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Interação Fármaco-Nutriente (Dietoterapia)

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MEDICAMENTO – forma farmacêutica que apresenta o princípio ativo/fármaco, 
existindo nas formas de cápsula, líquido, comprimido, etc. 
 FÁRMACO – substância principal, responsável pelo efeito terapêutico. 
Quando há a interação entre um fármaco e um nutriente, há efeito colateral indesejado 
(podendo retardar ou acelerar a absorção do fármaco, bem como alterar seu metabolismo, 
impedir seu efeito ou alterar sua excreção), com possível comprometimento do estado 
nutricional 
 Alguns fármacos necessitam de administração concomitante aos alimentos ou água 
para evitar irritação gástrica (como ácido folínico e azitromicina) 
 Alguns fármacos possuem contraindicação à administração concomitante aos 
alimentos (como progesterona, ivermectina e deferasirox) 
 Alguns fármacos devem ser administrados sempre da mesma forma, para evitar 
variações plasmáticas: com alimentos ou com estômago vazio (como amiodarona) 
 As interações podem ocorrer devido à influência dos nutrientes na absorção dos 
fármacos ou na biotransformação de substâncias; influência dos nutrientes na 
excreção dos fármacos, provocando alterações; alteração do estado nutricional por 
influência dos fármacos; e o estado nutricional pode agir sobre o metabolismo dos 
fármacos, reduzindo ou anulando por completo seu efeito terapêutico ou, por outro 
lado, aumentando seu efeito tóxico 
 
1. BIOFARMACÊUTICA – fase de dissolução e desintegração, englobando os processos 
desde a administração até a disponibilidade para absorção 
 Presença de nutrientes no TGI – pode alterar a desintegração da forma 
farmacêutica e dissolução do fármaco (Levotiroxina + alimentos diminui 
absorção) 
 Fármaco – natureza química, tamanho, estado físico, superfície da partícula e 
excipientes podem influenciar na quantidade de fármaco absorvida e tempo 
de absorção 
2. FARMACOCINÉTICA – passagem dos medicamentos através do organismo, englobando 
as etapas de absorção, distribuição, biotransformação e excreção, os quais podem 
sofrer alteração pela ingestão concomitante de nutrientes 
 Absorção – passagem do fármaco até alcançar a corrente sanguínea. A 
absorção pode depender da integridade do TGI, pH gástrico e velocidade do 
trânsito intestinal, podendo haver prolongamento ou abreviação do tempo de 
contato com os enterócitos, além de concentração do fármaco, grau de 
ionização e solubilidade local (retardo da absorção não significa menor 
quantidade absorvida) 
o Biodisponibilidade – quantidade de fármaco que atinge a circulação 
sistêmica depois da absorção (determina em ultima instância o efeito 
terapêutico) 
o Casos – presença de componentes alimentares, como pectina (afeta a 
absorção do paracetamol); pH gástrico alterado, impedindo a 
dissolução do fármaco (absorção da tetraciclina afetada quando 
tomado com presença de alimentos); competição por transportadores 
de absorção (levodopa e aminoácidos); formação de complexos não 
absorvíveis (tetraciclina ingerida com leite, formando quelato com o 
cálcio); esvaziamento gástrico e presença do bolo alimentar 
 Distribuição – transporte do fármaco aos diferentes órgãos pela circulação (na 
forma livre, ligado a proteínas ou na superfície das hemácias), com maior 
concentração nos órgãos mais irrigados. Esse processo pode ser facilitado ou 
não no organismo 
o Ácido graxo = afinidade por proteínas plasmáticas = menor fixação 
proteica pelo fármaco 
o Para que o fármaco exerça sua função, é necessário que esteja em sua 
forma livre 
 Metabolismo – reações de oxidação, redução, hidrólise e conjugação do 
fármaco com substâncias endógenas – Biotransformação – alteração 
estrutural do medicamento no organismo a partir de processos enzimáticos ou 
conjugação, principalmente no fígado (CYP envolvidas na biotransformação de 
vários compostos endógenos e exógenos) 
o Fármacos e nutrientes podem promover indução ou inibição dos 
sistemas enzimático (indução = brássicas induzem CYP, aumentando a 
velocidade de metabolização e diminuindo a concentração do fármaco 
→ redução do efeito; inibição = grapefruit, alimentos com reverastrol, 
curcumina, epigalocatequina-3-galato e demais alimentos com 
compostos fenólicos inibem CYP, reduzindo o metabolismo e 
aumentando a concentração do fármaco → toxicidade) 
o Casos – aumento da irrigação hepática, promovendo maior velocidade 
de chegada do fármaco ao fígado e em maior concentração quando 
administrado com alimento 
 Excreção – remoção do fármaco e de seus metabólitos do organismo por 
diferentes vias (renal e pulmonar, às drogas que permanecem inalteradas, 
digestiva e por secreções da pele) 
o Alteração do pH urinário, influenciando na excreção (urina ácida = 
reabsorção de ácidos fracos, como barbitúricos, e urina “básica” = 
reabsorção de bases fracas, como anfetamina) 
o Leite, frutas e vegetais (maioria) promovem a alcalinização da urina, 
enquanto carnes e frutos do mar, pães e biscoitos promovem a 
acidificação 
3. FARMACODINÂMICA – efeitos bioquímicos e fisiológicos do fármaco no organismo, 
havendo a interação do fármaco com seu receptor e consequente efeito terapêutico (e 
possíveis efeitos colaterais) 
 Interações agonistas – aumento da ação terapêutica 
 Interações antagonistas – anulação do efeito terapêutico esperado 
 
 Tratamentos de doenças crônicas de longa duração – maior risco de interações 
 Pacientes transplantados – muitos fármacos e supressão dos sistemas imunológico e 
enzimático 
 Pacientes que recebem dieta enteral 
 Idosos – muitos fármacos, dietas desbalanceadas, alterações na imunidade, nos 
fatores enzimáticos e na absorção de nutrientes, diminuição da capacidade metabólica 
 Crianças, lactentes e fetos – sistemas enzimáticos em desenvolvimento 
 Gestantes – requerimentos especiais para alguns nutrientes podem facilitar a 
interação 
 Desnutridos – frequentemente submetidos ao uso de medicamentos, e a desnutrição 
pode ainda afetar a oxidação dos fármacos e diminuir o tempo de excreção renal 
 Alterações no TGI (diarreia, vômito, motilidade, pH estomacal e alterações na mucosa) 
 Dietas de baixo teor proteico – afetam a ligação dos fármacos com as proteínas 
plasmáticas (alterando oxidação, conjugação e ligação) 
 Dietas hiperproteicas – elevação do nível de citocromo P-450 (estímulo da oxidação) 
 Deficiência de nutrientes – influência sobre o sistema de oxidase de função mista 
(deficiência de ferro = aumento da atividade de P-450; deficiência de magnésio = 
diminuição da atividade de P-450) 
 Obesidade – aumento do tecido adiposo, facilitando o acúmulo de metabólitos nos 
tecidos, aumentando o tempo de depuração e toxicidade 
 
Intestino delgado é local em que ocorrem a maior parte das interações fármaco-nutrientes, 
tendo em vista que é onde há a absorção. Os que mais interferem sobre a absorção de 
nutrientes são os quimioterápicos, anti-inflamatórios não esteroides e antibióticos a longo 
prazo, promovendo a lesão da mucosa intestinal 
 Interação direta, formando quelatos, podem diminuir a absorção de nutrientes por 
consequência 
 Alteração do pH gástrico – aumento do pH causado por medicamentos como 
omeoprazol e hidróxido de alumínio/magnésio promovem comprometimento da 
absorção de B12 devido à não liberação da B12 livre, complexada com proteína R 
salivar, além de diminuição da sua absorção como de alguns minerais (Ca, Fe, Zn e Mg) 
 Destruição de microvilosidades e inibição de enzimas nos enterócitos (causados por 
quimioterápicos e anti-inflamatórios) – diminuição da absorção de minerais e 
proteínas 
 Alteração no mecanismo de transporte dos nutrientes – antituberculose e tratamento 
da gota prejudicam a absorção de B12 e sulfassalazina, trimetoprim e pirimetamina 
inibem competitivamente os mecanismos de transporte da B9 
 Laxantes, antiácidos e inibidor de lipase intestinal – diminuição da absorção de 
gordura, colesterol, vitaminas lipossolúveis e betacaroteno 
 Redução da atividade da bile causada porfármacos também pode diminuir a absorção 
de gorduras, vitaminas lipossolúveis e colesterol 
 Alimentos ricos em ferro e cálcio, além de amêndoa, sardinha e canela quando 
consumidos junto a antibióticos podem promover a formação de quelatos, diminuindo 
a biodisponibilidade do fármaco, além de prejudicar a absorção do nutriente 
Dentre outros efeitos 
 
BERBEL, M. B. F. et al. Interações medicamentosas e nutricionais. In: CUPPARI, L. Guia de 
nutrição: clínica no adulto. 3ªed. São Paulo: Manole, 2014. 
HEIDOR, R. Aspectos das interações fármacos-nutrientes. In: COZZOLINO, S. M. F. 
Biodisponibilidade de nutrientes. 6ªed. São Paulo: Manole, 2020. 
MARIN, M. L.; MALUVAYSHI, C. H.; WAITZBERG, D. L. Manual de Interações Fármaco-
Alimento/Nutriente na Prática Clínica. 1ªed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018. 
SALVI, R. S.; MAGNUS, K. Interação fármaco-nutriente: desafio atual da farmacovigilância. 
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.

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