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ÉTICA E PROFISSIONALISMO EM 
PSICOLOGIA
CAPÍTULO 3 - ÉTICA NA CIÊNCIA
Saulo Santos Menezes de Almeida
- -2
Introdução
Você já pensou no que a ciência foi capaz de produzir durante a história da humanidade? Situações como o
Holocausto ocorrido durante os anos do Nazismo, podem evidenciar as diversas mazelas que a ciência pode ser
usada como subsídio para práticas opressoras e marginalizantes, causando até a morte de milhares de pessoas.
Basta procurar na internet e você verá milhares de notícias sobre o uso da ciência durante o holocausto. Numa
simples pesquisa, digitando “Ciência e Holocausto”, aparecerão milhões de respostas.
Se olhamos ao nosso redor, em tudo há ciência: do computador em que digito este texto até o eletrodoméstico
que utilizo para fazer o café que me ajuda a pensar, tudo tem a mão da ciência. Vamos então pensar neste café
que agora eu bebo. Podemos até imaginar que o café é um produto da natureza, porém, para que chegue até a
sua xícara em casa é necessário um misto de procedimentos tecnológicos e científicos. Máquinas, fertilizantes,
agrotóxicos e equipamentos de testagem da qualidade. Tudo isto possui a mão da ciência. Mas, quem faz a
ciência? Para quem se faz ciência? Para que se faz ciência? São estas as perguntas que precisamos fazer ao
pensarmos a ética na Ciência. Para que tudo isto aconteça a presença do ser humano é a chave-mestra do
desenvolvimento da ciência. Tanto o cientista, quantos os trabalhadores na produção e colheita, quanto o
consumidor, tudo passa a ser alvo dos processos científicos.
Portanto, preocupar-se com quem são esses seres humanos é conduta ética importante para que a dignidade
destes possa ser preservada. No final, o que mais importa é o respeito a pessoa humana. Sem condições dignas
de trabalho, ou sem a qualidade necessária do produto consumido, não há respeito. Nesta unidade veremos
como se pensa a ética na ciência nos dias atuais, destacando a ciência psicológica e suas necessidades frente ao
seu objeto de estudo.
1.1 Ética na ciência atual
Você já ouviu falar do Holocausto? Acredito que sim. Um dos eventos mais trágicos da história da humanidade
nos surpreende até hoje com suas mazelas. No entanto, você sabia que a ciência teve um grande
desenvolvimento neste período? Experimentos humanos foram realizados sustentados na ideia de uma
superioridade racial. Testes de medicamentos, capacidade, anatomia e fisiologia humana foram feitos, causando
grandes sofrimentos nas cobaias (como eram chamadas as pessoas passivas aos experimentos). Dentre estes
experimentos podemos destacar os que realizavam hipotermia, hipóxia e desidratação. 
Figura 1 - Crematório do forno de concentração.
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Figura 1 - Crematório do forno de concentração.
Fonte: Ihor Serdyukov, Shutterstock, 2020.
Esta realidade foi responsável pelo surgimento de discussões sobre a dignidade humana. Admitir que
determinados indivíduos são superiores e inferiores é o mesmo que demarcar que há diferenças essenciais entre
os seres humanos, o que não é um fato. Diferenças de personalidade e comportamento dos indivíduos, apesar da
possibilidade de explicações por determinantes genéticos e hereditários, não podem ser isoladas de seus
contextos culturais e históricos. Neste sentido, não há nada que possa comprovar uma superioridade racial,
genética, sexual ou de qualquer constituição humana. Todos os seres humanos são iguais em dignidade. Este é o
parâmetro básico para se pensar a ética nos dias atuais.
As pessoas dão sentido às informações complexas, simplificando-as. Como avarentos cognitivos, julgamos e
avaliamos de maneira quase sempre automática a partir dos conceitos e categorias já pré-estabalecidos em
nosso processo de socialização (PEREIRA, 2016). O que você pensa quando observa a imagem abaixo?
Figura 2 - Destruindo estereótipos de gênero.
Fonte: Yakobchuk Viacheslav, Shutterstock, 2020.
Somos construídos socialmente para pensar que determinadas profissões são orientadas para pessoas em
função de uma suposta predisposição natural, porém, não há nada, a não ser ideológico, que invista em papéis
sociais configurados para alguns grupos. Ser homem ou ser mulher não configura um lugar profissional pré-
estabelecido naturalmente. Os estereótipos são aprendidos durante toda a nossa vida, arraigam-se e
estabelecem-se em nossas memórias, sendo ativados automaticamente na presença de membro do grupo-alvo​. 
Eles influenciam nossos julgamentos, atitudes e comportamento.
A ética, então, coloca-se a pensar sobre os direitos políticos e sociais de grupos sociais. Vale a pena lembrar que,
segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 1, (2009, p. 4): “Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns
aos outros com espírito de fraternidade.”
Ainda assim, alguns temas têm sido de profícua discussão científica, pois envolvem justamente as noções do que
é vida, nascimento e autonomia dos sujeitos envolvidos. Quando refletimos acerca do nascimento, o que você
pensa quando a discussão é inseminação artificial ou fecundação in vitro? Leia o Art. 15 do Código de Ética da
Medicina (2019, p. 22) sobre isso:
Art. 15. Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de tecidos,
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Art. 15. Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de tecidos,
esterilização, fecundação artificial, abortamento, manipulação ou terapia genética.
§ 1º No caso de procriação medicamente assistida, a fertilização não deve conduzir sistematicamente
à ocorrência de embriões supranumerários.
§ 2º O médico não deve realizar a procriação medicamente assistida com nenhum dos seguintes
objetivos:
I - criar seres humanos geneticamente modificados;
II - criar embriões para investigação;
III - criar embriões com finalidades de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos ou
quimeras.
Nota-se, então, que os procedimentos de fertilização não devem ocorrer se as pessoas envolvidas não estiverem
de inteiro acordo e devidamente esclarecidas, nem usar para criação de seres humanos geneticamente
modificados ou escolha de sexo, evitando a eugenia. A eugenia separa cientificamente populações ou grupos
sociais, através da ideia de superioridade racial. Para manter a autonomia e o respeito aos envolvidos, o
psicólogo, neste caso, conforme aponta Carvalho . (2006) em seu “Guia sobre saúde mental em reproduçãoet al
humana”, deve atender ao casal, com o objetivo de avaliar o estado emocional e observar alguns aspectos. Clique
nos itens a seguir e conheça-os.
identificando distúrbios emocionais latentes;
facilitando o vínculo com a equipe;
auxiliando a passagem da concepção natural para a artificial;
analisando possíveis distúrbios sexuais;
verificando as fantasias em relação ao filho;
identificando o conhecimento das possibilidades de sucesso e insucesso;
facilitando a elaboração dos sentimentos, inclusive de perdas;
e apoiá-los, durante e após a gestação,
além de oferecer um acompanhamento da adoção, caso precisem.
Outro tema polêmico é o aborto. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) é a favor da descriminalização e
legalização do aborto no Brasil, sustentando-se em estatísticas da Organização Mundial de Saúde (1995), que
estima 31% dos casos de gravidez terminam em abortamento; além de dados do Ministério da Saúde que
apontam uma taxa de 3,7 abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos; o Conselho Federal de Psicologia defende
os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Para este mesmo Conselho, a lei atual impede as mulheres de
terem direito a sua cidadania e aos seus direitos humanos sexuais e reprodutivos. Ampara-se ainda, no Código de
Ética Profissional do Psicólogo (2005) que em seus Princípios Fundamentais, afirma que:
O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da
VOCÊ QUER LER?
Aproveite a discussão sobre eugenia e leia o artigo da professora Christiane Gioppo, professora
do Departamento de Métodos e Técnicasda Educação da Universidade Federal do Paraná.
Nele, é discutido a eugenia, destacando sua relação com a educação. É só clicar aqui <
>.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100015
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100015
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O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da
igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal
dos Direitos Humanos. (CFP, 2005, p.7)
E no seu Art. 2º salienta que ao psicólogo é vedado:
Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade ou opressão.
Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a
qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais. (CFP, 2005, p.8)
Outros temas também atravessam a discussão ética atualmente, tais como: a relação da sociedade com drogas,
especialmente a maconha; os direitos civis da população LGBTQI+.
Nota-se que o mais importante é a promoção da saúde, tanto física quanto mental, respeitando a dignidade e
liberdade humana. Pensar em ética é ir além das questões morais e identificar se a integridade biopsicossocial
está sendo colocada em evidência. Apesar de serem temas polêmicos e possuírem diversas posições morais,
ideológicas e religiosas divergentes, vale pensar sempre na constituição social e política de um povo, respeitando
suas tradições, mas acima de tudo, a pessoa humana em toda sua complexidade.
1.2 Psicologia e complexidade
Para começar a pensar acerca da ética na Psicologia, é importante que visitemos um pouco da história da
Psicologia Científica e suas principais escolas. Sua diversidade de orientações epistemológicas e metodológicas
influencia as condutas dos profissionais. Pensar a ética na Psicologia, é adentrar nas ideias de subjetividade, que
ora se sustentam numa visão mais quantitativa e experimentalista, ora mais naturalista ou fenomenológica.
Figura 3 - Representação da Ciência da Mente.
Fonte: RedlineVector, Shutterstock, 2020.
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Fonte: RedlineVector, Shutterstock, 2020.
A depender do objeto de estudo, o cientista e/ou psicólogo penetra os espaços dos seres humanos a partir das
peculiaridades de cada um dos métodos apropriados. Sendo a Psicologia uma disciplina do conhecimento
científico, busca-se desenvolver um conjunto de ferramentas e procedimentos, tanto quantitativos quanto
qualitativos, para avaliar as características psicológicas humanas. Clique nas setas para ler mais sobre a pesquisa
qualitativa.
Na pesquisa qualitativa, que lida com fenômenos, a coleta de dados acontece a partir do uso de interações sociais
e sua análise a partir da hermenêutica do pesquisador. A pesquisa quantitativa, que lida com fatos, usa da
mensuração de variáveis pré-determinadas, buscando verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis. A
ética, neste caso, deve ser vislumbrada no respeito a autonomia do sujeito e na autoridade das próprias
interpretações dos significados dados ao mundo pelos sujeitos envolvidos.
Em suma, necessita-se de uma busca de informações respeitando a subjetividade como acontece em seu espaço
natural, ou uma tentativa de objetivar esta subjetividade. Além disso, independentemente de a pesquisa ser de
campo, realizada em ambiente natural, sem controle por parte do pesquisador; de laboratório, realizada em
ambiente controlado; ou, ainda, documental com coleta de dados exclusivamente em documentos, por meio de
revisão bibliográfica ou teórica; preza-se pela dignidade da pessoa humana.
Mas o que é subjetividade, e como ela pode ser construída? De modo geral, pode ser compreendida como uma
realidade construída na inter-relação psíquica, emocional e cognitiva, de modo individual e coletivo. Desta
forma, fica nítida a complexidade da Psicologia, que, tendo a subjetividade como fundo de discussões, possui
uma infinidade de possibilidades de objetos de estudo, ainda que seja o ser humano, o ponto central.
Quando a Psicologia científica nasceu, com Wilhelm Wundt (1832-1920), no primeiro laboratório de Psicologia
na Alemanha, em Leipzig, 1879, ela tinha como objeto de estudo a experiência consciente (experiência imediata).
Neste momento, a Psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo é a experiência imediata da
consciência (JACÓ-VILELA; FERREIRA; PORTUGAL, 2006).
Com Edward Titchener, discípulo de Wundt, o objeto da Psicologia passa a ser o estudo da experiência
dependente de um sujeito e não mais a experiência imediata. Ele usa a introspecção com observadores treinados.
Ele tenta explicar a mente em termos de sistema nervoso (paralelismo psicofísico), desse modo, a ciência
acontece por meio do controle e análise, com ênfase na experimentação e recusa da especulação (JACÓ-VILELA;
FERREIRA; PORTUGAL, 2006).
Os experimentos tonam-se, a partir destes pesquisadores e do uso dos laboratórios, os principais métodos para o
desenvolvimento da ciência psicológica. Entretanto, sabemos que não havia uma preocupação com a ética nas
pesquisas como nos dias atuais. Como afirma Nosella (2008, p. 265): “qualquer problema decorrente do
progresso científico, ético, era então considerado um estorvo, um resíduo do arcaísmo medieval, um atraso ”.
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Figura 4 - Representação de Brainstorming – Funcionalismo.
Fonte: Viktoria Kurpas, Shutterstock, 2020.
O Funcionalismo, primeiro sistema de Psicologia genuinamente americano, tendo William James como principal
representante, estuda o que fazem os homens e porquê o fazem. Nesta escola, a Psicologia é uma ciência natural,
biológica, interessada em estudar os processos, operações e atos psíquicos (mentais) como forma de interação
adaptativa. O funcionalismo partia da biologia - Darwinismo - e considerava que os processos psíquicos visavam
à adaptação.
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Figura 5 - Retrato de Charles Darwin.
Fonte: Nicku, Shutterstock, 2020.
Para isto, não excluía a auto-observação, mas reprovava a introspecção experimental de Titchener. Tendo a
filosofia pragmatista, a validade do conhecimento acontece em função de suas consequências, valores ou
utilidade: um motivo poderia ser convertido num estímulo comum depois de ter se resolvido como motivo. Ao
falar da ética darwiniana sabe-se que ela explica a natureza da moralidade através da seleção natural; por meio
desta, a prática moral existe, pois, conferiu vantagens evolutivas (JACÓ-VILELA; FERREIRA; PORTUGAL, 2006).
No Behaviorismo, escola que nasce com o comportamento observável como objeto de estudo, Watson propôs
estudar o comportamento por si mesmo, aderir ao evolucionismo biológico e adotar o determinismo
materialista. Seus métodos de estudo com procedimentos objetivos na coleta de dados, rejeitando a introspecção
e priorizando a experimentação, sustentam-se em uma ética prescrita na sociedade através das regras -
comportamentos verbais modelados - e pelo próprio comportamento do indivíduo - resultado das contingências.
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Figura 6 - Condicionamento de um animal em treinamento seguindo modelo behaviorista.
Fonte: Double Brain, Shutterstock, 2020.
Já Burrhus Skinner, com o Behaviorismo Radical, destaca o estudo do comportamento por meio de análise
experimental do comportamento. Relacionando estímulos antecedentes e comportamentos consequentes, ele
analisa a relação entre o corpo físico e o meio ambiente. Ele não rejeita a experiência imediata do sujeito, mas
busca entender a sua gênese e a sua natureza. Ao contrário de Watson, não duvida que os homens sintam sem
expressar sentimentos, mas defende que se deve investigar como se desenvolvem e que o mundo privado de
cada um é uma construção social (JACÓ-VILELA; FERREIRA; PORTUGAL, 2006).
Uma outra vertente da Psicologia, a Gestalt - Psicologia da Forma, têm como fundadores Max Wertheimer,
Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. A Gestalt acreditava que as experiências trazem consigo uma característica de
totalidade ou de estrutura. Com amáxima de que o todo é maior que a mera soma das partes, entende-se que a
percepção é influenciada pela natureza do estímulo sensorial, pelo contexto em que se insere, pelas experiências
anteriores do sujeito e pelos sentimentos presentes no momento em que se dá o fato (JACÓ-VILELA; FERREIRA;
PORTUGAL, 2006).
A Gestalt-terapia, que não é produto direto da Gestalt, mas a possui em suas bases epistemológicas, supõe uma
ética da compreensão e acolhimento do outro em sua diferença essencial, uma ética do encontro, dialógica. A
conscientização é o ponto central da abordagem terapêutica de Fritz Perls. O processo de crescimento se dá pela
expansão das áreas de autoconsciência. De acordo com ela, o fator mais importante que inibe o crescimento
(JACÓ-VILELA; FERREIRA; PORTUGAL, 2006).psicológico é a fuga da conscientização
Para a Psicanálise - uma das mais conhecidas abordagens psicológicas - o inconsciente é o responsável pelo
comportamento humano. A partir de seu fundador, Sigmund Freud, o indivíduo passa a ser entendido a partir
dos conteúdos do inconsciente, acessados através do método clínico e interpretação dos discursos: a Associação
Livre como método – o sujeito fala livremente. 
VOCÊ QUER VER?
O filme “Ponto de Mutação” (1983), discute questões éticas na ciência e no mundo,
questionando o conhecimento e as invenções utilizadas para a destruição do mundo.
Baseado no livro do físico Fritjof Capra, com o mesmo nome. Vale a pena assistir!
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Figura 7 - Caricatura retrato de Sigmund Freud.
Fonte: Ignat Zaytsev, Shutterstock, 2020.
A partir dele, pode-se ainda falar de outros psicanalistas, como: Erik Erikson e os estágios do eu, muito utilizados
na clínica: confiança/desconfiança, autonomia/vergonha, iniciativa/culpa, construtividade/inferioridade,
identidade/confusão de papéis, intimidade/isolamento, generatividade/estagnação, integridade do eu
/desespero; John Bowlby, com a sua teoria do apego, buscando entender como as crianças se relacionam com as
suas figuras de referência. De modo peculiar, destaca-se a figura de Lacan, sua importância dada a palavra e ao
e sua significante, crítica aos psicanalistas pós-freudianos, principalmente quanto a dimensão ética, pois, para ele
(JACÓ-VILELA;uma suposta obtenção de um ‘bem’ para o sujeito seria uma forma camuflada de dominação
FERREIRA; PORTUGAL, 2006).
A Psicologia Humanista nasceu na década de 1930 nos EUA e teve seus primeiros trabalhos publicados a partir
dos anos 1940, numa busca pela valorização do ser humano como ser autônomo. Questiona o behaviorismo e a
psicanálise, pois a primeira seria uma abordagem superficial e estéril da natureza humana, enquanto a segunda
tem uma tendência determinista e minimiza a importância da consciência. Tem como principais nomes Abraham
Maslow e Carl Rogers (JACÓ-VILELA; FERREIRA; PORTUGAL, 2006).
Clique nas setas a seguir para ler sobre a pirâmide de Maslow.
A pirâmide de Maslow, descrita a seguir, sinaliza uma ética de valorização da potencialidade humana em busca
da sua autorrealização: na base da pirâmide estão as necessidades básicas de sobrevivência, tais como comida,
bebida e sexo; tendo estas necessidades satisfeitas, o ser humano pode se preocupar com sua segurança, tais
como uma habitação e recursos para soluções quanto ao seu direito de ir e vir.
Na terceira parte da pirâmide, temos as necessidades de amor e segurança. Nas necessidades de estima,
encontramos a valorização de si por si mesmo e também pelos outros. O reconhecimento de si, por si e pelo
outro é essencial para que se alcance a autorrealização. Com as outras necessidades bem estabelecidas, a
autorrealização acontece ao se aproveitar o seu potencial, fazendo aquilo que se pode ser, o que gosta e se é
capaz.
Carl Rogers (1961), fortalece a ideia de potencialidade humana, produzindo uma ética da compreensão e
aceitação incondicional. A relação entre duas pessoas, para ser verdadeiramente efetiva, deve ter uma
Através deste compreensão empática, em um clima que propicie um crescimento pessoal. decurso, a pessoa
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Através deste compreensão empática, em um clima que propicie um crescimento pessoal. decurso, a pessoa
entra em um processo de autorrevelação e autoconfrontação. Com a compreensão empática desenvolve-se
confiança, estabelece-se um ambiente para exploração mais profunda de si. Esta ideia coaduna com o Passos
(2007), ao afirmar que a relação ética deve ser de sujeito para sujeito, um outro portador de sentimentos e
Por fim, apesar de não citarmos todo o elenco de visões e escolas da Psicologia, destaca-se a Psicologiaemoções. 
Cognitiva. Com o avanço das tecnologias e inteligência artificial, iniciam-se grande estudos do objeto “Cognição”.
Figura 8 - Robôs na aprendizagem.
Fonte: Phonlamai Photo, Shutterstock, 2020.
Através de experimentos controlados de laboratório, pesquisas psicobiológicas, autorrelatos, estudos de casos,
observação naturalista e até simulações computadorizadas; a cognição passa a ser um objeto central nas
discussões psicológicas.
O que se nota, no geral, é que a ciência psicológica, em seus mais diversos campos de estudos e pesquisas, possui
uma compreensão multifacetada do ser humano, dificultando um espaço de dispersão sem perspectiva de
unificação, mas, de possíveis entendimentos quando se atenta para os posicionamentos éticos.
VOCÊ SABIA?
Você certamente já ouviu falar em . Nos últimos meses, esta palavra está presenteFake News
nos noticiários e nas conversas informais. O que estamos vendo é que a influência da
inteligência artificial é muito ampla, ela está envolvida até mesmo na política. Sendo assim, o
impacto é cada vez maior sobre a atividade humana. Para pensar sobre o impacto da
inteligência artificial nas nossas vidas assista ao vídeo “Convergência. A quarta revolução
industrial”, neste link: .https://youtu.be/Us6OfvdpKeo
https://youtu.be/Us6OfvdpKeo
- -12
1.3 Bioética
A palavra Bioética vem da junção do termo (vida) + (conduta), ou seja, literalmente significa “Ética daBios ethos
vida”. A Bioética surge, portanto, no contexto científico, permitindo que se reflita sobre a qualidade e dignidade
da vida, priorizando a diversidade humana e o respeito a todas as diferenças. Para Comte-Sponville (1997, p.61):
a bioética, como se diz hoje, não é uma parte da biologia; é uma parte da ética, se se quiser, o que
equivale a dizer (já que a ética não é um saber) uma parte de nossa responsabilidade simplesmente
humana: deveres do homem para com outro homem, e de todos para com a humanidade.
Numa tentativa de humanizar o progresso científico e a sua visão técnico-instrumental, como disciplina na
história da ciência, a bioética surge em 1970 com a obra “ ”, de Van RensselaerBioethics: bridge tothe Future
Potter. No primeiro momento, houve uma reflexão aplicada às ciências da vida, porém, posteriormente, pensou-
se na disciplina como campo de discussão, através dos princípios da bioética, que são:
Figura 9 - Princípios da Bioética.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2020.
A principal resolução que discute estes princípios, orientando e regulamentando a ética nas pesquisas científicas
é a do Conselho Nacional de Saúde nº 196, de 10 de outubro de 1996. Nela, constam as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
A presente Resolução fundamenta-se nos principais documentos internacionais que emanaram
declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres humanos: o Código de Nuremberg
(1947), a Declaração dos Direitos do Homem (1948), a Declaração de Helsinque (1964 e suas
versões posteriores de 1975, 1983 e 1989), o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
(ONU, 1966, aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro em 1992), as Propostas de Diretrizes
Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e
1993) e as Diretrizes Internacionais para Revisão Ética de Estudos Epidemiológicos (CIOMS, 1991).
Cumpre as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação
brasileira correlata:Código de Direitos do Consumidor, Código Civil e Código Penal, Estatuto da
Criança e do Adolescente, Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 19/09/90 (dispõe sobre as condições de
atenção à saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes), Lei 8.142, de 28
/12/90 (participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde), Decreto 99.438, de 07
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/12/90 (participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde), Decreto 99.438, de 07
/08/90 (organização e atribuições do Conselho Nacional de Saúde), Decreto 98.830, de 15/01/90
(coleta por estrangeiros de dados e materiais científicos no Brasil), Lei 8.489, de 18/11/92, e
Decreto 879, de 22/07/93 (dispõem sobre retirada de tecidos, órgãos e outras partes do corpo
humano com fins humanitários e científicos), Lei 8.501, de 30/11/92 (utilização de cadáver), Lei
8.974, de 05/01/95 (uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de
organismos geneticamente modificados), Lei 9.279, de 14/05/96 (regula direitos e obrigações
relativos à propriedade industrial), e outras. (CNS n. 196/96, p.1)
Um ponto a ser destacado é o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Este documento é uma
garantia de que os princípios da bioética serão resguardados e serão apresentados para os participantes da
pesquisa. Nele, devem constar os procedimentos a serem realizados, os riscos e benefícios possíveis, as formas
de acompanhamento e/ou assistência, as garantias de esclarecimentos, a liberdade de se retirar em qualquer
fase, e a privacidade quanto aos dados confidenciais. Com isto, a resolução 196, de 10 de outubro de 1996,
integra os princípios bioéticos da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Abaixo, apresenta-se um
modelo simples de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com informações fictícias, de acordo com o
preconizado pelos comitês de ética em Pesquisa, segundo a Resolução CNS nº 196/96.
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1.4 Ética na comunicação em mídias, divulgação de 
serviços psicológicos e atendimento psicológico por meios 
tecnológicos de comunicação à distância
Nesta preocupação ética, o Código de Ética do Psicólogo (CFP, 2005), no seu Art. 20, sinaliza que ao promover
publicamente seus serviços, o psicólogo deve informar o seu nome completo, o Conselho Regional de Psicologia e
seu número de registro. Além disso, deve apenas usar títulos ou qualificações profissionais que possua. Outro
ponto é que só divulgará qualificações e atividades reconhecidas ou regulamentadas pela profissão, nem
utilizará o preço do serviço como forma de propaganda.
Porém, além dos atendimentos presenciais, há o atendimento por meios tecnológicos, à distância. A primeira
resolução sobre este tipo de atendimento foi a nº 003/2000, de 25 de setembro de 2000. Nela, regulamenta-se o
atendimento psicoterapêutico mediado por computador. A última foi publicada em 2018, a Resolução nº 11, de
11 de maio. Desde a primeira, o Conselho Federal de Psicologia considera que é imprescindível o respeito ao
Código de Ética Profissional do Psicólogo e respeito à resolução CNS nº 196/96.
Para responder à questão acima é necessário o conhecimento da Resolução CFP n 11/2018. Por meio desta,o 
confirma-se que estão autorizadas a prestação dos serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos da
informação e comunicação, desde que sejam
I. Consultas e/ou atendimentos psicológicos de maneira síncrona ou assíncrona;
 II. Processos de Seleção de Pessoal;
 III. Utilização de instrumentos psicológicos devidamente regulamentados;
 IV. Supervisão técnica dos serviços prestados. (CFP n. 11/18, p. 1-2)
Com exceção ao atendimento de pessoas e grupos em situação de violação de direitos ou de violência. Imagine o
seguinte caso: Pedro é pai de Luísa de 10 anos. Em sua avaliação presencial, você verifica a possibilidade de
agressões físicas e psicológicas para com a filha. Além disso, pelos instrumentos terapêuticos utilizados para
avaliação psicológica da criança, há uma possibilidade de abuso sexual. Pedro solicita que os atendimentos
passem a ser via meios tecnológicos de comunicação. O que fazer?
Sabendo que:
CASO
1- Lucas é um jovem de 28 anos. Encontra-se no ensino superior, bom aluno, e recentemente
terminou seu namoro com Laura. Ele mora em uma cidade que não possui serviço de
psicologia, e o mesmo decidiu procurar terapia por conta de seus sentimentos de tristeza e de
confusão frente ao término do namoro. Ele tem condições de pagar uma psicoterapia
particular, mas o psicólogo mais perto, está há mais de 100 km de sua cidade. No entanto, ele
soube que havia um psicólogo atendendo via internet. Sabendo deste caso, você:
a) Acredita que ele possa ser atendido?
b) Há possibilidade de um acompanhamento a distância?
c) É permitido atendimento online?
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passem a ser via meios tecnológicos de comunicação. O que fazer?
Sabendo que:
é vedado o atendimento de pessoas e grupos em situação de violação de direitos ou de violência,
pelos meios de tecnologia e informação previstos nesta Resolução, devendo a prestação desse
serviço ser executado por profissionais e equipes de forma presencial. (CFP n. 11/2018, p 2.)
Clique nas abas e veja o que o profissional deve fazer.
não aceitar o atendimento a distância;
acionar o Conselho Tutelar, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e os demais
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente;
buscar apoio junto ao Conselho Regional de Psicologia e outros profissionais que já passaram por isso, buscando
o menor prejuízo e conduzindo a decisão nos limites éticos do sigilo e confidencialidade.
Utilize do objeto abaixo para aprender mais sobre ética em pesquisa e atendimento.
Conclusão
Nesta unidade discutimos como relacionar o código de ética com a prática profissional do psicólogo, a partir de 
especificidades e possíveis dilemas éticos na pesquisa em Psicologia, numa postura crítica acerca da
complexidade da área. os principais preceitos da Bioética, estimulando a reflexão crítica. Para isso, apresentamos 
a resolução CNS nº 466/12, e os cuidados éticos do atendimento online em Psicologia.Além disso, analisamos 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender a ética na ciência atual;
• explicitar as questões éticas associadas a Psicologia e sua complexidade de objetos;
• entender os princípios da Bioética;
• identificar pontos éticos importantes para o atendimento psicológico;
• verificar as possibilidades de atendimento por meios tecnológicos de comunicação à distância e suas 
questões éticas.
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	Introdução
	1.1 Ética na ciência atual
	1.2 Psicologia e complexidade
	1.3 Bioética
	1.4 Ética na comunicação em mídias, divulgação de serviços psicológicos e atendimento psicológico por meios tecnológicos de comunicação à distância
	Conclusão

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