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Trabalho e Sociabilidade: Estudo sobre o Significado Ontológico do Trabalho e Desenvolvimento Capitalista

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Adriana Ribeiro Negrão
 Profa. Daniela Emilena Santiago
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudella
 Profa. Angélica Carlini
Trabalho e Sociabilidade
Professoras conteudistas: Adriana Ribeiro Negrão / Daniela Emilena Santiago
Adriana Ribeiro Negrão
Possui graduação em Serviço Social (1997) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
(PUC-SP), especialização em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Paulista (UNIP) e 
mestrado em Serviço Social, Políticas Sociais e Movimentos Sociais (2015) pela PUC-SP. Atualmente, 
é professora da UNIP, ministrando as seguintes disciplinas: Economia Política; Perspectivas Profissionais 
em Serviço Social; Trabalho e Sociabilidade; Classes e Movimentos Sociais; e Política Social no Brasil. 
Tem experiência nas áreas de educação e assistência social, com ênfase em programas de apoio 
à formação e permanência estudantil. Conselheira Titular do Conselho Estadual de Assistência 
Social de São Paulo. No terceiro setor, atuou em ONGs de abrangência nacional e internacional, 
nas áreas de planejamento e treinamento socioeducativo. Trabalha nas áreas de gestão e docência 
do ensino superior da UNIP.
Daniela Emilena Santiago
Graduada em Assistência Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e especialista em 
Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP). Possui 
mestrado em Psicologia e também em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita 
Filho (Unesp), campus de Assis/SP, e ainda cursa o doutorado em História na mesma universidade. 
Atualmente, é funcionária pública do município de Quatá/SP, atuando como assistente social 
na Secretaria Municipal de Promoção Social. É docente do curso de Serviço Social da UNIP, na 
modalidade EaD, e dos cursos de Psicologia e Pedagogia, campus Assis-SP.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
N385t Negrão, Adriana Ribeiro.
Trabalho e sociabilidade / Adriana Ribeiro Negrão, Daniela 
Emilena Santiago. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
112 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Processo de valorização. 2. Industrialização. 3. Categoria do 
Trabalho. I. Santiago, Daniela Emilena. II. Título.
CDU 331.88
U506.01 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Vitor Andrade
 Ricardo Duarte
Sumário
Trabalho e Sociabilidade
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 SIGNIFICADO ONTOLÓGICO DO TRABALHO E DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA ....................9
1.1 Trabalho como categoria central na constituição do ser social nos mais 
variados contextos históricos ....................................................................................................................9
1.2 Globalização econômica, desenvolvimento capitalista e desemprego .......................... 18
1.3 Trabalho, teleologia e ser social ...................................................................................................... 29
2 PROCESSO DE TRABALHO E PROCESSO DE VALORIZAÇÃO ........................................................... 34
2.1 A produção de valor por meio do trabalho nas sociedades capitalistas ....................... 34
2.2 A produção da mais-valia no modo de produção capitalista ............................................ 37
3 ALIENAÇÃO E ESTRANHAMENTO .............................................................................................................. 41
4 TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO .............................................................................................. 45
Unidade II
5 O CONTEXTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO CAPITALISTA E AS ALTERAÇÕES NA 
CONFIGURAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................................................... 52
6 O CAPITALISMO MONOPOLISTA, A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS 
MUTAÇÕES NO TRABALHO .............................................................................................................................. 65
7 A REALIDADE BRASILEIRA NO CONTEXTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO E NOS 
PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA .................................................................................... 83
8 O SERVIÇO SOCIAL E SUA VINCULAÇÃO À CATEGORIA TRABALHO ........................................... 93
8.1 As concepções de Iamamoto e Lessa sobre a relação firmada entre 
serviço social e a categoria trabalho ................................................................................................... 93
8.2 CFESS-CRESS e a defesa do trabalho e o mercado de trabalho do 
assistente social na atualidade .............................................................................................................. 97
7
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno, esta disciplina nos convida a pensar em questões relacionadas ao trabalho. Para dar 
início ao que vamos abordar neste livro-texto, é essencial ler o excerto a seguir:
“Trabalho precário, intermitente, é a antessala do desemprego”, diz Ricardo 
Antunes
Sociólogo analisa o futuro do trabalho no Brasil e a nova massa superexplorada 
da era dos serviços digitais
Ricardo Antunes é um dos maiores especialistas brasileiros no tema do mundo 
do trabalho. Atualmente, é professor de sociologia do trabalho na Universidade 
Estadual de Campinas. Em seu último livro, intitulado O privilégio da servidão, 
Antunes desenhou um quadro da situação da classe trabalhadora na história 
recente do Brasil, a partir do fim da ditadura militar. O estudo se concentra 
no que ele chama de “novo proletariado de serviços”, alavancado com o 
crescimento do trabalho digital, on-line e intermitente dos últimos anos.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o sociólogo falou sobre o futuro do trabalho, 
as características das relações trabalhistas no Brasil e os impactos da reforma 
trabalhista sobre esse cenário. “Se a classe trabalhadora, os movimentos 
sindicais, sociais e os partidos de esquerda não desenharem outro modo 
de vida, daqui a dez anos eu vou dizer ‘está muito pior’. Com o mundo da 
internet, todos podem ter um tipo de trabalho onde não tem mais limite de 
jornada, não tem mais dia e noite”, avalia o sociólogo.
Antunes também deu pistas sobre as formas de resistência que os 
trabalhadores podem impor à retirada de direitos e à crescente proletarização 
marcada pela superexploração, que tem atingido não só os trabalhadores 
do fast-food, motoboys, trabalhadores de hotéis, trabalhadores dos 
hipermercados, mas também a categorias com maior renda média, como 
médicos e advogados. Por fim, o professor enfatizou que a recuperação de 
uma política de conciliação de classes não é mais um caminhoviável. “Na 
nossa ação, todo o oxigênio não pode estar voltado para a institucionalidade. 
Qual é a prioridade? Garantir representação parlamentar ou organizar a 
massa da classe trabalhadora?”, provocou. [...] (HERMANSON, 2019).
O trecho destaca um dos maiores estudiosos contemporâneos do conceito de trabalho. O foco de 
sua explanação é discutir a orientação para as alterações que ocorrem na categoria trabalho e para as 
relações laborais a ela inerentes. Como sabemos, o trabalho é uma das principais atividades humanas, 
que condiciona a nossa subjetividade e garante nossa reprodução material. Por conseguinte, o assistente 
social precisa compreender e conhecer as mudanças na forma de organização do trabalho, uma vez que 
elas provocam alterações em sua demanda e também em seu mercado de trabalho.
8
Este livro-texto tem por objetivo acentuar elementos teóricos para ajudá-lo a fazer uma análise 
crítica do mundo do trabalho hoje, compreendendo aspectos objetivos e subjetivos que impactam o 
cotidiano de homens e mulheres que vivem nesse modelo de sociedade capitalista.
Nesse contexto, no entanto, é basal ilustrar elementos acerca das diversas configurações que o 
trabalho assumiu ao longo dos séculos.
Seguindo as Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social, conforme a ABEPSS e o Plano de 
Ensino desta disciplina elaborado pela UNIP, recorremos à perspectiva materialista histórico-dialética. 
Essa perspectiva compreende que a constituição do trabalho está relacionada à forma como o homem 
atende às suas necessidades, nos mais variados contextos. Tais análises são vitais para consolidar o perfil 
do assistente social atual, colaborando com sua formação e sua criticidade.
INTRODUÇÃO
Atualmente, temos visto o surgimento de vários formatos de organização do trabalho. Há o trabalho 
formal, os prestadores de serviços e os empreendedores. Ou seja, há um rol de opções que os seres 
humanos têm adotado para atender às suas necessidades de sobrevivência nos mais variados contextos. 
Conhecer esses formatos de organização laboral é extremamente importante para a formação de 
qualidade dos assistentes sociais.
Inicialmente, estudaremos a natureza ontológica do trabalho. Nesse instante, é essencial que você 
pense de uma forma ampla na relação que o homem estabeleceu com a natureza e com os demais 
homens e, ainda, na maneira como foi complexificando seus instrumentais de transformação da natureza 
e modificando a si próprio enquanto ser humano genérico. Serão destacadas informações a respeito das 
mudanças produzidas ao longo do desenvolvimento do gênero humano no processo produtivo e na 
categoria trabalho.
Na sequência, vamos refletir como a classe capitalista a partir do advento da industrialização 
organizou o trabalho. Estudaremos a chamada reestruturação produtiva e seus impactos nos processos 
de trabalho e na vida dos trabalhadores. Então, vamos acentuar os desafios dos trabalhadores na 
contemporaneidade. Por fim, será destacada a relação firmada entre serviço social e a categoria trabalho.
9
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Unidade I
1 SIGNIFICADO ONTOLÓGICO DO TRABALHO E DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
Neste capítulo, faremos um percurso pela categoria trabalho. Para tal, elencaremos informações 
sobre o desenvolvimento do trabalho nos diversos contextos históricos e sociais. Ainda vamos apresentar 
algumas colocações acerca do desenvolvimento do capitalismo frente à globalização, destacando 
informações sobre esse formato de organização do capital e o crescimento do desemprego.
1.1 Trabalho como categoria central na constituição do ser social nos mais 
variados contextos históricos
O termo ontologia no pensamento filosófico contemporâneo faz menção a tudo que está relacionado 
aos conceitos de realidade, existência e natureza do ser humano. Assim, quando destacamos que há 
um significado ontológico do trabalho, queremos dizer que o trabalho determina a natureza de ser. 
Ou melhor, estudar a categoria trabalho, partindo do viés marxista, pressupõe compreendê-lo como 
algo essencial, que define o desenvolvimento e a constituição do ser social. Para isso, é importante 
conhecer as diversas formas por meio das quais o trabalho foi sendo constituído ao longo dos séculos, 
uma vez que isso define, substancialmente, o ser humano, bem como as relações sociais presentes 
em uma dada sociedade.
Para a tradição marxista, as relações sociais organizam-se a partir da atividade econômica, cuja 
produção e circulação de bens garantem a satisfação das necessidades individuais ou coletivas de uma 
determinada sociedade. Há diversas formas pelas quais o ser humano busca atender a suas necessidades 
básicas. Por conseguinte, essas ações são nomeadas, dentro da perspectiva marxista, de trabalho. Assim, o 
trabalho é a forma por meio da qual o gênero humano vai conseguindo contemplar as suas necessidades.
Marx nos indica que nas sociedades primitivas o trabalho advém do processo entre o homem e a 
natureza, em que o homem transforma a natureza e, ao transformá-la, transforma a si próprio e define sua 
relação com os outros homens. Essa manipulação aconteceu para que o homem conseguisse atender 
às suas necessidades (MARX, 1996).
Outrossim, é necessário destacar que nas sociedades primitivas o homem vivia em grandes 
agrupamentos. Esses agrupamentos eram compostos de pessoas que se pertenciam e se defendiam. 
Segundo Engels (1988), o gênero humano passou por um longo processo de desenvolvimento; o homem 
começou a trabalhar em grupos, que facilitavam a caça e a atenção das necessidades mais básicas.
Conforme Engels (1988), esses formatos de “organização” não são inatos, mas foram desenvolvidos 
pelos homens primitivos. Essa necessidade, do trabalho em grupo, digamos assim, foi fundamental para 
a especialização dos órgãos do sentido. Para o autor, a vivência em grupo requereu o desenvolvimento 
10
Unidade I
da fala, da audição e do psiquismo humano. Dessa forma, há uma importante consideração a ser feita 
e que você não pode se esquecer: o trabalho influencia substancialmente o desenvolvimento humano. 
Ele é considerado como o elemento basal de especialização das funções psíquicas superiores, como 
pensamento, linguagem e memória.
Na maior parte desse período da história, o ser humano e os grandes agrupamentos sobreviviam 
da extração de elementos necessários a sua sobrevivência diretamente da natureza. Os grandes 
agrupamentos de que nos fala Engels (1988) eram nômades. Extraíam o que precisavam para sobreviver 
em uma região e, quando os recursos começavam a se esgotar, eles se direcionavam para outros espaços. 
Essa percepção de que era necessário explorar outros locais não foi algo desenvolvido prontamente 
no homem, mas sim algo que foi sendo construído de forma associada à especialização dos sentidos 
humanos. O autor nos diz, no entanto, que nem sempre todo o grupo mudava entre as regiões; antes, 
algumas pessoas se fixavam em determinadas regiões, iniciando um longo e demorado processo de 
delimitação da propriedade privada.
Engels (1988) associa a fixação do homem na terra a sua capacidade de dominar a agricultura, ao 
controle do fogo e à consolidação da família monogâmica. Para o autor, isso aconteceu no período 
chamado por ele de civilização, momento equiparado à transição entre os povos primitivos e a Antiguidade. 
A condição desenvolvida pelo gênero humano por longos séculos de administrar a agricultura, controlar 
o fogo e utilizar minérios é apontada por Engels (1988) como um fator condicionante para a fixação 
do homem na terra. Ele destaca também a consolidação da família monogâmica como um fator 
extremamente relevante na fixação do homem na terra. Para o autor, os grandes agrupamentos requeriam 
o cuidado mútuo de muitas pessoas. Com as famílias monogâmicas, o que temos é a diminuição das 
pessoas que estariam sob a responsabilidade de um dado clã.
Engels (1988) destaca que as famílias monogâmicas passam a ser construídas e estruturadas com 
base na moral sexual.Antes, nos grandes agrupamentos não tínhamos essa moral que refreava as 
relações sexuais. Nesse formato de família, de natureza heterossexual, a relação sexual passa a ser 
compreendida como algo entre homem e mulher e com a finalidade de procriação. No entanto, o autor 
também enfatiza que essa mudança no formato de organização familiar foi algo que demorou a se 
consolidar, ou seja, não foi algo que surgiu no gênero humano do dia para noite. A partir desse formato, 
a riqueza passou a ser transmitida segundo a herança (entre gerações). Dentre essas riquezas, temos a 
propriedade privada. O autor ainda evidencia que as primeiras propriedades foram fixadas a partir de 
lutas e confrontos entre os possíveis proprietários de terra, algo que, aliás, teria resultado no que Engels 
denominou como a primeira violência de grande proporção do gênero humano contra ele mesmo. 
Melhor dizendo, as primeiras ações violentas do gênero humano aconteceram entre os povos para fixar 
e defender a propriedade privada.
Já autores como Hobbes, por exemplo, compreendem que o homem deve usar os meios que desejar 
para alcançar suas finalidades. Visando alcançar seus objetivos, o homem pode usar da violência, se 
for o caso. O homem deve usá-la para defender sua propriedade. Locke, por outro lado, entendia que 
o homem não possuía esse instinto agressivo e de defesa da sua posse, mas destacava que o direito à 
propriedade era algo natural. O direito natural compreenderia o direito sobre sua vida, sua liberdade e 
seus bens, incluindo a propriedade. A propriedade privada resultava para o autor da ação do homem 
11
TRABALHO E SOCIABILIDADE
sobre a natureza. Rousseau, por sua vez, entendia que a delimitação da propriedade privada estaria 
associada à demarcação de terras pelos homens como representativa da consolidação da desigualdade 
e da miséria humana. De toda forma, para Rousseau não existia uma posse natural, como indicado por 
Locke, mas sim a posse que era conquistada com violência.
Pensando ainda nas diversas perspectivas sobre esse período do gênero humano, é interessante 
considerar o trabalho do historiador israelense Yuval Harari. Esse pensador contemporâneo nos indica 
que a apropriação da propriedade privada por parte do gênero humano teria acontecido no período 
de 9500 a 3000 a.C. O autor denomina esse período como revolução agrícola. Para ele, ela aconteceu 
quando o homem deixou a sua característica de caçador-coletor e passou a dominar a agricultura. Para 
Harari (2015), o domínio da agricultura está vinculado à habilidade humana de cultivar trigo, arroz, 
milho, batata e cevada, bem como à condição de criar animais como ovelhas e bois, por exemplo. Nessa 
fase, o homem abandonou a sua condição de extrator de riquezas em dadas regiões de forma nômade. 
O autor chega até a enfatizar que no contexto do nomadismo o gênero humano ia deixando um rastro 
de destruição dos recursos naturais por onde percorria. No entanto, o historiador ilustra que o homem 
também passou a ser domesticado e mudado nesse processo de fixação, diz que o homem aprendeu a 
viver nesse novo formato de sociedade.
Harari (2015) escreveu um livro apresentando informações relevantes da passagem do ser humano 
sobre a terra. Pautou-se no conhecimento da história mas também da biologia, da antropologia e 
da filosofia. Suas indicações destacam que o desenvolvimento do gênero humano é embalado por 
três revoluções: a agrícola (que acentuamos), a cognitiva e a científica. Cada uma dessas revoluções 
demarcam mudanças específicas pelas quais passou o gênero humano em sua relação com o mundo. 
A revolução cognitiva está vinculada a novas formas de pensar e de se comunicar do gênero humano. 
Para o autor, é a revolução cognitiva que permite que o homem construa laços de cooperação, de solidariedade 
entre os homens. Essa partilha viabiliza a criação de culturas e padrões de comportamento que são socializados. 
Harari (2015) indica que a sobrevivência do gênero humano advém da capacidade que temos de estabelecer 
uma linguagem única, que nos une como povo. Essa “capacidade” de cooperar nos permite construir 
realidades subjetivas e intersubjetivas. Isso nos permite, segundo o autor, criar normas coletivas de 
vivência e de valores religiosos. A revolução científica, por outro lado, faz menção às mudanças e às 
inovações tecnológicas processadas no mundo a partir de meados de 1940. Para ele, essa mudança tem 
como marco a bomba atômica lançada como teste no Novo México pelos EUA.
No que diz respeito à revolução agrícola, Harari (2015) nos indica que os assentamentos agrícolas 
desse período eram pequenos, com uma organização simples. Ou seja, salienta que as primeiras ocupações 
de terra e a produção nessas terras foi algo bem simples e incipiente. Porém, foi essa fixação e produção 
na terra que permitiu ao homem o acúmulo de reservas de alimentos. Esse acúmulo de reservas de 
alimentos teria promovido o surgimento lento e gradual de cidades, reinos e impérios e teria orientado 
a política, as guerras, a arte e a filosofia. Interessante ressaltar que Harari (2015) destaca que a escassez 
dos alimentos, nessa fase, teria sido um dos principais motivadores das guerras entre os proprietários 
de terra. Ele acentua, entretanto, que já nesse período observamos que os proprietários de terra 
possuíam pessoas que trabalhavam em troca do alimento, e considera esse ato como análogo à 
escravidão. O autor ilustra que havia o trabalho para a manutenção das atividades ligadas à agricultura 
e aos animais, que passaram a ser mantidos no espaço privado. Assim, nota-se que Harari (2015) tem 
12
Unidade I
uma perspectiva bastante interessante de compreender esses processos, que também foram narrados 
por Engels (1988), mas de uma forma interdisciplinar. Entretanto, partindo de pressupostos de ambos 
os autores, é possível compreender aspectos interessantes da vida do gênero humano nesse período.
Considerando nossos estudos sobre o trabalho, podemos pensar que o trabalho vivenciado nesse 
período é o mesmo trabalho que observamos na Idade Moderna? Ou melhor, o trabalho retratado na 
Antiguidade é o mesmo trabalho desempenhado em outros períodos de desenvolvimento do gênero 
humano? Para responder a essa pergunta, indicamos que a teoria marxista destaca que, naquele momento, 
atos ligados à sobrevivência eram considerados como trabalho. Contudo, não apresentavam a mesma 
configuração do trabalho humano em outros contextos, incluindo, sobretudo, a categoria trabalho na 
atualidade. Disso advém uma das colocações de extrema relevância do pensamento marxista: o trabalho 
é social, cultural e historicamente construído pelo gênero humano. Isso ainda traz outro importante 
aspecto do pensamento marxista: o trabalho advém das necessidades geradas ao gênero humano nos 
mais variados contextos.
 Observação
Para a perspectiva marxista, o trabalho é construído historicamente e 
está vinculado às necessidades que são apresentadas ao longo dos anos 
pelo gênero humano.
A Antiguidade é um período extremamente peculiar e específico de desenvolvimento do gênero 
humano. De acordo com Guarinello (2013), é convencionalmente aceito pela maioria dos historiadores 
que a Antiguidade corresponda aos anos 4000 a.C. a 476 d.C. O autor salienta que essa periodização 
histórica tem servido apenas como uma referência, ressaltando que há historiadores que defendem que 
além dos anos estimados para esse período precisamos considerar indicadores que demarcam o seu 
início e o seu fim. Nesse sentido, acentua que a Antiguidade teria início a partir da invenção da escrita 
e teria o seu declínio vinculado à queda do Império Romano no Ocidente. Retomaremos mais adiante o 
contexto da queda do Império Romano para que seja possível compreender a organização e a disposição 
desse período histórico.
Na Antiguidade, houve o surgimento e a expansão de vários povos, e cada um deles apresentou 
particularidades que definiram sua organização econômica, política, social e religiosa.Destacam-se 
povos como os sumérios (Mesopotâmia), os egípcios, os persas, os gregos, os romanos, os hebreus, 
os fenícios, os celtas e os etruscos. Os persas foram conquistados por Alexandre, o Grande. Dentre 
esses povos, os romanos e os gregos se notabilizam porque fundaram grandes impérios, razão pela 
qual são considerados os grandes impulsionadores da formação das sociedades ocidentais. Em período 
análogo, mas com particularidades, tivemos na América a chamada era pré-colombiana; há outros tipos 
de agrupamentos expressos em populações como os astecas, os maias e os incas, por exemplo. Tudo 
indica, segundo Cotrim (2002), que esses povos, também chamados ameríndios, ocuparam determinadas 
regiões no Brasil.
13
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Guarinello (2013) ilustra que é na Antiguidade que temos a origem de algumas religiões que acabaram 
atraindo grandes públicos, a exemplo do cristianismo, do budismo e do judaísmo. De maneira conjunta, 
observamos a consolidação de regras e normas de conduta vinculadas às concepções religiosas. Por sua 
vez, muitas concepções religiosas acabam influenciando na organização econômica, política e social de 
determinadas regiões.
Martins (1995) relata que, para romanos, egípcios e gregos, o trabalho manual era compreendido 
como algo pejorativo. Assim, algumas atividades que exigiam a força física dos trabalhadores eram 
apresentadas como sinônimos de vergonha, de humilhação. O trabalho intelectual, por outro lado, 
era enfatizado como algo bom, exemplo de uma situação social a ser “copiada”. O autor acentua que 
pensadores da época, como Platão, defendiam na Grécia Antiga que o trabalho era pejorativo. Outro pensador 
grego de destaque foi Protágoras. Porém, para ele, o trabalho era compreendido como algo de valor 
social e religioso, como um meio de expiação dos pecados, dos erros. Esse pensador compreendia ainda 
que, no caso do pobre, o trabalho era avaliado como bom. O pensamento de Platão, no entanto, era 
praticamente hegemônico, e o trabalho, sobretudo o braçal, era visto de forma muito negativa. Por 
conseguinte, essas sociedades eram essencialmente escravocratas. Os escravos deveriam se ocupar dos 
trabalhos tidos como humilhantes, aqueles que as pessoas de maior poder social não desejavam fazer.
Os escravos provinham de povos dominados, sobretudo por meio de guerras. Eram feitos prisioneiros 
e subjugados pelo povo que vencia a guerra. O escravo, além de trabalhar em troca de sua subsistência, 
não podia participar da vida política, das festas religiosas, de atividades educacionais. Abreu e Almeida 
(2016) ilustram que os escravos recebiam a “remuneração” dos seus trabalhos em gêneros alimentícios. 
Para isso, eram submetidos a diversas situações degradantes. Os autores destacam que havia escravos do 
campo, da casa, ou seja, havia uma hierarquia entre os escravos, e os da casa eram os mais importantes. 
No entanto, todos os escravos não podiam casar e somente poderiam ser livres por meio da concessão 
de seus “donos”. Harari (2015) acentua que os primeiros anfiteatros romanos foram construídos com 
trabalho escravo e ressalta a desigualdade, pois os trabalhadores construíam algo do qual nunca iriam 
usufruir, pois era especialmente destinado às elites.
 Saiba mais
Sabemos que toda representação fílmica é uma obra composta de 
elementos artísticos que nem sempre reproduzem a realidade. O filme a 
seguir, por outro lado, ilustra uma história com base na mitologia, ou seja, 
em essência uma visão diferenciada. É importante que você o assista e 
observe como esses elementos eram representados nas sociedades antigas.
DEUSES do Egito. Direção: Alex Proyas. EUA: Summit Entertainment, 
2016. 128 min.
14
Unidade I
A Antiguidade não possuía ainda a noção de “emprego”, uma vez que não havia a contratação de 
trabalhadores. Havia artesãos, mas esses trabalhadores produziam e vendiam por meio do comércio da 
época. Esses trabalhadores não eram contratados nessa época com uma renda fixa. Outro segmento que 
também não era escravo era o de camponeses. Estes eram livres e tinham suas atividades econômicas 
ligadas à agricultura. Também não havia um salário, embora os camponeses não fossem considerados 
escravos por aquela sociedade (MARTINS, 1995).
Martins (1995) retrata que o fim da Antiguidade decorreu de um processo denominado invasões 
bárbaras. De acordo com o autor, os bárbaros eram povos que viviam fora do território romano e que não 
falavam latim. Eram também chamados germânicos. O Império Romano, no entanto, buscando proteção 
de invasões, autorizou que os bárbaros residissem em dadas regiões do Império Romano e, em troca 
dessa concessão, os bárbaros defenderiam os territórios romanos de invasões de outros povos. Todavia, 
esse acordo entrou em declínio quando os povos bárbaros passaram a se contrapor a determinações de 
Roma, resultando até mesmo na deposição de Rômulo Augusto, último imperador romano. Foi por isso 
que houve o fim da chamada Antiguidade, como indicam vários historiadores, iniciando-se uma nova 
idade, a Medieval, também chamada por outros teóricos pelo termo Medievo, Idade Média.
Na sociedade medieval (séculos V a XV), que substituiu a antiga, houve muitas mudanças com 
relação ao trabalho. Nesse período, a sociedade era assentada em uma organização composta de 
nobreza, clero e povo. A nobreza era constituída pelas castas mais elevadas; o clero, pela Igreja Católica; 
e o povo, pelos servos. Costa (2016) acentua que a produção econômica no começo do feudalismo 
estava predominantemente pautada na produção agrícola, mas que já no final desse regime haveria a 
constituição de uma sociedade pré-capitalista.
Essa organização econômica, ou seja, essa forma como a sociedade organizava a sua produção e 
seu consumo, estava assentada em dois protagonistas básicos: senhores feudais e servos. Os primeiros 
eram os proprietários de terra, dos grandes feudos, onde se concentrava a maior parte da produção de 
alimentos que eram consumidos. Os servos eram os trabalhadores vinculados a esses espaços (ABREU; 
ALMEIDA, 2016; AMBONI, 2010).
Amboni (2010) destaca que as relações de “trabalho” entre senhores feudais e servos era pautada 
no juramento e na fidelidade. Podemos compreender essa relação como um trabalho? Será que esses 
formatos de trabalho adotados na Idade Média ficaram limitados a tal período? É possível comparar 
esses formatos de organização laboral aos usados no Brasil Colônia por donos das capitanias 
hereditárias? Para refletir sobre isso, vamos retomar o que havíamos indicado a respeito do formato 
de “trabalho” usado nesse período. Os servos trabalhavam em um regime de quase escravidão, não 
tinham salários, e tinham que realizar todo tipo de trabalho. Um servo deveria servir a seu senhor 
até a sua morte. Por conta disso, nessa época o trabalho era compreendido como “[...] compulsório, 
sob regime de servidão, primordialmente campestre, constituído por dependência social e jurídica” 
(ABREU; ALMEIDA, 2016, p. 123).
O senhor feudal, por seu lado, deveria garantir a subsistência do servo, e cabia a ele oferecer toda a 
proteção de que o servo necessitasse. Por isso, autores como Amboni (2010) e Abreu e Almeida (2016) 
compreendem que esse formato de trabalho era praticamente um regime de escravidão. Os autores ainda 
15
TRABALHO E SOCIABILIDADE
ilustram que as condições de subsistência eram precárias e nem sempre os servos tinham alimentação 
de qualidade, moradia e demais condições necessárias. Sem falar que eles eram expostos a extensas 
jornadas de trabalho, sem existir no período qualquer limitação nesse sentido. Todos os membros da 
família do servo (incluindo crianças) trabalhavam. Não havia qualquer auxílio para os servos ou para 
as pessoas pobres proveniente do Estado. Aliás, Abreu e Almeida (2016) relatam que somente em 1601, 
na Inglaterra, é que tivemos a primeira Lei de Amparo aos Pobres, segundo a qual era permitido o 
pagamento do auxílio aos mais pobres. Antes desse período, se o servo não tivesseauxílio do senhor 
feudal, também não seria contemplado pela proteção estatal.
Esse formato de organização econômica e do trabalho era sustentado pelos parâmetros da religião 
católica, hegemônica na época. Abreu e Almeida (2016) destacam que a Igreja sancionava esse tipo de 
discurso, fortalecendo esse formato de organização como algo natural. Isso porque o senhor feudal não 
apenas orientava o comportamento dos servos, mas também dispunha sobre a vida em sociedade. Como 
possuíam os mesmos objetivos, a Igreja Católica e os senhores feudais se ajudavam. O que conseguiam 
por meio desse corporativismo? Ambos tinham poder político, econômico e a sujeição de uma classe, a 
classe pobre a seu comando.
Também havia nessa época outros segmentos que circulavam pelos feudos, nomeados por Amboni 
(2010) como artesãos. Eles seriam trabalhadores já comuns na Antiguidade e que nesse regime também 
eram os responsáveis pela confecção de determinados itens. Via de regra, o artesão iria produzir na sua 
própria oficina ou residência. Ele comandava todo o processo de trabalho e poderia ser auxiliado por 
companheiros e aprendizes. Os companheiros poderiam ser pagos pelo trabalho à medida que os produtos 
fossem vendidos. Já os aprendizes eram crianças que eram entregues aos artesãos, também chamados 
mestres, para trabalhar nas oficinas. O salário era pago por meio da subsistência e da aprendizagem, ou 
seja, não recebiam salário. Outros profissionais como “[...] padeiros, carniceiros, alfaiates, ferreiros, oleiros 
ou picheleiros” também circulavam por esse espaço (AMBONI, 2010, p. 6).
Fato é que esses profissionais, até meados do século XI, orientavam grande parte de sua produção 
para as necessidades dos senhores feudais. A partir desse período é que esses profissionais começam 
a ampliar as possibilidades de comércio, e a maioria acontecia nas pequenas cidades vinculadas 
aos feudos. Essas vendas ocorriam em feiras e em espaços públicos. Inicialmente, havia a troca de 
produtos; só depois, como ilustra Amboni (2010), é que houve a consolidação do dinheiro como 
moeda de troca. O autor ressalta, entretanto, que esse formato de comércio e de trabalho trouxe à 
tona as raízes necessárias para o estabelecimento das relações de compra e venda em uma sociedade, 
naquele momento, de natureza pré-capitalista.
Nesse instante, que tal pensar no caminho que percorremos até aqui? Vimos que o trabalho estava 
ligado à maneira como a sociedade organizava a sua produção e o seu consumo. Assim, o gênero humano, 
por longos períodos, foi encontrando alternativas para atender a suas necessidades por meio de ação. 
Nos povos primitivos, a ação (ou o trabalho desenvolvido para a atenção das necessidades) era pautada 
na realização de atividades conjuntas. Não havia famílias nem propriedades privadas, mas sim grandes 
grupos de pertencimento, que se defendiam e buscavam sobreviver conjuntamente. Após um demorado 
processo pelo qual passou o gênero humano, nota-se que na Antiguidade e no feudalismo houve a 
predominância do trabalho escravo. Em ambos havia a troca, por parte de um segmento espoliado, 
16
Unidade I
de sua mão de obra e seu tempo livre por elementos ligados a sua subsistência. Claro que precisamos 
considerar as especificidades de cada período aqui citado, mas o que observamos é que em ambos os 
formatos a classe mais pobre sofreu, sendo espoliada por aquela que possuía os meios de produção.
No entanto, de acordo com a tradição marxista, no capitalismo também temos situações de 
exploração de uma classe social sobre outra. Mas, antes de explicitarmos a compreensão marxista do 
desenvolvimento capitalista, precisamos dizer que tivemos, já na Idade Moderna (a partir do século XV), 
muitas alterações na forma de produção de bens de consumo para uma dada sociedade. Essas mudanças 
foram potencializadas em decorrência das transformações tecnológicas vivenciadas em todo o processo 
de produção. Com certeza você já conhece esse conjunto de fenômenos, os quais são denominados 
convencionalmente sob o termo Revolução Industrial. A Revolução Industrial teve início na Inglaterra e 
logo ganhou outros países, provocando alterações no processo de produção capitalista como um todo. 
Em tese, essas alterações visavam potencializar o processo produtivo, garantindo maior dinamismo e a 
ampliação do lucro.
Conforme Abreu e Almeida (2016), as alterações provieram inicialmente da área têxtil. Os autores 
indicam que a inserção de máquinas a vapor foi importante nesse sentido, uma vez que potencializaram 
o processo de produção. Os autores ainda destacam que foi no mesmo período que houve o 
desenvolvimento da eletricidade, dos combustíveis, dos rádios e dos primeiros automóveis. Assim, com 
muitas descobertas, com o desenvolvimento de novas possibilidades de produção, esta deixou de ser 
essencialmente manual e passou a contar com o aporte da tecnologia.
No que diz respeito ao trabalho em si, observamos que o trabalho escravo deixou de ser aceito como 
modalidade de inserção laboral. Então, nesse novo regime de produção, o trabalhador passou a ser livre. 
Livre, entretanto, para vender a sua força de trabalho. De tal forma, o trabalhador era “[...] obrigado a 
vender sua força de trabalho em troca de remuneração que lhe proporcionaria meio de subsistência” 
(ABREU; ALMEIDA, 2016, p. 124). A remuneração, também nomeada “salário”, consiste no pagamento 
do trabalhador pelos serviços prestados, salário esse com o qual o trabalhador deveria manter todas as 
suas necessidades.
Abreu e Almeida (2016) acentuam que nessa fase de desenvolvimento do capitalismo os trabalhadores 
possuíam uma ampla jornada de trabalho, chegando a cumprir jornadas de até 18 horas por dia. Não 
havia descanso aos domingos, não havia garantias ou direitos trabalhistas. Mulheres e crianças também 
trabalhavam em jornadas extensas, e pior, recebiam salários muito menores do que o dos homens. 
Algumas crianças trabalhavam em troca de alimento, apesar de o trabalho escravo não ser mais aceito 
socialmente. No geral, as condições eram insalubres e os contratos eram praticamente vitalícios.
Pela tradição marxista, compreendemos que no contexto de produção capitalista houve, basicamente, 
duas classes sociais: a burguesa e a proletária. A primeira detinha os meios de produção; a outra possuía 
apenas a força de trabalho. Para explicar melhor, citemos o exemplo de uma empresa de sapatos. Os 
proprietários da empresa eram os burgueses, pois detinham os meios de produção. Os trabalhadores 
(proletários) eram pessoas que vendiam a sua força de trabalho, pois era a única coisa que possuíam 
(MARX, 1996).
17
TRABALHO E SOCIABILIDADE
 Saiba mais
Que tal conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento do 
capitalismo? O filme indicado a seguir é considerado um clássico, porque 
retrata exatamente o contexto de consolidação capitalista na França do 
século XIX. Apresentam-se aspectos ligados ao sindicalismo, com destaque 
para a exploração do trabalhador.
GERMINAL. Direção: Claude Berri. Bélgica: Reen Productions, 1993. 170 min.
Mas, e em nosso país, como foi organizado o trabalho? Abreu e Almeida (2016) relatam que por 
um longo período prevaleceu o trabalho escravo no Brasil. Somente a partir de meados de 1889 é 
que houve o surgimento de trabalhadores livres, o que coaduna com a libertação da escravidão. Os 
autores destacam que foi nesse momento que se iniciou a industrialização no país, com a inserção de 
maquinários e demais elementos que estimularam o desenvolvimento da produção de forma ágil. Houve 
ainda a inserção do carvão, da eletricidade e de outros aspectos que orientavam a produção de forma 
a garantir lucro. Com a industrialização e o aporte de novas tecnologias, o processo de trabalho ficou 
mais rápido e sem erros. Isso tornou o produto mais fácil de ser comercializado e diminuiu também os 
custos de produção. Hoje vivenciamos novas mutações em relação à categoria trabalho, as quais serão 
abordadas mais adiante.
Como apresentamos uma sériede informações a respeito da questão do trabalho e dos meios de 
produção, é importante sistematizar o conteúdo estudado:
Quadro 1 
Antiguidade Idade Média Modernidade Brasil
Trabalho
Escravo em grande 
parte das sociedades
Artesãos e outros 
profissionais 
Escravo no regime 
de servos
Artesãos e outros 
profissionais
Trabalho livre
Trabalhador explorado
Salário
Escravo até meados 
de 1889
Assalariado a partir 
da industrialização
Modo de 
produção
Produção para 
subsistência
Comércio pequeno
Produção agrícola
Feudal
Produção agrícola
Constituição 
dos pequenos 
comércios ao final 
do período
Capitalismo
Essencialmente 
agrícola até 
a abolição da 
escravatura
Capitalismo a partir 
da industrialização 
Em linhas gerais, nota-se que o trabalho mudou ao longo dos séculos, e essas mudanças estão ligadas 
ao modo de produção adotado nas mais variadas sociedades. Contudo, para Marx, um fato básico é 
que o trabalho possui importância vital para o desenvolvimento do gênero humano. É o trabalho que 
condiciona a subjetividade do homem e especializa os seus sentidos cada vez mais. Obviamente 
que temos que relativizar as colocações de Marx, uma vez que muitos dos processos que vivemos hoje 
18
Unidade I
em relação ao trabalho não foram por ele conhecidos. No entanto, ao aprofundar o assunto, observa-se 
que a perspectiva marxista traz questões muito importantes e que para a nossa formação são vitais. 
Na seção a seguir, vamos ilustrar mais uma vez a perspectiva marxista sobre o trabalho, com foco no 
desenvolvimento do capitalismo globalizado.
1.2 Globalização econômica, desenvolvimento capitalista e desemprego
A globalização econômica é um fenômeno inerente ao desenvolvimento capitalista. Aqui, nosso 
objeto de discussão é a vinculação dessa fase de desenvolvimento capitalista à ampliação do desemprego 
e do subemprego na sociedade contemporânea.
Todavia, para compreender esse estágio de desenvolvimento capitalista, é vital voltar um pouco 
no tempo e identificar aspectos relacionados ao contexto de globalização da economia no mundo. 
Partimos assim da crise capitalista de 1929.
Sobre a crise histórica do capitalismo, as pesquisas destacam que, no final da Primeira Guerra 
Mundial, a indústria dos EUA era responsável por quase 50% da produção mundial. O país criou um novo 
estilo de vida: o american way of life, caracterizado pelo grande aumento na aquisição de automóveis, 
eletrodomésticos e toda sorte de produtos industrializados (HOBSBAWM, 1995).
 Observação
O termo american way of life ou estilo de vida americano faz menção à 
aquisição de bens de consumo duráveis, como carros, automóveis e demais 
itens correspondentes.
Os países europeus, nesse período, voltaram a se organizar e a desenvolver sua estrutura produtiva 
pela redução de importações de produtos americanos. Em oposição, os EUA aceleraram o crescimento 
e o ritmo de produção industrial e agrícola. Países como Inglaterra, França e Alemanha modernizaram-se 
rapidamente e inovaram seus métodos industriais, colaborando para aumentar o desequilíbrio entre 
o excesso de mercadorias produzidas e o escasso poder aquisitivo dos consumidores. Configurava-se, 
assim, uma conjuntura econômica de superprodução capitalista.
O chamado crack da Bolsa de Valores de Nova York ocorreu pela superprodução, com ápice no 
dia 29 de outubro de 1929. As ações das grandes empresas sofreram uma queda vertiginosa, perdendo 
quase todo seu valor financeiro, forçando-as a reduzir o ritmo de suas produções. Por essa razão, ocorreu 
um processo de demissão em massa que somou 15 milhões de desempregados.
A crise de 1929 e a depressão subsequente geraram uma relativa desarticulação da economia 
mundial, que foi considerada uma das consequências mais significativas e que estimulou a abertura 
de novas possibilidades de desenvolvimento para os países da região que já tinham alcançado certo 
patamar. Esses países elaboraram projetos de desenvolvimento voltados para o mercado interno e para 
a industrialização via substituição de importações.
19
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Na fase do pós-guerra, os países apresentavam imensas dificuldades para reorganizar a economia, por 
exemplo, não havia na época estratégias voltadas para as exportações e para promover o desenvolvimento, 
devido ao enfrentamento de diversos obstáculos, em particular no tocante ao financiamento externo.
Marcada pela Grande Depressão, a década de 1930 registrou a regressão das atividades econômicas 
em quase todos os países do mundo capitalista e o desemprego atingiu taxas elevadíssimas. Segundo 
Hobsbawm (1995), a queda acentuada dos preços dos produtos primários impactou as regiões menos 
desenvolvidas, que em muitos casos já enfrentavam problemas de superprodução desde a década 
anterior, e que também sofreram com a depressão.
A queda acentuada dos fluxos de capital, de mercadorias e da força de trabalho rompeu com a 
tendência de contínua integração da economia mundial. De acordo com pesquisas apresentadas na 
International Money and the Macroeconomic Policies of Developing Countries (Fundo Internacional e as 
Políticas Econômicas dos Países em Desenvolvimento), de 16 a 19 de dezembro de 2002, em Muttukadu, 
Tamil Nadu, na Índia, observou-se na América Latina uma onda de moratórias das dívidas externas 
(MEDEIROS, 2002).
Esse processo, denominado desarticulação da economia mundial, embora relativo, abriu espaço para 
a busca de saídas nacionais para a crise, obrigando a maioria dos governos e países a experimentar 
políticas alternativas às tradicionais da economia neoclássica. Na década de 1930, os Estados passaram a 
intervir cada vez mais na economia, procurando regular os mercados e estimular a atividade econômica.
Criou-se um forte protecionismo por parte de um número crescente de países para combater as 
desvalorizações competitivas de moedas, os controles de câmbio e as importações, as restrições à livre 
circulação de capitais e de força de trabalho, o comércio bilateral e a crise mundial, direcionando as 
economias para o mercado interno, exportando mais e importando menos (HOBSBAWM, 1995).
Os países adotaram diferentes estratégias de desenvolvimento, condicionadas pelos resultados das 
lutas e dos impasses políticos e sociais de cada um. No caso do Brasil, a Revolução de 1930 deslocou 
a burguesia cafeeira, rompeu com o bloco hegemônico e conferiu ao Estado maior autonomia para 
responder rapidamente à crise e para conduzir um projeto calcado na industrialização e no mercado 
interno, que amadureceu paulatinamente e ganhou contornos mais nítidos no Estado Novo.
O cenário de transformações econômicas evidenciado a partir do Estado Novo marcou os anos 
seguintes com a adoção de várias medidas, entre as quais a legislação trabalhista, visando à regulação das 
relações entre capital e trabalho, a criação de inúmeros organismos de fomento e regulação de setores 
específicos da economia, a implantação da grande siderurgia e incipientes tentativas de planejamento 
econômico entre 1939 e 1943, por meio do Plano de Obras Públicas e do Reaparelhamento da Defesa 
Nacional e do Plano de Obras e Equipamentos, centrados na expansão da infraestrutura e na indústria 
de base, que buscava a racionalização do serviço público, referido na Constituição de 1937 e nas 
medidas protecionistas.
Esse cenário de expansão e transformações econômicas, na realidade brasileira do Estado Novo, 
favorecia o surgimento de projetos nacionalistas e desenvolvimentistas que, sob a hegemonia dos 
20
Unidade I
EUA, participaram da reorganização da economia mundial com base em fortes economias nacionais e 
nos países desenvolvidos contribuíram para o florescimento do Estado de Bem-Estar Social. Conforme 
Hobsbawm (1995), foi dessa forma que o grande capital financeiro internacional, enfraquecido pela 
Depressão, teve que se adaptar à nova situação.
 Lembrete
Harari (2015) destacou que o desenvolvimento do gênero humano 
deveria ser compreendido com base em três revoluções, a saber:agrícola, 
cognitiva e científica.
Harari (2015) ilustra que esse período é compreendido como a fase da chamada revolução científica. 
Como salientamos, o autor destaca que esse processo teve início a partir da Revolução Industrial, mas 
se consolidou com a bomba atômica projetada no Novo México por parte dos EUA. Ele assevera que 
naquele momento o homem compreendeu que tinha possibilidade de até mesmo acabar com a história 
dos povos em virtude do conhecimento científico. Para o historiador, é nesse momento que é solidificada 
a importância do dinheiro; assim, as sociedades passaram a fazer uma construção subjetiva do dinheiro. 
Interessante acentuar que o autor chama a nossa atenção ao fato de que é também nesse período que 
houve a construção de uma dada subjetividade em relação ao capitalismo, que passou a ser apresentado 
como o dispositivo capaz de garantir o desenvolvimento econômico perpétuo, garantindo que a 
sociedade teria alcançado o seu estágio pleno de desenvolvimento e que não haveria mais nenhuma 
mazela social com que se relacionar. De toda forma, o autor indica que esse processo de industrialização 
esteve restrito a países que já possuíam dado desenvolvimento econômico.
 Observação
A crise de 1929 é considerada o pior e o mais longo período de recessão 
econômica do século XX.
Desse modo, o contexto de amplo desenvolvimento industrial não contemplava a América Latina 
até a segunda metade dos anos 1950, dado que os projetos voltados para a industrialização focavam 
o mercado interno, ainda que usufruindo do capital estrangeiro, que causava o endividamento das 
nações latinas. Esses projetos de desenvolvimento, que se associavam ao capital estrangeiro e/ou 
visavam à autonomia, proliferaram entre as décadas de 1930 e 1970 e desmoronaram, em sua maioria, 
a partir dos anos 1980.
De acordo com Hobsbawm (1995), eram enormes as dificuldades para alcançar o desenvolvimento 
econômico, social, político e cultural. Houve diversas e diferentes tentativas dos países da América 
Latina, comprometendo a formação de uma sociedade capitalista global.
O sucesso parcial da industrialização, assegurando índices significativos de crescimento e 
desenvolvimento tecnológico, com melhoria do nível de vida das populações, não garantiu o alcance 
21
TRABALHO E SOCIABILIDADE
de uma sociedade globalizada. Ao contrário, desencadeou grandes dificuldades para o enfrentamento 
dos graves problemas de desigualdade social e pobreza, demonstrando a incapacidade de essas nações 
completarem os processos de industrialização, que dependiam basicamente de financiamento interno, 
acumulação de capital e maior ação na economia.
O excesso de intervenção estatal na economia preocupava as classes dominantes, ainda que 
considerando as necessidades de proteção para o setor industrial em forma de créditos para dar 
continuidade ao crescimento. Os capitalistas também ficavam atentos às mobilizações dos operários e 
suas intervenções na vida política, que volta e meia geravam momentos de crise e embates, especialmente 
nos casos em que essas mobilizações unificavam-se com ações populares, fragilizando, no entender das 
classes dominantes, os projetos nacionais de desenvolvimento.
A década de 1950 marcou o fortalecimento dos grandes oligopólios e empreendimentos financeiros, 
o que na década de 1970 seria um dos fatores da crise da ordem econômica internacional estabelecida 
em Bretton Woods e da retomada do processo de internacionalização do capital, com forte expansão 
das empresas multinacionais em regiões de periferia. Quando a guerra aproximava-se do fim, a 
Conferência de Bretton Woods foi o ápice de dois anos e meio de planejamento da reconstrução 
pós-guerra pelos Tesouros dos EUA e do Reino Unido. Representantes estadunidenses analisaram 
com os colegas britânicos a constituição do que tinha faltado entre as duas guerras mundiais: um 
sistema internacional de pagamentos que permitisse que o comércio fosse efetuado sem o medo de 
desvalorizações monetárias repentinas ou flutuações selvagens das taxas de câmbio – problemas que 
praticamente paralisaram o capitalismo mundial durante a Grande Depressão (MAGNOLI, 2008).
Essas transformações redesenharam a divisão internacional do trabalho e criaram novas questões para 
os projetos nacionais de desenvolvimento, que estavam com sérios problemas de financiamento interno 
e externo. A ideia baseava-se na entrada das empresas multinacionais para atuar nos mercados 
internos das nações, interferindo fortemente no crescimento da mão de obra barata e no esgotamento 
dos recursos naturais, em abundância na época.
Conforme nos diz Magnoli (2008), a autonomia nacional passava a depender de como os projetos de 
desenvolvimento das nações se apropriavam de modo dependente desse capital estrangeiro. No Brasil, 
esse era o caso de Getúlio Vargas, que esperava industrializar o Brasil e garantir sua soberania, com 
papel de destaque na América Latina, contando para isso com apoio político, financeiro e tecnológico 
norte-americano. Nos anos 1960, observou-se a ampliação da produção e da capacidade produtiva em 
escala mundial, causada pela entrada de produtos japoneses e alemães no mercado mundial e também 
devido ao avanço das industrializações tardias em países periféricos.
 Observação
O período de consolidação da globalização econômica também 
se caracteriza por ser um momento de grande organização da classe 
trabalhadora em todo o mundo.
22
Unidade I
As lutas sindicais faziam pressão para manter os lucros nos mesmos patamares e forçavam 
a elevação dos salários, o que afetou inclusive a economia norte-americana, que também era 
pressionada pela elevação dos gastos decorrentes da Guerra do Vietnã, da Guerra Fria e dos 
investimentos sociais destinados a responder à onda de contestação social que varreu o país na 
segunda metade dos anos 1960.
No mesmo período, décadas de 1960 e de 1970, observou-se crescente contestação social, 
caracterizada pela ascensão das forças de esquerda e dos movimentos sociais, que pareciam estar sendo 
tomados pelo nacionalismo, pelo fundamentalismo e pela esquerda, motivando a formação de uma 
cultura anticapitalista. Surgiram também, nessa época, movimentos em defesa de várias causas, como o 
feminista, o negro, o ambientalista e o ecológico, em contraponto a outros movimentos burocratizados 
tradicionais de esquerda.
Dessa forma, para compreender a crise do padrão de acumulação desenvolvimentista e as novas 
estratégias de desenvolvimento e inserção na economia mundial, é necessário contextualizar a nova 
fase do capitalismo iniciada no final da década de 1970, chamada por Chesnais (1996, p. 43) “de 
mundialização do capital, compreendida como um aprofundamento do processo de internacionalização 
do capital, cujo traço principal é a hegemonia do capital financeiro”.
Na visão de Antunes (2002, p. 27), essa crise capitalista do pós-1970 teve seis principais razões:
Primeira: uma queda da taxa de lucro decorrente do aumento do preço da 
força de trabalho, conquistado principalmente pela intensificação das lutas 
sociais dos anos 1960.
Segunda: o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista 
de produção.
Terceira: a hipertrofia da esfera financeira, que ganhava relativa autonomia 
frente aos capitais produtivos.
Quarta: a maior concentração de capitais graças às fusões entre as 
empresas monopolistas.
Quinta: a crise do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) e de seus 
mecanismos de funcionamento, acarretando a crise fiscal do Estado 
capitalista e a necessidade de retração dos gastos públicos e sua transferência 
para o capital privado.
Sexta: incremento acentuado das privatizações, tendência generalizada 
às desregulamentações e à flexibilização dos processos produtivos, dos 
mercados e da força de trabalho.
23
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Todas essas razões apontadas pelo autor consolidaram mundialmente o projeto de sociabilidade 
capitalista neoliberal, que pode ser entendido dialeticamente como resultadodo processo de 
reestruturação – e, portanto, de resposta à crise – do capital como relação social global.
Os capitalistas individuais enfrentaram uma concorrência que exigiu mecanismos que não são 
essencialmente econômicos e técnicos (de reestruturação produtiva), envolvendo a criação de nova 
plataforma ou parque industrial e uma complexa estruturação política e ideológica capaz de transformar 
o comportamento de empresas e todo o conjunto da sociedade.
Essa nova lógica de mercado, de divisão do capital, passou a condicionar as demais formas de 
movimentação econômica, configurações de dependência distintas das fases de desenvolvimento 
anteriores. Observou-se, nos anos 1980, intenso crescimento dos mercados de capitais, de câmbio e de 
títulos em escala global.
Mais uma vez, a liderança dos EUA na constituição desse mercado financeiro, tornando o dólar 
uma moeda-chave desse mercado, e a transnacionalização do sistema financeiro constituem peça 
fundamental na sustentação do mercado financeiro global, marcada, por sua vez, pela instabilidade e 
pela rapidez de seus fluxos.
 Observação
O capital financeiro é aquele expresso por meio de títulos e demais 
documentos que podem ser convertidos em dinheiro. Nessa modalidade 
não há produto físico, mas sim um serviço que é comercializado. Figuram 
como exemplos desses serviços os bancários, os oferecidos por seguradoras 
e também os de entretenimento.
A financeirização do capital passou a ocorrer na busca de fundos, almejando-se resultados de 
curtíssimo prazo a qualquer preço, num processo especulativo que aumentou ainda mais nos momentos 
de grande liquidez na economia mundial, como no início da década de 1990. Algumas das formas de 
especulação desse capital financeiro ocorreram, por exemplo, com petróleo, commodities, ações, 
títulos, moedas e expansão imobiliária em diversos países. Commodities, que significa mercadoria, 
principalmente minérios e gêneros agrícolas, eram produzidas em larga escala e comercializadas em 
nível mundial. As commodities eram negociadas em bolsas de mercadorias; portanto, seus preços eram 
definidos em nível global pelo mercado internacional. O Brasil é um grande produtor e exportador de 
commodities (ANTUNES, 2002).
Os países latino-americanos continuaram enfrentando intensas crises de endividamento externo 
e inflacionárias, com enormes dificuldades de se inserir na dinâmica dessa nova ordem; assim, 
abandonaram as estratégias desenvolvimentistas, passando a assumir as políticas recomendadas pelo 
chamado Consenso de Washington.
24
Unidade I
Essa expressão, Consenso de Washington, também conhecida como neoliberalismo, foi cunhada 
em 1989 pelo economista inglês John Williamson, ex-funcionário do Banco Mundial e do Fundo 
Monetário Internacional (FMI), com intenção de indicar políticas adotadas pelos EUA em relação aos 
países da América Latina. Algumas de suas características, segundo Chesnais (1996), são: abertura 
da economia por meio da liberalização financeira e comercial e da eliminação de barreiras aos 
investimentos estrangeiros; amplas privatizações; redução de subsídios e gastos sociais por parte 
dos governos; desregulamentação do mercado de trabalho, para permitir novas formas de contratação 
que reduzissem os custos das empresas.
Vinculavam-se ao Consenso de Washington algumas imposições referentes a negociações das 
dívidas externas dos países latino-americanos, por meio do modelo do FMI e do Banco Mundial, para 
todo o planeta. A ideia neoliberal baseia-se no funcionamento da economia com livre mercado, em que 
a presença do Estado inibe o setor privado e breca o desenvolvimento. Esse processo de globalização 
expandiu a tendência de abertura comercial e financeira das economias nacionais, numa onda de 
inovações tecnológicas, de reestruturação dos processos produtivos, de intensificação dos fluxos 
de capitais e de realocação espacial de inúmeros setores industriais para países periféricos, sobretudo 
para o Leste Asiático.
A opção do modelo neoliberal de paralisar o setor industrial e estimular o setor primário de 
exportações de produtos agrícolas e minerais, com destaque para o papel da China nesse cenário, 
conduziu à retomada do crescimento e à criação de políticas sociais mais abrangentes. Surgiu, assim, 
um novo dinamismo para a acumulação de capital no Leste Asiático, enquanto o restante dos países 
com menor desenvolvimento passou por fases mais lentas de crescimento e crises sociais mais graves.
Nessa época, eclodiu uma diversidade de ideologias e projetos políticos de como o Estado 
deveria responder aos ditames desse novo modelo de desenvolvimento capitalista. O processo de 
descentralização apareceu como uma estratégia em contraponto ao alto grau de rigidez e centralidade 
do modelo anterior. Os governos ficaram cada vez mais obrigados a equilibrar a coerência das grandes 
infraestruturas econômicas com as desigualdades regionais e a inserção de seus países na economia 
mundial, com investimentos tecnológicos de grande prazo.
Para Harvey (2000), tem início uma urbanização com características de planejamento diferenciadas, 
baseada na metropolização, aqui no Brasil conhecida como municipalização, com conteúdo social, 
cultural e processos de vida cotidiana pautados em diversos padrões de sociabilidade de períodos 
históricos anteriores.
As transformações somente permitem análises quando é possível decifrar estruturas institucionais, 
atores, determinadas estratégias locais e termos para tomada de decisões políticas. O curso de 
internacionalização do capital e a mundialização da produção motivaram governos locais a adotarem 
estratégias para maior participação de atores na vida urbana, com projetos de gestão e desenvolvimento 
de renda, com caráter de fortalecimento da economia regional por meio de incentivos fiscais e outros 
subsídios que marcaram a década de 1980. As funções do Estado ampliaram-se também para a 
implementação de programas ativos a fim de atrair investimentos privados para essas iniciativas locais, 
visando ao aumento do desempenho macroeconômico dessas localidades.
25
TRABALHO E SOCIABILIDADE
 Observação
A reestruturação capitalista, associada à globalização e à retração 
estatal, provocou a elevação da precarização da vida como um todo, 
sobretudo para os segmentos pobres.
Essa reestruturação elevou a níveis inimagináveis as taxas de desemprego, haja vista as novas formas 
de organização do processo de produção. Por sua vez, a classe trabalhadora vivenciou consequências 
profundas na cultura, na consciência de classe e nas formas de organização com o enfraquecimento 
dos sindicatos, que passaram a contribuir para a mudança da correlação de forças a favor da grande 
burguesia mundializada e para a hegemonia do capital financeiro.
Devido à perda da capacidade de analisar concretamente as situações e de criar propostas consistentes, 
alguns representantes organizados da classe dos trabalhadores radicalizaram, causando a desorganização 
e o afastamento dos trabalhadores das esferas sindicais. O Estado de Bem-Estar Social dos países em 
desenvolvimento, que mantinha domínio sobre as grandes economias, sofreu desmontes, para que fosse 
possível sustentar a valorização do capital financeiro, em especial por meio da ampliação da dívida pública.
Ressalta-se que, principalmente no pós-década de 1970, o capitalismo vinha tentando dar respostas 
a sua crise. Uma contradição interminável e imanente à lógica do capital o levou a passar por momentos 
de crise, segundo Marx (HOBSBAWM, 2003).
O aumento do capital constante, obtido por meio do maquinário que substituiu a força de trabalho 
(capital variável), provocou a queda da taxa de lucro. E, para escapar da sempre presente tendência à 
crise (queda da taxa de lucro), o capital deu respostas por meio da reestruturação. Em outras palavras, 
o processo de reestruturação do capital foi nada mais do que uma ofensiva do capital para aumentar a 
produtividade do trabalho e atingir outros níveis de lucratividade.Em resposta a essa longa crise, o capitalismo internacionalizou a produção e os mercados, 
aprofundando o desenvolvimento desigual e combinado entre as nações, entre classes e grupos sociais 
e nas relações dialéticas entre imperialismo e dependência, promovendo “ajustes estruturais” por parte 
dos Estados nacionais. Segundo Antunes (2002), esses ajustes estimularam livremente a especulação 
do capital financeiro, sem regulamentações e com foco para assegurar a lucratividade dos grandes 
conglomerados multinacionais, o que exige um Estado forte.
Tais ajustes fazem menção a um conjunto de condicionalidades econômicas, financeiras, políticas 
e ideológicas exigidas, propostas e requeridas pelas agências financeiras multilaterais, produzidas e 
ancoradas nas proposições dos países cêntricos do capitalismo mundial: EUA, Itália, Alemanha, 
Inglaterra, Canadá, França e Japão. O ajustamento estrutural ganhou força sistêmica, principalmente 
a partir do início dos anos 1980, período em que se agravou o endividamento externo dos países, 
sobretudo dos periféricos e endividados. Desse modo, o receituário de reformas condicionadas pelas 
instituições multilaterais (agentes destacados do capitalismo), como o Banco Mundial/Bird (Banco 
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Unidade I
Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o 
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), para que houvesse anuência para a formalização 
de empréstimos em qualquer área, passou a exigir um conjunto de reformas: estatal, educacional, 
trabalhista, previdenciária, fiscal etc. (ANTUNES, 2002).
 Observação
A globalização econômica confere a ideia de que temos uma economia 
que visa a um único interesse, um único objetivo.
O termo globalização passava a se relacionar a um fenômeno econômico que apresentava a imagem 
de uma única economia, de um único interesse. Em seu nome, “a movimentação internacional dos 
capitais é liberada, o setor público produtivo é privatizado ou desmantelado e a política monetária 
prioriza a estabilidade dos preços em detrimento do crescimento econômico” (SINGER, 2000, p. 15).
Esse processo chamado globalização econômica acentuou mais fortemente mecanismos 
ideológico-políticos e econômicos inovadores, adotados pelo capital para aumentar sua produção e 
manter o controle sobre a organização dos trabalhadores. A terceirização, a flexibilização, a informalidade, 
a busca por mão de obra barata e o controle de qualidade constituíram-se em novas estratégias para 
elevar o lucro e simultaneamente contribuíram para aumentar a precarização, a exploração do trabalho 
e do trabalhador brasileiro.
Como já vimos, a flexibilização e a adoção de novos instrumentos de trabalho, como as tecnologias e 
a microinformática, dispensaram a mão de obra, especialmente a não qualificada, para esse novo cenário 
tecnológico e implementaram os mecanismos de aumento das exportações em vários setores. Essa agilidade 
e o aumento do volume de produção facilitaram de modo expressivo o atendimento das demandas externas.
 Lembrete
Para Harvey (2000), a urbanização no Brasil é conhecida como 
municipalização, com conteúdo social, cultural e processos de vida 
cotidiana pautados em padrões de sociabilidade diversos de períodos 
históricos anteriores.
Segundo Frigotto (2000, p. 43):
[...] os grandes líderes da produção global, como é o caso da indústria 
automobilística, tradicionalmente desconcentrada, atualmente têm 
sua produção concentrada em apenas cinco fabricantes com cerca de 40% da 
produção mundial, demonstrando que os países que assumiram o controle 
da primeira fase da internacionalização do capital, entre 1450-1850, ainda 
mantêm a liderança da produção mundial.
27
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Tal análise reforça o caráter especulativo do capital, independentemente do tempo histórico e do 
contexto territorial em que se desenvolva. Segundo o autor, os investimentos realizados pelos grandes 
capitais rapidamente se fetichizaram (simbolicamente, ato de atribuir a indivíduos, partes do corpo e 
objetos propriedades de outros objetos e diferentes significados) para todos os contextos sociais nesse 
mundo globalizado e impactaram no desmonte das conquistas civilizatórias dos trabalhadores, nas 
relações sociais, alcançando seu ápice na “hegemonia do capital que rende juros – denominado por 
Marx capital fetiche – e obscurece o universo dos trabalhadores que produzem a riqueza e vivenciam a 
alienação como destituição, sofrimento e rebeldia” (ANTUNES, 2002, p. 34).
A globalização recria e intensifica a questão social, que tem sua origem no modo de produção 
capitalista e, apesar das crises e das constantes transformações, mantém inalterada a sua base 
exploratória sobre o trabalhador, exigindo reinvenção nas formas de intervenção político-social, cultural 
e econômica nesse processo.
Segundo Gorz (apud SINGER, 2000, p. 128), há registros de que mudanças ocorridas no mundo do 
trabalho “deixaram, há muito tempo, de fazer parte da liberdade do homem ou da sua identificação com 
sua atividade e passaram para o reino da necessidade”.
Nessa reflexão, surgiu o neoproletário. Este desenvolve um trabalho que pertence ao aparelho de 
produção social, o qual o gerencia, determina suas formas de operacionalização e o mantém externo aos 
indivíduos com os quais se articula.
Esse cenário globalizado criou a ilusão de que não existiriam mais trabalhadores, pois os computadores 
e os softwares dispensariam, em tese, a mão de obra. Sobre esse suposto fim do trabalho, Frigotto (2000, 
p. 295) afirma que:
[...] o grau de extração da mais-valia continua voraz e o que se libera não é o 
tempo livre, mas tempo de desemprego, de trabalho precário e de aumento de 
sobrantes. Na tese do mercado autorregulado há consumidores soberanos que 
livremente tomam suas decisões otimizadas. Na perspectiva do pós-modernismo, 
no limite, cada um é sua teoria, é sua utopia, é seu projeto histórico.
Ou seja, o trabalho não acabou, mas os postos de trabalho diminuíram consideravelmente. À época, 
ainda houve a adesão pelos Estados ao neoliberalismo. A classe pobre ficou espoliada, não tinha acesso a 
emprego e perdeu ainda a proteção social instituída pelo Estado. De tal maneira, vemos que as condições 
de vida se tornaram precárias, com o empobrecimento de grande parcela da população.
 Saiba mais
Que tal refletirmos sobre os processos de exclusão do mercado de 
trabalho por meio de um filme que aborda o assunto?
O CORTE. Direção: Costa-Gavras. França: K. G. Productions, 2004. 122 min.
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Unidade I
A produção mundial nessa escala foi fragmentada e acentuou a competição entre as grandes empresas 
e os líderes desse mercado globalizado, exigindo maiores investimentos, com o objetivo de manter ou 
adquirir lideranças tecnológicas e restringir as lideranças nos processos decisórios da produção mundial.
Corporações oligopolizadas (diz respeito a oligopólio, ou seja, várias empresas se juntam para 
monopolizar determinado setor da economia; monopolizar quer dizer ter total controle sobre tal 
coisa) destacaram-se nesse cenário globalizado, como as de montagem de automóveis, de extração, 
refino e distribuição de petróleo e de comunicação, com seus investimentos espalhados pelos cinco 
continentes. Assim, concentraram a maioria dos estoques dos investimentos globais diretos e dos fluxos 
de pagamentos internacionais.
Dessa forma, foram criados oligopólios, que iriam influir nas transformações da economia mundial 
para uma escala globalizada, conhecida também como mundialização do capital. Essas mudanças 
influíram ainda nas transições de governos e nas conformações das organizações dos Estados capitalistas.
Sobre as origens e as formas de compreensão do Estado, é válido analisar as reflexões que Norberto 
Bobbio (1987) faz sob a perspectiva de Weber, ressaltando que é somente na civilização ocidental, 
com o capitalismo racional e os fenômenos culturais com certa universalidade, que se cria em valor e 
significado um Estado comouma “entidade política, com uma ‘Constituição’ racionalmente redigida, 
um Direito racionalmente ordenado e uma administração orientada por regras racionais, as leis, e 
administrado por funcionários especializados” (BOBBIO, 1987, p. 129).
Tomando por base essa perspectiva weberiana, o Estado adquire um sentido estrito, como entidade 
política, com atributos desenvolvidos precariamente no Ocidente antes do século XVIII. Trata-se de um 
Estado em sentido lato, caracterizado como uma entidade de poder e/ou dominação presente em outros 
lugares e épocas.
Em análises compartilhadas por Marx e Weber, que são de perspectivas opostas, o Estado é 
apresentado como antediluviano (que significa “antes do dilúvio”, referindo-se ao antigo dilúvio 
bíblico, usado para descrever qualquer coisa pré-histórica; o tempo antes de as civilizações deixarem 
registros históricos).
A revolução capitalista consiste num processo de transformação histórica, porque as ações sociais 
deixaram de ser conduzidas pela tradição e pela religião para serem conduzidas pelo Estado e pela 
principal instituição econômica por este regulada – o mercado. A natureza do modo de desenvolvimento 
capitalista produziu um crescente interesse em novos mercados e em novas formas de acumulação 
do capital, independentemente das dimensões territoriais e políticas que o adotavam.
Enfim, concluímos o estudo sobre a globalização econômica e os demais aspectos vinculados a 
esse fenômeno do grande capital. Agora, vamos orientar novamente nossas discussões para a questão 
do trabalho, observando os sentidos que foram conferidos a ele por Marx e por demais estudiosos 
nessa perspectiva.
29
TRABALHO E SOCIABILIDADE
1.3 Trabalho, teleologia e ser social
Destacamos que a própria noção de trabalho foi mudando ao longo dos séculos e que essas 
mudanças sempre provocaram alterações na sociedade e, por consequência, nos seres humanos. 
Então, é preciso pensar os conceitos de teleologia e ser social aplicando-os à categoria trabalho. O que 
é teleologia? Teleologia faz menção à capacidade que o homem possui de modificar algo. Somente 
nós, seres humanos, podemos projetar mentalmente algo e executá-lo. Essa é nossa capacidade 
teleológica. Por exemplo, você quer fazer uma pintura e tem habilidade e conhecimentos para isso, 
ou seja, poderá fazê-lo.
O animal, por outro lado, não tem essa capacidade de projeção, apesar de haver alguns animais que 
também transformam a natureza, como as abelhas e as aranhas. Mas então o que diferencia os homens 
das abelhas na construção de suas colmeias ou das próprias aranhas na elaboração cuidadosa de suas 
magníficas teias? Analise uma citação do próprio Marx:
[...] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo 
em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu 
metabolismo com a natureza. [...] Não se trata aqui das primeiras 
formas instintivas, animais, de trabalho. [...] Pressupomos o trabalho 
numa forma que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha 
executa operações semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha 
mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas 
colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor 
abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo 
em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que 
já no início deste existiu na imaginação do trabalhador e, portanto, 
idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da 
matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural, o seu 
objetivo. [...] O processo de trabalho [...] é a atividade orientada a um 
fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer 
às necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre 
o homem e a natureza, condição natural eterna da vida humana e, 
portanto, [...] comum a todas as suas formas sociais (apud NETTO, 1983, 
p. 149-153).
Após a leitura atenta da citação anterior, podemos afirmar que o que diferencia os homens das 
aranhas ou das abelhas, conforme exemplificado pelo próprio Marx, é sua capacidade teleológica, 
ou seja, de primeiro planejar toda a execução de seu trabalho em sua mente e depois materializar 
aquilo que pensou. É isso que diferencia os homens dos animais. Os animais não conseguem 
projetar algo, mas o fazem pelo instinto; já nós conseguimos refletir, pensar sobre alguma coisa 
que desejamos realizar.
30
Unidade I
Podemos, então, considerar que o trabalho tem uma dimensão objetiva e uma dimensão subjetiva. 
A dimensão objetiva ocorre quando a ação material do sujeito (homem) transforma a matéria natural 
(natureza). Já a dimensão subjetiva pode ser explicada porque se processa no âmbito do sujeito, a 
princípio prefigurada em sua mente. Ou seja, a dimensão subjetiva corresponde às mudanças psíquicas 
pelas quais o homem passa em sua ação, em sua intervenção. Netto e Braz (2012, p. 33) reforçam que:
o trabalho implica, pois, um movimento indissociável em dois planos: num plano 
subjetivo (pois a prefiguração se processa no âmbito do sujeito) e num 
plano objetivo (que resulta na transformação material da natureza); assim, a 
realização do trabalho constitui uma objetivação do sujeito que o efetua.
Quando o ser humano trabalha, no entanto, não é só a sua subjetividade que muda. Ele especializa 
todos os seus órgãos do sentido, aprimorando-os. Vejamos alguns exemplos. Quando estudamos os 
povos primitivos neste livro-texto, vimos que esses povos foram aprimorando a linguagem por conta da 
necessidade de trabalhar em grupo. Assim, podemos dizer que o trabalho influenciou substancialmente 
no desenvolvimento do ser humano, incluindo seus aspectos biológicos. Pensemos no contemporâneo: 
quantas coisas você aprendeu a partir de sua inserção em algum posto de trabalho ou mesmo em suas 
atividades de estágio! Ou seja, o trabalho modificou você, aprimorou suas habilidades. Por isso, entre outras 
questões, na teoria marxista o trabalho é essencial ao desenvolvimento do ser social.
 Lembrete
Na Antiguidade, os povos primitivos se uniam por meio de grandes 
agrupamentos nos quais promoviam a defesa coletiva e a satisfação 
partilhada de demandas comuns, gerando a necessidade de trabalho, de 
ações conjuntas.
Assim, pensar no trabalho como algo ligado à teleologia pressupõe, essencialmente, compreender 
a capacidade do gênero humano em projetar mentalmente algo que deseja realizar. Pressupõe ainda 
compreender que no trabalho temos a objetivação e a subjetivação. São processos que acontecem 
continuamente, de forma constante a partir da inserção do homem em atividades laborais. Seria, 
segundo Marx, o trabalho que constituiria o ser social.
Mas, enfim, o que seria o chamado ser social na tradição marxista? É aquele que é capaz de viver 
em sociedade. Portanto, é na sociedade que o ser social encontra espaço para expressar seus diversos 
modos de existir em meio aos outros membros que a constituem. Esse processo de humanização 
dos homens faz com que o ser social seja a própria natureza historicamente transformada. Melhor 
dizendo, o ser social representa o longo estágio de desenvolvimento pelo qual passou o gênero humano. 
Por exemplo: nós, hoje, conseguimos escrever com facilidade em um caderno ou anotar um recado em 
um papel porque temos o domínio da escrita. No entanto, ao fazê-lo, estamos demonstrando nossa 
apropriação de todas as conquistas construídas historicamente pelo gênero humano. Ou seja, 
nossa escrita representa, essencialmente, a evolução do ser humano desde os primeiros pictogramas 
gravados nas cavernas até a escrita como a conhecemos hoje.
31
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Por conseguinte, quanto mais desenvolvida for uma sociedade, tanto mais desenvolvido e complexo 
será o ser social. Isto é, quanto mais complexas são as relações sociais constituídas, mais 
complexo é o ser social. Hoje sabemos manusear tablets, celulares complexos, computadores variados, 
um rol amplo de instrumentos tecnológicos. Esses dispositivos

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