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Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas ??????????? Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2018 Adriana Lemes Ângelo Renan Acosta Caputo Cláudia Soares Barbosa Isabel Regina Lima Mendes Isabella Vieira de Bem Jane Sirlei Kuck Konrad Tania Maria Steigleder da Costa Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Ane Sefrin Arduim Para facilitar a abordagem de diferentes aspectos linguísticos, as pala-vras estão agrupadas em classes gramaticais ou classes de palavras, ou, ainda, em classes morfológicas. Uma classe gramatical é constituída por um grupo de palavras que possuem características morfológicas (for- mas) sintéticas e semânticas comuns. Assim, podemos dizer que a Morfologia, como você verá já de forma mais clara no Capítulo 1, é o estudo dos mecanismos alusivos ao funciona- mento de uma língua dentro de um determinado contexto, verificando seu funcionamento, sua estrutura e suas configurações formais. É a primeira articulação da gramática, na qual o vocábulo formal (a palavra) é seu ob- jeto de estudo, sistematizando em classes as unidades mínimas dotadas de sentido de acordo com características e funções comuns entre elas. De um (a) acadêmico (a) do curso de Letras e futuro professor, espera- -se que consiga identificar não só a que grupo pertence uma palavra em- pregada em um contexto, mas também o valor de um emprego determina- do. Seja bem-vindo à disciplina de Estruturas Morfológicas. Bom estudo! Prof. Dr. Ítalo Ogliari Coordenador do Curso de Letras Apresentação 1 Morfologia: Aspectos Gerais .................................................1 2 O Substantivo .....................................................................21 3 O Adjetivo ..........................................................................45 4 O Verbo .............................................................................61 5 O Advérbio .......................................................................116 6 O Artigo e o Numeral .......................................................135 7 O Pronome .......................................................................156 8 A Preposição .....................................................................187 9 A Conjunção ....................................................................202 10 Expressões Idiomáticas ......................................................218 Sumário Cláudia Soares Barbosa Atualizado por Isabel Regina Lima Mendes1 Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais1 1 Especialista em Educação Professora da Universidade Luterana do Brasil e da Rede Pública de Educação Básica. 2 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Introdução Neste capítulo, estudaremos algumas noções basilares para as estruturas morfológicas, entre elas: o que é morfologia e seus princípios essenciais, especialmente os relacionados à morfo- logia funcional na língua portuguesa, a diferença entre morfo- logia lexical e gramatical, o papel da classificação das pala- vras e alguns aspectos da relação entre morfologia e sintaxe. Etimologicamente, morfologia vem do grego morphe (mor- fo = forma + logos = estudo) sendo, portanto, o “tratado das formas que uma matéria pode tomar”. Esse estudo da forma não se restringe apenas à linguagem, que é o assunto aqui, pois temos a morfologia animal, celular, gráfica, social entre outras. A morfologia vegetal, por exemplo, é a parte da Botânica que estuda as formas e estruturas dos organismos ve- getais; em Biologia, morfologia é o estudo da forma do orga- nismo ou de partes dele; em Sociologia, é a parte que estuda e classifica as estruturas ou as formas da vida em sociedade. No âmbito da língua, morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras observadas isoladamente. Dentro des- se estudo, a morfologia é considerada como a primeira arti- culação da gramática, na qual o vocábulo formal é o objeto de análise. Assim, a morfologia na linguagem é o estudo da estrutura e formação das palavras, suas flexões e sua classi- ficação. Ela trata do aspecto formal (de forma) das palavras, e, conforme Luft (2002), subdivide-se em dois tipos: lexical e gramatical. Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 3 Na morfologia lexical se estuda origem, formação, estru- tura, famílias de palavras, etc. Ou seja, como surgem novas palavras, qual sua origem, como estão organizadas, conteúdo a ser contemplado em outra disciplina de curso, mas para o qual trouxemos abaixo um pequeno exemplo a fim de facilitar a compreensão da divisão apresentada. Ilustração: Marcelo Germano - LAC Ulbra EAD. Adaptado de: PDI ULBRA 2017- 2022. A palavra “pipoqueiro” é formada pela base (radical) “pipoca” mais o sufixo formador de substantivo “-eiro”. A morfologia gramatical, por outro lado, trata da classifica- ção das palavras, das categorias gramaticais, dos paradigmas 4 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas flexionais e de outros aspectos relacionados ao vocábulo. Ela, para analisar uma palavra, parte dos segmentos fônicos asso- ciados a uma significação léxica e suas formas. Assim, a mor- fologia sistematiza em “grupos” as unidades mínimas dotadas de sentido de acordo com características e funções comuns entre elas, ou seja, em classes ou categorias gramaticais. As classes gramaticais descritas, de acordo com a No- menclatura Gramatical Brasileira (NGB), são: - substantivo; - adjetivo; - artigo; - pronome; - numeral; - verbo; - advérbio; - conjunção; - preposição. O primeiro critério de classificação está relacionado às va- riações que a palavra pode apresentar. Logo, as classes estão separadas em variáveis e invariáveis. Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 5 Palavras variáveis podem mudar de acordo com os seguintes critérios: gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e, algumas, em grau (diminutivo, aumentativo); e são elas: - verbo; - substantivo; - adjetivo; - pronome; – artigo. Palavras invariáveis não apresentam modificações de acordo com o gênero ou com o número, elas se mantêm sob o mesmo formato, independentes do contexto a que estão inseridas ou às palavras as quais se ligam no arranjo textual. São elas: - advérbio; - preposição; - conjunção. IMPORTANTE Numerais constituem uma classe de palavras com a peculiari- dade de subclassificações variáveis e invariáveis. 6 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Observe o exemplo: A estudante universitária ficou muito entusiasma- da Artigo feminino singular Substantivo sem marca de gênero singular Adjetivo feminino singular Verbo no sin- gular Advérbio de inten- sidade invariá- vel Adjetivo feminino singular Todas as palavras na frase concordam em gênero e/ou nú- mero, por isso foram registradas no feminino e no singular. Com exceção do advérbio, que por pertencer a uma classe invariável, não compromete o sentido ou a concordância dos vocábulos na frase. Os verbos apresentam outras variações específicas: pes- soa, tempo, modo e voz. Na frase acima, teríamos a seguinte análise: FICOU = terceira pessoa do singular; tempo presen- te; modo indicativo e voz ativa. Outro exemplo: Os universitários caminhavam rapidamente com suas bandeiras Ar- tigo mas- cu- lino plural Substantivo masculino plural Verbo no plural Advérbio de modo invari- ável Prepo- sição (invari- ável) Pro- nome posses- sivo fe- minino plural Subs- tantivo feminino plural De acordo com a análise realizada no exemplo acima, tem-seuma estrutura concordando com o gênero masculino Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 7 ou feminino e o número plural. E as palavras de classes invari- áveis: o advérbio rapidamente e a preposição com. No exemplo anterior, “universitária” é um adjetivo, pois ca- racteriza o substantivo “estudantes”, enquanto, neste último, “universitários” apresenta-se como substantivo. A mesma in- versão pode ocorrer com outras palavras de acordo com seu uso. No estudo da língua portuguesa, toda análise se refere às combinações de formas; assim, cada classe possui uma no- menclatura e é analisada de acordo com a função que exerce dentro de determinado contexto, na relação com as outras pa- lavras. O que se trata de um outro plano gramatical: a sintaxe. De acordo com Joaquim Matoso Câmara Júnior, no livro Estrutura da Língua Portuguesa, o segmento fônico se associa a uma significação gramatical situando-se na primeira articu- lação da língua (a morfológica), gerando o vocábulo formal. O que se denomina de vocábulo é a palavra ou ainda a uni- dade mórfica por si só. Ao estudar morfologia, analisam-se, então, os morfemas. Os morfemas constituem-se por serem unidades de som e conteúdos menores do que a palavra. São unidades significativas mínimas, porque possuem significado, mas nem sempre funcionam de forma independente, precisam estar conectadas a outras. Exemplo: o “s” que marca o plural é uma unidade com significado de número, mas não faz sentido livremente. O vocábulo pipoca/s/ pode gerar outros, como pipoqueiro, pipoquinha, enquanto o morfema /s/ que marca o plural na palavra só funciona ligado a outros morfemas com sentido completo. 8 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Assim, a gramática identifica dois tipos de morfemas:  Morfemas lexicais: são as formas livres: pipoca.  Morfemas gramaticais: possuem algum significado, mas só existem presos /s/ (como marca de plural) /des/ (desfazer); dentre outros. Formas livres constituem uma sequência funcionando iso- ladamente. Exemplo: Os livros encantam os leitores. Formas presas funcionam ligadas a outras. Exemplo: “in” – do vocábulo “infeliz”. Dessa maneira, o vocábulo formal caracteriza-se por:  Uma unidade final indivisível em duas ou mais formas livres. Exemplo: paz.  Duas ou mais formas presas. Exemplo: im + pro +vá + vel.  Uma forma livre e uma ou mais formas presas. Exemplo: in + feliz. OBSERVAÇÃO: esses mesmos critérios aplicam-se às partículas proclíticas enclíticas, introduzindo um terceiro conceito na lín- gua portuguesa; o de forma dependente. O critério mórfico estabelece a separação dos vocábulos por espaços em branco, registrando na ortografia as formas Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 9 independentes. As palavras constituem-se por unidades meno- res (morfemas), ao passo que a frase se compõe por palavras, e estas são graficamente separadas. A análise morfológica identifica a classe de cada palavra e verifica suas combina- ções dentro do texto. Algumas classes podem ocupar o papel de outra em determinada construção frasal. Por exemplo, a classe dos nomes (os substantivos e os adjetivos) podem se intercambiar, como vimos em exemplos anteriormente aqui apresentados. A tradição da classificação das palavras é uma herança da cultura grega, sendo que parte da nomenclatura por nós adotada mantém-se do latim, principalmente dos trabalhos de Aristóteles. Rosa (2008, p.100) afirma que Aristóteles tomava como base para classificação “o fato de um elemento poder ser in- terpretado semanticamente quando em isolado.” Essa forma de significado estaria relacionada a um referente biossocial, que Rosa chama de significado lexical. As classes que apre- sentariam esse tipo de significado são substantivos, adjetivos, verbos lexicais e advérbios, essas mesmas classes apresentam autonomia, pois podem aparecer sozinhas em um sintagma. Já o outro tipo são palavras de significado gramatical, que dependem de um contexto para o estabelecimento de senti- do, como preposições, conjunções, verbos copulares (ou au- xiliares), artigos, pronomes. Os elementos que apresentam esse tipo de característica “evidenciam relações gramaticais quer dentro da oração, quer entre orações” (ROSA, 2008, p.100). 10 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Assim: SIGNIFICADO LEXICAL SIGNIFICADO GRAMATICAL Possibilidade de interpretação semân- tica de um termo isolado. Impossibilidade de interpretação semântica de um termo isolado. As palavras que apresentam significado lexical são cha- madas de palavras lexicais, de conteúdo. Já aquelas que apre- sentam significado gramatical são chamadas de palavras gramaticais, de forma. Não apenas quando a possibilidades de interpretação encontramos diferença entre as classes, mas também na formação de novas palavras. As classes de palavras que se apresentam férteis para neologismos são substantivos, verbos, adjetivos e advérbios, chamadas de classes abertas. Já aquelas nas quais não surgem novas palavras – ou muito raramente – são preposições, conjunções, pronomes, artigos, numerais e verbos copulares chamadas de classes fechadas. Na classificação, é preciso especificar dois níveis quanto à linguagem: uso e metalinguagem. No uso, o conhecimen- to sobre a linguagem e como a língua funciona têm papel pequeno, se não nulo, enquanto que no estudo sobre elas a metalinguagem se faz importante, bem como o conhecimento sobre ela, para que se possa falar sobre elas. É consideran- do-se este último aspecto que devemos nos preocupar, tanto enquanto estudantes de Letras quanto futuros profissionais de Letras. Assim sendo, como afirmado por Perini (2010, p. 289), “a descrição da estrutura de uma língua depende crucialmente de classificações: classes de palavras, classes de sintagmas, classes de morfemas”. Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 11 É importante destacar aqui que classe de palavra não é a mesma coisa que função. As classes são: substantivo, artigo, adjetivo, etc.; enquanto as funções são: sujeito, predicado, objeto, etc. “Diferente do que se tem na tradição, essa classificação não pode ser feita por questões de sentido, mas sim pelo po- tencial funcional que elas podem vir a apresentar na senten- ça.” (ILARI, 1986; PERINI, 2010). UM EXEMPLO DE ANÁLISE Vejamos a palavra “irracional”. - Qual a sua classificação? Adjetivo (ou Substantivo) - Que funções podem vir a desempenhar? Predicativo do sujeito: Ele é irracional. Adjunto adnominal: Ele encontrou o amigo irracional. Predicativo do objeto: Ele julgou o ato irracional. Sujeito: O irracional parece prevalecer. 12 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Em todos esses exemplos, a palavra “irracional” está “liga- da” a um nome ou em posição própria a um nominal, como no último exemplo, e são todos aceitos pelos falantes nativos de língua portuguesa. O mesmo não ocorre com os exemplos abaixo: Choveu irracional. Ele irracionou o tempo. No primeiro exemplo, temos o que se chama em semântica de anomalia, enquanto que no segundo há uma palavra não aceita pelos falantes como verbo, apesar de obedecer às nor- mas de formação de palavras de nossa língua. Relação entre morfologia e sintaxe Como vimos, a classificação de palavras deveria ocorrer em consequência de seu potencial funcional (PERINI, 2010) ou propriedades distribucionais (ILARI, 1986), o que significa que não estaria a parte da sintaxe, mas em interface com essa. Dada essa natureza, temos duas relações primárias: através da morfossintaxe e através do valor funcional potencial. Na morfossintaxe temos elementos mórficos que traduzem funções sintáticas. É o caso do latim, por exemplo, que através de suas declinações expressa as funções sintáticas. Para essas é fundamental a noção de caso, quais sejam: nominativo, da- tivo, genitivo, acusativo, ablativo, vocativo. Em consequência Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 13 da sua natureza não configuracional,a ordem dos elementos não influenciava, já que sua interpretação funcional se dava através dos casos. CURIOSIDADE Veja os casos em latim e suas respectivas funções e, após, ob- serve uma frase que exemplifica as funções sintáticas destacadas nos elementos mórficos de palavras em Latim. CASOS FUNÇÕES SINTÁTICAS Nominativo Corresponde ao sujeito e predicado Genitivo Corresponde ao adjunto adnominal Dativo Corresponde ao objeto indireto Acusativo Corresponde ao objeto direto Vocativo Corresponde ao vocativo Ablativo Corresponde ao adjunto adverbial  MarcusCorneliamamat.  MarcusamatCorneliam.  AmatMarcusCorneliam.  AmatCorneliamMarcus.  CorneliamMarcusamat.  Corneliamamat Marcus. 14 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Em todas as frases, a mensagem é “Marco ama Cornélia”. Inde- pendentemente da posição, Marcus é nominativo e Corneliam acusativo, o que comprova que são as declinações que trazem as funções sintáticas em latim. A língua portuguesa mantém ainda certa características morfossintática, uma vez que podemos “apagar” o sujeito e recuperar a referência através da desinência verbal de núme- ro-pessoa, no entanto, a ordem apresenta um papel diferente. A outra consideração diz respeito ao potencial funcional, pois certas classes podem desempenhar certas funções e apre- sentar determinados comportamentos morfológicos (por exem- plo, nem todas as classes apresentam flexão de número) dife- rentes de outras. Outra relação clara entre classes de palavras e sintaxe é a classificação dos sintagmas (ou constituintes), que se dá em função do seu núcleo. De acordo com Perini (2001), “constituintes são certos gru- pos de unidades que fazem parte de sequências maiores, mas que mostram certo grau de coesão entre eles.” Isso implica uma estrutura hierárquica, na qual “as sequências de elemen- tos linguísticos devem se estruturar sucessivamente, de modo a formar unidades mais e mais complexas, até chegarmos à for- mação de uma sentença” (NEGRÃO, SCHER e VIOTTI, 2010, p. 88). Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 15 Observe o exemplo abaixo: [Ana elaborou o relatório sobre as vendas.] [[Ana] [elaborou o relatório sobre as vendas.]] [[Ana] [elaborou [o relatório sobre as vendas.]]] [[Ana] [elaborou [o relatório [sobre as vendas.]]]] [[Ana] [elaborou [o relatório [sobre [as vendas.]]]]] Os colchetes indicam o início e o fim de cada sintagma. Assim dentro da oração temos dois sintagmas principais: um nominal (cujo núcleo é “Ana”) e um verbal (cujo núcleo é “ela- borar”); e dentro deste temos outros sintagmas. Conforme Ne- grão, Scher e Viotti (2010, p.89), as sentenças das línguas naturais “são formadas a partir da estruturação hierárquica de seus constituintes, em que as palavras são agrupadas em sin- tagmas e sintagmas são agrupados em sintagmas mais altos (...)”, como no exemplo acima. Ainda que muitos conceitos sobre o assunto não tenham sido aqui contemplados, pois não seria possível dentro dos objetivos a que se propõe este capítulo e, consequentemente, este livro, concluímos com uma reflexão de que os estudantes, pesquisadores e profissionais da área de Letras devem ter aten- ção especial aos mecanismos referentes ao funcionamento de uma língua em um contexto, observando-se o tempo e a interação entre os falantes. É dessa maneira que a gramática analisa e descreve, de acordo com a definição de uso, as nor- mas de funcionamento, a estrutura e a configuração formal que caracterizam um idioma. 16 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Recapitulando A morfologia é um termo utilizado em outras áreas do co- nhecimento, porém sempre conserva o significado que a pa- lavra traz consigo. Por exemplo, em geologia, a morfologia é o estudo das formas de relevo. Na língua, a morfologia é uma parte da gramática que se detém nas estruturas e/ou a formação das palavras. De maneira geral, a morfologia pode se subdividir em Lexical, que se dedica a estudar a origem, a formação, a estrutura e as famílias de palavras, e Gramatical, a qual trata das categorias gramaticais, dos paradigmas flexio- nais e de outros aspectos relacionados aos vocábulos, como a classificação das palavras expressas, na língua portuguesa, por dez classes morfológicas (ou gramaticais) de acordo com a função de cada. Essas classes, de acordo com as flexões que a palavra pode apresentar ou não, estão agrupadas em: palavras variáveis: substantivo, adjetivo, pronome, numeral, artigo e verbo; e palavras invariáveis: preposição, conjunção e advérbio. As flexões dos vocábulos variáveis podem ser de gênero - masculino e feminino -, número - singular e plural - e grau - aumentativo e diminutivo, sendo que o verbo possui variações específicas (pessoa, tempo, modo e voz). A análise puramente morfológica estuda as palavras individualmente, ou seja, independentemente da sua ligação com as outras pa- lavras. O estudo inicia nas unidades significativas mínimas, os morfemas, os quais podem ser lexicais (formas livres) ou gramaticais (formas presas), e segue para a identificação da categorial gramatical a partir das combinações das palavras dentro do texto, pois algumas podem ocupar o papel de outra em determinada construção frasal. E essa dupla possibilidade Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 17 de interpretação semântica de uma palavra, quando isolada ou em um contexto, é o significado lexical e o significado gra- matical, respectivamente. Assim, a classificação das palavras acontece de acordo com seu potencial funcional e com suas propriedades distribucionais, que analisa a função e a ligação de cada elemento que forma um enunciado linguístico. Referências CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portu- guesa. 8. ed., Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1977. ILARI, Rodolfo. A linguística e o ensino da língua portugue- sa. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986. NEGRÃO, Esmeralda Vailati; SCHER, Ana Paula; VIOTTI, Evani de Carvalho. Sintaxe: explorando a estrutura da sentença. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: II. Princípios de análise. 4. Ed. São Paulo: Contexto, 2010. PERINI, Mário A.. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. ______. Gramática descritiva do português. 4. Ed. São Pau- lo: Editora Ática, 2001. SILVA, Thäis Cristófaro. Fonética e Fonologia do português. São Paulo: Contexto, 2010. ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. São Paulo: Contexto, 2008. 18 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Atividades 1) Responda: a) O que é morfologia da linguagem? b) A morfologia se encarrega de estudar o quê? c) Qual a diferença existente entre morfologia lexical e morfologia gramatical? 2) Assinale a alternativa que contém uma afirmação correta: a) De acordo com as características e funções das cate- gorias gramaticais, classificamos todas como classes variáveis. b) As classes que apresentam o chamado “significado le- xical” são os substantivos, os adjetivos, os verbos lexi- cais e os advérbios. c) A morfologia gramatical se ocupa em estudar os fone- mas. d) Palavras de “significado lexical” são aquelas que de- pendem de um contexto para o estabelecimento de sentido. e) Verbos e advérbios são palavras que pertencem ao grupo nomeado de “Classes fechadas”. 3) Analise as afirmativas e, após, aponte a alternativa corre- ta: Capítulo 1 Morfologia: Aspectos Gerais 19 I - Na língua portuguesa, cada classe gramatical possui uma nomenclatura e é analisada de acordo com a função que exerce dentro de um determinado contex- to. II - Os morfemas lexicais são as formas livres, as quais constituem uma sequência funcionando isoladamente. III - As palavras de “significado gramatical” são aquelas que dependem de um contexto para o estabelecimento de um sentido. IV - A desinência verbal de número-pessoa, sem o sujeito expresso na oração, é um exemplo de possível análise morfossintática na língua portuguesa. a) Apenas Ie II são verdadeiras. b) Apenas II e III são verdadeiras. c) Apenas I e IV são verdadeiras d) Apenas II, III e IV são verdadeiras. e) I, II, III e IV são verdadeiras. 4) Relacionado ao estudo de morfologia funcional, analise as duas ocorrências do termo “nativos” no fragmento abaixo e explique suas semelhanças e diferenças. “Nos primeiros anos da conquista, os espanhóis resistiram a comer produtos nativos americanos, por isso trouxeram consigo plantas e animais de sua terra natal. Todavia, os espanhóis enviavam à Europa todos os alimentos exóticos que os nativos lhes ofereciam...”. 20 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas 5) As classes de palavras invariáveis são: a) preposição – advérbio – pronome. b) numeral – substantivo – conjunção. c) artigo – pronome– substantivo. d) adjetivo – preposição – advérbio. e) conjunção – advérbio – preposição. Cláudia Soares Barbosa Atualizado por Isabel Regina Lima Mendes1 Capítulo 2 O Substantivo1 1 Especialista em Educação Professora da Universidade Luterana do Brasil e da Rede Pública de Educação Básica. 22 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Introdução Conhecendo as classes de palavras, após estudo do Capítu- lo 1, dedicaremos atenção especial, neste capítulo, à palavra com que designamos os seres em geral, os substantivos. Co- nheceremos a classificação e as flexões do referenciador de nomes na Língua Portuguesa. Substantivo Para você melhor entender este conteúdo, vamos ler o frag- mento do texto que segue: Com o excesso de simplicidade de Macabea, a autora revelou ainda mais sua complexidade. O uso da linguagem na obra de Clarice é tema que faz a au- tora ainda hoje tão interessante aos estudiosos da filosofia da linguagem e aos lacanianos. Embora pouco levada a sério pela crítica – que ainda hoje o considera “um livro menor” – é em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” que ela exacerba essa fragmentação da narrativa. É como se algo estivesse sen- do dito, pensado e escrito quando Lispector começa o livro com uma vírgula. Este algo continuará sendo dito após o fim do livro, que termina no meio de um diálogo, num sinal de dois pontos sinalizador de interrupção brusca e, ao mesmo tempo, de conti- nuidade. [...] (Fonte: RODRIGUES, 2006, p.32) Capítulo 2 O Substantivo 23 Você, com certeza, deve estar se perguntando por que des- tacamos as palavras: excesso, autora, uso, obra, Clarice, es- tudiosos, lacanianos, fragmentação, Lispector, algo e fim. Não foi sem razão. Essas palavras que usamos para nos referir a se- res, coisas, ações, fatos, sentimentos, estados, qualidades ou ideias são denominadas substantivos. Qualquer palavra que você queira transformar em substantivo basta antepor-lhe um artigo, um pronome possessivo, demonstrativo ou indefinido. Veja nos exemplos a seguir. O amanhã poderá ser melhor do que o hoje. (Advérbios – amanhã / hoje – transformados em substantivos) Ele tinha um quê de misterioso e trágico. (Pronome – que – transformado em substantivo) Este amar será indolor. (Verbo – amar – transformado em substantivo) Classificação O substantivo possui CLASSIFICAÇÃO conforme sua função.  SUBSTANTIVOS COMUNS: usamos para nos referirmos aos seres de forma generalizada, considerando a espé- cie. Ex.: Os livros são instrumentos do saber. 24 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas  SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: usamos quando queremos nos referir a um ser, em particular, dentro da mesma espécie. Ex.: Cristiano Ronaldo é o maior jogador do mundo.  SUBSTANTIVOS CONCRETOS: usamos para nomear seres que não dependem de outros para existir indivi- dualmente. Ex.: A carreta era meio de transporte dos tropeiros. Atenção! Lembre-se que DEUS, FADA, ALMA, FANTASMA e outros são considerados substantivos concretos por nomearem seres que têm existência própria mesmo que imaginária.  SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: são nomes que designam ações, estados ou qualidades; dependem da existência de um ser concreto. Ex.: Não quero minha intimidade exposta ao conhecimento público.  SUBSTANTIVOS SIMPLES: são nomes constituídos de um só radical. Ex.: A felicidade está em todo lugar.  SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: ao contrário dos subs- tantivos simples, são nomes constituídos de mais de um radical. Capítulo 2 O Substantivo 25 Ex.: O guarda-noturno trabalhou ininterruptamente no fe- riadão.  SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: são os que não se origi- nam de outros, podendo dar existência a outros vocá- bulos. Ex.: Quisera ser um rio sem margens aprisionadoras.  SUBSTANTIVOS DERIVADOS: são os que provêm dos substantivos primitivos. Ex.: A pereira e o pessegueiro florescem na primavera.  SUBSTANTIVOS COLETIVOS: são vocábulos que, em- bora usados no singular, denotam a pluralidade dos se- res da mesma espécie. Listaremos alguns para ampliar seu conhecimento. 26 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Capítulo 2 O Substantivo 27 Gênero do Substantivo Os substantivos sofrem flexões quanto ao GÊNERO: ou são masculinos ou são femininos. São MASCULINOS os substanti- vos que admitem o artigo O, e são FEMININOS os que admi- tem o artigo A. Vamos exemplificar.  MASCULINOS: o gato, o galo, o vaso.  FEMININOS: a gata, a galinha, a escova. Lembre-se: nem sempre as terminações o e a serão indica- tivos de gênero masculino e feminino, o que significa que há palavras com formas próprias. Preste atenção!  MASCULINOS: o planeta, o refém, o sopé, o órgão.  FEMININOS: a libido, a linhagem, a atenção, a mar- quise. Quanto ao gênero, há aqueles denominados biformes e os denominados uniformes. Quando o substantivo tem duas formas para indicar os diferentes gêneros, ele é denominado biforme.  MASCULINO: professor, namorado, sogro.  FEMININO: professora, namorada, sogra. Se, no entanto, tiver uma só forma para determinar os dois gêneros, denominar-se-á uniforme. Observe: 28 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Ilustração: Marcelo Germano - LAC Ulbra EAD. Adaptado de: PDI ULBRA 2017- 2022. Ilustração: Marcelo Germano - LAC Ulbra EAD. Adaptado de: PDI ULBRA 2017- 2022. Os SUBSTANTIVOS UNIFORMES podem ainda se classifi- car em: epicenos, sobrecomuns e comuns de dois. Capítulo 2 O Substantivo 29  EPICENOS: são substantivos invariáveis em gênero, re- ferem-se a nomes de certos animais. Se quisermos expli- car o sexo dos animais, devemos usar, após o substanti- vo, as palavras macho e fêmea. Veja a relação a seguir.  SOBRECOMUNS: esses substantivos, às vezes, nos cau- sam problemas, pois podem ser usados tanto para os seres do sexo masculino quanto para os do sexo femini- no. Preste atenção: A Carina é a pessoa importante. O cônjuge dela é Joaquim. O Paulo é a pessoa importante. O cônjuge dele é Priscila. COMUNS DE DOIS: nesse caso, o substantivo tem uma só forma para os dois gêneros. A distinção é feita pelo uso de ar- tigos, de adjetivos, de pronomes ou de outras formas adjetivas. O dentista A dentista Este artista. Esta artista Aquele jovem. Aquela jovem. Violinista famoso. Violinista famosa. Veja também algumas curiosidades sobre a flexão de gêne- ro dos substantivos:  Alguns substantivos mudam de significado, conforme o sentido de uso: 30 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Ilustração: Marcelo Germano - LAC Ulbra EAD. Adaptado de: PDI ULBRA 2017- 2022. Outros exemplos: O CABEÇA A CABEÇA Chefe, líder Parte do corpo O CAPITAL A CAPITAL Valores monetários Cidade que aloja a administração de um estado ou país O LENTE A LENTE O professor Corpo transparente limitado por duas superfí- cies refratoras O MORAL A MORAL Ânimo Conjunto de regras de conduta de faculdades morais  Alguns serão sempre masculinos: o ágape o alvará o axioma o estratagema o telefonema o pampa o sabiá o sanduíche Capítulo 2 O Substantivo 31 Alguns serão sempre femininos: a análise a cal a cólera a comichão a faringe a ordenança a sucuri a usucapião  São masculinos ou femininos:o aluvião a aluvião o dengue a dengue o diabetes a diabetes o personagem a personagem Número dos Substantivos Além da flexão de gênero, o substantivo pode, ainda, ser fle- xionado quanto ao número. Isto é, todo substantivo pode re- ferir-se a um ou mais seres dentro de um conjunto. Quando ele se refere a um ser ou um grupo de seres, dizemos que o substantivo está no SINGULAR. A criança brinca alegremente. A tropa marcha garbosamente. Porém, se o substantivo se referir a mais de um ser ou gru- po de seres, dizemos que ele está flexionado no plural. As crianças brincam alegremente. As tropas marchavam garbosamente. Formação do plural 32 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Várias são as normatizações no que diz respeito à flexão do substantivo no plural. Vejamos!  Acrescenta-se “s” aos substantivos terminados em vogal ou ditongo. Duas cabeças pensam mais do que uma. As histórias contadas por nossos avós eram fascinantes.  Quando o substantivo terminar em m, no singular, no plural esta terminação será ns. Na Páscoa, um bombom não é suficiente, mas vários bom- bons é exagero.  Substantivos que terminam em ão possuem três possibi- lidades de flexão ao fazer o plural: ões: O leão é um animal feroz. Os leões são animais fero- zes. ães: O alemão foi colonizador no Rio Grande do Sul. Os alemães foram colonizadores no Rio Grande do Sul. ãos: O bom cristão ama seu próximo. Os bons cristãos amam seu próximo. Substantivos paroxítonos terminados em ão apenas rece- bem “s” na formação do plural. Ex.: Ele quer a bênção de Deus. Eles querem as bênçãos de Deus. Alguns substantivos terminados em ão, na linguagem colo- quial, têm variação de forma. Listamos, a seguir, alguns deles: Capítulo 2 O Substantivo 33 Se os nomes terminarem em r, z, n ou s (para esta última terminação, somente os oxítonos ou monossílabos tônicos), acrescentaremos -es a essas terminações. A mulher reivindicou seus direitos. /As mulheres reivindica- ram seus direitos. 34 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Que em teu caminho surja a luz. /Quem em teu caminho surjam luzes. O gás da fábrica é prejudicial à saúde. / Os gases da fábri- ca são prejudiciais à saúde.  PORÉM, se os substantivos terminados em s forem pa- roxítonos ou proparoxítonos, essa terminação conti- nuará a mesma. O tênis do menino é de boa marca. / Os tênis do menino são de boa marca.  Não serão flexionados no plural (invariáveis) os subs- tantivos que tenham como terminação a letra X. O box do carro foi alugado. / Os box dos carros foram alugados.  Terminações al, el, ol, ul, nos nomes, terão a letra l trocada por is, no plural. O jornal é distribuído ao amanhecer. / Os jornais são distri- buídos ao amanhecer.  NÃO ESQUEÇA que as palavras mal, cônsul e mel re- cebem es no plural.  A terminação il dos substantivos oferece dupla flexão. Capítulo 2 O Substantivo 35  substantivo oxítono, troca-se o l por s: canil – canis; fuzil – fuzis.  substantivos paroxítonos tem a terminação il trocada por eis: projétil – projéteis; réptil – répteis. Alguns substantivos, que formam o diminutivo com z, terão a forma primitiva pluralizada com s, e o “s” será assimilado. Veja: café – cafés – cafezinho pé – pés – pezinho CURIOSIDADE a palavra real (= moeda) e seus derivados contrariam o acrésci- mo de es, ou seja, formam o plural com réis. É importante, ain- da, que você saiba que a forma de plural REAIS, como unidade monetária brasileira, foi instituída em julho de 1994. Particularidades sobre a flexão de número dos substantivos. Há alguns substantivos que são usados apenas no plural: 36 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Há outros que mudam o seu sentido se pluralizados. De- pendem, então, do contexto em que são empregados. Exem- plos: O amor ao próximo deve ser realimentado diariamen- te. (= sentimento) Nunca fui dado a grandes amores. (= namoro, rela- ções amorosas) Antigamente a honra era dom imaculado. (= caráter) Os donos da casa não fizeram todas as honras ao convidado. (= homenagens) Plural metafônico Você já deve ter lido que a METAFONIA é a mudança de timbre de uma vogal. Alguns substantivos, que têm o “o” tôni- co fechado no singular, ao serem flexionados no plural, terão o timbre desse tônico aberto. Capítulo 2 O Substantivo 37 Plural dos substantivos compostos Quando os substantivos compostos não apresentam hífen, eles seguirão as regras de flexão do plural dos substantivos simples. Leia o exemplo a seguir. O passatempo de Jonas é o futebol. Os passatempos de todos eram efêmeros. Porém, se esses substantivos, em seu processo de composi- ção, necessitam de hífen, é necessário que sejam observadas algumas normatizações. Vejamos. 38 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas  Se os dois elementos são palavras variáveis, os dois se- rão flexionados no plural. Ex.: Às quartas-feiras, tenho minha folga. Os boias-frias ainda persistem como mão de obra.  Se os dois elementos são ligados por preposição, flexio- nar-se-á apenas o primeiro. Ex.: Os portugueses adoram azeites-de-oliva.  Se o segundo elemento indicar finalidade ou semelhan- ça em relação ao primeiro, a flexão recai somente no primeiro elemento. Ex.: Em cima da mesa havia somente canetas-tinteiro.  Pluraliza-se somente o segundo elemento nos seguintes casos:  o primeiro elemento é constituído de verbo. Ex.: Os bate-papos foram madrugada a dentro.  o primeiro elemento da composição é constituído de pa- lavra invariável. Ex.: Os vice-reitores foram chamados à assembleia.  GRÃO, GRà e BEL são os primeiros elementos do com- posto. Ex.: Nada ficará aos bel-prazeres dos outros. Capítulo 2 O Substantivo 39  somente o segundo elemento é flexionado quando o substantivo é formado por repetição de palavras ou onomatopeias. Ex.: Os tique-taques do relógio não o deixavam dormir. Os carros trafegavam com os pisca-piscas ligados. Vejamos também algumas particularidades sobre os subs- tantivos compostos.  Alguns substantivos compostos possuem mais de uma flexão para formar o plural:  Há substantivos compostos que se flexionam de forma única: Grau dos substantivos Quando queremos determinar a ideia de aumento ou diminui- ção de tamanho, dizemos que a flexão do substantivo se dá em grau. Nessa flexão, o substantivo poderá ter duas formas: a SINTÉTICA e a ANALÍTICA. 40 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas No grau sintético, a formação se dá pelo acréscimo de sufixos. Os quais indicarão o grau normal, o diminutivo e o aumentativo. No grau ANALÍTICO, a formação se dá pelo acréscimo de adjetivos denotadores de aumento ou diminuição. Recapitulando O substantivo é uma das mais importantes classes de pala- vras da Morfologia. Sua importância vem do fato de ela ser o tipo de palavra que utilizamos para nos referirmos às coisas, pessoas, animais e sentimentos. Assim, sem ele fica quase im- possível ter uma boa comunicação com alguém. É importante Capítulo 2 O Substantivo 41 lembrar que palavras de outras categorias gramaticais podem, de acordo com a função, transformar-se em substantivo como, por exemplo: O estudar é importante. É de acordo com a fun- ção que os substantivos se classificam em: comum ou pró- prio, concreto ou abstrato, simples ou composto, primitivo ou derivado, e coletivo. Além disso, ele pode variar em gênero (feminino e masculino), grau (aumentativo e diminutivo) e nú- mero (singular e plural), tendo, em cada categoria de flexão, suas classificações, curiosidades, exceções e particularidades, como por exemplo, o chamado “plural metafônico”, que exige a mudança de timbre de uma vogal quando flexionamos do singular ao plural. Referências CÂMARA, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portugue- sa. Petrópolis: Vozes, 1970. CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da lín- gua portuguesa. 41. ed., São Paulo: Nacional, 1998. CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramáticada língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do por- tuguês. São Paulo: Unesp, 2000. NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contempo- rânea da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997. 42 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Atividades 1) É falha a caracterização do substantivo em: a) “... necessidades dos usos...” - abstrato b) “... a influência do povo...”- concreto c) “... a influência do povo...”- coletivo d) “... a sua transplantação...” - derivado e) “... riquezas novas...” - derivado 2) “Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram, com o tempo e as necessidades dos usos e costumes.” O fragmento acima apresenta ao todo ________ substan- tivos. a) três. b) quatro. c) cinco. d) seis. e) sete. 3) Alguns substantivos, ao receberem a desinência –S de plu- ral, alteram o timbre de sua vogal tônica, passando de O fechado para aberto, como acontece com a palavra em destaque na seguinte frase: a) A moça olhou-se no espelho. Capítulo 2 O Substantivo 43 b) Belo adorno enfeitava os cabelos da menina. c) Cláudia e Luís estão de namoro. d) O piloto não teme a velocidade e) O navio estava atracado no porto. 4) Assinale a alternativa em que os substantivos obedecem a sequência sobrecomuns, comuns de dois, epicenos: a) vítima – jovem – onça b) indivíduo – cônjuge – tigre c) mártir – pessoa – avestruz d) carrasco – monstro – cobra e) criança – algoz - peixe 5) Dadas as frases: I - “Não cobiço a margem da estrada, porque não busco um pouso, mas um fim.” II - “Nunca é perdido o tempo dedicado ao trabalho.” III - “Um tolo é desagradável, mas um pedante é insupor- tável.” IV - “A eternidade é um oceano sem praias.” verificamos que há caso de substantivação: a) Apenas em I. b) Apenas em II. 44 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas c) Apenas em III. d) Apenas em I e III. e) Apenas em II e IV. Ângelo Renan Acosta Caputo Atualizado por Isabel Regina Lima Mendes1 Capítulo 3 O Adjetivo1 1 Especialista em Educação Professora da Universidade Luterana do Brasil e da Rede Pública de Educação Básica. 46 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Introdução Vimos no capítulo anterior a definição, a classificação e as flexões do substantivo - classe de palavras que serve para dar nomes aos seres. A partir de agora estudaremos o ADJETIVO, o qual exprime qualidade ou modo de ser do substantivo. Ve- remos como identificá-lo, classificá-lo e flexioná-lo, além de constatar como pode ser empregado. Leia o texto a seguir, observando o emprego das palavras destacadas. Exageros à parte, podemos completar, com algumas pala- vras destacadas, as duas colunas a seguir: Capítulo 3 O Adjetivo 47 De acordo com o que foi visto no capítulo anterior, as pa- lavras da primeira coluna são denominadas substantivos. As palavras da segunda coluna, por se referirem a eles, acom- panhando-os, determinando-os, modificando-os, dando-lhes características, qualidades, indicando-lhes lugar de origem, são chamadas adjetivos. Vejamos o que podemos encontrar nas gramáticas... 48 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Classificação Quanto à classificação, os adjetivos podem ser:  PRIMITIVOS: não derivam de outra palavra. Ex.: triste, fácil;  DERIVADOS: gerados a partir de outras palavras (subs- tantivos, verbos ou outros adjetivos). Ex.: tristonho, po- derosa, oportunista;  SIMPLES: formados por um só elemento. Ex.: escultural, sedutor;  COMPOSTOS: formados por dois ou mais elementos. Ex.: luso-brasileiro, azul-claro;  PÁTRIOS ou GENTÍLICOS: indicam nacionalidade ou lugar de origem. Ex.: brasileiro. Capítulo 3 O Adjetivo 49 Locuções adjetivas É comum o uso de expressões formadas por mais de uma pa- lavra para caracterizar o substantivo. A essas expressões, equi- valentes a adjetivos, chamamos locuções adjetivas. Ex.: rede de lojas; lucros sem limites; amor de sua vida. Essas LOCUÇÕES PODEM SER FORMADAS por:  preposição + substantivo (caso mais comum) Ex.: rede de lojas; lucros sem limites; amor de sua vida.  preposição + advérbio Ex.: andar de cima; porta da frente; jornal da tarde; patas de trás. EXEMPLOS: Floresta a perder de vista. Rapaz sem-vergonha. Produtos de primeira. Desculpa sem pés nem cabeça. Para muitas locuções adjetivas, há um adjetivo correspon- dente, porém NEM TODAS podem ser substituídas: EXEMPLOS: Lucros sem limites. Lucros ilimitados. Homem sem capacidade. Homem incapaz. Material de escola. Material escolar. Amor de mãe. Amor materno. Amor da sua vida. ∅ 50 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Meninos de rua. ∅ Aula de português. ∅ Dia de jogo. ∅ Como você pode perceber, nos quatro últimos exemplos não há adjetivos correspondentes. Adjetivos eruditos Muitos adjetivos eruditos, significando relativo(a) a, próprio(a) de, semelhante a, da cor de, equivalem a locuções adjetivas. Por vezes, por possuírem radicais latinos, cujo sig- nificado não é de fácil reconhecimento para os falantes, são pouco utilizados, como, por exemplo: nariz aquilino (semelhante ao bico da águia); Ilustração: Marcelo Germano - LAC Ulbra EAD. Adaptado de: PDI ULBRA 2017- 2022. Capítulo 3 O Adjetivo 51 Catedral ebúrnea de marfim Bola ígnea de fogo Cor plúmbea de chumbo Flexão dos Adjetivos Os adjetivos podem variar em gênero, número e grau. Gênero Quanto ao gênero, os adjetivos simples podem ser unifor- mes ou biformes.  UNIFORMES: apresentam uma só forma para indicar gênero masculino e feminino. Ex.: a vida triste; o dia triste.  BIFORMES: apresentam uma forma para gênero mascu- lino e outra para o feminino. Ex.: Anita tímida, poderosa; Francisco tímido, poderoso. Quanto ao gênero, nos adjetivos compostos, apenas o úl- timo elemento assume a forma feminina. Ex.: guerra ibero-americana; festa cívico-religiosa; saia verde-escura. A única EXCEÇÃO é o adjetivo SURDO-MUDO, pois as- sume a forma feminina para os dois elementos: “moça surda- -muda”. Número 52 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Os adjetivos simples ficam no singular ou no plural, con- cordando com o substantivo a que se referem. Ex.: rede conhecida – redes conhecidas; dia inesquecível – dias inesquecíveis; corpo escultural – corpos esculturais. Nos adjetivos compostos, assim como na flexão de gênero, apenas o último elemento vai para o plural. Ex.: assessoria técnico-científica – assessorias técnico-cien- tíficas Veja a seguir algumas EXCEÇÕES:  O adjetivo SURDO-MUDO, como na flexão de gênero, flexiona os dois elementos. Ex.: surdo-mudo; surdos-mudos. SÃO INVARIÁVEIS:  Os adjetivos referentes a cores, quando o segundo ele- mento da composição é um substantivo. Ex.: blusas azul-pavão; portas branco-gelo; bandeiras ver- de-esmeralda.  os adjetivos AZUL-MARINHO e AZUL-CELESTE. Ex.: roupas azul-marinho; tintas azul-celeste. Capítulo 3 O Adjetivo 53 Graus A qualidade de um ser pode variar em intensidade. Para ex- pressar essa intensidade, o adjetivo pode ser usado no grau COMPARATIVO ou no grau SUPERLATIVO. GRAU COMPARATIVO: por meio de comparação, pode- mos indicar que um dos elementos comparados é superior, inferior ou igual ao outro. Anita era mais poderosa que sua irmã. Anita era menos poderosa que sua irmã. Anita era tão poderosa quanto sua irmã. Um mesmo ser pode, também, ter suas características com- paradas. O namorado era mais interesseiro que romântico. O namorado era menos inteligente que galanteador. O namorado era tão descuidado quanto inexperiente. Dessa forma, podemos dizer que o grau comparativo pode estabelecer superioridade (mais... que, mais... do que); infe- rioridade (menos... que; menos... do que) ou igualdade (tão... quanto; tão... como; tanto... quanto; tanto... como). GRAU SUPERLATIVO: nesse caso, não há elementos a se- rem comparados, mas um grau mais intenso da característica dada ao substantivo. Os adjetivos podem aparecerno grau superlativo, que se divide em absoluto e relativo. O grau su- perlativo absoluto divide-se, ainda, em sintético e analítico. E o relativo, por sua vez, pode ser de inferioridade, de igualdade ou de superioridade. 54 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Veja a seguir. Grau superlativo absoluto Grau superlativo relativo Existem alguns adjetivos que apresentam formas especiais para o comparativo e o superlativo. São eles os vocábulos: bom, mau, pequeno e grande. Capítulo 3 O Adjetivo 55 Particularidades do adjetivo Existem outros recursos para indicar o superlativo:  através da prefixação. Ex.: Um brasileiro multimilionário foi reconhecido fora da- qui;  através da repetição do adjetivo. Ex.: Sua vida era triste, triste;  com o auxílio de certas expressões da língua coloquial. Ex.: Ela era podre de rica; Ele era lindo de morrer; Ela so- freu à beça;  com uma entonação mais enfática no artigo. Ex.: Ele se considerava o bom;  através dos sufixos aumentativos e diminutivos. 56 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Ex.: Fortão, ele impressionava as mulheres; Ela era feinha;  através de determinadas comparações. Ex.: Feia como um dragão e rápida como um trovão. Implicações no emprego de alguns adjetivos A escolha pela forma de usar o adjetivo pode afetar o efei- to de sentido. Vejamos!  A opção entre adjetivo e oração adjetiva é intencional e afeta o sentido. Há diferença entre dizer “o olhar se- dutor” e “o olhar que seduz”. No primeiro uso, a ideia é a de que o olhar é sempre sedutor; essa é uma ca- racterística inerente ao olhar. No segundo, a ideia é a de que o olhar seduz esporadicamente, em situações determinadas.  Negar o adjetivo não é o mesmo que afirmar seu antô- nimo. Dizer: meu namorado não é bonito não é a mes- ma coisa que dizer meu namorado é feio. Há, nesses casos, uma gradação decrescente de beleza.  Há diferença entre a negação do adjetivo e o uso de um antônimo formado por prefixo de negação (a , des , anti ). O sentido é diferente nos enunciados “ela não é feliz” e “ela é infeliz”. O primeiro uso é mais brando que o segundo.  Em muitos casos, o fato de o adjetivo aparecer antes ou depois do substantivo a que se refere pode causar gran- de diferença no sentido. Dizer “ela é uma pobre mulher” não é o mesmo que “ela é uma mulher pobre”. Pobre Capítulo 3 O Adjetivo 57 mulher: mulher sofrida, infeliz, triste, que inspira com- paixão, pena. Mulher pobre: sem condições financeiras. Recapitulando Adjetivos são palavras que caracterizam um substantivo, con- ferindo-lhe uma qualidade, característica, aspecto ou estado. Eles classificam-se em: primitivos, derivados, simples, compos- tos e pátrios ou gentílicos; e variam em gênero (masculino e feminino) e em número, conforme o substantivo a que carac- terizam. A palavra “antigo” flexionará para “antigas” se esti- ver acompanhando o substantivo “casas”, por exemplo. Os adjetivos flexionam também em grau (normal, comparativo e superlativo). Além de ter atenção para as variações de efeito de sentido que ocorre de acordo com o uso dos adjetivos, é importante saber que muitas vezes usamos uma expressão (conjunto de palavras) para dar uma característica a um subs- tantivo, a que chamamos de locução adjetiva. Referências ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed., São Paulo: Saraiva, 2005. FARACO, Carlos E.; MOURA, Francisco M. Gramática. 9. ed., São Paulo: Ática, 2000. 58 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas MARTINS, Dileta S.; ZILBERKNOP, Lúbia S. Português instru- mental. 22. ed., Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003. MESQUITA, Roberto. Gramática da língua portuguesa. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2002. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do portu- guês. 2. ed., São Paulo: Unesp, 2011. NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contempo- rânea da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1999. PERINI, Mário A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. Atividades 1) Não se destacou adjetivo ou locução adjetiva em: a) “... é um erro igual ao de afirmar” b) “... não lhe inseriu riquezas novas...” c) “... a influência do povo é decisiva...” d) “... a influência do povo é decisiva...” e) “... certos modo de dizer, locuções novas...” 2) Em “Cristo foi o mais pobre, o mais sábio e o mais humilde dos homens”, os adjetivos encontram-se no grau: a) superlativo relativo de superioridade. Capítulo 3 O Adjetivo 59 b) superlativo absoluto sintético. c) comparativo de inferioridade. d) superlativo absoluto analítico. e) comparativo de superioridade. 3) É falsa a correlação entre o adjetivo e a locução corres- pondente na opção: a) Corpo de alunos = discente b) Impressões dos dedos = digitais c) Água da chuva = pluvial d) agilidade de gato = lupina e) atividades de ensino = didáticas 4) Dadas as afirmações: I - O superlativo absoluto sintético de ágil é agíssimo ou agílimo. II - O grau diminutivo sintético de colher é colherzinha ou colherinha. III - O grau diminutivo sintético de chapéus é chapéizinhos. Constatamos que está (estão) correta(s) a) Apenas a afirmação I. b) Apenas a afirmação II. c) Apenas a afirmação III. 60 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas d) Apenas as afirmações I e III. e) Todas as afirmações. 5) Qual das opções abaixo apresenta adjetivo uniforme? a) “... enchendo de florinhas vermelhas...” b) “...em composição surrealista...” c) “...chegou a vez da pequena sala de estar...” d) “...ou de gavetas sigilosas...” e) “...a alegria de formas novas...” Adriana Lemes Atualizado por Isabel Regina Lima Mendes1 Capítulo 4 O Verbo1 1 Especialista em Educação Professora da Universidade Luterana do Brasil e da Rede Pública de Educação Básica. 62 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Introdução Os verbos são criados pela necessidade de expressarmos al- guma ação ou processo. Têm a propriedade de localizar, no tempo, fatos, ações e situações. Dessa forma, trazem uma no- ção oposta a dos nomes, os quais se referem aos seres de ma- neira estática, não indicando relações temporais. Na primeira parte deste capítulo, conceituaremos o verbo, trabalharemos com sua estrutura morfológica e abordaremos a complexidade de suas flexões, bem como a versatilidade com que se desdo- bra na expressão das vozes verbais. Depois, veremos a classi- ficação dos verbos quanto à flexão, a formação dos tempos e os principais aspectos verbais. O verbo Analisemos o texto a seguir: “A Antiguidade greco-romana conheceu o amor quase sempre como uma paixão dolorosa e, apesar disso, digna de ser vivida e, em si mesma, desejável. Esta verdade, legada pelos poetas de Alexandria e Roma, não perdeu nem um pou- co de sua vigência: o amor é desejo de completude e, assim, responde a uma necessidade profunda dos homens.” O texto nos remete ao conceito de amor como desejo de completude, que é inerente ao ser humano desde sempre. As- sim como o amor, o verbo traz em si o significado amplo de força geradora das vontades humanas, pois verbo é, na sua primeira acepção, “palavra”, e é pela palavra que a humani- dade traduz seus anseios de gerir seus destinos e de acontecer. Capítulo 4 O Verbo 63 Gramaticalmente, o verbo pode ser conceituado a partir de três pontos de vista, descritos na sequência. a. SEMÂNTICO − É uma palavra que indica um processo situado no tempo (ação, estado ou fenômeno). Exemplos: O amor responde a uma necessidade humana. (ação) O sentimento do amor permanece imutável. (estado) Amanhece. (fenômeno) b. SINTÁTICO − É a palavra pela qual se realizam atribui- ções feitas ao sujeito da frase. É um constituinte indispen- sável de qualquer ato de predicação. Exemplo: A Antiguidade / conheceu o amor como uma paixão dolo- rosa. SUJEITO PREDICADO (CONHECEU = VERBO) c. MORFOLÓGICO − O verbo apresenta desinências típi- cas para marcar pessoa, número, tempoe modo. Exemplo: Se nós amássemos os outros como a nós mesmos, o mundo seria melhor. -sse – desinência que marca tempo imperfeito, modo sub- juntivo. 64 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas -mos – desinência que marca primeira pessoa, número plu- ral. É de suma importância entender esses conceitos para o bom emprego dessa classe nos contextos linguísticos. A seguir, veremos a estrutura do verbo. Estrutura do verbo As formas verbais possuem uma estrutura morfológica complexa. Um radical verbal (o morfema portador de um con- teúdo lexical) combina-se com uma vogal temática (morfema gramatical que indica a classe ou a conjugação a que perten- ce o verbo) e desinências (morfemas que marcam as flexões) modo-temporais e número-pessoais. À combinação do radical verbal com a vogal temática dá-se o nome de tema verbal. Ao examinarmos a estrutura do verbo, podemos identificar três partes: radical, vogal temática e desinências. I - O RADICAL é a parte do verbo que serve como base do significado. Obtemos o radical do verbo retirando as termina- ções -ar, -ere -ir do infinitivo. Capítulo 4 O Verbo 65 II - A VOGAL TEMÁTICA é a que se agrega ao radical, preparando-o para receber as desinências. Usamos as vogais a, e, i como elemento de ligação quando não é possível juntar a desinência diretamente ao radical. É a vogal temática o elemento que indica a que conjuga- ção pertence o verbo:  vogal temática a – 1ª conjugação: cantar  vogal temática e – 2ª conjugação: bater  vogal temática i – 3ª conjugação: partir CURIOSIDADE O verbo “pôr” pertence à segunda conjugação. Isso acontece porque ele é derivado do verbo latino “poer”. 66 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas O radical acrescido da vogal temática recebe o nome de tema. RADICAL + VOGAL TEMÁTICA = TEMA Cant + a = canta Bat + e = bate Part + i = parti III - As DESINÊNCIAS são elementos que se acrescentam ao radical (ou ao tema) para indicar as categorias gramaticais de tempo e modo (desinência modo-temporal) e de pessoa e número (desinência número-pessoal). Exemplos Como podemos observar, entender essa estrutura interna das formas verbais permite, além de identificar o significado pelo radical e a conjugação verbal por meio da vogal temá- tica, reconhecer e usar as flexões que essa classe gramatical aceita. Capítulo 4 O Verbo 67 Flexões do verbo O verbo é a classe de palavras que admite quatro formas de flexão: tempo, modo, número e pessoa. Com exceção da fle- xão de número, comum a outras classes gramaticais, as outras três são específicas dos verbos. Vamos observar, no texto a seguir, como os verbos podem ser flexionados para atender às necessidades de expressão no texto escrito. “Eu vi uma mulher verdadeiramente bela. Seus cabelos são ne- gros e luzidios como azeviche; seus olhos grandes, pretos e ar- dentes dardejavam vistas de fogo tão penetrantes como o raio de sol.” No texto, além da beleza do estilo descritivo, observamos o uso de verbos em que podemos identificar flexões que lhes foram aplicadas para expressar noções de: a. modo: indicativo (certeza de ocorrência da ação); b. tempo: pretérito perfeito (vi), pretérito imperfeito (dar- dejavam), presente (são); c. número: singular (vi), plural (são; dardejavam). De acordo com o que escrevem Faraco e Moura, “O verbo é a classe de palavras que apresenta o maior número de fle- xões na língua portuguesa. Em vista disso, uma forma verbal pode trazer em si diversas informações”. A forma “dardeja- vam”, por exemplo, indica: 68 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas  a ação de dardejar;  a pessoa gramatical que pratica essa ação: eles;  número gramatical: plural;  tempo em que a ação ocorreu: pretérito;  modo como é vista a ação: certeza da ocorrência (indi- cativo). Como vimos, o verbo sofre flexões, desdobrando-se em possibilidades de expressão que a língua portuguesa nos ofe- rece. Vamos, a seguir, apresentar como cada uma das formas de flexão verbal se configura, observando a relação estabele- cida entre a forma verbal e o nome a que se refere (flexão de número), a referência à pessoa gramatical (flexão de pessoa), a atitude do falante em relação ao conteúdo de seu enunciado (flexão de modo) e a referência ao momento em que aconte- ceu o fato expresso pelo verbo (flexão de tempo). Flexões de número O verbo pode variar quanto ao número. As formas verbais apresentam-se no singular ou no plural, de acordo com a re- lação que têm com os nomes que as acompanham. O verbo admite dois números: singular e plural.  SINGULAR O verbo se refere a um ser apenas. Exemplos: Eu observo a bela mulher que se aproxima. Capítulo 4 O Verbo 69 Esta mulher tem cabelos longos e ondulados.  PLURAL O verbo se refere a mais de um ser. Exemplos: Nós observamos a bela mulher que se aproxima. Estas mulheres têm inteligência e beleza. Flexões de pessoa A flexão de pessoa é marcada nas formas verbais dependendo da pessoa do discurso a que se referem: primeira, segunda ou terceira pessoa. Vejamos o quadro a seguir. Pessoas gramaticais: flexões verbais de pessoa e número. Os pronomes de tratamento (você, o senhor, a senhora, vossa excelência, etc.), apesar de indicarem a pessoa com 70 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas quem se fala, pedem o verbo na terceira pessoa. Ex.: Você so- nha. O pronome vós, em algumas ocasiões, refere-se apenas a uma pessoa. Usa-se frequentemente nas preces, designando Deus. Ex.: Pai nosso, que (vós) estais nos céus. Como nos mostra o quadro, a flexão de pessoa está arti- culada com a flexão de número, pois as três pessoas podem apresentar-se no singular ou no plural, conforme o contexto discursivo em que estão inseridas. Flexões de modo Os modos verbais têm a propriedade de indicar a atitude do falante em relação ao conteúdo de sua fala/escrita. Assim, o falante usa verbo no MODO INDICATIVO quando o que deseja expressar é tomado por ele como certo; usa o MODO SUBJUNTIVO quando o que deseja expressar é tomado por ele como incerto, duvidoso, hipotético; usa o MODO IMPERA- TIVO quando o conteúdo que deseja expressar se constitui em uma ordem, um conselho, um convite ou um pedido. Portanto, há três modos em português:  MODO INDICATIVO Indica certeza diante do fato. Ex.: A mulher tinha cabelos negros e luzidios.  MODO SUBJUNTIVO Indica dúvida diante do fato. Ex.: Talvez ela tivesse vinte anos.  MODO IMPERATIVO Indica uma ordem, um conselho, um convite ou um pedido. Capítulo 4 O Verbo 71 Ex.: Venha depressa. Flexões de tempo É a propriedade que tem o verbo de localizar o fato no tempo, em relação ao momento em que se fala. Os três tem- pos básicos são: PRESENTE, PRETÉRITO e FUTURO. Essa divi- são em três tempos, porém, não é suficiente para descrever os múltiplos usos do tempo verbal em português. Por isso, temos: Vamos observar os esquemas a seguir, os quais explicam e exemplificam o uso dos tempos verbais nos três modos (indica- tivo, subjuntivo e imperativo), sempre tomando como ponto de referência o momento da enunciação do fato. Tempos verbais do modo indicativo 72 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Tempos verbais do modo subjuntivo Formas verbais do modo imperativo No modo imperativo, a ação acontece no momento pre- sente, na forma afirmativa ou na negativa. Capítulo 4 O Verbo 73 FORMA MODO IM- PERATIVO EXPLICAÇÃO EXEMPLO Afirmativa Ordem, pedido ou conselho expressos de forma afirmativa. Desça daí, menino. Sente-se, por favor. Negativa Ordem, pedido ou conselho expressos de forma negativa. Não percamos mais tempo! Não pise na grama. Formas nominais Há ainda três formas que não exprimem exatamente o tempo em que se dá o fato expresso. São chamadas formas nominais, identificadas a seguir.  INFINITIVO Pode ser impessoal ou pessoal. a. Impessoal Ex.: cair b. Pessoal Ex.: Cair eu em tentação? Nunca! Cairmos nós em uma armadilha?É provável.  GERÚNDIO Ex.: Estás caindo em contradição.  PARTICÍPIO Ex.: Havia caído muita chuva naquele dia. 74 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas O verbo, pois desdobra-se em flexões para dar conta das inúmeras nuances de que nossa língua precisa para atender às necessidades de expressão de seus usuários. Vozes verbais A categoria da chamada voz verbal configura-se a partir da relação que se estabelece entre o verbo e o seu sujeito, sendo que pode esse sujeito ser AGENTE da ação ou estado que o processo verbal encerra, ser PACIENTE e sofrer a ação encer- rada pelo verbo ou, ainda, ser, ao mesmo tempo, AGENTE e PACIENTE do processo expresso pelo verbo. Voz é então a forma que o verbo assume para indicar a relação entre ele próprio e seu sujeito, indicando se este é agente, paciente ou, ao mesmo tempo, agente e paciente. I- ATIVA – O sujeito é AGENTE DO FATO EXPRESSO, por- que pratica a ação verbal. Exemplo: Maria observava a chuva. SUJEITO +VERBO II- PASSIVA − O sujeito é o PACIENTE, porque recebe a ação verbal. Exemplo: A chuva era observada por Maria. SUJEITO + LOCUÇÃO VERBAL NA AGENTE DA PASSIVA VOZ PASSIVA (ELEMENTO QUE REALMENTE PRATICA A AÇÃO DE OBSERVAR) Capítulo 4 O Verbo 75 A voz passiva pode ser: a. ANALÍTICA − formada com os verbos ser, estar e ficar, seguidos do particípio do verbo principal. Exemplo: A paisagem chuvosa foi observada por todos. (SER + PARTICÍPIO DE OBSERVAR) b. SINTÉTICA – formada por um verbo transitivo direto (VTD), ao qual se liga o pronome se na função de apassivador. Exemplo: Observou-se a paisagem chuvosa. (VTD + PRONOME SE) III- REFLEXIVA – O sujeito é agente e paciente, pois, ao mesmo tempo, pratica e recebe a ação verbal. Exemplo: Molhei-me, ao sair na chuva. (VERBO + PRONOME PESSOAL OBLÍQUO ME = A MIM MESMA) Quando no plural, a voz reflexiva pode indicar reciproci- dade de ação. Ex.: Nós nos olhamos. (um olhou para o outro) De acordo com Sacconi, existem ainda os verbos neutros, que não dependem da ação, da vontade do sujeito (nascer, viver, morrer, dormir, acordar, sonhar, etc.), e não podem ter voz ativa, passiva ou reflexiva, porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente ou agente-paciente. Os verbos de 76 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas sentido passivo também não podem ter voz ativa, passiva ou reflexiva. Ex.: Ele levou uma bronca. (O verbo encerra sentido de passividade, mas não está na voz passiva.) Nesse exemplo, o sujeito ele não é agente nem paciente porque o verbo levar não apresenta relação de passividade com o sujeito nem estrutura gramatical própria da voz passiva. Podemos afirmar, então, que essa forma verbal está gramati- calmente na voz ativa, mas semanticamente não. Classificação dos verbos Os paradigmas de conjugações verbais são modelos pelos quais podemos nos guiar para nos expressarmos, flexionando o verbo em adequação ao modo e ao tempo. Nem sempre os verbos enquadram-se nos modelos de conjugação. Ocorre também de algumas formas verbais exercerem a função de auxiliar a conjugação de outro verbo. Em vista disso, classifi- camos os verbos pelos seguintes critérios:  FUNÇÃO É considerado se o verbo encerra o núcleo de significação da proposição ou se auxilia na formação de tal significado.  FLEXÃO É considerada a forma como os verbos se comportam com relação ao paradigma da conjugação a qual pertencem, isto é, a maior ou a menor obediên- cia ao padrão da sua conjugação. Capítulo 4 O Verbo 77 Vamos, a seguir, examinar em detalhes essas duas classifi- cações. Classificação dos verbos quanto à função Levando em conta o critério da função, ou seja, se o verbo é de conteúdo significativo ou auxilia na formação desse signifi- cado, classificamos as formas verbais em AUXILIARES e PRIN- CIPAIS, conceitos que explicamos na sequência. Verbo auxiliar É o verbo que, dispensando seu significado próprio, é usado para auxiliar a conjugação de outro, denominado principal. Exemplo: Está chegando o verão. VERBO + VERBO AUXILIAR + PRINCIPAL Os verbos mais comumente usados como auxiliares são: ser, estar, ter e haver. O verbo auxiliar atua como recurso para compensar certas noções que o verbo principal não consegue exprimir sozinho. Dessa forma, os verbos, quando usados como auxiliares, as- sumem várias funções, descritas a seguir. a. SER, ESTAR e FICAR − São usados para formar a voz passiva. Exemplos: Ele foi encontrado na noite seguinte. 78 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Maria está cercada por bons amigos. Os campos ficaram cobertos pela geada. A voz passiva pode ser formada também por outros auxilia- res, como andar, ir, vir e viver. Exemplos: O prédio andou interditado pela polícia. Ele sempre ia acompanhado pelo irmão. A criança vinha carregada pelo pai. Esse bairro vive ameaçado por ladrões. b. TER e HAVER − Formam tempos compostos junto com o particípio do verbo principal. Exemplos: Eu tinha imaginado. Eu havia imaginado. Tu tinhas estudado. Tu havias estudado. Nas locuções verbais, o verbo principal sempre ocorre no infinitivo, no particípio ou no gerúndio, e é o verbo auxiliar que se flexiona. Exemplos: Ele vem chegando. Ela vai estudar. Tu vens chegando. Tu vais estudar. Nós vamos chegando. Nós vamos estudar. Algumas vezes, pode ocorrer uma preposição entre o verbo auxiliar e o principal. Exemplos: Eu tenho de estudar. Tu tens de dizer a verdade. Capítulo 4 O Verbo 79 Verbo principal É o verbo que encerra o núcleo de significado em um tem- po composto ou em uma locução verbal. Exemplos: Tenho estudado. Ela vai estudar. Classificação dos verbos quanto à flexão Sob o critério da flexão, os verbos são classificados confor- me sigam mais ou menos o modelo da conjugação à qual per- tencem. Sua maior ou menor obediência ao modelo determina sua classificação em: REGULARES, IRREGULARES, ANÔMA- LOS, DEFECTIVOS e ABUNDANTES. Vejamos como podemos definir esses conceitos. Regulares O verbo regular mantém o radical inalterado durante a conju- gação, e suas terminações seguem o modelo da conjugação a que pertence. Ex.: verbo cantar Presente do indicativo 80 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Pretérito perfeito Se o verbo não tiver seu radical alterado e se as termina- ções seguirem o modelo da conjugação no presente e/ou no pretérito perfeito do indicativo, então o verbo será regular nas demais formas. Capítulo 4 O Verbo 81 Irregulares O verbo tem seu radical alterado durante a conjugação ou suas terminações não seguem o modelo da conjugação a que pertence. Ex.: verbos ouvir e estar Presente do indicativo Pretérito perfeito do indicativo 82 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Perceba que o radical do verbo ouvir se alterou de ouv- para ouç- na primeira pessoa do presente do indicativo. En- tão, no caso desse verbo, a irregularidade se apresenta no RADICAL. Já no caso do verbo estar, a irregularidade se revela na terminação, que, na primeira pessoa do presente do indica- tivo (est − ou), é diferente da terminação dos verbos da 1ª conjugação, como cantar (cant − o), amar (am − o) e outros regulares. Anômalos São verbos em cuja conjugação aparece mais de um radical. Exemplos: Verbo ser − sede, és, é, era, fui Verbo ir − vou, fui, irei Capítulo 4 O Verbo 83 Presente do indicativo SER IR Radical Terminação Radical Terminação so- -u vo- -u é- -s va- -is é _ va- -i so- -mos va- -mos so- -is id- -es sã- -o vã- -o Pretérito perfeito do indicativo SER IR Radical Terminação Radical Terminação fu- -i fu- -i fo- -ste fo- -ste fo- -i fo- -i fo- -mos fo- -mos fo- -stes fo- -stes fo- -ram fo- -ram Defectivos São verbos que não apresentam todas as formas, ou seja, em algumas pessoas não são conjugados. Exemplos: verbos abolir, falir, reaver e precaver. Presente do indicativo 84 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Para podermos nos expressar usando umverbo defectivo, temos a alternativa de usar uma locução verbal em lugar da forma inexistente. Por exemplo, em vez da 1ª pessoa do singu- lar do presente do indicativo (inexistente: eu “abolo”), pode- mos usar “eu estou abolindo”. Abundantes São verbos que apresentam mais de uma forma com um único valor, ou seja, para expressar tempo, pessoa, número e modo. Vamos observar o verbo haver, que apresenta as formas equivalentes haveis ou heis no presente do indicativo. Capítulo 4 O Verbo 85 Eu hei de vencer Tu hás de vencer Ele há de vencer Nós havemos de vencer Vós haveis de vencer ou vós heis de vencer Eles hão de vencer No exemplo, vimos a abundância do verbo haver, que apresenta dupla forma para a 2ª pessoa do plural do pre- sente do indicativo. Porém, é no particípio que mais notamos a abundância de formas com o mesmo valor. Há o particípio regular, terminado em -do, e outro irregular. Os particípios REGULARES são usados na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver. Já os particípios irregulares são em- pregados na voz passiva analítica, ou seja, com os verbos ser, estar, ficar, entre outros. Nem sempre a língua contemporânea segue essa norma. Apresentamos, a seguir, alguns verbos com duplo particípio e sinalizamos o uso correto dos particípios na voz ativa com A e na voz passiva com P. As formas do particípio que podem ser usadas tanto na voz passiva quanto na ativa aparecem com a indicação AP. Verbos com duplo particípio 86 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Capítulo 4 O Verbo 87 Ex.: frase correta, atitude correta. O particípio irregular do verbo corrigir (correto) não é usa- do com o sentido de “corrigir”, mas sim com o de “certo”, “apropriado”, na função de adjetivo. Existem verbos (e seus derivados) que só possuem o parti- cípio irregular como: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/escrito, fazer/feito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo. O verbo completar não é abundante. Usa-se completado tanto na voz ativa como na passiva. Exemplo: Tinha completado a coleção de moedas naquele dia. A coleção de moedas foi completada naquele dia. Cabe, ainda, observar que as formas verbais podem ter a SÍLABA TÔNICA no radical ou na terminação. Conforme se desenvolve a conjugação do verbo, a sílaba tônica pode deslocar-se, originando, num mesmo tempo verbal, as formas rizotônicas e as arrizotônicas.  FORMAS RIZOTÔNICAS É a forma verbal cuja sílaba tônica está no radical. Exemplo: Eu fal – o Tu fal – as Ele fal – a Eles fal – am 88 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas  FORMAS ARRIZOTÔNICAS É a forma verbal cuja síla- ba tônica está fora do radical, ou seja, na terminação. Exemplo: Nós fal – amos Vós fal − ais Conforme podemos observar nos exemplos, o verbo falar, no presente do indicativo, na 1ª, na 2ª e na 3ª pessoas do singular, bem como na 3ª pessoa do plural, apresenta a sílaba tônica no radical, constituindo-se em formas rizotônicas. Já na 1ª e na 2ª pessoas do plural, a sílaba tônica mostra-se na terminação, fora do radical, sendo, portanto, formas arrizotô- nicas. Conjugação verbal - Formação dos tempos verbais Conjugar um verbo significa apresentar todas as formas em que um determinado radical pode se manifestar ao flexionar- -se, isto é, ao receber a vogal temática da conjugação a que pertence e as desinências de modo e tempo e de número e pessoa. Conhecer como são conjugados e formados os tem- pos verbais, como se originam as tantas formas de que dispo- mos para nos expressarmos é importante para que possamos empregar o verbo no nosso discurso. Como já mencionamos, verbo significa, na sua origem, “palavra”. Quando dizemos abrir o verbo ou deitar o verbo, queremos nos referir ao uso farto das palavras. Conjugar um Capítulo 4 O Verbo 89 verbo é exercer o direito de empregar a palavra. Na conjuga- ção do verbo, certas formas dão origem a outras e, por isso, consideramos FORMAS PRIMITIVAS as formas que dão origem a outras e FORMAS DERIVADAS as que são formadas a partir de outra forma verbal, a primitiva. São formas primitivas as do PRESENTE DO INDICATIVO, as do PRETÉRITO PERFEITO DO INDICATIVO e as do INFINI- TIVO IMPESSOAL. Vamos, a seguir, examinar cada uma das formas primitivas e as formas derivadas que a partir delas são formadas. Presente do indicativo Vejamos a conjugação do presente do indicativo e dos tempos que dele derivam: PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO, PRESENTE DO SUBJUNTIVO, IMPERATIVO AFIRMATIVO, IM- PERATIVO NEGATIVO. O presente do indicativo não traz desinências de tempo e modo, mas somente desinências de pessoa e número, como podemos ver no exemplo a seguir. 90 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Nota: o sinal # indica falta de desinência.  Entre as desinências e o radical, podem ocorrer vogais temáticas. No quadro estão grifadas: a (nos verbos da 1ª conjugação); e (nos verbos da 2ª conjugação); i (nos verbos da 3ª conjugação).  A vogal temática algumas vezes sofre alterações de na- tureza fonética. Por exemplo, no verbo partir, o i alterna com o e: parte – s; parti – mos.  No presente do indicativo, a desinência da 1ª pessoa do singular é o, o que nos ajuda a distingui-lo de outros tempos verbais. Tempos derivados do presente do indicativo Capítulo 4 O Verbo 91 Tendo conhecimento da conjugação do presente do indi- cativo e de suas peculiaridades, vamos observar como se dá a formação de seus tempos derivados. Pretérito imperfeito do indicativo É formado do radical do presente mais as terminações pró- prias do tempo derivado nas três conjugações. É formado com a substituição da desinência -o da 1ª pes- soa do singular do presente do indicativo pelas terminações do presente do subjuntivo. Presente do subjuntivo 92 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas Imperativo O imperativo é considerado um modo verbal derivado do presente do indicativo, embora em sua formação também co- laborem formas retiradas do presente do subjuntivo. Apresenta duas formas:  IMPERATIVO AFIRMATIVO A 2ª pessoa do singular e a 2ª pessoa do plural formam-se das mesmas pessoas do presente do indicativo, retirando-se o -s. As outras pes- soas são retiradas do presente do subjuntivo.  IMPERATIVO NEGATIVO É formado a partir do presen- te do subjuntivo. Observe o esquema para melhor compreender a formação do imperativo afirmativo e do imperativo negativo. Capítulo 4 O Verbo 93 Dando continuidade à nossa análise a respeito dos tempos primitivos, vamos então examinar quais os tempos que se ori- ginam do pretérito perfeito do indicativo. Pretérito perfeito do indicativo Vamos apresentar, a seguir, a conjugação do pretérito perfeito do indicativo e depois mostrar como se formam seus tempos derivados: PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO DO INDICATI- VO, PRETÉRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO e FUTURO DO SUBJUNTIVO. O pretérito perfeito do indicativo, assim como o presente do indicativo, não apresenta desinências de tempo e modo, apenas desinências de pessoa e número. 94 Língua Portuguesa II: Estruturas Morfológicas  A vogal temática pode sofrer alterações de natureza fo- nética. No verbo cantar, o a alterna com o e (cant – e − i) e com o o (cant – o – u).  O pretérito perfeito do indicativo é o único tempo verbal em que a desinência da 2ª pessoa do singular é -ste, facilitando a distinção entre outros tempos. Tempos derivados do perfeito do indicativo Depois de conhecermos a conjugação do tempo primitivo pretérito perfeito do indicativo e suas peculiaridades, vamos então mostrar a formação de seus tempos derivados. O pretérito mais-que-perfeito do indicativo, o pretérito im- perfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo são formados do tema do pretérito perfeito do indicativo mais as terminações desses três tempos derivados. Pretérito mais-que-perfeito do indicativo É formado do tema do pretérito perfeito do indicativo mais as terminações próprias, que aparecem grifadas
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