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cidadania e ética unid05

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Cidadania e Ética
Cidadania e Ética
1ª edição
2019
Autoria
Parecerista Validador
Francesco Napoli
Homero Nunes Pereira
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
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 5Unidade 55. Sistemas Políticos
Para iniciar seus estudos
Nesta unidade, veremos uma série de temas que frequentam nossas 
timelines nas redes sociais: direita, esquerda, democracia e contrato social. 
Como lidar filosoficamente com esses termos? Prepare-se para conhecer 
mais sobre os sistemas políticos do ocidente.
Objetivos de Aprendizagem
• Contrastar os espectros políticos de direita e esquerda a partir de 
suas formulações históricas.
• Diferenciar as teses contratualistas a partir de seus contextos 
históricos.
• Identificar o conceito de democracia de uma perspectiva 
iluminista.
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Cidadania e Ética | Unidade 5 - Sistemas Políticos
Introdução da unidade
Nesta unidade, você conhecerá os sistemas políticos do ocidente por meio de um estudo que, inicialmente, 
aborda as teses de contrato social de autores como Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Friedrich Nietzsche 
e Sigmund Freud. Buscaremos compreender as origens históricas dos conceitos de esquerda e direita a partir da 
Revolução Francesa, além de entender como esses termos aparecem na sociedade brasileira atual. Para tal, faz-se 
imprescindível compreendermos o conceito iluminista de democracia, que é a base de nossos sistemas políticos.
5.1 Sistemas políticos
5.1.1 O contrato social – natureza e cultura
Figura 23 – Pinturas pré-históricas
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
Os ancestrais do homo sapiens viviam, como todas as outras espécies, inseridos na natureza e se comportando 
de modo semelhante ao de qualquer primata. Em algum momento, nossos ancestrais desceram das árvores e 
constituíram as civilizações. Não se trata, porém, de um único evento, que teria acontecido de uma só vez, mas, 
sim, de um processo muito longo, repleto de descontinuidades, complexo e muito difícil de ser compreendido. 
Esse processo é um elemento essencial para compreendermos o conceito de “contrato social”. 
Vários autores propõem possibilidades de explicações para esse tema, que são conhecidas como teses 
contratualistas, ou seja, teorias que tentam explicar como se deu esse processo de ruptura com a natureza. Se os 
ancestrais do ser humano, assim como todas as outras espécies, estavam inseridos em um contexto selvagem, 
agindo conforme seus instintos, por meio de violência, tentando disfarçar os predadores e surpreender suas 
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presas, hoje, o que define a conduta de todos os Homo sapiens do planeta Terra é a cultura. Então, podemos dizer 
que houve, em certa medida, um processo de ruptura com a natureza em direção à cultura. 
Charles Darwin (1809-1882), naturalista britânico, conseguiu demonstrar que sua tese – a teoria da evolução 
– seria a melhor maneira de compreender a origem das espécies e convenceu a comunidade científica da 
ocorrência da evolução, propondo que ela se dá por meio da seleção natural e da adaptação. Esse fato corroborou 
as teses contratualistas que passaram a ser interesse de várias áreas das ciências humanas, desde a filosofia até a 
antropologia, a psicologia e a sociologia.
5.1.2 O contrato social de uma perspectiva clássica
Figura 24 – Thomas Hobbes (1588-1679)
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
A ideia de que o homem já esteve inserido na natureza antecede Darwin. Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo 
inglês do século XVII, já concebia uma condição em que os homens, antes do contexto civilizatório, viveriam em 
um estado de natureza, no qual o homem seria o lobo do homem. Esta famosa frase aparece em uma de suas 
principais obras, Leviatã, na qual Hobbes utiliza essa metáfora, de um monstro bíblico, para simbolizar o poder 
de um governo centralizador, que reuniria o Estado e a Igreja. Como a Idade Média representou um longo período 
de fragmentação política, fazia-se necessário, naquele momento histórico vivido por Hobbes, um discurso que 
exaltasse o conceito de Estado nacional. Na medida em que a ideia de Estado laico só apareceria posteriormente, 
a concepção de Estado que se desenvolve, desde o renascimento, é sempre a de uma monarquia, que tem o 
rei como um representante de Deus na Terra. De qualquer forma, o argumento hobbesiano quer conceber um 
Estado que seja produto dos próprios homens, e não da ação divina. Nesse sentido, é possível afirmar que Hobbes 
dá as bases para aquilo que, no Iluminismo, se chamará Estado laico, pois ele quer ressaltar o aspecto humano da 
ideia de Estado, ou seja, algo que foi criado pelos homens para os homens, sem origem divina.
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Estado laico é aquele que tem uma posição que busca sempre a neutralidade no campo 
religioso, não apoiando, nem discriminando nenhuma religião, de modo que todas possam 
coexistir em suas diferenças, e as leis sejam feitas para todos, independentemente da 
religião, título ou classe social. Para aprofundar sobre o tema, pesquise A Laicidade do 
Estado Brasileiro, de Joana Zylbersztajn.
Saiba mais
Como você sabe, todas as formas de organização humana, da mais primitiva aldeia até a mais cosmopolita 
cidade, sempre tiveram elementos mitológicos e religiosos mesclados às suas regras e leis, ou seja, aos seus 
contratos sociais. 
Em outras palavras, as formas de organização social sempre foram mediadas por tradições e costumes que 
envolvem valores religiosos. O Iluminismo veio apresentar um discurso antimonárquico e pró-republicano em 
busca de um Estado que permita a coexistência de várias formas de manifestação religiosa por meio da liberdade 
de crença. Mesmo depois dessa ruptura entre Estado e Igreja, ainda há muito a se trilhar na busca por um Estado 
efetivamente laico. 
Por mais que os países ocidentais tenham saído da condição de monarquias e aderido, de 
várias formas, ao ideal republicano, há uma mescla de elementos tradicionais ligados aos 
costumes que adentram as legislações por meio do próprio sistema democrático e ameaçam 
esse aspecto tão caro à democracia que é a laicidade do Estado. No Brasil, por exemplo, 
temos uma bancada evangélica que, muitas vezes, age de modo antirrepublicano ao querer 
impor valores religiosos e conservadores à sociedade.
Faremos agora uma rápida comparação entre os pensadores Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778). Hobbes concebe o contrato social a partir da ideia segundo a qual o homem, em um estado de natureza, 
seria violento e se comportaria de modo selvagem. Nesse contexto, o homem exerce um tipo de liberdade que o 
permite fazer o que quiser por meio de seus instintos, sem considerar a existência de seu semelhante. O Estado 
seria o “Leviatã”, esse monstro que estaria em todos os lugares, regulando a conduta dos indivíduos, de modo 
que, mesmo sozinhos e distantes do olhar dos outros, continuem se comportando de acordo com as leis do 
contrato social. Já para o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, o Estado, ao invés de ser o mediador da ordem, 
seria a própria fonte da corrupção humana.
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Figura 25 – O Leviatã
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
Se, para Hobbes, o homem é essencialmente mau, pois, no estado de natureza, prevalece a selvageria e a guerra 
de todos contra todos, para Rousseau, o homem inserido na natureza seria essencialmente bom e a própria 
civilização o teria corrompido. Ambos partem do pressuposto de que existiria um estado primitivo, originário, que 
antecederia a civilização. Para Hobbes, porém, esse estado seria um verdadeiro caos, no qual homens viveriam 
uma guerraconstante; para Rousseau, haveria uma harmonia nesse estado primitivo, por meio da qual o homem 
viveria em comunhão com a natureza.
Como você sabe, os povos indígenas brasileiros, antes da chegada dos europeus, não tinham o conceito de 
propriedade privada. Para um indígena, não havia sentido dizer que a terra poderia pertencer a determinado 
homem. O indígena, ao contrário de se sentir dono da terra, se sentia, na verdade, pertencente à terra. Essa outra 
perspectiva de pertencimento se chocava de modo brusco com a noção de propriedade e individualidade da 
cultura judaico-cristã europeia. Rousseau dizia que, quando o primeiro homem, ainda no estado de natureza, 
cercou um pedaço de terra e afirmou “isso me pertence!”, se iniciou a causa de todas as mazelas humanas. A 
propriedade privada seria, para Rousseau, o elemento decisivo de ruptura entre natureza e cultura e, ao mesmo 
tempo, o início da civilização e, consequentemente, da corrupção desse bom selvagem que amava a natureza e 
convivia em harmonia com ela.
Rousseau é considerado o pai do romantismo. Ele influenciou Marx e representa uma perspectiva diferente entre 
seus contemporâneos iluministas.
5.1.3 O contrato social de uma perspectiva contemporânea
Na contemporaneidade, outros pensadores desenvolveram teorias contratualistas. Um autor contemporâneo 
que se aventurou no universo das teses contratualistas é Friedrich Nietzsche (1844-1900), que, no texto 
intitulado Sobre verdade e mentira no sentido extramoral, tenta explicar a origem do impulso à verdade, que 
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levou homem a buscar respostas para as questões filosóficas. Segundo Nietzsche, o elemento de ruptura entre 
natureza e cultura seria o surgimento do intelecto na espécie humana. Nietzsche concebe o intelecto como um 
meio de conservação da espécie, ou seja, assim como todas as demais espécies desenvolvem suas soluções de 
sobrevivência, o homem, ao invés de ter garras e dentes, desenvolveu a capacidade de enganar seus predadores 
por meio do intelecto. A linguagem seria um recurso produzido pelo intelecto humano, por meio da qual se 
deram os contratos sociais. Ou seja, toda nossa moral e busca pela verdade das coisas têm, como origem, esse 
recurso evolutivo – que chamamos de intelecto –, que surgiu com o intuito de enganar o predador por meio de 
inúmeras artimanhas. Nietzsche, em tom de denúncia, nos chama a atenção para este fato: buscamos a verdade 
das coisas por meio de algo que evoluiu para enganar.
O intelecto, como um meio para a conservação do indivíduo, desdobra suas forças mestras no 
disfarce; pois este é o meio pelo qual os indivíduos mais fracos, menos robustos, se conservam, 
aqueles aos quais está vedado travar uma luta pela existência com chifres ou presas aguçadas 
(NIETZSCHE, 1978).
O intelecto humano, portanto, não teria nenhuma missão mais vasta que o conduzisse para além da vida 
humana. Nietzsche nos chama a atenção para o fato de que essa atitude demasiadamente antropocêntrica é 
extremamente prepotente, audaciosa e arrogante, já que o homem é guiado, muitas vezes, apenas pela vaidade. 
Segundo Nietzsche, todo homem quer ter seu admirador, desde um carregador de carga até o mais vaidoso dos 
homens: o filósofo (que se coloca como centro do mundo para tentar explicá-lo). Segundo Nietzsche, a vaidade 
seria o principal impulso que levaria o homem à busca pela verdade, deslegitimando essa busca. Portanto, a ideia 
de civilização, da qual tanto nos gabamos, não passaria de mais uma forma de comportamento das espécies, que 
tem semelhanças com os modos como os demais animais se portam. Só que nós, ao invés de usarmos garras e 
dentes para nos relacionarmos, usamos o intelecto.
Figura 26 – A mitologia egípcia
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
O recurso que Nietzsche utiliza é a analogia do homem com o resto dos animais; assim, ele descreve o intelecto 
de forma naturalista, como um meio para a conservação do indivíduo. Nietzsche ainda diz que o intelecto 
está a serviço de uma falsificação. Rogério Antônio Lopes (2006), especialista em Nietzsche, afirma que essa 
falsificação, da qual o intelecto está a serviço, desencadeia uma sucessão de equívocos que se dão inicialmente 
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em uma esfera epistêmica, ou seja, do conhecimento, e, posteriormente, na esfera moral. Nietzsche nos diz que 
o homem desenvolveu o intelecto para conseguir sobreviver, enganando seus predadores e surpreendendo suas 
presas; a partir daí, por meio do intelecto, o homem cria a linguagem. Veja que a linguagem é sempre falha e 
nunca consegue abarcar a complexidade do mundo. Então, segundo Nietzsche, o intelecto nos daria uma visão 
simplificada dos processos naturais, fazendo com que possamos manipular o real conforme nossos interesses 
vitais. Dessa forma, uma segunda falsificação se faz presente: já que o homem compreende a si mesmo a partir 
das mesmas categorias ficcionais e estas não são vistas como instrumentos, mas, sim, como a essência última 
das coisas, o homem acaba por inventar suas perguntas e respostas, verdades e mentiras.
Nietzsche, portanto, supõe que, em algum momento da história natural do homem, o intelecto era usado 
somente de forma “privada”, havendo, então, um processo de estabelecimento de um mundo comum, mediado 
pela linguagem. É em meio a esta mera convencionalidade que o predicado “verdadeiro” teria sido utilizado pela 
primeira vez. Para Nietzsche, nós, humanos, inventamos a linguagem e, portanto, ela é tão falha quanto tudo o 
que é humano. O contrato social seria fruto do intelecto, algo que foi concebido naturalmente. Essa perspectiva, 
de alguma forma, insere o homem na natureza novamente, ao ampliar o conceito de natureza e problematizar a 
dicotomia entre natureza e cultura.
Um dos muitos pensadores contemporâneos que tiveram influência de Nietzsche foi o pai da psicanálise, 
Sigmund Freud (1856-1939). Esse autor também dialoga com as teses contratualistas. Em sua obra intitulada 
Totem e tabu, Freud, a partir de Darwin, faz uma inferência, segundo a qual o homem, em um estado primitivo, 
se comportaria sexualmente como a maioria dos outros animais, ou seja, um único macho alfa copularia todas as 
fêmeas. Dessa forma, o elemento de ruptura entre natureza e cultura seria o incesto, por meio do qual o indivíduo 
se vê obrigado a reprimir seu instinto e abrir mão de sua filha para que outro macho a copule. Freud imagina que 
os homens, em algum momento, percebem que aquele macho alfa, que representa a liderança e a segurança da 
horda, que defende todos os outros e que também é o primeiro a comer a caça, satisfaz seus instintos de modo 
pleno, em detrimento de todos os outros indivíduos, que, para tal, teriam de enfrentar esse líder e, por meio de 
força, destituí-lo, matando-o ou expulsando-o do bando, para assumir seu lugar. A ruptura que Freud imagina é 
o momento em que os outros machos não mais assumem esse lugar do macho alfa ou “pai de todos” e instituem 
uma primeira regra civilizatória, que seria o tabu do incesto. Dessa forma, os homens iniciariam um processo de 
repressão de seus instintos, originando aquilo que virá a ser o superego, esta instância do aparelho psíquico que 
representa a lei e a razão. A civilização, portanto, seria, segundo Freud, fruto de um longo processo de repressão 
de nossos instintos.
Figura 27 – Sigmund Freud
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
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Segundo Freud, a psique ou o aparelho psíquico humano é formado por três estruturas 
designadas id, ego e superego. O id seria o inconsciente, essa herança arcaica que carregamos 
conosco, que busca sempre o prazer. O ego é o princípio de realidade, nosso eu, que está 
em constante construção, cujo objetivo principal é satisfazer os desejos do id, de modo 
socialmente aceitável. O superego representa a própria lei e tem a função de supervisionar e 
reprimir, por meio de punição ou sentimento de culpa, qualquerimpulso que seja contrário 
às regras e ideais por ele ditados, mantendo a relação com a realidade e forçando o ego a se 
comportar de acordo com a moral.
Saiba mais
5.2 A esquerda e a direita
5.2.1 Revolução digital, futebol e política
O que é direita e esquerda em política? O que é ser conservador? O que é ser liberal? O que significa socialismo? 
O que é comunismo?
Figura 28 – Manifestação contra a ditadura – Brasil 1970
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
Aqui no Brasil, desde junho de 2013, quando aconteceram as jornadas de manifestações por todo o país, vemos 
as redes sociais sendo utilizadas de um modo diferente, bem mais politizado. Antes do Facebook, houve uma rede 
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social a qual assistimos o surgimento e o desaparecimento, o Orkut, que tinha um aspecto mais lúdico e menos 
sério. Fazíamos depoimentos para nossos amigos e familiares e compartilhávamos piadas e imagens agradáveis, 
até acontecer uma quebra desse comportamento e as pessoas ressignificarem as redes politicamente. Em nossa 
história recente, essa ruptura coincidiu com o que alguns historiadores chamam de segunda fase da revolução 
digital, quando a internet passou a ser acessada por meio de dispositivos móveis, como os Iphones e Androids. 
A partir daí, todas as pessoas se viram obrigadas a posicionarem-se politicamente, por meio de uma espécie de 
“efeito futebolístico”. No Brasil, o futebol tem um papel muito importante na constituição de sentimentos de 
pertencimento e identidades. A Copa do Mundo, de alguma forma, promove esse encontro entre nacionalidade 
e paixão pelo futebol.
No Brasil, os principais rituais cívicos se dão diante da Seleção Brasileira de Futebol. Em época 
de Copa do Mundo, todos os brasileiros costumavam pintar as ruas e hastear a bandeira do 
Brasil. Por isso, o jogo no qual o Brasil perdeu para a Alemanha por 7 x 1 é um marco em nossa 
forma de percepção de identidade nacional e explicita como é complexa essa identidade.
Figura 29 – Torcedoras brasileiras
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
Esse modo eminentemente passional de lida do torcedor com seu time do coração foi transferido para a política, 
promovendo uma falsa polarização. Nesse momento, passam a aparecer termos políticos, ampliando o vocabulário 
dos frequentadores das redes sociais. Direita, esquerda, conservadorismo, liberalismo, socialismo, comunismo 
etc. passam a frequentar nossas timelines, praticamente obrigando a todos que se posicionem politicamente. Há 
alguns anos, não ter um time de futebol era algo quase inaceitável, e esse fenômeno transferiu-se para a política. 
Nesse momento são reveladas as posições de quem já tinha um pensamento politizado e também daqueles que 
nunca haviam pensado nisso e que agora escolhem suas posições a partir de uma polarização forjada. Vamos 
entender primeiramente de onde vieram as expressões “esquerda” e “direita” em política.
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5.2.2 Esquerda e direita 
O uso político dos termos esquerda e direita é oriundo da Revolução Francesa, quando, em 1789, dois grupos 
políticos rivais – os liberais, conhecidos como girondinos, e os extremistas, conhecidos como jacobinos – 
sentaram-se, respectivamente, à direita e à esquerda no salão da Assembleia Nacional da França. Nesse contexto, 
os girondinos, que eram a elite, não quiseram se misturar aos jacobinos, que representavam os mais pobres. 
Dessa forma, os girondinos, que se posicionaram à direita, defendiam que a Revolução Francesa fosse liberal, 
ou seja, antimonárquica, com o fim dos privilégios da nobreza e do clero, por meio de igualdade perante a lei, 
possibilitando o bem-estar individual. Já os jacobinos, além de também defenderem o fim dos privilégios do clero 
e da nobreza, defendiam os direitos dos trabalhadores e dos mais pobres, por meio de uma noção de bem-estar 
coletivo e uma radical investida contra os ricos. Como os girondinos derrotaram os jacobinos, prevaleceu, no 
mundo ocidental, um tipo de liberalismo que colocou os interesses das classes dominantes hierarquicamente 
posicionados como prioridades em detrimento das classes mais pobres. Podemos dizer que esse movimento da 
Revolução Francesa deu as bases do modo como os sistemas políticos se comportariam no mundo ocidental. 
Por isso dizemos que a direita é tida como conservadora e tradicional, enquanto a esquerda é vista como 
revolucionária e progressista.
Figura 30 – Fonte intitulada Monumento aos Girondinos – França
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
Posteriormente, um significado mais associado ao senso comum partia do pressuposto segundo o qual a direita 
seria o poder estabelecido e a esquerda seria a oposição. No Brasil, essa concepção caiu por terra quando, em 
2002, um partido tido como de “esquerda” assume o Poder Executivo e se torna um dos maiores partidos políticos 
do Brasil. Para o filósofo político Norberto Bobbio (1909-2004), embora os dois lados busquem realizar reformas, 
uma diferença crucial seria que a esquerda busca promover a justiça social, enquanto a direita empreende uma 
busca pela liberdade individual.
Portanto, tanto a direita quanto a esquerda têm origem na Revolução Francesa, mas, após a queda do muro de 
Berlim em 1989, um novo e diverso cenário político se abriu. Os termos esquerda e direita passaram a não mais 
dar conta da complexidade e diversidade política do século XXI.
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Podemos dizer que são de esquerda pessoas que se interessam pela eliminação das desigualdades sociais. Já o 
discurso de uma pessoa de direita parte do pressuposto de que as desigualdades seriam naturais e, enquanto tal, 
não seriam elimináveis. Uma pessoa que se posiciona no espectro político de direita afirma que as desigualdades 
sociais poderiam ser diminuídas, favorecendo a competitividade geral, minimizando, assim, a proteção social e 
maximizando o esforço individual. Já uma pessoa que se posiciona à esquerda no espectro político vai dizer que o 
Estado precisa proteger o cidadão da competição social, pois a solidariedade viria sempre antes da competitividade.
O pressuposto principal da perspectiva da direita, em termos de economia, seria aquele segundo o qual quem 
melhor se adaptaria ao meio ambiente econômico enriqueceria, sempre dando continuidade à sua dinastia. Por 
isso, o indivíduo de direita tem uma tendência a se preocupar com a defesa da tradição, herança e costumes 
conservadores.
Já o pressuposto principal da perspectiva da esquerda seria aquele segundo o qual a condição humana seria 
fundada pela negação da herança natural. Marx afirmava que a modernidade nos deu a oportunidade de 
“tomarmos as rédeas da história”, ou seja, o sistema capitalista é fruto de um processo histórico que não foi 
necessariamente pensado e planejado, mas, sim, produto de uma série de acontecimentos históricos à revelia do 
homem. Portanto, a modernidade seria o momento em que tomaríamos consciência desse fato e passaríamos a 
controlar a história e, por meio da razão, eliminaríamos a pobreza, fornecendo vida digna para todos os homens 
do planeta.
No Brasil, a polarização entre esquerda e direita se fortaleceu após o Golpe Militar, em 1964. Aqueles que se 
diziam contra o Golpe eram tidos como de esquerda, e os que o apoiavam eram de direita. Hoje, o espectro 
político é bem mais amplo e abrange várias nuances (extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, 
centro-direita, direita e extrema-direita). Na extrema-esquerda, há aqueles que ainda defendem a ideia marxista 
de ditadura do proletariado e outros que defendem a ideia de combate à autoridade, vinda do anarquismo. A 
extrema-esquerda reúne igualitarismo e autoritarismo. Quanto à extrema-direita, temos como exemplos o 
nazismo e o fascismo.
Figura 31 – Campo de concentração em Auschwitz - Alemanha
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
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Como o regime nazista é algo extremamente desumano, é normal que adireita queria 
se desassociar de qualquer coisa que se refira a ele. Inclusive, há um discurso que tenta 
classificar o nazismo como sendo de esquerda. De qualquer forma, atualmente, os grupos 
neonazistas e supremacistas brancos se dizem de extrema-direita, e tanto o fascismo quanto 
o nazismo tinham aversão ao comunismo, defendendo, assim, a moral e os bons costumes – 
conservadorismo típico da direita.
Saiba mais
No meio dessas tendências, localizados mais à direita, encontramos conservadores, democratas-cristãos, liberais 
e nacionalistas e, localizados mais à esquerda, socialistas democráticos, progressistas e ambientalistas. Há ainda 
o centro, que defende o capitalismo ao mesmo tempo em que se preocupa com o lado social. É o que chamamos 
de terceira via, um conceito que pretende superar a esquerda e a direita.
Outro fator que aparece nos discursos da esquerda e da direita é o papel do Estado. A esquerda tende a defender 
um Estado que dê conta das demandas sociais, como saúde, educação e segurança; já a direita defende um 
Estado mínimo e que essas demandas, como saúde, educação e segurança, deveriam ser fornecidas à população 
por meio da iniciativa privada.
Historicamente, a tese liberal que se desenvolveu no iluminismo, de um Estado que não deve intervir na 
economia, se mostrou falha com a crise de 1929, na qual, após um grande crescimento econômico nos Estados 
Unidos, na década de 1920, houve um desequilíbrio entre ofertas e demandas e, em um efeito dominó, várias 
empresas entram em processo de falência. A solução para a crise foi a intervenção estatal na economia. O termo 
neoliberalismo apareceu no vocabulário do senso comum no início da década de 1980, quando os governos de 
Ronald Reagan e Margareth Thatcher se valeram de políticas de privatização de empresas públicas e de cortes em 
programas sociais a fim de atingir um equilíbrio fiscal, naquele contexto de crise econômica do petróleo. Vimos 
o discurso do Estado de bem-estar social declinar e o chamado Estado mínimo, com gastos enxutos, se tornar o 
discurso predominante.
Valores morais, costumes e crenças também são fatores que podem ser observados nas posições de esquerda e 
direita. Modificações na legislação em termos de direitos civis e temáticas como legalização do aborto, casamento 
homoafetivo e legalização das drogas são entendidas como temas defendidos pela esquerda. Já a direita tende 
a defender a família e os valores tradicionais. No entanto, esses temas da esquerda também são defendidos por 
partidos tidos como centro-direita. Já a extrema-direita tem uma tendência a rejeitar tudo que é associado à 
esquerda, levando o patriotismo ao extremo e assumindo posturas explicitamente contra os direitos humanos, 
como xenofobia, antissemitismo, racismo e homofobia.
Vale lembrar que nosso ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso é de um 
partido de centro-direita e defende a legalização da maconha.
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Figura 32 – Fernando Henrique Cardoso
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
5.3 Democracia
Figura 33 – Participação popular
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.
A democracia é uma invenção grega, mas é sempre bom lembrar que o conceito de democracia que 
compartilhamos na atualidade é iluminista. A democracia grega nos parece algo estranho nos dias de hoje, pois 
nela não há o conceito iluminista de igualdade, oriundo do Estado laico. Democracia grega é aquela exercida 
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por um grupo específico de indivíduos. Para ter voz na democracia grega, é necessário ser homem (mulheres 
não têm voz), não pode ser muito novo, nem muito velho, não pode ser estrangeiro, não pode ser escravo e não 
pode ser louco, ou seja, a cidadania era algo restrito. Já o conceito contemporâneo de democracia vem de uma 
concepção de cidadania, que parte da divisão dos poderes em três partes. Não mais um único rei vai criar a lei 
(legislar), executar a lei (gerir) e julgar, estando acima da própria lei, ou seja, nosso conceito de democracia nasce 
a partir de um discurso antimonárquico e republicano. Montesquieu (1689-1755), filósofo francês iluminista, 
criou a divisão dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – para que todos possam estar abaixo da lei e 
o Estado não seja mais personificado na figura do rei, mas, sim, uma coisa pública gerida pelo povo, por meio da 
representatividade.
A origem etimológica do termo “república” nos revela essa característica do Estado que 
passa a ser uma coisa. Rem, em latim, significa “coisa”, e publicae é aquilo que pertence a 
todos, ou seja, a república passa a ser uma coisa, que vai ser gerida por cidadãos que serão 
eleitos para representar seus iguais.
Saiba mais
Portanto, praticamente todas as democracias ocidentais nascem de um contexto monárquico, no qual a dinastia 
real, sempre tendo a Igreja a seu lado, exerce um regime autoritário, chamado de absolutismo. Nesse regime, a 
relação com o rei se dá de modo passional, como que uma adoração e, então, temos uma mistura entre Estado e 
Igreja. As esferas pública e privada também se misturam. É comum vermos em contos de fadas ordens arbitrárias 
de reis que decretam leis, como “é proibido cortinas amarelas no reino, pois o rei não gosta mais dessa cor”. Então, 
todos os súditos, por admirarem e adorarem o rei, aderem a esse gosto pessoal. Isso é uma ficção, mas coisas 
semelhantes aconteceram nas monarquias europeias. Quando o rei Henrique VIII quis se separar de sua esposa 
e casar-se com sua amante, o Papa não permitiu, e ele, do alto de sua autoridade absoluta, rompeu com a Igreja 
católica, seguindo a tendência de reforma religiosa que ocorria no século XVI, criou uma religião cristã chamada 
Anglicanismo e se autointitulou autoridade máxima dessa nova Igreja, que, inclusive, se apropriou de todas as 
terras que a Igreja católica tinha na Inglaterra. Diante da conversão do rei, todos os súditos deveriam, também, se 
converter. Houve perseguições religiosas que, inclusive, motivaram famílias de classe média a migrarem para as 
treze colônias inglesas, que futuramente seriam os EUA, onde não havia tal perseguição.
A sigla F.U.C.K, que originou o termo fuck, em inglês, tem várias explicações de origem, e 
muitas são inusitadas. Uma delas nos conta que, na Inglaterra feudal, o rei deveria autorizar 
as relações sexuais e dar seu consentimento. Portanto, a sigla significa fornication under 
consent of the king, ou seja, fornicação sob o consentimento do rei.
Saiba mais
A democracia é um exercício constante que depende do choque de ideias e do convívio de opostos. Os países, 
que antes eram monarquias, foram se tornando repúblicas democráticas, e esse processo de adaptação leva 
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Cidadania e Ética | Unidade 5 - Sistemas Políticos
tempo. Em uma monarquia, estamos acostumados a não ter de tomar decisões, nem de nos preocuparmos com 
o governo, pois o rei é visto como uma espécie de pai, que fornece pão e circo ao povo. Como não há participação 
em um regime monárquico, o povo tende a ter uma postura passiva e apenas aceita as decisões do rei, que é visto 
como um enviado de Deus.
Já na democracia, a responsabilidade pela gestão da coisa pública, ou seja, do Estado, é do próprio povo, por 
meio de um sistema de democracia representativa. No entanto, como temos uma forte herança monárquica, 
há, em nós, uma tendência de passividade diante das questões políticas. No Brasil, que é uma democracia 
recente, costumamos votar em um deputado ou senador e, depois, nem nos lembramos em quem votamos. 
Nossa obrigação como cidadãos é acompanhar cada votação de nosso representante direto, tanto no Legislativo 
quanto no Executivo e até mesmo no Judiciário. Hoje em dia dizemos que, após o 7 x 1, o brasileiro sabe mais os 
nomes dos ministros do Supremo Tribunal Federal do que a escalação da Seleção Brasileira de Futebol. Será que 
estamos aprendendo o que é democracia?
Síntese da unidade
Nessa unidade, foram abordados os conceitos decontrato social, direita e esquerda e democracia. Vimos que 
nossos ancestrais viviam em um estado de natureza e, em algum momento, firmaram-se os pactos sociais. 
Esses pactos dão as bases para aquilo que entendemos por sociedade e suas diversas formas de organização 
política. No ocidente, a monarquia e a república são conceitos de sistemas políticos muito importantes para 
compreendermos nossa época. 
Vimos que a ideia segundo a qual o homem já esteve em um estado selvagem antecede o próprio Darwin e está 
presente em muitas teses contratualistas de pensadores como Hobbes e Rousseau. Já na contemporaneidade, 
essa temática continua sendo interesse de várias áreas das ciências e de pensadores como o filósofo Friedrich 
Nietzsche e o médico psiquiatra Sigmund Freud, que também tentam explicar como se deu a ruptura entre 
natureza e cultura.
Os espectros políticos que vão da direita para a esquerda em nosso sistema político também foram elucidados, 
de modo que possamos compreender de onde vem cada lugar de fala.
Por fim, vimos que o conceito de democracia tem origem grega, mas o modo como compreendemos esse 
conceito na atualidade tem uma influência do Iluminismo e do Liberalismo.
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Considerações finais
Esperamos que você tenha adquirido uma visão ampliada de nosso 
sistema político e possa, cada vez mais, tomar consciência da importância 
da prática constante da cidadania e do posicionamento político a partir de 
seu lugar de fala. A democracia precisa do choque de ideias, do convívio 
de opostos e da diversidade. Lembre-se sempre que uma sociedade na 
qual todos pensam da mesma forma é algo impossível e sempre que algo 
dessa ordem apareceu foi por meio de regimes autoritários. A democracia 
é uma bandeira que precisa ser sempre defendida!
	Unidade 1
	1. Ética, Moral e Justiça
	Unidade 2
	2. A Condição Humana
	Unidade 3
	3. Existencialismo
	Unidade 4
	4. Bioética
	Unidade 5
	5. Sistemas Políticos
	Unidade 6
	6. Consciência Política e Ação Social
	Unidade 7
	7. Cidadania e Responsabilidade Social
	Unidade 8
	8. A Questão Brasileira

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