Buscar

Teníase- Parasitologia

Prévia do material em texto

Samara Pires - MED25
Base� d� Parasitologi� Human�
Teníase e Cisticercose
1. Introdução
● Classe Cestoda (Platelminto) → parasitos hermafroditas, de corpo achatado
dorsoventralmente, órgãos de adesão na extremidade estreita (anterior), não
possuem cavidade geral nem tubo digestório.
● Cestoides que parasitam os humanos → Taenia solium e Taenia saginata
(solitárias).
● A teníase e a cisticercose são um grave problema de saúde pública em países
com precárias condições sanitárias, socioeconômicas e culturais que contribuem
para a transmissão.
● A OMS estima que ocorram, a cada ano, 50.000 mortes decorrentes de
neurocisticercose e que exista uma quantidade ainda maior de pacientes que
sobrevivem, mas ficam incapacitados pelas sequelas.
● Os índices são considerados endêmicos na América Latina para teníase e
cisticercose.
● De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a cisticercose é
endêmica no Brasil, principalmente em MG, SP, PR e SC.
● Dados sobre a cisticercose animal são deficientes → a inspeção limita-se a cortes
superficiais nas localizações preferenciais e a músculos mais acessíveis (Serviço
de Inspeção Federal).
2. Morfobiologia do parasito
● T. saginata e T. solium (“solitárias”) apresentam corpo achatado em forma de fita
dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo. São de cor
branca ou leitosa.
● Escólex → é um órgão de fixação do cestoide à mucosa do intestino delgado
humano. Tem quatro ventosas que exercem essa função e um rostro central
armado entre as ventosas e que apresenta dupla fileira de acúleos ou ganchos
(essa estrutura está somente em T. solium).
Samara Pires - MED25
● Colo → porção mais delgada, está em atividade de multiplicação para formação
de novas proglótides.
● Estróbilo → formado por segmentos chamados proglotes que podem alcançar 3
metros em T. solium e até 8 metros em T. saginata. Em cada proglótide, há a
formação de órgãos, como os genitais masculino e feminino (hermafrodita) e,
quanto mais afastada do escólex, mais desenvolvida é a proglótide.
As proglotes são subdivididas em jovens, maduras e grávidas e apresentam
individualidade reprodutiva e alimentar. O fenômeno do desenvolvimento dos
órgãos genitais masculinos primeiro em relação ao feminino é denominado
protandria.
As proglotes maduras têm os órgãos aptos para fecundação, já as grávidas,
são mais compridas do que largas e seus órgãos reprodutores sofrem involução,
enquanto o útero se ramifica e fica repleto de ovos. Essas proglotes sofrem apólise,
ou seja, desprendem-se espontaneamente do estróbilo. Em T. solium, são
elimi nadas passivamente com as fezes de três a seis anéis uni dos, enquanto em T.
saginata as proglotes se destacam e são eliminadas separadamente entre as
evacuações, contaminando a roupa íntima do hospedeiro.
Observe na imagem que a proglote grávida de T. solium tem ramificações
pouco numerosas e dendríticas e a de T. saginata, muitas ramificações uterinas e
dicotômicas. O poro genital com esfíncter musculoso é encontrado apenas em T.
saginata.
● Ovos → são esféricos, morfologicamente indistinguíveis e contêm uma camada
protetora (embrióforo) que lhes confere resistência no ambiente. O embrião
hexacanto ou oncosfera tem três pares de gancho e dupla membrana.
● Cisticerco → vesícula translúcida com líquido claro que possui um escólex
invaginado com quatro ventosas, rostelo e colo. O cisticerco de T. saginata não
tem rostelo. A vesícula do cisticerco tem três membranas: cuticular ou externa,
celular ou intermediária e uma reticular ou interna. No sistema nervoso central, o
cisticerco pode se manter viável por vários anos: estágio vesicular (membrana
vesicular delgada e transparente, escólex normal) → estágio coloidal (líquido
vesicular turvo e escólex em degeneração alcalina) → estágio granular
(membrana espessa, escólex é uma estrutura mineralizada com aspecto
granular) → estágio granular calcificado (cisticerco calcificado e com tamanho
reduzido).
Na fase adulta e na reprodutiva, T. solium e T. saginata vivem no intestino
delgado humano, o cisticerco da T. solium é encontrado nos tecidos subcutâneo,
muscular, cardíaco, cerebral e no olho de suínos, e acidentalmente em humanos e
cães. O cisticerco da T. saginata é encontrado nos tecidos dos bovinos.
3. Ciclo biológico
● Seres humanos infectados liberam proglotes grávidas com ovos para o exterior
ou durante a apólise podem surgir hérnias no parasito devido à não cicatrização
Samara Pires - MED25
da superfície de ruptura entre elas, provocando a liberação de ainda mais ovos
para o exterior por meio das fezes. As proglotes se rompem devido à contração
muscular ou à decomposição de suas estruturas, eliminando os ovos no solo.
● Os ovos mantêm-se infectantes por meses no solo → são ingeridos por
hospedeiros intermediários (suínos para T. solium e bovinos para T. saginata) →
no estômago, pela ação da pepsina, as oncosferas são ativadas e penetram com
o auxílio dos ganchos no intestino → ficam por 4 dias e são transportadas para
outros tecidos por meio dos vasos linfáticos mesentéricos, sistema porta, fígado,
veia cava, coração, pulmão, aorta e órgãos → pele, músculos esqueléticos e
cardíacos, olhos, cérebro, língua, masseter. Nesse ponto, transformam-se em
cisticercos que crescem (ficam nos músculos por alguns meses e, no caso da T.
solium, permanece por anos no sistema nervoso central).
● Cisticerco é ingerido por meio da carne crua ou mal cozida → evagina-se após a
ação do suco gástrico → fixa-se no intestino delgado pelo escólex →
transforma-se em tênia adulta → eliminação de proglótides grávidas após 3
meses.
Obs.: a T. solium tem longevidade de 3 anos e a T. saginata, de até 10 anos.
4. Transmissão
● Teníase: ingestão de carne suína ou bovina mal cozida infectada pelo cisticerco
das respectivas espécies de tênia.
● Cisticercose humana: ingestão acidental de ovos viáveis da T. solium eliminados
nas fezes de infectados.
⇒ Autoinfecção externa: portadores de T. solium eliminam proglotes e ovos de sua
própria tênia e levam à boca a mão contaminada.
⇒ Autoinfecção interna: por meio de vômitos e de movimentos retroperistálticos do
intestino → ovos de T. solium vão para o estômago e são ativados pelo suco gástrico,
oncosferas voltam ao intestino delgado.
⇒ Heteroinfecção: pessoas que ingerem ovos em alimentos e em água
contaminados pelas fezes infectadas de outro indivíduo.
5. Patogenia
● Teníase → fenômenos tóxicos alérgicos, hemorragias pela fixação na mucosa,
destruição do epitélio, inflamação com infiltrado celular com hipo ou
hipersecreção de muco. Podem surgir sintomas, como tontura, astenia
(fraqueza), apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do abdome, perda
de peso.
● Cisticercose → reação local no caso da cisticercose muscular ou subcutânea,
tendência de calcificação após a morte do parasito. Se houver grande
quantidade nos músculos esqueléticos, pode surgir dor, fadiga e cãibras. Na
cisticercose ocular, surgem reações inflamatórias exsudativas que promovem
opacificação do humor vítreo, como uveíte (inflamação da camada média) e
Samara Pires - MED25
sinéquia posterior da íris (aderência da íris à lente do olho). Pode gerar
desorganização intraocular e opacificação do cristalino (catarata).
● Neurocisticercose → quadro pleomórfico (variável), pode ter epilepsia, que é
muito comum (associada à calcificação), hipertensão intracraniana, hidrocefalia
e até paralisia dos nervos cranianos. Pacientes com poucos cisticercos
geralmente são assintomáticos (mesmo que tenham crises epilépticas), mas os
que têm infecção maciça podem até ter déficit cognitivo.
6. Diagnóstico
● Teníase → diagnóstico clínico é difícil devido aos sintomas inespecíficos. O
diagnóstico laboratorial é feito por meio da procura de proglotes nas fezes pelos
métodos rotineiros ou pelo método de Graham ou, mais raramente, pela procura
de ovos. Para o diagnóstico específico, faz-se a tamisação, que é a lavagem em
peneira fina para obtera proglote e identificar a espécie originária pela
morfologia da ramificação uterina. Outro método é a pesquisa de
coproantígenos com teste ELISA e a PCR, que possibilita o diagnóstico específico
das tênias.
● Cisticercose → coletar aspectos epidemiológicos, histórico e hábitos do paciente
(diagnóstico clínico), fazer exame oftalmoscópico de fundo de olho. Pesquisar o
parasito por meio de observações anatomopatológicas de biópsias, necrópsias e
cirurgias (laboratorial).
⇒ Neurocisticercose: exames de líquor, neuroimagem, detecção de anticorpos no
soro, tomografia computadorizada (nem sempre detecta, porque, por exemplo, os
cisticercos em topografia intraventricular ou cisternal têm densidade similar à do
líquor) e ressonância magnética (proporciona maior visualização, mas tem alto
custo).
Outro método é o uso de ELISA (imunoenzimática) e blotting com proteínas
purificadas (EITB), que detectam anticorpos no líquor cefalorraquidiano. O EITB
emprega extratos antigênicos parcialmente purificados de cisticercos e detecta
anticorpos séricos específicos.
7. Epidemiologia
● A prevalência da teníase depende dos hábitos alimentares de um povo. Ex.: T.
saginata é rara entre os hindus, que não comem carne bovina e T. solium, rara
entre os judeus, que não comem carne suína.
● No Brasil → T. solium e T. saginata têm ampla distribuição no país pelas precárias
condições de higiene de grande parte da população, pelos métodos de criação
extensiva dos animais e pelo hábito de ingestão de carne pouco cozida ou
assada. A forma de criação também influencia, pois há regiões com criadouros
de suínos próximos ao esgoto e, nos ambientes urbanos, há maior contato dos
animais com dejetos humanos.
● A principal contaminação por ovos do parasito se dá por heteroinfecção.
Samara Pires - MED25
● A resistência dos ovos no ambiente favorece a permanência do ciclo.
8. Profilaxia
● Tratamento dos doentes;
● Construção de redes de esgoto e de fossas sépticas;
● Tratamento de esgoto, evitando a contaminação dos animais;
● Educação em saúde: orientar a população a não comer carne crua ou mal
cozida;
● Modernização da suinocultura: manejo correto sanitário e nutricional dos
animais criados em confinamento, impedir o acesso do suíno às fezes humanas;
● Combate ao abate clandestino, realização de inspeção rigorosa e exclusão de
carcaças contaminadas para tratamento especial (só pode ser aproveitada se
passar pelo frio, pelo calor e pela salga). Se tiver mais de 20 cisticercos, deve ser
descartada do consumo humano.
9. Tratamento
● Teníase → niclosamida, praziquantel. Ingerir leite de magnésio depois para
facilitar a eliminação das tênias inteiras e evitar a autoinfecção. Efeitos colaterais:
náuseas, tonturas, dor de estômago, cefaleia.
● Neurocisticercose → praziquantel e albendazol (indícios de que este tem menos
efeitos colaterais e é mais eficaz na redução do número de cisticercos), além de
medicamentos antiepilépticos e de remoção cirúrgica (cistos gigantes no canal
medular, por exemplo). Objetivos: destruição simultânea de múltiplos cisticercos,
evitar reação inflamatória.

Continue navegando

Outros materiais