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GABARITO DA AD2 – 2021-1- LITERATURA BRASILEIRA III Questão 1 (2,5) Julia O’Donnel trata sobre a reforma urbana do Rio de Janeiro conhecida como “Bota- abaixo”, promovida pelo prefeito Pereira Passos. O objetivo dessas reformas era transformar a então capital numa Paris dos trópicos, e apagar definitivamente a herança escravocrata da cidade, especialmente banindo negros, mulatos e mestiços de cortiços, morros e do entorno do Centro, para regiões mais distantes, como os subúrbios. O intuito das reformas, portanto, mudou o panorama cotidiano da cidade e alterou sua forma de socialidade. No texto de João do Rio, observamos como a elite carioca abraça a ideia de transformação do Rio em Paris ou em outra cidade estrangeira – “as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que tinha luminosidades polidas de faiança persa”. Assim, as pessoas de maior poder aquisitivo celebravam o embelezamento da cidade, sem atentar para os menos favorecidos que eram removidos de suas casas. Os mais ricos, portanto, absorvem os costumes do exterior e vivendo no espaço da cidade como se estivessem em uma capital europeia, entregando-se à diversão e aos costumes e jogos de outros lugares do mundo, como o baccarat, o foot-ball e o lawn-tênis. Também se observa a mudança da mão de obra negra para a mão de obra europeia: “Os criados, vindos todos de Buenos-Aires e de S. Paulo, criados italianos marca registrada como a melhor em Londres, no Cairo, em New-York, empertigavam-se”. Todo o ambiente é criado para se parecer com outro lugar a ponto de tudo tornar-se artificial e os cariocas tornarem-se tais como bonecos. João do Rio, portanto, mostra a artificialidade e a alienação que se implantavam no espaço urbano da cidade, nos espaços mais prestigiados, que visava apenas ao embelezamento, não favorecendo um ambiente de sociabilidade entre as classes, mas de exclusão dos desfavorecidos e de encastelamento dos mais ricos. João do Rio consegue captar essas contradições no seio da sociedade carioca. Questão 2 (2,5) O Carnaval, que é um evento importado das tradições italianas, torna-se um festejo típico da cidade do Rio de Janeiro. Enquanto no cotidiano da cidade há uma brusca separação geográfica e social – uma vez que o Rio se divide em palacetes e ricas e vastas ruas por onde a elite carioca passeia e, de outro lado, em cortiços e casas pobres espalhadas nos recantos menos prestigiados da cidade, no Carnaval há uma ocorrência em que pobres e ricos compartilham os mesmos espaços, como observamos no conto de João do Rio, “O bebê da tarlatana rosa”. Quem narra a história encontra-se entre pessoas influentes: “Heitor de Alencar parou, com o cigarro entre os dedos, apagado. Maria de Flor mostrava uma contração de horror na face e o doce Anatólio parecia mal. O próprio narrador tinha a camarinhar-lhe a fronte gotas de suor. Houve um silêncio agoniento. Afinal o barão Belfort ergueu-se, tocou a campainha para que o criado trouxesse refrigerantes” – Esse ambiente que não denuncia nenhum traço local, reveste-se de um universalidade, que contrasta com a cena rude e, para aquelas pessoas, repugnante, da cena do Carnaval de rua, onde se pode perceber o desprezo pelas pessoas mais simples que aparecem ao redor: “era desolação com pretas beiçudas e desdentadas esparrimando belbutinas fedorentas pelo estrado da banda militar, todo o pessoal de azeiteiros das ruelas lôbregas e essas estranhas figuras de larvas diabólicas, de íncubos em frascos de álcool, que têm as perdidas de certas ruas, moças, mas com os traços como amassados e todas pálidas, pálidas feitas de pasta de mata-borrão e de papel-arroz.”. Todo o ambiente é traçado de uma forma pejorativa. Mesmo o encontro amoroso entre o narrador da aventura e do bebê, que aparenta ser uma união, embora momentânea, resulta em repúdio e embate, provando ser mesmo impossível uma conciliação maior entre as duas partes da cidade, divididas por questões sociais profundas, pela miséria que assoma aos olhos da elite como uma face de assombro e terror (diante da mulher deformada e sem nariz), que parece ser a metáfora de um outro Rio que a elite carioca não deseja desmascarar e ver de perto. Questão 3 (2,5) O autor usa a ironia para mostrar o quanto nada foi mudado na sociedade brasileira mesmo após a Abolição. Os escravizados continuavam na casa de seus senhores, com ou sem salário, e recebendo os mesmos castigos corporais como vemos na crônica. Os que aparentam dar “liberdade” aos seus escravos, querem mostrar que apoiam a libertação dos negros, mas fazem isso apenas com intenção puramente política, para a imprensa e para os amigos, enquanto continuam com a mesma atitude pré- abolicionista. Os aspectos que apontam para a manutenção da escravidão: 1- A subserviência e a hierarquia senhor x servo permanecem: “Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés.”; 2- A permanência dos escravizados na casa dos ex-senhores, desempenhando as mesmas funções de sempre: “— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida, e tens mais um ordenado, um ordenado que...” /— Oh! Meu senhô! Fico. 3- A continuidade dos castigos corporais e das ofensas morais executadas pelo antigo (e ainda presente) senhor: “daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas todas que ele recebe humildemente e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.” Questão 4 (2,5) A escolha do aluno aqui é individual. É importante que: a) O aluno tenha retirado o poema da antologia indicada e não da Internet; b) Que o aluno perceba tanto em Álvares quanto em Casimiro os temas ligados à melancolia, à morte e à desilusão amorosa: temas que são caros ao Romantismo negro, ou Ultrarromantismo. ´ c) É importante que o aluno comente os trechos dos poemas de Casimiro presentes na Marmota e os compare com o poema que escolheu de Álvares. d) Os trechos dos poemas devem estar presentes na questão, articulando-se com a ideia principal que é a melancolia, a proximidade da morte - dada a epidemia de tuberculose e de outras doenças que assolavam o Brasil e o Mundo nesse período -, tornando-se a morte companheira dos poetas e tema muito presente em seus escritos. e) Sem dúvida, Byron e Goethe foram dois autores importantes e que influenciaram essa geração. Basta que o aluno cite um deles e contextualize.
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