Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pressupostos da Arte na Educação 02 1. Arte na Educação: Pressupostos 4 2. A Percepção Visual 12 3. A Educação Artística e os PCNS 23 4. A Educação Artística e a Formação do Aluno 30 Didática no Ensino de Arte 35 5. Referências Bibliográficas 41 03 4 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO 1. Arte na Educação: Pressupostos Fonte: Colégio Arnaldo1 Contemporaneidade: conforme Gonçalves (2006, s/p) labora- ções propõem pensar a arte contem- porânea a partir do que ela nos opera, ou seja, operando (pensando, sentindo, fazendo, afetando, perce- bendo, vendo, etc.) o que o artista nos apresenta inscrito na obra, e o que está nela que nos faz achar o feio, o desajeito, a curiosidade, a bo- niteza, o nojento, a afetividade, a ini- mizade, bem como alguma coisa que está nela que não nos opera. Toda- via, reconhecer que sempre há na 1 Retirado em https://blog.colegioarnaldo.com.br/arte-na-educacao/ obra algo que me afeta. Proponho la- borar a arte contemporânea a partir do que/como o artista a faz labora- ções de qualquer matéria do mundo, quebrando o mito de que para fruí- la é necessário iniciar-se no mundo da arte. Como podemos, então, falar sobre isso? Pois bem, alguns pressupostos atuais sugerem que ao desenvolver atividades na sala de aula, que ver- sem sobre a produção contemporâ- nea, é necessário conhecer a lingua- gem da arte e sua historicidade. Há A 5 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO pouco tempo participei como ouvin- te de uma ação educativa que tinha como mote uma grande exposição de arte contemporânea. A ação edu- cativa era voltada a qualquer profes- sor que se interessasse sobre a temá- tica, já que na sala encontravam-se professores com formações distin- tas, além de outros interessados. A mediação sobre a exposição que acontecia naquele espaço foi realiza- da, durante mais ou menos duas ho- ras, período em que a ministrante, especializada na área, nos conduziu da arte da Idade Média à arte da se- gunda metade do século XX, aproxi- madamente até 1960. Ao mesmo tempo em que, discorria sobre a teo- ria e a história da arte, exemplificava com imagens. Por fim, subliminar- mente, nos revelou que para com- preender as obras expostas era ne- cessário saber sobre seis séculos de produção, obviamente que enalte- cendo os “ditos” artistas fundamen- tais, cujas produções desvelam o ápice de uma ideação ou do estilo de uma época, ou até mesmo uma con- traposição a ela. Mesmo incomo- dada com aquele discurso de que só é possível entender a arte contempo- rânea conhecendo a genealogia his- tórica, de qualquer maneira, a expla- nação foi muito interessante, uma aula de história da arte pocket. Na mesma mediação, estavam presen- tes duas alunas minhas que, ao final, me disseram ter achado super bom, pois tiveram uma aula de história da arte. Quando lhes perguntei sobre o que tinham a dizer sobre as obras contemporâneas expostas, não es- boçaram, sequer, nenhuma possível trama com o dito. Sem dúvida, os iniciados na linguagem, propria- mente dita, agrimensaram-se com a diversidade de nomes, formas, mé- todos, lugares, matérias, imagens, lugares do mundo da arte. Fico pen- sando que os referidos professores de ensino médio e fundamental, muito deles sem formação específica e inserção nas questões no campo da arte, acharem que deverão saber so- bre seis séculos mostrados pensa- rão: que tempo terão para ver e falar sobre arte contemporânea? (GON- ÇALVES, 2006, s/p) Continuando Gonçalves (2006, s/p) aponta que com essa frase faço alusão à composição musical de Vi- tor Ramil, que sempre me chamou muito a atenção, e que diz “No claro- escuro. É que ela me vê e diz assim: “sai daí vem pra mim o paraíso fica aqui”. Eu digo: se eu tiver que ler tudo sobre o Barroco, que tempo vai sobrar pra minha nega.” Segundo o relato de algumas pessoas, Ramil to- mou emprestada uma situação de sala de aula, em que um professor de História da arte expunha seu vasto conhecimento sobre arte barroca com minúcias e empolgação, quan- 6 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO do um aluno encantado e ao mesmo tempo preocupado se levanta e per- gunta: (...) que tempo vai sobrar para minha nega? Se durante duas horas de ação educativa não foi feita menção às obras em exposição, como poderia um professor falar sobre elas em pouco tempo, na duração de um pe- ríodo ou dois dedicados à educação da arte ou às artes, não só às visuais. Não consigo crer que seduziremos os alunos, os professores, os passa- geiros, o público em geral, se pautar- mos uma possível fruição em concei- tos encontrados na literatura artísti- ca, na literatura filosófica, em escri- turas pouco acessíveis, geralmente encontradas em bibliotecas setoriais das faculdades de arte ou em biblio- tecas particulares. A assertiva é que grande parte dos discursos atuais di- zem não quererem falar de arte só para artistas, tampouco para os es- pecializados, visto que, têm se erigi- do museus, centros culturais, assim como mostras bienais que assegu- ram a legitimidade do espaço a par- tir da mensuração dos visitantes. Os espaços da arte mais democráticos e sulcados por mostras veiculadas nas mídias mais populares destinam-se ao grande público que aceita o cha- mamento em busca de uma experi- ência, que não é a proposta pela his- toriografia da arte, tampouco pela crítica especializada, mas pela vida, pela relação com a história pessoal. O jeito é falar da arte de um outro modo. De que jeito, então, falar da arte contemporânea? (GONÇAL- VES, 2006, s/p) Gonçalves (2006, s/p) afirma que obviamente que tal pergunta ja- mais será respondida. Até porque a questão é colocada para que a dúvi- da me faça provocação, uma vez que arte é algo que quebra com as verda- des absolutas, pois sempre tem algo a dizer sobre o já dito, o afirmado. A pergunta é um pouco mais afuni- lada: Não quero começar a falar de História da Arte, nem do sistema das artes, como então falarei sobre arte contemporânea? O primeiro passo é desmistificá-la e para isso é necessá- rio que abordemos o conjunto de ob- jetos, fatos, ideias da arte sobre vá- rios pontos de vistas. O processo de mitificação pressupõe ver apenas por um viés e, segundo Roland Bar- thes, o mito “é um sistema de comu- nicação, é uma mensagem. Eis por- que não poderia ser um objeto, um conceito, ou uma ideia: ele é um mo- do de significação, uma forma. (...) o mito é um sistema ideográfico puro onde as formas são ainda motivadas pelo conceito que representam sem, no entanto, cobrirem a totalidade representativa.” A ênfase em aspetos históricos da obra reforça a ideia de mito, já que “em geral, o mito pre- fere trabalhar com imagens pobres, 7 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO incompletas, onde o sentido está já diminuído, disponível para uma sig- nificação: caricaturas, pastiches, símbolos.” Portanto, se atribuirmos fundamentalmente à arte contem- porânea apenas o caráter histórico (artístico) estaremos reduzindo o seu âmbito de atuação. Se admitir- mos que, para compreender a arte contemporânea, deveríamos conhe- cer os objetos da arte que a legiti- mam como tal, estaremos excluindo da obra o sujeito que a faz e o sujeito a ela que estão no mundo, não no mundo da arte, embora o artista es- teja transitando nos dois. O sujeito à arte é qualquer um que se (condicio- nal), proponha a isso. Todavia, não proponho deslocar a obra de seu sis- tema, do campo, mas torná-la uma experiência antes disso. Entretanto, não descarto que, aos poucos, desve- lemos as coisas que nela estão e que são saberes específicos da arte, já que o artista é atravessado por isso. Uma possível abordagem po- derá serpautada na cotidianidade, haja vista que a arte, fundamental- mente contemporânea, aproxima-se da vida. A relação entre a fruição e os saberes da arte não devem ser impo- sitivos, mas dialogantes, para que o observador leigo possa estabelecer vínculos por meio de impensados e imprevisíveis repertórios. Se o pro- pósito da arte fosse discorrer so- mente sobre a arte, não seria neces- sário abrir as portas dos museus, os portões das bienais, etc. Então, o que é arte contemporânea? Para dis- correr sobre arte contemporânea é importante distingui-la de arte atual. A pensadora francesa Ana Cauque- lin diz: “É atual o conjunto de práti- cas executadas nesse domínio, pre- sentemente, sem preocupação com distinção de tendências ou com de- clarações de pertencimento, de rótu- los”, isto é, a arte atual é um campo que abriga tanto uma pintura que re- vela sua gênese em práticas tradici- onais, quanto uma pintura virtual que é instaurada hoje. Em outro mo- mento de sua escritura, Cauquelin nos apresenta alguns critérios que diferenciam a arte atual da arte con- temporânea, o que ocorre agora, ela- borado e em junções com coisas que não pertencem somente à esfera ar- tística. Ela diz que: “(...) para apre- ender a arte como contemporânea precisamos, então estabelecer crité- rios, distinções que isolarão o con- junto dito “contemporâneo” da tota- lidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser buscados apenas nos conteúdos das obras, mas em suas formas, suas composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato de pertencerem a este ou aquele movimento dito ou não de vanguar- da. Com efeito, a esse respeito tería- mos ainda que nos defrontar com a 8 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO dispersão, com a pluralidade incon- trolável de agora. De fato, os traba- lhos que tentam justificar as obras de artistas contemporâneos são obrigados a buscar o que poderia torná-los legíveis fora da esfera ar- tística, seja em temas culturais, re- colhidos em registros literários e fi- losóficos - desconstrução, simula- ção, vazio, ruínas, resíduos e recupe- ração - seja ainda em sucessos tem- poral - classificada de neo, pré, pós ou trans-lógica, de evolução bem di- fícil de manter.” Um exemplo disso é o trabalho da artista mineira Rivane Neuens- chwander que retira, ou melhor, desloca seus materiais artísticos do espaço doméstico, mais especifica- mente da cozinha. Neuenschwan- der, na XXIV Bienal de São Paulo, construiu duas grandes caixas bran- cas sem teto, com aberturas laterais que podiam ser penetradas. Ao en- trar nos deparávamos com um inte- rior sem objetos, sem demarcações precisas, apenas a parede e o chão sutilmente marcados por uma grade pigmentada. As superfícies (re)dese- nhavam uma constelação em fundo branco e a impressão que tínhamos era que a pintora construíra uma fa- tura fina de branco colorida. A pri- meira experiência era essa e, aos poucos, aos olhos mais atentos, des- nudava-se a matéria daquela super- fície: os pontos eram grãos, as linhas finas eram fios de cabelos, os tons cinzentos, os ocres e as transparên- cias eram cascas e/ou restos de co- mida, ou seja, sobras do uso. O que parecia à primeira vista ser uma pin- tura era uma assemblage casual. A articulação do visível, da presença poética é motivada e envolve a visco- sidade do óleo, a transparência con- tida na casca ocre e brilhante da ce- bola, na casca perolada do alho, na fragilidade da asa da vespa, na poro- sidade fugidia do pó de pimenta. A artista estendeu em sua cozinha, re- tângulos de 50 x 50 de plástico auto- adesivo, os quais, durante algum tempo, foram agrimensados pela su- jeira e, posteriormente, tornaram-se o papel de parede e de chão da caixa branca erguida na Bienal. Os plásti- cos autoadesivos, no entanto, ainda acumulam o pó e a sujeira dos visi- tantes da Bienal. (GONÇALVES, 2006, s/p) Ainda Gonçalves (2006, s/p) refere que sobre essa obra, a crítica de arte Rosa Martinez diz: “ao per- mitir que os espectadores transitem por esses cubículos e arrastem para dentro a sujeira dos recintos de ex- posição da Bienal Rivane não se li- mita a transladar o doméstico ao es- paço institucional da cultura, mas provoca interferências e conexões entre os dois contextos ao colocar em evidencia a trama escura que une o público e o privado, o social e o ín- 9 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO timo.” Rivane, além de pigmentar a superfície com o que o acaso oferece, também o faz com a matéria do mundo, da casa, da feitura óbvia dos dias que nos dizem sobre nossa con- dição: seres sociais, geográficos, glo- bais, etc. A artista opera a vida por meio da arte, com ferramentas de to- dos nós, nas despensas, no tecido do desejo necessário. Em outras obras ela desenha com asas de vespas, com sementes, com massa de tomate evi- denciando que a porta de entrada para acessar a obra é o trabalho ba- nal, reinventando a obviedade, nos fazendo ver a diferença na repetição da lida doméstica, do espaço da casa, nos instrumentos da cozinha, do co- zido. A porta de entrada para pene- trar a poética é reconhecê-la como uma quebra da rotina, como uma es- critura singular da cotidianidade, assim como “descobrir que nos ma- teriais do mundo se escondem metá- foras de nossas angústias, de nossas certezas e de nossos medos.” A ar- tista nos oferece a experiência de um olhar, que retira das coisas seus dis- positivos usuais para falar de si e dos outros. A obra de Neuenschwander é uma, entre outras possíveis de se- rem citadas, que utilizam e falam so- bre as coisas que não são comumen- te atribuídas e faladas pela arte du- rante quinhentos anos, aproximada- mente. Esse já é um dos pressupos- tos da arte contemporânea. Poderia citar outras poéticas como a obra de vestir de Hélio Oiticica, o vestido ha- churado de Leonilson, o colar pon- tiagudo de Nazaré Pacheco, a es- tante impessoal de Alice Monsell, ou seja, artistas brasileiros, como esses e outros estrangeiros, de diferentes épocas que usam a história intima e universal como referência. Por fim, falar de arte como se fala da vida. “(...) o artista contem- porâneo vai além não só dos materi- ais tradicionalmente elaborados pe- la arte, mas também de seus proce- dimentos (escultura, pintura, dese- nho, gravura, etc.): ele torna a liber- dade de explorar os materiais os mais variados que compõem o mun- do, e de inventar o método apropri- ado para cada tipo de exploração.” Diante de uma obra de Rivane, assim como de outros artistas con- temporâneos, somos suscitados a reconhecer nossos rituais íntimos e banais, o nosso devir antes de reco- nhecer códigos pré-estabelecidos. Portanto, de preferência, olhar a obra pautada na exceção da experi- ência cotidiana, pois somos estimu- lados a destituirmos de referenciais, ao invés de nos depurarmos com eles, mesmo que esses sejam o mote. Sim, um objeto da casa pode ser ob- jeto da arte, uma feitura na pia da 10 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO cozinha pode ser operação poética. A história, teoria e crítica da arte são dados a mais para que o espectador compreenda que a arte, como qual- quer outro campo do conhecimento, é constituída por seus personagens, por fatos, objetos e lugares. Obvia- mente que quando vejo uma obra já associo com outras, com coisas e es- crituras feitas e posso utilizar isso como modo de expandir as coisas que a obra diz, assim clareando-a. Se for uma estudante da arte, cartogra- fada por esse saber, a aproximarei dos objetos que a constituem. Mas, posso também falar sobre isso tudo a partir de cartografias históricas/ estóricas, de outros lugares, de ou- tros saberes, acadêmicos e/ou pes- soais. Falar, e quem sabe, experi- mentar as operaçõesda arte con- temporânea. Com certeza, não é difícil, a partir do momento que entender- mos a obra como algo que diz coisas simples e complexas, pois fala de nós e de nós no mundo. Podemos e devemos, nós professores, falar so- bre história da arte, teoria, crítica, mas como outros saberes a serem di- tos, e não como falas indispensáveis. Procuremos, por meio da produção artística contemporânea, reapren- der a olhar, vendo quem sabe uma pimenta, novamente, mais uma vez, como desenho e designo da (cor) po- grafia do comer ou da tessitura femi- nina, depois podemos falar sobre natureza morta holandesa, sobre as maçãs de Cézanne, sobre a pop arte, e, e, e.... Mas nunca esqueçamos de que uma pimenta para um artista nunca será somente uma pimenta. (GONÇALVES, 2006, s/p) 12 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO 2. A Percepção Visual Fonte: Pinterest2 egundo Ramos, et al (2007, s/p) aqui buscamos disponibilizar aos desenhadores dados que possam contribuir para a melhor compreen- são do universo visual, na produção de imagens mais comunicativas e ci- entificamente elaboradas. Para isso consultamos obras textuais e visuais que julgamos serem valiosas ao de- senvolvimento da percepção visual. Pedrosa (1996) comenta que “tudo 2 Retirado em https://br.pinterest.com/pin/48061921016514368/ no mundo está aí para ser visto, ou- vido, cheirado, tocado, sentido, per- cebido, em fim. Esta é a experiência imediata.” Os objetos estão feitos, a luz ilumina esses corpos, os animais veem e percebem essas coisas ilumi- nadas. Tais coisas possuem signifi- cados para aqueles que as contem- plam. Dependendo desses significa- dos, os animais reagem de modo sin- gular. Isso é viver, viver é perceber, S 13 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO somos guiados por nossos cinco sen- tidos. Necessitamos de nossos senti- dos e deles dependemos. Leonardo da Vinci considerava a visão como o mais importante sentido. Mas, a percepção se dá pelas experiências colaterais vivenciadas. A luz é a energia que nos permite ver; ótica é a parte da física que trata da luz e dos fenômenos da visão. Se- miótica é a capacidade de ver (perce- ber) pelo conhecimento, é algo mais que “ver”, é perceber. Não apenas o que está diante dos olhos, é agregar conhecimentos ao que está sendo contemplado. É decifrar mensagens imperceptíveis aos leigos. (...) Mu- nari (2000) comenta que os truques óticos da perspectiva podem levar ao engano, visto que a coisa represen- tada pode parecer maior ou mais im- portante do que na realidade é. Caso a intenção seja levar ao equívoco, existem diversos mecanismos visu- ais que podem ser empregados, ain- da assim, os desenhistas éticos de- vem evitar esses recursos. Quanto à indução proposital da interpretação equivocada daquilo que é apresentado, são os “ilusionis- tas ou mágicos” as pessoas mais ha- bilidosas nesse modo de simulação. Entretanto, em muitos casos, é o próprio contemplador visual que se permite interpretações precipitadas daquilo que lhe é apresentado, ou seja, para que a cena apresentada seja concebida como real existe a ne- cessidade de o expectador ser cúm- plice dela. Entretanto, não é nosso propósito aprofundar a questão das expressões gráficas como recurso de indução ao equívoco, é sim, a de re- velar que as formas representativas são potentes recursos de comunica- ção visual. As perspectivas, por exemplo, correspondem a simulações de cená- rios reais através de representações gráficas em que o desenhista tem a intenção de imitar no espaço bidi- mensional os objetos visuais tridi- mensionais. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) No campo das representações gráficas, conforme Ramos, et al (2007, s/p) atualmente, também é possível desenhar através de recur- sos eletrônicos. Para isso, estão dis- poníveis no mercado diversos pro- gramas informáticos de computação gráfica que facilitam a simulação de representações em duas e três di- mensões, como exemplo: Corel- Draw, 3D Studio Max, AutoCAD, entre outros. De maneira semelhan- te, a fotografia e o cinema simulam a realidade com imagens realísticas estáticas ou em movimento. A produção de desenhos, seja manualmente, ou através de recur- sos informáticos, equivale a repre- sentações gráficas das formas. Vi- sualmente, as formas são percebidas 14 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO por seu aspecto exterior, mas é co- nhecendo-se a substância que com- põe o objeto é que podemos conce- ber tal peça. Em desenho técnico, quando construímos as vistas orto- gráficas e a perspectiva de um objeto - continua faltando mais dados - ou seja, tais informações não são sufici- entes para conhecermos o objeto em sua totalidade. É necessário explici- tar mais elementos, como: qual a substância, cor, textura, entre ou- tros, que definirá o objeto a ser cons- truído. Somente assim é possível conceber com clareza tal artefato. Isso nos leva a uma análise mais profunda do objeto, uma espécie de dissecação das partes na busca de melhor compreensão do todo. (RA- MOS, ET AL, 2007, s/p) Segundo Arnheim (2006, apud Ramos, et al, 2007, s/p) a con- figuração serve, antes de tudo, para nos informar sobre a natureza das coisas através das aparências. Ele ainda nos esclarece que a feitura da imagem, artística ou não, não pro- vém simplesmente da projeção ótica do objeto representado, mas é um equivalente, interpretado com as propriedades de um particular, do que se observa no objeto. Temos acompanhado a ten- dência da simplificação das formas na produção de objetos artificiais. Na época em que os objetos eram fa- bricados unicamente de maneira ar- tesanal a individualização da peça motivava o artesão a criar detalhes ornamentais, geralmente desneces- sários, mas que contribuíam forte- mente para o embelezamento da peça, alcançando, por várias vezes, o status de “obra de arte” - essa peça podia ser uma cadeira, uma mesa, uma moldura, um vaso, etc. Quanto aos valores agregados, tal tratamen- to artístico contribuía somente para melhorar a aparência e aumentar o valor de troca, não para o valor de uso. Na busca de colocar produtos de fácil aceitação no mercado de consumo, a indústria tem se esforça- do em desenvolver produtos de boa qualidade e com preços competiti- vos. Essas condições têm como con- sequência a simplificação das for- mas, provocando maior distancia- mento dos estilos Rococó e Gótico. Pois, o excesso de detalhes conside- rados de pouca necessidade, até mesmo dificulta o uso das coisas. Essa simplificação está tendendo à geometrização na produção de peças gráficas e dos objetos industrializa- dos. Provavelmente, pelo fato de fa- cilitar o planejamento e o processo de construção da peça a ser produzi- da em escala industrial. Desse mo- do, esses artefatos apresentam faci- lidades de produção, utilização, ma- 15 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO nutenção, higienização, preço aces- sível e armazenamento, entre outras vantagens de interesse do público consumidor. Até mesmo a ornamen- tação gráfica tem buscado a simplifi- cação e estilização das formas. No uso de letras, por exemplo, temos di- ficuldade em ler textos escritos com as letras góticas - principalmente quando todas são maiúsculas. Na produção de imagens de peças fa- mosas temos visto, por exemplo, o Pão de Açúcar, a estátua do Cristo Redentor, o Teatro Amazonas sendo representados, satisfatoriamente, por poucas linhas que sugerem tais artefatos, substituindo a imagem de- talhada de cada uma dessas obras, sem a necessidade do retrato fide- digno. Assim, a representação grá- fica do tipo retrato tem dado lugar à estilização das formas sem prejuízo da comunicação visual. Os artistasgráficos, incluindo os designers, es- tão investindo nesse estilo de repre- sentação gráfica. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) Continuando Ramos, et al (2007, s/p) colocam que os progra- mas informáticos de computação gráfica estão aperfeiçoando filtros (ferramentas) que transformam imagens fotográficas em imagens ri- camente estilizadas. Desse modo, os artistas infográficos estão sendo be- neficiados por essas poderosas fer- ramentas eletrônicas. A logomarca do PAM 2007 é um rico exemplo desses recursos gráficos de estiliza- ção das formas. Arnheim (1998) con- sidera que o pensamento é visual, essas reflexões contribuem para en- tendermos o processo mental no re- conhecimento das formas e que, es- tas por sua vez, são armazenadas em nossa memória conforme nossas ex- periências no “fluxo contínuo” do tempo. Entretanto, todo ato percep- tivo subordina um fenômeno em conceitos visuais, que na mão dos artistas há uma variedade de estilo e particularidades de apresentação. Nesse universo das “formas e das transformações,” mais uma vez, os artistas, incluindo os desenhistas, estão ampliando seu campo de atua- ção. A percepção aguçada é capaz de “ver uma coisa como outra” e as mãos habilidosas são capazes de re- alizar essas ideias. Como exemplo, Munari (2000) comenta que do es- tudo de determinadas formas de al- guns peixes nascem às formas para as embarcações. A capacidade em perceber e representar as formas, essa dinami- cidade, está intimamente associado ao conceito de temporalidade. Se- gundo Villafañe (2000) o conceito de temporalidade é definido como a estrutura de representação do tem- po real através da imagem. Isto sig- nifica que as técnicas representati- vas estão associadas a sua própria 16 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO época. Pois, dependem de ferramen- tas disponíveis e de concepções de cada fase da humanidade. Essas téc- nicas exploram os elementos e subs- tâncias apropriados para a composi- ção visual. Os elementos morfológi- cos, escalares e dinâmicos da ima- gem são os componentes para o ar- ranjo visório de qualquer represen- tação visual. Tanto para os desenhis- tas, pintores, cineastas, fotógrafos, enfim, qualquer profissional que trabalhe com a imagem, necessaria- mente deve conhecer o alfabeto vi- sual. A percepção e a representação visual aplicam-se ao comportamen- to humano em geral. Estágios suces- sivos do desenvolvimento mental são evidenciados desde os primeiros rabiscos infantis. Arnheim (2006) comenta que as formas iniciais de representação visual possuem todas as características fundamentais da criação adulta sob formas elementa- res. Portanto, em todas as fases da vida animal, a percepção visual nos educa. Dondis (1988) expressou que uma maior inteligência visual impli- ca em uma compreensão mais fácil de todos os significados que assu- mem as formas visuais. De modo ge- ral, as informações que chegam ao cérebro através dos olhos são mais duradouras na memória. Para Pla- tão há quatro formas ou graus de co- nhecimento, do inferior ao superior: a crença e a opinião, o raciocínio e a intuição intelectual. Os dois níveis primeiros são compreendidos como o conhecimento sensível e o conhe- cimento inteligível, os dois últimos graus. (...) (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) Os cinco sentidos: Para Ramos, et al (2007, s/p) são os órgãos dos sen- tidos que transmitem ao cérebro as informações exteriores ao corpo. A pele é considerada o maior órgão do corpo, ela avisa quando este está sendo invadido; a visão e audição são muito exploradas na formação do indivíduo, na complementação mútua de informações audiovisuais. O paladar e o olfato participam me- nos que os três anteriores do pro- cesso educativo e de defesa do corpo. Mas, todos, isolados ou juntos, têm sua importância. Santaella (1992) considera que os órgãos sensoriais funcionam, consequentemente, co- mo janelas abertas para o exterior. Para Arnheim (1998) a percepção vi- sual é pensamento visual. O conjun- to das operações cognitivas - do pen- samento - não só é privilégio dos processos mentais são também, in- gredientes essenciais da própria per- cepção. São elas: a exploração ativa, seleção, simplificação, abstração, análise, síntese, complemento, cor- reção, comparação. Para os empiris- tas a sensação e percepção depen- dem das coisas exteriores. São cau- sadas por estímulos externos que 17 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO agem sobre nossos sentidos e sobre o nosso sistema nervoso. O cérebro responde na forma de sensação (uma cor, um cheiro), ou na associa- ção de sensações numa percepção (vejo um objeto vermelho, sinto o sabor de uma fruta). A percepção or- ganiza as sensações independentes e lhes transforma em síntese passiva. Quando queremos aproveitar ao máximo alguns prazeres como: o beijo, o paladar, o olfato, o orgasmo, instintivamente, nós fechamos os olhos? Será que é porque a força das imagens “rouba” uma parte desses outros sentidos? É inegável que o olhar possui uma energia capaz de trair a atenção de pessoas que estão pouco ocupa- das. Todos nós já passamos pela ex- periência de estar olhando firme- mente para alguém sem que essa pessoa perceba que está sendo ob- servada e, de imediato essa pessoa também olhar para nós. Que energia é essa? O conhecimento é a soma de associações das sensações na per- cepção de modo repetitivo e habi- tual. Como afirmamos anteriormen- te, necessitamos e confiamos em nossos sentidos e deles dependemos para nos guiarmos. Temos clareza que os deficientes visuais podem mui- to contribuir relatando sobre suas experiências cotidianas no esforço de tornarem independentes daque- les que lhes emprestam os olhos quando necessitam caminhar por curtas e longas distâncias. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) Imagem e Imaginação: para Ra- mos, et al (2007, s/p) a imagem - em grego - ídolos é o que sobrou do ob- jeto percebido. É o que permanece retido na nossa consciência. A ima- gem seria o rastro deixado pela per- cepção. Para os empiristas a imagem é a associação de vários elementos independentes provenientes da sen- sação e dos movimentos corporais (ou da motricidade do nosso corpo) e unificados pela mente do sujeito. A imagem é uma síntese de sensações e movimentos. A percepção observa as coisas e a imaginação não observa, pois ob- servar é jamais ter uma coisa perce- bida de uma só vez e por inteiro. Se- gundo Chauí (2006) a percepção ob- serva porque alcança as coisas, as pessoas, as situações por perfis, perspectivas, faces diferentes que vão sendo articuladas umas às ou- tras, num processo sem fim, poden- do sempre enriquecer nosso conhe- cimento porque podemos perceber aspectos novos, ir completando o percebido com novos dados ou as- pectos. Chauí (2006) considera que enquanto o imaginário reprodutor procura abafar o desejo de transfor- mação, o imaginário utópico pro- cura criar esse desejo em nós. Pela invenção de outra sociedade que não 18 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO existe em lugar nenhum e em tempo nenhum, a utopia nos ajuda a conhe- cer a realidade presente e a buscar sua transformação. O imaginário re- produtor opera com ilusões enquan- to a imaginação criadora e a imagi- nação utópica operam coma inven- ção do novo e da mudança, graças ao conhecimento crítico do presente. Mas, esse processo tem sua própria linguagem comunicativa. Que pode ser através de grafismos, verbal, ges- tual, entre outras. Linguagem e representação: se- gundo Chauí (2006, apud Ramos, et al, 2007, s/p) a linguagem articula percepções e memórias, percepções e imaginações, oferecendo ao pensa- mento um fluxo temporal que con- serva e interliga as ideias. Edmond Couchot parte da ideia de represen- tação envolvendoum objeto da or- dem da realidade visível em contra- ponto ao da simulação que trata do campo das imagens digitais. No en- tanto, os autores apresentam um conceito de objeto mais amplo, em termos peircianos, de que não ne- cessariamente o objeto envolvido na representação tenha que se limitar ao campo do real. Para Santaella (1998) “o objeto de uma representa- ção pode ser qualquer coisa existen- te, perceptível, apenas imaginável, ou mesmo não suscetível de ser ima- ginada”. Desse modo, o conceito de imagem presente na simulação ora defendida pelos autores, parte da ideia resultante de uma série de re- presentações por se tratar de ima- gem sintética. Entenda-se por ima- gem sintética as imagens produzidas por computador, como resultado de uma de série de abstrações. A ima- gem apresentada na tela de vídeo do computador é uma composição feita por pontos de luz, sendo esses pon- tos chamados pixels o resultado de combinações binárias - sistema nu- mérico composto pelos bits 0 e 1, da qual trata a linguagem de máquina do computador. Já os bits 0 e 1 são representações dos pulsos elétricos 0 volts e + 5 volts. Para a teoria semiótica de Charles Sanders Peirce, filósofo, ma- temático e lógico, que pesquisou a linguagem dos signos, a linguagem é a única forma de síntese que dispo- mos para a ligação entre o exterior e interior. A partir do final do século XIX e primeira metade do século XX a teoria do conhecimento discutiu a linguagem em diversos campos do conhecimento. Com a amplitude da linguagem para além do alfabeto verbal, destacam-se os elementos básicos que compõem o alfabeto vi- sual. Com o conhecimento destes poderemos compreender ainda mais o nosso processo perceptivo e prin- cipalmente, sabermos organizar nossas composições visuais. Em sín- tese, esses elementos representam o 19 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO modo como a percepção capta o campo visual e como nós podemos representá-lo no espaço, quer seja unidimensional, bidimensional ou tridimensional. Segundo Dondis (2003) “o que vemos é uma parte fundamental do que sabemos o alfabetismo visual pode nos ajudar a ver o que vemos e saber o que sabemos”. A tese da teo- ria da imagem defendida por Justo Villafañe (2000) esclarece que os três fatores essenciais de uma ima- gem são: A seleção de uma realidade; A utilização de um repertório de elementos plásticos especí- ficos e; A ordenação desses elementos de maneira sintática, de modo a produzir uma forma de signi- ficação icônica. E, estes fatores dependem de dois processos gerais: da percepção e da representação. Para Arnheim (apud Villafañe, 2000) a representação consiste em “ver” dentro da configuração. Isto é, a percepção é um processo respon- sável pela seleção da realidade, pois, estimula um esquema que possa re- fletir a estrutura do estímulo equiva- lente perceptivo da realidade e, o pensamento visual inventa um equi- valente pictórico para esse esquema. Da mesma maneira, Dondis (2003), fala dos elementos visuais como substância básica daquilo que ve- mos, e, em número reduzido: o pon- to, a linha, a forma, a direção, o tom, a cor, a textura, a dimensão, a escala e o movimento. São a matéria-prima de toda informação visual em ter- mos de opções e combinações seleti- vas. A estrutura da obra visual é a força que determina quais elemen- tos visuais estão presentes, e, com qual ênfase essa presença ocorre. Descartes imaginou o espaço sendo reduzido ao plano, depois, imaginou a divisão desse plano em semi-planos, tais semi-planos pode- riam ser nominados, quantificados e enumerados. A natureza é concebida como um sistema ordenado de cau- sas e efeitos necessários, cuja estru- tura é a matemática. As teorias referentes ao espaço curvo da geometria euclidiana che- gam a perturbar aos que não conce- bem que a menor distância entre dois pontos é um arco e não um seg- mento retilíneo. Esse é um exemplo da necessidade de amplo conheci- mento e percepção aguçada para al- cançar tamanha imaginação. Para os racionalistas, a sensação e a percep- ção dependem do sujeito do conhe- cimento, a coisa externa é apenas ocasião para que tenhamos a sensa- ção ou a percepção. O sujeito é ativo e a coisa externa é passiva. A percep- ção possui as seguintes característi- cas: é o conhecimento sensorial das 20 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO formas ou de totalidades organiza- das e dotadas de sentido e não a so- ma de sensações elementares. Sen- sação e percepção são o mesmo. É o conhecimento de um sujeito corpo- ral, uma vivência corporal. O mundo exterior não é uma coleção ou soma de coisas isoladas. É organizado em formas e estruturas complexas, do- tadas de sentido. A percepção é uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico/fisiológico (empi- ristas) e nem uma ideia formulada pelo sujeito (intelectualistas). A re- lação dá sentido ao percebido e aquele que percebe - um não existe sem o outro. Uma experiência é do- tada de significação. O percebido é dotado de sentido, faz parte do nos- so mundo e de nossas vivências. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) Teoria da Gestalt: para Ramos, et al (2007, s/p) os órgãos são superfí- cies, passagens capazes de explicar alguns dos fatores, os mais propria- mente sensórios da percepção, mas não são capazes de explicar porque toda percepção adiciona algo ao per- cebido, algo que não está lá fora, no mundo fenomênico, e que não faz parte, portanto da estimulação. Para Santaella, a mente é a responsável pela tarefa em realizar a síntese, a elaboração da compreensão, do sig- nificado tanto do que está lá fora quanto da estimulação que é produ- zida como efeito. O problema da percepção é exatamente pesquisar a passagem dos órgãos sensoriais ao cérebro, pois algo se percebe e algo se acrescenta. O que acontece dentro do cérebro? Eis a questão. A Psicolo- gia da forma ou Gestaltismo ou psi- cologia da gestalt, é um dos muitos ramos da Psicologia. Desenvolveu- se a partir de 1912, pela necessidade da existência de uma teoria que sali- entasse, sobretudo o aspecto global da realidade psicológica, não esque- cendo o valor e a necessidade da ex- perimentação científica. Os grandes fundadores desta escola foram os psicólogos: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Hohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940). Estes três psicólogos, depois de 1910, trabalhando na Uni- versidade de Frankfurt, criticaram fortemente a escola de Wundt (1832-1920), fundador da psicologia moderna e responsável pelo pri- meiro laboratório de psicologia ex- perimental. Wertheimer conseguiu provar experimentalmente, diferen- tes formas de organização percepti- va: o campo visual é apercebido de forma organizada e com significado distinto para cada pessoa. O conhe- cimento do mundo se obtinha atra- vés de elementos que por si só cons- tituem formas organizadas. O termo Gestalt significa uma integração de partes em oposição à soma do “to- 21 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO do”. É geralmente traduzido em in- glês, espanhol e português, como es- trutura, figura, forma. Entretanto, os dicionários apresentam amplas e diversas definições de Gestalt. A psi- cologia da forma se apoia na fisiolo- gia do sistema nervoso, quando pro- cura explicar a relação sujeito-obje- to no campo da percepção. Segundo essa teoria o que acontece no cére- bro não é o que acontece na retina. Segundo Gomes (2003) “a excitação cerebral não se dá em pontos isola- dos, mas por extensão. Não existe, na percepção da forma, um processo exterior de associação de varais sen- sações. A primeira sensação já é de forma, já é global e unificada.” É afirmação de Gomes (2003) que nós não vemos partes isoladas dos objetos, mas relações, istoé, uma parte na dependência de outra parte. Para nossa percepção, que é resultado de uma sensação global, as partes são inseparáveis do todo e são outra coisa que não elas mesmas, fo- ra desse todo. Para o paradigma car- tesiano do dualismo, ou o mundo ex- terior afeta a mente e seriamos me- ros efeitos submetidos às forças ex- ternas ou, o agente psicológico age sobre o mundo inerte que aguarda nossa doação de sentido e vida. Em oposição ao paradigma cartesiano, segundo Santaella (1992) a teoria gestaltica sugeriu que a síntese é produzida por uma reali- zação característica do sistema ner- voso central, chamada de organiza- ção sensorial. Os psicólogos da ges- talt realçaram o caráter espontâneo do processo de percepção, no en- tanto, postularam ainda que haveria uma correspondência entre a esti- mulação retiniana e nossa consciên- cia das coisas. A isomorfia então é um dos postulados entre o que existe na mente e na retina e o que aconte- ce na mente. Mas como essa síntese ocorre, ainda é o problema da per- cepção. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) 23 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO 3. A Educação Artística e os PCNS Fonte: CPT3 ara Penna (s/d, s/p) em todos os ciclos da educação funda- mental, os Parâmetros Curriculares dão à área de Arte uma grande abrangência, propondo quatro mo- dalidades artísticas: Artes Visuais - com maior am- plitude que Artes Plásticas, en- globando artes gráficas, vídeo, cinema, fotografia e as novas tecnologias, como arte em computador; Música; Teatro; 3 Retirado em https://www.cpt.com.br/pcn/parametros-curriculares-nacionais-arte Dança que é demarcada como uma modalidade específica. Nos PCN-Arte, as propostas para essas diversas linguagens artís- ticas estão submetidas à orientação geral, apresentada na primeira parte do documento, que estabelece três diretrizes básicas para a ação peda- gógica. São diretrizes que retomam, embora não explicitamente, os eixos da chamada “Metodologia Triangu- lar” - ou melhor, “Proposta Triangu- P 24 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO lar” -, defendida por Ana Mae Bar- bosa na área de artes plásticas e já bastante conhecida de todos que participam do Projeto Arte na Esco- la. Segundo os próprios Parâmetros, o “conjunto de conteúdos está arti- culado dentro do processo de ensino e aprendizagem e explicitado por in- termédio de ações em três eixos nor- teadores: produzir, apreciar e con- textualizar.” (PCN-Arte, p. 49) Vale ressaltar que, em nosso país, a Pro- posta Triangular representa a ten- dência de resgate dos conteúdos es- pecíficos da área, na medida em que apresenta como base para a ação pe- dagógica, três ações mental e senso- rialmente básicas que dizem respei- to ao modo como se processa o co- nhecimento em arte. Com os eixos norteadores ado- tados, os PCN-Arte colocam-se em sintonia com as buscas desenvolvi- das no campo do ensino de arte, re- fletindo o próprio percurso da área. Neste sentido, podem ajudar a con- solidar uma nova postura pedagó- gica e a concepção da arte como uma área de conhecimento específico. No entanto, há certamente um grande descompasso entre a realidade das escolas e essa renovação pretendida pelas instâncias regulamentadoras e pelos trabalhos acadêmicos, até por- que os Parâmetros são bastante re- centes: os PCN para as 5ª a 8ª séries completaram 2 anos de seu lança- mento oficial no Palácio do Planalto em outubro de 2000 - e não chega- ram de imediato a todas as escolas do país. Ao se pensar a prática peda- gógica na escola, a primeira grande questão é: como realizar, na sala de aula, a proposta dos PCN para Arte, com suas quatro modalidades artís- ticas? O fato é que os PCN-Arte, que apresentam uma proposta tão abrangente, não chegam a apresen- tar de modo claro a forma de enca- minhar concretamente o trabalho com as diversas linguagens artísti- cas. As disposições neste sentido são poucas e dispersas pelo texto, de modo que a questão de quais lingua- gens artísticas, quando e como serão abordadas na escola permanece, em grande medida, em aberto. Os PCN- Arte optam pela organização dos conteúdos por modalidade artística - e não por ciclo, como nos documen- tos das demais áreas -, delegando às escolas a indicação das linguagens artísticas e “da sua sequência no an- damento curricular.” (PCN-Arte, p. 54) Neste sentido, sugerem que, “a critério das escolas e respectivos professores, (...) os projetos curricu- lares se preocupem em variar as for- mas artísticas propostas ao longo da escolaridade, quando serão tra- balhadas Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro.” (PCN-Arte, p. 62-63, apud PENNA, s/d, s/p) 25 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO Ainda de acordo com Penna (s/d, s/p) à primeira vista, a flexibi- lidade presente na proposta de Arte procura considerar as diferenciadas condições das escolas, levando em conta também a disponibilidade de recursos humanos. Diante das con- dições do sistema de ensino em nos- so país, seria irrealista pretender vincular a abordagem de cada lin- guagem artística a séries determina- das, num programa curricular fe- chado. Mas esta flexibilidade pode, em certa medida, comprometer a função básica dos Parâmetros Curri- culares, que é garantir um padrão de qualidade no ensino, em nível naci- onal, inclusive em termos dos con- teúdos estudados. Pois, na área de Arte, muito é deixado a cargo de cada escola ou mesmo do professor, inclusive com respeito à abordagem dos conteúdos. Neste sentido, os PCN-Arte declaram que: “os conteú- dos podem ser trabalhados em qual- quer ordem, conforme decisão do professor, em conformidade com o desenho curricular de sua equipe.” (PCN-Arte, p. 49) Esta flexibilidade tem, então, várias implicações, como nos casos de transferência, que podem vir a trazer prejuízos para a formação do aluno. Já que cada escola pode sele- cionar tanto as modalidades artísti- cas quanto os próprios conteúdos, um aluno que tenha que se transferir pode tornar a repetir os mesmos conteúdos na mesma modalidade artística, ou então pode ter dificul- dades em acompanhar um trabalho mais aprofundado em uma lingua- gem que não tenha sido contempla- da em sua antiga escola. Nos casos de mudanças de escola, que afetam com frequência os alunos das cama- das populares, os efeitos práticos dessa flexibilidade podem até mes- mo invalidar as recomendações do próprio documento acerca da conti- nuidade do processo educativo. (PCN-Arte, p. 62) A nosso ver, a proposta dos PCN na área de Arte é ambiciosa e complicada de ser viabilizada na re- alidade escolar brasileira. Para a sua aplicação efetiva, seria necessário poder contar com recursos humanos com qualificação - o que implica des- de a valorização da prática profissio- nal até ações de formação continu- ada e acompanhamento pedagógico constante -, além de recursos mate- riais que atendessem às necessida- des da prática pedagógica em cada linguagem artística. Uma questão crucial, portanto, é o professor que irá colocar em prática os PCN-Arte: qual deverá ser a sua qualificação? A característica geral da proposta, que se direciona para o resgate dos co- nhecimentos específicos da arte, a complexidade dos conteúdos nas di- versas modalidades artísticas, tudo 26 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO isso parece indicar a necessidade de professores especializados em cada linguagem. Mas, na verdade, não há definições claras sobre a formação do professor de Arte, nem nos PCN, nem na atual Lei de Diretrizes e Ba- ses (LDB). Por conseguinte, como muitas vezes a contratação de pro- fessores está submetida à lógica de custos e benefícios. Acreditamos que, dificilmenteas escolas contarão - a curto ou médio prazo - com pro- fessores especializados em cada uma das quatro modalidades artísticas dos PCN-Arte. Diante deste quadro, vislumbramos três perspectivas, não muito promissoras: 1. Poderá ser exigida do profes- sor uma polivalência ainda mais am- pla - e mais inconsistente - que aquela promovida pela Educação Artística e já tão criticada. Inclusive as provas dos concursos para in- gresso em redes públicas de ensino poderão ser elaboradas neste for- mato, abordando as diversas lingua- gens artísticas, como já acontece em muitos locais nos concursos para Educação Artística. 2. As propostas dos Parâmetros serão realizadas apenas na medida dos recursos humanos disponíveis. Assim, se o professor de Arte de uma dada escola for formado em Música, por exemplo, será esta a linguagem artística contemplada no currículo. Uma outra variante desta situação, que já começa a ter lugar em estabe- lecimentos particulares, é a escola escolher a(s) modalidade(s) artística (s) que considera mais conveniente (s) para os seus interesses, contra- tando um professor com formação adequada. Neste caso, podem pesar argumentos acerca da conveniência de evitar reclamações dos pais, na hora de comprar material para as aulas de Artes Visuais, ou então so- bre como determinado campo da arte pode contribuir para o marke- ting da escola - ao produzir apresen- tações teatrais, por exemplo. 3. Ou ainda - e pior - as propostas dos PCN poderão servir como base para planejamentos e relatórios que ficarão apenas no papel, sem mu- danças efetivas na prática educativa em sala de aula. (PENNA, s/d, s/p) Enfim, aponta Penna (s/d, s/ p), acreditamos que, em termos de Brasil, serão poucas as escolas - de elite, certamente - que se empenha- rão em oferecer as quatro lingua- gens artísticas de modo consistente, contratando para tal diversos pro- fessores com formação específica. Tais perspectivas colocam em dis- cussão a possibilidade de os PCN- Arte trazerem mudanças efetivas para a prática pedagógica na área. A pretensão de um único professor re- alizando as propostas dos PCN-Arte em todas as linguagens artísticas 27 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO contradiz a amplitude e profundi- dade das propostas específicas, atu- alizando a polivalência e conduzin- do, inevitavelmente, a um esvazia- mento de conteúdos. Se os PCN-Arte forem implementados desta forma, ou se ficarem apenas no papel - em belos planejamentos e relatórios -, estarão sendo reduzidos a meros atos de discurso, mascarando, na verdade, a ausência de renovação das ações pedagógicas em arte. Receamos que isto possa vir a acontecer, até porque os próprios PCN preveem um processo progres- sivo para sua aplicação, como base para a atuação do professor em sala de aula - o que nem sempre está ocorrendo. Segundo os documentos introdutórios para os diversos ci- clos, os Parâmetros deveriam ser utilizados progressivamente para subsidiar: As próprias ações do MEC pa- ra o ensino fundamental - o que já está sendo feito; As revisões ou adaptações cur- riculares desenvolvidas pelas secretarias de educação, no âmbito dos estados e municí- pios; A elaboração do projeto edu- cativo (proposta pedagógica) de cada escola, construído num processo dinâmico de discussão, envolvendo toda a equipe. E só então, no quarto e último nível de concretização, caberia ao professor a realiza- ção da proposta curricular na sala de aula. Este processo se- ria capaz, portanto, de respal- dar a ação do professor na rea- lização das propostas dos PCN-Arte. Temos observado, contudo, que muitas vezes os PCN-Arte simplesmente “caem na cabeça” do professor, de quem a direção da escola cobra a aplicação das propostas, a despeito da falta de apoio e de condições. Diante deste quadro, é funda- mental que as escolas assumam a responsabilidade de elaborar o seu “projeto educativo” (nos termos dos PCN) ou “proposta pedagógica” (conforme a LDB). Seguindo princí- pios de flexibilidade e autonomia, a LDB delega aos estabelecimentos de ensino a incumbência de “elaborar e executar sua proposta pedagógica” (Lei 9394/96, Art. 12), o que é rea- firmado pelas Diretrizes Curricula- res Nacionais para o Ensino Funda- mental (Resolução no 2/98 - CNE), que têm - estas sim - caráter obriga- tório. Pois vale lembrar que, embora o MEC esteja colocando os PCN co- mo referência para a avaliação das escolas e alocação de recursos, do ponto de vista formal eles não têm obrigatoriedade. Segundo o Parecer 03/97 do Conselho Nacional de Educação (CNE), “os PCN resultam 28 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO de uma ação legítima, de competên- cia privativa do MEC e se constituem em uma proposição pedagógica, sem caráter obrigatório, que visa à me- lhoria da qualidade do ensino funda- mental e o desenvolvimento profis- sional do professor. É nesta perspec- tiva que devem ser apresentados às Secretarias Estaduais, Municipais e às Escolas.” (PENNA, s/d, s/p) Cada escola pode e deve, por- tanto, elaborar sua própria proposta pedagógica. Se construída de forma participativa e compromissada - não se revestindo apenas de um caráter burocrático -, deve decidir como uti- lizar os recursos humanos e materi- ais disponíveis de modo a atender às necessidades específicas de seu alu- nado. A proposta pedagógica é, pois, o espaço ideal para definir o melhor modo de encaminhar o trabalho de arte na escola, fazendo uso da auto- nomia prevista na LDB e nas Diretri- zes Curriculares, e atendendo à fle- xibilidade da proposta dos PCN-Ar- te. Neste quadro, sendo analisados e discutidos com cuidado, os PCN- Arte podem ser utilizados para res- paldar uma atuação mais aprofun- dada em determinada linguagem ar- tística, ou ainda como base para rei- vindicar as condições necessárias para uma prática pedagógica de qua- lidade. Para concluir, é preciso dei- xar claro que, apesar de todos os questionamentos em torno dos PCN-Arte, reconhecemos a impor- tância destes documentos, que po- dem ajudar a fortalecer a presença da arte na escola. Sem dúvida, os PCN-Arte sinalizam um redireciona- mento do ensino de arte, respon- dendo às buscas da própria área. É preciso lembrar, no entanto, que as normas contam, sobretudo pelos seus efeitos, de modo que os PCN dependem de sua concretização - ou seja, de sua realização na prática es- colar. Nesta medida, tanto a renova- ção da prática pedagógica em arte quanto a “transformação positiva no sistema educacional brasileiro”, a que se refere o Ministro da Educa- ção, passam necessariamente pela prática concreta - com todos os seus conflitos -, pois é nela que tais mu- danças terão que ser construídas e conquistadas. (PENNA, s/d, s/p) 29 30 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO 4. A Educação Artística e a Formação do Aluno Fonte: Novo Negocio4 ara Costa (2001, s/p) “todas as pessoas têm disposição para trabalhar criativamente, o que acon- tece é que a maioria jamais se dá con- ta disso.” (Truman Capote) “Imagi- nar é mais importante do que saber, pois o conhecimento é limitado, en- quanto a imaginação abarca o uni- verso.” (Albert Einstein) “Educação Artística e o Ganha-Pão” foi o texto com que eu dialoguei para redigir es- tas páginas. Trata-se de um estudo sobre o significado da educação ar- tística, para as perspectivas econô- micas dos educandos, independen- temente do ramo de atividade em 4 Retirado em https://novonegocio.com.br/ideias-de-negocios/como-abrir-uma-escola-de-artes/ que pretendam atuar. A primeira in- dagação é se a educação artística de- ve ser considerada um luxo, algo complementar ou meramente aces- sório em relação ao ensino das ma- térias essenciais,como línguas, ciên- cias ou matemática. A resposta é não. O desenvolvimento da criativi- dade e do senso estético é, e será ca- da vez mais, um requisito importan- te para se ingressar, permanecer e ter sucesso no novo mundo do traba- lho. (COSTA, 2001, s/p) A arte na constituição do hu- mano: De acordo com Costa (2001, s/p) a verdade é que somos animais P 31 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO linguísticos e todas as formas de lin- guagem nos servem de meio de ex- pressão oral, visual ou corporal. O fato de lembrarmo-nos do passado e imaginarmos o futuro permite pla- nejar e agir de um modo que nos torna únicos entre os animais. A ver- dade é que somos capazes de produ- zir e, através da comunicação, fazer circular sentidos. A arte, ainda nos tempos das cavernas, permitiu ao homem com- preender a atribuir sentido ao mun- do e à sua atividade sobre ele. A ca- pacidade de configurar sua experi- ência passada e presente e discernir o seu futuro, desde os primórdios da humanidade, é alguma coisa ligada indissoluvelmente à experiência es- tética. A vida, em geral, e o mundo do trabalho, em particular, valoriza e recompensa aqueles que apreen- dem e incorporam - em sua maneira de ver, entender a agir - os padrões novos que - cada vez com maior ve- locidade - emergem da experiência humana. Isso é particularmente vá- lido para uma época de transição no processo civilizatório, como a que presentemente estamos vivendo. Foi através da arte que, pela primeira vez, o homem entendeu e representou o mundo em torno de si. A ideia é de que esta atitude não é alguma coisa, que ficou esquecida em algum lugar do nosso passado. Nós carregamos conosco essa capa- cidade de aprender a configuração do nosso mundo interior ou exterior e objetivá-la em algo dotado de sen- tido, sem ter, para isso, de recorrer à religião, à filosofia e à ciência. É nis- to que consiste a experiência esté- tica. O senso estético é uma maneira permanentemente válida de apreen- der o mundo e atuar sobre ele, atra- vés de uma atividade dotada de sen- tido. Isto é especialmente válido quando consideramos como objeti- vos da educação a realização das po- tencialidades do ser humano e a sua preparação para a cidadania e o tra- balho. A ciência, a filosofia e a reli- gião também exercem esse papel de preparar o ser humano para com- preender e atuar sobre o mundo. Ca- da qual à sua maneira, essas formas de relacionamento do homem com o mundo natural e humano que o cer- ca constituem o que há de especifi- camente humano em nossa natu- reza, que é a cultura. (COSTA, 2001, s/p) Um novo mundo do trabalho: para Costa (2001, s/p) num mundo do trabalho que se “desmaterializa”, grande parte das habilidades especí- ficas será aplicada por máquinas in- teligentes, isto é, máquinas capazes de substituir, não somente o esforço muscular humano, mas, em medida cada vez maior, o seu esforço cere- bral. Numa situação como essa, as aptidões e destrezas manuais, a ca- 32 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO pacidade de seguir instruções, a prontidão para obedecer a coman- dos, a capacidade de concentração tendem a ser, cada vez mais intensa- mente, substituídas por habilidades básicas e de auto/hetero e cogestão como: percepção do todo, capacida- de de expressar-se, capacidade de manter-se automotivado e de moti- var os outros, capacidade de contri- buir criativamente na solução dos problemas em grupo, de construir em conjunto, de adaptar-se a novas situações, de ensinar e de aprender com os outros, capacidade de avaliar e de deixar-se avaliar. Num mundo do trabalho onde o emprego na área pública ou privada parece não ser mais a única e, a médio e longo pra- zo, nem a principal forma de inser- ção na vida produtiva, é preciso pre- parar as novas gerações de trabalha- dores (não necessariamente de em- pregados) de forma inteiramente di- versa daquela pela qual fomos pre- parados. Mais do que observadores de normas, seguidores de instruções e fiéis observantes das rotinas laborais, o novo mundo do trabalho requer pessoas que sejam criativas, racioci- nem e resolvam problemas e, sobre- tudo, que sejam capazes de se autode- terminar, assumindo responsabilida- des e correndo riscos, ou seja, criando o seu próprio futuro. Educação, arte e trabalho: hoje, já existem vários estudos que asso- ciam o aumento da escolaridade a ganhos em produtividade e renda por parte dos trabalhadores. Em ra- zão disso, é crescente entre os em- pregadores o interesse em aumentar os níveis educacionais de sua força de trabalho. Esse interesse, no en- tanto, restringe-se ao ensino da lin- guagem, do cálculo e de habilidades específicas. A educação artística é vista como uma espécie de perda de tempo, algo inteiramente acessório, mais próximo do lazer que do traba- lho, “um luxo”. No polo oposto dessa visão en- contramos o arte-educador. Para ele, a educação artística justifica-se por si mesma. Sua importância está radicada no seu caráter autocriador do humano e seria quase uma afron- ta associá-la à educação profissio- nal. Assim, nos deparamos com duas posições antagônicas, mas cujo resultado prático é exatamente o mesmo. A primeira, a de que a edu- cação artística é tão sem importân- cia, que não vale a pena considerá-la como algo de útil na preparação das pessoas para o mundo do trabalho. A segunda, a de que a educação ar- tística é tão importante em si mes- ma, que é um rebaixamento consi- derá-la de forma pragmática, como uma modalidade entre outras de preparação para o mundo do traba- lho. A posição que supera o falso di- lema vivenciado nessa polarização 33 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO desnecessária e estreita é a constata- ção de que a educação artística, to- mada em si mesma, sem nenhuma submissão à dimensão produtiva, exerce sobre esta uma influência ex- tremamente positiva. Isso quer dizer que a educação artística não deve e nem necessita tornar-se instrumen- to da educação profissional. Ela deve isto sim, é converter-se num pode- roso catalisador do desenvolvimento humano, tanto no campo da educa- ção básica, como no campo da edu- cação profissional. Nem paralelis- mo, nem incorporação, mas conver- gências e complementaridade. É certo que, seja para o jovem atuar como empregado no setor público ou privado, seja para atuar como auto empregado, na economia infor- mal, seja para atuar como empreen- dedor, em micro, pequenas, médias ou grandes empresas, a educação ar- tística tem tanto a contribuir como a educação básica ou a educação pro- fissional. (COSTA, 2001, s/p) A verdade é que, para traba- lhar lidando com pessoas, com gru- pos, com ideias, com formas e rela- ções as mais variadas, o ser humano deverá deter cada vez mais se poliva- lente, flexível, motivado, motivante e criativo. Os alunos que montam uma peça de teatro, por exemplo, aprendem: A atuar como uma equipe; A dirigirem e serem dirigidos; A expressar-se com a fala, o corpo e olhar; A programar-se dentro de um orçamento limitado; A buscar soluções criativas, in- ventando, adaptando e impro- visando; A auto-hetero e coavaliar; A ter disciplina de postura, de tempo e de lugar; A empenhar-se na busca da qualidade; A gostar e a valorizar o suces- so; A praticar a melhoria contínua e o respeito pela audiência; A repetir uma ação inúmeras vezes, aproximando-se grada- tivamente do que deve ser. Nas feições do mundo do tra- balho, que está surgindo nesta reta final de século e de milênio, alguns traços já se podem distinguir com nitidez: A qualidade deixa de ser dife- rencial competitivo e torna-se uma condição indispensável para se ingressar e permane- cer no mundo do trabalho; O trabalho está se desmateria- lizando,ou seja, lidar com a in- formação e o conhecimento vai se tornando cada vez mais um requisito mais importante que lidar diretamente com matérias-primas. Esta é a ca- racterística mais marcante do ingresso na era pós-industrial; A robótica, a telemática e a in- formática virtualizarão, cada 34 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO vez mais, o processo de traba- lho, através de sons, imagens e símbolos, que o ser humano deverá ser capaz de acessar e aprender de forma instantâ- nea. Nesse sentido, nos Estados Unidos, educadores estão desenvol- vendo padrões curriculares e repre- sentantes da indústria vêm desen- volvendo padrões educacionais, com o objetivo de desvelar a compatibili- dade e a fecundidade das relações da educação artística com as formas de organização e as tecnologias do novo mundo do trabalho. Na medida em que esse trabalho se desenvolve, vai ficando cada vez mais claro que o co- nhecimento e a prática de habilida- des artísticas podem desenvolver nos jovens competências fundamen- tais para o sucesso no mundo do tra- balho e na vida, de um modo geral, no século 21. (COSTA, 2001, s/p) Ainda para Costa (2001, s/p) três grandes eixos já foram identifi- cados, como pontes seguras para o trânsito de benefícios da educação artística para o trabalho: 1º. Eixo: habilidades desenvolvi- das na educação artística podem ser transferidas para o trabalho e para a vida em geral; 2º. Eixo: o conhecimento das ar- tes potencializa a comunicação efi- caz; 3º. Eixo: a experiência estética propicia uma abordagem criativa à solução de problemas. No plano objetivo, das artes se pode aprender a trabalhar com o tempo, o espaço, a luz, a cor, o som, o corpo, a voz, compromissos, agen- das, recursos financeiros, meios de comunicação social, instrumentos de diversos tipos, materiais, tecnolo- gia etc. No plano da subjetividade e da intersubjetividade, as artes pro- piciam o desenvolvimento de habili- dades como trabalhar em equipe, planejar, negociar, liderar, ensinar, coordenar, acompanhar, avaliar, co- municar, administrar conflitos e ge- rar soluções criativas. Noções fun- damentais como processo, raciocí- nio descontínuo, sistema e visão ho- lística podem ser vivenciadas, atra- vés de atividades de educação artís- tica, ao invés de serem apenas trans- mitidas em termos puramente con- ceituais. Isto sem falar nos conheci- mentos, valores, atitudes, posturas, habilidades e destrezas, que a educa- ção artística necessariamente desen- volve em todos os domínios da expe- riência estética. Essa nova maneira de ver a educação artística traz para os edu- cadores, que atuam nessa área, no- vos e crescentes desafios: 35 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO Desenvolver novas capacida- des para o trabalho em equipe; Familiarizar-se com as novas tecnologias (informática e te- lemática); Abrir-se a outras culturas e a perspectivas distintas diante do trabalho e da vida; Buscar formas novas de apren- der e ensinar o trabalho cria- tivo; Dedicar tempo à busca e à transmissão das grandes men- sagens modeladoras do traba- lho e da vida na transição civi- lizacional que estamos vi- vendo; Construir pontes entre o mun- do da educação artística e o mundo do trabalho; Divulgar a ideia de que, mais do que uma educação para a arte, a educação artística é uma educação para a vida, no sentido mais pleno do termo. Estamos vivendo um período de transição civilizacional. A huma- nidade como um todo está ingres- sando em uma nova e decisiva etapa de sua evolução histórica. O mundo do trabalho sofre simultaneamente o impacto modelador de três forças: a globalização dos mercados, im- pondo novos patamares de exigência em termos de produtividade e quali- dade na produção de bens e serviços; as novas tecnologias, que desvincu- laram, de forma definitiva, o cresci- mento da produção do crescimento do emprego e desmaterializaram o trabalho humano, levando a econo- mia e a sociedade à era da informa- ção e do conhecimento; as novas for- mas de organização do trabalho, que exigem um trabalhador diferente em tudo do tipo que prevaleceu no sécu- lo 20. As habilidades desenvolvidas pela educação artística, que eram periféricas e minoritárias no sistema produtivo, passam a ocupar uma po- sição central no perfil do trabalha- dor requerido pelas transformações deste fim de século e de milênio. Es- sas novas habilidades deverão ser desenvolvidas em três cenários: es- cola; ações complementares à esco- la; educação profissional para e pelo trabalho. Em todos esses cenários, a posição ocupada pelo binômio arte- educação deverá ser ampla, profun- da e corajosamente revista. Esta é uma causa pela qual vale a pena lu- tar. (COSTA, 2001, s/p) Didática no Ensino de Arte Os registros: uma possibilida- de: para Guerra (s/d, s/p) basta nas- cermos e alguém já corre a providen- ciar nosso registro! Outros tantos vi- rão pela nossa vida afora, memórias vivas do que já fomos ou fizemos: di- plomas, certidões, certificados e quantas e deliciosas fotos de aniver- sários, formaturas, casamentos, na- tais, viagens. E nossos diários e 36 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO agendas de adolescentes? Quantos registros de momentos mágicos, de sonho e também de tristezas, na época parecendo insuperáveis? Sim, somos seres de registros, precisa- mos deles! Aliás, segundo Vygotsky, o que nos diferencia dos animais é o exercício do registro. Desde os tem- pos mais remotos, em que nossos ancestrais desenharam nas paredes das cavernas até os dias de hoje, em que grafiteiros pintam os muros das grandes cidades, o ser humano sente a necessidade de deixar sua marca por onde passa. Histórias gravadas em pedras, papéis, filmes, fotos. Enquanto professores, tam- bém somos agentes de uma história compartilhada por dezenas de alu- nos e, nesse percurso, deixamos marcas, elaboramos registros. Mas, o que seriam registros, nas aulas de arte? Na verdade, todas as produ- ções dos alunos - escritas, desenha- das, cantadas, representadas, dan- çadas... - são registros. Demonstram de que forma relacionaram, pensa- ram, simbolizaram, apreenderam, articularam determinados conteú- dos e de que maneira esses se con- cretizaram, se sintetizaram em re- cortes do conhecimento apreendido. O aluno, quando registra, se situa melhor dentro dos conteúdos desen- volvidos, estabelece relações entre o que já sabe, o novo e outras áreas do conhecimento. Dá sentido ao que aprendeu, torna- se mais crítico e exigente em relação a si mesmo e ao ensinar/aprender arte. Percebe seu percurso e tem bases mais sólidas para proceder a uma autoavaliação. Elaborar registros escritos é funda- mental na aula de arte, pois o ato de escrever sobre aquilo que se apren- deu - ou se ensinou - faz refletir, or- ganiza o pensamento e sintetiza ideias de forma consciente, mais profunda, num exercício de apropri- ação do conhecimento e de constru- ção de significações. Para o profes- sor, o ato de registrar - intimamente ligado ao ato de avaliar - possibilita a melhor percepção dos progressos, obstáculos, retrocessos e limites de seus alunos, assim como permite efetuar as intervenções imediatas e apontar possíveis encaminhamen- tos. Cada momento de registro é também uma pausa para se repensar a própria prática pedagógica, rever caminhos, tentar novas possibilida- des e reafirmar certezas. Pedir, observar e interpretar os registros dos alunos requer um olhar que vá além das aparências, que busque os significados estéticos, simbólicos, cognitivos; um professor atento, investigativo, sensível, que não despreza pistas, que lê nas en- trelinhas, dialoga com seus aprendi- zes e com sua própria prática e que, acima de tudo, tem clareza do papel da arte na educação,dos objetivos 37 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO do ensinar aprender arte e o que pre- tende com cada uma das situações de aprendizagens propostas. (GUERRA, s/d. s/p) O quê e quando registrar? De acordo com Guerra (s/d, s/p) quan- do fotografamos um aniversário, por exemplo, tiramos fotos dos momen- tos mais significativos da festa, aqueles que sintetizam, da melhor forma possível, o evento que quere- mos registrar, para relembrar o acontecido, para organizarmos nos- so álbum de memórias. Assim tam- bém, na sala de aula, registros de- vem marcar etapas importantes de um projeto ou sequência de situa- ções de aprendizagem. Podem ser solicitados registros ao se dar início a um novo projeto, com função de diagnóstico; nesse caso, o professor poderá perceber o repertório artís- tico e estético de seus alunos, tendo, assim, melhor clareza de como ori- entar seu planejamento a partir das noções e conceitos que a classe já possui, desvelando e ampliando co- nhecimentos, corrigindo possíveis distorções e atendendo às necessi- dades e interesses individuais e cole- tivos. Registros também podem e devem ser feitos ao final de uma au- la, etapa ou momento significativo de um projeto ou sequência didática, quando se pretende verificar o que de fato foi apropriado pela classe até então, observando suas dificuldades e progressos, verificando como se dá a articulação entre o repertório dos alunos e os novos conteúdos traba- lhados, pensar intervenções, repla- nejar ações. Ao final de um projeto, registros mostram a sistematização do conhecimento, o que de fato foi significativo, quais mudanças ocor- reram, se os objetivos propostos fo- ram atingidos, de que forma os aprendizes articularam seu fazer ar- tístico à apreciação estética e ao co- nhecimento da produção artística da humanidade em seus contextos con- ceitual, histórico e cultural. Os regis- tros dos alunos podem ser feitos de forma individual, grupal ou com to- do o coletivo da classe, sempre me- diados pelo professor, cujo encami- nhamento deverá visar sempre a busca daquilo que o aluno aprendeu em arte, não se atendo a questões como “você gostou do que fez? como você se sentiu?” Vale relembrar que toda pro- dução dos alunos é uma forma de re- gistro: desenhos, pinturas, gráficos, charges, quadrinhos, tabelas, músi- ca, poemas, teatro, esculturas. E, é claro, também fotos e gravações! O importante é que estes registros, to- dos, tenham legendas, datas, que se- jam contextualizados. Nada mais in- trigante (e frustrante!) do que uma foto antiga que ninguém mais se lembra de onde foi tirada, em que 38 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO época, que pessoas são aquelas ali retratadas. Assim, se o professor faz uma gravação de uma apresentação musical de seus alunos ou os foto- grafa em uma atividade de pintura, é fundamental garantir todos os crédi- tos: a data, quem são as pessoas ali presentes, qual a etapa do projeto, qual o projeto. Alunos e professores precisam adquirir o hábito de datar suas anotações, suas produções, de contextualizá-las. (GUERRA, s/d, s/p) É importante salientar, segun- do Guerra (s/d, s/p) que registros escritos são fundamentais, mas não devem ocupar um período muito grande das aulas de arte, cujo uni- verso é especialmente o não verbal e cujo espaço dentro do currículo es- colar já é tão reduzido! Todos já vi- mos pessoas em viagens de férias que passam o tempo todo com uma filmadora a tiracolo. Sim, registram tudo, o tempo inteiro, mas e o pas- seio? E a festa, o prazer, o conheci- mento de uma nova cultura? Fica tudo virtual, tudo visto muito tempo depois, através de uma lente. É pre- ciso fotografar, filmar, registrar sim, mas apenas os momentos mais sig- nificativos, porque infelizmente, nossa memória vai se tornando diá- fana, mas, mais importante que tu- do, é viver, experienciar, estar ali de corpo e alma! Desta forma, o que vale mes- mo, é o professor estar presente e atento a todas as produções dos alu- nos, e anotar - estes são os seus re- gistros - de forma individual ou por grupos de aprendizes, como estes se envolvem nas atividades, de que forma resolvem os desafios propos- tos, que dificuldades apresentam, que soluções encontram para deter- minados problemas, de que maneira articulam o fazer, o conhecer e o fruir arte. Aos poucos, através da prática do registro, é que o professor vai percebendo quais são os momen- tos sínteses de cada proposta, de ca- da situação que merecem ser regis- trados. O portfólio: há algumas décadas atrás, os “registros” da aprendiza- gem em arte se resumiam a cadernos de desenhos iguais, encapados iguais, apresentando a mesma se- quência de atividades iguais e o me- lhor aluno era, obviamente, aquele que fosse mais “igual” ao professor, que cobrava cada página ausente (ele sabia a ordem das coisas) e não aceitava nada além daquilo que ele havia colocado na lousa. Educadores contemporâneos sugerem a organi- zação dos registros dos alunos - e também os do professor - em portfó- lios, palavra essa que não deve ser desconhecida dos arte-educadores, pois se trata de uma pasta há muito 39 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO tempo usada por artistas e arquite- tos que nelas documentam todo seu percurso profissional, selecionando suas obras mais marcantes e signifi- cativas. Cada aluno pode e deve criar seu próprio portfólio - que é indivi- dual -, nele guardando suas produ- ções e documentando toda sua traje- tória durante um determinado pro- jeto ou ano escolar, sempre orienta- do pelo professor que, com sua tur- ma pode combinar os critérios de se- leção dos trabalhos que dele farão parte: textos, desenhos, rascunhos, projetos, anotações, reflexões, tra- balhos individuais ou em grupo, re- latórios, marcos significativos de aprendizagem organizados de forma que evidenciem o envolvimento do aprendiz no processo de ensinar/ aprender arte. Cada portfólio é úni- co, tem a marca de quem o fez, com a história única, irrepetível de seu autor. Um portfólio não deve ser visto como uma caixa onde se guar- dam coisas que não se usa mais, nem organizado de forma mecânica ou burocrática. E algo vivo, dinâmico, que se consulta sempre, que é objeto de reflexão, de análise e de avaliação contínuas. O professor também deve elaborar o seu portfólio, de cada classe, com registros de cada aluno ou grupos de alunos, com suas refle- xões, anotações, avaliações, enfim, com a história de seu percurso com aquele grupo de alunos que lhe foi confiado naquele período de tempo. Portfólios podem e devem ser com- partilhados entre os alunos da clas- se, com outros professores da escola assim como com os pais. São como álbuns de fotografias, revelam vidas, contam histórias. (GUERRA, s/d, s/p) 4 0 40 41 PRESSUPOSTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO 41 5. Referências Bibliográficas ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Vi- sual. São Paulo. Joli. 1989. ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Vi- sual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Thompson, 2006. ARNHEIM, Rudolf. Consideraciones so- bre la educación artística. Barcelona: Pai- dós, 1993. ARNHEIM, Rudolf. El pensamiento vi- sual. Barcelona: Paidós, 1998. ARNHEIM, Rudolf. Intuição e Intelecto. São Paulo. Martins Fontes. 1989. BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: con- flitos/acertos. São Paulo: Max Limonad, 1985. BARBOSA, Ana Mae. Teoria e Prática da Educação Artística. São Paulo: Cultrix, 1990. BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984. BIASOLI, Carmem Lúcia A. A formação do professor de arte: do ensino à encenação. Campinas: Papirus, 1999. BOAL, Augusto. Exercícios e jogos para o ator e o não ator. Rio de janeiro: Civiliza- ção Brasileira,
Compartilhar