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Fichamento - história da psicanálise. parte 1

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UNICENTRO NEWTON PAIVA
Departamento: Ciências Humanas
Curso: Psicologia
Disciplina: História da Psicologia
Nome do Professor: Leonardo Azevedo 
Nome do aluno: Fernanda Rodrigues Lamounier
CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia in As Ciências. 9ed. São Paulo – SP: ABDR, 2010, p. 247 a 297.
A atitude científica
O senso comum
· O senso comum é passado de geração em geração, e por vezes transforma-se em crenças religiosas, inquestionáveis. Um exemplo citado no texto é sobre as cores. “As cores existem em si mesmas. Quem duvidaria disso, se passamos a vida vendo rosas vermelhas, amarelas e brancas, o azul do céu, o verde das árvores, o alaranjado da laranja e tangerina?”
Características do senso comum 
· São subjetivos, ou seja, variam de pessoa para pessoa, de grupo para grupo. 
· São qualitativos, exemplo: doce ou salgado, quente ou frio.
· São heterogêneos, dizer que algo é heterogêneo significa um conjunto de elementos desiguais entre si.
· São individualizadores, ou seja, cada coisa/fato aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo.
· São generalizadores, pois aglomeram fatos semelhantes em uma opinião só.
· Realizam situações de causa e efeito entre as coisas ou fatos. Por exemplo: a tempestade é a causa e seus efeitos são a chuva, vento e o trovão.
· Não enxergam beleza na regularidade.
· Não compreendem a investigação científica.
· Existe o costume de projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo perante o desconhecido. 
· “Por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de medo e angústia, e de incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos.” 
A atitude Científica 
“O que distingue a atitude científica da atitude costumeira ou do senso comum? Onde o senso comum enxerga coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos afastadas.”
Por meio dessa explicação é correto afirmar que a atitude científica se opõe ao senso comum. Entre essas oposições, temos esses exemplos: 
· É objetivo 
· É quantitativo, ou seja, busca medidas padrões.
· É homogêneo, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que nos parecem diferentes. 
· É generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura.
· São diferenciadores, pois não há uma generalização por semelhanças aparentes, mas distinguem os que parecem iguais, desde que obedeçam a estruturas diferentes.
· Só estabelecem relações causais depois de investigarem a natureza ou estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes.
· Procura apresentar explicações claras, racionais, simples e verdadeiras.
· Distingue-se da magia. A atitude científica acredita em causas e relações racionais que podem ser conhecidas e que esse conhecimento pode ser transmitido a todos. 
· Acredita que pelo o conhecimento o homem pode liberta-se de superstições e medos.
“Os fatos ou objetos científicos não são dados empíricos espontâneos de nossa experiência cotidiana, mas são construídos pelo trabalho da investigação científica. Esta é um conjunto de atividades intelectuais, experimentais e técnicas, realizadas com base em métodos que permitem e garantem:”
· Separar os elementos subjetivos e objetivos de um fenômeno;
· Construir o fenômeno como um objeto do conhecimento, controlável, verificável, interpretável e capaz de ser retificado ou corrigido por novas elaborações;
· Explicação racional unificada.
· Formular uma teoria geral sobre o conjunto dos fenômenos observados e dos fatos investigados.
‘’A ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. A ciência é conhecimento que resulta de um trabalho racional.”
A ciência na história 
As três concepções da ciência 
São três as principais concepções de ciência. Estas são:
· Racionalista: modelo de objetividade é a matemática. Acredita ser uma ciência inquestionável, portanto, capaz de provar a verdade sem deixar qualquer dúvida possível. “Uma ciência é uma unidade sistemática de axiomas, postulados e definições, que determinam a natureza e as propriedades de seu objeto, e de demonstrações que provam as relações de causalidade que regem o objeto investigado.”
· Empirista: o modelo de objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII; afirma que a ciência é uma intepretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções, e que, ao serem completadas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades e suas leis de funcionamento. 
· Construtivista: o modelo de subjetividade advém da ideia de razão como conhecimento aproximativo. Considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. O cientista combina dois procedimentos, um vindo do racionalismo e outro vindo do empirismo, acrescenta um terceiro, vindo da ideia de conhecimento aproximativo e corrigível.
“Como o racionalista, o cientista construtivista exige que o método lhe permita e lhe garanta estabelecer axiomas, postulados, definições e deduções sobre o objeto científico. Como o empirista, o construtivista exige que a experimentação guie e modifique axiomas, postulados, definições e demonstrações. No entanto, porque considera o objeto uma construção lógico-intelectual e uma construção experimental feita em laboratório [...] Não espera, portanto, apresentar uma verdade absoluta e sim uma verdade aproximada que pode ser corrigida, modificada, abandonada por outra mais adequada aos fenômenos. São três as exigências de seu ideal de cientificidade:
1. Que haja coerência (isto é, que não haja contradições) entre os princípios que orientam a teoria;
2. Que os modelos dos objetos (ou estruturas dos fenômenos) sejam construídos com base na observação e na experimentação.
3. Que os resultados obtidos possam não só alterar os modelos construídos, mas também alterar os próprios princípios de teoria, corrigindo-a.
Diferenças entre a ciência antiga e a moderna 
Características marcantes da ciência antiga:
· É uma ciência baseada nas qualidades percebidas nos corpos (leve, pesado, líquido, sólido, etc.);
· É uma ciência baseada em distinções qualitativas do espaço (alto, baixo, longe, perto, celeste, sublunar);
· É uma ciência baseada na metafísica da identidade e da mudança (perfeição imóvel, imperfeição móvel);
· É uma ciência que estabelece leis diferentes para os corpos segundo sua matéria e sua forma, ou segundo sua substância;
· Como consequência das características anteriores, é uma ciência que concebe a realidade natural como um mundo hierárquico no qual os seres possuem um lugar natural de acordo com sua perfeição, hierarquizando-se em graus que vão dos inferiores aos superiores.
“Quando comparamos a física de Aristóteles com a moderna, isto é, a que foi elaborada por Galileu e Newton, podemos notar as grandes diferenças: 
· Para a física moderna, o espaço é aquele definido pela geometria [...] É um espaço onde todos os pontos são reversíveis ou equivalentes...”
· Os objetos físicos investigados pelo cientista começam por ser purificados de todas as qualidades sensoriais – cor, tamanho, odor, peso, matéria, forma, líquido, sólido, leve, grande, pequeno, etc – isto é, de todas as qualidades sensíveis, porque estão meramente subjetivas [...]
· A física estuda o movimento não como alteração qualitativa e quantitativa dos corpos, mas como deslocamento espacial que altera a massa, o volume, e a velocidade doscorpos. [...]
· A natureza é um complexo de corpos formados por proporções diferentes de movimento e de repouso, articulados por relações de causa e efeito, sem finalidade, pois a ideia de finalidade só existe para os seres humanos dotados de razão e vontade. [...]”
A ciência nessa época não era algo reconhecido, pois a sociedade era escravista, nesse caso a ciência não tinha o menor valor para ninguém. 
As mudanças científicas
A primeira mudança é a passagem do racionalismo e empirismo ao construtivismo. Outras mudanças são:
· Segunda mudança: passagem da ciência antiga para a ciência moderna.
· A frase na bandeira do Brasil (ordem e progresso) sugere algumas coisas: “o tempo seria uma sucessão contínua de instantes, momentos, fases, períodos, épocas, que iriam se somando uns aos outros, acumulando-se de tal modo que o que acontece depois é resultado melhorado do que aconteceu antes. [...]
· Evolução e progresso são a crença na superioridade do presente em relação ao passado e do futuro em relação ao presente.
 Desmentindo a evolução e o progresso científicos 
“O que a filosofia das ciências compreendeu foi que as elaborações científicas e os ideais de cientificidade são diferentes e contínuos.”
Entende-se que as ciências e estudos não são continuações uma das outras, pois tem objetivos, objetos de estudo e crenças diferentes. Por meio dessas informações é possível concluir que cada ciência é única. 
Rupturas epistemológicas e revoluções científicas 
Esse fato acontece quando um experimento científico é rompido, ou seja, quando caí por terra ou é substituído por um novo. É necessário que o cientista entenda e diga não às teorias anteriores, deixando espaço para novas descobertas. 
Falsificação x Revolução 
Karl Popper tem uma fala interessante sobre esse assunto. “Uma teoria científica é boa, diz Popper, quanto mais estiver aberta a fatos novos que possam tornar falsos os princípios e os conceitos em que se baseava. Assim, o valor de uma teoria não se mede por sua verdade, mas pela possibilidade de ser falsa. A falseabilidade seria o critério de avaliação das teorias científicas e garantiria a ideia de progresso científico, pois é a mesma teoria que vai sendo corrigida por fatos novos que a falsificam.” 
Classificação das ciências 
Em primeiro lugar, é necessário diferenciar ciência no singular (refere-se a um modo e a um ideal de conhecimento) e ciências, no plural, que se refere as diferentes maneiras de realização do ideal de cientificidade, segundo os diferentes métodos e tecnologias empregados. Aristóteles empregou três critérios para classificar os saberes:
· Critério da ausência ou presença da ação humana nos seres investigados, levando a distinção entre as ciências teóricas (conhecimento dos seres que exigem e agem independentemente da ação humana) e as ciências praticas (conhecimento de tudo que existe como efeito das ações humanas);
· Critério da imutabilidade ou permanência ou mutabilidade ou movimento dos seres investigados, levado à distinção entre metafísica, física ou ciências da natureza e matemática. 
· Critério da mobilidade prática, levando à distinção entre as ciências que estudam a práxis e as técnicas. 
Essa classificação foi mantida até o século XVII, quando, então os conhecimentos se separaram em filosóficos, científicos e técnicos. Das inúmeras classificações propostas, as mais conhecidas e utilizadas foram feitas por filósofos franceses e alemães do século XIX, baseando-se em três critérios: tipo de objeto estudado, tipo de método empregado, tipo de resultado obtido. Desses critérios e da simplificação feita sobre várias classificações anteriores, resultou aquela que se costuma usar até hoje: 
· Ciências matemáticas (aritmética, geometria, álgebra, trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura, etc.);
· Ciências naturais (física, química, biologia, geologia, astronomia, geografia física, paleontologia, etc.);
· Ciências humanas ou socias (psicologia, sociologia, antropologia, geografia humana, economia, linguística, psicanálise, arqueologia, história, etc.);
· Ciências aplicadas (todas as ciências que conduzem à invenção de tecnologias para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades, como por exemplo, direito, engenharia, medicina, arquitetura, informática, etc.) 
A partir dessas divisões, existem subdivisões das disciplinas cada vez mais especificadas, detalhadas e especializadas. 
A ciência exemplar: a matemática 
A matemática nasce de necessidades práticas: contar coisas e medir terrenos. Descartes, no século XVII, afirmou que podemos duvidar de todos os nossos conhecimentos e ideias, menos da verdade dos conceitos e demonstrações matemáticos, os únicos que são indubitáveis. A valorização da matemática decorre de dois aspectos que a caracterizam 
1. A idealidade pura de seus objetos, que não se confundem com as coisas percebidas subjetivamente por nós; os objetos matemáticos são universais e necessários.
2. A precisão e o rigor dos princípios e demonstrações matemáticos, que seguem regras universais e necessárias, de tal modo que a demonstração de um teorema seja a mesma em qualquer época e lugar e a solução de um problema se faça pelos mesmos procedimentos em toda época e lugar.
As ciências da Natureza
O campo das ciências da Natureza
As ciências da Natureza estudam duas ordens de fenômenos: os físicos e os vitais, ou as coisas e organismos vivos. Constituem, assim, duas grandes ciências: a física, de que fazem parte a química, a mecânica, a óptica, a acústica, a astronomia, o estudo dos sólidos, líquidos, gasosos, etc., e a biologia, ramificada em fisiologia, botânica, zoologia, paleontologia, anatomia, genética, etc. As ciências da Natureza são: 
· Estudam fatos observáveis que podem ser submetidos aos procedimentos de experimentação;
· Estabelecem leis que exprimem relações necessárias e universais entre os fatos investigados e que são tipo causal;
· Concebem a Natureza como um conjunto articulado de seres e acontecimentos interdependentes, ligados ou por relações necessárias de causa e efeito, subordinação e dependência, ou por relações entre funções invariáveis e ações variáveis;
· Buscam constâncias, regularidades, frequências e invariantes dos fenômenos, isto é, seus modos de funcionamento e de relacionamento, bem como estabelecem os meios teóricos para a previsão de novos fatos. 
Desde Aristóteles, as ciências da Natureza desenvolveram-se graças ao papel conferido às observações e, mais tarde, à observação controlada, isto é, à experimentação.
A experimentação é a decisão do cientista de intervir no curso de um fenômeno, modificando as condições de seu aparecimento e desenvolvimento, a fim de encontrar invariantes e constantes que definem o objeto como tal. 
 A experimentação permite ao cientista formular hipóteses sobre o fenômeno. 
O método experimental é hipotético-dedutivo. Hipotético-indutivo o cientista observa inúmeros fatos variando as condições da observação; elabora uma hipótese e realiza novos experimentos ou induções para confirmar ou negar a hipótese; se esta for confirmada, chega-se à lei do fenômeno estudado. Hipotético-dedutivo: tendo chegado à lei, o cientista pode formular novas hipóteses, deduzidas do conhecimento já adquirido, e com elas prever novos fatos, ou formular novas experiências. 
Necessidade e acaso 
A ciência da Natureza sempre afirmou que segue leis naturais racionais e necessárias, ou seja, sempre negou que houvesse acaso ou contingência no mundo natural. 
Por volta do século XIX, a afirmação da universalidade e da necessidade plena que governam as relações casuais da Natureza levaram ao conceito de determinismo. O determinismo pode ser resumido da seguinte maneira:
· Dado um fenômeno, sempre será possível determinar sua causa necessária;
· Sempre será possível conhecer o estado subsequente, que será seu efeito necessário 
O determinismo universal é, assim, a afirmação do princípio de razão suficiente, ou da causalidade, e da ideia de previsibilidade absoluta dos fenômenos naturais.
Desde o século XVII, comos pensadores Pascal, Leibniz, Newton e posteriormente, Fermat, conhecemos os estudos matemáticos chamados cálculos de probabilidades. 
Acaso ou indeterminação
A física contemporânea trouxe de volta o acaso. Existem vários estudos, vamos destacar três deles.
· O pleno funcionamento da razão suficiente ou da causalidade e do determinismo universal exige que seja mantida a ideia de substância, isto é, de uma realidade que permaneça idêntica a si mesma, seja causa de alguma outra e feito de alguma outra. Essa realidade pode ser matéria, uma energia, uma massa, um volume, mas tem que ser alguma coisa com propriedades determináveis, constantes e que possam ser conhecidas. Deve ser uma quantidade constante e/ou uma forma constante. Ora, a microfísica ou física quântica veio mostrar que não há nem uma coisa nem outra. 
As ciências da vida 
As ciências biológicas ou ciências da vida fazem parte das ciências da Natureza ou ciências experimentais. 
A biologia partiu da distinção entre seres inorgânicos e seres orgânicos – plantas e animais – para distinguir os fenômenos vitais dos fatos físicos e químicos.
As discussões sobre a essência da vida não chegaram a conclusões definitivas, a biologia distingue os seres inorgânicos e os vivos definido estes últimos pelas ideias de célula e funções realizadas pela célula, unidade vital e orgânica básica. A vida caracteriza-se pelas seguintes funções:
· Irritabilidade 
· Metabolismo
· Divisão e crescimento
· Reprodução
· Individualidade
· Organicidade 
O ser vivo é um organismo e indivíduo. É portador de quatro características principais: a interioridade, a auto=apresentação, a auto-organização e autorreprodução.
Dificuldades metodológicas da biologia 
As ciências biológicas sofrem várias dificuldades para a definição do seu objeto e de seus métodos. As principais dificuldades são:
· Definição e classificação dos objetos biológicos 
· Dificuldades do método experimental
· Dificuldades de experimentação no organismo humano 
Finalidade, evolução e origem da vida 
Uma dúvida que permaneceu na história da biologia é: é a vida de mesma natureza que os demais fenômenos físico-químicos e está, como eles, submetida ao determinismo das causas e efeitos, ou é um fenômeno totalmente diferente, com suas leis próprias? A primeira tendência chama-se mecanismo; a segunda vitalismo.
· Vitalismo: relação com tempo (diferença entre a vida e morte) e finalidade (a vida é um processo ativo de interação com o meio ambiente para a realização de fins como conservação, reprodução, reparação). Esse conceito não é cientificamente claro.
· A finalidade dá outra ideia do que é biologia: a evolução. A vida por ter interação ativa com o meio ambiente, leva a mudanças nos organismos para a adaptação dos indivíduos e da espécie.
· A biologia possui rupturas epistemológicas. 
· A biologia reforça a ideia de que a ciência não é um estudo inacabado e sim um processo de conhecimento. 
Os dois grandes campos da biologia
A biologia contemporânea trabalha em dois grandes campos de investigação:
1. Investigação genética e fisiológica no nível hiper microscópico dos processos e formas micromoleculares e, com ajuda da bioquímica, o estuda da célula em seus fenômenos internos e de reprodução, isto é, investiga o DNA.
2. O da investigação das formas, das estruturas e dos processos visíveis dos organismos na relação com o meio ambiente. Tem em seu centro a ideia de equilíbrio vital. 
As ciências humanas 
São possíveis ciências humanas?
Ciências humanas referem-se as ciências que tem o ser humano como objeto de estudo. Essa ciência surgiu no século XIX e surgiu após as ciências matemáticas e naturais, que já haviam definido a ideia de cientificidade. Para ganhar respeitabilidade científica, as disciplinas da ciências humanas procuraram estudar seu objeto empregado em conceitos, métodos e técnicas propostos pela ciência da Natureza. Por terem surgido no período em que prevalecia a concepção empirista e determinista da ciência, também procuram tratar o objeto humano usando modelos hipotético-indutivos e experimentais de estilo empirista, e buscavam leis causais necessárias e universais para os fenômenos humanos. 
Quais as principais objeções feitas à possibilidade das ciências humanas?
· A ciência lida com fatos observáveis, isto é, com seres e acontecimentos que, nas condições especiais de laboratório, são objetos de experimentação. O grande problema é que as ciências humanas estudam coisas como a consciência humana e a sociedade, objetos de estudo em constante mudança.
· A ciência busca leis objetivas gerais, universais e necessárias dos fatos. Como estabelecer leis objetivas para o que é subjetivo?
· O ser humano tem a liberdade como uma de suas principais características. Como dar uma explicação científica necessária aquilo que, por essência, é contingente, pois é livre e age por liberdade?
· Como estudar o ser humano sem destruir sua principal característica, a subjetividade?
O humano como objeto de investigação
Do século XV ao século XX, a investigação do humano realizou-se de três maneiras diferentes: 
1. Período do humanismo inicia-se no século XV com a ideia renascentista da dignidade do homem como centro do universo. Prossegue nos séculos XVI e XVII com o estudo do homem como agente moral, político e técnico-artístico, destinado a dominar e controlar a Natureza e a sociedade, chegando ao século XVIII, quando surge a ideia de civilização, onde o homem age com razão e domina o trajeto da sociedade.
2. Período do positivismo: inicia-se no século XIX com Augusto Comte, para quem a humanidade atravessa três etapas progressivas, indo da superstição religiosa à metafísica e à teologia, para chegar, finalmente, à ciência positivista, ponto final do progresso humano.
3. Período do historicismo: desenvolvido no final do século XIX e início do século XX por Dilthey, filósofo e historiador alemão. Essa concepção insiste na diferença profunda entre o homem e a Natureza e entre as ciências humanas e naturais. Os fatos humanos são históricos e estão carregados de sentimentos e histórias, por isso devem ser estudados de maneiras diferentes dos fatos naturais. 
O fato humano é histórico ou atemporal: surge no tempo e se transforma no tempo. 
Fenomenologia, estruturalismo e marxismo 
A constituição das ciências humanas como ciências específicas consolidou-se a partir das contribuições de três correntes de pensamento.
A fenomenologia introduziu a noção de essência ou significação como um conceito que permite diferenciar internamente uma realidade de outras, encontrando seu sentido, sua forma, suas propriedades e sua origem. A fenomenologia permitiu que fosse feita a diferenciação entre a esfera ou região da essência “Natureza” e a esfera ou região da essência “homem”, foram diferenciadas em: psíquico, o social, o histórico e o cultural. 
“Em resumo, antes da fenomenologia, cada uma das ciências humanas desfazia seu objeto num agregado de elementos de natureza diverso do todo, estudava as relações causais externas entre esses elementos e as apresentava como explicação e lei de seu objeto de investigação. A fenomenologia garantiu às ciências humanas a existência e a especificidade de seus objetos.”
A contribuição do estruturalismo 
O estruturalismo permitiu que as ciências humanas criassem métodos específicos para o estudo de seus objetos, livrando-as das explicações mecânicas de causa e efeito, sem que por isso tivessem que abandonar a ideia de lei científica.
A	 concepção estruturalista mostrou que os fatos humanos assumem a forma de estruturas, isto é, de sistemas que criam seus próprios elementos, dando a estes sentido pela posição e pela função que ocupam no todo. 
O todo não é a soma das partes, nem um conjunto de relações causais entre elementos isoláveis, mas é um principio ordenador, diferenciados e transformador. Uma estrutura é a totalidade dotada de sentido. 
A contribuição do Marxismo 
O marxismo compreendeu que os fatos humanos são instituições sociais e históricas produzidas pelas condições objetivas nasquais a ação e pensamento humanos devem realizar-se.
O fato humano mais originário ou primário é a relação dos homens com a Natureza na luta pela sobrevivência e que tais relações são as de trabalho, que dão origem às primeiras instituições socias: família (divisão sexual do trabalho), pastoreio e agricultura (divisão social do trabalho), troca e comércio (distribuição social dos produtos do trabalho).
As primeiras instituições sociais são econômicas. Para conservá-las, o grupo social cria instituições de poder que sustentam (pela força, pelas armas ou pelas leis) as relações sociais e as ideias-valores-símbolos produzidos. 
Os fenômenos humanos são dotados de sentido e significação, são históricos, possuem leis próprias, são diferentes dos fenômenos naturais, e podem sim ser tratados cientificamente. 
Os campos de estudo das ciências humanas 
Pode-se distribuir os campos de investigação das ciências humanas da seguinte maneira: 
Psicologia
· Estudo das estruturas, do desenvolvimento das operações da mente humana (consciência, vontade, percepção, linguagem, memória, imaginação, emoções);
· Estudo das estruturas e do desenvolvimento dos comportamentos humanos e animais;
· Estudo das relações intersubjetivas dos indivíduos em grupo e sociedade;
· Estudo das perturbações (patologias) da mente humana e dos comportamentos humanos e animais. 
Sociologia
· Estudo das estruturas sociais;
· Estudo das relações sociais e de suas transformações;
· Estudo das instituições sociais 
Economia 
· Estudo das condições materiais de produção e reprodução da riqueza;
· Estudo das estruturas produtivas;
· Estudo da origem, do desenvolvimento, das crises, das transformações e da reprodução das formas econômicas ou modos de produção.
Antropologia 
· Estudo das estruturas ou formas culturais;
· Estudo das comunidades ditas “primitivas”;
História 
· Estudo da gênese e do desenvolvimento das formações sociais em seus aspectos sociais em seus perspectivos aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais;
· Estudo das transformações das sociedades e comunidades como resultado e expressão de conflitos, lutas, contradições internas à formações sociais;
· Estudo das transformações das sociedades e comunidades sob o impacto de acontecimentos políticos, econômicos sociais e culturais;
· Estudos de acontecimentos que, em cada caso, determinaram ou determinam a preservação ou a mudança de uma formação social em seus aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais;
· Estudo dos diferentes suportes da memória coletiva.
Linguística
· Estudo das estruturas de linguagem como sistema dotado de princípios internos de funcionamento e transformação;
· Estudo das relações entre a língua (estrutura) e fala ou palavra (o uso da língua pelos falantes);
· Estudo das relações entre a linguagem e os outros sistemas de signos e símbolos ou outros sistemas de comunicação.
Psicanálise 
· Estudo da estrutura e do funcionamento do inconsciente e de suas relações com o consciente;
· Estudo das patologias ou perturbações inconscientes (neuroses e psicoses).
O ideal científico e a razão instrumental 
O ideal científico
A lógica que rege o pensamento científico contemporâneo está centrada na ideia de demonstração e prova, a partir da definição ou construção do objeto do conhecimento por suas propriedades e funções e da posição do sujeito do conhecimento, através das operações de análise, síntese e interpretação. A ciência contemporânea funda-se: 
· Na distinção entre sujeito e objeto do conhecimento;
· Na ideia de método como um conjunto de regras, normas e procedimentos gerais, que servem para definir ou construir o objeto e a para o autocontrole do pensamento durante a investigação e, após esta, para a confirmação ou falsificação dos resultados obtidos;
· O objeto científico é um fenômeno submetido à análise e à síntese;
· A lei científica diz como o objeto se constitui, como se comporta, por que e como permanece, por que e como se transforma, sobre quais fenômenos atua e de quais sofre ação;
· Os instrumentos tecnológicos são ciência cristalizada em objetos materiais, nada possuem em comum com as capacidades e aptidões do corpo humano;
· A ciência procura afastar os dados qualitativos e perceptivo-emotivos dos objetos ou dos fenômenos, para guardar ou construir apenas seus aspectos quantitativos e relacionais;
· O ideal de cientificidade impõe às ciências critérios e finalidades que, quando impedidos de se concretizarem, forçam rupturas e mudanças teóricas profundas, fazendo desaparecer campos e disciplinas científicos ou levando ao surgimento de objetos, métodos, disciplinas e campos de investigação novos. 
Ciência desinteressada e utilitarismo 
Desde o humanismo existe duas concepções sobre o valor da ciência estiveram sempre em confronto. São elas:
· Ideal do conhecimento desinteressado: afirma que o valor da ciência encontra-se na qualidade, no vigor e na exatidão, na coerência e na verdade de uma teoria, independentemente de sua aplicação prática. É por ser verdadeira que a ciência pode ser aplicada na prática, mas o uso da ciência é consequência e não causa do conhecimento científico.
· Utilitarismo: afirma que o valor de uma ciência se encontra na quantidade de aplicações práticas que possa permitir. É o uso ou a utilidade imediata dos conhecimentos que prova a verdade uma teoria científica e lhe confere valor. 
As duas concepções são verdadeiras, mas parciais.
Pode-se dizer que são os problemas e dificuldades técnicas e práticas que suscitam o desenvolvimento de conhecimentos teóricos. 
A ideologia cientificista 
O cientificismo 
É uma crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo. O senso comum cientificista desemboca numa ideologia e numa mitologia da ciência.
Ideologia da ciência: crença no progresso e na evolução dos conhecimentos que, um dia, explicarão totalmente a realidade e permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites para a ação humana. 
Mitologia da ciência: crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens. Um conjunto de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis. 
A ilusão da neutralidade da ciência 
Existe uma ilusão sobre a neutralidade na ciência, uma ideia de que não há interferência do cientista sobre seu objeto de estudo. Porém, as atividades dos cientistas não são neutras, muito menos parciais, são escolhas precisas. 
O melhor caminho para perceber a impossibilidade de uma ciência neutra é levar em consideração o modo como a pesquisa científica se realiza em nosso tempo.
O senso comum social, agora, vê o cientista como engenheiro e mago, em roupas brancas no interior de grandes laboratórios repletos de objetos incompreensíveis, rodeado de outros cientistas, fazendo cálculos misteriosos diante de dezena de computadores.
A razão instrumental 
A razão instrumental ou razão iluminista nasce quando o sujeito do conhecimento toma a decisão de conhecer, dominar e controlar a Natureza e os seres humanos. Francis Bacon, o filósofo, no início do século XVII, criou uma expressão para se referir ao objeto do conhecimento científico: “a Natureza atormentada”. Entretanto, o que é atormentar a Natureza? É fazê-la reagir a condições artificiais, criadas pelo homem. Atormentar a Natureza é conhecer seus segredos para dominá-la e transformá-la. 
Na medida em que a razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de acesso aos conhecimentos verdadeiros para torna-se um instrumento de dominação, poder e exploração. 
A noção de razão instrumental nos permite compreender:
· A transformação de uma ciência em ideologia e mito social, ou seja, em senso comum cientificista;
· Que a ideologia da ciência não se reduz à transformação de uma teoria científica em ideologia, mas encontra-se na própria ciência, quando esta é concebida como instrumento de dominação, controle e poder sobre a Natureza e a sociedade;
· Que as ideias de progresso técnico e neutralidade científica pertencem ao campo de ideologia cientificista. 
Confusão entre a ciência e técnica 
A ciênciamoderna e contemporânea transforma a técnica em tecnologia. Essa transformação traz duas consequências principais: a primeira refere ao conhecimento científico e a segunda, ao estatuto dos objetos técnicos:
1. O conhecimento científico é concebido como lógica da invenção e como lógica da construção, graças a possibilidade de estudar os fenômenos sem depender apenas de recursos de nossa percepção e inteligência;
2. Os objetos técnicos são criados pela ciência como instrumentos de auxílio ao trabalho humano. Estes são o objeto técnico-tecnológico por excelência, porque possuem as seguintes características, marcas do novo estatuto desse objeto: 
· São conhecimento científico objetivado. São resultado e corporificação de conhecimentos científicos; 
· São objetos que possuem em si mesmos o princípio de sua regulação, manutenção e transformação. São autorreguladas e autoconservadas, porque possuem em si mesmas as informações necessárias ao seu funcionamento; 
· São um sistema de objetos interligados por comandos recíprocos. 
· São sistemas que, uma vez programados, realizam operações teóricas complexas, que modificam o conteúdo dos próprios conhecimentos científicos. 
O senso comum ignora essas transformações da ciência e da técnica e considera apenas os resultados imediatos.
O problema do uso das ciências 
Muitas vezes o cientista nem imagina que a teoria terá aplicação na prática. É isso que torna o uso da ciência complicado e delicado, pois não a possiblidade de travar o uso do estudo. 
Existem usos ruins como a fabricação de armas nucleares, armas bacteriológicas, porém existem os usos bons e eficientes para a humanidade, como por exemplo, as teorias sobre a luz e som que permitem que haja comunicação e informação. 
O uso das ciências passa a fazer parte das forças produtivas da sociedade, isto é, da economia. O que interfere diretamente na vida de todos. A ciência tornou-se parte integrante e indispensável da atividade econômica. Tornou-se agente econômico e político. 
A ciência passou a ter espaço na política, o que pode ser perigoso. Isso mostra que a sociedade fica cada vez mais distante da ciência, pois está na mão dos políticos, que por sua vez decidem o que será estudado e o que será passado na mídia. Entretanto, a sociedade pode interferir no curso das decisões das pesquisas, um exemplo disso são os movimentos ecológicos e muitos movimentos sociais ligados a reivindicação de direitos. Porém, a ideologia cientificista pode ser mais forte e limitar os resultados dessas causas.

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