Buscar

TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

106
Unidade II
5 SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE
5.1 Perspectiva de análise
Os assistentes sociais são desafiados em tempos de divisas e de cortes no trabalho, quando é difícil 
obter meios de sobrevivência. Nesses períodos de crise, é que cresce o desemprego, o subemprego e a 
luta para se sobreviver no campo e na cidade.
É neste contexto da globalização mundial sobre a hegemonia do grande capital bancário e do capital 
industrial que se testemunha a revolução técnico‑científica, instaurando novos padrões de produzir e 
gerir o trabalho, ampliando‑se a população excedente, fazendo crescer a exclusão social, econômica, 
política e cultural entre jovens e crianças, tornando‑os alvo da violência institucionalizada, e tornando 
a exclusão social contraditoriamente o produto do desenvolvimento do trabalho coletivo. Observa‑se 
assim que a pauperização e a exclusão são a outra face do desenvolvimento das forças produtivas do 
trabalho social, da ciência e tecnologia e do mercado focalizado.
Com esses novos tempos, temos a confirmação de que a acumulação de capital não é parceira da 
equidade, nem da igualdade, e que causa o agravamento das múltiplas expressões da questão social – a 
base sócio‑histórica da requisição social da profissão. É possível atestar o crescimento da demanda por 
serviços sociais nos locais de trabalho, ocorrendo um aumento no âmbito das políticas sociais.
O trabalho atravessa e conforma o cotidiano do exercício profissional do assistente social, afetando 
suas condições e as relações desse trabalho, assim como as condições de vida da população usuária 
dos serviços sociais. Para enfrentar estes desafios serão recuperados alguns recursos e forças teóricas e 
ético‑politicas, acumulados a partir da década de 1980, focando o processo de trabalho em que se insere 
o assistente social – ou seja, a prática do Serviço Social – e as alternativas ético‑politicas que se colocam 
hoje ao exercício e à formação profissional crítica e competente.
Para pensar no Serviço Social na contemporaneidade, é necessária muita atenção sobre o mundo 
atual, para decifrá‑lo e participar de sua recriação. Isso é preciso para garantir uma sintonia do Serviço 
Social com os termos atuais e romper com uma visão endógena e focalista. Deve‑se alargar os horizontes, 
olhar os movimentos das classes sociais e do Estado. Por esse motivo, um dos maiores desafios do 
assistente social que vive no presente é desenvolver a capacidade de decifrar a realidade e construir 
propostas de trabalho criativas, sendo capaz de preservar e efetivar direitos a partir das demandas. 
Enfim, ser um profissional propositivo e não apenas executivo.
O assistente social não é apenas um trabalhador burocrático que cumpre horários. Seu exercício 
profissional requer muito mais, sendo necessário que esse profissional tenha competências para propor, 
Unidade II
107
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
negociar e defender seus projetos e seu campo de trabalho. Porém, toda ação do assistente social 
precisa estar embasada, cabendo aos profissionais se apropriarem das possibilidades e desenvolvê‑las, 
transformando seus projetos e frentes de trabalho.
Desta forma a conjuntura não condiciona unidirecionalmente as perspectivas profissionais, mais 
impõe limites e possibilidades, sempre existentes no campo de ação dos sujeitos, para a apropriação 
das possibilidades. Essa compreensão é muito importante para se evitar uma atitude fatalista do 
processo histórico.
É preciso também evitar outra perspectiva: o messianismo profissional, uma visão heroica do Serviço 
Social que reforça unilateralmente a subjetividade dos sujeitos e a sua vontade política sem confrontá‑la 
com as possibilidades e limites da realidade social.
Olhar para fora do Serviço Social é necessário para se romper com uma visão rotineira, que acaba 
por impedir que se vislumbrem possibilidades inovadoras para a ação, tendo assim uma visão ilusória 
e desfocada da realidade que conduz às ações inócuas. O segundo pressuposto é entender a profissão 
hoje como tipo de trabalho na sociedade, pois desde 1980 o Serviço Social vem se afirmando como uma 
profissão particular inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade.
As mudanças históricas acabam hoje alterando tanto a divisão do trabalho na sociedade quanto sua 
divisão técnica no interior das estruturas produtivas.
 Lembrete
Como o Serviço Social se apresenta como uma especialização do 
trabalho na sociedade, não foge aos determinantes, exigindo apreender os 
processos macroscópicos que atravessam todas as especializações.
O Serviço Social como trabalho supõe o aprendizado da chamada “prática profissional”, que pode 
estar ligada pelas relações entre o Estado e a sociedade civil, ou seja, pelas relações entre as classes de 
tal sociedade. Aceita‑se que a profissionalização do Serviço Social surge por meio de uma tecnificação 
de filantropia, a partir do discurso de alguns pioneiros e de algumas literaturas especializadas, ocorrida 
mesmo durante a época da reconceituação. Porém, o Serviço Social torna‑se profissão a partir do 
momento em que se atribui a ele uma base técnico‑científica das atividades de ajuda e filantropia.
A Constituição é institucionalização do Serviço Social como profissão na sociedade, dependendo de 
uma ação progressiva do Estado na regulamentação da vida social, quando ela passa a administrar e 
gerir os conflitos de classe e pressupondo, assim, a relação entre capital e trabalho.
Embora disponha de um Código de Ética e sua regulamentação seja a de um profissional liberal, 
o profissional do Serviço Social é um trabalhador especializado que vende a sua força de trabalho, 
ocorrendo compra e venda de seu serviço especializado, fazendo assim com que o Serviço Social ingresse 
para o universo da mercantilização.
108
Unidade II
A reprodução deste trabalho especializado na sociedade atendendo às necessidades sociais tem 
o valor de uso de uma utilidade social. Porém, como os assistentes sociais participam também como 
trabalhadores assalariados do processo de produção e redistribuição da riqueza social, seu trabalho tem 
um efeito na redistribuição da mais‑valia.
5.2 A globalização e sua influência no contexto social
Desde os primórdios, a natureza humana tem passado por inúmeras transformações no que se refere 
ao seu desenvolvimento. O que podemos perceber é que essas transformações não são isoladas, estando 
agregadas a fatores que cercam o homem, pois devemos lembrar que o ser humano é biopsicossocial6, 
e também procuram atender às respostas vislumbradas pelo coletivo; no entanto, algumas vezes essas 
respostas não atingem a maioria, atendendo a interesses particulares. A espécie humana vive em 
constante transformação, caracterizando‑se por isso como ser não estático, e as mudanças que nela 
ocorrem são as contrapartidas das necessidades humanas. Este retorno provoca o desenvolvimento da 
espécie e de suas relações em uma forma geral.
É importante ressaltar que quando se fala em desenvolvimento não podemos colocá‑lo como 
verdade absoluta a todos, visto que cada um pode entender de maneira diferente o mesmo objeto, 
e pode também perceber os resultados de uma forma peculiar. O que se pode afirmar de modo geral 
é o fato de que todos os grupos ou grande parte deles agem para suprir e melhorar as condições de 
seu dia a dia. Toda transformação é precedida por ideias, pois o homem é um ser teleológico7, sendo 
que primeiro nasce a ideia e depois a concretização da ação. Segundo Dupas (2006, p. 29), “as ideias 
apresentam anseios humanos e exercem um poder decisivo na história”.
Um aspecto que altera significadamente o cotidiano do homem é a globalização. Ela não pode ser vista 
isoladamente ou de forma temporária, mas como um fenômeno acrescido de muitos acontecimentos 
e sempre fundamentado no capitalismo; em linhas gerais, os fatores sócio‑históricos influenciam 
diretamente a globalização. Há muitos fatores que colaboram para o seu crescente desenvolvimento,e o mais marcante está sustentado na economia, que por sua vez é refletido na política, na cultura e 
principalmente no aspecto social.
Outra característica da globalização é a interação global, marcada pela quebra de fronteiras, unificação 
econômica, acentuação das desigualdades, avanço da tecnologia, pesquisas e uma economia pautada 
no capitalismo desenfreado e na lógica do lucro. É considerada um fenômeno capitalista e complexo 
que começou na época dos descobrimentos e se desenvolveu a partir da Revolução Industrial. Mas o seu 
conteúdo não foi notado por muito tempo, e hoje muitos economistas analisam a globalização como 
resultado do pós Segunda Guerra e reflexo da consolidação do capitalismo.
6 Relativo aos fatores biológicos, psicológicos e sociais. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/default.
aspx?pal=biopsicossocial>. Acesso em: 18 set. 2012.
7 “1 Teleologia: Filos. Teoria das causas finais; conjunto de especulações que têm em vista o conhecimento da 
finalidade, encarada de modo abstrato, pela consideração dos seres, quanto ao fim a que se destinam. 2 Dir. Estudo 
especulativo da causa, da essência, alcance ou fim das normas legais. 3 Biol. Interpretação das estruturas dos seres em 
termos de finalidade e utilidade.
109
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
Considera‑se que foi durante o período mercantilista, entre os séculos XV e XVIII, que se deu a 
origem da globalização. Foi quando ocorreu a queda dos custos de transporte marítimo e a burocracia 
das relações políticas europeias. O grande aumento no fluxo de força de trabalho entre os países e 
continentes foi também um dos marcos do período.
Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, houve o primeiro indício da globalização das 
comunicações: o pacote cultural ideológico dos Estados Unidos incluía várias edições diárias de “O 
Repórter Esso”, uma síntese noticiosa de cinco minutos rigidamente cronometrados, a primeira de 
caráter global, transmitido em 14 países do continente americano.
Alguns economistas defendem o fato de que os principais beneficiários da globalização são os 
grandes países emergentes, com importantes economias de exportação, grande mercado interno e cada 
vez maior presença mundial.
Na atual conjuntura, a globalização é a mais pura expansão capitalista e uma ordem mundial 
que está mais do que solidificada. Embora ainda seja vista por uma maioria como algo prejudicial, 
possui também muitos aspectos positivos. Podemos citar as novas tecnologias – como a internet, 
que nos permite uma maior facilidade comunicativa entre os indivíduos de todo o mundo – e a 
inclusão de mercadorias, serviços, tecnologias e pessoas, a expansão do mercado, os avanços na 
medicina, as pesquisas científicas etc. Tudo isso ocorre de forma globalizada, como o próprio nome 
já diz, e de forma simultânea Além disso, essa quebra de fronteiras da economia está intensificando 
o comércio internacional.
Contudo, não podemos deixar de destacar que a globalização também acentuou um crescimento 
desigual, por procurar atender principalmente aos interesses capitalistas. Os hábitos de consumo de 
quase todos os povos do mundo estão sendo profundamente alterados, consequentemente levando o 
governo a rever suas políticas econômicas.
Nesse cenário globalizado, os países não podem se limitar ao mercado interno, pois precisam 
alavancar seu desenvolvimento econômico. Tal constatação é hoje admitida inclusive na China, que até 
pouco tempo atrás foi o maior exemplo de economia fechada no mundo e é hoje campeã de captação 
de investimentos estrangeiros, em busca de um mercado de 1 bilhão de consumidores exacerbados e 
que, por características peculiares nem sempre elogiáveis, pode lançar produtos com grande poder de 
competição no mercado externo.
Tal expansão visa aumentar os mercados e, portanto, os lucros, que é o que move a arena dos 
mercados. A guerra é cada vez mais econômica e o campo de batalha é o mercado mundial, altamente 
globalizado. A invasão atual muitas vezes se dá instantaneamente, on‑line, pelas redes mundiais de 
computadores. Segundo alguns cientistas políticos, a globalização é o movimento sob o qual se constrói 
o processo de ampliação da hegemonia econômica, política e cultural ocidental sobre as nações.
As consequências da globalização colocam em segundo plano questões relacionadas ao coletivo. 
Não é permitida uma participação consciente do indivíduo no interior das suas sociedades, pois é 
visto como consumidor, como lucro certo, e não como cidadão ativo, consciente de seus direitos e 
110
Unidade II
deveres. Tal perspectiva fere diretamente os direitos da cidadania em um Estado Democrático de Direito, 
intensificando a exclusão social de uma maneira geral.
Diante de tudo que foi colocado, resta‑nos uma questão: em um mundo globalizado, no qual se 
busca uma unidade sedimentada no mercado, com especificidades que não são consideradas, que se 
desregulamenta e não se governa, e principalmente, onde os sujeitos de direito não são reconhecidos 
como polos ativos nas decisões, é ainda possível reconstruir e organizar uma cidadania plena e 
participativa? Os impactos sociais da globalização econômica no âmbito brasileiro têm como significado:
• a redução de despesas públicas que seriam destinadas a setores como saúde e previdência;
• a flexibilização de direitos trabalhistas;
• o desemprego estrutural e tecnológico;
• o aumento da desigualdade entre aqueles que estão em situação de riqueza e pobreza.
Nos é imposta uma lógica de globalização competitiva; logo, temos uma cidadania competitiva. 
Há um excesso de acumulação de riquezas em choque com os excessos de pobreza e miséria, e as 
consequências desse contexto dizem respeito à violência generalizada em todas as sociedades humanas. 
Mesmo com a criação de mecanismos que permitam a subsistência humana, é visível que quanto mais 
se produz e o mercado cresce, mais se gera especulação, tráfico de drogas e armas, produção de morte, 
corrupção etc.
O que temos, é a real necessidade de urgentes reformas. Estas deverão ser coerentes e equilibradas 
para um desenvolvimento científico e tecnológico favorecedor do desenvolvimento social da humanidade 
em geral.
 Observação
A educação tem um importante papel nessa tarefa, a de adequar 
esta realidade que chamamos de globalização às necessidades humanas, 
não anulando o cidadão, mas promovendo‑o e compreendendo sua real 
importância diante desse cenário.
Diante do problema da formação da cidadania em um ambiente globalizado, é importante trabalhar 
abordagens que não sejam apenas voltadas para as trocas comerciais, já que todas as estruturas das sociedades 
são atingidas, configurando‑se novos padrões de comportamento social – o que acaba inevitavelmente 
influenciando a formação e participação da cidadania em um Estado Democrático de Direito.
Essa nova arquitetura do Estado‑Nação tem sido muito influenciada e moldada por uma outra 
consequência vinda do crescimento tecnológico da modernidade globalizada: a falta completa de 
parâmetros conceituais para explicar os acontecimentos vivenciados no presente, pois o significado de 
111
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
conceitos clássicos, como liberdade, igualdade, soberania, entre outros, já não é mais algo absoluto ou 
estático, por terem sido relativizados em uma época de insegurança e incerteza permanente, visto que 
fomos “lançados num vasto mar aberto, sem cartas de navegação e com todas as boias de sinalização 
submersas e mal‑visíveis” (BAUMAN, 1994, p.94).
A globalização está associada diretamente à questão do progresso. Mas fica uma pergunta: o que é 
exatamente progresso? Dentro de uma visão capitalista, progresso é o mercado gerando produtos para 
consumo, não se preocupando com as questões sociais e sim com o lucro. Mas o que é o progresso 
quando compromete a cidadania, a identidade e o próprio ser humano?
Devemos lembrar que uma nação justa se faz de estruturas bem solidificadas, nos níveis social e 
econômico e nos campos da saúde, educação,segurança, lazer e cidadania, que juntos formam o que 
chamamos de dignidade humana.
Embora não se trate de um fenômeno recente, a globalização foi instituída mais fortemente com a 
visão capitalista; porém, como profissionais, não podemos perceber este fenômeno sem trabalharmos 
na melhora das necessidades humanas de forma geral, de modo a garantir os direitos e promover o 
bem‑estar a todos.
5.3 Cidadania e ideologia
Para o estudioso Milton Santos (2006), a cidadania sempre esteve fortemente ligada à noção 
de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos 
negócios públicos do Estado e participar de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua 
administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo público (indireto).
Após um período de vinte anos de ditadura no Brasil, foi instaurada a “Constituição Cidadã”, com a 
finalidade de restaurar o Estado Democrático de Direito. Em outubro de 1988 a atual constituição foi 
sancionada, representando os direitos humanos e de cidadania.
De acordo com o autor Paulo Martinez (1996), em seu livro Direitos de cidadania: um lugar ao sol, 
nos termos da Lei Maior, o princípio da cidadania foi erigido à condição de um dos mais altos valores 
da sociedade.
É fato que o homem, ao nascer, já é dotado de direitos fundamentais políticos e sociais, tornando‑o 
assim um agente da vida social muito além de mero instrumento de produção e objeto. No decorrer 
das relações humanas, o homem foi se transformando em “coisa”, por meio do trabalho assalariado e 
da escravidão. Para que se estabelecesse o conceito de aplicação universal, foram superadas profundas 
diferenças. Durante a Revolução Francesa, o problema foi resolvido teoricamente com a separação 
dos direitos humanos daqueles de cidadania, como aparece expressamente no título do documento 
“Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão”, aprovado em 1789. Diante de tal documento, 
identifica‑se o conceito atual de que todos os homens são iguais perante a lei, ainda que sejam legítimas 
algumas diferenças. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi estabelecida pela ONU, 
porém, a maior dificuldade ainda é a concretização desses direitos, ou seja, converter a teoria em prática.
112
Unidade II
Para Covre (2003, p. 32) “cidadania é um processo em constante movimento na sociedade, portanto 
não é estática. Ela só pode ser compreendida em seu todo se estiver vinculada aos níveis econômicos, 
políticos, sociais e culturais”.
Cidadania é a capacidade conquistada por alguns indivíduos, ou (no caso 
de uma democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriarem de 
todas as potencialidades da realização humana aberta pela vida social em 
cada contexto histórico determinado (COUTINHO, 2005, p. 41).
A burguesia (capitalistas) era e ainda é privilegiada, o que dá abertura para o desequilíbrio social e, 
portanto, a desigualdade. Dessa forma, somente usufruiriam de plena cidadania aqueles que possuíssem 
fortunas. Já aos menos favorecidos restaria a submissão à sociedade, sendo excluída dela. Aos operários 
caberia apenas o próprio corpo como propriedade. Fica muito visível nas ideias de Locke o pensamento 
liberal, a exploração e a elitização mediante as relações sociais.
Já Rousseau (apud COVRE, 2003, p. 52) se opôs à Locke no que diz respeito a cidadania, especialmente 
por não se referir ao exercício da cidadania restritamente a aspectos políticos e econômicos. Afirma 
que o contexto social seria legitimado desde que fosse unânime, considerando que cada indivíduo 
deveria abrir mão de seus direitos individuais em favor do coletivo, abdicando da liberdade, porém 
fazendo parte do todo social. Rousseau também argumenta sobre a democracia direta e participativa, 
afirmando que como soberano, o povo ativo era cidadão e os que exerciam a soberania passiva eram 
considerados súditos.
Kant (1727–1804) foi um dos intelectuais que abordou o conceito, localizando o Estado de Direito e 
posteriormente a cidadania. Para ele, o desenvolvimento da sociedade estava associado à área jurídica 
como legitimadora dos direitos dos cidadãos. Ainda expunha que diante do fato da história não ser 
estática, leis também deveriam acompanhar esse movimento, adequando‑se aos tempos e demandas 
dos cidadãos.
No século XIX, Karl Marx (1818‑1883) criticou insistentemente o modo de produção capitalista. 
Questionou a exploração e a apropriação da classe burguesa em relação a outros grupos sociais. Narrou e 
denunciou a exploração dos trabalhadores frente ao capital. A teoria marxista, ainda hoje, contribui para 
a compreensão da sociedade burguesa e do modo capitalista. Marx resgatou a necessidade da tomada 
de consciência e da organização da classe operária, rompendo com a exploração e formando uma nova 
ordem social, na qual todos os indivíduos teriam os mesmos direitos, sendo finalmente reconhecidos 
como cidadãos.
Podemos verificar que existem grandes diferenças entre os conceitos de cidadania apresentados 
pelos pensadores mencionados, o que clarifica o fato de que cidadania não é estática e acabada, pois 
segue o movimento histórico e em constante processo de reconstrução.
Marshal, em sua teoria contemporânea (1967) define cidadania como o conjunto de Leis ordenadas 
pelo Estado. Nomeando a cidadania como “tipologia de direitos”, menciona que ela é composta por 
gerações de direitos: civis e políticos, de primeira geração; os sociais como os individuais de liberdade, 
113
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
igualdade, propriedade, à vida e à segurança. Já os direitos políticos referem‑se a reuniões, encontros 
para organizações políticas, bem como as participações políticas e eleitorais. Quanto aos direitos sociais 
podemos citar trabalho, saúde, moradia, educação, enfim, acesso aos meios básicos de sobrevivência e 
bem‑estar social. Nota‑se então que a cidadania se dá pelo coletivo; contudo, sua efetivação é mediante 
os direitos políticos, que formulam as leis. Assim, enfatizamos o que relata Gonçalves (2006, p. 45):
Implica a construção de novas relações e consciências, pois o processo 
de cidadania no mundo contemporâneo está relacionado diretamente à 
capacidade de desenvolvimento de uma sociedade, que perpassa a defesa 
dos direitos, isto conquistado através da emancipação dos sujeitos, refletindo 
no progresso democrático.
Entendemos emancipação como tomada de consciência, com sentimento de pertencimento como 
sujeito da própria história, ou seja, construindo suas ações e efetivando (ibidem). Desta forma, se 
evidencia que não há cidadania sem reivindicações, lutas e espaços de conquistas.
De acordo com a Constituição vinculada aos direitos sociais, a cidadania representa direito à vida, 
igualdade, respeito, dignidade, direitos civis e políticos assegurados. Esses são considerados requisitos 
básicos para o ser humano.
A redemocratização (Nova República) teve início com a Constituição Cidadã de 1988. Foi eleito 
Fernando Collor de Mello, que representaria um recomeço para a democracia no país, mas devido à 
falta de governabilidade e à corrupção, sofreu o impedimento. Mobilizações populares surgiram, 
principalmente dos jovens das grandes cidades. Para Carvalho (2003, p. 25) “o impedimento foi sem 
dúvida uma história cívica importante”. Esse acontecimento deu a sensação de que era possível exercer 
algum controle sobre os governantes.
A Constituição de 1988 legitimou o aumento dos direitos sociais; porém, na prática, ainda persistem 
as desigualdades.
Embora na lei tenhamos, de um modo geral, definidos direitos e liberdades 
extensivos a todos os membros da sociedade brasileira, na prática temos 
cidadãos, de primeira, segunda e terceira classes e mesmo não cidadãos, 
isto é, indivíduos sem voz, sem espaço e sem nenhum respaldo real nas 
instituições vigentes (ibidem, p.146).
Neste contexto podemos salientar as políticas públicas, que são obrigação do Estado. Vale ressaltar também 
que por meio da cidadania todo o coletivo sebeneficia, ou seja, seu foco principal é o bem‑estar geral.
Não se pode restringir a cidadania apenas às questões de direitos e deveres, mas é preciso explicitar 
o real sentido da cidadania e o poder que ela exerce em toda a sociedade.
Marx e Engels (1965, p. 21) ao conceituarem ideologia, partem de indivíduos reais e não de dogmas. 
Em uma crítica à ideologia alemã, acusam o sistema Hegeliano de relacionar diretamente a produção 
114
Unidade II
das ideias, da consciência, à atividade material, como uma linguagem na “vida real”, afirmando que “não 
é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”.
Atrás do corpo forte do jovem podem se esconder angústias e sofrimentos não imagináveis. No 
entanto, a ideologia da eterna juventude, da idade, da força e da beleza, do vigor e da coragem, do 
tempo de gozar e aproveitar a vida, alimentada pela mídia, oculta essa realidade de dor e sofrimento. O 
grande mercado aposta no jovem e provoca‑lhe apetite de consumo. Esta leitura ideológica da juventude 
encontra sua base psicológica e biológica no fato que, nesse período, o jovem está descobrindo o próprio 
corpo e outras implicações.
As décadas de 1970 e 1980 trouxeram profundas modificações nessa ideologia, pois os jovens tiveram 
as portas fechadas para a política e pouco a pouco foram domados pelo regime militar. Já na década de 
1990 despontou a ideologia do jovem pós‑moderno, com a ideia de que se deve viver o presente, indo 
na direção contrária das ideologias anteriores, que exigiam renúncia e luta para a construção de uma 
sociedade do futuro.
A ideologia da década de 1990 renunciou à luta social, mas muito se investiu nos estudos, na fé, 
na tecnologia e no desenvolvimento. Segundo Libanio (2002, p. 21), ao contrário das décadas de 1960, 
1970 e 1980, em que os jovens lutavam politicamente por seus ideais, a década de 1990 é marcada por 
uma minoria de jovens interessados e preocupados com mobilizações.
A sociedade contemporânea é marcada pelo ideal do “ter” em detrimento do “ser”. Isso se impregnou 
na sociedade, principalmente no sistema educacional, em que há incentivos instrumentais para que se 
conquistem oportunidades de empregos, por exemplo. Desta forma, a atuação dos jovens no meio social 
é colocada em segundo plano, despindo‑se de reflexões críticas da realidade e permitindo a reprodução 
dos problemas existentes.
5.4 Pensando na contemporaneidade
Desde o início dos anos 2000, de modo mais significativo, é evidenciado que a acumulação de 
capital não produz a equidade; pelo contrário, gera o aumento do abismo entre as classes socialmente 
instituídas, não podendo, portanto ser sinônimo de igualdade. Um dos fatores causados por esta 
intensificação das desigualdades é o agravamento das expressões da questão social, base para a 
atuação profissional.
Por esse motivo é crescente o número de pessoas que recorrem aos serviços sociais de diferentes 
instituições e para diversas finalidades, visto que as necessidades tornam‑se múltiplas aos que se 
encontram na situação de excluído.
Os desafios na atuação do assistente social são diversos, pois como discursado trabalha‑se na 
perspectiva de justiça social e igualdade não somente entre os pares, mas a todos os cidadãos. No 
entanto, para chegar a este grau de compreensão, inúmeros profissionais se mobilizaram, principalmente 
a partir da década de 1980, para discutir as fontes teóricas, metodologias e ações da profissão.
115
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
Para melhor compreensão é interessante pensar nestes movimentos como formas de 
recursos e forças teóricas e ético‑politicas acumulados a partir daquele momento, abordando 
especificamente o processo de trabalho no qual se insere o assistente social – ou seja, a prática 
do Serviço Social – e as alternativas ético‑politicas que se colocam ao exercício e à formação 
profissional crítica e competente.
Não há como pensar e refletir a profissão de Serviço Social na contemporaneidade sem que o 
indivíduo esteja atento às transformações societárias, pois nosso foco de trabalho é o indivíduo que faz 
parte da sociedade, que por sua vez está em constante mudança, ou seja, recriação.
Quando enfatizamos a questão da constante qualificação profissional, estamos falando em romper 
com a visão endógena, focalista e imediatista, alargando os horizontes; identificar os movimentos das 
classes sociais como ação legítima; ser um profissional que vise à efetivação dos direitos ao sujeito social 
e que não reproduza os interesses dos detentores de poder.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas atualmente pelo assistente social é desenvolver a 
capacidade de olhar criticamente para a realidade, pois ela é bastante vasta e particular, podendo mudar 
de acordo com quem olha. Em uma visita domiciliar, por exemplo, o profissional não pode se ater 
somente às “aparências”, devendo conhecer de fato o cotidiano dos sujeitos de sua ação e se afastar de 
percepções não técnicas.
O que se pede a todas as profissões, não excluindo a nossa, é a construção de propostas de trabalho 
criativas, possibilitando preservar e efetivar direitos a partir das demandas. Em suma, ser um profissional 
propositivo e não apenas executivo, pois esta simples diferenciação faz uma incrível diferença na prática, 
favorecendo o sujeito e a profissão em si.
O assistente social não é apenas um trabalhador burocrático, executor e acrítico, cumpridor de 
horários e protocolos. É um profissional que deve ter muito claras diversas noções:
• quanto a projetos, deve saber:
— elaborar;
— gerenciar;
— negociar;
— implementar;
— avaliar;
— finalizar.
116
Unidade II
• quanto à profissão, deve conhecer:
— Código de Ética Profissional;
— Lei de Regulamentação da Profissão;
— deliberações e resoluções;
— literaturas que promovam a criticidade.
• quanto às legislações, deve conhecer:
— Constituição Federal (ao menos os artigos pertinentes);
— Estatuto da Criança e do Adolescente;
— Estatuto do Idoso;
— Sistema Único da Assistência Social;
— Política Nacional da Assistência Social;
— Lei Orgânica da Assistência Social;
— Lei Orgânica da Saúde;
— Sistema Único da Saúde;
— Política Nacional do Idoso;
— Leis direcionadas às pessoas com deficiência;
— Lei Maria da Penha etc.
Assim, não basta o profissional ter sido um aluno com notas excelentes, pois isso não garante sua 
prática com a mesma notoriedade. É de suma importância o período de estágio aos discentes, já que é 
neste momento que conseguirá colocar em prática seus estudos e observará como se dá a profissão em 
seu cotidiano, sendo necessária a interligação entre teoria e prática. Também espera‑se que o profissional 
tenha competências subjetivas como dinamismo e carisma, saiba atender a todos, tenha boa escrita e 
use expressões técnicas.
Todos estes requisitos se fazem necessários para que o assistente social tenha subsídios científicos 
para sua atuação, reforçando a necessidade de haver a articulação técnica. Portanto, não deve existir a 
presença do “achismo”, imediatismo, pensamento comum etc.; seus argumentos devem estar embasados 
117
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
e amparados legalmente/literalmente, cabendo aos profissionais se apropriar das possibilidades e com 
os sujeitos desenvolvê‑las, transformando seus projetos e frentes de trabalho para atender ao público 
de sua ação.
Desta forma, a conjuntura não condiciona unidirecionalmente as perspectivas profissionais, mas 
impõe limites e possibilidades, sempre existentes no campo de ação dos sujeitos, para a apropriação 
dessas possibilidades. Essa compreensão é muito importante para se evitar uma atitude fatalista do 
processo histórico.
Observemos o exemplo:
• Empresa: o assistente social participa do processo de reprodução da força de trabalho e da criação 
da riqueza social, fazendo assim parte do trabalho coletivo e produtivo da mais‑valia;
• Estado: o assistente social participa no campo da prestação de serviços, podendo também 
participar do processode redistribuição da mais‑valia, por meio do fundo público. Pode também 
atuar na realização de direitos sociais de cidadania e na gestão da ordem pública, contribuindo 
para o processo de democratização.
Se indagarmos sobre o papel do Serviço Social no processo de produção e reprodução da vida social, 
temos um ponto de partida, a não priorização do mercado ou esfera privilegiada; para a compreensão 
da vida social temos também a visão da produção da riqueza, tida na era do capital como “natural”, por 
se assemelhar àquelas da natureza, de difícil possibilidade de alteração por parte da ação humana.
Sendo assim, as desigualdades sociais sempre existiram, porém as manifestações extremas de 
pauperização podem ser minimizadas por meio de uma melhor distribuição dos produtos do trabalho.
Trabalhando em outra perspectiva, observamos que os homens têm necessidades sociais e privações a 
satisfazer, buscando isso por meio do trabalho. Esses objetos que hoje se formam na sociedade burguesa 
são produtos e mercadorias do capital. Os homens procuram pela satisfação de suas necessidades, 
então trabalham e estabelecem relações entre si. Mas toda reprodução estabelece relações sociais de 
indivíduos, grupos e classes sociais, que envolvem poder, sendo relações de lutas e confrontos entre 
classes e segmentos sociais.
6 SERVIÇO SOCIAL E INSTRUMENTOS LEGAIS
O debate sobre o trabalho do profissional de Serviço Social exige a retomada da Lei nº 8662/93 que 
dispõe sobre a profissão, e em particular dos artigos 4º e 5º.
É necessário aqui diferenciar as competências das atribuições privativas do Serviço Social. Ao nos 
referirmos às competências de uma profissão, estamos demarcando ações que podem ser exercidas 
por determinado profissional, devido à sua qualificação, mas que não são exclusivas de seu campo de 
atuação. Já as atribuições se referem às atividades privativas que são exclusivas de certa profissão, tendo 
o poder e a prerrogativa de exercê‑las.
118
Unidade II
Iamamoto (2001) ressalta que para compreender as atribuições privativas do Serviço Social pautadas 
na Lei, é necessário elucidar o que são unidade, matéria e área de Serviço Social, conceitos constantes no 
artigo 5º, incisos de I a IV. A autora afirma que o que determina a prerrogativa do profissional de Serviço 
Social em suas funções é o fato de estas se referirem à unidade, matéria ou área de Serviço Social. Pode‑se 
observar, por exemplo, o inciso II do artigo 5º – “planejar, organizar e administrar programas e projetos em 
Unidade de Serviço Social” são atividades que podem ser exercidas por qualquer profissional; o que marca 
a especificidade do Serviço Social é a referência a uma Unidade de Serviço Social (IAMAMOTO, 2001).
A definição do que são unidade, matéria e área de Serviço Social é uma tarefa da categorial 
profissional e não do texto legal, remetendo à determinação do que seria o projeto profissional, já que 
o texto legal apenas o representa em termos jurídicos. Em termos etimológicos, unidade se refere a um 
conjunto de profissionais ou determinado órgão de uma entidade; matéria alude a certo assunto, objeto 
ou substância; e área diz respeito ao campo de atuação, no caso o do assistente social (ibidem).
O exercício profissional e seu projeto profissional são determinados pelas características 
sócio‑históricas de cada época, e para pensar o Serviço Social é necessário compreender a construção e 
configuração da realidade brasileira. Estes são também constituídos pela atuação dos profissionais, que 
os determinam a partir de sua ação individual e coletiva (ibidem).
Pensar o projeto profissional supõe articular essa dupla dimensão: de um lado, 
as condições macrossocietárias que estabelecem o terreno sócio‑histórico 
em que se exerce a profissão, seus limites e possibilidades; e, de outro lado, 
as respostas técnico‑profissionais e ético‑políticas dos agentes profissionais 
nesse contexto, que traduzem como esses limites e possibilidades são 
analisados, apropriados e projetados pelos assistentes sociais (ibidem. p. 11).
Nosso contexto, marcado pela globalização dos mercados, da produção, e dos bens culturais; pela 
centralização da riqueza, do poder, da propriedade por países e grupos sociais; além de uma política 
neoliberal, de recuada do Estado, de perdas nas políticas e direitos sociais, determina o aprofundamento 
das desigualdades, da pauperização, das misérias sociais, da desregulação do mercado e das relações de 
trabalho. Como sujeito social coletivo, a categoria profissional, articulada em seu projeto ético‑político 
referente a um projeto societário, deve apresentar respostas ao contexto (ibidem).
Iamamoto (ibidem) avalia que a categoria profissional apresentou resposta crítica ao tradicionalismo 
e conservadorismo historicamente vivido no Serviço Social. Observando‑se a produção teórica e a 
formação acadêmica, têm‑se avanços significativos nas últimas décadas, bem como na importante 
demarcação legal de princípios éticos com a redefinição do Código de Ética do Serviço Social na década 
de 1990, pela Resolução CFESS nº 273/93. A autora destaca alguns princípios como:
• o reconhecimento da liberdade como valor ético central, que requer o reconhecimento da 
autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais e de seus direitos;
• a defesa intransigente dos direitos humanos contra todo tipo de arbítrio e autoritarismo;
119
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
• a defesa, aprofundamento e consolidação da cidadania e da democracia – da socialização da 
participação política e da riqueza produzida.
O Código de Ética de 1993 apresenta normatizações para a relação entre profissionais, com as 
instituições e usuários, pautando os direitos e responsabilidades do assistente social no âmbito dos 
valores de justiça social e liberdade, já iniciadas no Código de 1986. Determina ainda a democracia 
como valor ético‑político central, compreendendo‑a como possibilidade única de vivência da equidade 
e liberdade, além de espaço para conquista de direitos sociais e cidadania em uma sociedade burguesa 
(CFESS, 1993).
O Código de Ética de 1986 já apresentava avanços ao determinar a não neutralidade do profissional 
e ainda outro perfil técnico, que extrapola o âmbito da execução, caracterizando competência técnica, 
teórica e política ao profissional (CFESS, 1993).
Juntamente com a lei de regulamentação da profissão, já abordada, e as diretrizes curriculares 
propostas pela ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), o Código de Ética 
forma os pilares legais do projeto profissional (IAMAMOTO, 2001).
Conforme já exposto, estes instrumentos legais não dão conta de explicitar e aprofundar o projeto 
ético‑político profissional, não sendo nem esta a função que lhes cabe, pois os instrumentos legais 
garantem legitimidade ao projeto profissional.
6.1 Instrumentalidade com categoria para a atuação do Serviço Social
É necessário que você, no seu processo de formação acadêmica, compreenda a categoria 
instrumentalidade e o que ela representa para o Serviço Social.
O Serviço Social é uma profissão especializada na divisão sociotécnica do trabalho e desenvolve seu 
exercício profissional respondendo às demandas colocadas à profissão.
A instrumentalidade, como você já sabe, não é um conjunto de instrumentos técnico‑operativos que 
o assistente social utiliza no cotidiano para desenvolver seu exercício profissional. Instrumentalidade é 
a capacidade adquirida pelo profissional de Serviço Social durante o processo de atuação de planejar 
e estabelecer objetivos com a finalidade de alcançar resultados, utilizando conhecimentos adquiridos: 
ético‑políticos, teórico‑metodológicos e técnico‑operativos.
O Serviço Social é fruto do antagonismo e da divisão da classe burguesa e do proletariado. Sua 
gênese está inteiramente ligada ao quadro sócio‑histórico desenvolvido com o firmamento do 
capitalismo‑monopolista e do agravamento da questão social.
Como forma de abrandar a questão social,foi instituída uma modalidade de atendimento, ou 
resposta do Estado, traduzida sob forma de políticas públicas e sociais. Assim se criou o espaço para a 
atuação do Serviço Social.
120
Unidade II
Foi necessário um profissional que implementasse essas políticas sociais dentro da divisão sociotécnica 
do trabalho. Guerra (2005, p. 18) explica que:
[...] com a complexificação da questão social e como decorrência do tratamento 
que o Estado atribui, recortando‑a como questões sociais a serem atendidas 
pelas políticas sociais, instituiu‑se um espaço na divisão sociotécnica 
do trabalho para um profissional que implementasse as políticas sociais, 
contribuindo para a produção e reprodução material e ideológica da força de 
trabalho (melhor dizendo, da sua subjetividade como força de trabalho).
A instrumentalidade possibilita ao assistente social a mediação necessária para analisar sua trajetória 
sócio‑histórica de funcionalidade, vinculada à classe dominante e ao Estado, e modificar‑se dando 
sentido histórico ao seu exercício profissional. Para isso, ele busca a criticidade para romper com a 
concepção de instrumento de racionalização de conflitos.
Mediante a apropriação dessa mediação, há uma busca da profissão por inserir‑se como um ramo na divisão 
do trabalho. É uma categoria que presta serviços especializados e que adquire condições de preparo técnico e 
intelectual por meio da instrumentalidade. Guerra (2005, p. 23) nos elucida sobre essa questão, ao dizer que:
[...] nessa perspectiva pode‑se pensar a instrumentalidade do trabalho do 
assistente social como propriedades/capacidades historicamente construídas 
e reconstruídas pela profissão, como uma condição sócio‑histórica do 
Serviço Social, em três níveis:
1. no que diz respeito à sua funcionalidade ao projeto reformista da 
burguesia (reformar conservando);
2. no que se refere à sua peculiaridade operatória, ao aspecto 
instrumental‑operativo das respostas profissionais (ou nível de 
competência requerido) frente às demandas das classes, donde advém 
a legitimidade da profissão;
3. como uma mediação que permite a passagem das análises 
macroscópicas, genéricas e de caráter universalista às singularidades 
da intervenção profissional, em contextos, conjunturas e espaços 
historicamente determinados.
A instrumentalidade pode ser utilizada como mediação. Ela permite ao assistente social compreender 
os contextos e as conjunturas sociais, visando à conscientização das massas e às transformações 
das relações sociais dos próprios homens. Contribui para desvendar as representações e as relações 
capital‑trabalho, rompendo com o processo conservador do exercício profissional e atuação do Serviço 
Social tradicional. A instrumentalidade possibilita ao assistente social evitar a dicotomia entre o trabalho 
manual e o trabalho intelectual, colabora para que os profissionais não acreditem na falsa ilusão de que, 
no exercício profissional, a teoria é uma coisa e a prática, outra.
121
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
Para concluir, observemos que a instrumentalidade do Serviço Social não se limita ao desencadeamento 
de ações instrumentais, nem ao exercício de atividades imediatas: ela permite apreender a totalidade 
dos processos sociais e atuar sobre eles.
6.1.1 As competências do trabalhador assistente social e suas inserções em espaços 
socioinstitucionais
Sem extrair o Serviço Social das condições e relações que lhe conforma – 
as relações capitalistas de produção, o que implicaria a sua desistorização 
– reconhece‑se que o trabalho profissional ocorre na concretização de 
um processo que tem como matéria as diferentes e múltiplas expressões 
da questão social. Um processo de trabalho exigente, portanto, de 
definição clara de objeto, objetivos, instrumentos e técnicas de atuação, 
além de referências teórico‑metodológicas e ético‑políticas, que dão 
sustentação aos elementos indicados. Em termos de sua finalidade na 
realidade brasileira, encontra‑se em acordo com seu projeto ético‑político 
profissional, a defesa, ampliação e consolidação dos direitos sociais, da 
democracia e da cidadania, cuja materialidade implica ações concretas, 
viabilizadoras do acesso dos sujeitos aos serviços e programas sociais 
(COFI/CFESS, 2008, s/p).
Esta citação traz elementos importantes ao pensarmos o trabalho do assistente social. Observa‑se 
a necessidade do Serviço Social ter arrolado claramente seu objeto, seus objetivos, instrumentais, bem 
como sua referência teórico‑metodológica e ético‑política. Esses elementos ou dão sustentação ao 
projeto ético‑político, ou são os meios de materialização deste.
É essencial, a priori, retomar o âmbito da inserção do assistente social na divisão social do trabalho. 
A constituição do projeto profissional e a determinação da prática profissional do assistente social 
devem passar pela compreensão da inserção deste profissional no mercado de trabalho, em sua divisão 
sócio‑técnica, o que compreende o assalariamento deste profissional e a existência de um contrato de 
trabalho, delimitando condições concretas de sua realização. Esta análise traz elementos históricos, e 
se distancia de reflexões que não compreendem os desafios cotidianos postos ao assistente social e/ou 
confundem prática profissional com militância política (IAMAMOTO, 2004).
As condições de execução do trabalho profissional se dão no âmbito da compatibilidade dos 
objetivos da instituição, pública ou privada, com aqueles do projeto ético‑político do Serviço Social; os 
recursos disponíveis, salário, carga horária, contrato de trabalho, entre outras condições que inferem 
sobre a prática profissional e organizam o trabalho. Portanto, as condições objetivas e subjetivas, como 
espaço de intervenção, conjuntura histórica, capacitação teórico‑metodológica e escolhas determinam 
a prática do Serviço Social (GUERRA, 2005). Deve‑se ainda ter em mente as contradições decorrentes do 
surgimento do Serviço Social como resposta às demandas do capital.
Assim, à medida que o Serviço Social afirma seu projeto ético‑político no âmbito da conquista de 
autonomia, liberdade, igualdade e direito dos trabalhadores, formam‑se tensões entre a legitimidade 
122
Unidade II
de sua existência e suas competências técnicas e o projeto ao qual se propõe. Será que a sociedade 
capitalista demandaria a existência de uma profissão que trabalhe contra suas bases fundantes? 
Designaria competências e atribuições a uma categoria profissional que teria por objetivo o fim real das 
desigualdades sociais?
Sendo a sociedade formada por classes diversas e por projetos societários igualmente diversos, 
configura‑se um espaço de embates que permite outros traçados e objetivos para o projeto profissional 
e para definição do trabalho profissional. Entretanto, é essencial compreender a contradição entre o que 
a categoria profissional hegemonicamente vem propondo para o Serviço Social como prática e o que a 
sociedade hegemonicamente demanda do Serviço Social.
O Serviço Social tem como objeto as múltiplas expressões decorrentes da questão social e vivenciadas 
no cotidiano, o que podemos compreender como vulnerabilidades. Seu trabalho se desenvolve por meio 
de programas, projetos, serviços, benefícios de enfrentamento às diversas vicissitudes da vida social – 
seja em virtude de classe, gênero, raça ou geração (mediações da questão social).
Compreendendo o caráter contraditório da dinâmica social e consequentemente do espaço 
de intervenção do Serviço Social, torna‑se imprescindível o entendimento de que o trabalho do 
profissional pode contribuir para uma perspectiva que transforme a realidade ou que a mantenha. O 
simples delimitar de ações com as classes pauperizadas não indica que se está fazendo um trabalho 
que contribua efetivamente com estas classes, pois pode se estar reafirmando um trabalho de caráter 
assistencialista e moralista que delimita a pobreza como um problema individual e de valores, e a 
assistência como um favor.
O atendimento às vulnerabilidadesse dá nos mais diversos espaços do setor público e privado, 
bem como no terceiro setor. Destacamos como maior campo de atuação do Serviço Social a área da 
saúde, embora outros campos também demonstrem expressividade, como a assistência social e o campo 
sócio‑jurídico, o universo das empresas, a áreas da educação, habitação e o poder legislativo. Outros 
espaços de inserção profissional são as assessorias, consultorias, pesquisas e planejamentos.
A inserção nos espaços públicos municipais, estaduais e federal normalmente se dão por meio de 
concursos públicos e regimes estatutários. Já a entrada no setor privado se dá por meio de processos 
seletivos. Os regimes de contratação têm se alterado, mesmo no âmbito do Estado, devido à flexibilização 
do mundo do trabalho.
Não é possível aqui nos atermos às particularidades de cada um destes espaços institucionais. Iremos 
pontuar, como exemplo, o postulado pelo CFESS como as competências para atuação do assistente 
social. Este documento apresenta um perfil necessário ao profissional, indicando que ele deve ser 
capaz de compreender os determinantes das desigualdades sociais, abrangendo os condicionantes 
socioeconômicos, culturais e políticos. Devem ser competências do profissional: a capacidade de 
compreender de maneira totalizante os processos de produção e reprodução das relações sociais; a 
compreensão da realidade brasileira, em suas particularidades; o entendimento dos significados sociais 
da profissão; e a identificação das demandas da sociedade, buscando o enfrentamento da questão 
social. (CFESS, 2009). Este perfil deve aglutinar ainda a:
123
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
[...] leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições 
materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito do 
Estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços 
e formas de luta e organização dos(as) trabalhadores(as) em defesa de 
seus direitos, formulação e construção coletiva, em conjunto com os(as) 
trabalhadores(as), de estratégias políticas e técnicas para modificação da 
realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vistas a 
garantir os recursos financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários 
à garantia e ampliação dos direitos (ibidem, p.17).
Dentre as competências interventivas específicas do profissional na assistência social destacamos:
• intervenção junto a indivíduos, famílias e grupos buscando o acesso destes aos bens, serviços, 
equipamentos e direitos, compreendendo o atendimento às necessidades básicas e aumento do 
acesso aos direitos sociais;
• potencialização da participação popular, reivindicações e defesas dos direitos nos espaços de 
controle social e os demais espaços de participação popular (CFESS, 2009).
Destaca‑se o papel crescente do assistente social nos processos de construção dos conselhos de 
saúde, assistência social, tutelares, de direitos (criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência etc.) 
(IAMAMOTO, 2001). Ele possui papel importante também na publicização, na divulgação de informações 
e na formação, inclusive técnica, no sentido de capacitar a população, em particular seu público usuário, 
para a participação nesses espaços.
Deve‑se ressaltar que o papel do assistente social não pode se restringir aos conselhos quando abordamos 
a questão da participação. Os trabalhos de base, de fomento da organização e mobilização popular, de 
caráter educativo, devem ser essencialmente retomados. A participação popular por si só não delimita uma 
perspectiva progressista, pois os espaços de participação são espaços de disputa, o que pode representar, por 
exemplo, vícios populistas no trato da coisa pública (IAMAMOTO, 2001). É necessária uma prática que viabilize 
e potencialize a gestão de bens e serviços para os usuários, buscando atender a essas demandas e pautando 
uma gestão democrática e participativa, num âmbito intersetorial e interdisciplinar (CFESS, 2009).
O profissional deve garantir em seu trabalho a aproximação com o usuário, não se relacionando com 
este como vítima, mas como sujeito com potencial transformador (IAMAMOTO, 2004). Deve estar atento 
às demandas dos usuários, não pautando ações impositivas, mas mediando o processo de compreensão 
das necessidades das classes empobrecidas por meio de um olhar crítico, o que significa trabalhar junto 
com a comunidade na reflexão e entendimento de sua realidade.
O Código de Ética profissional pauta a liberdade, a defesa dos direitos humanos e a cidadania, indicando 
assim o rumo profissional a ser seguido, devendo ser materializado nas ações cotidianas do assistente social.
Assumir a defesa intransigente dos direitos humanos traz, como 
contrapartida, a recusa a todas as formas de autoritarismo e arbítrio. Requer 
124
Unidade II
uma condução democrática do trabalho do Serviço Social, reforçando a 
democracia na vida social. Afirmar o compromisso com a cidadania exige 
a defesa dos direitos sociais tanto em sua expressão legal, preservando e 
ampliando conquistas da coletividade já legalizadas, quanto em sua realidade 
efetiva. À medida que os direitos se realizam, alteram o modo como as 
relações entre os indivíduos sociais se estruturam, contribuindo na criação 
de novas formas de sociabilidade, em que o outro passa a ser reconhecido 
como sujeito de valores, de interesses, de demandas legítimas, passíveis de 
serem negociadas e acordadas. Portanto, colocar os direitos sociais como 
foco do trabalho profissional é defendê‑lo tanto em sua normatividade 
legal, quanto traduzi‑los praticamente, viabilizando a sua efetivação social 
(IAMAMOTO, 2004, p. 78).
O movimento de municipalização da política de assistência social, bem como sua consolidação por 
meio do PNAS (2004) que propõe o SUAS, e ainda outros instrumentos legais, NOB/SUAS; NOB/RH; 
Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, entre outros, configuram uma verdadeira revolução 
no âmbito da política pública de assistência, esta exige do profissional um perfil caracterizadamente de 
gestor, formulador e executor de políticas públicas.
Iamamoto (2001, pp. 36‑37) sintetiza este perfil:
O processo de descentralização das políticas sociais públicas – com ênfase 
na sua municipalização – requer dos assistentes sociais – como de outros 
profissionais – novas funções e competências. Estão sendo requisitos 
(sic) e devem dispor de competências para atuar na esfera da formulação 
e avaliação de políticas, assim como do planejamento e gestão, inscritos 
em equipes interdisciplinares que tensionam a identidade profissional. 
Os assistentes sociais ampliam seu espaço ocupacional para atividades 
relacionadas à implantação e orientação de conselhos de políticas públicas, 
à capacitação de conselheiros, à elaboração de planos de assistência social, 
acompanhamento e avaliação de programas e projetos. Tais inserções são 
acompanhadas de novas exigências de qualificação, tais como o domínio de 
conhecimentos para realizar diagnósticos socioeconômicos de municípios 
e para a leitura e análise dos orçamentos públicos identificando recursos 
disponíveis para projetar ações; o domínio do processo de planejamento; a 
competência no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais, 
a capacidade de negociação, o conhecimento e o know‑how na área de 
recursos humanos e relações no trabalho, entre outros.
A política neoliberal traz à tona também outro desafio à profissão, o corte em relação às políticas 
sociais sob justificativas orçamentárias. Coloca‑se, então, como desafio ao profissional e às instituições 
formativas, a aquisição de conhecimentos e habilidades necessários para negociar orçamentos que 
viabilizem a consecução do projeto ético‑político por meio dos serviços, programas, projetos sociais. 
(IAMAMOTO, 2001).
125
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
As competências técnicas do assistente social circulam em torno do atendimento individual e 
coletivo aos usuários, da formulação de projetos, programas,benefícios e serviços, da gestão de 
políticas sociais e outras ações nos setores público e privado – nas mais diversas instituições e 
abrangendo distintas áreas.
Compreende‑se a necessidade de destacar aqui o compromisso com o projeto ético‑político da 
profissão, portador de ideais como justiça social, democracia e igualdade. O profissional, além de 
compreender os processos técnicos pelos quais intervém na realidade, deve essencialmente conseguir 
analisar se estes instrumentais e se sua intervenção de maneira geral vêm respondendo a seu projeto 
profissional. Para tanto, o aprofundamento teórico e a prática das pesquisas são essenciais.
Para um compromisso com usuário é necessário romper as rotinas 
e a burocracia estéreis, potenciar as coletas de informações nos 
atendimentos, pensar a reorganização do plano de trabalho tendo 
em vista as reais condições de vida dos usuários. Em outros termos, 
identificar como a questão social vem forjando a vida material, a 
cultura, a sociabilidade, afetando a dignidade da população atendida. 
Enfim, é o conhecimento criterioso dos processos sociais e sua vivência 
pelos indivíduos sociais que poderá alimentar propostas inovadoras, 
capazes de propiciar o reconhecimento e atendimento às efetivas 
necessidades sociais dos segmentos subalternizados, alvos das ações 
institucionais (IAMAMOTO, 2001, p. 32).
Iamamoto (2002, 2005) corrobora nesse sentido com o entendimento de que entre as atividades 
essenciais da prática profissional está a pesquisa, não como um momento separado, mas como atividade 
incorporada à prática. A compreensão da questão social e suas expressões no cotidiano do trabalho, nas 
relações das famílias, na economia regional etc., devem fazer parte essencial da atuação do assistente 
social, pois não há como planejar uma atuação efetiva sem o conhecimento da realidade.
Diante desta constatação, indica‑se que o método do materialismo histórico‑dialético traz recursos 
profícuos para análise da realidade, visto que compreende os diversos determinantes dela, a realidade 
em sua totalidade, bem como suas singularidades e historicidade. Dá conta de apreender “as relações 
entre trabalho, questão social e o Serviço Social” possibilitando a elaboração de “estratégias que 
possam contrarrestar a programática neoliberal em favor das necessidades e interesses da coletividade” 
(IAMAMOTO, 2004, p. 30). Guerra (2005, p. 23) indica ainda que:
[...] considerando a relativa fragilidade teórica e analítica da profissão, 
decorrente da insuficiência de pesquisa e de conhecimento sobre a realidade, 
sobre o próprio Serviço Social, sobre as demandas e usuários e sobre as 
novas funções assumidas pela profissão, o que aparece é uma certa ausência 
de “criatividade” e de instrumentos técnicos para intervir.
Conclui‑se que é primordial na compreensão do trabalho do assistente social e em sua inserção em 
qualquer espaço sócio‑institucional o entendimento de que seu objeto de ação é a questão social e suas 
126
Unidade II
expressões, delimitadas em suas mediações e particularidades. Os objetivos e instrumentais devem ser 
construídos de acordo com a realidade a ser trabalhada, mas devem ter por horizonte certo o projeto 
ético‑político profissional. E, essencialmente, o profissional deve ter capacidade teórico‑analítica para 
pesquisar a realidade apresentada e determinar ações que efetivamente caminhem para a superação da 
desigualdade social e das vulnerabilidades dos usuários, numa perspectiva de ampliação de acessos, de 
direitos sociais e de participação popular.
6.2 Trabalho profissional: dilemas para reflexão
Na atuação do profissional, diversos são os questionamentos, dificuldades e dilemas. Serão aqui 
destacados alguns deles.
A prática terapêutica no âmbito do Serviço Social gera dúvidas, angústias e embates. As demandas 
atendidas no cotidiano profissional são, em geral, “recebidas” na individualidade de cada usuário 
atendido, sendo apreendidas ainda com as tristezas, ansiedades e alegrias particularizadas por cada 
um. A busca pelo atendimento efetivo destas demandas provoca a procura por diferentes referenciais 
teóricos e a criação de instrumentais e técnicas, o que acabou por resultar em algumas práticas, como 
as de cunho terapêutico.
O texto “Práticas terapêuticas no âmbito do Serviço Social: subsídios para aprofundamento do 
estudo”, elaborado pelo CFESS (COFI) e aprovado pelo Conselho Pleno do CFESS em junho de 2008, 
debate as competências profissionais do assistente social, especificando suas delimitações em relação 
ao trabalho terapêutico e destacando a história deste debate, fazendo referência aos fatos ocorridos no 
âmbito da profissão na década de 1990, marcados pela regulamentação da profissão e pelas reflexões 
promovidas pelo conjunto CFESS/CRESS8.
O texto faz parte do contexto de veto às práticas terapêuticas pelo assistente social promovido pelo 
CFESS. Essas práticas, segundo pesquisa realizada pelo CFESS, atuam no âmbito da reintegração social, 
agindo em favor de famílias e indivíduos em situação de sofrimento e crises referentes à depressão, 
estresse, alcoolismo etc. Seus objetivos são: trabalhar a autoestima, promover o autoconhecimento, 
auxiliar na superação de problemas, contribuir para a garantia de acesso aos recursos da comunidade 
etc. E quem fornece os fundamentos teórico‑metodológicos para isso são as áreas de psicanálise, 
antropologia cultural, teoria da comunicação, teoria construtivista, entre outras.
A Resolução nº 569/2010 do CFESS veta o exercício de atividades de cunho terapêutico pelo 
profissional de Serviço Social, retomando as determinações do Código de Ética do Serviço Social para 
delimitar a irregularidade desta prática. O Código de Ética, bem como as diretrizes curriculares da ABEPSS, 
deixam clara a vinculação da prática profissional com um projeto societário regulado na superação da 
8 A gestão do CFESS 1996‑1999 e 1999‑2000 produziu debates sistematizados pela COFI/CFESS e pela Profa. Dra. 
Marilda Iamamoto que em 2002 originaram a publicação de “As atribuições privativas do assistente social em questão”. 
O CRESS 7ª Região produziu debates em 2002 que resultaram em duas publicações, “Serviço Social Clínico e o projeto 
ético‑político profissional” e “Atribuições Privativas do assistente social e o ‘Serviço Social Clínico’”. Estas reflexões e suas 
sistematizações trazem referências fundamentais, segundo o texto, para a reflexão deste tema.
127
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
exploração de classe, gênero ou etnia. Questiona‑se, portanto, se as práticas terapêuticas e clínicas dão 
conta de compreender que as agruras individuais são expressões da questão social.
É importante desenvolver a capacidade de ver, nas demandas individuais, as dimensões 
universais e particulares que elas contêm. O desvelamento das condições de vida dos sujeitos 
atendidos permite ao assistente social dispor um conjunto de informações que, iluminadas por uma 
perspectiva teórica crítica, lhe possibilita apreender e revelar as novas faces e os novos meandros 
da questão social que o desafia a cada momento no seu desempenho profissional diário. É da maior 
importância traduzir esta reflexão no “tempo miúdo do trabalho cotidiano”, como afirma Yazbek 
(apud IAMAMOTO, 2001, pp.27‑28):
[...] pois a questão social está aí presente nas diversas situações que chegam 
ao profissional como necessidades e demandas dos usuários dos serviços: 
na falta de atendimento às suas necessidades na esfera da saúde, da 
habitação, da assistência, nas precárias condições de vida da famílias, na 
situação dos moradores de rua, na busca do reconhecimento dos direitos 
trabalhistas e previdenciários da parte dos trabalhadores rurais, na violência 
doméstica, entre inúmeros outros exemplos. Importa ter clareza que a 
análise macroscópica sobre a questão social [...] expressa uma realidade que 
se materializa na vida dos sujeitos. Este reconhecimento permite ampliar 
as possibilidades de atuação e atribuir dignidade ao trabalhodo assistente 
social, porque ele não trabalha com fragmentos da vida social, mas com 
indivíduos sociais que condensam a vida social.
Iamamoto (2002) destaca ainda a ausência de uma formação para a prática terapêutica no âmbito 
do Serviço Social, inclusive nos marcos legais.
O veto às práticas terapêuticas pelo profissional de Serviço Social é alvo 
de contestações por profissionais da área, como se verifica, por exemplo, 
na mídia virtual. Profissionais se reuniram para apresentar contraposição à 
resolução do CFESS por meio de manifestações como abaixo‑assinados. Estes 
profissionais argumentam que há assistentes sociais com especializações na 
área, e que deve ser garantida sua legitimidade profissional; que defender 
a prática terapêutica é defender o pluralismo na profissão; além de que o 
Serviço Social já possuiria caráter terapêutico ou que deveria buscar outras 
fundamentações para garantir o devido olhar à subjetividade; entre outros 
argumentos (COFI/CFESS, 2008).
O perigo a se evitar é a não percepção da individualização de questões de caráter macrossocial 
vivenciadas pelos usuários do Serviço Social, como o fato de que a pobreza, a violência doméstica e a 
quimiodependência, por exemplo, têm determinantes macrossociais que se particularizam no cotidiano 
individual. A existência de classes sociais, a reestruturação do mercado e do caráter dado às políticas do 
Estado, a subordinação historicamente vivenciada pelas mulheres e a crise ética são condicionantes de 
uma realidade social; abordar estas questões como problemáticas vividas isoladamente pelo usuário x 
128
Unidade II
ou pela família y distorce a realidade, causando impacto nas políticas, programas ou projetos que são 
criados apenas para dar respostas paliativas.
Não se está aqui negando a individualidade, a subjetividade, as questões de ordem psicológica 
presentes nestas problemáticas, ou mesmo o atendimento individual oferecido pelo Serviço Social; 
apenas busca‑se situar sua prática.
 Observação
É importante destacar que cabe ao profissional de Serviço Social 
o acolhimento devido do usuário, compreendendo o estabelecimento 
de ambiência acolhedora, bem como o recebimento das demandas, 
necessidades e possibilidades do usuário.
Alguns questionamentos podem ser feitos na contribuição desta reflexão: o profissional de Serviço 
Social possui formação e/ou competência técnica para trabalhar com abordagens terapêuticas? Caso 
o profissional não faça a leitura das questões de ordem macro, algum outro profissional o fará?9 A não 
compreensão da questão social e suas mediações possibilitam um entendimento concreto da realidade? 
Possibilita a busca de uma prática voltada para a conquista de direitos sociais, autonomia, superação 
de situações de exploração e discriminação, objetivos pautados em nosso projeto ético‑político? Esses 
questionamentos podem servir para guiar outras dúvidas referentes à prática profissional.
No âmbito das empresas, a atuação do assistente social normalmente se vincula a outras áreas 
que não especificamente o Serviço Social, como a de recursos humanos. Por vezes o profissional não 
reconhece em sua atuação profissional as competências do assistente social, se identificando com os 
cargos que ocupam (como as coordenadorias) e não mais com sua formação profissional – o que indica 
falta de reflexão e identidade profissional (IAMAMOTO, 2002).
O universo das empresas coloca o trabalhador numa relação mais direta com a contradição 
capital/trabalho, e neste espaço as relações de exploração e o papel de controle social demandado 
ao profissional são mais explicitados. Cabe destacar, retomando o pressuposto de que os processos 
de trabalho organizam o trabalho do assistente social, que as possibilidades de autonomia dadas ao 
profissional são de modo geral menores.
Apesar de hegemonicamente pautar um projeto profissional transformador da realidade social, 
o caráter de inexorabilidade apresentado pelo contexto atual pode provocar apatia e descrença nos 
profissionais diante de novas propostas, mais democráticas, voltadas para uma perspectiva de direitos.
9 Esta abordagem deve pautar inclusive o atendimento individual, já no processo de acolhida, não se 
culpabilizando o sujeito individualmente pela vulnerabilidade apresentada, em que as reflexões a serem realizadas 
com este, bem como os encaminhamentos dados, expressam o entendimento da questão social e de suas mediações, 
obviamente de maneira pedagógica.
129
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
Pode‑se pensar nas dificuldades que se apresentam quando a proposta é um trabalho de 
desenvolvimento comunitário: a baixa adesão da população, as dificuldades e mesmo resistências à 
participação e o descrédito em relação ao proposto.
As transformações societárias que aguçam a centralidade da racionalidade capitalista sob todas as 
relações, inclusive as das políticas sociais, e a não existência de propostas significativas que contraponham 
esta racionalidade impulsionam a descrença e as alternativas ao capitalismo, resultando na renovação 
e modernização das práticas conservadoras e as transvestindo‑as com uma nova roupagem, pois 
estas parecem as únicas possíveis (GUERRA, 2005). Ao se propor o novo, o alternativo, não podemos 
desconhecer as dificuldades que se apresentarão, sob pena de não resistirmos a elas ou retomarmos 
práticas antigas apenas revestindo‑as.
A profissionalização do Serviço Social tem como um dos empecilhos para sua efetivação a 
predominância do “instinto e da experiência pessoal” no embasamento da prática em detrimento 
de um referencial teórico‑metodológico (GUERRA, 2005, p. 23). A falta de aprofundamento teórico 
durante a formação profissional e, posteriormente, a não continuidade desta, por meio da formação 
contínua, fragilizam o trabalho do assistente social, inclusive no que se refere à sua colocação diante 
das demais categorias. É necessário ter clara a importância da qualificação teórica, apesar do trabalho 
eminentemente prático do Serviço Social.
Devem ser evitados também o teoricismo, o militantismo e o tecnicismo (IAMAMOTO, 2005). 
Embora a fundamentação teórico‑metodológica seja essencial para o exercício profissional, o 
descolamento deste embasamento teórico com a realidade provoca um “teoricismo estéril”, 
incapaz de possibilitar a análise de contexto que deve fundamentar a prática (IAMAMOTO, 2005). 
As particularidades vividas devem ser observadas, analisadas sob o referencial teórico; este será 
infértil se permanecer no nível da abstração, não possibilitando o conhecimento do concreto. 
Pesquisas e análises sobre as demandas da assistência social, os projetos, programas propostos etc. 
devem fazer parte do cotidiano de trabalho.
O militantismo ou politicismo refere‑se às posturas de crítica e engajamento político que não se 
sustentam teoricamente nem em termos de competência profissional.
As relações entre engajamento político e profissão foram fontes de inúmeros 
equívocos desde o movimento de reconceituação no âmbito do Serviço 
Social. Este, como profissão, tem uma necessária dimensão política por estar 
imbricado com as relações de poder da sociedade. O Serviço Social dispõe 
de um caráter contraditório que não deriva dele próprio, mas do caráter 
mesmo das relações sociais que presidem a sociedade capitalista. Nesta 
sociedade, o Serviço Social inscreve‑se em um campo minado por interesses 
antagônicos, isto é, interesses de classes distintos e em luta na sociedade 
(IAMAMOTO, 2005, p. 54).
A atuação que abrange somente aspectos técnicos é insuficiente como prática profissional por ser 
descompromissada com seu caráter transformador, além de ser portadora de uma visão pouco crítica 
130
Unidade II
da realidade. A prática profissional, portanto, deve abranger os aspectos técnicos, políticos e teóricos 
de maneira integrada, objetivando o conhecimento profundo da realidade. Com o objetivo de analisar a 
compreensão dos conteúdos estudados, propomos a seguinte questão reflexiva: como o ServiçoSocial 
se situa na reprodução das relações sociais?
É neste contexto que o Serviço Social atua, mas cabe ressaltar que hoje se faz necessário seu 
atrelamento com os movimentos sociais, com o projeto ético‑político e profissional, e também com 
um novo projeto societário. Desta forma, a principal conquista é a recusa do profissional em colocar‑se 
como “agente técnico puramente executivo”, passando a partir de então a pleitear atividades em níveis 
de gestão e planejamento das políticas públicas, obtendo assim o status de profissional intelectual e 
afastando‑se da subalternidade inculcada na gênese profissional.
Em consonância com Iamamoto (2008) no que tange ao projeto profissional, contata‑se 
que sua origem é fruto da organização dos assistentes sociais atrelada à crescente qualificação 
teórica e do aprimoramento da sua dimensão política, construído no exercício do debate e 
participação política. Parafraseando Netto (2005), o projeto sinaliza um compromisso com a 
competência, cuja base só pode ser o aprimoramento intelectual, complementando ainda que 
o projeto prioriza uma nova relação sistemática com os usuários dos serviços oferecidos pelos 
AS: é o seu componente estrutural o compromisso com a qualidade dos serviços prestados à 
população, incluída nesta qualidade a publicização dos recursos institucionais, instrumento 
indispensável para a sua democratização e universalização e, sobretudo, para abrir as decisões 
institucionais à participação dos usuários.
Torna‑se portanto fundamental a articulação da categoria com outros segmentos profissionais 
que compartilhem os mesmos ideais societários, sobretudo aqueles que visem à diminuição das 
desigualdades sociais.
Netto também observa que o PEPP traduz uma autoimagem da profissão, em que valores são 
elencados e constituem a legitimidade da profissão. O projeto ético‑político profissional delimita e 
prioriza funções, demanda prerrogativas ao exercício da profissão e constrói normas para a postura 
profissional entre os colegas de trabalho e os usuários de seus serviços.
Desta forma, segundo Iamamoto (2008), o projeto profissional pressupõe uma dupla 
dimensão: de um lado as condições macrossocietárias, e, do outro, as respostas sócio‑históricas, 
ético‑políticas e técnicas. Assim, evidencia‑se a indissociabilidade de projetos societários 
dos profissionais, tendo na historicidade a identidade e força da intervenção profissional. 
Evidentemente que as implicações ético‑políticas conformam tais cenários profissionais, uma 
vez que o caráter interventivo pressupõe uma reflexão teórica capaz de concretizar os princípios 
do atual Código de Ética da profissão.
Simões (2009), em seu livro Curso de Direito do Serviço Social, relata que com a regulamentação 
da profissão em 1993, a partir da Lei nº 8.662, o Serviço Social normatiza procedimentos e a natureza 
do exercício profissional, sendo‑lhe instituídos deveres e assegurando atribuições privativas, cabendo 
destacar as seguintes de atribuição exclusiva:
131
TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL
• realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria do SS;
• treinar, avaliar e supervisionar diretamente estagiários do SS;
• fiscalizar o exercício profissional por meio dos conselhos regionais e federal.
Salienta‑se aqui que o Código de Ética de 1993 ampliou politicamente a atuação profissional. Os 
valores éticos fundamentados no compromisso com o usuário, favorecendo a liberdade, contribuem 
para a consolidação da democracia, por meio da construção da cidadania, da ampliação da justiça e da 
diminuição da desigualdade social.
Decorrente dos princípios firmados na Constituição de 1988, o Código de Ética normatiza o exercício 
profissional de modo a favorecer que as prerrogativas constitucionais alcancem aqueles a quem se 
destinam, vindo então a conceber a assistência social como direito subjetivo público.
Cabe destacar, conforme Simões (2009), que o Código de Ética tem em seu pórtico a instituição 
de alguns princípios fundamentais de ordem democrática, expressando‑se desta forma no cotidiano 
profissional às múltiplas dimensões da assistência social, sobretudo a política, que objetiva 
estabelecer princípios como: liberdade, defesa dos direitos humanos, exclusão da arbitrariedade 
e do preconceito, equidade, justiça social e o favorecimento do pluralismo político. O autor ainda 
acrescenta que o presente código vai além de um instrumento corporativista, estabelecendo 
princípios constitucionais.
Em sua estrutura, o Código de Ética retifica o exercício profissional mediado por três tipos de normas:
• orgânicas (competências e poderes);
• éticas (direitos e deveres);
• procedimentais (procedimentos sobre enquadramentos, apuração e penalização).
Portanto, o trabalho do assistente social requer atualmente retomar o debate e aprofundar a 
questão da profissão estar situada na divisão do trabalho coletivo, com foco em seu significado como 
um processo que reproduz as relações sociais. Por outro lado, depara‑se com a crescente mercantilização 
do trabalho do assistente social, a condição de trabalhador assalariado acaba por subordinar o exercício 
profissional aos “ditames do trabalho abstrato e os impregna dos dilemas da alienação”, fragilizando a 
implementação do projeto profissional.
Assim, o dilema entre causalidade e teleologia determina ao profissional momentos de estrutura e 
de ação, tendo a capacidade de articulação, leitura histórica e singularidade do sujeito como quesitos 
fundamentais do assistente social na atualidade.
132
Unidade II
6.2.1 O Serviço Social e a prática institucionalizada
As instituições figuram como elementos inseparáveis do Estado, pois ambos consubstanciam 
fortes elos que os vinculam, haja vista o aporte consensual que os legitimam. O Estado, em face das 
necessidades da sociedade, busca sua organização, controle e regulação por meio das instituições 
que representam aparelhos funcionais, cuja pretensão é dar respostas às necessidades sociais de uma 
determinada época, seguindo a dinâmica social existente. Nesse contexto, insere‑se a assistência social 
como prática institucionalizada e legitimada socialmente.
Assim sendo, é pertinente e extremamente relevante e necessário que o assistente social conheça 
o espaço sócio‑ocupacional em que se insere. Conhecer como se configura a instituição, suas normas, 
hierarquia e rotinas propiciará ao profissional estabelecer critérios para sua atuação no sentido de 
viabilizar direitos sociais.
 Lembrete
Lembre‑se, portanto, do caráter antagônico inerente às instituições, 
uma vez que elas se constituem instrumentos ou aparelhos de 
controle da sociedade. Daí ser imprescindível aguçar o entendimento 
nesse âmbito para que o assistente social, munido de conhecimento 
teórico‑metodológico, técnico‑operativo e ético‑político, possa contribuir 
no processo de superação das demandas dos usuários das instituições 
mediante construção de estratégias e táticas criativas e propositivas em 
uma perspectiva de direitos.
Em relação à tríade de conhecimento teórico‑metodológico, técnico‑operativo e ético‑político, esta 
por si só resolveria a efetivação do exercício profissional na perspectiva de transformação da realidade? 
O conhecimento em si, somente ele, pode propiciar mudanças significativas no cotidiano profissional? 
Aventurar‑se pela literatura na área do Serviço Social, bem como de ciências como a Sociologia, filosofia, 
entre outras, pode contribuir para elucidação dessas questões, além de revelar novos caminhos.
Nesse contexto, o assistente social direciona sua práxis profissional considerando sua relativa 
autonomia, pois esse profissional decide os meios como realizar as atividades, os instrumentos 
técnico‑operativos e as estratégias a serem implementadas, porém depende do aval das estruturas 
ou das instituições em que se insere para execução do seu trabalho. A título de ilustração, quando da 
construção de projetos, o assistente social depende da apreciação

Outros materiais