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Licenças (Autorizações) de exploração da obra intelectual em Portugal e no Brasil

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Licenças (Autorizações) de exploração da 
obra intelectual em Portugal e no Brasil
Licenses (authorizations) for exploring intellectual 
work in Portugal and Brazil
Abstract
This article analyzes the licenses for the 
exploration of intellectual works under the 
prism of the Brazilian Copyright Law, Law 
9.610 / 98, and the Portuguese Code of 
Copyright and Related Rights, dealing 
from the etymological concept of the 
term License until its effectiveness within 
the legal system, as well as comparisons 
between the studied laws. Finally,
it presents the need for the licensing 
of intellectual works to protect the creator 
of the work, as a hyposufficient part.
Keywords: Contracts. Licenses. 
Copyright. Intellectual property. Exclusive 
exploration.
• Rose Marie Rocha da Cunha •
Advogada, Especialista em Processo Civil Brasileiro pelo Centro Universitário UNINTER, Mestranda em Propriedade 
Intelectual pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. E-mail: rmarie.cunha@gmail.com
8 Revista da ABPI • nº 170 • Jan/Fev 2021
As opiniões são de inteira responsabilidade de 
seus autores e não expressam, necessariamente, 
as opiniões da Comissão Editorial ou da ABPI.
Resumo 
O presente artigo analisa as licenças de 
exploração de obras intelectuais sob o prisma 
da Lei de Direito de Autor brasileira, Lei 
9.610/98, e o Código de Direito de Autor e 
Direitos Conexos português, tratando desde o 
conceito etimológico do termo Licença até à 
sua eficácia dentro do ordenamento jurídico, 
bem como apresenta comparações entre as 
legislações estudadas. Por fim, apresenta 
a necessidade do licenciamento de obras 
intelectuais para proteção do criador da obra, 
como parte hipossuficiente.
Palavras-chave: Contratos. Licenças. 
Direito de autor. Propriedade intelectual. 
Exclusivo de exploração.
 • Artigo • 
1• Introdução
No direito intelectual o licenciamento é feito, geralmente, por 
meio de contratos firmados entre o licenciante (titular dos direi-
tos patrimoniais da criação intelectual) e o licenciado (aquele 
que irá gozar de uma ou mais modalidades de utilização da 
obra). Entretanto, apesar do tímido tratamento à nível doutri-
nário das licenças, enquanto negócio jurídico são o mecanis-
mo mais comum de acordo entre as partes e que confere não 
só segurança ao licenciante como também ao licenciado, ge-
rando obrigações para ambos. 
O presente trabalho tem como objeto analisar as licenças de 
exploração de direito de autor no direito português sobre o 
viés da prática contratual. Para tanto, e antes de adentrar nas 
licenças propriamente ditas, será feita uma breve incursão so-
bre a noção de licença e qual o objeto de um contrato de li-
cença sob a perspectiva de um negócio jurídico realizado entre 
duas partes de boa-fé que se obrigam a cumpri-lo nos termos 
celebrados.
Em seguida, será apresentado o conteúdo definido pelo Có-
digo de Direito de Autor e Direitos Conexos português como 
exigência de validade da licença. 
Serão apresentadas as modalidades de licenças onerosas e 
gratuitas, ciente que as licenças onerosas são geralmente uti-
lizadas pela indústria fonográfica, cinematográfica e por edi-
toras como contrato de autorização de exploração econômica 
de uma obra intelectual. Por outro lado, as licenças gratuitas 
visam o compartilhamento da criação intelectual com fincas 
de incentivar o desenvolvimento criativo e melhoramento da 
obra disponibilizada gratuitamente. 
Ao final será apresentado o problema da eficácia dos contra-
tos de licença e as consequências do seu incumprimento.
Partindo da literatura disponível no âmbito da temática, um dos 
principais objetivos fixa-se na análise das licenças e verificação 
da necessidade do negócio jurídico como mecanismo de prote-
ção das partes e principalmente do autor face às indústrias de 
exploração econômica de obras intelectuais nos variados seg-
mentos, seja musical, literário, das artes e demais segmentos. 
Salienta-se que neste trabalho considerar-se-á o autor como 
parte hipossuficiente no âmbito dos contratos de licença.
A metodologia de pesquisa aplicada ao estudo foi a abor-
dagem qualitativa de caráter exploratório e o procedimento 
adotado foi o de pesquisa bibliográfica.
 
2• Noção de licença de exploração
O termo licença deriva da palavra em latim licentia cujo signi-
ficado é permissão1. Licença é um termo comumente utilizado 
no Direito Administrativo para designar literalmente a per-
missão da Administração Pública para que uma pessoa física 
ou jurídica realize uma atividade ou ato. Essa permissão da 
Administração Pública tem caráter unilateral, discricionário ou 
vinculado e constitui uma posição jurídica nova no âmbito do 
direito público.
Há também, no âmbito da Administração Pública, a figura da 
autorização2 no qual o Ente Administrativo remove os limites 
jurídicos impostos pela lei para que uma pessoa possa exercer 
um direito que já existia em sua órbita de direitos, após verifi-
car que esse exercício não causará prejuízos para o interesse 
público. 
A distinção entre a licença e a autorização é que enquanto 
uma gera direitos, a outra faculta ao interessado o exercício de 
um direito já existente. Em ambos os casos, há o exercício do 
poder de soberania da Administração Pública. 
Sumário • 1• Introdução - 2 • Noção de licença de exploração - 2.1 • O exclusivo de exploração econômica 
- 3 • Objeto do contrato de licença - 4 • Forma e conteúdo do contrato de licença - 4.1 • Forma do contrato de 
licença - 4.2 • Da forma autorizada de exploração da obra - 4.3 • Prazo da licença - 4.4 • Território da licença - 
4.5 • Preço da licença - 5 • Modalidades de licenças - 5.1 • Voluntárias, obrigatórias e legais ou compulsórias - 
5.2 • Onerosas e gratuitas - 5.3 • Tipos de licenças - 5.4 • Combinação de licenças de uso regular - 5.5 • Singular 
e multi-obras - 5.6 • Individuais e coletivas - 5.7 • Exclusivas e não exclusivas - 5.8 • Regionais e multiregionais, 
nacionais e multinacionais - 6 • A eficácia das licenças contratuais - 7 • Conclusão • Referências bibliográficas
 
1 REZENDE, Antônio Martinez de; BIANCHET, Sandra Braga. Dicionário do latim essencial. 2ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. 512 p.
2 Renato Alessi (apud CRETELLA JÚNIOR, 1982, p.7) diz que “a autorização confere simplesmente ao particular a potestade jurídica do exercício de um direito 
do qual, anteriormente, o próprio particular já era titular, removendo os obstáculos e os limites postos pela lei ao exercício do próprio direito, no caso de ausên-
cia de autorização” CRETELLA JÚNIOR, José. Definição da Autorização Administrativa. In: Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: FGV, 1982, p.1-17.
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Analogicamente à soberania da Administração Pública para 
licenciar e também para autorizar ou não um ato ou atividade 
de uma pessoa, está a soberania do titular do direito sobre o 
exclusivo de exploração econômica do bem intelectual, mani-
festado em um interesse privado3.
No Direito Intelectual, o termo licença está desvinculado do 
conceito de permissão utilizado pelo direito administrativo. 
Dessa forma, o conceito de autorização do Direito Adminis-
trativo seria mais coerente com o termo licença utilizado no 
Direito Intelectual. 
Entretanto, a autorização que é dada pelo Ente Administrativo, 
mediante a provocação da pessoa interessada, é um ato uni-
lateral e discricionário enquanto que a autorização (ou licença) 
no direito intelectual é a manifestação de um interesse privado 
materializado em um negócio jurídico formal, cujo objeto é a 
exploração econômica de uma obra intelectual. 
É importante destacar que o termo licença e autorização, no 
direito de autor, servem ambas para indicar a outorga das fa-
culdades de utilização da obra para que o licenciado/autoriza-
do explore economicamente a obra intelectual conforme uma 
modalidade de exploração da obra4 acordada entre as partes 
interessadas no negócio jurídico.O autor que deseja obter lucro com a sua criação intelectual 
recebe do legislador o monopólio5 da exploração econômica6 
sobre esse bem imaterial, por um determinado tempo. Esse 
tempo é determinado de acordo com a legislação específica 
de cada país. Em Portugal e no Brasil, o período em que é con-
cedido ao autor explorar economicamente o bem incorpóreo 
perdura enquanto o autor estiver vivo e 70 anos após a sua 
morte, “mesmo que a obra só tenha sido publicada ou divul-
gada postumamente”7. Cumpre salientar que o prazo que o 
legislador determinou (70 anos após a morte do autor) é no 
seu entendimento o prazo razoável para que o autor possa 
ter o devido retorno sobre o seu trabalho criativo e, com o 
fim desse prazo, possibilitar o fim social 8. 
A exploração no senso comum significa auferir lucro com algo. 
Neste contexto, “cada contrato que concede ao autor uma 
renda em troca de sua atividade criativa seria um contrato de 
exploração de direitos de autor”9.
O criador consente que um terceiro explore economicamente 
uma ou mais formas de utilização de sua obra. Esse mono-
pólio de exploração é concedido por meio de contratos de 
exploração do direito de autor10 e constitui um tipo de abstrato 
de negócios de Direito de Autor cuja expressão “autorização” 
se pode dar o nome clássico de licença11. 
2.1 – O exclusivo de exploração econômica
A natureza imaterial da criação intelectual permite que qual-
quer pessoa a utilize sem que uma autorização seja conce-
dida. Contudo, cabe recordar que o direito de um exclusivo 
de exploração surgiu através de privilégios12 concedidos aos 
livreiros pelo monarca aos que desejavam explorar economi-
3 José de Oliveira Ascensão, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, esclarece que “a licença administrativa pressupõe o 
exercício por um ente público de um poder de autoridade” e por isso “que no recurso à figura da licença no Direito Intelectual se albergue, mais ou menos 
conscientemente, outra ideia: a de uma espécie de <<soberania>> do titular, que se exercia sobre o bem intelectual. Isso lhe daria a autoridade sugerida 
pelo termo licença”. ASCENSÃO, José Oliveira. A <<licença>> no Direito Intelectual. In: ALMEIDA, Carlos Ferreira de; GONÇALVES, Luís Couto; TRABUCO, 
Cláudia (Org.). Contratos de Direito de Autor e de Direito Industrial. Coimbra: Almedina, 2011. p. 93-112. 
4 Esse é o entendimento de Alberto de Sá e Mello, no qual “o termo autorização/licença tanto identifica o acto de outorga de faculdades de utilização da obra, 
ficando o beneficiário da atribuição patrimonial (licenciado) na titularidade de uma autorização/licença de exploração económica segundo a modalidade 
concessionada”. SÁ e MELLO, Alberto de. Eficácia das autorizações (licenças) contratuais de utilização patrimonial de obra intelectual literária ou artística. In: 
VICENTE, Dário Moura et al (Org.). Estudos de direito intelectual em homenagem ao Prof. Doutor José Oliveira Ascensão: 50 anos de vida universitária. 
Coimbra: Almedina, 2015. p. 39-56
5 Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, com base na tese defendida por Edmond Picard em França, esclarece que o direito de exclusivo “corresponde a um 
monopólio análogo ao direito de propriedade, mas sem com ele se confundir”. MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de. Direito de Autor. Coimbra: Almedina, 
2011. p.42.
6 O artigo 9º, nº 2 do CDADC dispõe que “No exercício dos direitos de carácter patrimonial o autor tem o direito exclusivo de dispor da sua obra e de fruí-la e 
utilizá-la, ou autorizar a sua fruição ou utilização por terceiro, total ou parcialmente”.
7 Artigo 31º do CDADC “O direito de autor caduca, na falta de disposição especial, 70 anos após a morte do criador intelectual, mesmo que a obra só tenha 
sido publicada ou divulgada postumamente. ”
8 Oliveira Ascensão defende que “os direitos de exclusivo, que representam em si indesejáveis monopólios, não podem deixar de estar sujeitos a limites que os 
reconduzem ao interesse social”. OLIVEIRA ASCENSÃO, José. “Direito intelectual, exclusivo e liberdade”, in revista da ordem dos advogados, Ano 61, vol. 
iii, Dezembro,2001, pp. 1195-1217 Disponível em http://www.oa.pt/upl/%7B10ca2eef-a374-4211-8b85-3541b0658872%7D.pdf. Acesso em 23/07/2018.
9 Texto original “Dans ce cadre, chaque contrat qui octroie à l’auteur un revenu en contrepartie de son activité créatrice serait un contrat d’exploitation du droit 
d’auteur.” JOSSELIN-JOSSELIN-GALL, Muriel. Les Contrats d’exploitation du droit de proprieté littéraire et artistique: Étude de droit comparé et de drooit 
international privé. Paris: Gln Joly, 1995, p. 29
10 Ibidem, p. 25.
11 BESSA, Tiago. Direito contratual de autor e licenças (voluntárias) de exploração da obra. Revista da Ordem dos Advogados, Ano 72, IV -- Lisboa Out.-Dez. 
2012, p. 1169.
12 Segundo Luiz Francisco Rebello, “os primeiros privilégios remontam aos últimos anos dos século XV e primeiros do século XVI: o Senado veneziano outorgou 
em 1495 um privilégio ao impressor Aldo Manuzio para uma edição das obras de Aristóteles; em 1502 Valentim Fernandes, um alemão da Morávia radicado 
em Lisboa obteve um privilégio de exclusividade para a edição da tradução portuguesa do Livro de Marco Polo; em 1507 o rei Luis XII de França concedeu ao 
editor Antoine Vérard um exclusivo para a impressão das epístolas de São Paulo. A partir de então, a concessão dos privilégios, ‘por mercê do Rei’ ou ‘provisão 
do Paço’ ou outros órgãos de soberania, generalizou-se” REBELLO, Luiz Francisco. Introdução ao Direito de Autor. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Autores, 
1994. P. 31 -32.10
 
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camente uma obra13. A impressão era regulamentada e os 
privilégios concedidos pelo próprio monarca, pelas cidades ou 
pelos nobres. Esses privilégios consistiam no direito exclusivo 
de impressão e estavam fundamentados em critérios políticos, 
permitindo que somente um impressor reproduzisse e comer-
cializasse a impressão de determinada obra obra14. 
No contexto dos privilégios, o exclusivo de exploração econô-
mica de uma obra era concedido com o intuito de controlar 
o conteúdo do que se publicava15, de coibir a concorrência 
desleal pelo monarca e evitar que fossem publicadas obras 
com ideais contrários à nobreza, à igreja e à monarquia. Era 
um mecanismo de controle social, econômico e político.
O exclusivo centra-se na exclusão de terceiros e de suas pos-
síveis intervenções no exercício de quem tem autorização para 
explorar um bem intelectual economicamente.
Noutra perspectiva, esse exclusivo é necessário, na atualidade, 
para proteger a criação e a atividade inventiva proibindo que 
um terceiro explore economicamente uma criação intelectual 
sem o consentimento do titular desse direito. Salienta-se que o 
titular do direito de exclusivo poderá ser o criador da obra, mas 
não necessariamente este. 
Com o exclusivo é reservado ao titular do direito de explora-
ção patrimonial um limite de atuação sobre o bem incorpóreo 
por outras pessoas. Segundo Tiago Bessa, “cria-se assim, um 
espaço de atuação reservada que advém não da apropriação 
da coisa imaterial (como ocorre nas coisas físicas), mas sim do 
cerceamento da liberdade de atuação dos demais sujeitos da 
sociedade”16. 
Qualquer ato que tenha aptidão para exploração econômica 
necessita de autorização do titular do direito e os atos que não 
tenham essa vocação (com viés de exploração econômica e de 
monetização) estão excluídos do direito de exclusivo. Contudo, 
o legislador não afastou a possibilidade de surgir novos atos 
que no futuro venham ter essa aptidão de atigir a exploração 
econômica de uma obra17. 
Por esse motivo, por deixar em aberto essa possibilidade de 
incluir novas formas de exploração econômica de uma obra 
intelectual que é pertinente dizer que o direito de exclusivo 
é flexível, que possui o intuito de abarcar todas as formas e 
atos de aproveitamento econômico existentes no momentoda criação e as que possam, no futuro, vir a existir mesmo 
que não seja possível imaginar ou prever quais serão no mo-
mento da celebração de um contrato de licença.
O titular do direito de exclusivo, seja ele o criador da obra 
ou não, pode utilizar, explorar e fruir da obra. Se o fizer 
por si próprio, tem-se a exploração direta. Entretanto, se os 
atos de exploração forem realizados por terceiros, tem-se a 
exploração indireta. 
Não obstante, para que o terceiro possa realizar essa explo-
ração econômica da obra licitamente faz-se necessário que o 
titular do direito de autor o autorize18.
13 “Os privilégios tinham como objeto o direito exclusivo de imprimir e publicar uma obra, e nada mais do que isso; as relações entre o seu benefício e o autor 
da obra para a qual o privilégio era outorgado em nada interessavam as autoridades, e a protecção da obra era apenas uma consequência adicional e indireta, 
visto que o que se pretendia proteger eram os exemplares saídos do prelo” GIERKE, L. apud REBELLO, Luiz Francisco, Op. cit., p. 32.
14 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., p. 21 - 22. 
15 Em 1454 o alemão Johannes Gensfleisch Zum Gutenberg, nascido por volta de 1400 na cidade de Mainz Mogúncia, Alemanha, cria a prensa tipográfica. A 
criação de Gutenberg se expandiu pela Europa e as imprensas se popularizaram permitindo a obtenção de lucro com a reprodução e impressão de obras, o que 
não agradou os escribas cujo negócio estava ameaçado. Por outro lado, com a impressão, as classes mais baixas, como a plebe, puderam ter contato com cul-
tura e a difusão de ideias, vide mais em MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., p.21. Em 1456, o próprio Gutenberg imprimiu “a primeira versão tipográfica da 
Bíblia com tiragem de aproximadamente seiscentos exemplares” Essa difusão de cultura, ideias e obras religiosas não agradou a nobreza e aos líderes religiosos 
que não aceitavam a ideia de seus fiéis estudarem por conta própria os textos religiosos e da difusão de ideias herege, sobre esse tema ver em BRIGGS, Asa; 
BURKE, Peter. Uma História Social da Mídia: de Gutemberg à Internet. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. p. 27 -29. Tradução de Maria Carmelita Pádua Dias.
16 BESSA, Tiago. op. cit., p. 1145.
17 Artigo 68.º, n. º 1, CDADC “A exploração e, em geral, a utilização da obra podem fazer-se, segundo a sua espécie e natureza, por qualquer dos modos 
actualmente conhecidos ou que de futuro o venham a ser”. Na Lei de Direito Autoral Brasileira “Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, 
expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro” Art. 7º da LEI Nº 9.610, DE 19 DE 
FEVEREIRO DE 1998.
18 BESSA, Tiago. op. cit., p. 1145.
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3• Objeto do contrato de licença
O Direito de Autor é um dos ramos do Direito Civil e por isso 
mesmo partilha com os demais ramos as regras gerais dessa 
grande área. Apesar de regular as relações jurídicas que en-
volvam exclusivamente os bens intelectuais, o titular do direito 
de exclusivo de uma obra será parte em um contrato de direito 
de autor, no qual a vontade das partes estará materializada em 
um contrato cujo objeto é o direito de exploração econômica 
da obra19.
Não obstante, a doutrina distingue o objeto dessa relação 
jurídica em objeto mediato e imediato20. O objeto imediato 
consiste nos modos de aproveitamento da obra que são con-
cedidas pelo titular do direito patrimonial à um terceiro por 
meio das licenças21. No tocante ao objeto mediato da licença, 
entende-se que é a exploração da obra em si como bem incor-
póreo materializado em um suporte físico e pelo qual recaem 
os direitos e obrigações que foram pactuados entre as partes 
quando expressaram suas vontades.
Noutro diapasão, é imperioso analisar a possibilidade do 
objeto da licença de exploração econômica ser mais de uma 
obra e todas com naturezas distintas. Nesse contexto, cumpre 
salientar que a lei não impõe que as licenças de exploração 
possam ter como objeto somente uma obra. O art. 85º do 
CDADC permite que “o contrato de edição pode ter por ob-
jecto uma ou mais obras, existentes ou futuras, inéditas ou pu-
blicadas”. A lei brasileira de direitos autorais foi omissa no que 
tange à quantidade de obras que a licença versará.
Apesar do permissivo legal no CDADC para que as licenças 
tenham como objeto mais de uma obra, não especificou se as 
obras devem ser da mesma natureza. Tiago Bessa entende que 
a interpretação do texto normativo deve ser pela possibilidade 
de ter uma licença cujo objeto são várias obras com naturezas 
distintas entre si, mas pondera que os modos de exploração 
diferem conforme a obra em causa. Por esse motivo assinala 
que “deve existir uma preocupação adicional, no conteúdo da 
licença, em distinguir entre as formas de utilização admitidas 
para uma obra e para a outra”22. Saliente-se que o objeto 
da licença, mesmo sendo uma obra, deve especificar quais os 
modos de utilização concedidos ao terceiro através da licença, 
esclarecendo a forma autorizada de divulgação, publicação 
e utilização e constar as condições de tempo, lugar e preço. 
Nesse diapasão, em uma licença que está tratando de várias 
obras com naturezas distintas deverá ter o cuidado de especi-
ficar os modos de utilização de cada obra que foram licencia-
dos ao terceiro pelo titular do exclusivo de exploração. 
No tocante à possibilidade de ser objeto imediato de uma li-
cença uma obra futura, entende-se que, tendo em vista o ar-
tigo 85º do CDADC que permite que o contrato de edição 
tenha por objeto uma obra futura, pode-se aplicar esta regra, 
por analogia, à outras obras. Oliveira Ascensão, “defende que 
o artigo 48.º exige sempre a determinação da obra, o que ex-
clui, portanto, contratos de alienação de todas as obras que o 
autor vier a produzir no espaço de 10 anos. Este autor estende 
esta limitação às autorizações ou licenças”23. Tiago Bessa, por 
sua vez, entende que “sendo as autorizações ou onerações 
atos de disposição do conteúdo patrimonial do direito de autor 
particularmente gravosos, mas no caso das autorizações, pois 
estas não atingem o direito patrimonial de autor, limitam-se a 
permitir que um terceiro participe na exploração da obra”24. 
Apesar de ser exigida a determinação da obra, crê-se que no 
próprio contrato pode-se estipular cláusulas que permitam que 
as partes cheguem ao consenso de seu interesse privilegiando 
o princípio da boa-fé contratual e do melhor aproveitamen-
to dos negócios jurídicos. Dessa forma, o objeto das licenças 
poderá ser, também, obra futura ou não, quer sejam identifi-
cáveis ou não, contudo, deve-se respeitar o limite de 10 anos 
segundo a legislação portuguesa no atigo 48º do CDADC e 
de 5 anos para a lei brasileira, conforme disposto no artigo 51, 
sendo essa a posição que seguimos.
4• Forma e conteúdo do contrato 
de licença
4.1 – Forma do contrato de licença
O Direito é uma ciência que privilegia a formalidade e a ins-
trumentalização dos atos e interesses, sejam privados ou públi-
cos. A solenidade está presente nas diversas áreas do direito e 
não seria diferente no Direito de Autor que também privilegia a 
 
19 Em forma genérica, António de Macedo Vitorino diz que o objeto do direito de autor é o gozo ou a exploração da obra intelectual traduzida em um aproveit-
amento material ou jurídico de uma coisa corpórea e, nesse sentido, o objeto do direito de autor se confundiria com o objeto do contrato de licença. VITORINO, 
António de Macedo. A eficácia dos contratos de direito de autor. Coimbra: Almedina, 1995. p. 51. Noutro vértice, Oliveira Ascensão, por sua vez, esclarece 
que “o objeto do direito do direito de autor não são propriamente os bens intelectuais, mas certas atividades referentes a esses bens intelectuais; e o conteúdo do 
direito de são as proibições de atividades”. ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Autoral. 2. ed. Refundidae ampliada. Rio de Janeiro: Renovar, 1932. 762 p.
20 Tiago Bessa esclarece que “o legislador parece confundir o conteúdo do negócio em si com o seu objecto. No entanto, a doutrina é clara em distinguir estas 
realidades. Tipicamente, chama-se objecto imediato (ou conteúdo do negócio) aos efeitos jurídicos a que o negócio tende, ou seja, à relação jurídica por ele 
instituída, e objecto mediato ou strictu sensu ao quid sobre o qual irão recair os efeitos do negócio”. Ibidem, p.1177.
21 Inocêncio Galvão Telles diz que “o ‘objecto imediato’ cifra-se, pois, na substância da relação, nos direitos e obrigações que a integram (...). objecto mediato 
da relação jurídica é, por sua vez, o quid sobre que recaem os direitos (e obrigações) integrantes do objecto imediato”. Manual dos Contratos em Geral. 
Refundido e Atualizado, Coimbra editora, 2002, pp. 406-412 apud BESSA, Tiago p. 1177 e 1178.
22 Ibidem, p. 1179.
23 OLIVEIRA ASCENSÃO, José. apud BESSA, Tiago. op. cit., p. 1180.
24 BESSA, Tiago. op. cit., p. 1180.12
 
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materialização da vontade das partes por meio de um contrato 
escrito, ou seja, por meio de uma solenidade. Essas formali-
dades têm como objetivo a proteção do autor, que será con-
diderado como a parte hipossuficiente25 em um contrato cujo 
objeto é a exploração econômica de sua obra. Nesse sentido, 
sendo o criador da obra intelectual a parte frágil de um ne-
gócio jurídico frente à grandes empresas que estão envolvidas 
com o setor artístico em geral, há necessidade de cumprimen-
to das exigências formais para a própria proteção do autor.
A legislação portuguesa e brasileira estabelecem em termos 
gerais e de forma expressa que a autorização só pode ser con-
cedida por escrito, independentemente se transmissão for total 
e definitiva ou não. 
O contrato de licença é formalizado tendo em vista o interesse 
das partes e segue os princípios contratuais de celebração de 
um negócio jurídico. Apesar das legislações de direitos de au-
tor determinarem um conteúdo mínimo para ser seguido, não 
há impedimento para que as partes estipulem outras cláusulas 
e estabeleçam uma regulação que vá além dos elementos in-
dicados pelo legislador com fincas de adequar o contrato às 
suas especificidades e interesses particulares.
O Código de Direito de Autor e Direitos Conexos estabelece 
que a falta da forma escrita é condição de nulidade da licença 
e essa determinação causa uma divisão de entendimento na 
doutrina portuguesa. Para uma parte da doutrina, o excesso 
de formalismo pode causar prejuízos para terceiros e para o 
próprio autor. Noutro ponto, há posições como a de Oliveira 
Ascensão que entendem que para licenças de pequenas uti-
lizações deveria se flexibilizar a exigência da solenidade do 
negócio jurídico. 
Nesse contexto, é importante trazer à baila a questão da exi-
gência da forma escrita e se essa exigência tem caráter ad 
probationem ou ad substantiam. A formalidade ad probationem 
é necessária para provar a existência de um negócio jurídico, 
como o próprio entendimento literal da expressão permite in-
ferir (da prova). Diferentemente, a formalidade ad substantiam 
é necessária para a constituição do próprio negócio realizado 
o que, na sua ausência, “leva a transferir para o utilizador o 
ónus da prova”26. 
Sobre a questão, Luiz Francisco Rebello e António de Macedo 
Vitorino27 entendem que a exigência de um contrato escrito se 
trata de uma exigência ad probationem. 
A exigência da forma escrita é uma condição ad probationem 
para a maioria da doutrina e jurisprudência portuguesa sob 
o argumento da exigência legal. Em contrário, Tiago Bessa 
advoga no sentido de que a formalidade tem caráter ad subs-
tantiam por ser critério de validade do negócio jurídico. Oras, 
se o Direito exige determinada forma de instrumentalização do 
negócio jurídico o motivo é senão de validade desse. Esse re-
quisito de validade, entende-se que visa a proteção do criador 
da obra intelectual28.
4.2 – Da forma autorizada de exploração 
da obra
 
25 Considera-se o autor como parte hipossuficiente, posto que diante das grandes editoras e indústria da música ou do cinema, o criador da obra está à mercê 
das imposições contratuais que sejam mais favoráveis à parte interessada em explorar economicamente a sua criação. A tutela do direito do autor é recente, pois 
durante muito tempo o criador da obra intelectual se viu dependente da ajuda de mecenas para sobreviver. Para Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, no Direito 
Romano há uma falta de tutela das obras intelectuais em favor do criador da obra e o autor da obra intelectual estava desamparado. MENEZES LEITÃO, Luís 
Manuel Teles de. Direito de Autor. Coimbra: Almedina, 2011. p.20. Sobre o tema vide também SANTOS, Manuella Silva dos. Direito autoral na era digital: 
Impactos, controvérsias e possíveis soluções. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 15 – 24. Ainda sobre o tema Maria Victória Rocha ressalta que “economicamente, 
o autor/artista intérprete muitas vezes não tem uma posição que lhe permita negociar em igualdade de circunstâncias com a outra parte contratante. Há que 
ter presente que a contraparte muitas vezes é uma entidade empresarial com forte poder econômico, inclusive uma multinacional”. ROCHA, Maria Victória. 
Questões de forma nos contratos de exploração de direitos de autor e direitos conexos. In: CAMPOS, Diogo Leite de (Org.). Boletim da Faculdade de Direito 
da Universidade de Coimbra’: Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Manuel Henrique Mesquita. Coimbra: Coimbra, 2009. p. 769-795. (Volume II). 
26 Luiz Francisco Rebello, Código do Direito de autor e dos Direitos Conexos, Anotado, 3.ª ed., revista e Atualizada, Âncora editora, lisboa, 2002, p. 136, apud 
BESSA, Tiago, op. cit., p. 1186.
27 VITORINO, António de Macedo. A eficácia dos contratos de direito de autor. Coimbra: Almedina, 1995. P. 27- 28.
28 “Nos países de tradição romano-germânica as exigências formais traduzem um princípio de proteção do autor”. JOSSELIN-GALL, Muriel. Op. cit., p. 172-173.
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O legislador exigiu no artigo 41, nº 3 do CDADC que no ato 
da celebração do contrato as formas de utilização estejam, 
obrigatoriamente, especificadas. No texto normativo há men-
ção das seguintes formas de utilização: divulgação, publicação 
e utilização, deixando de mencionar a exploração29. Essas for-
mas de utilização são independentes entre si e o autor pode 
autorizar a exploração de uma ou várias faculdades de utiliza-
ção, conservando a autonomia de autorizar a exploração de 
uma forma de utilização para uma determinada entidade e 
outra para um terceiro que não possua nenhum vínculo com a 
entidade anterior. Além disso, a obra poderá ter tantos modos 
de utilização presentes ou futuros em um único contrato.
O texto normativo tem caráter exemplificativo das formas de 
utilização e não afasta a possibilidade de incluir formas de 
exploração que venham a ser descobertas e que não estejam 
no rol do artigo 68 do CDADC. 
Contudo, cabe esclarecer, que as faculdades de utilização fu-
turas não poderão ser especificadas no contrato exatamente 
por não existirem no momento da celebração desse instrumen-
to jurídico. Acompanhando esse entendimento, Maria Victória 
Rocha salienta que “fica patente que está excluída a possibi-
lidade de atribuir faculdades/poderes de exploração que ve-
nham a ser descobertos no futuro, uma vez que não poderão 
ser objecto de especificação”. Esse também é o entendimento 
de Tiago Bessa.
A exigência de especificar a forma de utilização é um mecanis-
mo de tutela para o autor (principalmente) e também de seu 
controle sob as formas de exploração de sua obra. Mas, não 
somente isso, para a proteção do tráfego jurídico, tendo em 
vista a multiplicidade de celebração de contratos sobre váriasformas de utilização ou para vários sujeitos que vierem explo-
rar economicamente a obra.
4.3 – Prazo da licença
A exigência para que seja indicado o prazo da licença tam-
bém consiste em proteger o autor, levando em consideração 
as consequências que poderiam lhe causar se não fosse espe-
cificado o lapso temporal em que o terceiro está autorizado a 
explorar a obra intelectual.
No tocante ao prazo da licença (duração) é permitido que uma 
licença tenha uma duração flexibilizada, podendo determinar 
ou não esse prazo, indicar ao fim do prazo acordado a renova-
ção do período, bem como indicar que não se quer renova-lo. 
Exemplo: Autoriza-se a difusão de uma obra na televisão por 
um número determinado de vezes, ou até que uma edição de 
obra literária se esgote com a distribuição e venda de todas as 
suas cópias.
Cumpre ressaltar que a legislação portuguesa determina que 
o direito de exclusivo caduca se depois de 7 anos que a obra 
tiver sido alienada não for utilizada.32 33 A legislação brasileira 
não se deteve nesse ponto o que pode ser um entrave para 
que o autor de uma obra possa permitir que outros possam 
explorar economicamente, pois estará vinculado ao primeiro 
licenciado através de contrato.
Por outro lado, o códex de direito de autor impõe limitações 
referente à produção de obras futuras, determinando que 
a transmissão ou oneração de obras futuras somente serão 
abrangidas se o autor as produzir dentro do prazo de 10 anos 
na legislação portuguesa (48, nº 1 do CDADC) e de 5 anos 
na Lei de direitos de Autor brasileira (Art. 51). Autores como 
Oliveira Ascensão e Menezes Leitão entendem que esse prazo 
é demasiado amplo e beneficia o explorador em detrimento 
dos interesses do autor. 34
4.4 – Território da licença
No que tange ao território da licença sabe-se que é a determi-
nação do lugar territorial onde os atos de exploração concedi-
dos pela licença podem ser praticados.
Nesse sentido, o titular do direito pode autorizar a distribuição 
de uma obra em um país e isso não impede que autorize um 
terceiro distribuir a obra em outro país distinto daquele. Ou 
autorizar a edição e a publicação da obra somente em um 
determinado país. Nesse contexto, a flexibilidade de acordo 
entre as partes é grande e neste ponto a interação e interesse 
das partes é o que determinará.
Uma obra disponibilizada, por exemplo, na internet não 
possui um lugar físico específico, sendo possível acessá-la 
em qualquer lugar do mundo onde se tenha acesso à rede 
mundial de computadores. Além disso, é possível que várias 
pessoas possam acessar a mesma obra no mesmo instante. 
Para coibir o acesso de obras em países no qual não haja 
autorização para explorar a obra, os prestadores de serviço 
instalaram nas obras mecanismos que visavam impedir essa 
visualização ou execução35. Esses mecanismos permitem 
detectar a origem de um determinado usuário, restringin-
do as hipóteses de contratação electrónica dos utilizadores 
 
29 BESSA, Tiago. op. cit., 1195, nota 150. Segundo o qual entende que foi uma falha do legislador nacional e salienta que o “legislador ter-se-á “esquecido” de 
incluir, no n.º 3, o conceito de «exploração» que é, sem dúvida, um conceito muito importante para a matéria que nos ocupa. É mais uma das falhas do legislador 
nacional que, no caso concreto, não nos parece que lhe deva ser atribuído outro significado que não o de mero lapso legislativo.”
30 ROCHA, Maria Victória. op. cit., p. 788.
31 BESSA, Tiago. op. cit., 1203.
32 Artigo 43, nº5 do CDADC “O exclusivo outorgado caduca, porém, se, decorrido o prazo de sete anos, a obra não tiver sido utilizada”.
33 Sobre o tema vide SÁ E MELLO, Alberto. op. cit., 185 e ROCHA, Maria Victória. op. cit., p. 789.
34 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE op. cit., p.184.
35 BESSA, Tiago. Op.cit., p. 1206.
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sediados nos países que não tenham licença para explorar 
a obra.
Por outro lado, é importante salientar que dentro da União 
Europeia está consagrada a regra ou princípio do esgotamen-
to. O artigo 68, nº 5 do CDADC36 determina que a partir da 
primeira venda ou distribuição lícita de uma obra, da-se início 
ao esgotamento do direito de distribuição da obra original ou 
de suas cópias (enquanto exemplares da obra original).
Uma vez autorizada a circulação de uma obra em um estado 
membro da União Europeia, essa autorização se expande para 
os outros estados membros. Significa dizer que “após a primeira 
autorização de distribuição da obra, as demais cópias podem 
circular livremente no mercado da União Europeia, sem que o 
titular do direito de exclusivo possa opor à sua venda, importa-
ção, distribuição”37 e tão pouco poderá participar dos resulta-
dos da exploração e controlar futuras alienações dos exempla-
res como de segunda mão ou em leilões, por exemplo.38
Assim, as limitações territoriais impostas no contrato de licen-
ça, não prevalecem em relação à regra do esgotamento que 
prevalece na União Europeia. 
4.5 – Preço da licença
Presume-se que as licenças sejam onerosas, mas não quer di-
zer que não possam ser celebradas à título gratuito. Da mesma 
forma não é obrigatório que a contrapartida do preço seja 
sempre um valor pecuniário. Essa presunção de onerosidade 
decorre do artigo 67, nº 2 do CDADC, mas a retribuição pode 
ser acordada entre as partes e pode consistir em “uma quantia 
certa global; em uma porcentagem sobre as receitas de cada 
ato de exploração da obra (ex: venda de cada exemplar ou 
cada ato de comunicação ao público); numa quantia concreta 
por cada ato de exploração ou qualquer outra forma estabe-
lecida no contrato”39 por acordo entre as partes.
Por outro lado, a falta de estipulação de remuneração pelas 
partes durante a celebração do contrato poderá ser suprida 
com a provocação de um tribunal que fixe uma remuneração 
equitativa para o autor.
Outro aspecto que está relacionado com o preço da licença 
é a complementação suplementar, ou compensação por lesão 
enorme que está regulado no artigo 49º do CDADC. Tendo o 
contrato sido acordado entre as partes, especificando o valor 
devido ao autor em contrapartida pela licença para explorar 
economicamente a obra, mas verifica-se que houve uma des-
proporção entre o que o autor recebeu em termos de contrapar-
tida patrimonial40 pelo licenciamento da obra e o que o licen-
ciado auferiu de lucro com a exploração econômica da obra. 
Para haver a compensação complementar exige-se que tenha 
ocorrido uma transmissão ou oneração do direito de explora-
ção da obra à título oneroso pelo criador intelectual da obra 
e que se verifique uma “grave lesão patrimonial em virtude de 
uma manifesta desproporção entre os proventos do disponen-
te e os lucros auferidos pelo beneficiário.”41
Não obstante, o artigo 49º, nº 3 exclui o pagamento à título 
de compensação complementar se o preço especificado no 
contrato tiver sido fixado por porcentagem. Entretanto, ainda 
nesta situação, cabe verificar se a porcentagem não foi mani-
festadamente desproporcional e inferior ao que é praticado.
Menezes Leitão advoga em favor da remuneração por porcen-
tagem, pois, dessa forma, evitaria futuras lesões “pelo facto de 
a obra produzir lucros inesperados sem correspondência com 
a remuneração acordada.”42
 
36 Artigo 68, nº 5 “Os actos de disposição lícitos, mediante a primeira venda ou por outro meio de transferência de propriedade, esgotam o direito de dis-
tribuição do original ou de cópias, enquanto exemplares tangíveis, de uma obra na União Europeia. ”
37 BESSA, Tiago. Op.cit., p. 1206.
38 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. cit., p.129, nota 208.
39 BESSA, Tiago, op. cit., 1208.
40 Ou qualquer contrapartida patrimonial que se entenda como meio de remunerar o autor, seja valor pecuniário ou qualquer outro dos quais já se mencionou 
no contexto deste tópico.
41 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., p. 140.
42 Ibidem, p.140.
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Salienta-se que a suplementação complementar caduca se 
não for invocado o direito à recebe-lo dentro de um prazo de 
2 (dois) anos a contar do conhecimento da lesão patrimonial 
sofrida, redação do artigo 49º, nº 4 CDADC. 
O Código de Direito de Autor ainda prevê dois casos especiais 
de compensação suplementar. O primeiro diz respeito à enco-
menda de obra intelectual43 (artigo14º, nº4 CDADC) e relativo 
ao contrato de tradução (artigo 170º CDADC). Na primeira 
situação é atribuído ao criador intelectual uma remuneração 
especial para além do que foi estabelecido no contrato, ten-
do em vista que a criação excedeu em desempenho ou tarefa 
para o qual foi contratado ou se as utilizações que estavam 
especificadas para exploração conferirem vantagens que não 
estavam dispostas no contrato no momento de sua celebra-
ção e que de algum modo deixou de ser atribuído ao criador 
intelectual.
No que tange ao contrato de tradução, também será devida 
quando o editor ultrapassar os limites do que fora contratado, 
ou fazer jus à outro modo de utilização que não tenha sido 
convencionado entre as partes. Note-se que não se trata de 
uma compensação por haver uma lesão em relação ao que 
foi fixado, como no caso atribuído ao criador intelectual, mas 
de ter havido um desrespeito ao que foi acordado no contrato 
de tradução44.
Todos os elementos que o legislador exigiu que estivessem pre-
sente no contrato de licença ou exploração da obra a forma de 
utilização, forma do contrato, prazo da licença, território da li-
cença e preço da licença e que constituem juntos um conteúdo 
mínimo para que haja a proteção do criador de uma obra. A 
falta de especificação de algum desses conteúdos e da forma 
apontada gera nulidade do contrato.
5• Modalidades de licenças
5.1 – Voluntárias, obrigatórias e legais ou 
compulsórias
Como já fora dito anteriormente, as licenças são autorizações 
que o criador concede à um terceiro para que explore econo-
micamente a obra, dispondo de ampla liberdade negocial. As 
licenças voluntárias expressam a vontade do titular do direito 
de autor na celebração de um contrato para que uma entida-
de ou pessoa explore economicamente a sua obra intelectual 
segundo uma ou mais modalidades de utilização.
No caso das licenças obrigatórias e legais o autor fica compelido 
em permitir a utilização da obra por uma entidade ou um tercei-
ro. A diferença entre a licença legal e a obrigatória está no fato 
de que nas licenças legais a utilização da obra poderá ser feita 
livremente sem o consentimento do autor. Contudo, o utilizador 
deverá pagar ao autor uma remuneração em contrapartida.
Já nas licenças obrigatórias a exigência da permissão do autor 
para fazer jus à utilização de uma obra pode ser suprimida por 
meio da via administrativa ou judicial 45. O artigo 53º do CDA-
DC permite que a supressão da autorização do autor pode ser 
solicitada por meio da via judicial através de um processo de 
suprimento do consentimento.
Dessa forma, as licenças legais e compulsórias consistem em 
uma imposição sob a autonomia do autor sobre a sua obra46. 
5.2 – Onerosas e Gratuitas
Presume-se que as licenças sejam onerosas, ou seja, que haja 
uma contrapartida patrimonial, seja ela um valor pecuniário 
ou outras formas de aproveitamento patrimonial que o autor 
possa receber como remuneração pelo trabalho intelectual.
Por outro lado, existem as licenças à título gratuito no qual o 
titular dos direitos de autor não visa a exploração econômica 
da sua obra, motivado por ideologias e princípios que segue. 
Nesse sentido o autor abdica do direitos referente à proteção 
da obra e permite a sua utilização livre ou determinando a 
possibilidade de algumas utilizações.47 Geralmente o autor ao 
licenciar a obra à título gratuito, permite e espera contribuições 
de outros autores para melhoria da sua obra.
As licenças à título gratuito são conhecidas como licenças co-
pyleft e são designadas como licenças atípicas. Acredita-se 
que enquadrá-la no termo “atípico” seja a melhor designação 
para essas licenças, pois no creative commons, por exemplo, 
há possibilidade de explorar economicamente um tipo de utili-
zação da obra e não onerar outras formas de utilização.
 
43 Os “contratos de encomenda de criação intelectual são aqueles em que o criador se obriga, geralmente contra remuneração, a produzir ou a transformar 
uma obra intelectual para outra pessoa, à qual não está subordinado por relação laboral” ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Contratos da Propriedade Intelectual: 
Uma síntese. In: ALMEIDA, Carlos Ferreira de; GONÇALVES, Luís Couto; TRABUCO, Cláudia (Org.). Contratos de Direito de Autor e de Direito Industrial. 
Coimbra: Almedina, 2011. p. 9-24.
44 Ibidem, p.140.
45 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., p. 166-168.
46 SÁ e MELLO, Alberto de. op. cit., p. 41.
47 Ibidem, p. 357. 
48 O nome Copyleft - all rigths reversed nasce do trocadilho entre Copyright – all rigths reserved. ‘A sua nomenclatura e principal conotação tanto jocosa quanto 
crítica é originada de um mero trocadilho com o termo “copy + right”, literalmente convertido em “copy + left” razão pela qual o seu símbolo é o © indicativo 
do Copyright ao contrário (espelhado). Todavia, observa-se também que, a partir de conjugações do verbo to leave (deixar), inclusive em vários tempos verbais, 
a flexão “left” tem-se um novo sentido, cuja tradução livre para a língua portuguesa significa ‘deixe copiar’. 
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49 Segundo Vanessa Sabino, “em 27 de setembro de 1983, Richard Stallman postou uma mensagem nos newsgroups net.unix-wizards e net.usoft com o assunto 
new Unix implementation. Nessa mensagem, ele informa que está começando a escrever um sistema compatível com o UNIX (Sistema operacional multi-tarefas 
e multi-usuários criado em 1969 por um grupo da AT&T) chamado GNU (um acrônimo recursivo para Gnu’s Not Unix) e que ele será dado a todas as pessoas 
interessadas” em SABINO, Vanessa Cristina. Um estudo sistemático de licenças de software livre. 2011. 116 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mate-
mática, Matemática e Estatística, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: <www.teses.usp.br/teses/disponiveis/45/45134/tde-14032012-
003454/en.php>. Acesso em: 28 dez. 2017, p. 6 – 7.
50 SANTOS, M. S. DOS. op. cit., p. 156. 
51 Disponível em http://www.softwarelivre.gov.br/noticias/CcGpl. Acesso em 28/01/2018.
52 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., p. 357.
53 SANTOS, M. S. DOS. op. cit., p. 156.
54 No Brasil não impedimento para o uso das licenças Copyleft, tendo em vista que o direito brasileiro regula as liberdades e restrições voltadas principalmente 
para o campo do núcleo patrimonial do direito de autor e o copyleft visa, dentre outros objetivos, preservar a paternidade da obra. SANTOS, M. S. DOS. op. 
cit., p. 156. 
55 Trata-se de uma entidade internacional que conglomera os representantes do Creative Commons de todo o mundo ligados à área de propriedade intelectual 
e de tecnologia da informação cujo objetivo é o de promover inovação e criatividade à partir de participação ativa nas áreas culturais, de tecnologia e do 
conhecimento humano. Disponível em https://creativecommons.org/. Acesso em 25/01/2018.
56 LIMA, João Ademar de Andrade. Novos olhares sobre o direito autoral na era da música digital. 2010. 40 f. Monografia (Especialização) - Curso de Especia-
lização em Direito da Tecnologia da Informação, Faculdade de Direito, Universidade Gama Filho, Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.joaoademar.qlix.
com.br/monografia_ugf.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2018, p. 24.
57 SIMÕES JUNIOR, João Carlos. Licenças Creative Commons. 2007. 54 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito, Universidade de 
Lisboa, Lisboa, 2007. P. 41 - 42.
5.2.1 – Copyleft
O Copyleft, cujo lema é all rights reversed48 teve origem em 
1980 com o surgimento do software livre 49 que “se baseia noprincípio do compartilhamento de conhecimento e na solida-
riedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede 
mundial de computadores”50 Pelo movimento de software livre 
os programas de computador tem o código – fonte acessível 
para qualquer pessoa devido a disponibilização pelo titular do 
direito gratuitamente. Para além disso, o movimento segue os 
seguintes princípios 1. o direito de estudar como o programa 
funciona, com acesso ao seu código-fonte; 2.a liberdade de 
executar o programa para qualquer finalidade; 3. a possibili-
dade de aperfeiçoar e modificar o programa e 4. o direito de 
distribuí-lo livremente .
Em oposição ao direito autoral clássico, o Copyleft garante a 
todos a faculdade de usar, modificar e distribuir a obra, tanto 
na versão original quanto na versão derivada52.
Apesar o autor abdicar os direitos patrimoniais sobre a obra a 
licença Copyleft obriga a todos os licenciados a fazerem refe-
rência ao autor e a utilizarem o mesmo tipo de licenciamento 
para as obras derivadas.53 54 Nessa perspectiva surge o Creati-
ve Commons que é uma modalidade de licença.
5.2.2 – Creative Commons
A licença Creative Commons foi idealizada pelo americano 
Lawrence Lessing, professor da Universidade de Stanford – Es-
tados Unidos, em 2001 como resposta ao all rights reserved 
(todos os direitos reservados) do Copyright e a sua ideia era ter 
alguns direitos reservados (Some Rights Reserved). A proposta 
inicial do Creative Commons foi publicada em 16 de dezem-
bro de 2012. O nascimento da Licença deu origem ao projeto 
I Commons (International Commons)55 e trata-se de uma or-
ganização sem fins lucrativos “criada para o desenvolvimento 
de métodos e tecnologias que facilitem o compartilhamento 
social de obras intelectuais e científicas”56 em todo o mundo.
Além disso, a organização Creative Commons tem o intuito 
de solucionar problemas na seara legal que estejam ligadas 
às licenças de criações intelectuais, adaptando as licenças 
ao ordenamento jurídico e particularidades jurídicas de cada 
país. Para isso, houve o auxílio de universidades e órgãos in-
teressados em colaborar para que se evitasse conflitos com as 
respectivas normas legais dos países que aderissem as licenças 
Creative Commons 57.
Segundo Luiz Menezes Leitão, o autor que recorre à esta licen-
ça permite que terceiros façam jus à certas utilizações da obra, 
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conservando os direitos e autor que a mesma possui58 O autor 
da obra pode licenciar qualquer obra intelectual passível de 
proteção pelo direito de autor e permitir que a coletividade use 
suas obras de acordo com o tipo de licença escolhida.59 
Pelo Creative Common, o autor pode escolher proteger to-
dos os direitos, alguns direitos ou nenhum direito sobre a suas 
obras. Não se trata de não ter “nenhum direito reservado”, 
mas proporcionar uma flexibilidade ao sistema rígido dos di-
reitos autorais 60. Através das Licenças Creative Commons, o 
autor conserva os direitos morais, ainda que permita a sua 
utilização.”61
5.3 – Tipos de licenças 62
Há quatro tipos básicos de licenças no Creative Commons:
1. Atribuição (BY)
Esta licença permite ao licenciado distribuir, copiar, executar, 
exibir e fazer uso comercial ou criar obras derivadas a partir 
da obra original, exigindo-se apenas que se dê os créditos ao 
autor original da obra. Essa é a licença menos restritiva do 
Creative Commons.
2. Uso não comercial (NC)
Adotando esta licença o autor permite a distribuição, exibição 
e cópia da obra original e de obras derivadas, mas somente 
sem fins lucrativos, ou seja, para atividades não comerciais, 
essa licença não são onerosas, por esse motivo podem ser 
consideradas licenças à título gratuito.
3. Não a obras derivadas (ND)
Este tipo de licença permite ao licenciado copiar, distribui, exe-
cutar apenas obras originais, ficando vedada a distribuição de 
obras derivadas. 
4. Compartilhamento pela mesma licença (SA)
As obras derivadas somente poderão ser compartilhadas so-
mente sob uma licença igual à que foi destinada a obra origi-
nal. Salienta-se que esta condição só se aplica às obras deri-
vadas. Ressalta, Manuella Santos 63 que adotando esta licença 
o autor permite que outras pessoas distribuam obras derivadas 
da sua, mas isso não implica em dizer que uma licença não 
pode conter as opções de compartilhamento pela mesma li-
cença, além de ter a licença de “não à obras derivadas”.
5. CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL64 
As licenças CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL foram criadas em 
2003 durante a II Rodada de Compartilhamento de Software 
Livre e são criações genuinamente brasileiras e compartilham 
da filosofia de compartilhamento de tecnologia, conhecimento 
e obras para uma comunidade com objetivo de que se tornem 
um patrimônio criativo em comum.
As duas licenças, possuem os quatro direitos basilares do sof-
tware livre: 1. o direito de estudar como o programa funciona, 
com acesso ao seu código-fonte; 2. a liberdade de executar 
o programa para qualquer finalidade; 3. a possibilidade de 
aperfeiçoar e modificar o programa e 4. o direito de distribuí
-lo livremente.65 
5.4 – Combinação de licenças de uso regular
As licenças podem ser combinadas entre si para se adequarem 
aos interesses do criador da obra. Há seis combinações de 
licenças de uso regular e a apresentação dos tipos de licença 
será feita da menos restritiva para a mais restritiva:
1. Atribuição + Compartilhamento pela mesma licença (BY + 
SA) 
Por esta combinação de licenças o autor permite o uso comer-
cial de sua obra e a criação de obras derivadas. Entretanto, 
deve-se dar os devidos créditos ao autor da obra original e as 
obras derivadas devem seguir as mesmas regras de licencia-
mento da obra original.
 
58 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit.,360.
59 SANTOS, M. S. DOS. op. cit., p. 158.
60 SIMÕES JUNIOR, João Carlos. op. cit., 21.
61 Disponível em https://br.creativecommons.org/licencas/. Acesso em 28/01/2018.
62 Todos os símbolos foram retirados do site http://creativecommons.pt/cms/view/id/28/. Acesso em 15/01/2018.
63 SANTOS, M. S. dos. op. cit., p. 165.
64 As licenças CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL são “resultado do trabalho do Grupo de Estudo sobre licenciamento em Software Livre, constituído pelo Comitê 
Técnico de Implementação de Software Livre, é considerado pela Creative Commons e Free Software Foundation, que se juntam na publicação da licença deno-
minada CC-GNU GPL. A versão em português é assim a primeira a ser lançada e o Governo Brasileiro é o primeiro a adotá-la” e a “A união inédita das duas 
licenças e entidades deveu-se em razão da iniciativa do governo brasileiro em adotar o uso e o desenvolvimento de software livre. ”Disponível em http://www.
softwarelivre.gov.br/noticias/CcGpl. Acesso em 28/01/2018.
65 No contexto da criação das licenças o professor de Direito da Universidade de Standford e presidente da Creative Commons, Lawrence Lessig, afirmou que 
a criação e adoção pelo Governo Brasileiro das licenças a partir da filosofia do Creative Commons “Trata-se de um momento histórico. As licenças CC-GNU 
GPL e CC-GNU LGPL são produtos genuinamente brasileiros. O Brasil ensina assim a todos nós uma lição importante e útil” e o quão era “importante é o 
papel do Brasil na tentativa de estabelecer um equilíbrio no debate atual a respeito de propriedade intelectual” Disponível em http://www.softwarelivre.gov.br/
noticias/CcGpl. Acesso em 28/01/2018.
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2. Atribuição + não as obras derivadas (BY + ND) 
Essa licença permite a redistribuição, comercial ou não co-
mercial, desde que a obra seja utilizada na íntegra e sem 
alterações. Exige-se também, que seja dado os créditos ao 
autor da obra. 
3. Atribuição + Uso não comercial (BY + NC) 
De acordo com essa licença o autor permite o uso amplo de 
sua obra, desde que não seja para obtenção devantagem 
econômica. Por esta combinação de licenças, também se 
exige que seja dado os créditos ao autor da obra.
Como não foi licenciada sob Compartilhamento pela mes-
ma licença as obras derivadas podem ser licenciadas sob 
outros termos66.
4. Atribuição + Uso não comercial + Compartilhamento 
pela mesma licença (BY + NC + SA) 
Por esta combinação de licenças, o autor permite que ou-
tras obras adaptem e criem obras derivadas com destinação 
não comerciais, desde que atribuam os créditos ao autor. 
Além disso, as obras derivadas deverão 
5. Atribuição + Uso não comercial + Não a obras deriva-
das (BY + NC + ND) 
Essa é a licença mais restritiva, pois veda o uso comercial 
e a criação de obras derivadas é habitualmente chamada 
de “propaganda grátis”, pois permite que outras pessoas fa-
çam download da obra e a compartilhem, desde que men-
cionem o autor e não utilizem para fins comerciais67.
Esta é uma licença que é mais utilizada do Creative Com-
mons e não permite o uso comercial a obra. Permite a am-
pla divulgação da obra, mas o autor mantém o controle 
sobre a sua exploração comercial. Dessa forma, havendo a 
execução de uma música, por exemplo, em algum meio de 
comunicação como a rádio ou televisão, os direitos de autor 
deverão ser recolhidos normalmente68.
5.5 – Singular e Multi-obras
A licença também será designada de acordo com o seu obje-
to, se com várias obras ou somente uma. Nesse sentido, uma 
licença singular tem como objeto somente uma obra. A multi
-obras abrange mais de uma obra.
O artigo 85.º CDADC admite expressamente que o contrato 
de edição tenha por objeto uma ou mais obras, pelo que é 
perfeitamente admissível uma licença multi-obra, ou seja com 
várias obras. Não obstante, pode haver especificação das uti-
lizações autorizadas pelo criador para cada obra de acordo 
com o que fora celebrado entre as partes. 
5.6 – Individuais e Coletivas
As licenças individuais têm como beneficiário uma única pes-
soa para ser o recebedor da remuneração advinda da explo-
ração econômica da obra intelectual. Já as licenças coletivas 
abrangem vários destinatários que foram indicados no título 
da licença. As licenças coletivas normalmente são utilizadas 
por organismos de gestão coletiva de direitos de autor no ge-
renciamento de suas obras.
Para os autores era muito mais difícil, que na atualidade do 
mundo virtual, fazerem individualmente a gestão dos seus inte-
resses devido a multiplicidade de utilizações, de utilizadores e 
sem ferramentas adequadas que lhe pudessem auxiliar nessa 
administração das obras. Foi nesse contexto, com intuito de 
superar essas dificuldades enfrentadas pelos titulares dos di-
reitos de autor que surgiram as entidades de gestão coletiva 
(EGC), constituídas em rede, com organizações para fazerem 
a gestão das obras dos autores que estavam impossibilitados, 
por algum motivo, de fazerem esta gestão individualmente 69. 
 
66 SANTOS, M. S. dos. op. cit., 167.
67 Ibidem, p. 168.
68 Ibidem, p. 168. 
69 SERRA, Lucas. As novas perspectivas da gestão colectiva do direito de autor e do licenciamento multiterritorial de obras protegidas. In: ASSOCIAÇÃO POR-
TUGUESA DE DIREITO INTELECTUAL (Portugal) (Org.). Revista de Direito Intelectual. Lisboa: Almedina, 2016. p. 65-76.
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Os autores não podendo assegurar individualmente a gestão 
de sua obra passa a se associar à outros autores, criando “or-
ganismos especializados que realizem essa gestão.”70 
Ao integrar um organismo de gestão coletiva, o autor autoriza 
por meio de uma licença coletiva, juntamente com outros auto-
res, que a entidade de gestão coletiva explore em larga escala o 
direito de controlar, receber e distribuir a remuneração que adve-
nha da utilização das obras. A questão que se coloca neste âmbi-
to está na forma como a divisão dessa remuneração é realizada 
e que causa desconforto aos criadores intelectuais pois a distri-
buição da remuneração é feita conforme os seus interesses e não 
conforme o que seja melhor para ao autor ou mais adequado.71
5.7 – Exclusivas e não exclusivas
O direito intelectual é um direito de exclusivo, ou de monopó-
lio. O direito de autor está inserido dentro de uma grande área 
cuja designação é “propriedade intelectual”. O termo proprie-
dade já designa tratar-se de algo que pertence à uma pessoa, 
seja ela física ou não. O advogado francês Louis d’Héricourt, 
em causa no qual litigavam os livreiros de Paris e das pro-
víncias, argumentou que pela criação os autores se tornavam 
proprietários de suas obras, podendo dispor de sua proprieda-
de ou se interpor contra intervenção de terceiros.72
 
Nesse sentido, quando o titular dos direitos de autor licencia 
uma obra intelectual gera para si obrigações que vão além de 
proporcionar o uso do bem intelectual pelo licenciado.
Uma das obrigações que o licenciante tem para com o li-
cenciado é garantir que este consiga gozar plenamente do 
direito como licenciado. Ou seja, o licenciante fica obrigado 
em manter o gozo pacífico do direito do licenciado durante o 
tempo que o contrato de licença estiver vigendo e nos termos 
celebrado pelas partes.
Com isso, o licenciante se compromete a não realizar uma 
nova licença para um terceiro nos mesmos termos já licencia-
do para uma pessoa ou entidade, ou com conteúdo que possa 
conflitar com os interesses do primeiro licenciante. Por esse 
motivo o licenciante não pode autorizar que uma pessoa ex-
plore economicamente uma obra, determinar na licença o seu 
conteúdo e depois para outra pessoa conceder uma licença 
com o mesmo conteúdo.
Acaso conceda nova licença com o conteúdo idêntico ao an-
teriormente concedido, estará violando o seu compromisso 
obrigacional de proporcionar ao primeiro licenciado todos os 
meios de satisfação do seu crédito, já que o prejuízo comercial 
causado ao primeiro licenciado pela segunda autorização o 
atinge diretamente nas possibilidades de exploração econômi-
ca da obra licenciada.
Havendo o incumprimento da relação obrigacional o licen-
ciante ficará impelido em indenizar o licenciado pelos prejuízos 
que lhe foram causados. 
A lei presume caráter não exclusivo das licenças em caso de 
não haver nenhuma informação no contrato com essa indi-
cação. Entretanto, para edição (art. 88º, nº 3 do CDADC) e 
para a produção cinematográfica (Art. 128º, nº1 do CDADC) 
a lei de direito de autor as presume exclusivas, salvo se houver 
estipulação das partes em contrário. Essas licenças têm eficá-
cia erga omnes contra a atuação de terceiros que possam vir 
a interferir no gozo da exploração econômica do licenciado.
A licença não exclusiva permite que o titular do direito patri-
monial de autor conceda licenças para terceiros com conteúdo 
potencialmente conflitante com a licença anteriormente conce-
dida, sem que, com isso, entre em incumprimento contratual. 
O direito exclusivo, pode ainda ser dividido em positivo e ne-
gativo. No primeiro caso a exclusividade tem conceito material 
e implica oponibilidade à terceiros e nesse sentido tem caráter 
absoluto, universal, total e completo; e por consequência pres-
supõe que somente um licenciado possa fazer jus do direito de 
aproveitamento da obra73.
No sentido negativo, há somente uma possibilidade de impedir 
a interferência de um terceiro e a exclusividade se limitaria em 
um tempo e espaço de acordo com o que estiver determinado 
na licença e que foi acordado pelas partes e implica uma obri-
gação non facere.74 
Fica patente que a atribuição de uma licença exclusiva exerce 
limitação ao autor ao mesmo passo que garante ao licenciado 
uma proteção para que não tenha o seu direito de gozar do 
aproveitamento da obra sem perturbações de terceiros. Nes-
se sentido, as licenças com exclusivo de exploração possuem 
eficácia erga omnes. Não se aprofundará na eficácia dos con-
tratos de licença ou autorização neste momento para se tratar 
em mais adiante em capítulo exclusivo.
5.8 – Regionaise multiregionais, nacionais 
e multinacionais
As licenças podem ser concedidas visando um território de 
atuação e inclusive esta delimitação geográfica é uma exi-
 
70 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., 170.
71 José Alberto Vieira no artigo sobre ‘A cópia privada e o seu regime de compensação’ esclarece “as receitas das entidades de gestão coletiva, que distribuem 
o dinheiro a seu belo prazer, sem um controlo adequado, deixando sem a compensação adequada os titulares de direitos cuja exploração económica (...)”. 
VIEIRA, José Alberto. A cópia privada e o seu regime de compensação. Nº 01 – 2016. Revista de Direito Intelectual, Lisboa, p.51-64, jun. 2016. Semestral.
72 MENEZES LEITÃO, L. M. T. DE. op. cit., p. 26 - 27.
73 Antônio de Macedo Vitorino, citando Dietz, diz que “a concessão de uma licença exclusiva e universal seria equivalente a uma transmissão” VITORINO, 
António de Macedo. Op. cit., p.73.
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74 VIEIRA, José Alberto. O contrato de Concessão Comercial, p. 42 apud VITORINO, António de Macedo. Op. cit., p.74.
75 TIAGO, Bessa. op. cit., p. 1217. 
76 Vide nota de rodapé 50.
77 REZENDE, Antônio Martinez de; BIANCHET, Sandra Braga. Op. cit., p. 2058.
78 Ibidem, p. 2053.
79 Nas palavras de Alberto Sá e Mello “ a transmissão pode ser total ou parcial, não consentindo a letra da lei e o sentido da norma que se negue a admis-
sibilidade da transferência – com caráter temporário ou definitivo – de apenas uma das faculdades integrantes do direito do autor (transmissão parcial). SÁ e 
MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 41. José Oliveira Ascensão denomina “transmissão parcial é na verdade oneração parcial, visto que o direito de autor não se 
desmembra, antes ficando comprimido (onerado) quanto às faculdades ‘transmitidas’”. ASCENSÃO, José de Oliveira. Op. cit., p. 381 e segs. Vide também SÁ 
e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 41, nota de rodapé nº 7.
80 ASCENSÃO, José de Oliveira. Op. cit., p. 101. 
81 Ibidem, p. 102. Vide também SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 41.
gência do legislador português como fora visto no capítulo 
dedicado à ‘Forma e conteúdo do contrato de licença’. Ini-
cialmente, cumpre clarificar o que se entende sobre licenças 
regionais, multiregionais. Essas licenças serão importantes em 
países, como o Brasil que dado a sua extensão geográfica há 
grandes diferenças culturais e consequentemente a produção 
intelectual sofrerá interferências externas e se distinguirá das 
demais regiões do mesmo país. Também serão importantes as 
licenças regionais e multiregionais em países com distinções 
legais75. No mesmo sentido, as licenças nacionais e multina-
cionais determinarão o país ou países no qual a obra intelec-
tual será explorada. 
Dessa forma, ao determinar o conteúdo territorial da licença 
as partes definirão em quais regiões de um determinado país 
ou países a obra será explorada economicamente. Por outro 
vértice, entende-se que a delimitação de em quais países será 
explorada a obra somente será necessário se forem países no 
qual não há alcance do princípio do esgotamento76.
6• A eficácia das licenças contratuais 
Como fora clarificado anteriormente, as licenças ou autoriza-
ções podem ser consideradas como o ato de outorgar à um 
terceiro as faculdades de utilização de uma obra de acordo 
com uma ou mais modalidades, ficando este na titularidade 
dos direitos patrimoniais da obra sem que haja “transmissão” 
de qualquer parcela do direito de autor ao licenciado.
A transmissão, palavra que vem do latim transmittere77 significa 
enviar para ao lado de lá, está ligado com o significado de 
envio de uma mensagem de enviar algo para outrem. Já o ter-
mo transferir, que vem do latim transferre78 significa transportar 
para ou mudar; e está intrinsecamente ligado ao sinônimo de 
translatum, ou seja transladar, tirar da esfera de alcance de 
uma pessoa para colocar na de outra. A distinção destes ter-
mos utilizados no escopo das licenças se faz necessária para 
compreender o espírito do legislador quando determinou que 
os direitos sobre a obra podem ser transmitidos, contudo não 
podem ser transferidos79.
A lei brasileira de direitos de autor fala em transmissão dos 
direitos à terceiros por meio do licenciamento, cessão ou con-
cessão. Sendo que a cessão é o negócio jurídico que transmite 
a titularidade dos direitos patrimoniais de autor. Entende-se 
que o legislador brasileiro se equivocou na redação do texto 
normativo ao usar o termo transmissão para se referir ao li-
cenciamento.
Nesse sentido, tendo em vista que ao licenciar uma obra o 
autor não transfere os seus direitos para o licenciado, apenas 
faculta-lhe a exploração econômica destes há uma transmis-
são de direitos que é diferente de uma transferência de direitos. 
Não há outorga de qualquer parcela do direito do autor ao 
licenciado. Para José Oliveira Ascensão o CDADC “é claro na 
orientação que estabelece e na terminologia que adopta”80, 
no que tange ao artigo 40º do CDADC.
Essas transmissões podem ser parciais ou totais (integral). As-
sim a transmissão parcial se dá quando o autor mantém a 
titularidade sobre a obra, mas permite que um terceiro explore 
as faculdades integrantes do direito do autor. Já no caso da 
transmissão total ou integral o direito sobre a obra passa da 
sua esfera jurídica para a de outrem81.
Compreende-se que a transmissão total esteja erroneamente 
denominada no código de direito de autor, pois trata-se de 
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uma transferência, sob o viés etimológico82 pois o direito do 
autor sai de sua esfera jurídica para integrar a de um terceiro. 
Pois bem, caberá às partes definir no contrato o conteúdo e 
dos efeitos das transmissões, onerações e licenças de utiliza-
ção da obra em suas esferas jurídicas. Neste ponto, tratar-
se-á somente dos efeitos que as licenças ou autorizações de 
exploração econômica no âmbito dos direitos do licenciado e 
do licenciante. 
Ao atribuir uma licença de exploração econômica sobre a sua 
obra, o licenciante discrimina no conteúdo no contrato de li-
cença e este constituirá um instrumento que presumir-se-á não 
exclusivo 83, como determina o artigo 41º, nº 1 do CDADC.
Então como fica a eficácia das autorizações de exploração 
econômica perante terceiros se se presumem não exclusivas? 
Há quem defenda que as autorizações tem natureza obriga-
cional 84. Outros já advogam no sentido de que o caráter re-
lativo do direito atribuído pela licença, por assim serem, não 
conferem ao licenciado a oponibilidade a terceiros 85. 
Entretanto, quando se tem a celebração de um contrato de 
licença no qual o licenciante faculta ao licenciado a faculdade 
de exploração da obra há a constituição de um novo direito 
na esfera jurídica do licenciado 86. Esse ex novo permite que o 
licenciado faça jus do direito de exclusivo nos limites e condi-
ções determinados no contrato pelas partes, para que se opo-
nha à terceiro e que lhe proporcione “um direito pessoal de 
gozo”87 e devido aproveitamento econômico da obra88. Sa-
liente-se que o objeto do direito pessoal de gozo pode ser uma 
coisa incorpórea89. Apesar disso, o direito de gozo pessoal de 
obra incorpórea ainda é controverso na doutrina, não sendo, 
portanto, questão pacífica. 
Desse modo, sob a ótica do direito obrigacional as licenças 
teriam somente eficácia obrigacional que vincularia as partes 
e por esse ângulo o licenciante não poderá conceder licen-
ças incompatíveis entre si, impossibilitando a efetiva explora-
ção econômica da obra pelo licenciado. Lembrando que as 
licenças por não serem à prima facie exclusivas, permitem que 
o autor conceda mais de uma licença sobre a mesma obra, 
entretanto, não deve conceder a outro uma licença sobre a 
mesma obra e com o mesmo conteúdo de tempo, lugar e pre-
ço da anteriormente concedida90.
Ao conceder uma licença idêntica à anteriormente concedi-
da, o autorestá violando o compromisso obrigacional firmado 
com o licenciado, causando-lhe um prejuízo patrimonial ao 
impedir-lhe o pleno gozo de seu direito de exploração eco-
nômica da obra e deve indenizar o licenciado pelos prejuízos 
causados.
Em caso de incumprimento do contrato, com prejuízo para 
o licenciado, o licenciante responder pelos danos causados 
aquele inclusive responde, do pelos danos emergentes que seu 
ato causou91. Isso porque, o contrato referente a qualquer bem 
intelectual está sujeito ao regime geral do Direito Privado rela-
cionado com o incumprimento destes contratos.
Por outro lado, uma licença pode ser concedida como exclusi-
va e nesse sentido há duas situações em que há uma potencial 
incompatibilidade 1) entre duas licenças exclusivas e 2) entre 
uma licença não exclusiva e outra exclusiva.
Se duas licenças não exclusivas não têm potencial incompatibi-
lidade, o mesmo não ocorrerá entre uma licença não exclusiva 
e uma licença exclusiva e o conflito será resolvido nos termos 
do artigo 407º do CC português que determina que prevale-
cerá a licença que foi concedida à mais tempo, ou seja a mais 
antiga92.
 
82 Nesse sentido, “não é possível dar uma definição incontroversa dos conceitos legais de transmissão, total ou parcial, de oneração ou de autorização, porque 
as normas legais não observam a regra gramatical que manda não usar de homonímia na afirmação. É, porém, lícito admitir e propor hipóteses sobre o seu 
significado real no sistema vigente. Não foi estranha ao legislador a noção comum e doutrinária de transmissão, implicando a transferência ou cessão de fa-
culdades e poderes que se mantêm iguais na esfera do transmissionário ao que eram quando pertenciam ao transmitente; como também não lhe foi estranha 
a noção de oneração, definível como a constituição de um direito novo sobre a obra com a perda relativa no direito de raiz, ou seja, do direito patrimonial do 
autor. ” VITORINO, António de Macedo. A eficácia dos contratos de direito de autor. Coimbra: Almedina, 1995. p. 53. 
83 SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 44.
84 Nesse sentido Antônio de Macedo Vitorino esclarece que “ainda que admitamos que os contratos de direito de autor possam ser qualificados como reais ou 
obrigacionais, o critério de distinção não pode deduzir-se da noção comum de exclusividade. ” VITORINO, António de Macedo. Op. cit., p. 72.
85 ASCENSÃO, José de Oliveira apud SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 43.
86 Nesse sentido BESSA, Tiago. Op. cit., 104 e SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 43
87 TRABUCO, Cláudia. Contrato de edição. In: ALMEIDA, Carlos Ferreira de; GONÇALVES, Luís Couto; TRABUCO, Cláudia (Org.). Contratos de Direito de 
Autor e de Direito Industrial. Coimbra: Almedina, 2011. P. 294.
88 Acompanha a posição de Cláudia Trabuco BESSA, Tiago. Op. cit., 105 e SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 43.
89 No sentido de que os direitos pessoais de gozo podem ter como objeto uma coisa incorpórea Tiago Bessa esclarece que em relação ao direito pessoal de 
gozo “não existe um trabalho aprofundado no que toca aos direitos pessoais de gozo sobre coisas incorpóreas. A nosso ver, este aspecto não deve limitar a 
conclusão exposta no texto, até porque a figura dos direitos pessoais de gozo é genericamente admitida no seio do domínio do direito de autor” BESSA, Tiago. 
Op. cit., 105, nota de rodapé 226. Vide também, SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 43 e Nuno Pinto Oliveira, Direito das obrigações, vol. I, Almedina, 2005, 
p. 246 apud BESSA, Tiago. Op. cit., 105, nota de rodapé 227.
90 SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 46.
91 MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de. Os efeitos do incumprimento dos Contratos de Propriedade Intelectual. In: ALMEIDA, Carlos Ferreira de; GONÇAL-
VES, Luís Couto; TRABUCO, Cláudia (Org.). Contratos de Direito de Autor e de Direito Industrial. Coimbra: Almedina, 2011. p. 116.
92 BESSA, Tiago. Op. cit., 107.
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93 Segundo António Macedo Vitorino “só existirá incompatibilidade entre duas licenças se, pelo menos, uma delas for exclusiva, porque as licenças simples (não 
exclusivas) pressupõem a possibilidade de concorrência no gozo material da obra, à qual corresponde a definição formal da não-exclusividade da relação 
jurídica entre o dono da obra e o concessionário da faculdade de exploração” VITORINO, António Macedo. Op. cit., p. 204.
94 BESSA, Tiago. Op. cit., 108. 
95 MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de. Op. cit., p. 116.
96 TRABUCO, Cláudia. Op. cit., p. 281. 
97 Oliveira Ascensão entende que “se o autor não tem de assegurar, isso significa que o editor se pode assegurar sozinho” ASCENSÃO, José de Oliveira. Op. 
cit., p. 444. No mesmo sentido SÁ e MELLO, Alberto de. Op. cit., p. 55.0
õytesa1
98 MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de. Direito de Autor. Coimbra: Almedina, 2011. P. 202 – 203.
No que tange à incompatibilidade entre uma licença não ex-
clusiva e uma exclusiva pode-se dizer não existe um dano para 
o titular da licença não exclusiva pois esse está ciente que o 
autor poderá conceder outras licenças. Ocorre que se foi con-
cedida uma licença não exclusiva primeiro e depois uma licen-
ça exclusiva, o titular da licença exclusiva, ainda que tenha sido 
concedido após da licença não exclusiva, será prejudicado.
Nesse caso, o entendimento de António de Macedo Vitorino 
é de que não há qualquer prejuízo para o titular da licença 
exclusiva, pois nesse caso não há incompatibilidade entre as 
licenças93. Em sentido contrário Tiago Bessa advoga que a 
existência de uma licença não exclusiva pode limitar o direito 
pessoal de gozo do titular da licença exclusiva94. Esse caso, o 
titular da licença exclusiva poderá requerer que o autor res-
ponda pelos danos econômicos que lhe forma causados pelo 
incumprimento do contrato firmado e lhe concedia um exclusi-
vo de exploração econômica sobre a obra.95 
Certo é que as licenças não exclusivas não são oponíveis erga 
omnes e concedem ao licenciado um crédito patrimonial so-
bre a exploração econômica da obra, contudo, ainda que não 
sejam os contratos de licença não exclusivos devem seguir os 
princípios da boa fé contratual e dos demais princípios que 
regem a celebração de um negócio contratual.
Noutro vértice, a eficácia dos contratos de licenças exclusivas 
tem oponibilidade erga omnes. Presumem-se exclusivas as li-
cenças cujo objeto é a edição e para a produção cinematográ-
fica. O contrato de edição concede ao licenciante uma auto-
rização para explorar economicamente a obra exclusivamente 
ao editor, vetando a interferência de terceiros. Embora possam 
existir contratos de edição que não sejam exclusivos, não são 
frequentes96.
O titular de uma licença exclusiva de edição pode exigir do au-
tor que assegure97 o seu direito contra terceiros, notadamente 
contra a embaraços e turbações que esses terceiros possam 
lhe causar. Mas, dado o caráter hipossuficiente do autor em 
face ao editor, acredita-se que é mais eficiente que o próprio 
editor se assegure de tais atos de terceiros, pois tem mais me-
canismos de controle que o autor.
Não obstante, o autor ao conceder uma licença exclusiva 
de edição se compromete a não conceder uma nova licença 
da mesma obra, na mesma língua ou no estrangeiro en-
quanto não estiver esgotada a edição anterior ou o prazo 
determinado para a exploração econômica estipulado no 
contrato98.
7• Conclusão
Ao longo da evolução do direito de autor observa-se que o 
criador de uma obra nem sempre teve o controle e a recom-
pensa financeira pela exploração econômica advinda de sua 
criação. Muitos autores, dependeram de mecenas para so-
breviverem exatamente por não haver essa compensação fi-
nanceira pelo seu trabalho de criação. É notório que o autor, 
como fora durante tantos séculos, é a parte hipossuficiente na 
relação jurídica no qual é concedido uma autorização para 
exploração econômica de um modo ou mais de utilização 
da obra. 
As licenças ou autorizações compreendem

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