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Legitimidade do banco para ajuizar ação de consignação em pagamento

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CASO PRÁTICO (CESGRANRIO/Transpetro – Advogado Jr./2018)
L, paciente de M, celebrou com ela contrato de prestação de serviços médicos, ficando ajustado que o pagamento seria realizado de forma fracionada, por meio da emissão de cheques pré-datados, em quantias a serem depositadas ao longo de quatro meses. Ocorre que, no decorrer do período, L perdeu o emprego, o que a deixou sem condições de honrar o pagamento da última parcela. Ultrapassado o prazo convencionado, o derradeiro cheque apresentado por M retornou por insuficiência de fundos, fato que levou L a figurar como inadimplente no serviço de proteção ao crédito. Após três meses, L conseguiu um novo emprego. Visando a sanar a dívida pendente, ela buscou estabelecer contato com M, sem sucesso, pois esta se havia mudado para destino incerto.
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
VALE LEMBRAR QUE A CONSIGNAÇÃO TEM LUGAR QUANDO...
Código Civil. Art. 335. A consignação tem lugar (ROL EXEMPLIFICATIVO):
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Diante do slide anterior, é possível concluir que a consignação serve, em linhas gerais, para as obrigações de 
A) PAGAR;
B) ENTREGAR COISA.
Ou seja, as obrigações de fazer ou não fazer estão fora. 
Mas quem pode consignar?
Só o devedor? Terceiros? E aí?
NÃO SE ESQUEÇA DA LEGITIMIDADE! ESSE PONTO É IMPORTANTE!
Olha o que prescreve o artigo 539 do Código de Processo Civil:
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
SOBRE OS TERCEIROS, NÃO SE ESQUEÇA DO CÓDIGO CIVIL
Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.
A instituição financeira possui legitimidade para ajuizar ação de consignação em pagamento visando quitar débito de cliente decorrente de título de crédito protestado por falha no serviço bancário. 
A questão controvertida consiste em definir se o banco, com o intuito de prevenir ou reparar dano a seu cliente, ante a possibilidade de ter sido adulterado cheque em razão de falha no serviço bancário, tem legitimidade para propor ação de consignação em pagamento visando quitar o débito referente a título apontado a protesto e evitar que venha a responder futura demanda indenizatória.
Inicialmente, o procedimento da consignação em pagamento existe para atender as peculiaridades do direito material, cabendo às regras processuais regulamentar tão somente o iter para o reconhecimento judicial da eficácia liberatória do pagamento especial, constituindo o depósito em consignação modo de extinção da obrigação, com força de pagamento. 
Ressalvadas as obrigações infungíveis ou personalíssimas, que somente o devedor pode cumprir, como há interesse social no adimplemento das obrigações, o direito admite que um terceiro venha a pagar a dívida, não se vislumbrando prejuízo algum para o credor que recebe o pagamento de pessoa diversa do devedor, contanto que seu interesse seja atendido. 
O Código Civil, porém, distingue a disciplina aplicável conforme o terceiro possua ou não interesse jurídico no pagamento (arts. 304 a 306 do CC). 
Conforme leciona a abalizada doutrina, o credor só poderia recusar o pagamento de terceiro não interessado em três hipóteses: (a) caso exista no contrato expressa declaração proibitiva ao cumprimento da obrigação por terceiro; (b) na hipótese de tal cumprimento poder lhe causar prejuízo; e (c) na situação em que a obrigação, por sua natureza, somente possa ser cumprida pelo devedor. 
Na hipótese, é nítido que o banco autor da ação tem interesse jurídico, já que tem o dever de não causar danos à consumidora, reconhecendo haver verossimilhança na afirmação de sua cliente acerca de extravio do talonário e de sua falha na devolução do cheque por inexistência de fundos, o que propiciou o protesto. Assim, é patente a idoneidade do instrumento processual utilizado. (REsp 1.318.747-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 04/10/2018, DJe 31/10/2018 – informativo 636).
ONDE CONSIGNAR? 
LEMBRE-SE QUE ESSE PONTO GERA REFLEXOS NA COMPETÊNCIA PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO OU PARA A REALIZAÇÃO DA CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL...
Código de Processo Civil. Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.
QUESÍVEL (FORO DO DOMICÍLIO DO AUTOR-DEVEDOR)
PORTÁVEL (FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU)
Ainda sobre o lugar do pagamento
Código Civil. Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor (QUESÍVEL), salvo se as partes convencionarem diversamente (PORTÁVEL), ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
Código Civil. Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.
Código Civil. Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.
Código Civil. Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.
PROCEDIMENTO
CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL
Código de Processo Civil. Art. 539, § 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa.
RESOLUÇÃO Nº 2.814/2001 DO BANCO CENTRAL
O PRAZO DE 10 DIAS, QUE ESTÁ PREVISTO NO PARÁGRAFO DO SLIDE ANTERIOR, SERÁ CONTADO EM DIAS ÚTEIS OU CORRIDOS?
CORRIDOS
POR QUAL RAZÃO? TRATA-SE DE PRAZO PRÉ-PROCESSUAL. AINDA NÃO TEMOS O PROCESSO. LEMBRE-SE: A CONSIGNAÇÃO É EXTRAJUDICIAL. 
DEPOIS DE REALIZADA A CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL, O QUE O CREDOR, EM LINHAS GERAIS, PODE FAZER?
1ª SITUAÇÃO: O CREDOR RECEBE O PAGAMENTO. COM ISSO, A QUESTÃO ESTARÁ RESOLVIDA E O DEVEDOR LIBERADO DEFINITIVAMENTE;
2ª SITUAÇÃO: O CREDOR NÃO FAZ NADA! NESSE CASO, O DEVEDOR TAMBÉM FICARÁ LIBERADO. 
Código de Processo Civil. Art. 539, § 2º Decorrido o prazo do § 1º, contado do retorno do aviso de recebimento, sem a manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada.
3ª SITUAÇÃO: O CREDOR RECUSA POR ESCRITO O PAGAMENTO. NESSE CASO, O DEVEDOR NÃO ESTARÁ LIBERADO, MOTIVO PELO QUAL, DIANTE DA RESISTÊNCIA, ELE DEVERÁ PARTIR PARA A CONSIGNAÇÃO JUDICIAL, A QUAL DEVERÁ SER PROPOSTA DENTRO DE UM MÊS.
Código de Processo Civil. Art. 539, § 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa.
§ 4º Não proposta a ação no prazo do § 3º, ficarásem efeito o depósito, podendo levantá-lo o depositante.
AGORA VAMOS PARTIR PARA A CONSIGNAÇÃO JUDICIAL...
LEMBRE-SE: EU POSSO UTILIZÁ-LA TANTO PARA PAGAMENTO EM DINHEIRO QUANTO PARA A ENTREGA DE COISA. 
SOBRE A PETIÇÃO INICIAL (LEMBRE-SE: ESTAMOS DIANTE DE UM PROCEDIMENTO ESPEIAL)
Código de Processo Civil. Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá:
I - o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese do art. 539, § 3º (A RESSALVA ESTÁ LIGADA À CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL. ORA, SE VOCÊ JÁ REALIZOU O DEPÓSITO EM INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, BASTA JUNTAR O COMPROVANTE PERANTEO JUÍZO COMPETENTE);
II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação.
Parágrafo único. Não realizado o depósito no prazo do inciso I, o processo será extinto sem resolução do mérito (SE EU NÃO FIZ A CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL, EU PEDIREI AUTORIZAÇÃO PARA FAZER O DEPÓSITO EM JUÍZO. O JUIZ, COMO SE VIU, DARÁ O PRAZO DE 5 DIAS PARA TANTO. SE VOCÊ NÃO CUMPRI-LO, HAVERÁ A EXTINÇÃO DO PROCESSO.
EU FIZ A P.I. E JÁ PEDI O DEPÓSITO, BEM COMO PEDI PARA QUE O RÉU SEJA CITADO PARA CONTESTAR A AÇÃO. E DEPOIS????
Código de Processo Civil. Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que:
I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida;
II - foi justa a recusa;
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
IV - o depósito não é integral.
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende devido. ENTÃO, FIQUE ATENTX: SE O RÉU ALEGAR QUE O DEPÓSITO É INSUFICIENTE, ELE DEVE INDICAR O MONTANTE DEVIDO, SOB PENA DE A ALEGAÇÃO DELE NÃO SER ADMITIDA. 
AINDA SOBRE A ALEGAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DO DEPÓSITO DO AUTOR:
Com a quitação parcial, a ação de consignação em pagamento deve prosseguir em relação aos valores controversos (Resp 1.148.773/CE)
E mais:
Código de Processo Civil. Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.
§ 1º No caso do caput , poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a consequente liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.
§ 2º A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária.
NATUREZA DÚPLICE EM CASO DE INSUFICIÊNCIA DE DEPÓSITO
Código de Processo Civil. Art. 545 § 2º CPC - A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária.
Em ação consignatória, a insuficiência do depósito realizado pelo devedor conduz ao julgamento de improcedência do pedido, pois o pagamento parcial da dívida não extingue o vínculo obrigacional. REsp 1.108.058-DF, 10/10/2018, Informativo 636 STJ.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES FINAIS
1) PRESTAÇÕES SUCESSIVAS;
2) COISA INDETERMINADA;
3) DÚVIDA SOBRE QUEM DEVA LEGITIMAMENTE RECEBER O PAGAMENTO. 
SIM
Código de Processo Civil. Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo vencimento.
MAS ATÉ QUANDO?
1ª CORRENTE: ATÉ A SENTENÇA;
2ª CORRENTE (STJ): ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO.
ATENÇÃO (COISA INDETERMINADA)
Código de Processo Civil. Art. 543. Se o objeto da prestação for coisa indeterminada e a escolha couber ao credor, será este citado para exercer o direito dentro de 5 (cinco) dias, se outro prazo não constar de lei ou do contrato, ou para aceitar que o devedor a faça, devendo o juiz, ao despachar a petição inicial, fixar lugar, dia e hora em que se fará a entrega, sob pena de depósito.
CONSIGNAÇÃO FUNDADA EM DÚVIDA QUANTO À TITULARIDADE 
Código de Processo Civil. Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.
Código de Processo Civil. Art. 548. No caso do art. 547 :
I - não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em arrecadação de coisas vagas;
II - comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano;
III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a obrigação, continuando o processo a correr unicamente entre os presuntivos credores, observado o procedimento comum.
Enunciado 62 do Fórum Permanente de Processualistas Civis. 
A regra prevista no art. 548, III, que dispõe que, em ação de consignação em pagamento, o juiz declarará efetuado o depósito extinguindo a obrigação em relação ao devedor, prosseguindo o processo unicamente entre os presuntivos credores, só se aplicará se o valor do depósito não for controvertido, ou seja, não terá aplicação caso o montante depositado seja impugnado por qualquer dos presuntivos credores.
ALGUMAS DECISÕES IMPORTANTES
POSSO DISCUTIR A REVISÃO DE CLÁUSULAS NO ÂMBITO DE UMA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO?
SIM. STJ. 4ª Turma. REsp 1.170.188-DF Informativo 537 STJ (2014)
O PRAZO DO ARTIGO 541 SE APLICA AOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS?
NÃO. REsp 1.365.761-RS (Info 564).
Previsão de legal dos aspectos tributários. 
Violação ao princípio da isonomia tributária.

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