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Estudos Amazônicos 9º ano 
 
1 
 
O capitalismo na Amazônia 
 
A expansão do capitalismo na Amazônia 
 
A economia da região amazônica em geral e do Pará em particular, tem como principal característica de sua 
base produtiva o peso do extrativismo mineral e vegetal. Desde os séculos XV e XVI, quando teve suas terras 
disputadas por aventureiros de diversas nacionalidade, o Pará na calha do gigantesco rio Amazonas e, em 
seguida pelas outras trilhas e localidades colonizadas ao longo da teia de rios da região, ofereceu recursos 
naturais fartos, que pouco exigiam além do esforço da coleta para a acumulação de bens a serem 
comercializados para as mais diversas nações da época. 
 
Assim foi com a castanha, que de tão abundante e 
característica acabou batizada em todo o país com o 
sobrenome de sua origem, Castanha-do-Pará, e com a 
borracha, que de tão pródiga e valiosa deu aos 
amazônidas a impressão de que se tratava do verdadeiro 
e eterno ouro do Eldorado. Os ciclos extrativistas 
acabaram de forma melancólica, quase tão rápido quanto 
começaram, provando aos amazônidas que a riqueza da 
região não será alcançada com a simples sangria da 
floresta, sem que haja o esforço da transformação por 
parte do homem, incorporando valor aos bens matérias. 
 
O desafio da região amazônica é o da transformação de sua base produtiva, em que o extrativismo vegetal 
cede lugar ao extrativismo mineral, realizado não por estruturas empresariais primitivas que escravizam o 
caboclo da região, mas através de grandes empresas de capital nacional e internacional, que criam ilhas de 
riqueza, porém, com pouca ou nenhuma relação interativa com a economia global, praticamente sem 
industrializar aqui o produto mineral, sem induzir a formação de cadeias produtivas geradoras de renda e 
ocupação, lucrando com o produto de suas escavações e pouco deixando em pagamento de tributos, graças a 
uma generosa política de incentivos fiscais. 
Dos quatro principais polos de modernidade da Amazônia, dois estão no Pará: o Triângulo de Carajás e o Polo 
Agropecuário do Sudeste Amazônico. Os outros dois são a Zona Franca de Manaus e o Polo Agrícola de 
Rondônia. Estas ilhas são o que restou de maciços investimentos do governo federal na infraestrutura da 
região durante as décadas de 1960 e 1970, o que gerou uma dinâmica econômica fortemente dependente 
dos incentivos oficiais, e que ficou órfã deste apoio com a crise econômica dos anos 80, quando o país viveu 
junto com a região, um período de estagnação. 
Com a estabilização econômica, a partir da implantação do plano real, o governo federal voltou a investir em 
infraestrutura, privilegiando eixos nacionais de integração e desenvolvimento, que tem na Amazônia as 
hidrovias como espinha dorsal. A energia elétrica e diversificação da mineração colocaram a região em posição 
vantajosa, em termos de oportunidade de investimentos, em relação às outras regiões do país. Com a 
aproximação da frente agrícola do Cerrado, a Amazônia receberá cada vez mais agricultores do Centro-Oeste 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
2 
 
em busca de novas terras para plantar, novos mercados consumidores e canais para escoamento da produção, 
dinamizando eixos como a Belém-Brasília, Santarém-Cuiabá, Cuiabá-Porto Velho, Porto Velho-Manaus, 
Manaus-Boa Vista e Transamazônica. 
 
O próprio eixo nacional da produção mineral estará cada 
vez mais deslocado para a Amazônia, onde está previsto 
a conclusão de projetos de extração de caulim, cobre, 
ferro e manganês em Carajás e os polos metalúrgicos da 
Albrás-Alunorte, além de mais mineração de alumínio no 
rio Trombetas e a expansão do gás e do petróleo em 
Urucu, no Amazonas. Para tal, será indispensável criar 
uma base científica e tecnológica e qualificar os 
recursos humanos, o que depende em grande parte de 
um poder público consciente e com visão de futuro, 
capaz de compreender a importância da biotecnologia 
para uso sustentável dos recursos naturais. Assim, o 
que ocorre no espaço amazônico está em relação direta 
com movimento da economia brasileira e, por via desta, 
com as transformações na ordem capitalista mundial. A Amazônia se torna cada vez mais um símbolo da 
responsabilidade global em manter intocados alguns ecossistemas, com reservas futuras de qualidade de vida 
para a humanidade, e que deverão permanecer preservados como santuários. 
No entanto, será inevitável que a Amazônia continue a abrigar migrantes de todas as regiões do país, pelo 
próprio esgotamento dos espaços e das reservas nessas regiões, constituindo-se em nova fronteira agrícola, 
mineral e industrial, recebendo investimentos tanto nacionais quanto estrangeiros, com a obrigação de gerar 
empregos e renda, com qualidade de vida. 
 
Noções de capitalismo 
 
Quase todos os dias se ouve falar que o Brasil é um país capitalista, que o sistema que predomina no Brasil 
e no mundo é o capitalismo. Vamos tentar explicar o que isso significa. 
O capitalismo é um sistema econômico que se desenvolveu entre o século XV e XVIII e foi se consolidando. 
Ele é caracterizado pela aquisição de capital proveniente do comércio e apropriação do trabalho 
humano (escravo ou assalariado). O capitalismo está voltado para a fabricação de produtos comercializáveis, 
denominados mercadorias, com o objetivo de obter o lucro. Esse sistema está baseado na propriedade privada 
dos meios de produção, ou seja, todos os utensílios, ferramentas, matérias-primas e edificações utilizados 
na produção pertencem a alguns indivíduos (os capitalistas). 
Nas sociedades capitalistas, o elemento central da economia é o capital, que pode ser entendido como o 
dinheiro que é investido no processo produtivo, com o objetivo de gerar lucro. Diferencia-se do dinheiro que 
se destina à satisfação das necessidades pessoais dos indivíduos. O capital é aplicado em instalações, 
máquinas, mão-de-obra, entre outros elementos ou agentes de produção. 
Refinaria Alunorte controlada pela Norsk Hydro 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
3 
 
Como no capitalismo a produção se destina ao mercado, ou seja, à comercialização, dizemos que os países 
capitalistas adotam a economia de mercado. É em função das necessidades do mercado que se desenvolvem 
a produção, a circulação (ou sistema de distribuição para o mercado consumidor) e o consumidor dos 
produtos. Essas etapas caracterizam o chamado ciclo de reprodução do capital. 
Para produzir e comercializar suas mercadorias, os proprietários contratam empregados, os não-
proprietários, que nessa relação também estão vendendo uma mercadoria: sua força de trabalho. 
Até o início do século XX, podia-se analisar o sistema capitalista pela oposição de duas classes sociais: a 
burguesia detentora do capital, e o proletariado, formado pelos trabalhadores. Cada vez mais, porém, as 
transformações econômicas, sociais, tecnológicas e o aprofundamento da divisão social, tecnológicas e o 
aprofundamento da divisão social do trabalho têm inserido elementos novos na sociedade capitalista, de modo 
que hoje é preciso considerar fatores como o surgimento de novas atividades e novas práticas profissionais 
necessárias para atender às exigências de um mercado cada vez mais diversificado. 
Aspectos como o poder da mídia sobre a opinião pública, a manipulação exercida pela indústria da propaganda, 
o acesso à cultura e à tecnologia a especialização do trabalho, a terceirização da mão-de-obra e a redução 
da oferta de empregos ganham cada vez mais destaque. 
 
A Amazônia na divisão nacional e internacional do trabalho 
 
Divisão Territorial do Trabalho (D.T.T.) 
 
A colonização europeia do século XV e, mais recentemente, o imperialismo do século XX, impuseram as 
diferentes nações do mundo a economia capitalista. Definiu-se assim, o que cada território deveria produzir, 
orientando-se a política econômica desses países. A partir de então,cada nação passou a ter um papel 
específico na produção econômica internacional. Esse processo é chamado de Divisão Internacional do 
Trabalho, que passou a ocorrer em nível mundial e que, neste caso, é chamada de Divisão Internacional do 
Trabalho (D.I.T.). A produção econômica dos países passou a ser diferente, intensificando ainda mais a 
circulação de mercadorias, ou seja, o comércio. Isto ocorre porque nenhum país é capaz de suprir sozinho 
suas necessidades internas, precisando, portanto, comprar no exterior o que não produz. 
A D.I.T. proporciona o enriquecimento dos países centrais e o empobrecimento dos países periféricos. A 
razão é que o tipo de relacionamento estabelecido entre os países aumenta a dependência e a desigualdade 
entre os mesmos, como também divide os países em exploradores e explorados, ou seja, países centrais, 
também chamados de primeiro mundo ou desenvolvidos, que lideram a economia mundial, como os Estados 
Unidos, Alemanha e Inglaterra e países periféricos, também chamados de terceiro mundo ou 
subdesenvolvidos, como é o caso de Brasil, México e Filipinas, que voltam a sua produção para atender o 
mercado externo, a saber, os países centrais, sendo explorados por estes. 
 
O papel da Amazônia na D.T.T. 
 
Neste contexto, qual o relacionamento da Amazônia com as outras regiões do Brasil e do resto do mundo? 
A Amazônia no contexto internacional, exerce o papel de fornecedora de matérias-primas, destinadas à venda 
ao mercado externo. Os principais produtos importados pela região amazônica (produtos eletrônicos, 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
4 
 
caldeiras, produtos musicais e produtos químicos) ultrapassam os valores dos produtos exportados (madeira, 
caulim, hematita, castanha-do-Pará, mesmo que as exportações aconteçam em maior volume, o que demonstra 
a desvalorização dos produtos exportados pela Amazônia. 
Vejamos agora para onde foram esses produtos. Países como Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido são 
os campeões de exportações. Quanto as importações, países como Japão, Estados Unidos e Venezuela são 
os que mais se destacam. A Amazônia, a cada ano, tem que aumentar a exploração de produtos naturais, pois 
o país precisa arrecadar recursos financeiros que se destinam, por exemplo, ao pagamento de sua dívida 
externa. 
Devemos lembrar que, desde a época colonial, a 
Amazônia já tinha ligação comercial direta com o 
exterior. Exportava drogas do sertão para atender à 
produção farmacêutica e servir de condimento à 
alimentação europeia e, em troca, recebia produtos 
manufaturados. Esse processo se intensificou ainda 
mais com a exploração da borracha. Não é de hoje que a 
Amazônia se especializou em exportar determinados 
produtos naturais para o mercado internacional. 
Portanto, o seu papel na Divisão Internacional do 
Trabalho já foi estabelecido desde a época da colonização europeia. 
A partir de 1960, a Amazônia se integrou, efetivamente, ao mercado nacional e melhor definiu seu papel no 
contexto brasileiro, através de um volume maior de exportação também de produtos naturais (borracha, 
madeira, peles, etc.) para o centro-sul do país. Outro papel que a Amazônia que tem assumido com o restante 
do país é o de receber grande quantidade de imigrantes de outras regiões que estão densamente povoadas 
e com sérios problemas sociais, desse modo, aumentando os já existentes na região. 
Também não podemos deixar de citar o papel que a Amazônia tem para os investidores do Centro-Sul, que 
compram terras tentando ampliar seu capital. Porém, por outro lado, a aquisição de terras representa também 
uma garantia de empréstimos bancários e, ainda seve como fonte de extração de recursos naturais. Esses 
relacionamentos da Amazônia com as outras regiões do Brasil e do mundo tem demonstrado a exploração 
contínua de seus recursos naturais. Isso assegura o enriquecimento de alguns grupos econômicos nacionais 
e internacionais e não permite que a população local seja beneficiada, causando, assim, insatisfação que gera 
graves conflitos sociais. 
 
Interferência do Estado na economia do Pará 
 
1964: a política no Pará e a Integração Nacional 
 
O Movimento militar de 1964, deflagrado na noite de 31 de março de 1964, em Minas Gerais, sob o comando 
do general Olímpio Mourão Filho, contra o governo instituído do presidente João Goulart, marcou 
profundamente a vida política e social do Brasil. Apoiado por empresários, proprietários rurais e setores da 
classe média, o movimento reagiu principalmente às “reformas de base” propostas pelo governo com o apoio 
de partidos de esquerda, acusando o presidente de pretender estabelecer uma “república sindicalista”. O 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
5 
 
período caracteriza-se pelo autoritarismo, supressão de direitos constitucionais, perseguição policial e militar, 
e utilização da tortura para obter a confissão dos presos e sequestrados que se opunham ao regime. A 
liberdade de expressão nos meios de comunicação foi suprimida mediante a adoção da censura prévia. Foi de 
extrema importância para os governos militares o papel desempenhado pelo Serviço Nacional de Informação 
(SNI), criado pelo general Golbery do Couto e Silva. 
Chegando ao poder, os militares realizaram profunda alteração constitucional, promulgaram o Ato Institucional 
nº 1 — que cassou mandatos, suspendeu a imunidade parlamentar e direitos políticos — e promoveram a 
eleição, pelo Congresso Nacional, de um novo presidente, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, 
que governou até 1967. Os partidos políticos foram abolidos e instalado o bipartidarismo. 
No campo econômico foi definido um modelo baseado no binômio desenvolvimento/segurança. O planejamento 
centralizado contribuiu para a estatização da economia, desempenhando o Estado atividades de gerenciamento 
da produção. Como ocorreu em outros países, a crise mundial da década de 1970 agravou o problema 
econômico brasileiro, acentuando a concentração de renda e os problemas das populações mais pobres. 
 
A política durante a ditadura no Pará 
 
Em março de 1964 os acontecimentos apanharam de surpresa os governantes estaduais e territoriais e os 
próprios militares no Pará. A noite de 31 de março de 1964, com o levante liderado pelo general Mourão 
Filho, provocou grande surpresa entre os paraenses; durante a noite, a hesitação; no dia 1º de abril, a adesão. 
No Pará, tanto Aurélio do Carmo quanto Moura Carvalho estavam ausentes, pois juntamente com outros 
líderes pessedistas, tinham ido ao Rio de Janeiro, participar da convenção nacional do PSD – Partido Social 
Democrático. Os comandantes militares eram: general Orlando Ramagem (que fora chefe da Casa Militar do 
governo de Juscelino Kubitschek), comandante militar da Amazônia (na época o comando era em Belém); 
brigadeiro-do-ar Armando Serra de Menezes, da 1ª Zona Aérea; e capitão-de-mar-e-guerra Boris Markenson, 
no 4º Distrito Naval (interinamente). 
Em 1º de abril, o governador em exercício, Newton Burlamaqui de Miranda, e os comandantes militares 
assinaram e publicaram uma nota oficial que apoiava o movimento militar. A fidelidade da tropa, porém, ao 
golpe, estava assegurada, com destaque ao 26º BC, sob o comando do então coronel Oscar Jansen Barroso, 
à 5ª Companhia de Guardas, comandada pelo capitão Douglas Farias de Souza, à Companhia de Fuzileiros 
Navais, comandada pelo capitão-tenente Cunha, e à Flotilha do Amazonas, que obedecia ao comando do 
capitão-de-fragata Eugênio Frazão. 
No dia 21 de maio era o general Ernesto Bandeira Coelho designado para a presidência da Comissão de 
Investigação Sumária e nomeava escrivão dessa comissão o tenente-coronel José Lopes de Oliveira. Com o 
início dos trabalhos da comissão, vários secretários de Estado foram detidos e levados para os quartéis. 
O jornalista Hélio Gueiros, diretor-geral do jornal O Liberal, e que era deputado estadual e líder da bancadado PSD na Assembleia Legislativa, protestou e também foi preso, sendo recolhido à 5ª Companhia de Guardas. 
Concretizada as cassações, o deputado Dionísio Bentes de Carvalho assumiu o governo do Estado, enquanto 
a Assembleia Legislativa não elegia os novos governador e vice. Os deputados que apoiavam a revolução 
tinham o seu candidato a governador: o coronel Jarbas Passarinho; o comando revolucionário também indicou 
o seu nome. Moura Carvalho conseguiu que Hélio Gueiros fosse solto. No dia 9 de junho, enquanto procuravam 
compor tudo para a eleição de Jarbas, a escolha dos candidatos a prefeito e vice de Belém já estava 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
6 
 
sacramentada. O prefeito seria o major Alacid da Silva Nunes, por indicação do próprio Jarbas; e o vice seria 
o vereador Irawaldir Rocha, indicação de Alacid. 
Foi pacífica a eleição de Jarbas e Agostinho Monteiro pela Assembleia Legislativa. A posse de ambos 
aconteceu na manhã de 15 de junho. Desta forma, Jarbas Passarinho fora eleito indiretamente pela 
Assembleia Legislativa para governador do Estado do Pará. 
Com a extinção dos antigos partidos que apoiavam o movimento se concentraram na Aliança Renovadora 
Nacional, Arena; e a oposição ficou com o pequeno Movimento Democrático Brasileiro, MDB, que abrigava 
todas as correntes que se opunham ao poder dos militares. 
 
A política de soberania nacional: colonização e integração do Pará 
 
A partir da década de 1960, o Estado do Pará entrou em um período de mudanças significativas que eram 
resultado da política de soberania nacional do governo militar. Na verdade, tudo já havia começado com a 
construção da rodovia Belém-Brasília, inaugurada em 1961, que unira o Pará e Brasília, a nova capital do 
País, inaugurada no ano anterior. 
A BR-010, conhecida como Rodovia Belém-Brasília, é uma rodovia federal radial do Brasil. Seu ponto inicial 
fica na cidade de Brasília (DF), e o final, em Belém (PA). Passa pelo Distrito Federal e pelos estados de 
Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará. 
Contudo, a região cruzada pela Belém-Brasília tinha uma densidade populacional muito baixa, construída 
basicamente por aldeias indígenas distantes uma das outras. Pouco tempo depois da construção, novas 
formas de presença humana surgiram nos entroncamentos da região. 
 
Texto e Contexto 
 
Marcado pelo “subpovoamento regional” (...) a região norte se constitui, assim, no maior espaço do país a 
povoar (...) O fator principal deste subpovoamento deve ser procurado na marginalização da ocupação e 
valorização da Amazônia quanto à economia do Brasil. 
 
(SUDAM. Subsídios ao Plano Regional de Desenvolvimento (1972-1974). O potencial humano. Belém-Pará, 
1971. pp. 30-31.) 
 
O objetivo de ligação do Pará com as regiões mais dinâmicas do país era ocupar a região, trazendo pessoas 
para desenvolver em atividades diversas, como ocupação da terra, exploração da floresta, garimpagem e 
poderosos projetos industriais. Neste contexto, milhares de pessoas chegaram para conseguir terras no 
Pará. O grande deslocamento de migrantes nordestinos para a região na época é um exemplo. As ocupações 
ocorreram através de pequenos colonos, no qual o Governo havia instalado pequenas propriedades de 
agricultores; a ocupação com capital de empresas, no qual uma grande parte das terras haviam sido ocupadas 
por pessoas que dispunham de capital; a ocupação por fazendeiros, em sua maioria pecuaristas provenientes 
da região de outros estados; e as ocupações espontâneas por parte dos posseiros, que tomavam posse das 
terras, mas não possuíam o título de propriedade da mesma. 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
7 
 
Texto e Contexto 
 
As conquistas essenciais, quanto à Amazônia, proposta 
pelo Governo Federal, referem-se à utilização de uma 
“estratégia que promova o progresso de novas áreas e 
a ocupação de espaços vazios”, e a “integração do 
desenvolvimento do Nordeste com a estratégia da 
ocupação econômica da Amazônia”. 
 
(SUDAM. Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-
1974). Capítulo 1. Objetivos e Estratégias. Belém-Pará, 
1971. p. 13.) 
 
A Rodovia Transamazônica (BR-230) foi projetada 
durante o governo do presidente Emílio Garrastazu 
Médici (1969 a 1974) sendo uma das chamadas "obras 
faraônicas" devido às suas proporções gigantescas, realizadas pelo regime militar, é a terceira maior rodovia 
do Brasil, com 2.300 km de comprimento, cortando os 
estados brasileiros do Piauí, Maranhão, Pará e 
Amazonas. Nasce na cidade de Cabedelo na Paraíba. É 
classificada como rodovia transversal. Em grande parte, 
a rodovia não é pavimentada. 
Planejada para integrar melhor o Norte brasileiro com o 
resto do país, foi inaugurada em 30 de agosto de 1972. 
Inicialmente projetada para ser uma rodovia pavimentada 
com 8 mil quilômetros de comprimento, conectando as 
regiões Norte e Região Nordeste do Brasil com o Peru 
e o Equador, não sofreu maiores modificações desde 
sua inauguração. 
Com a inauguração da Transamazônica (BR-230) a 
colonização da região continuou. Contudo a vida das 
pessoas instaladas na região não foi fácil. O Governo 
Federal não resgatou o compromisso social assumido 
com os colonos assentados, pois as áreas não dispunham 
dos serviços públicos essenciais, tais como luz elétrica, água encanada, telefone, etc. O atendimento 
educacional e a assistência médica eram extremamente deficientes e, no inverno, a estrada ficava 
intransitável. 
 
Texto e Contexto 
 
Para a Amazônia, especificamente, o programa de Integração Nacional apresentava, como projetos 
Obras na Transamazônica, 1973. 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
8 
 
prioritários, a construção das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém, com vasto plano de colonização 
das terras marginais dessas estradas, visando a desafogar áreas superpovoadas, notadamente do Nordeste. 
 
(SUDAM. Amazônia: política e estratégia de ocupação e desenvolvimento. Capítulo II, Desenvolvimento. 
Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1973. p. 8.) 
 
Houve também a construção da Cuiabá-Santarém (BR-163) que liga a capital do Mato Grosso, Cuiabá, a 
Santarém, no Pará. A estrada atravessa uma das regiões mais ricas do País em recursos naturais e potencial 
econômico, sendo marcada pela presença de importantes biomas brasileiros, como a Floresta Amazônica e o 
Cerrado e áreas de transição entre eles, além de bacias hidrográficas importantes, como a do Amazonas, do 
Xingu e Teles Pires-Tapajós. 
A abertura da BR 163, a rodovia Cuiabá-Santarém, ou Santarém-Cuiabá como preferem os paraenses, no ano 
de 1973, representou uma oportunidade de integração nacional e expansão das atividades econômicas para 
uma região até então praticamente desabitada. 
 
Durante mais de 25 anos, a colonização da região 
paraense foi marcada profundamente pela concentração 
fundiária. Os estabelecimentos pequenos receberam 
pouca, ou quase nenhuma, ajuda governamental, 
ocupavam uma pequena proporção das terras (20%). No 
entanto, as políticas públicas facilitavam a concentração 
de terras por grandes proprietários. 
Esta onda de colonização e integração do Pará estava 
intimamente ligada à política de soberania nacional do 
governo militar que possuía todo um interesse em 
proteger a soberania brasileira sobre a Amazônia contra 
interesses estrangeiros, em um momento em que havia 
todo um interesse da comunidade internacional (ONU, 
FAO) pela Amazônia, seja no sentido de proteger a floresta e os índios nativos, seja pela luta por terras 
livres por países que não dispunham mais de terras livres para a sua agricultura. Assim, havia o medo de um 
controle internacional da Amazônia, segundo os militares que governavam o país com poderes absolutos, a 
partir de 1964. O assunto se tornou matéria de segurança nacional. A palavra oficial foi: ‘Integrar (a Amazônia 
ao resto do país) para não entregar (a Amazônia a potênciasestrangeiras) ’. 
 
Texto e Contexto 
 
Como já referi, a Amazônia não apresenta efetivo humano proporcional à vastidão de seu território. Todavia, 
embora seja comum e generalizado o conceito de Amazônia como um vazio demográfico, a verdade é que sua 
população se distribui de modo muito irregular, apresentando núcleos populacionais por vezes bastantes 
densos, separados entre si por grandes espaços praticamente desabitados. 
Estradas no Pará, saída de Altamira para leste. 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
9 
 
A distância e o isolamento têm sido os principais óbices à difusão do progresso e dos benefícios da civilização 
entre as populações interioranas da Amazônia. 
(SUDAM. A Amazônia e seus problemas. Elemento Humano. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 
1972. pp. 13-14.) 
 
A ideia do Presidente era ocupar os espaços considerados como vazios para manter a Amazônia brasileira, 
não considerando a própria existência de índios e caboclos da região. Em 1970, a Política de ufanismo pós 
1964, estratégia de propaganda política elaborada pela Assessoria Especial de Relações Públicas (Aerp) do 
governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, tinha como grandes objetivos os grandes projetos 
econômicos e a integração do país. O Presidente Médici declarou a região sob estado de calamidade pública; 
criou, assim, o Programa de Integração Nacional (PIN), cujo lema era o de oferecer as: “Terras sem homens 
(na Amazônia) para homens sem terra (do Nordeste). ” Médici buscou também integrar a Amazônia ao 
Nordeste e ao Centro e Sul do Brasil, através de rodovias. 
 
Desta forma, o governo federal, tanto na esfera civil 
quanto na esfera militar, desejava que a região fosse 
ocupada e integrada, para não ser mais um “vazio 
humano” e, assim, alvo da cobiça internacional. Contudo, 
tanto no Brasil como fora do país, houve fatos que 
fizeram a ocupação possível. No Brasil, a população 
crescia muito: ela passou de 52 milhões em 1950 a 120 
milhões em 1980. Esta nova geração precisava de 
espaço e empregos urbanos. 
 
O espaço Amazônico de hoje 
 
Depois da crise da borracha, somente na década de 1950 
é que os grandes empresários brasileiros e estrangeiros 
começaram a se organizar para, mais uma vez, tentar 
ocupar a nossa região. Não pense você que eles estavam 
preocupados com os nossos problemas, com a nossa 
realidade. Muito pelo contrário, o que eles queriam e 
ainda querem, sobretudo, hoje, é apenas explorar nossas 
riquezas e mão-de-obra. A ocupação recente da 
Amazônia tem sido caracterizada pela implantação de grandes projetos públicos ou particulares, resultado da 
união do governo com grandes empresas de capital nacional e internacional. O primeiro passo dado neste 
sentido foi a criação da SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia – em 1953. A partir 
dessa iniciativa, outras foram tomadas, sempre objetivando facilitar a apropriação de nossas riquezas pelos 
grandes empresários. Evidentemente, profundas transformações vão ocorrer no espaço geográfico 
amazônico. 
 
Abertura da Belém-Brasília 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
10 
 
SUDAM e SUFRAMA: ocupação com o auxílio dos incentivos fiscais 
 
Os governos militares que chegaram ao poder, após o golpe de 1964, tiveram papel fundamental nas 
transformações verificadas no espaço geográfico amazônico, pois tornaram prioridade máxima a ocupação da 
região através da denominada “Operação Amazônia”. Vejamos como isso aconteceu. 
Vários mecanismos foram criados para atrair investimentos. A SUDAM e a SUFRAMA, por exemplo, foram 
órgãos criados pelo governo federal com o objetivo de facilitar e agilizar a exploração de nossa região. 
 
Criada em 1966 em substituição a SPVEA, a SUDAM – 
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia –, 
tem como objetivos coordenar e supervisionar os 
programas e planos destinados a Amazônia Legal, assim 
como decidir a respeito da distribuição de incentivos 
fiscais e creditícios. 
Com a criação da SUDAM, inúmeras empresas se 
instalaram na região, atraídas por seus incentivos. 
Essas empresas foram beneficiadas com o não 
pagamento de vários impostos (incentivos fiscais), além 
de terem recebido recursos públicos (incentivos 
creditícios) para viabilizar suas plantações. O dinheiro 
que poderia ter sido investido em saúde, educação, 
saneamento básico, segurança pública, alimentação, entre outras coisas, foi desviado pelo governo para 
auxiliar essas empresas. Em contrapartida, contando com o apoio dos governantes, a maioria delas jamais 
investiu na região, promovendo o chamado golpe dos incentivos. 
Outro órgão criado foi a SUFRAMA – Superintendência da Zona Franca de Manaus –, voltada para atuar na 
Amazônia Ocidental, sobretudo em Manaus, através do incentivo as atividades agropecuárias, comerciais e 
industriais. Esses dois órgãos só têm beneficiado alguns grupos, que são exatamente os que receberam e 
ainda recebem os seus incentivos, em prejuízo da sociedade como um todo. 
 
POLAMAZÔNIA: um novo estilo de exploração 
 
Com o total apoio do governo, vários projetos agropecuários e minerais foram sendo instalados na região. O 
POLAMAZÔNA – Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia – Foi um programa que 
estabeleceu 15 polos de crescimento para a região. Ao tentar promover o aproveitamento da potencialidade 
agrícola, pecuária, mineral, industrial e florestal, em algumas áreas da Amazônia, facilitou-se a entrada do 
médio e grande empresário na região, gerando, em consequência disto, inúmero e violentos conflitos. 
Você já ouviu falar da riqueza mineral existente em nossa região? Foi exatamente essa riqueza que mais 
atraiu os interesses dos grandes e gananciosos empresários para a Amazônia. Várias empresas e projetos 
ligados à extração e à industrialização de minérios se instalaram, desencadeando profundas transformações 
na geografia da região. O símbolo maior desta nova fase de produção do espaço amazônico foi o PGC – 
Programa Grande Carajás. 
Sede da SUDAM em Belém 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
11 
 
PGC: a exploração integrada das riquezas naturais amazônicas e a interferência do capital nacional e 
internacional privado 
 
Para que o PGC foi criado? Este programa, como os demais, tem como objetivo facilitar o processo de 
exploração dos recursos naturais existentes na Amazônia, sobretudo, na Amazônia Oriental, a fim de que 
essa exploração ocorra de forma integrada e em grande escala. Para o funcionamento deste programa, outros 
projetos foram postos em prática, a saber: 
 
 Usina Hidrelétrica de Tucuruí 
 Projeto Ferro Carajás 
 Projeto Albrás-Alunorte 
 Mineração Rio do Norte 
 
Na sua área de atuação – que corresponde a 895.265 km² e abrange terras pertencentes aos estados do 
Pará, Maranhão e Tocantins – incentivaram-se além dos grandes projetos minerais, outras atividades ligadas 
a exploração vegetal e à agropecuária. 
 
Grandes Projetos: "desenvolvimento e progresso” – A Amazônia torna-se uma região-programa 
 
A partir da década de 1950 houve, no Brasil, a consciência de que o Pará e a Amazônia não deviam mais ficar 
isolados do resto do país. A Amazônia, por sua enorme riqueza natural, começou a ser cobiçada por alguns 
países, que defendiam a tese de que a Amazônia era um patrimônio extraordinário, não explorado, e que 
devia ser internacionalizada: desta forma, um conjunto de países poderia supostamente gerenciar os 
recursos naturais da Amazônia. É assim que o Governo Federal teve a ideia de implantar um desenvolvimento 
planejado para a região. 
A criação da SUDAM, neste sentido, serve para desenvolver a Amazônia, marcar a presença do governo 
federal na região e protegê-la da cobiça internacional. Foi a primeira experiência no país de um plano 
governamental visando a valorização de uma região. Com o Primeiro Plano Quinquenal (1955-59),o governo 
federal queria constituir uma economia rentável e estável na região e converter a população extrativista numa 
sociedade assentada em uma economia de base agrícola. O governo não cogitou, de fato, de explorar a riqueza 
da floresta e dos rios da Amazônia, embora este propósito estivesse no Primeiro Plano Quinquenal: 
 
1 – Produção de alimentos, em uma proporção pelo menos equivalente as suas necessidades de consumo; 
 
2 – Produção de matérias-primas e produtos alimentares necessários à economia nacional e que o país 
precisa importar; 
 
3 – Exploração das riquezas extrativistas e minerais; 
 
4 – Conversão da economia extrativista e comercial numa economia agrícola, industrial e pecuária; 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
12 
 
 
5 – Aperfeiçoamento dos transportes; 
 
6 – Elevação do nível de vida e da cultura política e técnica de sua população. 
 
O plano do governo federal possuía de fato diversos equívocos. A maior riqueza da região conhecida na época 
eram a floresta e os rios. Mas o plano visava dominar o meio de forma agressiva, isto é, derrubar a floresta 
a fim de produzir a agricultura e a pecuária, após a derrubada ou a queimada da mesma. Nesse período 
verifica-se o desenvolvimento do setor madeireiro que teve como consequência a derrubada de grandes 
extensões de mata, sem qualquer preocupação com o reflorestamento. A produção de matérias-primas estava 
voltada para serem exportadas, ou seja, gerando lucros no exterior. De fato, o governo federal não aprendera 
a lidar com a Amazônia. 
Nesse período criaram-se as universidades e centros de pesquisa científica como a Universidade Federal do 
Pará - UFPA, a Faculdade de Ciências Agrárias do Pará - FCAP (atualmente UFRA – Universidade Federal 
Rural da Amazônia) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Estado do Pará – EMBRAPA, em 
Belém. Em Manaus foi criado o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA. 
 
Os Grandes Projetos 
 
O Estado do Pará, pelo seu potencial energético e mineral, passou a ser foco de atenção. No Pará houve 
instalação de Grandes Projetos econômicos voltados para o mercado internacional ou destinados à produção 
de insumos para indústrias localizadas em outras regiões do país. 
A década de 1970 no Brasil irá marcar um momento em que emerge no âmbito político e econômico brasileiro 
um novo padrão de desenvolvimento baseado na ocupação territorial, comandado pelo Estado e pelos Grandes 
Projetos, postos em ação no âmbito dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs). Isto surge inicialmente 
no governo do general Emilio Garrastazu Médici (1970-1974). 
A estratégia de desenvolvimento do governo Médici, que buscava a recuperação econômica e a superação do 
subdesenvolvimento do Brasil, pretendia realizar isto através de uma política nacional que visava transformar 
o país em “nação desenvolvida” dentro de uma geração. 
 
Texto e Contexto 
 
“O objetivo síntese da política nacional é o ingresso do Brasil, até o fim do século, no mundo desenvolvido. 
Para isso, construir-se-á, no País, uma sociedade efetivamente desenvolvida, democrática e soberana, 
assegurando-se, assim, a viabilidade econômica, social e política do Brasil como grande potência. ” 
 
(SUDAM. Amazônia: política e estratégia de ocupação e desenvolvimento. Política Nacional. Belém-Pará: 
Sudam/Divisão de Documentação, 1973. p. 5.) 
 
Médici foi sucedido, em 1974, pelo general Ernesto Geisel (1908-1996). O presidente Geisel, o quarto 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
13 
 
presidente da República (1974-1979) do ciclo militar, governou com dificuldades econômicas devido à crise 
mundial do petróleo. 
Porém, Geisel optou por ampliar os programas de modernização econômica para consolidar a base industrial, 
energética e tecnológica do país. 
Neste contexto, um conjunto de medidas começou a transformar a economia regional a fim de fomentar o 
tão pretendido desenvolvimento regional na Amazônia, tendo com um de seus marcos iniciais a criação 
do Banco da Amazônia (BASA), em substituição ao antigo Banco de Crédito da Amazônia e da já citada SUDAM. 
Estruturas estas subordinadas diretamente à tecnocracia dos Ministérios e à ação do poder central. Com 
isto pretendia-se afastar a influência do poder local no tocante à tomada de decisões; isto mais um dos 
exemplos do autoritarismo do regime militar imposto à região. 
A ação de desenvolvimento econômico para a região amazônica adotada pelo governo Geisel e consolidada 
no II Plano Nacional de Desenvolvimento e no II Plano de Desenvolvimento da Amazônia destacou ênfases ao 
processo de desenvolvimento e modernização da economia regional, através da estrutura industrial 
juntamente com a preocupação da exploração dos recursos naturais. A finalidade desses planos era 
intensificar a integração da Amazônia na economia do país e promover a ocupação territorial e a elevação do 
nível de segurança na área por meio do alargamento da fronteira econômica e, com isto, realizar a manutenção 
de altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). 
De fato, a Amazônia era vista como uma região marcada negativamente pelo “rudimentarismo” de suas forças 
produtivas que a deixavam “à margem da evolução econômica” do país. 
 
Texto e Contexto 
 
Durante três séculos e meio, o eixo econômico da Amazônia se desenvolve em torno do rio, em cujas margens 
se instalaram as cidades e as comunidades rurais. Durante três séculos e meio, com a mentalidade dominante 
voltada quase exclusivamente para o extrativismo vegetal, dependendo tradicionalmente da coleta da 
borracha, da castanha, das madeiras, das peles de animais silvestres, a região se manteve à margem da 
evolução econômica brasileira. 
 
(SUDAM. A Amazônia e seus problemas. Economia. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1972. p. 
16.) 
 
Os Planos de Desenvolvimento para a região amazônica faziam parte da ideologia da ditadura militar no Brasil; 
uma “ideologia do desenvolvimento”. Traçaram e sustentaram as estratégias e os planos de crescimento 
nacional e regional marcado por uma euforia desenvolvimentista para preservar e legitimar a própria ditadura. 
Desempenharam um papel essencial na cantata “Brasil Grande”, “Brasil Potência”, e pela busca da manutenção 
do “Milagre Econômico Brasileiro”. 
Em termos de realização de Grandes Projetos, os principais empreendimentos produtivos que se instalaram 
na região amazônica foram estes: a Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), sobre o rio Tocantins; o 
da Mineração Rio do Norte (MRN), de exploração de bauxita metalúrgica, a noroeste do Estado, no município 
de Oriximiná; o da Albrás e Alunorte de produção de alumínio e alumina, respectivamente, localizados nas 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
14 
 
proximidades de Belém, no município de Barcarena; o Projeto de Ferro Carajás (PFC), no sudeste do Estado, 
no município de Parauapebas. 
 
Algumas informações: 
 
1 – Bauxita: esta rocha é a matéria-prima para a produção de alumínio (ela é o minério que dá origem ao 
alumínio); 
 
2 – Celulose: matéria-prima retirada da madeira e usada na produção de papel; 
 
3 – Caulim: argila necessária para a fabricação de papel; 
 
4 – Bauxita refratária: utilizada para tijolos de altos-fornos que funcionam com temperatura superior a 1 
500 graus, onde o tijolo comum não resistiria; 
 
5 – Alumina: obtida da bauxita; é a base da fabricação do alumínio; 
 
6 – Alumínio: metal utilizado na fabricação de panelas, aviões, estruturas metálicas, janelas, etc.; 
 
7 – Silício metálico: amplamente utilizado em eletrônica (chips de computadores, etc.); 
 
8 – Minério de ferro: rocha que contém uma grande proporção de ferro; 
 
9 – Ferro-Gusa: ferro simples; 
 
10 – Ferro-Liga: ferro aliado ao manganês; fica mais resistente que o ferro; 
 
11 – Cobre: metal muito utilizado em material elétrico; 
 
12 – Manganês: metal utilizado em ligasmetálicas; 
 
A Amazônia brasileira se insere no contexto da ideologia de desenvolvimento regional e segurança nacional 
do regime militar. Era um período marcado pelo autoritarismo, repressão, perseguição policial e militar, 
supressão de direitos constitucionais e da liberdade de expressão nos meios de comunicação mediante a 
adoção da censura prévia. Porém, contraditoriamente, foi um momento também marcado por uma euforia 
desenvolvimentista. 
A construção da rodovia Transamazônica e a implantação de Grandes Projetos industriais e infraestruturais, 
como a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, tinham de certa forma um estreito relacionamento; faziam parte da 
estratégia geopolítica militar para a região. Isto representou um processo expansionista profundamente 
idealizado que buscava atingir o objetivo de ocupar os “espaços vazios” da região amazônica. As 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
15 
 
consequências sobre o meio ambiente, a rica biodiversidade regional e seus recursos naturais, e sobre o 
homem, em uma região de povos e culturas diversificadas, eram vistas como parte de um projeto maior. 
 
Projeto ALBRAS-ALUNORTE 
 
O Projeto Albrás/Alunorte localiza-se no município de Barcarena e está voltado para a produção industrial 
de alumínio a partir das jazidas de bauxita do rio Trombetas (município de Oriximiná, Estado do Pará). 
A origem dos projetos está na descoberta da jazida de bauxita no rio Trombetas, entre as melhores do 
mundo. O minério encontrava-se quase na superfície. Era retirada do estéril (as rochas sem valor) com uma 
“drag-line”, máquina que retira 8 milhões de toneladas por ano. O início da implantação da 
ALBRÁS/ALUNORTE foi dirigido pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) que comunicou ao governo do Pará 
sobre o projeto destinado à produção de alumina e alumínio tendo como sócios empresários japoneses que 
investiram no projeto. 
 
 Alumina Bauxita 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
16 
 
 
O projeto Albrás/Alunorte, criado durante o período do 
regime militar, inserido em um contexto de busca pelo 
desejado desenvolvimento regional, crescimento 
econômico e segurança nacional, gerou (e gera) graves 
danos ao meio ambiente e a população existente nas 
proximidades deste grande empreendimento industrial. 
Na região de influência do Projeto Albrás-Alunorte, nas 
redondezas do município de Barcarena, ocorre com 
frequência danos ao meio ambiente, como os casos de 
poluição do rio Murucupi, situado no município de 
Barcarena, que geraram envenenamento em suas águas, 
em decorrência de poluição provocada pela Alunorte, o 
que atingiu diretamente o meio ambiente e pescadores e 
ribeirinhos e suas relações de trabalho, a pesca, já que 
provocou a morte de várias espécies de peixes no rio. 
 
Projeto Ferro-Carajás. 
 
A Serra dos Carajás, serra do estado do Pará, ficou logo famosa pela imensa riqueza mineral, principalmente 
ferro, cujo volume foi cubado em 5.000.000 de toneladas. Formada de rochas cristalinas, corresponde a um 
planalto residual que tem expressão no setor meridional dos estados do Amazonas e Pará. Os planaltos 
residuais da Amazônia correspondem a um agrupamento de relevos interpenetrados pela superfície 
pediplanada da depressão amazônica. Em 1967, ricas jazidas de ferro foram descobertas na serra dos 
Lingotes de Alumínio na Albrás. 
 
Área de recomposição de rejeito da bauxita da Alunorte Na época de chuvas intensas no Pará, é comum está área 
transbordar e provocar poluição em sua área de influência (ver em Texto Complementar). 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
17 
 
Carajás pela Companhia Meridional de Mineração, subsidiária da United States Steel Corporation. A 
importância da descoberta originou o interesse da participação da Companhia Vale do Rio Doce, tendo sido 
criada, em 1970, a Amazônia Mineração S/A para desenvolver o Projeto Carajás. Outras reservas foram 
descobertas: cobre, manganês, bauxita, níquel, estanho e ouro. Na região, logo se deu muitos conflitos pela 
posse de terras. 
O Projeto Ferro-Carajás corresponde a exploração da 
região, localizada no Brasil, muito significativa em 
termos de riquezas minerais; uma das mais importante 
do mundo. Abrange o sudoeste do Pará, o norte de 
Tocantins e o oeste do Maranhão. A área tem potencial 
hidrelétrico, amplas florestas e condições que permitem 
o reflorestamento para produção de celulose e carvão 
vegetal. É cortada pelos rios Tocantins, Araguaia e 
Xingu. Foi em 1967, ano em que foram descobertas suas 
riquezas minerais, que a região se tornou extremamente 
valiosa. Essas riquezas, estimadas em aproximadamente 
20 bilhões de toneladas, consistem em jazidas de cobre, 
estanho, ouro, bauxita, manganês e níquel, e são 
passíveis de exploração por meio de tecnologia 
simples, o que significa baratear o custo. 
O minério de ferro, extraído na mina da Serra de 
Carajás, era então transportado para o Maranhão. 
Lá fazia-se os lingotes de ferro, que são 
exportados pelo porto de Itaqui. O ferro ocupava, 
na época do início da implantação do projeto, o 
terceiro lugar na pauta dos produtos de exportação 
do Brasil. Daí vem a importância de Carajás e da 
sua Estrada de Ferro Carajás; esta última 
construída na década de 80, uma obra de 900 km, 
através da floresta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jornal O Globo, 07/07/1974. 
 
Projeto Ferro Carajás na Serra dos Carajás. 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
18 
 
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) 
 
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) foi construída pela Eletronorte no rio Tocantins, na mesorregião do 
Sudeste Paraense, a treze quilômetros de Tucuruí e a cerca de 350 quilômetros de Belém. 
 
Texto e Contexto 
 
O Governo Federal procurando evitar e superar todos os pontos de estrangulamento que retardam o 
desenvolvimento harmônico da área amazônica envidará, no triênio 1972/74, todos os esforços no sentido 
de dotar o setor Energia de um complexo compatível com as reais necessidades. 
 
(SUDAM. Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-1974). Capítulo 4, Serviços Básicos. Belém-Pará, 
1971. p. 65.) 
 
O objetivo de construir a Usina de Tucuruí foi para gerar energia elétrica para atender os projetos de extração 
mineral e a industrialização, principalmente, ao Distrito Industrial de Alumínio em Barcarena e ao Projeto de 
Ferro em Carajás. 
 
Rio Tocantins antes da formação do lago (16/06/1984). 
Imagem do Satélite Landsat. 
 
Rio Tocantins após a formação do lago 
(22/06/1992). Imagem do Satélite Landsat. 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
19 
 
Texto e Contexto 
 
A construção dessa usina permitirá a criação de um polo industrial com base na metalurgia do alumínio a 
partir da bauxita do rio Trombetas. Marginalmente, contribuirá para a exploração do minério de ferro da 
Serra dos Carajás, não somente nos aspectos relacionados à lavra, terminais e siderurgia, como, 
especialmente, no tocante ao transporte ferroviário, com a eletrificação da ferrovia ligando a mina a Itaqui, 
no Maranhão. 
 
(SUDAM. II Plano Nacional de Desenvolvimento; programa de ação do governo para a Amazônia (1975-1979). 
Capítulo 7, Ação programada do Governo Federal para a Amazônia. Belém, 1976. p. 75.) 
 
 
A construção de grandes empreendimentos hidrelétricos provoca muitos impactos sociais e ambientais 
negativos. Pode gerar a desaparição de espécies devido ao alagamento de florestas. 
Movimentos migratórios de peixes podem ser interrompidos, gerando o desaparecimento de algumas 
espécies, o que pode atingir a relação de trabalho da população local. 
Um dos impactos sociais mais negativos diz respeito ao remanejamento das populações atingidas pelo 
alagamento causado pelos reservatórios de barragens, pois pode implicar em perda de qualidade de vida e 
em ameaças à existência de vários grupos sociais. 
As sociedades indígenasParakanã, Asurini (ambos grupos Tupi) e os chamados “Gaviões da Montanha” (um 
grupo local dos Parkatêjê, Jê-Timbira) foram diretamente afetados com a construção e operação da Usina 
Hidrelétrica de Tucuruí. 
Esses grupos indígenas perderam parte de suas terras devido o alagamento das mesmas pelas águas do 
reservatório da Usina de Tucuruí. As terras desses grupos indígenas passaram a ser invadidas com 
frequência, principalmente por madeireiros que realizam a retirada ilegal de madeira e provocam queimadas 
nas florestas. 
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Tucuruí, Pará. 
 
A Barragem da UHE de Tucuruí no Rio Tocantins. 
Imagem de satélite do Google Earth. 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
20 
 
A população da região de Tucuruí também foi afetada devido ao enchimento do reservatório da Usina de 
Tucuruí, sendo que muitas foram remanejadas de suas casas, aproximadamente 1.500 famílias foram 
desabrigadas. 
 
Aspectos administrativos e econômicos dos grandes 
projetos 
 
Todos os grandes projetos foram decididos fora do Pará, 
a nível nacional (governo federal) e internacional 
(empresas transnacionais de mineração). A sociedade 
local pouco pôde interferir nas negociações. 
Todos tratam de produção extrativa de minerais e de 
produção de energia elétrica e, no caso da bauxita, da 
primeira transformação do minério. Esses projetos todos 
visavam à exportação. Não há indústria de transformação 
dos minérios em produtos manufaturados (de consumo). 
Não há, no caso dos minerais, empreendimento que não 
seja do interesse de outros países: o Pará continua a 
importar produtos manufaturados de ferro e alumínio. 
Foi o mesmo no caso da borracha e da madeira. 
Todos utilizam tecnologia que faz uso intensivo de capital 
e poupa mão-de-obra. Assim, geram poucos empregos. 
Os países estrangeiros dominam o mercado da produção, 
de compra e venda dos minérios, através de empresas 
multinacionais que operam na região no mercado internacional, controlando os preços e a própria produção. 
Finalmente, parecem poucas vantagens para o Estado do Pará e os municípios da região. 
 
Aspectos humanos dos grandes projetos 
 
Praticamente todos os projetos provocaram uma grande mobilização de mão-de-obra durante a sua 
implantação. Contudo, economizaram trabalhadores na fase de funcionamento. Na fase de negociação, foram 
previstos 100.000 empregos na mineração e na metalurgia, mas, após a implantação foram gerados somente 
2.000 pela Alunorte e Albrás e 8.000 pelo Projeto Ferro-Carajás. 
Alguns projetos tiveram efeitos piores para as famílias que antes viviam em Barcarena, onde foram 
construídas as fábricas dos projetos metalúrgicos e na região que foi inundada pelo lago da represa de 
Tucuruí, provocando a desapropriação de cerca de 10.000 famílias de pequenos agricultores e o 
deslocamento de povos indígenas, como os Pacuruí e os Parakanã. 
 
O surto da garimpagem 
 
Até os anos 60, menos de 10.000 homens garimpavam no Pará. O número subiu até 150.000 nos anos 80 
Arca - boletim do movimento dos desapropriados pela 
Eletronorte, 1983 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
21 
 
(a metade do país), e cerca de 400.000 no começo da década de 90. Foi a corrida de garimpeiros vindos 
de muitos Estados pelas rodovias. 
Desde o século XVI, os portugueses tiveram grande interesse em encontrar ouro no Brasil, para isso 
organizando-se as entradas e bandeiras. A produção aurífera expandiu-se até 1760, quando a diminuição dos 
veios, a baixa tecnologia e o contrabando provocaram uma contínua decadência. 
No século XIX novas tecnologias permitiram a retomada, mais modesta, da produção e no século XX 
descobriram-se novas reservas auríferas em outros estados, como a de Serra Pelada, no Pará. 
Foi início dos anos 80 correu a notícia de ouro em Serra Pelada. Caminhões de paus-de-arara chegavam à 
região, principalmente do sudoeste do Maranhão, uma das regiões mais miseráveis do país. O Pará chegou a 
possuir mais de 800 garimpos em atividade. Em termos numéricos o Vale do Tapajós detinha a maior parte. 
Lá os garimpos eram flutuantes, isto é, feitos sobre balsas. 
 
A extração de ouro é feita através de balsas ancoradas 
no meio dos rios e que servem de base para as máquinas 
de sucção. Estas extraem o cascalho do fundo dos rios. 
O trabalhador principal aí é o mergulhador. Surdez, 
morte por afogamento são fatos corriqueiros. Mas isto 
é inexpressivo se comparado com a contaminação por 
mercúrio. 
De fato, o grande surto da garimpagem trouxe grandes 
consequências negativas para a região. O uso de 
mercúrio no tratamento do ouro criou uma situação 
nunca vivida pela região em termos de poluição química. 
O mercúrio causa danos renais e sobretudo 
neurológicos. A maioria das pessoas lesionadas por 
mercúrio ficavam definitivamente inválidas. A lesão 
neurológica é irreversível. Os peões “brabos” eram comumente usados no serviço de tratamento do ouro e, 
quando adoecem, são despedidos e quase sempre retornam a seu lugar de origem. As espécies animais 
expostas ao mercúrio produzem crias com deformidades congênitas. Os peixes de regiões contaminadas não 
podem ser consumidos. 
 
Novos caminhos para ocupar a Amazônia 
 
Além dos rios, que sempre tiveram importância na circulação dos produtos e mercadorias amazônicos, o 
espaço da circulação sofre transformações, a partir da construção de rodovias como a Belém-Brasília (BR-
010) e a Cuiabá-Porto Velho (BR-364). Com a criação do PIN – Programa de Integração Nacional – novas 
rodovias são construídas atravessando a região em todas as direções, fato marcante dessa nova política de 
ocupação regional. A entrada de mercadorias produzidas no Centro-Sul do Brasil estava facilitada, assim 
como a saída de matérias-primas e a apropriação de terras pelos grupos econômicos. 
O transporte fluvial, tradicional meio de circulação, não perde sua importância. Além dos trapiches abundantes 
em quase todas as localidades existentes na região, são construídos novos portos com a finalidade de escoar 
Serra Pelada, em 1982. São 80.000 garimpeiros 
com sacos de terra para extrair o ouro. 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
22 
 
nossas riquezas. A rede ferroviária ressurgiu através dos grandes projetos instalados. A ferrovia Carajás-
Itaqui é a mais expressiva, sendo responsável pelo escoamento da produção de ferro da Serra dos Carajás 
(PA) até o porto de Itaqui (MA). As ferrovias existentes em porto Trombetas (PA) e a extração de manganês 
pela ICOMI – Indústria e Comércio de Minérios S. A. 
A nova ocupação exigiu também a interligação da região com o resto do país e do mundo, através das 
telecomunicações. Os sistemas de telefonia e televisão foram modernizados com a implantação das 
comunicações via satélite, o que permitiu a penetração de novos valores e ideias que provocaram profundas 
mudanças em diferentes setores, como por exemplo, na cultura, economia e política. Como você pode ver, a 
Amazônia está totalmente aberta para a exploração nacional e internacional. 
 
Integrando e entregando 
 
Você percebeu quantas transformações ocorreram e estão ocorrendo na Amazônia? Todas essas mudanças 
refletiram e refletem as ideias criadas e divulgadas sobre a nossa região. Mas quais são essas ideias? Como 
elas surgiram? A Amazônia, no final da década de 50, era a porção do território que apresentava o mais 
baixo índice demográfico e era quase totalmente isolada das demais regiões do país. Essas duas 
características vão ser utilizadas pelo governo e pelos empresários para justificar a nova fase de ocupação 
regional. Para esconde o real interesse de exploração, cria-se o discurso de promover o povoamento e a 
integração da Amazônia. Assim sendo, em nome da “segurança e do desenvolvimento social”, governo e 
empresários promoveram o mais completo processo de ocupação e exploração verificado durante toda a 
históriaregional. Era a política do “integrar para não entregar. ” 
O governo militar também se apropriou de territórios pertencentes a diferentes estados e municípios da 
região, sob o pretexto de promover a distribuição das terras para camponeses nos programas de colonização. 
A frase que marcou e justificou esta medida foi “Amazônia: Terra sem homens para homens sem terra”. 
Através também do discurso de segurança e desenvolvimento nacional, tão cultivado pelos militares 
brasileiros, foi criado o projeto Calha Norte – consiste em uma política governamental de ocupação da 
Amazônia Setentrional. Nesse sentido, visa a criação de bases militares, postos de fiscalização de fronteiras 
e aeroportos na área. O governo justificou a implantação do projeto alegando a necessidade de proteger as 
fronteiras, os minérios existentes, as comunidades indígenas e a floresta, no entanto, o que se percebe é 
um processo desordenado de ocupação e exploração das fronteiras, o que provocou conflitos entre Brasil e 
Venezuela, entre garimpeiros e povos indígenas, além da devastação da mata para a implantação de garimpos, 
campos de pousos para aeronaves ilegais, bem como a extração de madeira por serrarias clandestinas. 
Foram identificados três espaços distintos na área: faixa de fronteira, faixa ribeirinha à calha do rio 
Solimões/Amazonas e faixa interior, denominada hinterlândia – situada entre as duas primeiras. Foi dada 
prioridade à faixa de fronteira, a qual apresentava as seguintes características: 
 
- Extremamente carente de infraestrutura básica (saúde, educação, transporte, saneamento, comunicações, 
etc.); 
- Baixíssima densidade populacional permeada por imensos vazios demográficos; 
- Problemas com narcotráfico e contrabando; 
- Problemas com garimpos ilegais; 
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- Fronteira com cinco países: Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; 
- Grande parte da região com inexpressiva, ou até mesmo ausência, da presença governamental. 
 
As metas 
 
Para facilitar e conseguir realizar o trabalho numa região imensa, o Exército criou metas e objetivos a serem 
atingidos pelo Calha Norte; 
 
- Aumentar a presença brasileira na área, com o fortalecimento das estruturas governamentais de oferta de 
serviços, de modo a criar estímulos para o desenvolvimento sustentável da região; 
 
- Ampliar as relações entre os países limítrofes, particularmente com o apoio de rede consular, visando ao 
fortalecimento dos mecanismos de cooperação, dos fatores de produção e das trocas comerciais; 
 
- Fortalecer a infraestrutura de energia e telecomunicações, insumos básicos para o desenvolvimento da 
região; 
 
- Expandir a infraestrutura viária, no sentido de complementar a vocação natural na Amazônia, que tem no 
transporte fluvial o mais importante fator de integração regional; 
 
- Fortalecer a ação dos órgãos governamentais de Justiça, Polícia Federal, Receita Federal e Previdência 
Social na região, como fatores de inibição da prática de ilícitos, decorrentes da insuficiente presença do 
Estado 
 
- Intensificar as atividades visando à perfeita demarcação da fronteira, comportando inspeção, restauração 
de marcos danificados e assentamento de novos outros; 
 
- Promover a assistência e proteção às populações indígenas, delimitando e demarcando suas terras e 
estimulando o seu desenvolvimento. 
 
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24 
 
Mas recentemente o governo federal deu início à 
implantação do SIVAM – Sistema de Vigilância da 
Amazônia – cujo objetivo seria propiciar um maior e 
melhor controle do tráfego aéreo dos 5,2 milhões de km² 
da Amazônia. O projeto contaria com 17 radares fixos, 6 
moveis e 8 aviões equipados com sensores. Os dados 
produzidos serão reunidos em 300 plataformas de 
coleta de dados e enviados a Manaus, Belém e Porto 
Velho, escolhidos como centros regionais de controle de 
informações. Com uma estimativa de custo 
aproximada de 1,4 bilhões de dólares, o projeto 
SIVAM tem sido questionado pela sociedade 
brasileira devido às denúncias sobre 
irregularidades no processo de licitação para sua 
instalação. Além do mais, questiona-se a não 
utilização de tecnologias nacionais e de menor 
custo, a sua não discussão pela sociedade 
brasileira e o destino das informações que serão 
coletadas. 
Como você pode perceber, as transformações ocorridas no espaço amazônico estão ligadas a interesses 
diversos, que não incluem as necessidades da população local e muito menos a sua participação. Em função 
disso, vários discursos e ideias são construídos para justificar a exploração dos recursos naturais da região 
que vem ocorrendo desde os primeiros momentos da colonização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
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Projeto Jari 
 
Projeto Jari é o nome de uma fábrica existente às 
margens do Rio Jari, para a produção de celulose e 
outros produtos, que teve início em 1967. 
O projeto foi idealizado pelo bilionário norte-
americano Daniel Keith Ludwig e seu sócio Joaquim 
Nunes Almeida. Ele mandou construir uma fábrica 
de celulose no Japão, na cidade de Kobe, usando 
tecnologia finlandesa da cidade de Tampere, foram 
construídas duas plataformas flutuantes com uma 
unidade para a produção de celulose e outra para a 
produção de energia. A unidade de energia produzia 
55 megawatts e era alimentada por óleo BPF a base 
de petróleo com opção para consumo de cavacos de 
madeira. 
 
 
Histórico 
 
Ludwig adquiriu em 1967, na fronteira entre os estados do Pará e Amapá (então Território Federal) uma 
área de terra de tamanho pouco menor que a do estado de Sergipe, ou equivalente ao estado norte-americano 
do Connecticut, para a instalação do seu projeto agropecuário. Ao longo do programa de instalação, enfrentou 
as desconfianças do governo e de algumas parcelas da sociedade que temiam pela soberania brasileira sobre 
a área inabitada de florestas onde o Jari seria instalado. A "ameaça" rendeu, em 1979, a criação de uma CPI 
para "apurar a devastação da floresta amazônica e suas implicações" Entretanto, o relatório da Comissão não 
faz qualquer alusão direta a este projeto. 
A área adquirida por Ludwig fez com que fosse provavelmente o maior proprietário individual de terras no 
Ocidente. A grandiosidade do Jari acentuava-se por ser a região totalmente desprovida de qualquer 
infraestrutura; foi necessária a construção de portos, ferrovia e nove mil quilômetros de estradas. Ali Ludwig 
planejava instalar um projeto de reflorestamento com árvores de crescimento rápido (gmelina), antevendo o 
aumento da necessidade mundial por celulose. Além disto, pretendia estender as atividades para a mineração, 
pecuária e agricultura, atraindo críticas de ambientalistas. 
Uma usina termelétrica e a própria fábrica de celulose foram rebocadas do Japão, num percurso de 25 mil 
quilômetros, que durou 53 dias a ser concluído. Além das instalações, todo o projeto ocupava uma área de 
16 mil km², a construção de uma cidade para a moradia dos trabalhadores, além de hospital e escolas na 
sede, chamada Monte Dourado. A fábrica e implementos custaram em torno de 200 milhões de dólares. Em 
1982, ano de sua venda, a população do Jari alcançou a marca de trinta mil habitantes. 
Neste ano, sem apresentar resultados, Ludwig abandonou o projeto. As negociações envolveram o homem 
forte do regime militar, general Golbery do Couto e Silva, e cogitou-se na venda para o Banco do Brasil, para 
Foto aérea da fábrica de celulose. 
 
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um pool de empresas e para o empresário Augusto de Azevedo Antunes. Até o começo dos anos 1980 Ludwig 
declarava haver gasto no Jari 863 milhões de dólares, atualizados em 1981 para 1,15 bilhão. 
No ano 2000 passou a ser controlado pelo Grupo Orsa, demodo que a Jari Celulose não somente tornou-se 
economicamente viável, como também mostrou-se sustentável, recebendo certificação em 2004 pelo Forest 
Stewardship Council. 
Entenda o que foi o Projeto Jari 
A fábrica, que hoje ocupa 42 propriedades de terra, plantou eucaliptos na área, uma árvore que possui 
crescimento rápido, mas não é nativa da região. E, de acordo com o diretor técnico de ordenamento territorial 
do Instituto do Meio Ambiente do Amapá, Pedro Paulo Bosque, também danosa para o meio ambiente. 
 
O denominado Projeto Jari está edificado em zona de 
floresta de várzea e densa de terra firme. No estado do 
Pará fica a fábrica de celulose e, no Amapá, a floresta 
de eucalipto. Nesse sentido, Bosque ressalta as 
consequências ambientais para a região, onde o meio 
ambiente foi prejudicado pela monocultura. “Existem 
espécies de insetos e pássaros que não gostam de 
eucalipto, perdem seu habitat de floresta nativa”, diz. 
Segundo ele, essa floresta homogênea espanta a fauna 
silvestre. 
O diretor conta que dois vilarejos começaram a crescer 
por conta do desenvolvimento do projeto e, no final da 
década de 80 e 90 foram reconhecidos como municípios. O antigo Beiradão se tornou, em 1987, Laranjal do 
Jari e, a antiga Vila Beiradinho foi transformada, em 1994, no município Vitória do Jari. “Ambos surgiram 
em função do projeto e, concentram hoje a mão de obra trabalhadora da empresa”, explica Bosque. 
A administração americana durou 13 anos e ficou até a entrada dos anos 80, quando o projeto foi entregue 
ao Brasil. Segundo Bosque, a administração ficou sob comando de um pool de empresas até 2000, quando o 
Grupo Orsa assumiu o controle da gestão do projeto. O grupo assumiu suas dívidas e conseguiu transformar 
a experiência falida. 
De acordo com Bosque, a empresa possui 18 mil empregos diretos na gestão atual, dos quais 13 mil são 
terceirizados e 5 mil fixos. O diretor ressalta que a mão de obra vem de trabalhadores menos qualificados, 
que são os moradores da região. “Os dois municípios dependem do Projeto Jari por causa do trabalho”, 
afirma. 
 
Eucalipto é a base na fabricação da celulose 
 
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Numa das plataformas estava 
instalada a fábrica de celulose, com 
capacidade nominal de 220.000 
toneladas de celulose branqueada de 
fibra curta por ano; na outra uma 
usina de força a vapor para gerar 55 
megawatts de energia elétrica e o 
vapor necessário ao processo 
industrial. 
Para os efluentes gasosos e líquidos 
da operação foi projetado um 
sofisticado sistema de tratamento e 
controle, incluindo uma lagoa de 
estabilização de 184 hectares, por 
onde os líquidos industriais 
percorrem 12 km, antes de 
desaguarem outra vez no rio, 
portanto sem causarem nenhuma 
poluição. 
Paralelo a este empreendimento foi 
construída também uma planta de beneficiamento de 
caulim de alta qualidade, cujas jazidas foram 
encontradas a poucos quilômetros da fábrica, rio 
acima, na margem oposta, caulim este que serviria para 
branqueamento do papel, cuja fábrica seria construída 
numa segunda fase. 
Como atividades agrícolas Ludwig desenvolveu o 
plantio de arroz nas áreas alagadas de várzea a jusante 
da fábrica, no rio Jari próximo à sua foz no Amazonas, 
complexo este totalmente mecanizado, aproveitando o 
sistema de marés que atingem o Amazonas e o rio Jari 
para encher e esvaziar as áreas plantadas. 
Também desenvolveu uma pecuária de alta qualidade, 
com experimentos de inúmeros cruzamentos genéticos 
industriais, inclusive uma grande criação de búfalos, que 
geraram uma tecnologia totalmente desconhecida no mundo, e que hoje é modelo para várias áreas tropicais 
e até temperadas, tendo aumentado a sua capacidade reprodutiva de cerca de 60 a 70%, como era conhecida, 
para até 98%, através do conhecimento do estro das búfalas. 
 
Vale do Jari 
 
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Amazônia – Violência e devastação 
 
Contextualizando 
 
O debate acerca da Amazônia vem sofrendo uma inflexão, 
sobretudo a partir dos anos setenta. Desde então a 
problemática ecológica entra na agenda complexificando 
ainda mais o debate acerca dos destinos da região. A 
internacionalização que, desde sempre, marca a 
formação geográfica da Amazônia se vê, agora, acrescido 
desta problemática nova. Se, por um lado, esse novo 
agendamento vem sido imposto a partir de uma escala supranacional, ela ganha consistência interna quando 
se observa a mudança radical no padrão sócio-político de organização do espaço geográfico da Amazônia a 
partir dos anos 1960, com o projeto geopolítico que envolveu a mudança da capital federal do Rio de Janeiro 
para Brasília. A partir de então, a geografia da Amazônia deixa de se organizar exclusivamente em torno dos 
rios, o que a caracterizava desde o período colonial, e, cada vez mais, passa a ser conformada a partir das 
estradas e toda logística associada aos grandes projetos de exploração mineral, sobretudo na sua porção 
meridional – de Rondônia à Amazônia Oriental (o leste paraense e o oeste do Maranhão) passando por todo 
o norte de Mato Grosso e Tocantins. 
Todo esse processo não pode ser compreendido sem que se leve em conta o caráter ditatorial que comandou 
todo esse processo de ocupação, sobretudo pós 1964, que, geopoliticamente, procurava interligar a capital 
de cada unidade da federação a Brasília, assim como, sobretudo pós-anos setenta, com a interligação 
rodoviária entre o nordeste do país à Amazônia, com a Transamazônica, quando se procurava ligar uma região 
de homens sem-terra, o nordeste brasileiro, a outra região de terra sem homens, a Amazônia, conforme a 
frase famosa atribuída ao ditador de então Emílio Garrastazu Médici. Todo esse processo, diga-se de 
passagem, foi embalado pelo “mito do desenvolvimento” em que a mídia cumpriu um papel protagônico quando 
revistas e cadernos especiais não cansaram de louvar a epopeia da ocupação da Amazônia. Enfim, se a 
Amazônia era o futuro do Brasil pelos imensos recursos que abrigava, o futuro parecia ter chegado. (O que 
não é qualquer coisa quando se sabe que o Brasil é o país do futuro). A censura oficial, em parte, impediu 
que a sociedade brasileira tivesse o necessário contraponto crítico, muito embora houvesse uma adesão 
voluntária dos grandes meios de comunicação em grande parte financiado pelos interessados e implicados 
diretamente no novo processo de ocupação. O mito do desenvolvimento e do progresso, invocado num contexto 
de guerra fria por um regime ditatorial civil-militar conformado por uma forte ideologia anticomunista, 
aparecia como salvação e redenção do país e, ainda, como resposta à miséria e ao subdesenvolvimento que, 
como se dizia à época, “era o solo fértil para o desenvolvimento de ideologias espúrias”. A guerrilha do 
Araguaia serviu de pretexto para reforçar todo o mito salvacionista do progresso e do desenvolvimento com 
o que os maiores beneficiários desse processo procuravam justificar a repressão e, assim, trazendo enormes 
dificuldades para qualquer forma de organização dos setores subalternos na região, o que não os impediu de 
lutar pela terra. Uma observação feita à época pelo sociólogo José de Souza Martins é sintomática da nova 
dinâmica do processo de ocupação quando afirmava que o primeiro contato com a modernidade de muitos 
Fábrica vista do Rio Jari 
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camponeses da região foi o choque elétrico da tortura. Como se vê, a violência institucionalizada deixou 
raízes profundas grafando a região (geografando-a). 
Não ‘esqueçamos, ainda, que todo esse processo contou com apoio de instituições multilaterais, como o Banco 
Mundial, que financiaram grandes projetos logísticos (rodovias, portos, hidrelétricas), assim como grandes 
investidores internacionais souberam tirar proveito de toda a violênciainstitucionalizada com uma ditadura 
que, como tal, não contava com o aval democrático da sociedade brasileira. O Estado além de garantir as 
condições gerais para esse novo padrão de acumulação de capital para e pelos setores privados, ainda agiu 
por meio de suas próprias grandes empresas, com destaque para a Companhia Vale do Rio Doce no Projeto 
Grande Carajás. Um setor da burguesia nacional que mais se beneficiou, em particular, da “ajuda 
internacional” e do regime ditatorial foi o da construção civil, onde grandes empreiteiras se arrogaram o 
papel de “novos bandeirantes” com a construção de grandes projetos de engenharia (estradas e 
hidrelétricas). Até hoje são enormes as implicações sociais, políticas e ambientais engendradas pelo bloco 
de poder que conformou todo esse padrão de organização do espaço geográfico. 
 
A Dinâmica sociogeográfica nacional-regional pós-anos 60/70 
 
A interligação logística da Amazônia ao resto do país por meio do desenvolvimentismo de caráter mítico, pró-
empresarial e antipopular do “milagre brasileiro” substituiu a reforma agrária pela colonização e, por meio 
de subsídios aos grandes fazendeiros e a liberalidade do estado com seu patrimonialismo para com a 
apropriação das terras públicas por meio da grilagem de terras, favoreceu a chegada de grandes fazendeiros 
do centro-sul do país, assim como toda uma vaga de sem-terra expropriados pelo modelo concentrador de 
terras e de capital da modernização conservadora do campo brasileiro. Assim, a região sudeste do Pará viria 
se caracterizar pela tensão de territorialidades distintas, a saber: (1) camponeses expropriados de todo o 
país; (2) fazendeiros também de todo o país, sobretudo do centro-sul, mas também de fazendeiros da própria 
região que deixaram as atividades tradicionais de extrativismo e se associaram aos recém-chegados nas 
ações de apropriação ilegal das terras públicas para exploração de madeira, derrubada da mata e criação de 
gado e; (3) os povos da floresta e ribeirinhos cujas terras e demais recursos passam a ser disputados. 
Enfim, a partir da década de 1970 uma dinâmica sociogeográfica nacional-regional se instaura no sudeste do 
Pará conformada por essa tensão de territorialidades acima esboçada onde a expropriação/grilagem, 
exploração madeireira, queimadas e estabelecimento de grandes fazendas de gado onde a violência foi fator 
estruturante de todo o processo, sobretudo contra a resistência dos povos tradicionais da região e dos 
camponeses nacionalmente expropriados e que buscavam se re-territorializar num contexto que era, para 
eles, completamente adverso. 
 
A Dinâmica sociogeográfica global-regional Pós-anos 80 
 
Um dos impactos imediatos do segundo pico da crise do petróleo dos anos 1970 foi a reconfiguração da 
divisão internacional do trabalho, sobretudo das indústrias eletro-intensivas. O Japão, por exemplo, fechou 
todas as suas 145 fábricas de alumínio. O seu capital deslocou-se para Barcarena, a mais de 20 mil 
quilômetros do Japão nas cercanias de Belém. “Hoje a fábrica da Albrás, garantindo 15% do consumo japonês 
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30 
 
de alumínio, é a 8ª do mundo e a maior consumidora individual de energia do Brasil, respondendo por 1,5% 
de toda a demanda nacional”. 
A partir dos anos oitenta, com a implantação do Projeto Grande Carajás, – outro enclave explorando o maior 
complexo minerometalúrgicos do mundo – se instaura e, com ele, uma nova dinâmica sociogeográfica na região 
que viria agravar, ainda mais, o padrão socialmente injusto e ambientalmente devastador que já estava em 
curso na região. Trata-se de uma dinâmica que se sobrepõe a acima descrita – nacional-regional – e que bem 
pode ser caracterizada como sendo uma dinâmica sociogeográfica global-regional. Esclareça-se que essa nova 
dinâmica complexifica a dinâmica sociogeográfica já em curso, posto que agrega novos processos aos já 
existentes tendo muito de continuidade nessa descontinuidade do novo padrão sociogeográfico que se instaura 
a partir dos anos 80. Apesar do alerta de várias entidades nacionais como a OAB – Ordem dos Advogados 
do Brasil -, a ABI – Associação Brasileira de Imprensa – e a AGB – Associação dos Geógrafos Brasileiros – 
e de várias entidades e movimentos sociais da região que apoiadas em análises científicas sobre os danos 
que esse grande projeto traria para a região, sobretudo com o agravamento da derrubada da floresta para 
fazer carvão vegetal para purificar o ferro a ser exportado, não foi suficiente para evitar a dilapidação 
daquele enorme patrimônio de recursos naturais. O desmatamento na região em apreço atingiu níveis 
alarmantes e até mesmo uma significativa mudança climática regional se faz notar com períodos secos mais 
prolongados apontando para um clima cada vez mais tropical em lugar do clima subequatorial que a 
caracterizava. As mudanças no regime hídrico da região podem ser observadas nos córregos, igarapés e rios 
que, simplesmente, deixaram de existir. O nível de umidade relativa do ar vem caindo a níveis semelhantes 
a regiões desérticas facilitando a auto propagação do fogo como, recentemente, em setembro de 2007, 
pudemos apreciar em Colina – MA, o triste espetáculo de famílias fugindo do fogo desesperadas lembrando 
as cenas de vietnamitas fugindo do bombardeio de napalm. Sem sombra de dúvida a transformação dessa 
fantástica biomassa em carvão, o consumo elevadíssimo de água na transformação do minério de ferro, assim 
como a barragem do rio Tocantins para fazer a hidrelétrica de Tucuruí, alimentaram a purificação do ferro 
para exportação, agora sob o tacape da “crise da dívida externa”, dívida essa que, diga-se de passagem, foi 
contraída, em grande parte, para construir a logística desse mesmo processo de ocupação feito à revelia da 
sociedade brasileira, sobretudo dos seus setores subalternos. 
Ainda hoje, “todos os dias o trem, o maior trem de minérios do planeta, recebe 700 mil toneladas, que são 
transportadas, por quase 900 quilômetros até o porto da Ponta da Madeira, na ilha de São Luís, no litoral 
do Maranhão. Daí o mais puro minério de ferro do mercado segue para o mundo; 60% dele rumo à China e 
ao Japão, os maiores compradores, a 20 mil quilômetros de distância”. Segundo o mesmo autor, a mina N4, 
“projetada para operar com até 25 milhões de toneladas anuais de minério de ferro (…), vai atingir 100 
milhões de toneladas neste ano (2007) e chegará a 130 milhões em 2008, quase metade da produção 
recorde que a CVRD está planejando para todo país, de 300 milhões de toneladas”, conforme o jornalista 
Lucio Flavio Pinto. 
É interessante observar como a dinâmica nacional-regional, mais antiga, e a global-regional, mais recente, se 
sobrepõe pela complementaridade dos novos interesses com os antigos. A grilagem de terras é o fenômeno-
chave para entender a violência estrutural que se configura na região conformando um padrão de organização 
do espaço geográfico que se reproduz por meio de atividades como a exploração ilegal de madeira, a produção 
de carvão com a queima da floresta para purificar o ferro e a formação de pastos para pecuária. Um estudo 
realizado em 2004 pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM – e pelo Museu Emílio Goeldi, 
Estudos Amazônicos 9º ano 
 
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assinala que só no Estado do Pará ainda há 30 milhões de hectares de terras grilados e 67% das terras não 
têm registro ou têm registro fraudulento. Trata-se de um modo de produção/reprodução de uma estrutura 
de classes sociais profundamente desigual, a começar pela estrutura fundiária extremamente concentrada, 
conformando um Complexo de Violência e Devastação cuja dinâmica regional de reprodução é funcional à sua 
integração à divisão internacional do trabalho enquanto “uma geografia desigual dos rejeitos e dos proveitos”. 
A violência, vê-se, é estruturante das relações sociais e de poder. 
Nesse contexto, até

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