando as atividades de 
percepção e aquelas mentais. O critério adotado visa, por conseguinte, ao aumento da 
produtividade negligenciando a saúde dos trabalhadores, como mais adiante se comprovará.
A divisão das tarefas passa a ser tamanha, que cada operário, individualmente, perde a 
visão do “todo” produzido, sendo submetido à uma total alienação do meio e daquilo que produz. 
Percebe-se, também, que cada um “dá conta de si”, fragmentando-se de forma camuflada a união que 
deveria expressar-se num trabalho de equipe. Se o operário “C”, por exemplo, produz menos que os 
outros colegas de uma seção, imediatamente passa a ser menosprezado pelos demais, sendo 
advertido e pressionado, pois “ganha-se mais conforme mais se produz”.
Fragmentando atividades em sub-tarefas aparentemente simples e de curta duração, 
Taylor e seus seguidores criaram o trabalho repetitivo, seja este desenvolvido numa linha de 
montagem de peças, seja nas atividades burocrátias de bancos, seguradoras, CPD’s e de atendimento 
a público, como em supermercados e grandes lojas de departamento, como até hoje se observa.
Situação totalmente distinta se observava nos trabalhos desenvolvidos no século XIX 
por um artesão, nos quais tinha-se a clara noção de começo, meio e fim, com liberdade e autonomia 
para se efetuar pausas, descanso, refeições, atendimento às necessidades fisiológicas, segundo o 
sentimento que partia do próprio organismo do trabalhador.
As atividades, antes enriquecedoras, que permitiam a mudança, segundo a tomada de 
decisões por iniciativa do indivíduo, passam para um estado robotizado. Este, destituído de 
raciocínio, despossuído de seu aparelho mental, com tempos controlados e cronometrados, produção 
comparada aos demais colegas, segundo a implantação do Taylorismo, despersonaliza-se. O antigo 
artesão, pois, desaparece.
Taylor conseguiria, ainda, tornar mais penosa tal organização do trabalho: o 
treinamento insano ao qual foram submetidos os trabalhadores, com verdadeira lavagem cerebral e 
adestramento, de forma a tornar a atividade em um “continuum”, habitual e monótono, é a última 
peça do quebra-cabeças que acaba por bloquear qualquer iniciativa por parte dos operários das 
indústrias. Taylor chegou a compará-los a chimpanzés, “treinados e obedientes, dóceis e isolados”.
Contudo, estava errado. O que parece correto do ponto de vista da produtividade é 
falso do ponto de vista da saúde do corpo. É o próprio operário que sabe o que é compatível com 
a sua saúde. Mesmo que seu método próprio de trabalho não seja o mais eficaz em termos de 
produtividade e rendimento geral, o operário consegue encontrar o melhor rendimento de que é 
capaz, respeitando seu equilíbrio fisiológico e mental.
COMPORTAMENTO DOS TRABALHADORES FRENTE À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO:
Classes Sociais mais pobres:
Totalmente desestruturadas, as classes sociais que vivem em meio à miséria são as 
mais

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