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1 ELIANE CORREIA NASCIMENTO SOUZA JOSIMAR MARTINS GARUZZI BÁRBARA RODRIGUES DURÃO INFLUÊNCIA DA SOLDAGEM NA GERAÇÃO DE TENSÕES RESIDUAIS E DISTORÇÕES EM PAINÉIS SOLDADOS NA INDÚSTRIA NAVAL ARACRUZ 2013 5 RESUMO A soldagem é uma das principais técnicas aplicada durante a fabricação de uma embarcação, no entanto esse processo aplica grande quantidade de calor de maneira não uniforme, sendo considerado o processo com maior índice de geração de tensões residuais e distorções em estruturas navais. Para atender qualitativamente o crescimento do setor naval, no Brasil, é primordial o investimento em tecnologias e aprimoramento na compreensão das implicações no uso de determinados processos durante fabricação. As distorções constituem uma das principais dificuldades na construção naval; parte considerável do tempo total para construir uma embarcação é gasto com retrabalho para corrigir imperfeições. Neste trabalho são relatadas as principais causas geradoras de tensões residuais e distorções em estruturas soldadas, seus efeitos e algumas técnicas adotadas para alívio de tensões e controle de deformações. Palavra - chave: Soldagem, Tensões Residuais, Distorções. 6 LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO II Figura 2.1 – Distorções de fabricação....................................................................... 18 Figura 2.2 – Método de fabricação por blocos.......................................................... 19 Figura 2.3 – Preparação de perfis ............................................................................ 20 Figura 2.4 – Oficina de submontagem...................................................................... 21 Figura 2.5 – Linha automática para a fabricação de painéis ................................... 22 Figura 2.6 – Soldagem dos painéis enrijecidos ...................................................... 22 Figura 2.7 – Painél enrijecidos ................................................................................ 22 Figura 2.8 – Soldagem automática dos painéis........................................................ 22 Figura 2.9 – Complexidade da montagem de um bloco.............................................23 Figura 2.10 – Dique alagável .....................................................................................24 Figura 2.11 – Navio em construção em dique alagável ........................................... 25 Figura 2.12 – Fase de edificação.............................................................................. 25 Figura 2.13 – Movimentação de bloco ao ser apoiado sobre picadeiros.................. 26 Figura 2.4– Relação elástica-tensão deformação: (A) deformação elástica é diretamente proporcional á tensão. (B) Relação plástica tensão-deformação com deformação permanente........................................................................................... 27 Figura 2.15 – Mecanismos de deformação elástica.................................................. 28 Figura 2.16 – Superposição de um estado de tensões residuais e de um estado de tensões atuantes....................................................................................................... 30 Figura 2.17 – Dilatação térmica de sólidos............................................................... 32 7 Figura 2.18 – Modelo para descrever tensões térmicas. (A) Conjunto de barras presas nas extremidades e (B) a barra central sendo aquecida............................... 33 Figura 2.19 – Variação de tensão ( c) com a temperatura na barra central............. 35 Figura 2.20 – Aquecimento da barra central............................................................. 36 Figura 2.21 – Comparação entre as tensões residuais e a montagem de três barras (A) e as tensões residuais longitudinais formadas ao longo da direção transversal y de uma solda de topo (B). ........................................................................................ 37 Figura 2.22 – Desenvolvimento de tensões residuais longitudinais durante a soldagem................................................................................................................... 38 Figura 2.23 – Regiões da junta soldada ................................................................... 39 Figura 2.24 – Alguns tipos de chanfros usados em junta de topo........................... 39 Figura 2.25 – Flambagem de uma coluna................................................................. 43 Figura 2.26 – Distorções em componentes após soldagem..................................... 46 Figura 2.27 – Tipos de distorções............................................................................. 47 Figura 2.28 – Ângulo do chanfro (β), ângulo do biesel (α), (S) nariz........................ 50 Figura 2.29 – Chanfro simétrico................................................................................ 50 Figura 2.30 – Exemplos de posicionamento de solda .............................................. 52 Figura 2.31 – Redução da quantidade de distorção angular devido a diminuição do volume do metal de solda depositado....................................................................... 53 Figura 2.32 – Distorção angular em junta de topo.................................................... 53 Figura 2.33 – Junta de topo – chanfro simétrico com múltiplos passes. (A) Sequência de soldagem realizada de forma incorreta com presença de distorção angular (B) Solda balanceada livre de distorções........................................................................ 54 8 Figura 2.34 – Uso do chanfro simétrico..................................................................... 55 Figura 2.36 – Soldagem intermitente em junta de ângulo em T ................................................................................................................................... 56 Figura 2.37 – Três sequências de soldagem utilizada em junta de topo com passe simples ..................................................................................................................... 57 Figura 2.38 – Efeito da tensão residual longitudinal para as sequencias de soldagem aplicadas (progressiva, simétrica e passe a ré)........................................................ 57 Figura 2.39 – Sequência de soldagem de topo com múltiplos passes..................... 58 Figura 2.40 – Efeitos da tensão residual transversal para as três sequências de soldagem (A, B e C).................................................................................................. 59 Figura 2.41 – Uso de restrições (A) Completamente soldado; (B) Grampo fixado por parafusos................................................................................................................... 60 Figura 2.42 – Exemplo de fixação da peça de trabalho através de cunhas e “cachorros”................................................................................................................ 60 Figura 2.43 – Dispositivo dorso a dorso aplicada em soldagem de peças idênticas montadas uma sobre a outra .................................................................................... 61 Figura 2.44 – Peças acopladas com pré-deformações............................................. 61 Figura 2.45 – Pré encurvamento de chapas............................................................. 62 Figura 2.46 – (A) Esquema do painel enrijecido montado. (B) Sequência ótima de soldagem obitda pelo método de rigidez da junta (JRM).......................................... 63 Figura 2.47 – Métodos de remoção das distorções.................................................. 64 9 Figura 2.48 – Aplicação do método térmico. (A) Aquecimento localizado para corrigir distorção; (B) Aquecimento em linha para corrigirdistorção angular numa solda de filete; (C) Aquecimento por pontos para correção de flambagem............................. 65 Figura 2.49 – Correção de distorção longitudinal por flexão..................................... 65 Figura 2.50 – Uso da prensa para corrigir encurvamento em uma junta soldada em “T”.............................................................................................................................. 66 10 LISTA DE SIMBOLOGIAS SINAVAL Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore CNC Controle Numérico Computadorizado rL Variação dimensão inicial α Coeficiente de dilatação térmica linear L0 Comprimento inicial rT Variação de temperatura T Temperatura T0 Temperatura inicial σ Tensão A Área da seção transversal de cada barra E Módulo de elasticidade do material à temperatura ambiente Et Módulo de elasticidade do material a uma dada temperatura σ c Tensão na barra central σ l Tensão nas barras laterais ZF Zona fundida ZTA Zona termicamente afetada MB Metal de base Δ Deflexão lateral Ângulo do chanfro Α Ângulo do bisel S Nariz JRM Joint Rigidity Method 11 SUMÁRIO CAPÍTULO I 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 CAPÍTULO II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Soldagem na construção naval ........................................................................... 17 2.2 Etapas de fabricação dos navios ......................................................................... 18 2.2.1 Fabricação ........................................................................................................ 19 2.2.2 Etapa de submontagem ................................................................................... 20 2.2.3 Etapa de montagem ......................................................................................... 23 2.2.4 Edificação ......................................................................................................... 24 2.3 Tensões residuais ............................................................................................... 27 2.3.1 Mecanismos de deformação ........................................................................... 27 2.3.2 Definição de tensão residual ............................................................................ 29 2.3.3 Classificação das tensões residuais ................................................................. 30 2.3.3.1 Tensões residuais do tipo I ............................................................................ 31 2.3.3.2 Tensões residuais do tipo II ........................................................................... 31 2.3.3.3 Tensões residuais do tipo III .......................................................................... 31 2.4 Tensões relacionadas à soldagem ...................................................................... 32 12 2.4.1 Tensões térmicas – mecanismo básico ............................................................ 32 2.4.2 Tensões residuais de soldagem ....................................................................... 38 2.4.3 Fontes de tensões residuais na soldagem ....................................................... 40 2.4.3.1 Contração de regiões diferentemente aquecidas e plastificadas durante a soldagem .................................................................................................................. 40 2.4.3.2 Resfriamento superficial mais elevado em relação ao restante da espessura .................................................................................................................................. 41 2.4.3.3 Transformação de fase .................................................................................. 41 2.5 Fatores que afetam o desenvolvimento das tensões residuais .......................... 42 2.6 Efeitos das tensões residuais em componentes soldados ................................. 43 2.6.1 Flambagem ..................................................................................................... 43 2.6.2 Falha por fadiga ............................................................................................... 44 2.6.3 Fratura frágil ..................................................................................................... 45 2.6.4 Formação de trincas em soldas ...................................................................... 45 2.7 Distorções ........................................................................................................... 46 2.7.1 Tipos de distorções ......................................................................................... 47 2.8 Métodos para medição das tensões residuais .................................................... 49 2.9 Alívio de tensões e controle de deformações ..................................................... 50 2.9.1 Alívio de tensões residuais .............................................................................. 50 2.9.2 Controle de deformações ................................................................................. 52 13 2.9.2.1 Medidas preventivas adotadas no projeto de estruturas soldadas ............... 52 2.9.2.2 Técnicas preventivas de fabricação aplicadas durante a soldagem .............. 54 2.9.2.3 Correção das distorções após soldagem ...................................................... 63 3. Conclusão ............................................................................................................ 68 Referência Bibliográfica ............................................................................................ 69 14 CAPÍTULO I 1. INTRODUÇÃO A recuperação da indústria naval e offshore, no Brasil, são influenciadas especialmente pelo setor de petróleo e gás natural. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria, Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL), a aposta do setor está no plano de investimentos da Petrobras. Expectativas geradas principalmente na exploração e produção do petróleo offshore, descoberto nas reservas do pré-sal prevê até 2015 a fabricação de navios-sonda, navios petroleiros, plataformas de produção e navios de apoio, reaquecendo o setor naval. Entretanto, para que está indústria se torne mais competitiva é imprescindível o aprimoramento dos processos de fabricação. Alguns métodos construtivos aplicam ampla quantidade de calor de maneira não uniforme favorecendo o aparecimento de imperfeições. Nesse âmbito é clara a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias e estudos para melhor entendimento das implicações originadas no uso dos processos. As técnicas utilizadas na produção naval são muitas, este trabalho abordará os principais efeitos decorrentes da soldagem na geração de tensões residuais e distorções. A soldagem se faz presente em todas as etapas de fabricação das embarcações sendo uma das principais técnicas usadas nos estaleiros. Essa prática quando aplicada em conformidade com procedimentos aprovados oferece qualidade as soldas executadas, porém os gradientes térmicos originados durante a união das peças tornam a soldagem o processo com maior índice de geração de tensões residuais e distorções em estruturas navais (GUROVA, 2006). Diversos processos de soldagem são utilizados na produção de navios e cada processo possui suas particularidades inserindo maior ou menor quantidade de calor. De modo geral os processos realizados a arco elétrico aplicam grande aporte térmico em uma pequena porção do material, as consequências desse efeito é o aparecimento de imperfeições de fabricação. 15 Painéis enrijecidos constituemestruturas básicas na construção de navios, cerca de 50% do aço usado na indústria naval é aplicado na fabricação dessas estruturas (MELO, 2006). Os painéis são obtidos pela união entre placas de aço e são enrijecidos com a soldagem de reforços transversais e longitudinais, podendo em determinados casos ser enrijecido em ambos os lados. Os enrijecedores tem a função de fortalecer as chapas aumentando a resistência dos painéis, de forma que os mesmos suportem os esforços exigidos em trabalho (PICANÇO, 2010). Os processos básicos empregados na confecção dos painéis são o corte a conformação mecânica e a soldagem. Os múltiplos processos empregados na fabricação naval inserem diferentes níveis de tensões residuais, estes índices são distintos variando de acordo com as características do material e particularidades de cada processo aplicado à peça. De acordo com Gurova (2006) e Amaral (2006) as distorções manifestadas como imperfeições de fabricação constituem uma das principais dificuldades para construção naval e offshore. A influência desses efeitos é tanta que na etapa de montagem por blocos o tempo gasto com retrabalho, para ajustar alterações geométricas e atribuir acomodação entre peças, representa aproximadamente 30% do tempo total para fabricar uma embarcação. As imperfeições constituem sérias complicações no desenvolvimento do projeto, podendo causar desde danos estruturais (distorções, disposição à fratura frágil, formação de trincas, etc.), a atrasos nos prazos de conclusão das etapas, além de aumentar o custo final do empreendimento. Examinar o estado de tensões presente nas estruturas é importante, os indicadores obtidos representam um fator relevante na determinação da capacidade de carga e vida útil da estrutura, além de possibilitar ações de correção durante execução do projeto, favorecendo o controle da integridade do material e o planejamento de manutenção. 16 Outra ação importante é o planejamento adequado, constituído deste a elaboração do projeto e se vinculando durante e após a etapa de soldagem. Essa atuação pode ser feita com uso de diversas técnicas dentre elas métodos para alívio de tensões residuais e controle de deformações. O presente trabalho comenta a influência da soldagem na geração de tensões residuais e distorções em estruturas soldadas na indústria naval. Para tanto será apresentada uma revisão bibliográfica do contexto e menção de alguns métodos de controle de deformações. O propósito do trabalho é contribuir para o entendimento dos efeitos produzidos na soldagem, de modo que algumas ponderações possam ser apresentadas no intuito de reduzir tensões residuais e distorções, diminuindo ações de retrabalho para corrigir defeitos. 17 CAPÍTULO II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 SOLDAGEM NA CONSTRUÇÃO NAVAL A indústria naval vem se desenvolvendo desde 1920, naquele período a união de peças para construção das embarcações era feita por meio de rebitagem. A partir da década de 30 passou a ser utilizada a soldagem a arco elétrico, fato que mudou os princípios básicos da construção naval (AMARAL, 2004). A possibilidade de união das estruturas navais de forma permanente fez com que estaleiros substituíssem a rebitagem pela soldagem a arco, por se tratar de um procedimento mais eficiente. A modificação resultou em aumento da qualidade e confiabilidade no serviço executado, essa ação contribuiu na redução do peso das embarcações pela eliminação de porcas, rebites e placas de reforço, além de diminuir o risco de vazamento nos locais das uniões (MARQUES, 2005). Com o passar dos anos os processos de soldagem vem se aprimorando cada vez mais, a adição de novas técnicas torna os mecanismos cada fez mais eficazes e produtivos na união de peças metálicas. Segundo Okumura (1982) a quantidade de uniões por soldagem na construção naval é bastante significativa, à representatividade chega a um terço dos trabalhos executados na construção de uma embarcação. Embora a soldagem tenha acrescentado benefícios consideráveis no campo das construções metálicas, à aplicação desse método também trouxe novas dificuldades, especialmente relacionadas ao comportamento do material nas uniões soldadas (OKUMURA, 1982). As figuras 2.1 e 2.2 apresentam distorções provenientes do processo de soldagem. 18 a) b) Figura 2.1 a) e b) - distorções de fabricação. Fonte: Cabral, 2011. 2.2 Etapas de fabricação dos navios A utilização da soldagem no processo construtivo naval proporcionou mudanças na etapa de produção que se modificou para um método de submontagens e montagens de blocos soldados que são posteriormente agregados. O objetivo da técnica é projetar produtos intermediários semelhantes para prover uma produção em escala (CABRAL, 2011). A possibilidade de explorar as similaridades de produtos intermediários pode gerar ganhos na escala de produção. Segundo Okumura (1982), na construção de embarcações o processo por blocos é amplamente utilizado, este método evolutivo pode ser dividido em quatro partes fundamentais: · Fabricação; · Etapa de submontagem; · Etapa de montagem; · Edificação. 19 Figura 2.2 – Método de fabricação por blocos. Fonte: F. L, 2000; apud Amante, 2006. 2.2.1 Fabricação Cada tipo de embarcação possui seus componentes estruturais específicos, no entanto, geralmente a fase de fabricação é caracterizada pela aplicação dos processos de jateamento, risco (marcação das dimensões), corte e identificadas das peças. Os cortes são feitos de acordo com as especificações métricas do projeto. Entre os métodos de corte aplicados pode-se mencionar o oxicorte, o plasma, o laser e o CNC que proporciona excelentes resultados dimensionais (LUCAS, 2011; CABRAL, 2011). Outro processo aplicado nessa etapa é a conformação, método construtivo que permiti atribuir às peças os formatos especificados em projeto. Todas as ações aplicadas na fase de fabricação preparam os perfis para a etapa de montagem dos sub-blocos. A figura 2.3 a), b) e c) demonstra a preparação de alguns perfis. 20 a) b) c) Figuras 2.3 a), b) e c) – Preparação de perfis. Fonte: Slide Arte Naval- Universidade Federal de Pernambuco, 2012. 2.2.2 Etapa de Submontagem As peças previamente preparadas e identificadas são unidas por soldagem constituindo estruturas de menor porte que dão origem aos sub-blocos (CABRAL, 2011). Os painéis enrijecidos são alguns entre os produtos feitos nesta etapa. Os sub-blocos posteriormente passam a compor os blocos na etapa subsequente de produção. As oficinas de submontagem ou pré-montagem são localizadas estrategicamente dentro do layout do estaleiro, situando-se próximo às oficinas de pré-fabricação e preparação do aço e às áreas de edificação, assemelhando-se a uma linha de 21 produção de modo a agilizar o processo. Nestas oficinas encontram-se presentes uma série de recursos, tais como máquinas de solda (de vários tipos), pórticos e pontes rolantes e outros equipamentos necessários à fabricação (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – ARTE NAVAL, acessado em 30 jun. 2012). A figura 2.4 apresenta um exemplo de oficina de submontagem. Figura 2.4 – Oficina de submontagem. Fonte: Slide Arte Naval- Universidade Federal de Pernambuco, acessado em 25 ag. 2012. Amante (2006) descreve que os painéis enrijecidos são produtos com predicados de concepção similar, sendo considerados produtos intermediários. Essa característica oferece a possibilidade de fabricação em série, por esse motivo grandeparte dos painéis são soldados de forma automatizada para aumentar a qualidade e diminuir o tempo de produção. A soldagem automatizada proporciona elevada velocidade de soldagem e por consequência menor imposição de calor e menores índices de deformações. Os níveis de tensões e distorções presentes nos painéis enrijecidos influenciam diretamente na evolução das etapas seguintes. As figuras 2.5, 2.6, 2.7 e 2.8 apresentam a soldagem de painéis enrijecidos. 22 Figura 2.5 - Linha automática para a fabricação de painéis. Fonte: Slide Arte Naval- Universidade Federal de Pernambuco, 2012. 2.6 2.7 Figura 2.6 - Soldagem dos painéis enrijecidos. Fonte: Cabral, 2011. Figura 2.7 - Painel enrijecido. Fonte: Picanço, 2010. Figura 2.8 - Soldagem automática dos painéis. Fonte: Pacífico, 2009. 23 2.2.3 Etapa de Montagem Etapa em que são obtidos os blocos propriamente ditos a partir da montagem dos sub-blocos. O bloco constitui uma parte completa da embarcação. O método de soldagem usado nesta etapa é em maioria de forma manual e semiautomática, devido às dificuldades encontradas como posição de soldagem, tarefa não padronizada e acessibilidade (LUCAS, 2011). Outra dificuldade encontrada refere-se à presença de elevados níveis de distorções dimensionais presentes nas estruturas intermediárias. Essas deficiências atrapalham o desenvolvimento das etapas de montagem dos sub-blocos podendo originar blocos acoplados de forma irregular, além de ocasionar atrasos devido à necessidade de correções nas partes distorcidas, associada ao grau de complexidade na montagem das estruturas navais (CABRAL, 2011). A figura 2.9 apresenta um exemplo da montagem de um bloco. Figura 2.9 - Complexidade da montagem de um bloco. Fonte: Lucas. 24 2.2.4 Edificação Depois de finalizada a montagem dos blocos, estes são deslocados para locais apropriados, carreira ou dique, através de guindastes onde é efetivado o posicionamento e união dos blocos formando o navio. Este é o momento mais crítico da fabricação, envolvendo a movimentação de grandes blocos e alinhamento complexo de todos os componentes da embarcação: casco, reforços transversais e longitudinais, decks, divisórias, vigas e tubulações, etc. (LUCAS, 2011). Existem diversa técnicas de edificação, o tipo de área de edificação limita os tipos de técnicas de montagem e o posterior lançamento da embarcação. O local denominado “carreira” corresponde à área onde á embarcação é edificada no seco e depois, desliza para a água durante o lançamento. O Dique é uma área plana, alagável, onde a embarcação é construída no seco, sendo o dique alagado no momento do lançamento (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – ARTE NAVAL, acessado em 15 jul. 2012). A figura 2.10 exibe um modelo de dique alagável. Figura 2.10 – Dique alagável. Fonte: Slide Arte Naval- Universidade Federal de Pernambuco, acessado em 25 ag. 2012. 25 A figura 2.11 monstra uma embarcação em construção em um dique alagável, a figura 2.12 apresenta o navio em fase de edificação e a figura 2.13 exibe a movimentação de um bloco a ser apoiado sobre picadeiros. Figura e 2.11- Navio em construção em dique alagável. Fonte: Esab soluções para indústria naval e offshore. Figura 2.12 - Fase de edificação. Fonte: Slide Arte Naval- Universidade Federal de Pernambuco, acessado em 25 ag. 2012. 26 Figura 2.13 – Movimentação de bloco a ser apoiado sobre picadeiros. Fonte: Pinto. Considerando as etapas de fabricação, Lucas (2011) destaca a presença de distorções e o tempo gasto para correções das imperfeições como um dos principais desafios do setor naval. Segundo Lucas a ocorrência é agravada pelo fato dos projetos atuais de construção naval e offshore estarem utilizando materiais de menor espessura, a fim de reduzir o peso da embarcação para melhorar a dirigibilidade, desempenho e economia de combustível. A tendência em reduzir a espessura das chapas torna ainda mais significativa à influência do calor nas alterações dimensionais e na geração de tensões residuais nas estruturas. Um dos recursos indicados por Lucas (2011) para reduzir as imperfeições é o investimento em automatização da soldagem. Ele observa neste recurso as vantagens de diminuição do tempo de produção, maior qualidade da solda, menor imposição de calor e menores índices de distorções. No entanto, é conveniente notar que a soldagem automatizada é usada principalmente na união dos painéis, onde a produção é em alguns casos sequencial oferecendo boa acessibilidade. Essas condições não estão presentes em todas as juntas de soldas tornando o uso da automatização impraticável a maioria das ocasiões. 27 2.3 TENSÕES RESIDUAIS 2.3.1 Mecanismos de deformação Deformações em materiais ocorrem quando forças são impostas a esses elementos, assim uma estrutura se deforma ou se esforça segundo a intensidade da tensão que lhe é imposta. Quando um carregamento é aplicado a um material e os valores de tensão e deformação são proporcionais, o processo é denominado de deformação elástica, neste caso a deformação não é permanente, após a remoção da carga a deformação desaparece e o material retorna a sua forma original. Caso a deformação permaneça depois de removida a carga o processo recebe o nome de deformação plástica (CALLISTER, 2006). A figura 2.14 apresenta a relação elástica tensão deformação. (a) (b) Figura 2.14 - Relação elástica tensão-deformação: (a) Deformação elástica é diretamente proporcional à tensão; (b) Relação plástica tensão-deformação: deformação permanente. (a) Fonte: Van Vlack, 2000. Van Vlack (2000) relata que a deformação elástica precede a deformação plástica e que um material cristalino qualquer é passível de sofrer o processo de deformação elástica. Considerando a aplicação de uma força trativa sobre um corpo este se tornará ligeiramente mais longo em virtude da força aplicada retornando as 28 dimensões originais posteriormente a retirada da carga. Caso o carregamento seja compressivo a peça torna-se levemente menor retornando a posição inicial após remoção da carga de compressão Na figura 2.15 temos a representação do mecanismo de deformação elástica. Figura 2.15 – Mecanismo de deformação elástica (maximizada). Os átomos não ficam permanentemente deslocados dos átomos vizinhos originais. (a) Carga Trativa, (b) nenhuma deformação, (c) Carga Compressiva. Fonte: Van Vlack, 2000. 2.3.2 Definição - Tensão Residual Pode-se definir tensão residual como tensões internas existentes em um corpo, estando este, livre de quaisquer forças externas ou gradientes térmicos (FBTS, 2003). Tensões internas presentes em um corpo apresentam-se em equilíbrio, ou seja, a resultante das forças e momentos produzidos é zero. O valor máximo em módulo que as tensões residuais podem alcançar é o próprio limite de escoamento do material. Valores de tensões acima do limite de escoamento ocasionarão deformações plásticas e ocorrerá uma redistribuição das tensões residuais (LU, 1996, apud NUNES, 2008). (1) 29 (2) Do mesmo modo qualquer excitação como remoção de material, aplicação de carregamentos térmicos ou mecânicos que cause perturbação ao equilíbrio, modificando o nível de tensão, conduz a novas adaptações de modo que as tensões se equilibrem novamente (LU, 2005, apud RODRIGUES, 2007). Conforme mencionado, às tensões residuais podem ser originadas em diversosprocedimentos aplicados durante etapas de fabricação de uma embarcação. A ocorrência notória neste fato é que o estado de tensões modifica-se á medida que esforços de diferentes naturezas são aplicados à peça (RIBEIRO, 2008). A presença de tensões residuais em componentes de engenharia pode alterar consideravelmente características do material como capacidade de resistir a carregamentos, resistência à fratura e vida em fadiga. As tensões residuais juntam- se à tensão de carregamento em serviço, imposta ao equipamento, podendo acrescentar ou diminuir o valor efetivamente aplicado à peça em função da natureza trativa ou compressiva das tensões residuais (VIEIRA SOARES, 1998). Tensões residuais trativas podem ser perigosas quando tensões aplicadas ao componente também forem trativa, a soma das tensões trativas pode contribuir para a iniciação e o crescimento de trincas de fadiga. Já as tensões residuais compressivas se opõe a direção de carregamento trativo, neste caso, a tensão residual compressiva amortiza o nível de tensão aplicada e inibe a iniciação e a propagação de trincas (VIEIRA SOARES, 1998). Da mesma forma se a peça apresentar tensão residual compressiva e o carregamento de serviço também for compressivo, o valor da tensão compressiva será acrescido. A figura 2.16 apresenta uma estrutura com tensões residuais compressivas na superfície e trativas no núcleo. A carga atuante de trabalho é trativa, na redistribuição de tensões o efeito é trativo, porém o valor da tensão sofreu considerável redução (COSME SOARES, 2003). 30 Figura 2.16 - Superposição de um estado de tensões residuais e de um estado de tensões atuantes. Fonte: Cosme Soares, 2003. 2.3.3 Classificação das tensões residuais As tensões residuais estão associadas à densidade e distribuição dos defeitos cristalinos nos materiais. As regiões onde se desenvolvem tensões residuais podem variar muito em escala desde a ordem de grandeza atômica até grandes volumes de material [...] (MASUBUCHI, 1980, apud MARQUEZE, 2002, p. 3). Segundo Vieira Soares (1998), as tensões residuais são comumente classificadas em três tipos: · Tensão residual tipo I · Tensões residuais tipo II · Tensão residual tipo III Estes tipos de tensões residuais mencionadas por Vieira Soares (1998) são comentadas a seguir. 31 2.3.3.1 Tensões residuais do tipo I São tensões quase homogêneas se espalhando por grandes partes do material (vários grãos) e se conservam em equilíbrio no corpo. Essas tensões tem origem em deformações plásticas proveniente de fontes térmicas ou mecânicas. Um exemplo peculiar deste tipo de tensão é encontrado em chapas finas soldadas, onde tensões residuais longitudinais são observadas. O efeito das tensões tipo I podem tanto ampliar como reduzir a intensidade do carregamento aplicado em serviço, dependendo da distribuição, intensidade e sentido das tensões residuais. No estudo da soldagem podem estar presentes tanto micro como macro tensões e complexas sobreposições dos tipos I, II, III, todavia, quando se fala de tensões residuais são geralmente apreciadas apenas as tensões residuais Tipo I (AMANTE, 2006). 2.3.3.2 Tensões residuais do tipo II São tensões de escala granular originadas em deformações plásticas microestruturais localizadas em uma pequena área do material em equilíbrio com grãos vizinhos. Alterações no estado de equilíbrio das tensões podem provocar modificações macroscópicas do corpo, ou seja, evolução do estado de tensão passando para o tipo I. 2.3.3.3 Tensões residuais do tipo III Tensões do tipo III se propagam por pequenas extensões interatômicas em uma porção de grão, encontra-se em estado de equilíbrio e tem origem em defeitos cristalinos. Microtensões são tensões muito utilizadas para estudo do comportamento microestrutural, correspondendo às tensões residuais do tipo II e tipo III. Tensões residuais tipo I são especialmente usadas em engenharia para diagnóstico de projetos mecânicos e estruturais. 32 2.4 TENSÕES RELACIONADAS À SOLDAGEM 2.4.1 Tensões térmicas – mecanismo básico Considerando uma estrutura livre de restrições dimensionais, aquecida uniformemente, a peça se expandirá em todas as direções, ao final da aplicação de calor e resfriamento a estrutura terá se contraído uniformemente para retornar as suas dimensões originais. Nestas condições ao final do ciclo termal não serão observados efeitos mecânicos relevantes, ou seja, o objeto ficará livre de tensões residuais e distorções. Entretanto, se a peça for aquecida de forma não uniforme e existirem restrições à expansão e contração, tensões residuais e distorções podem se desenvolver na estrutura (FBTS, 2003). Quando um material recebe um aporte de calor suas dimensões dilatam-se proporcionalmente a variação de temperatura [ (Halliday, 2000). A equação de dilatação térmica, abaixo descreve esse fenômeno: (3) Onde: = variação dimensão inicial; = coeficiente de dilatação térmica linear; l0 = comprimento inicial. Figura 2.17 – Dilatação térmica. Fonte: http://www.ufsm.br/gef/Calor/calor19. 33 Para melhor entendimento desse tema vários autores, Cabral (2011), Modenesi (2011), Amante (2006) e Okumura (1982) trabalham com modelos análogos em que consideram três barras de mesmo tamanho e seção - de um aço com baixo teor de carbono que são acopladas em seus extremos por duas bases, de modo que nenhuma possa se alongar ou contrair independentemente das demais. A figura 2.18, abaixo, apresenta esse modelo. Figura 2.18 - Modelo para descrever tensões térmicas. (A) Conjunto de barras presas nas extremidades e (B) barra central sendo aquecida Fonte: Cabral, 2011. Inicialmente será estimado que as tensões existentes no material na ausência de uma solicitação externa são nulas, assim o sistema está em auto-equilíbrio, e que as barras encontram-se a temperatura ambiente (figura 2.18 – A). Aplicando um aquecimento na barra II e as demais permanecendo na temperatura ambiente, a barra aquecida tenderá a dilatar-se, mas será impedida pelas demais barras através das bases (Figura 2.18 - B). Esse efeito implicará no desenvolvimento de tensões compressivas na barra central e tensões trativas nas barras I e III de intensidade igual à metade do valor na barra central, pois de acordo com a equação (1), tem-se: 34 (4) Onde: = tensão média, Ai = área da seção transversal de cada barra, Considerando que os valores das respectivas áreas das seções (A1 = A2 = A3) são idênticas e que a intensidade de tensão nas barras I e II também é igual, temos que ( 1 = 3), assim: (5) A figura 2.19 esboça o desenvolvimento da tensão longitudinal média na barra II em função da temperatura. Observa-se que no início da aplicação de calor (figura 2.19, A-B), as tensões e deformações resultantes da expansão da barra II serão elásticas. Como as barras conservam o mesmo tamanho aproximado, a dilatação térmica tem de ser contrabalançada por deformações elásticas, e a seguinte relação deve ser satisfeita: (6) Onde: E = módulo de elasticidade do material à temperatura ambiente, Et =módulo de elasticidade do material à uma dada temperatura (T) da barra central, T = temperatura da barra central, σc = tensão na barra central, σl = tensão nas barras laterais. Como as barras possuem a mesma seção, l = - 0,5 σc) e assim: (7) 35 Figura 2.19 - Variação da tensão ( c) com a temperatura na barra central Fonte: Modenesi, 2011. Caso o aquecimento continuesendo aplicado, a tensão na barra central atinge o limite de escoamento do material fazendo com que tensões compressivas ocasionem a deformação plástica na barra II a partir (ponto B). Como o limite de escoamento diminui com a ampliação da temperatura, o valor da tensão na barra central tende a cair à medida que sua temperatura aumenta e a barra sofre uma maior deformação plástica (figura 2.19, curva - BC). Caso seja cessada a aplicação de calor no ponto (C), a barra central começa a perder calor e tende a se contrair. Devido às restrições atribuídas pelas barras externas, à tensão de compressão é reduzida até tornar-se nula. Acima da temperatura ambiente, em virtude da deformação plástica a barra central tornasse mais curta do que as externas, com a continuação do resfriamento, tensões de tração passam a atuar na barra II até que o limite de escoamento, agora sob condições de tração, seja atingido no ponto (D). Ao final do resfriamento, a temperatura ambiente, como efeito da deformação plástica a barra II apresentará um comprimento menor do que as barras I e III, figura 2.20. 36 Como as barras estão vinculadas pelas bases, as diferenças de tamanho entre elas serão acomodadas por deformações elásticas que provocarão tensões residuais. Na barra central as tensões serão de tração com valor próximo ao limite de escoamento do material (figura 2.19, ponto E) e tensão de compressão nas barras I e III, para manter o equilíbrio de forças, com valor igual à metade da tensão da barra central considerando que as seções transversais das barras possuam a mesma área. Figura 2.20 - Aquecimento da barra central. Fonte: Amante, 2006. A analogia das três barras pode ser usada para entender o desenvolvimento das tensões residuais e distorções geradas nos processos de soldagem. A barra central pode ser comparada a região da solda que recebe calor diretamente da fonte térmica. As barras I e III sofrem efeitos semelhantes a das regiões adjacentes ao local afetado diretamente pelo calor. Baseado nesta análise nota-se que a região da solda, diretamente aquecida, apresentará tensões residuais de tração enquanto as regiões vizinhas apresentarão tensões residuais de compressão. Podemos apreciar essa analogia na figura 2.21. 37 Figura 2.21 - Comparação entre as tensões residuais e a montagem de três barras (A) e as tensões residuais longitudinais formadas ao longo da direção transversal y de uma solda de topo (B). Fonte Cabral, 2011. A figura 2.22 esboça a evolução das tensões em uma junta soldada em virtude do aquecimento não uniforme. No segmento AA’ o material esta livre de tensões, pois ainda não foi atingida pelos gradientes térmicos devido à distância do ponto considerado em relação à poça de fusão. Na seção BB’ adjacente à poça de fusão, o material aquecido tenta dilatar-se, porém é restringido pelas áreas menos afetadas pelo calor, originando tensões de compressão próximas ao metal de solda e tensões de tração nas regiões um pouco mais afastadas - que não sofreram fusão durante a soldagem. Quando o limite de escoamento do material é alcançado à parte aquecida sofre deformação plástica em compressão. Na poça de fusão as tensões são inexistentes, pois o material ainda encontra-se na fase líquida. Após solidificação e resfriamento da solda o material passa a contrair-se, porém é outra vez impedido pelas regiões mais frias do metal de base, que ficam em locais mais afastados da zona fundida. Desde modo na seção CC’ surgem tensões de tração junto ao metal de solda e tensões compressivas nas áreas mais afastadas 38 Essas tensões aumentam de intensidade induzindo o escoamento da região aquecida. Após o resfriamento da peça, representado pela seção DD’, as tensões residuais na região central da solda atingem coeficientes próximos ao limite de escoamento do material. Figura 2.22 - Desenvolvimento de tensões residuais longitudinais durante a soldagem. Fonte: Cabral, 2011. 2.4.2 Tensões residuais de soldagem No processo de soldagem por fusão a fonte de calor é fornecida pelo arco elétrico, este é resultante de uma descarga elétrica através de um meio ionizado a elevada temperatura produzindo eficácia térmica necessária para causar fusão localizada e posterior união das peças (MARQUES, 2005). A fusão do metal de base ocorre em região devidamente preparada para conter a solda - chamada de chanfro, a fusão ocorre simultaneamente no metal de base e no metal de adição formando a poça de fusão que após a solidificação constitui a junta soldada. A execução da soldagem implica no uso de elevada quantidade de calor 39 imposta a uma pequena quantidade do material ocasionando alterações de propriedades na zona fundida, zona termicamente afetada. · Zona fundida (ZF): (região que sofreu fusão durante a soldagem); · Zona termicamente afetada (ZTA): região do metal de base que não foi fundida durante a soldagem, mas cujas propriedades mecânicas e microestruturais foram alteradas devido à geração de calor imposta pela soldagem; · Metal de base (MB): porção da peça a ser soldada (FBTS, 2003). A figura 2.23 exibe as regiões presentes em uma solda soldada. Figura 2.23 - Regiões da junta soldada. Fonte: adaptado de Modenesi, 2008. A figura 2.24 apresenta diversos tipos de chanfro usados em junta de topo. Figura 2.24 – Alguns tipos de chanfros usados em junta de topo. Fonte: adaptado de Modenesi, 2008. 40 2.4.3 Fonte de tensões residuais na soldagem As tensões residuais na soldagem são tensões internas em equilíbrio que permanecem no material após a execução da operação de soldagem. Estas tensões são geradas por escoamentos parciais localizados que ocorrem durante o ciclo térmico da soldagem. Podem ser tanto trativas como compressivas, dependendo da região considerada (zona fundida, zona afetada pelo calor, material de base) e de alguns fatores tais como aporte térmico, pré-aquecimento, grau de restrição da junta, quantidade de passes de solda, velocidade de soldagem, etc. (MARQUEZE, 2002). Segundo Stefen (2008) e Gurova (2006) os principais efeitos produzidos pela soldagem são regidos por três aspectos termo-mecânicos: · Contração, no resfriamento, de áreas que foram desigualmente aquecidas e plastificadas durante a soldagem; · Resfriamento superficial mais elevado em relação a outras áreas; · Transformação de fase com distintas propriedades termomecânica para cada fase do material. 2.4.3.1 Contração de regiões diferentemente aquecidas e plastificadas durante a soldagem Normalmente a principal fonte de tensão residual é a contração no resfriamento de áreas diferentemente aquecidas e plastificadas durante a soldagem. A intensidade de tensões também está relacionada ao grau de restrição na direção considerada. Inicialmente a região aquecida apresenta baixa tensão de escoamento a quente, o material passa a deformar-se plasticamente. Com continuação do resfriamento e consequente diminuição da temperatura, a tensão de escoamento que era baixa começa a elevar-se, fazendo com que a região ao contrair-se passe a se opor a 41 deformação plástica a tração. Esse processo instala tensões residuais trativas na região que foi aquecida e tensões compressivas nas regiões menos afetadas pelo calor (Ribeiro, 2000). Em decorrência dessas ações as peças não dispõem de rigidez suficiente e se deformam tendendo aliviar o nível das tensões residuais. As deformações são proporcionais à extensão da zona plastificada (GUROVA, 2006). 2.4.3.2 Resfriamento superficial mais elevado em relação ao restante da espessura. O resfriamento mais intenso na superfície do material em relação ao restante da espessura faz com que apareçam tensões residuais. Isso ocorre, pois além da diferençade temperatura nas orientações longitudinais e transversais, também, existirá outro gradiente térmico na espessura da peça soldada, assim o resfriamento acontece de forma não homogênea ao longo da profundidade. Essa diferença de temperatura poderá acarretar deformação plástica localizada e, por conseguinte, tensões residuais ao longo da espessura. Em chapas espessas esses efeitos podem causar alto nível de tensões residuais quando a variação de temperatura ao logo da espessura for elevada e o limite de escoamento for baixo para esta faixa de temperaturas (ESTEFEN, 2008). 2.4.3.3 Transformação de fase As mudanças de fase que ocorrem na soldagem geram tensões devido à ampliação de volume que ocorre durante a transformação da austenita para ferrita, bainita, perlita ou martensita. De tal modo, em uma junta soldada, a região da (ZTA) que passa por transformações microestruturais apresentará tendência a expandi-se, porém ficará impedida pelo restante do material mais frio e não transformado. Esses efeitos geram tensões residuais de compressão na região transformada (ESTEFEN, 2008). O estado de tensões na região do cordão de solda também está relacionado às condições de resfriamento e espessura das estruturas soldadas. 42 2.5 Fatores que afetam desenvolvimento das tensões residuais Okumura (1982) e FBTS (2003) descrevem os principais elementos que contribuem no desenvolver das tensões residuais: · Tensão de escoamento do material e seu comportamento em relação à temperatura. · Temperatura máxima de aquecimento: Esse item varia com a temperatura inicial da peça e está diretamente ligada à energia de soldagem que é representada pela razão entre a quantidade de energia dispêndida na soldagem e a velocidade de avanço da poça de fusão. Nota-se que quanto maior é a temperatura atingida, maior é a extensão da zona termicamente afetada. · Velocidade de resfriamento: Esse dado varia inversamente com a temperatura inicial da peça soldada e com a energia de soldagem. A espessura do componente também interfere neste item, peças espessas apresentam maior velocidade de resfriamento. A velocidade de resfriamento constitui um parâmetro essencial na determinação das microestruturas em materiais que podem sofrer transformações de fase durante o resfriamento. · Vinculação externa (restrições): eleva-se o nível de tensões internas ao restringir as possibilidades de deformação. 43 2.6 EFEITOS DAS TENSÕES RESIDUAIS EM COMPONENTES SOLDADOS. Modenesi (2008) expõe os principais efeitos da presença de tensões residuais em componentes soldados: 2.6.1 Flambagem Componentes estruturais submetidos a cargas de compressão podem falhar por flambagem, particularmente quando possuir um comprimento muito maior que as dimensões transversais ou estiver submetidos a cargas fora de centro. Essa circunstância advém da deflexão lateral ( do componente submetido à compressão. Quando o valor crítico é atingido ocorre à falha instável do componente, geralmente esse fato acontece com uma carga menor que o limite de escoamento do material. Sendo as tensões residuais de compressão em regiões mais afastadas da solda (e de tração próximo desta), as tensões residuais nessas regiões podem reduzir a resistência à flambagem de estruturas soldadas. A figura 2.225 apresenta um exemplo de flambagem de uma coluna. Figura 2.25– Flambagem de uma coluna. Fonte Modenesi, 2008. Em chapas e outros componentes soldados de pequena espessura, a resultante das tensões térmicas e residuais pode provocar distorção por flambagem tornando irregular o aspecto da junta. 44 2.6.2 Falha por Fadiga Fadiga é um tipo comum de falha em componentes mecânicos submetidos a tensões que mudam com o tempo. A falha se inicia com uma trinca que pode estar presente no material por efeitos de processos de fabricação ou pode surgir ao longo do tempo em regiões sujeitas a concentrações de tensões. A fratura por fadiga geralmente acontece pela nucleação e crescimento de trincas devido a tensões de tração variáveis, comumente de magnitude inferior ao limite de escoamento. Conforme relatada anteriormente, tensões residuais de compressão presente na superfície de uma peça atenuam a oportunidade de iniciação de trincas de fadiga, pois a tensão compressiva tende a diminuir o efeito da tensão de tração reduzindo a possibilidade de formação e crescimento das trincas. Opostamente um componente com presença de tensão residual de tração pode oferecer um efeito danoso no comportamento à fadiga, visto que a tensão trativa pode contribuir na formação e ampliação de trincas. “De modo geral, pode dizer que o limite de fadiga de uma junta soldada diminui na presença de tensões de tração, na direção do carregamento, e aumenta, se as tensões residuais forem de compressão [...]” (OKUMURA, 1982). Assim julga-se que as tensões residuais afetem o limite de fadiga, devido à alteração no valor médio da tensão de solicitação. O notório deste contexto é que o efeito das tensões benéfico ou maléfico depende de fatores como intensidade, tipo e direção, tanto da tensão residual como da tensão atuante na estrutura. 45 2.6.3 Fratura Frágil A fratura frágil é caracterizada pelo rompimento de materiais com pouca ou nenhuma deformação plástica. O evento pode ocorrer com níveis de tensão relativamente baixos, inferiores ao limite de escoamento do material ou da tensão de trabalho de forma inesperada e rápida (Okumura, 1982). A ocorrência é favorecida pela existência de determinados fatores como: concentradores de tensão (trincas, inclusões, falta de fusão), baixa temperatura, elevada taxa de deformação, microestrutura com baixa tenacidade, granulação grosseira ou com precipitados. Vários destes fatores podem estar presentes nas estruturas soldadas e tensões residuais agregadas na junta soldada podem ser elevadas ou podem se acrescentar às tensões externas. A associação destes fatores pode contribuir para ocasionar a fratura frágil; devido a este fato em vários casos componentes soldados precisam ser tratados termicamente para alívio de tensões residuais e/ou refino da estrutura. 2.6.4 Formação de Trincas em Soldas Constantemente trincas são desenvolvidas em soldas, essa fissuras podem ser associadas a solicitações, ou seja, tensões mecânicas de tração e a incapacidade do material acomodar estas solicitações deformando-se plasticamente. A fragilização da zona fundida e de regiões adjacentes pode ocorrer durante e após a soldagem por vários motivos tais como: formação de filme líquido em contornos de grão a alta temperatura, presença de hidrogênio dissolvido no material, crescimento de grão, precipitações, etc. 46 2.7 DISTORÇÕES As distorções, designadas imperfeições geométricas, são alterações de forma e dimensão que ocorrem em componentes submetidos a determinados procedimentos construtivos. No processo de soldagem, distorções são resultantes da aplicação não uniforme de calor. O gradiente de temperatura procria as tensões térmicas, pois os fenômenos de expansão térmica e contração ficam restringidos pelas áreas pouco aquecidas e consequentemente acontecem deformações plásticas (MODENESI, 2011; OKUMURA, 1982). Afigura 2.26 apresenta componentes com distorções geométricas após etapa de soldagem. Figura 2.26 - Distorções em componentes após soldagem. Fonte: Amaral, 2006. 47 2.7.1 Tipos de distorções As distorções são caracterizadas em relação a sua característica, sendo classificadas em seis tipos (MASUBUCHI, 1980, apud AMANTE, 2006). · Contração longitudinal, · Contração transversal, · Distorção angular, · Distorção rotacional,· Distorção de flambagem, · Distorção de flexão. Contração Transversal Distorção de Flambagem Contração Longitudinal Distorção Angular em junta de topo Distorção Angular em junta de angulo Distorção de Flexão Distorção Rotacional Distorção Rotacional Figura 2.27 – Tipos de distorções. Fonte: Modenesi, 2011. 48 Okumura (1982) e Guimarães Soares (2006) relatam alguns fatores que influenciam nas distorções residuais: insumo de calor, o processo de soldagem, temperatura inicial da chapa, espessura e geometria da junta, número de passes de solda, sequencia de soldagem, projeto da junta, tensões internas, propriedades do metal de base e presença de dispositivos restritivos. As imperfeições mais frequentes encontradas na construção naval e offshore são a distorção de flambagem e a distorção angular. Entre os efeitos gerados pelas distorções pode-se mencionar o desalinhamento de componentes estruturais, grande quantidade de retrabalho para correção das imperfeições, aumento de custos, redução da eficiência de produção, imprecisão do produto final e detrimento de resistência estrutural (AMARAL, 2004). As distorções inseridas em componentes oceânicos devido aos processos de fabricação têm efeito negativo em relação à resistência limite das estruturas, pois podem oportunizar falhas por flambagem. Esse tipo de falha acontece por instabilidade estrutural quando é atingida uma carga crítica em compressão axial. Normalmente a tensão crítica em que ocorre á falha é inferior à tensão de escoamento do material (AMANTE, 2006). 49 2.8 MÉTODOS PARA MEDIÇÃO DAS TENSÕES RESIDUAIS Existem diversas técnicas para medir tensões residuais, a escolha da técnica adequada deve levar em consideração características do material como: isotropia, composição química, homogeneidade, geometria e espessura do material. Também são observados aspectos relacionados ao método de medição escolhido, tais como: complexibilidade e custo total na utilização, possibilidade de uso no campo, intervenção destrutiva ou não destrutiva, etc. (COSME SOARES, 2003). O uso dessas técnicas produzem benefícios, pois o conhecimento da distribuição e magnitude das tensõe possibilita fazer estimativas sobre a resistência estrutural, visto que as tensões e às distorções residuais constituem um sério problema na construção naval (Amante, 2006). Gurova (2006) e Cosme Soares (2003) relatam que os métodos para determinação de tensões residuais podem ser classificados em dois grupos: · Métodos destrutivos: se distinguem por realizar medições com aplicação de destruição parcial ou total da peça; · Métodos não destrutivos: não retira material da peça e não altera a integridade ou funcionamento da estrutura analisada. Entre os métodos destrutivos pode-se destacar a técnica do furo cego, a remoção de camadas e o seccionamento. Há exemplo de métodos não destrutivos destacam-se a técnica de ultra-som, difração de raio-X e técnicas magnéticas. Cada técnica possui suas particularidades, vantagens e restrições, cabe ao analista de tensão eleger o método adequado para uma aplicação correta em cada caso (COSME SOARES, 2003). É conveniente lembrar que além do uso destes métodos, também são utilizados inúmeros programas de elementos finitos para fazer simulações numéricas do comportamento estrutural. 50 2.9 ALÍVIO DE TENSÕES RESIDUAIS E CONTROLE DE DEFORMAÇÕES 2.9.1 Alívio de tensões residuais O grau de tensões residuais e distorções presentes em uma junta soldada podem ser amenizados adotando procedimentos na fase de elaboração do projeto, durante e após o término da soldagem. A redução da quantidade de calor fornecido à junta e a diminuição da quantidade de metal depositado podem contribuir para amortizar os níveis de tensões. A redução de volume depositado pode ser obtida adequando o formato do chanfro, normalmente reduz-se o ângulo do chanfro ou adota-se chanfro simétrico para evitar a deposição excessiva de material. A diminuição no volume de metal depositado resultará em subtração do calor transferido à peça e por seguinte em diminuição dos coeficientes de tensão residual e de distorção da junta (MODENESI, 2008). A figura 2.28 e 2.29 apresentam partes de um chanfro e um chanfro simétrico. Figura 2.28 – Ângulo do chanfro ( ), ângulo do bisel ( ), (S) nariz. Fonte: Modenesi, 2008. - Ângulo do chanfro: ângulo integral entre as bordas preparadas dos componentes. - Ângulo do bisel: ângulo formado entre a borda preparada do componente e um plano perpendicular à superfície do componente. - Nariz: Parte não chanfrada de um componente da junta Figura 2.29 – Chanfro simétrico. Fonte: Modenesi, 2008. 51 Assim diferentes medidas podem utilizadas para reduzir tensões, mas é fundamental perceber que os resultados de tensões e distorções encontrados em uma estrutura são intrínsecos a diversas insídias atribuídas a peça, que compreendem desde o projeto da estrutura soldada, o tipo de material base e todos os processos aplicados durante a fabricação e as práticas aplicadas durante e após a soldagem. A conjuntura que envolve o tema é complexa, diversos aspectos devem ser considerados para definir o melhor modo de obter uma estrutura soldada com reduzidos níveis de tensões residuais e distorções. Métodos térmicos e/ou mecânicos podem ser aplicados para alívio de tensões residuais, sendo o tratamento térmico de recozimento muito utilizado. O aproveitamento de técnicas é feito considerando particularidades de cada caso (OKUMURA, 1982). Os métodos mais utilizados são evidenciados na tabela I. Procedimento Descrição Características Limitações (a) Martelamento Martelamento do metal depositado e de suas adjacências durante ou após a soldagem Método simples pode causar refino do grão Inadequado para materiais de baixa ductilidade Encruamento A junta soldada é deformada plasticamente pela aplicação de cargas de tração Bastante eficiente para tanques esféricos e tubulações Inadequado para estruturas complicadas pela dificuldade de aplicar tensões uniformes Vibração Vibrações são aplicadas na estrutura causando uma ressonância de baixa frequência o que ocasiona deformação plástica parcial da estrutura e alívio de tensões Operação simples Inadequado para chapas grossas ou grandes estruturas. Alívio de tensões não é uniforme (b) Recozimento para alívio de tensões Aquecimento a 600- 700°C (aços ferríticos) seguido de resfriamento lento. Pode ser local ou total. Muito utilizado e bastante eficiente Inaplicável para grandes estruturas e difícil de ser executado no campo. Custo elevado. Recozimento a alta temperatura Aquecimento a 900- 950°C (aços ferríticos) seguido de resfriamento lento. Pode ser local ou total. Podem eliminar completamente as tensões residuais Inaplicável para grandes estruturas e difícil de ser executado no campo. Custo muito elevado. Alívio de tensões a baixas temperaturas Aquecimento do local da solda a 150-200°C em uma largura total de 60 a 130 mm. Adequado para grandes estruturas O alívio de tensões é baixo. (a) Processos mecânicos (b) Processos térmicos Tabela I - Métodos para aliviar tensões residuais. Fonte: Okumura (1982), apud Modenesi, 2008. 52 2.9.2 Controle de deformações As deformações decorrentes do processo de soldagem depreciam a precisão e a aparência dos componentes soldados, além de influenciar na redução da resistência estrutural. A remoção dessas distorções é bastante onerosa, tanto em termos de tempo na execução da tarefa como em mão de obra capacitada. Dessa forma é preferível adotar medidas que reduzam ou impeçam as distorçõesa executar correções após soldagem (OKUMURA, 1982). Modenesi (2008), FBTS (2003) e outros relatam diversas medidas que podem ser empregadas para reduzir a distorção em soldagem. As técnicas podem ser administradas em distintas fases: elaboração do projeto e fabricação das juntas durante a após etapa de soldagem. 2.9.2.1 Medidas preventivas adotadas no projeto de estruturas soldadas a) Posicionar soldas próximas à linha neutra ou em posições simétricas em relação à linha neutra: Quanto mais próxima do eixo neutro encontrar-se a solda, menor é o efeito “braço de alavanca” das forças de contração para puxar o perfil fora de seu alinhamento, com esse método a distorção final tende a ser minimizada. Soldas efetuadas distantes do eixo neutro podem ter a distorção minimizada pela deposição de outra soldagem no lado oposto do eixo neutro. Quando este método for possível às soldas carecem ser executadas alternadamente em lados opostos para balancear a força de contração (www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson). . Figura 2.30 - Exemplos de posicionamento de solda. Fonte: http://www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson/Distortion35.pdf, acessado em 10 out. 2012. 53 b) Reduzir o volume de metal de solda: Utilizar chanfros que necessitem de menor deposição de metal de solda como chanfros simétricos com menor ângulo de chanfro e chanfros tipo J, U, duplo V, promovem uma diminuição do volume de material de solda propiciando a redução de calor alienado na peça, de modo a contribuir na redução das tensões residuais e por seguinte das distorções (figura 2.31). Também é indicada a redução do número de passes de solda (MODENESI, 2008). Figura 2.31 - Redução da distorção angular devido à redução do volume do metal de solda. Fonte: http://www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson/Distortion35.pdf, acessado em 10 de out 2012. A figura 2.32 apresenta distorções angulares em solda de topo em uma liga de alumínio com múltiplas espessuras. A severidade da distorção aumenta com ampliação na espessura da peça por ocasião da quantidade de metal de solda depositado e consequentemente maior contração durante a solidificação (CABRAL, 2011). Figura 2.32 - Distorção angular em junta de topo. Fonte: Kou, 2003, apud Cabral, 2011. 54 Outras medidas que podem ser adotadas são projetar estruturas com menor quantidade possível de soldas, utilizando para isso perfis com dobra ou um perfil laminado padrão (l, T, U, L, etc.) e especificar dimensões de soldas com menor tamanho possível, mas compatíveis com as solicitações existentes (MODENESI, 2008). 2.9.2.2 Técnicas preventivas de fabricação aplicadas durante a soldagem a) Aplicar sequência adequada de soldagem A escolha de técnicas adequadas é crucial para minimizar distorções, uma sequencia de soldagem bem planejada envolve uma distribuição do metal de solda em pontos distintos da montagem, de modo que a contração num ponto se contraponha as forças de contração de soldas já executadas. O uso de chanfro simétrico onde à soldagem alternada é realizada em ambos os lados da linha neutra configura um bom exemplo do uso desta técnica (FBTS, 2003). O intuito dessa sequência é o balanceamento das contrações por via da interação dos passes, tal balanceamento permite uma menor distorção devido à compensação alcançada entre os passes de solda (figura 2.33 e 2.34). a) b) Figura 2.33 - Junta de topo - chanfro simétrico com múltiplos passes. a)equência de soldagem realizada de forma incorreta com presença de distorção angular; b)Solda balanceada livre de distorções. Fonte: http://www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson/Distortion35.pdf, acessado em 10 de out 2012. 55 Figura 2.34 - Uso de chanfro simétrico. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999. Adotar uma sequencia de soldagem sugere aplicar tensões térmicas originadas no processo para promover um efeito esperado. O balanceamento proporciona um equilíbrio de esforços que tende minimizar a deformação após soldagem, principalmente a distorção angular. O uso de mais de um soldador iniciando a soldagem no mesmo ponto e seguindo em direções opostas também pode ser uma possibilidade para reduzir as distorções (MODENESI, 2008). Outra técnica utilizada para diminuir as distorções é a soldagem com passe a ré, neste método, trechos do cordão de solda são executados em sentido oposto ao da progressão da soldagem, de forma que cada trecho termine no início do anterior formando um único cordão (FBTS, 2003). A figura 2.35 apresenta a evolução do cordão de solda com uso da técnica passe a ré, geralmente aplicado com passe simples. Figura 2.35 - Soldagem com técnica de passe a ré. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999. Usar solda intermitente, quando possível, também é uma maneira de minimizar a distorção diminuindo a quantidade de metal de solda depositado. O uso dessa técnica para soldar reforços em chapas, reduz o volume de metal de solda em até 56 75% sem comprometer a eficiência da rigidez proporcionada (FBTS, 2003). Diminuir a abertura de raiz, desde que a solda possa ser executada satisfatoriamente, também contribui na redução do volume de metal de solda depositado. Afigura 2.36 apresenta exemplos de soldas intermitentes em junta de ângulo. Figura 2.36 - Soldagem intermitente em junta de ângulo em ‘T’. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999. Teng et al (2003), apud Guimarães Soares (2006) relata o resultado da sequencia de soldagem em relação as tensões residuais através de análise de elementos finitos. Estas considerações foram feitas para casos típicos usando soldagem de topo com passe simples e passes múltiplos. A soldagem com passe simples foi feita de três modos: progressiva, passe a ré e simétrica, conforme sequencia apresentada na figura 2.37, dentre as sequencias citadas a soldagem simétrica apresentou melhor resultado com menor índice de tensão residual longitudinal. O estudo mostrou que realizar soldas simétricas, facilita a distribuição homogênea de calor de forma a conter o resfriamento nas áreas inicialmente aquecidas. Esse fato retarda o processo de contração, permitindo posteriormente controlar a contração de todo corpo em resfriamento. 57 Figura 2.37 – Três sequencias de soldagem utilizada em junta de topo com passe simples. Fonte: Guimarães soares, 2006. A figura 2.38 apresenta o efeito da tensão residual de acordo com as sequencias de soldagens aplicadas. Figura 2.38 – Efeito da tensão residual longitudinal para as sequencias de soldagem aplicada (progressiva, simétrica e passe a ré). Fonte: Teng et al. 2003, apud Guimarães Soares, 2006. 58 Na soldagem de topo com múltiplos passes, também relatada por Teng et al (2003), apud Guimarães Soares (2006), foi utilizada modos distintos aplicando três sequencias de soldagem apresentadas na figura 2.39. Entre essas a opção (A) apresentou o melhor resultado com menor índice de tensão residual transversal após soldagem. Para este caso a repartição equilibrada de passes propicia a redução na geração de tensão ao longo da soldagem ao suavizar as contrações e agir como um tratamento térmico de pré-aquecimento e pós-aquecimento ao distribuir o calor em ambos os lados da junta. A figura 2.39 apresenta a sequencia de soldagem com múltiplos passes de solda e a figura 2.40 exibe uma demonstração dos efeitos da tensão residual transversal para as três sequências de soldagem (A, B e C) Figura 2.39 – Sequencia de soldagem de topo com múltiplos passes. Fonte: Guimarães soares, 2006. 59 Figura 2.40 – Efeitos da tensãoresidual transversal para as três sequências de soldagem (A, B e C). Fonte: Teng et al. 2003, apud Guimarães Soares, 2006. b) Uso de Restrições De acordo com o tipo de projeto, é necessário utilizar dispositivos de restrição durante a soldagem, à finalidade é reduzir as distorções mantendo a peça na posição correta, sob-restrição, minimizando a movimentação enquanto se realiza a soldagem. A contração longitudinal em solda de topo, especialmente em soldagem de estruturas de chapas finas, costumam provocar o abaulamento ou curvamento das peças. O uso de reforços longitudinais soldados em ambos os lados do cordão são eficazes na prevenção desta deformidade, a localização dos reforços deve ser colocada em distância suficiente na junta para não causar interferência no momento da soldagem (www.iem.unifei.edu.br). No entanto deve-se ter atenção, pois o uso desse recurso reduz as imperfeições, porém o nível de tensões depende do grau de restrição da estrutura, na direção considerada, e um elevado nível de tensões residuais pode ocasionar trincas. 60 Quando o tipo de material é mais susceptível a ocorrência de trincas, a utilização de uma sequência de soldagem adequada e de pré-aquecimento podem reduzir este risco. A realização de um procedimento de alívio de tensões antes da remoção da restrição, também contribui para reduzir o nível de tensões. Normalmente a restrição aplicada à junta de solda é integral na direção longitudinal, limitando a deformação angular da junta soldada (GUROVA, 2006; www.iem.unifei.edu.br). Diversos são os dispositivos utilizados para promover a restrição de estruturas, os dispositivos auxiliares de fixação e montagem não devem ser removidos por impacto. As figuras 2.41 e 2.42 apresentam alguns desses dispositivos. A) B) C) Figura 2.41 – Técnicas de restrições: A) Suporte completamente soldado. (B) Grampo fixado por parafuso. C) Suportes com cunha. Fonte: http://www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson/Distortion35.pdf, acessado em 10 de out 2012. Figura 2.42 - Exemplo de fixação da peça de trabalho através de cunhas e “cachorros” – Fonte: Soares, 2006, apud Cabral, 2011. O grampeamento de dois componentes idênticos geminados é outra técnica de montagem, a soldagem dos componentes pode ser balanceada em torno do eixo neutro da montagem combinada (figura 2.43). Recomenda-se que a montagem seja 61 submetida a um tratamento de alívio de tensão antes da separação dos componentes (www.iem.unifei.edu.br). (A) (B) Figura 2.43 – Dispositivo dorso a dorso - aplicada em soldagem de peças idênticas montada uma sobre a outra. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999. Algumas técnicas aplicam a pré-deformação na estrutura para garantir a precisão dimensional (figura 2.45). A pré-deformação necessária para que a contração puxe a chapa no alinhamento pode ser determinada por soldas experimentais. Figura 2.44 – Peças acopladas com pré-deformações. Fonte: http://www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson/Distortion35.pdf, acessado em 10 de out 2012. Outro método usado para controlar as distorções é o pré- encurvamento das peças, esta técnica oferece um bom exemplo do uso de forças mecânicas oposta para interagir com a deformação resultante da soldagem (figura 2.46). O topo da solda que conterá o maior volume de metal de solda é esticado ao encurvar as chapas; após a soldagem quando os grampos são retirados, as chapas retornam a forma plana permitindo a solda aliviar as tensões de contração longitudinal endireitando-se e diminuindo seu comprimento (FBTS, 2003). 62 Figura 2.45 – Pré-encurvamento de chapas. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999. c) Enrijecimento de juntas soldadas (reforços) Conforme mencionado no início deste tópico à utilização de reforços são eficazes na redução das distorções, Tsai e Cheng (2003), apud Picanço (2010) relata o processo de enrijecimento de juntas soldadas para diminuir a incidência de distorções em estruturas metálicas pelo uso de um método conhecido com (JRM). O método de Joint Rigidity Method (JRM) é uma das técnicas desenvolvida para determinar as sequencias ótima de soldagem de forma a minimizar as distorções. O procedimento consiste essencialmente em iniciar a soldagem dos enrijecedores a partir do ponto mais rígido do painel a ser soldado, ou seja, do centro para a extremidade, balanceando as forças de contração da solda. [...] Vários fatores podem influenciar a estratégia de controle podendo ser categorizado pelas variações de desenho e o processo relacionado. A significância das variáveis relacionadas com o desenho inclui os detalhes da junta soldada, espessura das chapas, se a junta apresenta varias placas de espessuras diferentes, espaçamento dos reforços, números de reforços, tipo de construção, condições de restrição mecânica, sequencia de montagem e planejamento da construção. Importantes variáveis são devidas ao processo de soldagem, calor imposto, velocidade de propagação e sequencia de soldagem (TSAI E CHENG, 2003, apud PICANÇO, 2010). A figura 2.47 apresenta um esquema de painel enrijecido montado e uma sequência ótima de soldagem obtida pelo método de rigidez da junta (JRM). 63 a) b) Figura 2.46 – (A) Esquema do painel enrijecido montado. (B) Sequência ótima de soldagem obtida pelo método de rigidez da junta (JRM). Fonte: Tsai e Cheng, 1999, apud Cabral, 2011. 2.9.2.3 Correção das distorções residuais após soldagem Todo empenho deve ser feito para evitar distorções, no entanto nem sempre é possível evitar distorções durante a fabricação, nesta ocasião são empregadas várias técnicas de correção. A remoção de distorções residuais de soldagem consiste basicamente em alongar as áreas contraídas e contrair as regiões alongadas (OKUMURA, 1982). Os procedimentos de remoção são classificados basicamente em dois grupos: · Métodos mecânicos: consiste em induzir tensões de compressão na estrutura, de forma que a solda escoe plasticamente aliviando as tensões internas (CABRAL, 2011). · Métodos térmicos: consiste em aplicar calor na estrutura soldada. A forma de aquecimento depende de muitos fatores como composição química do material, espessura da peça, tipo de distorção, etc. 64 A figura 2.47 apresenta alguns destes métodos para remoção de distorções. Figura 2.47 - Métodos de remoção das distorções. Fonte: (modificado) Okumura, 1982. A técnica de aquecimento pode ser aplicada em diferentes formatos: pontos, linha ou em forma de cunha. O tamanho da região aquecida varia de acordo com as características de cada peça: espessura, tamanho e dimensão da distorção. O aquecimento em linhas é usado para corrigir distorções angulares em juntas de topo ou filete. Para remover distorções longitudinais como mostra a figura 2.49 é usado o aquecimento em forma de cunhas. Outra técnica aplicada é o método combinado que utiliza o ajustando do aquecimento com a pressão aplicada através Métodos de Remoção das Distorções Residuais Remoção a quente Por aquecimento localizado Aquecimento por pontos Aquecimento Resfriamento ao ar Linhas de aquecimento Aquecimento Resfriamento ao ar Por aquecimento com pressão Vinculação Golpes ou prensa Combinação dos métodos de aquecimento localizado e aquecimento com pressão Remoção a frio Martelamento Prensagem Golpes Calandragem 65 de um método mecânico, geralmente a combinação
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