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Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos Lincoln Tavares Silva Andrea da Paixão Fernandes Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania META DA AULA Discutir a influência das concepções socioculturais de meio ambiente e Educação Ambiental, demonstrando as suas origens e consequências para a sociedade contemporânea. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. reconhecer as concepções de meio ambiente e Educação Ambiental como produtos socioculturais, que se transformam ao longo do tempo; 2. comparar os diferentes entendimentos da relação sociedade- natureza, estabelecidos ao longo do tempo, em diferentes contextos sociais; 3. identificar as influências das concepções diferenciadas de meio ambiente nas condutas humanas em relação ao mesmo e à Educação Ambiental; 4. analisar que dificuldades a Educação Ambiental , realizada de forma crítica e emancipatória, deverá superar para se estabelecer nos espaços escolares e para além deles. Aula 1 Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos Introdução Primeiros passos... ntendemos o meio ambiente como produção social e por apreendê-lo pelas suas interações econômicas, culturais, sociais e políticas, que são concebidas pela sociedade no seu processo de construção histórica, que devemos examinar as concepções que influenciaram esta produção histórica. Isso permite que você pense na importância dessas transformações que se dão ao longo do tempo, nos diferentes lugares, e que são influenciadas e influenciam a relação da sociedade com o ambiente, no qual ela se insere. Diante disso, a compreensão sobre o meio ambiente não pode se reduzir a estudos do mesmo como um mero suporte material de recursos naturais dos quais o homem se utiliza para prover sua subsistência, reprodução e o exercício de suas atividades. Concordamos com Galvão (1992), para quem o meio ambiente é concebido como um sistema aberto, integrando sociedade e natureza em suas múltiplas interações e, portanto, não pode ser entendido, simplesmente, como equivalente à natureza ou ao meio físico. Cabe ressaltar que na história da humanidade esse entendimento nem sempre predominou. Como evoluíram as ideias sobre natureza, sociedade e meio ambiente? A humanidade, ao produzir sua cultura, criou no seio de suas relações diversas normas, valores e regras de convívio que são peculiares ao seu modo de vida. A partir daí, você pode perceber que novas formas de organização sociocultural foram estabelecidas. Isso acontece à medida que as formas de organização existentes deixavam de corresponder ao desejo de mudança das sociedades em transformação. Assim, são muitos os agrupamentos sociais que, ao longo do tempo, são construídos, e diversos são os interesses que predominam ao longo deste processo de construção nos variados lugares. Dessa maneira, a natureza e suas relações com a sociedade, em diferentes momentos históricos, também é concebida de diversas formas. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Procure pensar sobre as sociedades primitivas. Elas eram caracterizadas pela propriedade coletiva comunal, tendo como atividades básicas a caça e a coleta. Nesse processo de organização social e do trabalho, não havia uma transformação da natureza tal como conhecemos hoje. Decorria um relacionamento mítico entre os seres humanos e a natureza. Essa vida comunitária, em que os seres humanos e a natureza compunham uma única trama, foi aos poucos rompida com a introdução e adoção de uma outra hierarquia de valores comandados pela produção de excedentes e pela distinção de classes sociais. Como você deve estar imaginando, não temos a pretensão de esmiuçar séculos da evolução da história humana e sua relação com o meio, mas entendemos que alguns fatos e exemplos transformadores desta história precisam ser enunciados. Entre eles, consideramos importante destacar o surgimento e desenvolvimento das cidades-estados gregas (polis). As polis representaram significativas mudanças na organização espacial da sociedade. Exemplos dessas transformações são o grande desenvolvimento do comércio e da navegação e a elaboração de uma escrita alfabética, que permitiu a divulgação e o acesso público às ideias. Esses fatos criaram a exigência de que as “velhas” linguagens e suas correspondentes concepções sobre o natural e a natureza fossem substituídas. É na Grécia do século VI a. C. que nasce, com a Filosofia, uma forma de reflexão sobre a natureza, os homens e o seu universo. Essa produção de novas ideias e valores acerca do significado da natureza, encampada pelos filósofos gregos, ocorre num momento de grande dinamismo do mundo grego. Resulta daí o fato de a Grécia marcar a cultura ocidental pela dicotomia entre a natureza e a sociedade. Os gregos abandonam a Mitologia e buscam RACIONALIDADE A racionalidade pode ser definida como o sistema de regras de pensamento e condutas dos atores sociais, estabelecidas no âmbito de estruturas econômicas, políticas e ideológicas determinadas, que dão legitimidade a um conjunto de ações, conferindo um sentido à organização da sociedade. na RACIONALIDADE esta concepção de natureza (orgânica, imutável) que sobreviveu em todo o Império Romano e manteve-se praticamente inalterada durante todo o período da Idade Média cristã. Mais adiante, durante a Idade Média, a natureza foi tomada, com Santo Agostinho, inspirado em seu mestre Santo Ambrósio, como lugar do carnal, da bestialidade e, após o abrandamento de Santo Tomás de Aquino, como lugar da graça de Deus (LENOBLE, 1990), habitada por um homem que, em si, detém a escolha entre o trilho do bem e o do mal. Isto fica claro ao entendermos que para Aquino a causa e a raiz do bem humano são a razão e esta última reproduz ou espelha a natureza. Aula 1 Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos Depois da Revolução Científica do século XVII, o caráter atribuído à natureza será diferente. Com o fim da sociedade feudal e a emergência do capitalismo estabeleceu-se um novo modo de relações sociais e de produção. Este veio acompanhado por uma nova visão de natureza e uma concepção diferenciada de seu uso e existência pelas sociedades. Assim, a natureza deixa de ser a “mãe nutriente” e dadivosa para ser uma espécie de máquina operada/manipulada, desde que se conheçam as regras de seu funcionamento. Predominam, nesta interpretação, o modelo das máquinas, a universalidade dos números, a precisão das figuras geométricas, assim como um ser humano que se envaidece como manipulador do conhecimento, de forma muito diferente daquele originário da contemplativa ciência grega. Como você pode notar, primeiramente dessacralizou-se o mundo divino e, depois, em sequência, racionalizou-se o mundo dessacralizado. A natureza foi desumanizada e o homem foi desnaturado. A natureza, como ressaltou Robert Lenoble, deixou gradativamente de preencher a afetividade humana e passou a ser uma natureza compartimentada por alguns especialistas e estudiosos. Segundo Moreira (1993), a argumentação filosófica cartesiana serviu-se como base da divisão espírito- matéria, incrementando a concepção judaico-cristã de separar corpo e alma, razão e corpo. O homem de Descartes era à imagem e semelhança de Deus e a natureza apenas um mundo exterior que, como tal, transformou-se em um recurso a ser explorado. O pensamento cartesiano, fundado na autonomia do sujeito pensante, livre dos valores culturais e tradicionais advindos da religião, que o subjugam junto comas determinações da natureza, passa a constituir a base da educação e, por conseguinte, de todo procedimento metodológico das ciências naturais. É esta alquimia do modernismo, conforme afirmou Grün (1996), que dá um novo significado à natureza. Sua base são as ideias de Galileu Galilei (1564-1642), Francis Bacon (1561-1626), Descartes (1596-1650) e Isaac Newton (1642-1727). Com Galileu deu-se a ideia de uma natureza sem vida e mecânica, resultando na perda da sensibilidade estética, valorativa e ética. Coube a Bacon preconizar a fundação de uma nova cultura. Já Newton foi bastante aceito nas universidades e assim assegurou o papel da sistematização e disseminação da atividade científica. Além disso, você não nos perdoaria se esquecêssemos de destacar que a dominação da natureza tem sido também a própria história da dominação do ser humano por outro ser humano, estabelecendo aquilo que Ruy Moreira denominou de tricotomia, ou seja, a separação natureza- corpo-mente. Cabe-nos ainda lembrar que essa reconceituação de natureza confiada a filósofos foi fomentada pela burguesia estabelecida na época, que em alguns casos financiava estes novos filósofos e, consequentemente, o desenvolvimento das concepções que ajudaram a formular. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Você deve imaginar quais são, nos dias atuais, as consequências desse modo de pensar estabelecido a partir do século XVII. Todavia, cabe destacar que, no século XVIII, o conhecimento do mundo objetivo rompeu, de forma mais brusca, com esta metafísica, principalmente com a de Descartes. Neste período, outros pensadores, tais como Hume, Condillac e, um pouco antes, Locke, vieram a questionar e retirar do homem a propriedade de substância pensante que foi atribuída a este pelo legado cartesiano, transformando a alma em uma mecânica de sensações, reveladora das aparências que passam. Disso resultou a reação da afetividade promovida por Rousseau que culminou no movimento romântico (LENOBLE, 1990 e CARVALHO, 2001). Em Rousseau, há uma radicalização do conceito de natureza, o que não implica uma natureza pacificada. Para tal filósofo, há de haver uma educação da natureza, não uma volta a ela. Um aprendizado guiado pelos sentidos, no qual, pela observação dos fenômenos da natureza, realiza- se um distanciamento em relação a esta. Essas concepções, que podem ser consideradas como parte das raízes do interesse contemporâneo pela natureza, nasceram como crítica aos efeitos evidenciados com a deterioração do meio ambiente e da vida nas cidades, causados pela Revolução Industrial. Tal reação da afetividade foi, em muito, o reflexo de um mundo que passou por um processo de desencantamento, de queda dos antigos valores, sem que novos emergissem. Você deve observar que, apesar dos questionamentos produzidos no século XVIII, na nossa sociedade, em muitos momentos, prevalece uma visão da natureza como domínio do selvagem, ameaçador e esteticamente desagradável, em contraposição à civilização (CARVALHO, 2001). A natureza foi entendida como o Outro da civilização. As ideias difundidas e sistematizadas pelos filósofos e matemáticos do século XVII, todos homens de invento, pouco mais tarde serão representadas nas figuras de Arkwright, Kartwright e Watt, percussores da Revolução Industrial. Lançando luz sobre esse tema, Milton Santos (1988) relembrou-nos que o ser humano constitui, no âmbito da natureza, uma forma de vida que se distingue das demais através do trabalho, tornando-o capaz de produzir. O trabalho é um processo de troca recíproca e permanente entre Ser Humano e Natureza. Como humanos, realizamos ações a fim de suprir as condições necessárias à manutenção da espécie. Necessitamos aprender a natureza a fim de apreendê-la. A nossa relação com o entorno é um processo sempre renovado que tanto nos modifica (ser humanos) quanto transforma a natureza. É, a todo tempo, uma múltipla modificação entre ambos e por ambos. O Homem, nas palavras do autor, vai impondo à natureza suas próprias formas, a que podemos chamar de formas ou objetos culturais, históricos, artificiais. Aula 1 Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos Milton Santos se refere ao denominado Sistema da Natureza, no qual a mesma é continente e conteúdo do Homem, incluindo os objetos, as ações, as crenças, os desejos, a realidade esmagadora e as perspectivas. No processo de desenvolvimento humano não há separação do Homem e da Natureza. A Natureza se socializa (através das técnicas a ela incorporadas) e o Homem naturaliza-se. Desta forma, a Natureza deixa de ser algo que funciona apenas sobre leis naturais e passa a ser um grande conjunto de objetos dos quais o Homem escolhe alguns que aprende a utilizar. Hoje, os grupos humanos têm algum poder de modificar a ação das forças naturais. O progresso técnico não eliminou a ação da Natureza, enquanto a ação humana se processa de várias formas, construindo uma segunda natureza, reconstruindo-se sobre esta (SANTOS, 1996), prevenindo-se contra as catástrofes, regulando a Natureza, absorvendo seus processos, controlando parte de seus processos, como que a ludibriando. Mas, assim como Santos (1994), você deve ter percebido que esta história do Homem sobre a terra é a história de uma ruptura progressiva entre o Homem e o entorno. Qualquer esforço para pensar o homem e a natureza em sua forma orgânica e integrada torna-se agora mais difícil, pois a divisão/separação não se dá unicamente enquanto pensamento. A divisão social e técnica (científica) faz parte do mundo concreto dos homens. Houve, com a civilização urbano- industrial, inaugurada pelo capitalismo, uma cristalização da ideia de natureza objetiva e exterior ao homem. Tal situação é atualmente questionada, com a emergência de um saber ambiental problematizador da razão instrumental apontando para um campo discursivo ambiental não naturalista. Abandona- se uma conceituação realista ou naturalista de meio ambiente, na qual este se encontra reduzido às suas condições e leis físicas de funcionamento. Aproxima-se de uma visão das questões ambientais como sendo evidenciadas por meio dos sentidos culturais e políticos em movimento, nos processos de interação sociedade-natureza, nos tempos e nos espaços. Por conseguinte, permitem e são interpretações mobilizadoras dos diversos interesses e intervenções humanas no meio ambiente. A humanidade, ao produzir sua cultura, cria no seio de suas relações normas, valores e regras de convívio que são peculiares ao seu modo seu vida. Esta perspectiva conduz-nos a aprender sobre os discursos e práticas que se contrapõem às lógicas hegemônicas e mercadológicas que, baseadas na racionalidade instrumental e técnica, contribuíram de forma significativa para o modelo desigual, degradador e degradante de sociedade em que vivemos. Entre os sujeitos sociais que têm se manifestado contrariamente a tal lógica podemos citar os ambientalistas. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Conhecendo um pouco sobre ambientalismo Vamos adiantar a você que o reflexo das concepções de ambiente influenciará inclusive os movimentos ambientalistas. Tais movimentos constituem-se em um dos fenômenos mais recentes em matéria de organização da sociedade e das políticas públicas. A partir de sua própria vivência, você já deve ter observado que o ambientalismo ora remete a um ativismo militante de defesa do meio ambiente, ora representa uma luta integrada ao conjunto amplo de reivindicações sociais que caracterizaram a segunda metade do século XX (movimentos feministas, homossexuais, étnicos, pacifistas, classistas, entre outros). Todavia, é possível encontrar concepções que afirmam o ambientalismo como um movimento social recente, resultante da preocupaçãosocial devido à aceleração da degradação ecológica que o mundo vem sofrendo nas últimas décadas. Como você pode notar, a circulação dos discursos ambientalistas globalizou-se e originou complexos e organizados movimentos sociais (Organizações Não-Governamentais - ONGs) e políticos (partidos verdes). No caso dos movimentos sociais, há uma miríade de organizações de variadas filiações políticas e ideológicas vinculadas a interesses econômicos e culturais de índoles díspares. Tais disparidades, muitas vezes, colocam em dúvida o caráter destes movimentos em relação às suas reais legitimidades e representatividades sociais. Os partidos verdes, cuja projeção internacional se originou a partir do continente europeu, possuem plataformas políticas que oscilam de país para país, embora procurem, muitas vezes, estabelecer acordos e contatos de ação política mais globalizados. Por ser um fenômeno social, Loureiro (2004a, p.63) já afirmou “que o movimento ambientalista é constituído por tendências afinadas e antagônicas, no que se refere ao entendimento do humano na natureza e ao projeto societário que signifique a superação do atual padrão de vida”. Para esse autor, a diversidade de perspectivas que compõem o ambientalismo conforma uma totalidade complexa com múltiplas orientações, inviabilizando qualquer interpretação superficial e aligeirada sobre sua essência. O movimento ambientalista configura buscas por mudanças sociais amplas ou parciais, calcadas nas compreensões que os diferentes atores que o movem têm sobre a problemática ambiental. Todavia, você pode observar que há ideias que conseguem ser comuns aos ambientalistas. Dentre essas ideias, podemos destacar a oposição ao individualismo e a busca pela superação das concepções e pensamentos fragmentados, assim como do combate à racionalidade instrumental. Também podemos falar do ataque aberto dos ambientalistas ao consumismo e a defesa do pacifismo, com base na solidariedade entre povos e culturas. Aula 1 Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos Conforme já dissera Loureiro (2002, p. 91), “a simples percepção e sensibilização para a problemática ambiental e o incremento de competência técnica, voltada para a sua resolução, não expressam aumento significativo da consciência e do exercício efetivo de cidadania ecológica”. Para o autor, avanços na direção desta cidadania dependem de processos coletivos de apropriação simbólica do significado da questão ambiental pela sociedade com base na educação e na cultura. Assim, necessitam da constituição de suportes materiais fundados na democracia e garantidos pelo Estado. Caminhando pelas interfaces: a Educação Ambiental como prática social em construção É fundamental que os processos educativos formais estejam associados às demais reivindicações que dotem a vida de qualidade, dignidade e sustentabilidade. Assim como o movimento ambientalista e suas tendências não foram incorporados por todos os atores sociais, a Educação Ambiental (EA) é entendida aqui como um movimento de minorias dentro das instituições de ensino, mesmo sendo proclamada por órgãos de imprensa, por eventos educativos, por movimentos sociais. A EA valoriza, na Educação, a dimensão ambiental. Ela é uma novidade no campo das práticas concretas na escola. Sua realização concorre com uma gama variada de novidades, como, por exemplo, a articulação com as comunidades do entorno escolar, a realização de práticas democráticas na escola, a introdução da informática educativa, dentre outras. Há, também, uma gama de polarizações a seu respeito, dentro e fora do ambiente escolar. Os projetos escolares que trabalham com a dimensão educativa ambiental resultam de sínteses, retrocessos e avanços, compartilhados ou não de uma novidade, entre outras, no emaranhado dos espaços- tempos-relações das escolas e comunidades (SILVA, 2003). Com isso, você deve estar percebendo que podemos fazer um paralelo entre as tendências do movimento ambientalista, seus comprometimentos mais ou menos críticos, emancipatórios, transformadores e as Educações Ambientais por eles preconizadas. Ou seja, de acordo com Loureiro (2004a, p. 62), [...] a construção e o exercício da cidadania na órbi ta educativa se buscam de di ferentes formas, sob campos antagônicos de mundo em disputa, com ênfases operacionais não excludentes, contudo profundamente dis tintas em relação à fina l idade que se pretende concretizar no fazer educativo [...]. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Assim como Kostrowichi (1988), acreditamos que qualquer que seja nosso pensamento sobre os problemas ambientais devemos ter em mente, sempre, que esses problemas são, antes de tudo, sociais. A sociedade da qual falamos, marcada por fragmentações e exclusões sociais, não se calca em vários dos princípios pensados para o estabelecimento da EA numa perspectiva crítica, participativa, emancipatória e transformadora. Estes princípios encontram-se bem sintetizados no texto de Carvalho (2004, p.21), que, sem defender a Educação Ambiental como uma panaceia que resolverá todos os problemas civilizacionais, indica possíveis pretensões para a sua prática. Segundo a autora, a EA objetiva: Promover a compreensão dos problemas socioambienta is em suas múltiplas dimensões: geográficas, históricas, biológicas, sociais e subjetivas; considerando o ambiente como o conjunto das inter-relações que se estabelecem entre o mundo natural e o mundo social, mediado por saberes locais e tradicionais, além dos saberes científicos; contribuir para a transformação dos atuais padrões de uso e distribuição dos bens ambientais em direção a formas mais sustentáveis, justas e solidárias de vida e de relação com a natureza; formar uma atitude ecológica dotada de sensibilidades estéticas, éticas e políticas sensíveis à identificação dos problemas e confl i tos que afetam o ambiente em que vivemos; implicar os sujei tos da educação com a solução ou melhoria destes problemas e conflitos através de processos de ens ino - aprendizagem, formais ou não-formais, que preconizem a construção signi ficativa de conhecimentos e a formação de uma cidadania ambiental ; atuar no cotidiano escolar e não escolar, provocando novas questões, s ituações de aprendizagem e desafios para a participação na resolução de problemas, buscando articular escola com os ambientes locais e regionais onde estão inseridas; construir processos de aprendizagem significativa, conectando a experiência e os repertórios já existentes com questões e experiências que possam gerar novos conceitos e significados para quem se abre à aventura de compreender e se deixar surpreender pelo mundo que o cerca; s ituar o educador como, sobretudo, um mediador de relações socioeducativas, coordenador de ações, pesquisas e reflexões – escolares e/ou comunitárias – que oportunizem novos processos de aprendizagens sociais, individuais e institucionais . http://www.mma.gov.br/estruturas/ Aula 1 Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos Gradualmente, estas práticas podem ser introduzidas, debatidas e assumidas, ao longo dos diferentes períodos ou anos de formação. A incorporação destas discussões privilegia a composição e a organização de grupos, nos quais a sistematização e a temporalidade dos encontros são necessárias. Essas discussões não podem se limitar, no contorno cultural, ao aspecto acadêmico das instituições de ensino, deixando de contemplar o viés de militância e de prática social, geralmente explicitado pelos movimentos sociais e ONGs. Estas ideias dialogam com a noção de sustentabilidade abordada na aula anterior. Você deve estar se perguntando... Como criar e ampliara noção de sustentabilidade e suas práticas se tais discussões forem limitadas? Pois é... Este é o grande desafio que se apresenta. Você deve lembrar que a discussão da(s) sustentabilidade(s) perpassa pelos seguintes questionamentos: sustentabilidade do que, para quem, quando, onde, por que, por quanto tempo. Como você pode identificar, configura-se a sustentabilidade como inerente aos atores sociais, de forma dinâmica, refletindo suas contradições, disputas e acordos. Tal noção é profundamente relacional. A condição para que os sujeitos definam quais práticas são ou não sustentáveis dependerá do caráter que ela irá assumir no futuro. Neste caso, os fins são constituintes de um outro futuro, num outro presente. Ou seja, as sustentabilidades são meios e fins para a construção de outro presente e de uma outra sociedade, uma sociedade sustentável. Como professores não devemos nos colocar à parte dos problemas e muito menos assumir uma posição que desconsidere que nem todos têm interesse em se engajar de forma efetiva em projetos de EA. Há obstáculos que persistem na implantação e execução de projetos em EA. Estes, em nossa concepção, têm de ser superados ou diminuídos para que os interesses manifestados em participar de projetos coletivos em EA possam continuar se efetivando. A premissa é que, quando projetos coletivos se instalam e se ampliam, podem ter força de congregar, inclusive, os sujeitos menos participativos e mais resistentes às mudanças. Nesse sentido, advogamos que a viabilidade de projetos e experiências em EA perpassa pelo estabelecimento de condições institucionais para estes encontros, com a criação de espaços-tempos continuamente voltados para o desenvolvimento de tais projetos. Com isso, você deve estar questionando se a simples soma de tarefas, de eventos comemorativos ou de protestos esporádicos é suficiente para a constituição de práticas educativas ambientais. O nosso entendimento é que não. Embora eles representem uma possibilidade de avanço no que diz respeito à informação sobre as questões ambientais e, mais especificamente, sobre a Educação Ambiental, não podemos parar por aí. Portanto, é importante pensarmos a prática educativa ambiental como mais do que uma simples soma de tarefas, requerendo então um amplo projeto. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Ações isoladas não configuram EA, que, como projeto, deve possibilitar aos sujeitos atividades e ações tecidas sobre o mundo vivido (SILVA, 2003). Deste modo, podemos concluir que o trabalho em EA não se resume a um programa curto; exige continuidade, persistência e interações múltiplas. Há experiências em curso em diversos lugares e elas podem e devem ser conhecidas e compartilhadas. A ti v id a d e Atende aos Objetivos 3 e 4 Considerando o conteúdo desenvolvido nesta aula, busque saber se em alguma escola de seu sistema ou rede de ensino, próxima ao local de sua atuação, é desenvolvida alguma ação voltada para a prática educativa ambiental. Como essa ação ou projeto foi estabelecido? Em que momento ele passou a existir? Quem são seus beneficiados? Caso não haja nenhum projeto próximo a sua localidade, busque em outra rede, na internet, informações sobre projetos educativos socioambientais que tenham a descrição de seus objetivos e finalidades, assim como das ações desenvolvidas no cotidiano escolar. Não se esqueça de caracterizar suas articulações com o entorno escolar e com as comunidades beneficiadas pelas possíveis ações pretendidas. Após esta investigação preliminar, indique que obstáculos você encontrou na sua busca por projetos e descreva como os superou. Em relação às ações observadas, indique que dificuldades seus promotores tiveram de superar. Identifique se houve a formação de comunidades aprendentes e interpretativas. Faça um resumo de seu levantamento, salientando os aspectos mais importantes do que pesquisou e registre-o. RESPOSTA COMENTA DA Esta atividade visa despertar nos professores preocupações importantes que podem anteceder a estruturação de trabalhos em EA. A primeira diz respeito à necessidade de conhecer experiências em execução antes de afirmar ou começar a desenvolver propostas sobre a EA. Embora as práticas educativas ambientais ainda sejam uma novidade na maioria das escolas, já existem em nosso país experiências variadas que podem servir como referenciais para os docentes e instituições que ainda estão começando a pensar em projetos consistentes e duradouros de EA. Por outro lado, os questionamentos visam orientar os docentes para a importância da participação de sujeitos diferenciados nos projetos de EA; permitem que os investigadores - docentes possam socializar estas informações com outros docentes e com os demais Aula 1 Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos As discussões sobre as concepções de meio ambiente e Educação Ambiental evi - denciam seus entendimentos como produtos socioculturais. Tais concepções não são imutáveis e, portanto, precisam ser analisadas sempre de forma contextualizada. A relação sociedade-natureza foi caracterizada em diferentes momentos históricos e sociais, principalmente para o período atual, fortemente marcado pela globa- l ização das ações políticas e econômicas, amplamente impactantes sobre os tecidos sociais e ambientais. As concepções diferenciadas de meio ambiente influenciam as condutas humanas em relação ao mesmo e à Educação Ambiental. Isto explica como diversos padrões predatórios se disseminaram em nossa sociedade e como posturas que não promovem uma crítica às injustiças sociais e ao modelo insustentável de desenvolvimento, que é predominante, ainda são identificadas em alguns projetos de Educação Ambiental. Os projetos em EA não são meras iniciativas isoladas no espaço escolar e devem extrapolar este domínio. Não são projetos estanques e idealizados para a promoção de eventos ou comemoração de datas e, por isso, carecem de espaços e tempos dos sujeitos na sua realização. Além disso, a perspectiva crítica e emancipatória recomendada para os projetos em EA necessita destas conexões e articulações, dentro e fora do espaço escolar, envolvendo diferentes sujeitos e disciplinas, incorporando saberes científicos, escolares e populares na execução das ações. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Referências bibliográficas AVANZI, M. R. & MALAGODI,M. A.S. Comunidades interpretativas. In: FERRARO JÚNIOR, L. A. (Org.) Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA: Diretoria de Educação Ambiental, 2005. p. 93-102. BOFF, L. Ethos mundial: um consenso mínimo entre os humanos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 130 p. BRANDÃO, C. R. Comunidades aprendentes. In: FERRARO JÚNIOR, L. A. (Org.) 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