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Especial inclusiva Educação Ed u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a E d u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a Transtornos Invasivos de Desenvolvimento e Transtornos do Comportamento: Estratégias Educacionais para o Trabalho de Inclusão Cynthia Garcia Oliveira C yn th ia G ar ci a O liv ei ra Tr an st or no s I nv as iv os Transtornos Invasivos de Desenvolvimento e Transtornos do Comportamento: Estratégias Educacionais para o Trabalho de Inclusão C Y NTHIA GARCIA OLIVEIRA 1a Edição / Abril / 2012 Impressão em São Paulo - SP Transtornos Invasivos de Desenvol- vimento e Transtornos do Comporta- mento: Estratégias Educacionais para o Trabalho de Inclusão Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Cynthia Garcia Oliveira Projeto Gráfico e Diagramação Anne Cardoso Mango Revisão Ortográfica Célia Ferreira Pinto Coordenadora Pedagógica de Cursos EaD Esp. Maria de Lourdes Araújo 1ª Edição: Agosto de 2011 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. O48t Oliveira, Cynthia Garcia. Transtornos invasivos de desenvolvimento e Transtornos do comportamento : estratégias educacionais Para o trabalho de inclusão . / Cynthia Garcia Oliveira. – São Paulo : Know How, 2012. 000 p. : 21 cm. Inclui bibliografia 1. Transtornos de comportamento. 2.Desenvolvimento educacional. 3. Trabalho de inclusão. I. Título. CDD – 371.94 Apresentação Caros alunos, esse livro tem por objetivo estu- dar o que são os transtornos de desenvolvimento e do comportamento, abordando suas necessidades educa- cionais especiais, oferecendo possibilidades de identifi- cação desses transtornos, contribuindo com a realiza- ção dosencaminhamentos e atendimentos necessários para o desenvolvimento e aprendizagem das pessoas que apresentam esses quadros, dando enfoque as pos- sibilidades de inclusão e intervenções pedagógicas, que contribuam com o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, que apresentem tais transtornos. Por uma questão de organização metodoló- gica, o módulo será dividido em unidades. Na unida- de 1 - O que são transtornos de desenvolvimento e do comportamento, na qual serão estudados os con- ceitos de cada transtorno. Na unidade 2 - Aspectos da Legislação, quando serão apresentados os respal- dos legais, no que diz respeito ao atendimento espe- cializado aos alunos, que apresentam transtornos de desenvolvimento e do comportamento. Na unidade 3 – Como Identificar os transtornos de desenvolvi- mento e do comportamento, onde serão aprofunda- das as principais características das pessoas com tais transtornos. Já, a unidade 4 – Os Transtornos e as Necessidades Educacionais Especiais - autismo, hi- peratividade, síndromes diversas, altas habilidades/ superdotação, aprofundar-se-á sobre as implica- ções dos transtornos no processo de desenvolvi- mento e aprendizagem e as necessidades educa- cionais especiais para cada tipo de transtorno. A unidade 5 – Desmistificando as características dos Transtornos de desenvolvimento e do comporta- mento, serão apresentados alguns mitos e ideias errôneas sobre os transtornos de desenvolvimen- to e do comportamento. E para encerrar o módu- lo, a unidade 6 - Inclusão no ensino regular e na sociedade, quando discutiremos as possibilidades e limites da inclusão das pessoas com transtornos de desenvolvimento e do comportamento. CRONOGRAMA DE ESTUDOS PLANO DE ESTUDOS UNIDADE 1 O Que São Transtornos de Desen- volvimento e do Comportamento? UNIDADE 2 Amparo Legal para o Atendimento Especializado aos Alunos que Apre- sentem Transtornos de Desenvolvi- mento e do Comportamento UNIDADE 3 Características dos Transtornos de De- senvolvimento e do Comportamento SUMÁRIO 9 9 12 42 58 UNIDADE 4 Os Transtornos e as Necessidades Educacionais Especiais UNIDADE 5 Desmistificando as Características E Possibilidades de Desenvolvimento e Aprendizagem de Estudantes com Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento UNIDADE 6 Desafios da Inclusão no Ensino Re- gular e na Sociedade 80 98 116 Cronograma de Estudos Acompanhem, no cronograma abaixo, os conteúdos das unidades, e atualizem as possíveis da- tas de realização de aprendizagem e avaliações. Semana Carga ho- rária Unidades D a t a / Avaliação 7 1 _/_ a _/_ 3 2 _/_ a _/_ 7 3 _/_ a _/_ 7 4 _/_ a _/_ 3 5 _/_ a _/_ 3 6 _/_ a _/_ Plano de Estudos Ementa Transtornos invasivos de desenvolvimento e transtornos do comportamento: estratégias edu- cacionais para o trabalho de inclusão; abordagens, características e métodos para o trabalho da inclusão 10 do portador de Transtornos invasivos de desenvol- vimento e transtornos do comportamento. Compre- ensão histórica, cultural e fisiológica dos transtornos de desenvolvimento e comportamento. Autismo, hi- peratividade, síndromes diversas, altas habilidades/ superdotação e os desafios da inclusão educacional e social dos portadores desses transtornos. Competências • Compreender o que são os transtornos de de- senvolvimento e do comportamento. • Conhecer o amparo legal que garante o aten- dimento especializado para atender as pessoas com transtornos invasivos de desenvolvimento e do comportamento. • Saber identificar as principais características dos transtornos de desenvolvimento e do compor- tamento. • Desenvolver habilidades e competências que possibilitem realizar intervenções pedagógicas e psicológicas, que possam corroborar com o de- senvolvimento e aprendizagem das pessoas com transtornos de desenvolvimento e do compor- tamento. • Compreender as possibilidades e limites da in- clusão de pessoas com transtornos de desenvol- vimento e comportamento no ensino regular, no contexto da sociedade capitalista. Habilidades • Compreender o que são transtornos de desen- volvimento e do comportamento. • Saber identificar as principais características dos transtornos de desenvolvimento e do comportamento. • Desenvolver habilidades e competências necessá- rias para realizar as devidas intervenções pedagó- gicas necessárias para o desenvolvimento e apren- dizagem das pessoas que apresentam transtornos de desenvolvimento e do comportamento. • Ser capaz de exigir que a legislação que garante o atendimento especializado aos sujeitos que apre- sentem transtornos de desenvolvimento e do comportamento seja cumprida, possibilitando a realização da inclusão dessas pessoas no ensino regular e na sociedade. Carga Horária: 30 horas UNI DA DE 1 O Que São Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento? 14 Essa unidade buscará esclarecer o que são esses transtornos. Para o alcance dos objetivos da unidade, os transtornos de desenvolvimento e do comportamento serão definidos e conceituados. 1.1. O Que São Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento? Os estudos sobre transtornos de desenvol- vimento e do comportamento tiveram um avanço com as pesquisas na área da psicopatologia desen- volvimental. Segundo Bee (2003): o papel do psi- copatologista desenvolvimental é conhecer os pro- cessos básicos de desenvolvimento e a partir dessa referência realizar estudos com intuito de verificar as possíveis causas de desenvolvimentos desviantes. “Em primeiro lugar, tanto o desenvolvimento nor- mal como o anormal decorrem dos mesmos processos básicos. Para compreender cada um, precisamos co- nhecer ambos e saber como eles interagem […]. Em segundo lugar, a abordagem é desenvolvimental. Os teóricos deste novo subcampo estão interessados noscaminhos que levam tanto ao desenvolvimento des- viante como ao normal, desde o início do período de bebê, ao longo da infância e da vida adulta.” (BEE, 2003, p. 477 e 478) Nessa perspectiva, o desenvolvimento bio- lógico e cognitivo é compreendido de maneira ho- lística, levando em conta o contexto social, cultural, econômico, e a interação desses fatores com a psi- que de cada pessoa, que se referem a aspectos da 16 subjetividade humana. A unidade 1 busca responder ao questiona- mento: O que são transtornos de desenvolvimento e do comportamento? E para responder será apresen- tada a definição segundo a Organização Mundial de Saúde e pesquisadores, que desenvolveram estudos e pesquisas sobre essa temática. 1.1.2. Transtornos de desenvolvimento e do comportamento Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) os desvios de comportamento estão liga- dos a transtornos de ordem mental, social, emo- cional, como também se desenvolvem por outros fatores subjetivos, relacionados a aspectos da in- dividualidade. Quando um aluno começa a apre- sentar comportamentos inadequados, o primeiro passo é investigar as causas, pois essa investigação possibilita encontrar as respostas para o tratamen- to e atendimento especializado. A OMS (Organização Mundial de Saúde), através de uma comissão internacional de médicos, psiquiatras, pesquisadores da área, define os trans- tornos de desenvolvimento e do comportamento através do CID 10 (Classificação Estatística Inter- nacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde). Esta Classificação foi aprovada pela Conferência Internacional para a 10.ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças, convocada pela Organização Mundial de Saúde, realizada em Genebra no ano de 1989. A CID-10 entrou em vi- gor apenas a 1 de Janeiro de 1993, após a necessária preparação de material de orientação e formação. “São universais as variações entre as pessoas, porém a sociedade determina quais os desvios serão conside- rados como deficiências ou dotes, prejuízo ou amplia- ção do valor pessoal. Os dotes e incapacitações são ditados tanto pelas tarefas que a cultura exige ou espera de seus membros e pelo significado que atribui aos desvios das normas, quanto pelos fatos objetivos da excepcionalidade.” TELFORD (1977, p. 26). Nesse sentido, é relevante destacar que não há um padrão definido de características comporta- mentais que identifiquem os transtornos, pois cada pessoa é única e apresenta singularidades no seu processo de desenvolvimento. Nesse sentido, expli- ca Vygotsky (2004, p. 379): “O conceito de norma está entre aquelas concepções científicas mais difíceis e indefinidas. Na realidade não existe nenhuma norma, mas se verifica uma in- finidade de diferentes variações, desvios da norma, e frequentemente é muito difícil dizer onde o desvio ultrapassa aqueles limites, além dos quais já começa o campo do normal. Tais limites não existem em 18 lugar nenhum e, neste sentido, a norma é um conceito abstrato e de certa grandeza media dos casos mais particulares e, na prática não é encontrada na forma pura, mas sempre em certa mistura de formas anor- mais. Por isso, não existe quaisquer fronteiras pre- cisas entre o comportamento normal e o anormal.” O homem é um ser ativo que além da heran- ça genética e hereditária, é provido de funções psico- lógicas superiores, às quais possibilitam sua capaci- dade de agir, transformar, criar e recriar. Rey (2004) explica que quando buscamos compreender quem é esse sujeito: o que ele sente, pensa, gosta, não gosta, seus desejos e sonhos. Através desse entendimento a intervenção pedagógica consegue resultados signi- ficativos no processo de ensino e aprendizagem. “O homem responde a sistemas de significação que têm um valor apenas dentro dos marcos da cultura que atua. Essa característica integra as emoções den- tro de espaços simbólicos e conduz ao que temos de- finido de sentido subjetivo, […] o fato de as emoções responderem a um registro simbólico e se articularem na produção simbólica não significa que se afastem de outros complexos sistemas do organismo aos quais são sensíveis. Pelo contrário, o que acontece é que a capacidade emocional humana alcança formas de complexidade maiores em qualquer outra espécie animal, pois integra a condição biológica dentro de um corpus cultural que modifica definitivamente a representação sobre o funcionamento da psique e do corpo.” (REY, 2004, p. 4) Compreendendo o sujeito como possuidor de subjetividade, que se desenvolve de maneira úni- ca, com sentidos subjetivos únicos, porém a partir da interação com fatores: biológicos, culturais, sociais e emocionais, nessa perspectiva não há possibilidade de definir padrões de comportamento, já que cada sujeito desenvolverá seu próprio comportamento em conformidade com seu histórico de vida e a par- tir de sentidos subjetivos singulares. Nessa perspec- tiva epistemológica, que serão estudados os transtor- nos de desenvolvimento e do comportamento. A OMS (Organização Mundial de Saúde) através do CID 10 classifica os transtornos de de- senvolvimento, considerando aspectos de defici- ência mental, os quais estão mais relacionados às causas orgânicas, como também os transtornos de ordem social e emocional relacionados às condutas do comportamento, assim são classificados e defi- nidos alguns desses transtornos, segundo a classifi- cação Internacional de doenças (CID 10): F80-F89 – Transtornos de desenvolvimento psicológico, F 80 - Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem, F81 – Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares, F82 – Transtorno específico do desenvolvimento motor, 20 F83 – Transtornos específicos misto do desenvol- vimento, F 84 – Transtornos globais do desenvol- vimento, F90 – Transtornos hipercinéticos, F 91 – Distúrbios de conduta. A seguir, serão definidos os transtornos mais comuns encontrados no contexto escolar, com intui- to de corroborar com a identificação e o atendimen- to especializado, os quais possibilitarão a inclusão e o desenvolvimento dos estudantes que apresentam tais transtornos. 1.2. Autismo O autismo é considerado um transtorno de desenvolvimento, suas primeiras definições foram realizadas pelo pesquisador Kanner (1943), o qual definiu o autismo como um transtorno comporta- mental de causa emocional. Já, os estudos mais re- centes compreendem os aspectos cognitivos, bioló- gicos e emocionais do autismo, que podem referir-se tanto a causas orgânicas como emocionais. Nesse sentido, explica Tavares Filho (2007, p. 35): […] “o Transtorno Autista carece de maiores expli- cações médicas para seu aparecimento. Alguns autores tentaram estabelecer uma relação da frieza emocional das mães e dos pais com o desenvolvimento autista. O próprio Kanner julgava que a atitude e comportamento dos pais pudessem influir no aparecimento da síndrome. Ele havia observado em seus 11 pacientes iniciais que ele e seus pais eram intelectualizados e emocionalmente frios, na grande maioria dos casos. Tem sido evidente que, embora seja muito importante no desenvolvimento do transtorno a dinâmica emocional familiar, esse elemento não é su- ficiente em si mesmo para justificar o seu aparecimento. Portanto, o autismo não parece ser em sua essência, um transtorno adquirido e, atualmente, o autismo tem sido definido como uma síndrome comportamental resultante de um quadro orgânico.” Com os estudos, principalmente na área da Neurologia, comprova-se que o autismo tem causa orgânica, e é uma disfunção genética que impossi- bilita um desenvolvimento normal no convívio com o outro e com o meio. E é essa disfunção orgâ- nica que ocasiona em uma disfunção na adaptação do sujeito ao meio, levando o mesmo a apresentar padrões de comportamentos inadequados, tendo di- ficuldades de relacionar-se com seus pares, ficando a maior parte do tempo no seu mundo interno, de sentido subjetivo único.“Desde sua definição por Kanner, em 1943, o autis- mo apresentou-se como um mundo distante, estranho e cheio de enigmas. Os enigmas referem-se, por um lado, ao próprio conceito de autismo e às causas, às 22 explicações e às soluções para esse trágico desvio do desenvolvimento humano normal.” (RIVIÈRE, 2004, p. 234). Razão pela qual o autismo representa um grande desafio, tanto para os pesquisadores como para os educadores, que se sentem impotentes com esse aluno. Segundo Assumpção Jr. FB (2009, p. 446) estima-se cerca de “[…] 2 a 5 indivíduos por 10.000, com a possibilidade de aumentar para 10 a 20 por 10.000, caso utilizem-se critérios mais amplos.” De crianças com autismo, segundo o autor: “O Autismo é hoje considerado uma síndrome com- portamental, com etiologias múltiplas […], carac- terizado por um déficit social, apreensível pela ina- bilidade em relacionar-se com o outro, geralmente combinado com déficits de linguagem e distúrbios motores.” (ASSUMPÇÃO JR., 2009, p. 446). O transtorno é observado por volta dos 36 meses de idade, ou seja, no período que o desen- volvimento das interações com o outro começa. Os pais observam que seu (a) filho (a) apresenta um comportamento diferente do normal, os estudiosos da área recomendam que nesse período de desenvol- vimento, os pais devem ficar alerta, já que o diagnós- tico quanto mais cedo for feito, maiores as possibili- dades de intervenções satisfatórias, possibilitando a realização de intervenções educacionais de sucesso com esses estudantes. O fato de o autista ter dificuldades de co- municar-se com o outro, perceber o afeto e mudar de rotina, quando isso acontece fica agressivo, isola- -se, e esse tipo de comportamento que mais dificul- ta uma intervenção satisfatória. O diagnóstico deve ser realizado com a colaboração de profissionais de diversas áreas: Neurologistas, Psiquiatras, Pediatras, Pedagogos, Psicólogos e os próprios pais. […] “ocorreram nos últimos anos mudanças importantes nas explicações do autismo: tanto do aspecto psicológico como do neurobiológico substituíram-se os modelos relati- vamente inespecíficos dos anos 1960 e 1970 por teorias rigorosas e muito fundamentadas em dados. Por exemplo, em 1985, Baron-Cohen, Leslie e Frith, três pesquisado- res do Medical Research Council de Londres, descobri- ram uma incapacidade específica dos autistas para “atri- buir mente” e formular um modelo que foi muito fértil, segundo o qual autismo consistiria em um transtorno específico de uma capacidade humana muito importante a que se denomina “teoria da mente”. E no plano neuro- biológico, os estudos de genética, pesquisa neuroquímica, exploração citológica, neuroimagem, eletrofisiologia, etc. Permitiram descobrir alterações que nos aproximam cada vez mais da descoberta das possíveis causas do autismo.” (RIVIÉRE, 2004, p. 237). 24 Com o desenvolvimento da ciência, tec- nologia e pesquisa, novos conceitos e explicações buscam melhor compreender, esclarecer e explicar o que é o autismo e como lidar com uma pessoa que apresenta esse transtorno, facilitando o pro- cesso de intervenção e possibilitando sua inclusão no meio em que vive, e o desenvolvimento de suas potencialidades. Nas unidades 3 e 4, serão aprofun- dadas as características e necessidades educacionais especiais do autismo. 1.3. Hiperatividade Segundo a OMS (Organização Mundial de saúde) a hiperatividade é um F90 Transtornos hiper- cinéticos: F90.0 – distúrbios da atividade e da aten- ção. O fato de a criança ser hiperativa não significa que ela tem um déficit de atenção, são transtornos diferentes que podem ou não estarem associados. A pessoa hiperativa possui uma energia inesgotável, porém esse alto grau de energia a torna mais agitada e inquieta, sempre em movimento. “É importante deixar claro que nem toda criança agitada deve ser rotulada de hiperativa. A agitação pode ser sintoma de doenças graves, como o autis- mo, hipertireoidismo, depressão infantil, assim como pode ser resultado de problemas de comportamento.” (SANTOS e AMARAL, p. 79) As causas possíveis de origem biológica são alterações metabólicas e hormonais, tais como: in- toxicação por chumbo, complicações no parto, abu- so de substâncias durante a gestação, dentre outras. Podem ter causas emocionais, como por exemplo, crises familiares: luto, separação dos pais e outras mudanças podem ser traumáticas e levarem a um quadro de hiperatividade reativa. Além da investigação das possíveis causas do desenvolvimento de um comportamento hiperativo, é necessário contar com ajuda de um especialista em comportamento infantil, bem como ter a sensibili- dade de conhecer essas causas e seu impacto na vida da pessoa, ou seja, como as causas têm-se configu- rado em sua vida. Esse ponto é o mais complexo e relevante na compreensão do comportamento, pois possibilita realizar intervenções condizentes com as necessidades do sujeito. Vale ressaltar que os pais devem ficar aten- tos, pois é comum ocorrerem confusões entre hipe- rativo e superdotado, por isso deve ser bem observa- do esse comportamento ativo da criança, verificando se ela está apresentando um comportamento ativo, por uma disfunção orgânica que o impede de ficar parada, ou simplesmente porque tem muita energia e precisa de fato gastar, ou mesmo porque apresenta um desenvolvimento acima da média de sua idade e, por isso, é tão ativa. 26 1.4. Transtorno de Déficit de Atenção O transtorno de déficit de atenção é um transtorno do comportamento causado por fatores: biológicos, genéticos e emocionais, causando geral- mente dispersão da atenção, que pode vir a gerar di- ficuldades de aprendizagem. Segundo Tavares Filho (2007, p. 40): “De qualquer forma estes supostos genes parecem ser res- ponsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma sus- ceptibilidade ao TDAH e o seu desenvolvimento parece depender da interação destes genes com diversos outros fatores. Tem-se visto que a nicotina e o álcool quando in- geridos na gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê. Pesquisas indicam que mães alcoólatras têm mais chances de terem filhos com proble- mas de hiperatividade e desatenção.” O déficit de atenção tem por característica principal a dificuldade de centrar a atenção, a pessoa pode estar sentada, parada, quieta, mas sua atenção está dispersa, como se estivesse com o pensamento em outro lugar. O que diferencia da hiperatividade, muito confundida como sendo o mesmo transtor- no. A pessoa hiperativa não consegue ficar parada, nem por isso deixa de prestar atenção, no entanto, à pessoa com déficit de atenção consegue ficar parada, mão não consegue prestar atenção por muito tempo no que está sendo explicado. O que explica que o déficit de atenção pode causar dificuldades de aprendizagem, pois se a pes- soa com esse transtorno não consegue centrar sua atenção por muito tempo em algo, e se a mesma tem pouca capacidade de memorização terá sim dificul- dades de aprendizagem. Tavares Filho (2007, 39) co- menta que: “Associado com os problemas de atenção, há outros de ordem percentual que dificultam ainda mais o ren- dimento escolar. Geralmente, a criança com TDAH possuem letras mal formadas e com letras trocadas ou faltando, além de ter outras formas de problemas em quase todas as suas ações. A combinação da hi- peratividade com dificuldade de prender a atenção e os problemas de aprendizado visual-perceptual e auditivo causa o fracasso da criança na escola. Es- tas dificuldades de aprendizado são experimentadas pela criança com dificuldade de contenção de impul- sos e pouca tolerância para a frustração. As crianças com TDAH são impulsivas em tudo o que fazem.” A dificuldade de centrar a atenção pode de- senvolver comportamentos impulsivos, e até mesmo agressivos, já que se sentem diferentes dos demais e isso as incomoda, o que pode ser amenizado com o atendimento educacional especializado, que realize 28 de fato a inclusãodesse estudante. No que se refere ao desenvolvimento e aprendizagem, vale ressaltar ser provável que a pes- soa que apresenta déficit de atenção tenha dificulda- des de aprendizagem. Se for uma criança com desen- volvimento cognitivo normal, terá que se esforçar para suprir sua dificuldade em prestar atenção. Mas, se for uma criança precoce, com uma boa capaci- dade de memorização, pouco afetará seu desenvol- vimento e aprendizagem, apenas afetará mais o seu padrão comportamental no meio em que se insere. Nesse sentido, comenta Copetti (2009, p. 42): “Uma criança pode apresentar déficit de atenção e ter um ótimo desempenho escolar. Entretanto, este não é o quadro mais comum. Na prática, embora dificuldades importantes no aprendizado possam ocorrer, o desempenho sempre estará abaixo do que se poderia esperar pela capacidade real da criança. E isto ocorre pelas características dos sintomas que analisamos anteriormente.” Em todo caso é preciso estar atendo aos comportamentos que os estudantes estão apresen- tando e identificar de perto, verificando se há a ne- cessidade de uma atenção especial ou mesmo de um atendimento especializado, que possa garantir o de- senvolvimento e aprendizagem dos estudantes. 1.5. Síndromes Diversas 1.5.1. Síndrome de Asperger A Síndrome de Asperger é caracterizada por um comportamento estereotipado e repetitivo de distúrbios motores, afetando principalmente o relacionamento interpessoal e a comunicação, mesmo que a fala seja relativamente normal. O CID-10 classifica a Síndrome de Asperger (SA) no grupo dos Transtornos Invasivos, ou Globais, do Desenvolvimento – F84. A incidência desses transtornos pode ser identificada na infância, tendo como característica principal o comprometimento no desenvolvimento da maturação do sistema nervoso central. Segundo Rivière (2004, p. 238): “Um problema ainda sem solução na literatura sobre o autismo (ver Frith, 1991) é o de se a “psicopatia autista” de que falava Hans Asperger deve ou não ser diferenciada do quadro clássico do autismo de Kanner. Para alguns pesquisadores, as pessoas com síndrome de Asperger são pessoas autistas com nível intelectu- al e linguístico elevado, mas não existe uma diferença qualitativa em relação aos mais atrasados ou graves. Para outros, a síndrome de Asperger deve ser distin- guidas qualitativamente do transtorno do autista.” 30 A pessoa com Síndrome Asperger (SA) ge- ralmente apresenta um vocabulário extraordinário, ou mesmo uma capacidade cognitiva para áreas res- tritas de interesse pessoal e subjetivo acima da mé- dia, contudo apresentam dificuldades em suas rela- ções interpessoais e intrapessoais. Essa dificuldade de estabelecer relações faz com que essas pessoas isolem-se do convívio coletivo, desenvolvendo pa- drões de comportamentos diferentes do comum. 1.5.1.1. O Transtorno de Rett e os Transtornos de Desenvolvimento O Transtorno de Rett, assim como o Au- tismo e a Síndrome de Asperger, caracteriza-se por um comprometimento cognitivo, tendo como consequência atraso mental no desenvolvimento intelectual e motor. No início do desenvolvimento motor, a criança com Rett poderá apresentar atraso no desenvolvimento da capacidade de andar, comportamentos estereotipados e repetitivos, como lavar e retorcer as mãos repetidas vezes. Além desses transtornos citados aqui, alguns teóricos destacam os Transtornos de Desenvolvi- mento sem outra especificação (TGD), que se refe- rem segundo Rivière (2004, p. 241): “Aqueles em que falta clareza suficiente para decidir-se por um dos quadros a que nos referimos até aqui ou os sintomas do autismo apresentam-se de forma incompleta. Nessa categoria (que deve ser evitada por ser uma colcha de retalhos) inclui-se o conceito de autismo atípico.” 1.5.2. Condutas Típicas Condutas típicas referem-se a comportamen- tos considerados fora do padrão da normalidade, ocorridos por fatores biológicos, sociais ou emocio- nais. A literatura apresenta diferentes definições e ti- pos de classificação relacionados a condutas típicas. A identificação das condutas típicas deve levar em conta sua continuidade e frequência dos comportamentos. A Organização Mundial da Saúde define condutas típicas como as manifestações comporta- mentais que dificultam o convívio social, podendo mesmo inviabilizar a adaptação escolar, gerando dificuldades de aprendizagens e de relacionamento com professores e seus pares, e necessitam de aten- dimento educacional especializado. De acordo com o Diagnostic and Statistical Manual for Mental Disorders (DSM IV, 1994), os Distúrbios de Conduta referem-se a padrões per- sistentes e repetitivos de comportamento humano que violam os direitos comuns de convívio entre as pessoas. O processo de identificação das condutas típicas deve observar a frequência e continuidade dos comportamentos, considerando as influências do meio em que se apresentam. 32 1.6. Altas Habilidades/Superdotação O estudante com altas habilidades / su- perdotação possui particularidades e necessidades educacionais especiais. Conheça as características e necessidades desta clientela e faça a sua parte favo- recendo o desenvolvimento destes estudantes. A superdotação caracteriza-se pela elevada potencialidade de aptidões, talentos e habilidades, evidenciadas pelo alto desempenho nas diversas áre- as da atividade humana. Contudo, é preciso que haja constância de tais aptidões ao longo do tempo, além de expressivo nível de desempenho. A literatura constata a existência de muitos indivíduos com capacidade superior incompreendi- dos, discriminados e até excluídos da escola por im- posição dela ou por rejeição da comunidade escolar, e às vezes até mesmo da família. Razão pela qual se constata a necessidade de um atendimento especiala esses estudantes, o que possibilitará o desenvolvi- mento saudável e enriquecedor de suas habilidades. A aptidão é o potencial que a pessoa apresenta para a realização de uma determinada atividade. Podemos dizer que o indivíduo possui um conjunto de carac- terísticas que lhe proporciona maior facilidade para a realização de determinadas tarefas. O estudante com altas habilidades pode apresentar diferentes aptidões: ◊ Aptidão acadêmica específica – é característi- ca de pessoas que dispõem de grande quantidade de informações em uma área do conhecimento. ◊ Aptidão da área de artes dramáticas – é a ca- pacidade de comunicar e despertar sentimentos através do gesto, do olhar, da expressão facial e/ ou corporal e, de imitar tipos humanos. ◊ Aptidão mental ou agilidade mental – carac- teriza-se pela facilidade de memorização mental, olfativa, gustativa, visual, auditiva ou tátil, por exemplo, o repentista. ◊ Aptidão em artes plásticas e em criatividade – caracteriza-se pela imaginação criadora, julga- mento estético, facilidade perceptiva e facilidade óptica espacial. ◊ Aptidão psicomotora – envolve aspectos psi- cofísicos, desenvolvimento psicomotor, agilida- de de movimento, desempenhos marcantes de ritmo de corrida, velocidade e força. ◊ Aptidão musical – para compor, para cantar ou interpretar a letra, com relação aos músicos que compõem e cantam muito bem, possuem um ta- lento especial para música. ◊ Aptidão para desenho – é a capacidade de identificar características de originalidade, elabo- rar e criar imagens. ◊ Aptidão na área literária – composição de versos, prosas, manipulação com grande interesse de pala- vras e textos, elaboração com eficiência e rapidez. O pesquisador Gardner (1994) desenvolveu seus estudos sobre os diferentes tipos de inteligên- 34 cias que uma pessoa pode desenvolver, através dos re- cursos da tecnologia. Estudou o cérebro humano e a localização biológica das inteligências, desenvolvendo assim um novo conceito de Inteligências Múltiplas. O autor desenvolve sete principais tipos de inteligência: ◊ Inteligência Linguística – boa expressão oral e escrita; ◊ Inteligência Lógico-matemática– raciocínio lógico-dedutivo, capacidade de solucionar pro- blemas envolvendo números e elementos mate- máticos; ◊ Inteligência Musical – pensar em termos mu- sicais, reconhecer temas melódicos, produzir música; ◊ Inteligência Espacial – visualizar no espaço tridimensional a construção de modelos que au- xiliam na orientação espacial ou na transforma- ção de um espaço; ◊ Inteligência Corporal Cinestésica – é o sentido pelo qual percebemos nosso corpo: movimentos musculares, peso e posição dos membros; ◊ Inteligência Interpessoal – habilidade de com- preender as outras pessoas e tem facilidade para o relacionamento com o outro; ◊ Inteligência Intrapessoal – é a competência de uma pessoa para autoconhecer-se e estar bem consigo mesma, administrando seus sentimentos e emoções a favor de seus projetos. Segundo Gardner dos sete principais tipos de inteligência que o homem vai desenvolvendo no decorrer de sua vida, e cada tarefa ou função que desempenha envolve uma combinação de inteligên- cias. Recentemente, o autor apresentou mais uma in- teligência, a naturalista, que está relacionada com a preocupação com o meio ambiente. Nessa perspectiva, aqui apresentada, consi- dera que o indivíduo superdotado é aquele que pos- sui um potencial elevado de aptidões, talentos, e habilidades para determinadas atividades, com rela- ção à média de indivíduos da mesma faixa etária, do mesmo meio cultural, social e econômico. 1.6.1. Savants Os savants ou idiot savants, segundo a litera- tura, são pessoas que apresentam um potencial ex- traordinário em alguma área apesar de terem com- prometimentos no seu desenvolvimento intelectual. Segundo Reily (2001, p. 26): “[…] idiot savant é o nome dado ao quadro apresentado por pessoas com habilidade extraordinária em uma área específica, apesar de desempenho geral bastante limitado […].” Optou-se pelo uso apenas da definição sa- vants, pois o termo idiot adquire um sentido pe- jorativo. A característica principal dos savants é, apresentarem limitações mentais de ordem cogni- tiva e neurológica, porém apesar dessas limitações 36 apresentam uma habilidade extraordinária em uma área específica. […] “O termo idiot savant, que ganhou significado na tradição literária, ainda é utilizado por renomeados autores; no entanto, optamos por eliminar o primeiro segmento, idiot, que, além de impreciso, tem um sen- tido altamente pejorativo.” REILY (2001, p. 33). Os savants caracterizam-se por apresenta- rem uma alta habilidade em alguma área, apesar de sua deficiência que o limita de alguma forma, mas seu talento é tão extraordinário que nem parece ter alguma limitação. 1.7. Referências ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Psicologia e Educação do Superdotado. São Paulo: EPU, 1996. ASSUMPÇÃO Jr., Francisco B. Aspectos psiquiátricos da criança escolar. Revista Psicopedagogia 2009; Vol. 26 (81), p. 441-57. BEE, Helen. A Criança em Desenvolvimento. Tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese. 9.ª edição, Porto Alegre: Artes Médicas, 2003. CID 10: CID 10_F. Data de Publicação: 06/06/2009. Disponível em: <http://www.cpmso.cbmerj.rj.gov. br/modules.php?name=Content&file=print&p id=138> Acesso em: 11 de Junho de 2011 Conselho Brasileiro para Superdotação. Acreditamos em seu potencial. Disponível em: <http://www.con- brasd.com.br/index.php?pg=capa.php&tipo=3> Acesso em: 11 de Junho de 2011. COPETTI, Jordano. Dificuldades de Aprendizado: ma- nual para pais e professores. 2.ª edição, Curitiba: Juruá Editora, 2009. GARDNER, Moward. Estruturas da mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Tradução: Sandra Costa. Porto Alegre: Ares Médicas, 1994. REILY, Lúcia. Armazém de imagens: Ensaio sobre a pro- dução artística de pessoas com deficiência. Campinas, SP; Papirus, 2001 (Série Educação Especial). MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. (Documento elabora- do pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial n.º 555, de 5 de junho de 2007, prorroga- da pela Portaria n.º 948, de 09 de outubro de 2007). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/politica.pdf> Acesso em 11 de Junho de 2011. 38 RIVIÈRE, Angel. O autismo e os transtornos globais do desenvolvimento. In: COLL, César, MARCHE- SI, Álvaro e PALACIOS, Jesús (organizadores). De- senvolvimento psicológico e educação. Tradução MURAD, Fátima, 2.ª edição, Porto Alegre/RS: Artmed, 2004. SANTOS, Fernanda de Carvalho e AMARAL, Re- gina Durães. Criança hiperativa: quem é ela? PSIC - Revista de Psicologia. Vetor - Editora, Vol. 5, n.º1, 2004, pp. 78-80. TAVARES, Thomé Eliziário Filho. Aprendizagem e Condutas Típicas. Disponível em: < http://www.pro- fessorthometavares.com.br/downloads/Discipli- na%20-%20aprendizagem%20e%20condutas%20 tipicas.pdf> Acesso em 11 de Junho de 2011. VYGOTSKY, Liev Semiónovich. Psicologia Pedagógi- ca. Tradução do russo e introdução de Paulo Bezer- ra. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Exercícios Propostos O que são os transtornos de desenvolvimen- to e do comportamento? ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ Conforme o que foi estudado na aula 2, as definições e características do autismo são complexas e contraditórias, o que dificulta um diagnóstico preciso. Comente um pouco sobre as possíveis causas e as características mais comuns do Autismo. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 1 2 Re sp os ta Re sp os ta 40 A Hiperatividade, o Déficit de Atenção, as Condutas Típicas e as Altas Habilidades/ Superdotação são transtornos do desenvolvi- mento e do comportamento, que muitas das vezes são confundidos no processo de iden- tificação, por apresentarem algumas caracte- rísticas semelhantes. Conceitue e diferencie cada um desses transtornos, conforme o que foi estudado nessa unidade. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 3 Re sp os ta A Síndrome de Asperger apresenta seme- lhanças com o Autismo, porém são transtor- nos diferentes. Aponte as características que diferenciam o Asperger do Autismo. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ Na aula 6, você estudou as Altas Habili- dades / Superdotação e Savants. Explique qual é a relação de um transtorno com ou- tro e o que os diferenciam. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ______________________________________________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 4 5 Re sp os ta Re sp os ta UNI DA DE 2 Aspectos da Legislação 44 A unidade 2 abordará o amparo legal, a nível internacional e nacional so- bre os transtornos de desenvolvimento e do comportamento. O intuito é observar a garantia dessas pessoas pelos aspectos legais, para que sejamos colaboradores do cumprimento dessas leis. 2.1. Introdução Essa unidade apontará o amparo legal para o atendimento especializado aos estudantes que apre- sentam transtornos de desenvolvimento e do com- portamento. Nesse sentido, faz-se necessário com- preender que as necessidades educacionais especiais nem sempre estão relacionadas apenas com as defi- ciências, mas sim com as situações às quais requerem uma atenção especial, para que o estudante possa vir a ter um bom desenvolvimento e aprendizagem. Nessa perspectiva, as pesquisas, desenvol- vidas nas últimas décadas, têm apontado o fracas- so escolar devido a fatores como: dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento, o que evidencia a necessidade de um atendimento es- pecial com o objetivo de colaborar com o desenvol- vimento e aprendizagem desses estudantes, evitando o fracasso escolar, e promovendo o sucesso escolar. Vale lembrar que os alunos superdotados também necessitam de um acompanhamento especial para o bom desenvolvimento de suas habilidades. 46 2.2. Um pouco da História A Educação Especial surge com o objetivo de segregar os alunos que não se enquadravam no perfil homogêneo da escola tradicional. Segundo Kirk e Gallagher (1996, p.38): “[…] uma das principais razões do surgimento da Educação Especial foi a gran- de diversidade de capacidades e desempenho escolar dos alunos de uma faixa etária e nível escolar semelhantes.” Nesse sentido, a consolidação da proposta de educa- ção para todos, adotou como uma de suas estratégias a exclusão, dando origem as classes especiais. Segun- do Mata (2001, p. 126): “El análisis del origen de la educácion especial, con- cebida como un processo de segregación de los alum- nos que no funcionan em el sistema, permite afirmar que se ha relegado a la educación especial, de forma inapropiada y no menos desafortunada, la tarea de resolver los problemas de un sistema general de edu- cación fracasado (SIGMON, 1987). El resultado nefasto de segregar a los niños discapacitados de la escuela oraria es que se les priva de um ambiente adecuado para su desarrollo psicosocial normal.” 1 1 A análise da origem da educação especial, concebida como um processo de segregação dos alunos que não funcionam no sistema, permite afirmar que se tem relegado a educação especial, de forma inapropriada na tentativa de resolver os problemas do sistema geral do fracasso escolar. (Sigmon, 1987). O resultado nefasto de segregar as crianças não aptas da escola priva-lhes de um ambiente adequado para seu desenvolvimento psicossocial normal. 2.3. Legislação Internacional A Declaração de Salamanca, no século XX, vem estabelecer o compromisso para com a Edu- cação para todos. Na referida Conferência Mundial de Educação Especial, estavam presentes 88 gover- nos e 25 organizações internacionais em Assembleia em Salamanca, Espanha, nos dias 7 e 10 de junho de 1994. Reconhecendo a necessidade de uma Educação Especial para as crianças, jovens e adultos com ne- cessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino e reformulando, com o objetivo de estabelecer metas de ação em Educação Especial. “Educação Especial incorpora os mais do que com- provados princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crianças possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas são normais e que, em consonância com a aprendizagem de ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. Uma pedagogia centrada na criança é beneficial a todos os estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo.” (DECLARAÇÂO DE SA- LAMANCA, 1994, p. 4) 48 Com esse documento nasce um novo con- ceito de Educação. A Educação Inclusiva, a qual prevê a inclusão e não a segregação de todos os estudantes em um único sistema de ensino que dê conta de atender a individualidade, as diferenças e necessidades especiais de cada um. A Educação Especial, na perspectiva da in- clusão, após a Declaração de Salamanca tem sido objeto de análise e discussão, em diversos países. No Canadá, o professor Gordon Porter tem de- senvolvido importante trabalho na área e propõe (1998) que, em cada localidade, sejam examinadas as: condições políticas e legislativas; as práticas es- colares que possibilitam a inclusão dos estudantes com necessidades especiais. Na Inglaterra, os professores Mel Ainscow e Tony Booth (1998) têm estudado sobre a remoção das barreiras de aprendizagem. Na Espanha, muitos estudos e pesquisas são desenvolvidos nessa área, e motivados pelos avanços na Educação espanhola, após a Lei Orgânica Geral da Educação, em vigor desde 1989, sugerem que as escolas disponham de: equipes de especialistas; equipes de orientadores e supervisores educacionais habilitados. O Brasil também tem desenvolvido estudos, pesquisas e estratégias de ações que buscam atender esses estudantes, de maneira a promover o seu de- senvolvimento e aprendizagem. 2.4. Legislação Brasileira A Educação Especial no Brasil surge no sé- culo XX, através de ações isoladas, principalmente de iniciativa privada, sobretudo dos pais de alunos deficientes. Em seguida, surgem algumas classes es- peciais públicas, ‘‘[…] propondo a separação dos alunos ‘‘normais’’ e ‘‘anormais’’, objetivando a organização de salas de aula homogêneas, sob a supervisão de organis- mos de inspeção sanitária a partir dos preceitos da racio- nalidade e modernidade.’’ (KASSAR (2001, p. 30). Com a Lei de Diretrizes e Bases de 1961, o atendimento aos deficientes aumenta tanto nas ins- tituições privadas (sem fim lucrativo), quanto nas públicas. A Educação Especial era baseada nas ex- plicações médicas, e tinha como objetivo segregar os alunos deficientes em escolas e classes especiais para integrá-los na sociedade. Nessa perspectiva, aponta Mazzotta (2005, p. 131): […] “o sentido assistencial e terapêutico atribuído à Educação Especial, pelo MEC, permaneceu explícito até 1990, quando, em um documento oficial, se reconhe- ceu que “pela primeira vez, o MEC começa a encarar a Educação Especial inserida no contexto global de educa- ção para todos.” Daí em diante, há alguns indicadores da busca de sua interpretação como educação escolar.” 50 Com a Declaração de Salamanca em 1994, a Educação Especial passa a ser considerada a partir da inclusão e não integração como era antes. O que demonstra um avanço, pois o objetivo agora é incluir essas pessoas no sistema escolar e na sociedade, ofe- recendo uma Educação que propicie o desenvolvi- mento das potencialidades desses estudantes. “Na perspectiva da Educação Inclusiva, a Educação Especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades edu- cacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdo- tação.” (Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial n.º 555, de 5 de ju- nho de 2007, p.10) Desde a década de 90, a rede pública de en- sino no Brasil tem aumentado o número de alunos com necessidades educacionais especiais matricula- dos no ensino regular, no intuito de garantir a legisla- ção que prevê a inclusão desses alunos no sistema re- gular de ensino. Ocorre que a qualidade deste ensino tem deixado a desejar, uma vez que os professores não foram preparados e nem capacitados para aten- der esses estudantes, gerandofracassos escolares. 2.5. Atendimento Educacional Espacial às pessoas com transtornos de desenvolvimento e do comportamento no Brasil O significado de inclusão traz em seu concei- to o respeito à diversidade e às diferenças individuais. Nesse sentido, a escola deve romper com a ideia de segregação e integração, desenvolvida na década de 60, e construir um novo conceito de Educação, que tenha por objetivo incluir as diferenças e oferecer um ensino de qualidade para todos os alunos, inde- pendente de suas capacidades, deficiências e dificul- dades. O Plano Nacional de Educação (2000) inclui alguns pressupostos: • Cada aluno é um e é único diferenciando-se dos demais, por suas particularidades, habilidades, interesses e necessidades; • Aos alunos com necessidades educacionais es- peciais devem ser oferecidas oportunidades de aprendizagem respeitadas suas diferenças espe- cíficas; • Os sistemas educacionais devem ser reestrutura- dos implicando na revisão de teorias e práticas, com o objetivo de ressignificar a diversidade ca- racterísticas e necessidades individuais; • As escolas regulares devem evoluir para uma 52 orientação inclusiva combatendo atitudes discri- minatórias e segregacionistas. A Educação, na perspectiva da inclusão, possibilita desenvolver intervenções pedagógicas diferenciadas, que busquem atender a diversidade de interesses, aptidões e necessidades dos estudan- tes. O que possibilita a realização de práticas pe- dagógicas transformadoras, que busquem no estu- dante o ponto de partida para o desenvolvimento de atividades, métodos e técnicas. A escola deve ser aberta ao trabalho coletivo, com a comunidade es- colar, buscando superar os desafios e construir um ensino de qualidade. 2.6. Inclusão no Contexto das Políticas Públicas de Educação no Brasil Compreender o processo de inclusão requer entender como se configura o acordo estabelecido na Conferência Mundial de Salamanca das políticas públicas de educação no Brasil. Nesse sentido, desta- ca-se não só às condições educacionais, mas também as condições econômicas. “O desenvolvimento de escolas que recebam todas as crianças da comunidade, inclusive crianças com algum tipo de deficiência, demanda significativo grau de trans- formação na sua proposta pedagógica, e no funcionamento atual das escolas, a fim de atender a diversidade das ne- cessidades educacionais dos alunos. Para que tenham con- dições de enfrentar este desafio, os profissionais da área educacional, em especialos docentes, precisam contar com ajuda e apoio em caráter permanente, mediante ativida- des de formação e educação continuada, além de outras parcerias institucionais.” (OSÓRIO, 2006, p. 68) Nesse sentido, é preciso oferecer capacita- ções continuadas, espaço de reflexão e estudo para o professor, para que o mesmo desenvolva condições de realizar intervenções pedagógicas que atendam as necessidades de seus estudantes. Para Carvalho (2001, p.117): Quando a Educação é entendida como essencial para qual- quer indivíduo, não deve haver tanta preocupação com seu barateamento. Mas, vale ressaltar que na lógica do sistema capitalista, o Governo tem como meta aumentar a produção do capital. Nessa lógica de custo e benefício, investe-se o mínimo neces- sário para o maior número possível de estudantes, inviabilizando trabalhar a individualidade desses es- tudantes nessa realidade. Mantendo, apesar do dis- curso de inclusão, excluídos àqueles que necessitam de atenção especial para seu desenvolvimento. 54 2.7. Referências BRASIL, MEC / SEESP. ________. Plano Nacional de Educação. Câmera dos Deputados, 2000. DECLARAÇÂO DE SALAMANCA. Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade. UNESCO, Salamanca, Espanha, 7-10 de Junho de 1994. CARVALHO, Rosita Edler. A Realidade Educa- cional Brasileira e a Produção da Deficiência. In: _______. Temas em Educação Especial, 2001 (mimeio). KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães. Reforma do Estado e Educação Especial: Preliminares para uma aná- lise. Revista de Educação (Educação Especial), PUC – Campinas/SP, n.º1, Novembro de 2001. LDB. A Constituição de Educação Brasileira. Lei n.º 9.394/96, Decreto n.º 8/97. Brasília: 1997. MATA, Francisco Salvador. Educacion Especial (Enfo- ques Conceptuales y de Investigación). Edita: Grupo Edi- toral Universitário, 2001. MAZZOTTA, Marcos José Silveira. 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San- ta Maria: Palloti, 2006. 56 Exercícios Propostos Explique por que a Educação Especial com a Declaração de Salamanca deixou de ser inte- gradora para ser inclusiva? ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ Comente sobre a importância da Declaração de Salamanca no contexto da Educação Inclusiva. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 1 2 Re sp os ta Re sp os ta Se existe o amparo legal para que o aluno com necessidades especiais receba atendimento, o que acontece que esses alunos parecem estar cada vez mais excluídos da escola? ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ Como garantir uma Educação de qualidade para todos os alunos, realizando a efetiva in- clusão de todos? ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 3 4 Re sp os ta Re sp os ta
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