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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Publicidade e Propaganda Linguagem Visual Aula 5 Professora Sionelly Leite da Silva Lucena CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Olá! Seja bem-vindo à quinta aula da disciplina “Linguagem Visual”! Quando falamos em leitura, logo pensamos em texto, certo? Mas nesta aula vamos trabalhar com a leitura de imagens, a partir de teorias da imagem, a fim de entender seus significados e impactos a partir de sua construção social, técnica e estética. Para tal, vamos conhecer e debater teorias dos autores Boris Kossoy, Henri Cartier-Bresson e Roland Barthes, grandes nomes entre os pensadores críticos dessa área. Bons estudos! Antes de começar, acesse o material on-line e confira o vídeo com os comentários iniciais da professora Sionelly. Contextualizando Para entendermos o poder da imagem, é preciso aprofundar nossas experiências sensíveis sobre as interpretações da imagem. Um exemplo simples: um círculo pode ter diversos significados quando pensado em diferentes contextos sociais: Podemos relacioná-lo à representação do infinito, quando pensando em circularidade e movimento sem fim. Exemplo: a aliança que une, através de um anel de ouro (que é circular), um casal. O Deus Sol é representado por um círculo desde os tempos mais remotos, como na civilização egípcia. Assim, entendemos que uma “simples” imagem pode carregar preciosos e diversos significados. Para mais informações, acesse o material on-line e confira o vídeo da professora Sionelly. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Problematização Você se lembra da menina vietnamita ferida, fotografada por Huynh Cong Ut em 1972? Ela se chama Phan Thị Kim Phúc e é personagem de uma das imagens mais icônicas da história, vencedora do prêmio Pulitzer, um dos maiores do mundo: Disponível em: <https://framednetwork.com/iconic-image-phan-thi-kim-phuc/>. Acesso em: 29 mar. 2016. Essa mesma fotografia, saindo do campo do fotojornalismo, estampou uma campanha publicitária sobre a liberdade de imprensa, mudando, assim, seu contexto usual. Disponível em: <http://www.adnews.com.br/publicidade/10-fotografias-historicas-que- viraram-pecas-publicitarias>. Acesso em: 29 mar. 2016. Comparando a imagem original e a campanha publicitária, o que muda em relação ao sentido, à leitura e à interpretação? É sobre isso que vamos falar nessa aula, vamos lá! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Pesquise Tema 1 – Introdução às teorias da imagem Para Platão, em sua teoria idealista, a imagem seria uma projeção da mente e da ideia. Já Aristóteles acreditava que a imagem era a representação mental do objeto real apreendido através dos sentidos. Os estudos teóricos da imagem também costumam abordar a imagem a partir de dois pontos: a semiologia e o estudo semiótico. Semiologia É parte da semântica e entende a imagem como um texto, possuidor de uma linguagem própria, característica da produção linguística. Nessa abordagem, postula-se que qualquer imagem pode ser analisada através de um conjunto de elementos fundamentais: Elementos morfológicos: ponto, linha, plano, textura, cor e forma; Elementos dinâmicos: movimento, tensão e ritmo; Elementos escalares: dimensão, formato escala e proporção. Repare como movimento, brilho, textura, cor e profundidade de campo compõem a leitura e a significação da imagem ao lado: Estudo semiótico Considera a imagem enquanto signo na análise das relações do “objeto” com significações. O método desta escola consiste em estabelecer um paralelo entre o plano de expressão da imagem (o que ela mostra) e o seu plano de conteúdo (o que ela significa), trabalhando a imagem, assim, pelo seu modo de produção de sentidos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Independentemente do ponto de vista adotado, a análise de uma imagem deverá considerar diversos pontos, dependendo de alguns fatores: Materialidade: imagens materiais (como um quadro, uma fotografia ou uma estátua) e não materiais (como uma imagem mental ou uma projeção holográfica); Espacialidade: imagens bidimensionais e imagens tridimensionais; Temporalidade: imagens estáticas (fixas) e imagens móveis; Intenção cênica: imagens representativas e não representativas; Condições de produção: se produzidas por meios mecânicos ou humanos. Para analisar ou ler uma imagem (aqui estudaremos a fotografia, referente a uma imagem estática) devemos ainda entender dois conceitos fundamentais, derivados da conceituação semiológica de Roland Barthes, que classifica o sentido em dois: Denotativo: é o sentido literal, que se refere a uma descrição dos objetos num determinado contexto e espaço. A descrição de uma palavra no dicionário, por exemplo, é um sentido denotativo, pois denota determinado significado a cada verbete. Conotativo: refere-se a um sentido metafórico, mais subjetivo, em que se devem analisar as mensagens numa imagem/num texto, na forma como a informação aparece, escondida ou reforçada através de elementos e recursos visuais/textuais. Para entender esses conceitos na prática, vamos analisar a imagem ao lado: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Sentido denotativo: praia, mar, água, onda, céu azul, nuvens, montanha, surfista e surfe. Sentido conotativo: pode representar aventura, a “melhor onda”, adrenalina, homem e natureza. Para Umberto Eco, a conotação é a soma de todas as unidades culturais que o significante pode evocar institucionalmente na mente do destinatário. Assim, há de se entender quais são os elementos que compõem a imagem e agrupá-los de forma a construir significados denotativos e conotativos. Por exemplo, analise a imagem a seguir: É possível ver uma cena de futebol, mais precisamente um gol, certo? Essa resposta é resultado da primeira visão, que seria global. Agrupamos os elementos “bola de futebol”, “trave” e “gramado verde” e montamos um significado geral. Apenas depois de um tempo é que reparamos nesses “detalhes”. Cada um dos elementos será parte da soma, que gerará resultados, levando-se em conta que o objeto/a cena pode suscitar diferentes emoções e experiências, tanto nos leitores quanto no produtor da imagem. Há vários teóricos que se dedicam às teorias da imagem. Entre eles, vamos entender alguns sistemas, ao menos de forma introdutória, para compreensão das formas de interpretação da imagem, em específico da fotografia. Nos próximos temas, vamos falar de Boris Kossoy, Henri Cartier- Bresson e Roland Barthes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Tema 2 – Teorias da imagem 1: Boris Kossoy Entendemos até aqui que a fotografia traz uma sensação mágica de verdadeiro, enquanto cede espaço para a ficção; além disso, vimos que é nesse hibridismo que a imagem faz ver seu suporte, o qual é somado na hora da interpretação. A fotografia, assim, se aproxima mais da tentativa de tornar visível algum fenômeno, para que se possa tentar compreender a condição humana fenomenal. A credibilidade das fotos quando vistas em jornais, por exemplo, cria a sensação de verdade, que parece vir embutida na essência da fotografia e que é explorada no veículo jornalístico, confundindo fotografia com a realidade subjetiva dos fenômenos. Sobre realidade, podemos definir como as diferentes formas que o homem tem de se relacionar com o mundo. Para Boris Kossoy (1999): A fotografia tem uma realidade própria que não corresponde necessariamente à realidade que envolveu o assunto, objeto de registro, no contexto da vida passada. Trata-se da realidade do documento, da representação, uma segunda realidade, construída, codificada,sedutora em sua montagem, em sua estética, de forma alguma ingênua, inocente, mas que é, todavia, o elo material do tempo e espaço representado, pista decisiva para desvendarmos o passado (KOSSOY, 1999, p. 22). Segundo o autor, há diversos aspectos que devem ser levados em conta na análise e leitura fotográfica. Isso porque com o ato fotográfico, é construída uma segunda realidade, considerando que a imagem nada mais é do que uma representação a partir do real. Assim, para se compreender a imagem enquanto documento fotográfico, existem elementos constitutivos e coordenadas de situação que permitem à fotografia se materializar, ou seja, se tornar possível e visível. O autor fala do momento e das circunstâncias que circunscrevem o ato fotográfico. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Fonte: elaborada pela autora. A fotograficidade revela, assim, o seu poder de articular imagens e suas representações, seja no tempo, nas marcas da história ou nas imagens que constroem o sentido do mundo. O assunto de interesse do fotógrafo se materializa, mediado pela tecnologia, num determinado espaço-tempo. Imperialista, a fotografia esbarra na “leitura da realidade”, mas não passa de uma trama de construções da realidade subjetiva dos fatos. Isso porque é com as imagens do mundo que se constroem e restituem a memória, e se estruturam realidades visuais, próprias para a interpretação. A fotografia apresenta cenários constituídos por objetos imóveis, inanimados, paisagens urbanas ou naturais ou então que abrigam situações; servem de fundo para ações, fatos que têm o elemento humano como personagem. [...] Qualquer que seja o foco de nossa atenção, os elementos que comporão a imagem são transpostos para a sua nova realidade: o retângulo eterno que os abrigarão. Estamos diante de uma nova realidade, uma segunda realidade cujo conteúdo arquitetado em função do novo espaço carrega em si, na longa duração, a visão de mundo de seu operador (KOSSOY, 1994). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Vamos analisar mais uma imagem. Dessa vez de Robert Doisneau. Você já ouviu falar dele? É o responsável por aquela famosa foto de beijo em Paris. Para mais informações sobre ele, acesse o link a seguir: http://www.istoe.com.br/reportagens/193954_O+RETRATISTA+DE+PARIS A imagem em questão é a seguinte: Disponível em: <http://hypescience.com/robert-doisneau-fotografo-fotojornalismo>. Acesso em: 31 mar. 2016. Nela, é possível ver crianças brincando, uma parada, à esquerda, e outras quatro, à direita, em ponta de pé. Por serem crianças, é fácil identificar que se trata de uma brincadeira, inclusive que se trata de um lugar mais frio, tendo em vista as vestimentas dos personagens. No entanto, não podemos decifrar tão facilmente quem são as crianças, mas podemos imaginar. Por isso, é possível afirmar, de acordo com Kossoy, que a fotografia possui duas realidades: A realidade do assunto; A realidade do assunto representado. Podemos ilustrar essa teoria com um exemplo ainda mais simples: a imagem de uma escada, que pode ter pode ter diferentes recepções e interpretações. http://www.istoe.com.br/reportagens/193954_O+RETRATISTA+DE+PARIS CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Para a maioria das pessoas, a escada será um elemento identificável. Contudo, para outros, podem representar um trauma de infância (para alguém que, em uma determinada experiência, caiu da escada ou teve vertigens no alto, por exemplo); pode rememorar uma nova visão de mundo, sendo o acesso para um lugar mais alto; entre outras experiências individuais, armazenadas de forma singular. A segunda realidade da fotografia, assim, são essas lembranças suscitadas, sensações peculiares de cada um que transformam a interpretação resultante da imagem. Acesse o link a seguir e leia o texto “O paradigma da fotografia”, de Boris Kossoy, escrito em 1994. http://boriskossoy.com/wp-content/uploads/2014/11/paradigma_pt.pdf Acesse o material on-line e confira o vídeo da professora Sionelly com mais informações sobre Boris Kossoy. Tema 3 – Teorias da imagem 2: Henri Cartier-Bresson Disponível em: <http://www.magnumphotos.com/C.aspx?VP3=CMS3&VF=MAGO31_10_VForm&ERID=24KL5 3ZMYN>. Acesso em: 31 mar. 2016. A imagem vista acima é uma fotografia feita por Henri Cartier-Bresson, considerado por uma maioria o grande mestre da fotografia. Tão fácil quanto ver a correria da criança registrada na imagem é associá-la à brincadeira e à http://boriskossoy.com/wp-content/uploads/2014/11/paradigma_pt.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 energia que normalmente as crianças têm. É possível fazer algumas considerações a respeito de sua composição: A criança, bem ao centro da imagem tomada na horizontal, parece envolta nas sombras, também distribuídas ao centro; Contornando o lado esquerdo, podemos reparar nas escadas e na charmosa portinha de acesso à casa; No lado direito temos a solidez da porta, que preenche todo o lado direito a imagem. O lugar onde a criança se encontra equilibra todas as formas, luzes e sombras; ao centro, ela traz também movimento e se torna a protagonista. Considerado o pai do fotojornalismo, Bresson possui importantes contribuições na produção de imagens e na teoria. Em “O instante decisivo” (1952), ele defende que não há nada que faça o tempo voltar ou que restitua o passado. Assim como o fogo, o tempo consome a madeira e nada faz ela voltar ao que era antes. É como a imagem, quando capturada na fotografia. Uma vez registrada no filme/sensor, os sais de prata/pixels são sensibilizados pela luz e a imagem se fixa, para então se tornar o registro de uma lembrança que será dali para frente rememorada: Trabajamos en unicidad com el movimiento como algo premonitório de cómo la vida misma se desarrolla y mueve. Pero dentro del movimiento hay um momento en el cual los elementos que se mueven logran um equilíbrio. La fotografia debe capturar este momento y conservar estático su equilíbrio (CARTIER-BRESSON, 1952, p. 229). Para Bresson (1908-2004), há um instante no tempo em que os elementos se encontram em perfeita harmonia, um ponto exato inscrito na banalidade do cotidiano, um enquadramento de elementos banais transformados em uma cena “nova”. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Aquilo que o fotógrafo chama de “momento decisivo” é o momento único do tempo num determinado espaço, em que é possível registrar com equilíbrio a composição dos elementos no quadro, das formas geométricas que compõem a linguagem visual. Observado como uma estratégia de composição do quadro, o decisivo momento de apertar o botão se enquadra em um instante “mágico”, em que os elementos ganham sentido e equilíbrio quando enquadrados no devido tempo. Um exemplo clássico de instante decisivo bressoniano está na enigmática imagem “Atrás da Estação Saint Lazare”, tirada em Paris, no ano de 1932. Disponível em: <http://www.magnumphotos.com/C.aspx?VP3=CMS3&VF=MAGO31_10_VForm&ERID=24KL5 3ZMYN>. Acesso em: 31 mar. 2016. O salto numa poça no exato momento em que o pé quase toca a água, em harmonia com o anúncio dos acrobatas ao fundo, com a escada e com os anéis de metal, que fazem referência ao circo. Sem contar as outras formas geométricas, espalhadas por todo o quadro. Há quem diga que o mestre da fotografia pediu para que o personagem simulasse o pulo, outros alegam a autenticidade do salto. Verdadeira ou não, a imagem remonta o cálculo exato de apertar o botão e faz poesia com os elementos que se somam. Bresson impressionava com a habilidade de ver beleza na periferia das grandes cidades. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Por forma eu entendouma organização plástica rigorosa através da qual, exclusivamente, nossas concepções e emoções tornam-se concretas e transmissíveis. Em fotografia, esta organização só pode ser o fato de um sentimento espontâneo dos ritmos plásticos (CARTIER-BRESSON, 2004, p. 25). O instante decisivo da fotografia, em que a cena é registrada, é decisivo, pois servirá de registro único. Para trazer à mente do leitor o impacto desejado, a fotografia deve alcançar a percepção do leitor com efeitos de sentido que afetem, comovam ou mostrem os fenômenos, inclusive os que são anulados pelo repetitivo. Acesse o link a seguir e leia o texto “O instante decisivo”, de Henri Cartier Bresson: http://www.uel.br/pos/fotografia/wp-content/uploads/downs-uteis-o-instante- decisivo.pdf Acesse o material on-line e complemente seus estudos assistindo ao vídeo da professora Sionelly: Tema 4 –Teorias da imagem 3: Roland Barthes A Fotografia não diz (forçosamente) aquilo que já não é, mas apenas e de certeza aquilo que foi. Esta sutileza é decisiva. Diante de uma foto, a consciência não segue necessariamente a via nostálgica da recordação [...], mas, para toda a fotografia existente no mundo, a via da certeza: a essência da fotografia é ratificar aquilo que representa (BARTHES, 1980, p. 95-96). Roland Barthes em “A Câmara Clara” (1980) afirma que a fotografia é o atestado de que aquilo que se vê na imagem de fato aconteceu: é a esse referente “real”, existente, que ele chama de “isto foi”. Sendo a essência da fotografia a ratificação da cena que apresenta, haveria a certeza daquilo que foi presenciado e registrado pelo fotógrafo. Barthes (1980, p. 87) afirma que “ao contrário dessas imitações [referentes à pintura], na Fotografia nunca posso negar que a coisa esteve lá”. A base do “isto foi” se refere ao noema da fotografia, a essa certeza de que aquilo que se atesta na imagem foi algo registrado por alguém que presenciou o fenômeno e o captou em registro. “O grande noema da Fotografia http://www.uel.br/pos/fotografia/wp-content/uploads/downs-uteis-o-instante-decisivo.pdf http://www.uel.br/pos/fotografia/wp-content/uploads/downs-uteis-o-instante-decisivo.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 será então o ‘isto foi’ ou, ainda, o inacessível”, estende Barthes (1980, p. 97). O que Barthes chama de o “referente fotográfico” consiste no objeto que é colocado diante da objetiva, sem o qual não existiria fotografia. No caso da pintura, o referente pode ter origem na imaginação do pintor, o que não acontece com a fotografia. Essa autenticação seria o grande diferencial da fotografia entre os outros meios de reprodução visual, sendo essa convicção de existência do objeto o seu grande noema. O que ela [a fotografia] produz em mim não é o de restituir aquilo que é abolido (pelo tempo, pela distância), mas o de confirmar aquilo que vejo que existiu realmente. Trata-se, portanto, de um efeito verdadeiramente escandaloso (BARTHES, 1980, p. 92). Outros dois conceitos sobre a teoria da imagem designados por Roland Barthes (1980), o óbvio e o obtuso, ajudam a segregar as diferentes modalidades de reconhecimento e interpretação dos signos. A imagem seria, pois, pontuada por dois vieses de leitura: Em um primeiro momento, o leitor, ao fazer uma avaliação “ingênua”, identifica os elementos constitutivos da narrativa clareando a possível mensagem: é a fase da leitura óbvia, que consiste no reconhecimento dos elementos. Após isso, há outra fase na assimilação da imagem: o caráter obtuso, a partir do qual o leitor decodifica os elementos dando-lhes sentidos conotativos, ao subverter a leitura com base nos seus conhecimentos culturais e agregando a eles seu conhecimento e sua interpretação com base em suas experiências anteriores. É onde nasce a diversidade das interpretações da imagem de forma geral. Dentro dessas duas categorias, Roland Barthes faz menção a mais dois termos, ainda no livro “A Câmara Clara” (1980): o studium e o punctum. Studium: trata-se da análise com objetivos definidos, algo que engloba a metodologia para a abordagem da imagem; Punctum: seria algo além do que o olhar busca, ferindo o leitor com CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 algo que sobressai à imagem. Enquanto o studium "tem a ver como afeto médio" (1980, p. 45), é um "campo muito vasto" (ibidem, p. 47), um detalhe (p. 69); o punctum seria "amor extremo" (ibidem, p. 25) e de "interesse geral" (ibidem, p. 47), um "pequeno corte" (ibidem, p. 46), um detalhe ao acaso: Sinto que a sua presença por si só modifica a minha leitura, que é uma nova foto que contemplo, marcada, aos meus olhos, por um valor superior. Este “pormenor” é o punctum (aquilo que me fere) (BARTHES, 1980, p. 51). Acesse o link a seguir e leia o artigo “Para reler A Câmara Clara”, de Ronaldo Entler. http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_16/ronaldo.pdf Para mais informações sobre a teoria de Roland Barthes, acesse o material on-line e confira o vídeo da professora Sionelly! Tema 5 – Análise e crítica fotográficas Se toda a imagem é representação, ela deve utilizar, necessariamente, algumas regras de construção e leitura. Se essas representações devem ser compreendidas pelos leitores, é porque existe entre eles um mínimo de convenção sociocultural. Ao permitir o estudo da articulação da imagem com a semelhança, o vestígio e a convenção é que a teoria da imagem apresenta não apenas a complexidade, mas também a força da comunicação pela imagem. Por isso pareceu necessário fazer tais referências teóricas nas aulas anteriores, antes de qualquer análise interpretativa. Para Martine Joly (1994, p. 45), embasada na teoria semiótica de Charles Sanders Peirce (1839-1914), a proposta de analisar ou de explicar imagens parece, na maior parte das vezes, suspeita e provoca reticências a diversos títulos: O que se pode dizer de uma mensagem que, precisamente devido à sua semelhança, parece naturalmente legível? Uma outra atitude é contestar a riqueza de uma mensagem visual http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_16/ronaldo.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 através de um inevitável e repetitivo “o autor quis tudo isso?”; Uma terceira reticência diz respeito à imagem considerada como artística, a qual a análise deformaria, porque a arte não seria da ordem do intelecto, mas da ordem afetiva ou emotiva. Assim, é preciso considerar as generalizações e especificidades da fotografia, por meio da articulação entre semelhança, vestígio e convenção da imagem e dos seus elementos constitutivos. Como indicado por Boris Kossoy, a fotografia nos fornece uma segunda realidade, propensa a mil e uma interpretações variáveis, o que torna delicado o campo da investigação fotográfica, por três motivos: Não podemos analisar a imagem com os olhos do presente, pois fotografia é passado, mesmo que revivamos o passado no instante presente, o que é mais um efeito desse meio visual. Não conseguiríamos captar com tanta segurança as intenções do autor, que pode, inclusive, não ter intenção nenhuma. Isso porque às vezes ele tem a sorte de capturar um instante decisivo, ou seja, aquele momento em que se está no lugar certo, na hora certa e com a câmera fotográfica pronta. Os símbolos e os elementos da imagem são variáveis e fogem da interpretação coletiva. Com certeza há símbolos universais (expressão redundante dentro do campo da semiótica) mas que, mesmo assim, podem sofrer turbulência dentro de experiências individuais. Depende de como armazenamos o elemento. Diante de tais considerações, para a análise fotográfica, é preciso, portanto, ir com calma. Conhecido como um dos mais importantes fotodocumentaristas mundiais, o brasileiro Sebastião Salgado traz como tema de seus trabalhos a denúnciasocial, apoiando as causas das minorias. Seu trabalho rende sérias e ácidas críticas que advertem a exploração visual dos desfavorecidos, como também o oposto, sobre sua coragem em CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 encarar situações difíceis de olhar e sentir. Um de seus registros feito na Fazenda Giacometti, interior do Paraná (Brasil), em 1996, é analisado por José de Souza Martins (2008) no livro “8X Fotografia”, em uma profunda avaliação estética, técnica e sociológica: Disponível em: <http://gpestudosemjornalismo.blogspot.com.br/2010/10/jogo-de- visibilidade-e-invisibilidade_26.html>. Acesso em: 30 mar. 2016. A análise de Martins sobre a referida imagem está diluída no artigo “A epifania dos pobres da terra” (2008) e revela além do que o fotógrafo provavelmente pretenderia mostrar. Para o sociólogo, o fingimento teria sido necessário para se conseguir a imagem, pois com a intervenção do fotógrafo na construção e disposição dos elementos na cena, sua atuação seria mais caracterizada como uma direção de cena. Essa fotografia de Salgado, em especial, contém várias e desencontradas mensagens. Contém o que o autor quis mostrar e o que não sabia estar mostrando, mas pode ser visto mediante análise do conteúdo da foto. Ela é extensamente reveladora à luz do que tenho definido como sociologia do conhecimento visual. Essa é a razão da minha escolha (MARTINS, 2008). Para essa interpretação, Martins (2008) analisa os elementos da imagem, percebidos e identificados ao percorrer o olhar sobre a foto: O lugar aparenta ser uma fazenda, por estar cercado de vegetação. Há uma região demarcada com estacas e cerca de arame, caracterizando uma área privada, possivelmente uma fazenda; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 No centro da imagem há um homem usando boné, e que levanta uma foice à frente de uma multidão; Todos andam na mesma direção, e o líder, ao atravessar o portão, já dentro da fazenda, aponta o rumo da caminhada; Há bandeiras que alguns personagens seguram, ao fundo, carregando o símbolo do Movimento Social Sem-Terra, identificando quem são os participantes do ato; A travessia da porteira, ápice da cena, é identificada como uma ruptura com o sistema. A invasão indica a reivindicação do direito ao alcance de todos; A linha formada pela multidão conduz o olhar a um passeio por boa parte da fotografia: uma romaria estaria representando simbolicamente a busca da “Terra Prometida”, a narrativa bíblica referente a Moisés e a seus seguidores. Em seguida, em uma análise técnica, o autor descreve o ângulo da tomada: o fotógrafo fez a imagem do alto, de dentro da fazenda, para trazer efeito de profundidade e assegurar ao fundo a vista da multidão insurgente. E é a partir dessa observação que Martins (2008) atenta para a entrada do fotógrafo na cena: ao estar do lado de dentro da fazenda, Salgado teria sido o primeiro personagem a entrar no lugar. Com essa antecipação, teria se rompido o clímax e a proposta aparente da imagem: a ocupação “forçada” dos sem-terra na fazenda. O que Martins propõe, por fim, é que ao se aprofundar na leitura desta imagem, são revelados indícios de uma geração de sentido “proposital”, no que se pretende retratar a invasão e o simbolismo da luta do MST. Contudo, à luz da sociologia do conhecimento, os personagens não mais lutam, e sim fazem pose para Salgado fotografá-los, assim como fazem os fotógrafos contratados para registrar um casamento. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Assim, vê-se que a análise ou a crítica deve avaliar os pontos técnicos- estéticos da fotografia, os elementos artísticos, mais as variações sociais e culturais do fotografado, do fotógrafo e de quem lê a imagem. Portanto, não se trata de uma literalidade ou resumo, mas sim de interpretação e leitura, embasada em alguma teoria que discuta as teorias da imagem. Acesse o material on-line e confira um vídeo com mais informações sobre a análise e a crítica fotográfica. Trocando Ideias Fotógrafos e pensadores da fotografia têm dado grandes contribuições sobre a problematização da imagem. Isso porque é importante perceber a imagem não apenas por seu poder de encantamento, mas também por sua construção simbólica enquanto representação de algo. Esse “algo” e sua significação interessam ao campo da fotografia. As teorias da imagem nos ajudam a fortalecer os vínculos de sua representação. E você, acha que analisa as imagens que vê diariamente de forma crítica? Discuta essa questão no fórum! Veja também o que seus colegas têm a dizer. Esse é o momento de compartilhar opiniões e informação, não deixe de participar! Na Prática Escolha uma série fotográfica (reportagem ou ensaio fotográfico) e faça sua leitura do trabalho, a partir do conceito do autor Roland Barthes (óbvio e obtuso) ou de Henri Cartier-Bresson (instante decisivo). Desenvolva um texto (5 páginas) com linguagem científica no formato paper. Síntese Para entender a fotografia, é preciso ir além de sua superfície. A estética e a técnica, enquanto elementos constitutivos da produção da imagem, também fornecem indícios da recepção. Se determinada imagem nos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 choca/comove, é porque há algo no leitor da imagem, que é ferido por essa lembrança, que, por sua vez, é acionada pela fotografia. Além disso, é preciso entender a fotografia enquanto segunda realidade, pois ela não é a coisa em si, mas aciona a coisa a partir de sua representação. A fotografia, assim, constitui uma linguagem, e para lê-la é preciso entender os elementos que fazem parte dela. Antes de finalizar, acesse o material on-line e confira o vídeo com os comentários finais da professora Sionelly. Referências BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. 13. imp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. CARTIER-BRESSON, Henri. El instante decisivo. In: Fontcuberta, Joan (Ed.). Estética fotográfica: uma seleción de textos. Barcelona: Editora Gustavo Gili, 2003. JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Lisboa: Ed. 70, 2007. KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Ateliê Editorial: Cotia, SP, 1999. ______. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
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