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Novas Tecnologias no Ensino da Matemática Tópicos em Ensino de Geometria A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria 2a edição Ana Maria Martensen Roland Kaleff Presidente da República Dilma Rousseff Ministro da Educação – MEC Aloizio Mercadante Reitor da Universidade Federal Fluminense – UFF Sidney Luiz de Matos Mello Vice-Reitor da Universidade Federal Fluminense – UFF Antonio Claudio Lucas da Nobrega Pró-Reitor de Graduação da UFF José Rodrigues de Farias Lima Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF Roberto Kant de Lima Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil da UFF – UAB Celso José da Costa Coordenadora de Educação a Distância da UFF Regina Celia Moreth Bragança Diretor do Instituto de Matemática e Estatística Celso José da Costa Novas Tecnologias no Ensino da Matemática Tópicos em Ensino de Geometria K14n Kaleff, Ana Maria Martensen Roland. Novas tecnologias no ensino da matemática: tópicos em ensino de geometria. 1 / Ana Maria Martensen Roland Kaleff. CEAD / UFF, 2016. 2a edição. 223p. ; 19 x 26,5 cm. ISBN: 978-85-6200-750-1 1. Geometria. 2. Geometria euclidiana. 3. Análise combinatória. I. Título. CDD: 516 Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT. Copyright © 2016, CEAD - Coordenação de Educação a Distância / UFF Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por fotocópia ou por qualquer meio eletrônico, mecânico e outros, sem a prévia autorização por escrito da Coordenação. 2a edição UMA CONVERSA INICIAL COM O LEITOR _______________________________________7 PARTE 1: FERRAMENTAS PARA O PROFESSOR DE MATEMÁTICA ___________________ 13 Unidade 1: A HABILIDADE DA VISUALIZAÇÃO FRENTE À SALA DE AULA DE GEOMETRIA E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS _______________ 15 Texto 1 Importância da Habilidade da Visualização para a Geometria _____________ 16 Texto 2 Operações Mentais Relacionadas à Habilidade da Visualização em Geometria___________________________________________________ 20 Texto 3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Ensino da Geometria ____________ 25 Unidade 2: A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DA GEOMETRIA E O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO GEOMÉTRICO ______________________ 39 Texto 4 Atributos, Conceitos e Definições em uma Aprendizagem Significativa da Geometria ___________________________________________________ 40 Texto 5 O Modelo de van Hiele do Desenvolvimento do Pensamento Geométrico ____ 43 Unidade 3: LABORATÓRIO DE ENSINO DE MATEMÁTICA E MATERIAIS DIDÁTICOS PARA A GEOMETRIA _____________________________________________ 53 Texto 6 Características de um Laboratório de Ensino para a Aprendizagem Significativa da Geometria ________________________________________ 54 Texto 7 Apresentação e Construção de Alguns Materiais para Laboratório ____________ 59 Texto Complementar Um Laboratório para o Público em Geral: o Museu Interativo _____________ 66 SUMÁRIO PARTE 2: O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA GEOMETRIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA O ENSINO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI _______________________________________ 71 Unidade 4: DOS PRIMÓRDIOS DA GEOMETRIA À GEOMETRIA PRÉ-EUCLIDIANA ________________________________________________ 73 Texto 8 A Geometria dos Egípcios, Babilônios, Chineses e Hindus: Situações do Cotidiano e o Surgimento do π _____________________________________________ 74 Para a Sala de Aula Se os Alunos Tivessem um Esquadro de Cordas ...: Conjecturas sobre Algumas Relações Numéricas Conhecidas pelos Egípcios _________________________ 76 Para a Sala de Aula Se Os Alunos Tivessem Linhas e Discos ..: Uma Introdução ao Estudo do Número π ___________________________________________________ 83 Texto 9 A Geometria dos Pitagóricos: O Teorema de Pitágoras e suas Conseqüências __________________________________________________ 85 Para a Sala de Aula Se os Antigos Gregos Tivessem Aparelhos Dinâmicos Modeladores de Formas Geométricas...: Classificando Triângulos e Paralelogramos ___________________ 87 Para a Sala de Aula Se Pitágoras Tivesse Quebra-Cabeças Planos Especiais ...: Relações Algébricas do Teorema de Pitágoras e sua Generalização _____________________________ 93 Unidade 5: AINDA SOBRE A GEOMETRIA PRÉ-EUCLIDIANA: A ESCOLA DE PLATÃO ____________________________________________________ 107 Texto 10 Tesouros da Geometria e os Sólidos Regulares de Platão _______________ 108 Para a Sala de Aula Se Os Gregos Tivessem uma Fita Métrica e Fizessem Propaganda Comercial...: O Surgimento do Número de Ouro e dos Retângulos Áureos ______________ 109 Para a Sala de Aula Se Platão Tivesse Canudos ..: Os Sólidos de Platão e a Razão Áurea ________ 118 Unidade 6: O SURGIMENTO DA GEOMETRIA EUCLIDIANA ________________ 127 Texto 11 “Os Elementos” de Euclides _______________________________________ 128 Para a Sala de Aula Se Euclides Tivesse Lápis de Cor e Dobrasse Papéis...: Introduzindo os Cinco Primeiros Axiomas ______________________________________________ 134 Para a Sala de Aula Se Euclides Tivesse Peças Transparentes com Formas Poligonais ...: Introduzindo os Polígonos ________________________________________ 141 Unidade 7: O PERÍODO PÓS-EUCLIDES _____________________________ 149 Texto 12 Surgimento da Geometria Analítica e da Análise Matemática ____________ 150 Para a Sala de Aula Se Descartes Tivesse Lápis, Barbante e Dobrasse Papeis...: Introduzindo as Cônicas por Meio da Elipse ______________________________________________ 151 Unidade 8 - A MODERNIDADE MATEMÁTICA __________________________ 163 Texto 13 O Surgimento das Geometrias Não-Euclidianas e o Movimento Matemática Moderna: o Banimento das Figuras dos Livros Didáticos ________________ 164 Unidade 9 - O PROGRAMA DE ERLANGEN DE FÉLIX KLEIN _______________ 175 Texto 14 A Geometria dos Movimentos das Figuras Rígidas e o Reaparecimento das Figuras nos Livros Didáticos_____________________________________________ 176 Para a Sala de Aula Se Felix Klein Tivesse Pranchetas Dinâmicas Modeladoras de Polígonos...: Uma Incursão ao Ensino de Áreas __________________________________ 177 Texto Complementar A Representação Matemática para as Formas Irregulares da Natureza _____ 180 Unidade 10 - OS CONHECIMENTOS GEOMÉTRICOS E A GEOMETRIA ESCOLAR NO INÍCIO DO SÉCULO XXI _______________________________________ 183 Texto 15 Chegando ao Século XXI: A Geometria Dinâmica e a do Táxi _____________ 184 Para a Sala de Aula Se Descartes e Hilbert Tivessem um Táxi...: Uma Incursão à Geometria do Táxi ______________________________________________________ 189 UMA CONVERSA DE DESPEDIDA __________________________________________ 213 ANEXO ______________________________________________________________ 215 REFERÊNCIAS _________________________________________________________ 221 Creio que o nó com relação ao ensino de matemática não está na proposição de idéias. O problema, a meu ver, parece estar na prática. Afinal, quem hoje há de dizer que não trabalha com problemas e desafios? Quem dirá que não considera os conhecimentos prévios dos alunos e não busca trabalhar a partir deles? Quem ousará afirmar que o conhecimento não é construído? Ou ainda, que não é preciso relacionar as idéias matemáticas, trabalhando a ampliação dos conceitos? A pergunta que permanece, entretanto, é quem de fato consegue trabalhar dessa forma em sala de aula? Quem está conseguindo modificar a prática, para além do discurso? Idéias existem. Porém não bastam. Formas de colocá-las em prática parecem ser o fundamental nesse momento. PAOLA SZTAJAN (1999) UMA CONVERSA INICIAL COM O LEITOR O Questionamento Motivador A história do desenvolvimento humano mostra que desde os tempos pré- históricos o ser humano buscou traduzir, em desenhos, não somente as imagens reais da natureza percebidas pela sua visão, como também, as imagens mentais relacionadas a seus sonhos,suas idéias, suas emoções e seus sentimentos, expressão de seu mundo interior. Foi a partir da necessidade de homens e mulheres de compreender e descrever o seu meio ambiente - mental, físico e social - que as imagens, representadas em desenhos, foram gradativamente se socializando, até adquirirem uma forma teórica ao se tornarem em conceitos na Geometria. Dessa maneira, a Geometria como parte do corpo teórico-científico em que se constitui a Matemática atual tem origens sócio-culturais, ou seja, não foi criada como uma teoria. Na verdade, sua origem vem da necessidade humana de dominar e entender o meio ambiente. Apesar de essa necessidade ser bem mais remota, foi a partir das culturas desenvolvidas pelas sociedades que viviam às margens de grandes rios como o Nilo, o Tigre, o Eufrates e o Ganges que os conceitos e relações geométricos foram sendo criados. As idéias geométricas foram sendo estabelecidas a partir da necessidade de se demarcar, delimitar e quantificar as superfícies alagadas pelas enchentes dos rios, e de se calcular os custos e impostos relativos às áreas cultiváveis destas superfícies. Assim, foi se estabelecendo uma geometria utilitária caracterizada pelo traçado de formas e padrões simples de desenhos, pelo estabelecimento consensual de fórmulas e pelo cálculo de medidas de comprimento, de área, de volume etc. O nome Geometria, formado por geo = terra, metria = medida, sintetiza e representa muito bem essa característica utilitária do desenvolvimento dos primeiros momentos desse ramo da Matemática, talvez um dos mais importantes dessa ciência. Sendo assim, devido a essas características relacionadas ao meio ambiente, quem diria, nos dias de hoje, que desconhece a importância da Geometria para o entendimento da realidade a nossa volta? A ênfase na importância escolar da Geometria, no entanto, nem sempre é bem entendida, apesar da existência de grandes questionamentos sobre como se ensinar Matemática e de como se modificar a prática em sala de aula, para além do discurso e das idéias, como tão bem foi colocado por Sztajan (1999). Por essa razão é que, no presente volume, são apresentadas formas de se colocar idéias em práticas para a sala de aula de Geometria. Inicialmente, são tratados os princípios teórico-metodológicos que o professor de Matemática, neste início de século, deve conhecer para estar bem instrumentado para o exercício de sua prática profissional. Em seguida, apresenta- se um resumo do desenrolar da longa e fascinante história da Geometria, no qual se enfoca as maneiras de como suas características utilitárias originais foram se transformando em formulações teóricas e abstratas. Esse percurso permite que conteúdos geométricos sejam revistos, se analisem aspectos do desenvolvimento da Geometria frente a outros conhecimentos, se apresentem materiais e atividades para a sala de aula, e principalmente, se discuta o conhecimento do professor e o papel dessa disciplina no âmbito da escola. O percurso que você leitor ou leitora percorrerá nesse volume, permite que tais idéias sejam colocadas em prática. Dessa forma, ao final desse volume, espera- se que você possa responder às questões a seguir. - No início do século XXI, deve-se continuar a ensinar Geometria? Para quê? - Como se ensina Geometria? - O aluno desenvolve habilidades e competências específicas ao estudar Geometria? - Como interligar a Geometria a outras áreas e disciplinas? - Que materiais didáticos podem ser utilizados na aula de Geometria? - O nome da área de estudo poderia ser Geometrias? - Houve um tempo em que se deixou de ensinar Geometria nas escolas? Meta Principal Caro leitor(a), se esses parágrafos iniciais são de difícil compreensão e se esse rol de perguntas lhe parece estranho, isso não deve ser um fator de desestímulo à leitura. As dificuldades iniciais desse texto e dos demais inseridos neste volume, não devem ser fonte de desânimo, pois sua escrita foi especialmente elaborada visando a capacitá-lo e prepará-lo para fazer uma boa escolha de um livro didático adequado à sua sala de aula. Este volume tem como meta principal a independência e a autonomia do profissional, ou seja, ele pretende preparar um professor atualizado para o enfrentamento do material didático necessário para as aulas de Geometria nas escolas. Essa preparação inclui, em primeiro lugar, o entendimento e a interpretação de um texto escrito. Para tanto, o fio diretor escolhido para motivar, direcionar e inter-relacionar a compreensão da leitura foi a História da Geometria. Assim, atividades didáticas e procedimentos considerados como atuais e adequados à sala de aula serão abordados por meio de um amplo questionamento sobre aspectos importantes do desenvolvimento histórico dos conceitos geométricos. Sobre os Textos e Conteúdos Abordados Este volume não tem a pretensão de apresentar todos os conteúdos de uma disciplina básica de Geometria de um curso de licenciatura, mas pretende levar a você, leitor(a), a revisitar alguns tópicos da geometria escolar, bem como também dar-lhe a oportunidade de vivenciar, de maneira dinâmica e objetiva alguns conteúdos matemáticos pouco explorados nos programas escolares. Com essa experiência, busca-se ajudá-lo, professor-leitor(a), a tomar consciência de suas próprias dificuldades, alertando-o para as possíveis dificuldades que o seu aluno possa vir a apresentar. Os textos incluem relatos e parte da experiência que vem sendo realizada, há mais de 15 anos, no Laboratório de Ensino de Geometria da UFF (LEG) e no Espaço-UFF de Ciências, com licenciandos do Curso de Matemática e com professores em formação continuada, em cursos de especialização (pós-graduação lato sensu) e de treinamento (extensão). Todas as atividades, procedimentos e materiais didáticos abordados já foram trabalhados por dezenas de profissionais e alguns, até mesmo, por centenas de professores de Matemática. O presente volume, portanto, encontra-se mesclado por observações sobre o comportamento de professores e de alunos, bem como as contribuições didáticas incluídas são advindas destes profissionais. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!!! A fim de evitar desencontros e desentendimentos na leitura dos textos que se seguem, deve ser observado que os participantes das experiências realizadas em nossa prática educacional serão chamados de licenciandos, professores ou brevemente, de cursistas. Os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio serão referidos como alunos ou estudantes. Enquanto que você, caro professor-leitor(a), será chamado simplesmente de leitor. Nos cursos ministrados foram percebidas significativas deficiências apresentadas por adultos no modo de visualizar e de interpretar informações gráficas, principalmente quando utilizadas para introduzir conceitos geométricos, cujo aprendizado na formação continuada fica muito prejudicado. Entre as dificuldades observadas encontra-se a de relacionar modelos concretos de polígonos e sólidos geométricos com suas representações gráficas, tanto na forma de desenhos sobre o papel, quanto virtuais, na tela do computador. Também foi observado que vários professores não dominam o traçado dos desenhos mais elementares e mais freqüentes nos livros didáticos. Este é o caso de poliedros regulares como cubo, tetraedro e octaedro regulares. Tais dificuldades apresentam reflexos significativos no ensino do cálculo de áreas e volumes relacionados aos sólidos mais elementares e ministrados nas séries escolares iniciais. Por outro lado, também foi constatado que muitos profissionais apresentam dificuldades na construção de materiais didáticos manipulativos encontrados nos livros destinados ao ensino Básico. Muitos professores, principalmente das primeiras séries, declaram ter duas razões para não se sentirem à vontade para aplicar tais materiais em suas salas de aula. A primeiraé por não estarem familiarizados com os procedimentos didáticos requeridos por estes tipos de recursos manipulativos, e a segunda, por não terem conhecimento de como reproduzi-los por meio de materiais de baixo custo. Neste volume, considerando a experiência no LEG e as recomendações dos documentos governamentais Parâmetros Curriculares Nacionais, relacionados aos Ensinos Fundamental (PCN: 1° e 2° Ciclos; 3° e 4° Ciclos, segundo BRASIL, 1998) e Médio (PCNEM, segundo BRASIL, 2000), orientadores da prática escolar e da formação do professor, optou-se por tratar prioritariamente os conceitos geométricos do ponto de vista do desenvolvimento da principal habilidade com a qual a Geometria pode contribuir para a preparação de cidadãos mais aptos à vida em uma sociedade do século XXI. Esta, cada vez mais, se apresenta ligada ao mundo virtual da computação e aos estímulos visuais na forma de imagens. Ou seja, será tratada a habilidade da visualização, a qual inclui a habilidade de ler, escrever e interpretar informações gráficas nas suas mais diversas formas de representações: do desenho geométrico, de gráficos cartesianos, de esquemas traçados sobre redes pontilhadas, de esquemas gráficos sem padronização, de tabelas etc. A fundamentação teórica adotada para as atividades, que tem origem construtivista, é o Modelo de van Hiele para o desenvolvimento do pensamento em Geometria (VAN HIELE, 1986), entremeada por resultados de pesquisas realizadas por educadores matemáticos do ponto de vista da Psicologia. Desta forma, você, leitor(a), será confrontado com muitas considerações advindas dessas pesquisas e vivenciará tarefas a elas relacionadas. Essas envolvem aspectos da vida cotidiana e de interdisciplinaridade com as Artes, a História, a Biologia, a Física etc. Na Primeira Parte do volume apresentam-se os princípios teórico- metodológicos que, você, como professor(a) de Matemática deve conhecer para trabalhar com materiais didáticos concretos ou virtuais, e estar bem instrumentado para o exercício de sua prática profissional em Geometria. Esses princípios visam a fundamentar uma base como profissional, para poder enfrentar principalmente as transformações advindas da tecnologia e que se apresentam no cotidiano da escola, neste início de século. Incluem-se também observações sobre as principais características da habilidade da visualização, sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, sobre o Modelo de van Hiele do desenvolvimento do pensamento geométrico, e sobre os atributos relevantes relacionados a uma conceituação e uma definição em Matemática. Encontram-se ainda considerações sobre a importância dos materiais concretos para o ensino, bem como a descrição e os procedimentos para a implementação de um laboratório e de um museu interativo para o ensino de Geometria na escola. Para tanto, apresentam-se elementos que permitem a construção de um rol de materiais didáticos concretos que auxiliam a prática do professor (geoplanos, artefatos articulados, placas dinâmicas para movimentação e geração de formas geométricas, jogos etc.), os quais, em sua maioria, podem ser emulados no computador. As unidades temáticas são apresentadas por meio de um TEXTO introdutório e quadros denominados de QUESTIONAMENTO AO LEITOR, os quais trazem temas e questões relativos ao assunto tratado e à formação do professor. Esses são novamente tratados nas seções CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUESTIONAMENTO AO LEITOR, nas quais se tecem considerações relevantes e esclarecedoras sobre as questões levantadas na unidade. Além disso, pequenos quadros encontram-se espalhados à margem dos textos e englobam informações ou temas relevantes para a sua reflexão como professor. Na Segunda Parte, cada capítulo é composto por várias seções que ampliam o rol das anteriores e ilustram como se trabalhar alguns materiais didáticos e relacioná- los a conceitos geométricos. O TEXTO inclui um resumo de fatos históricos importantes para o ensino da Geometria e, além do questionamento direto ao professor, apresentam-se seções PARA A SALA DE AULA nas quais são relatadas atividades para o aluno, incluindo o material concreto empregado e o procedimento didático a ser realizado. Visando a exemplificar o emprego do Modelo de van Hiele, a maioria desses procedimentos inclui perguntas específicas e objetivamente direcionadas ao aluno, com as quais se pretende ilustrar como levar o estudante à construção de conceitos e relações geométricas. É importante notar que, para diferenciar esse questionamento daquele específico e destinado a você, leitor-professor(a), os textos com as perguntas para o estudante estão grafados em tipo itálico. Nessa Segunda Parte as seções CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUESTIONAMENTO AO LEITOR, apresentam-se geralmente colocadas no final de uma coleção de atividades destinadas à sala de aula. Nessas considerações são apresentadas detalhadamente as características técnicas das atividades didáticas, ou seja, objetivos matemáticos a serem atingidos, faixa etária do aluno, pré-requisitos matemáticos necessários para a sua realização, procedimentos a serem realizados e observações importantes para o professor. Muitas vezes, tais características são sintetizadas em uma FICHA TÉCNICA DA ATIVIDADE. Além disso, várias das atividades são analisadas por meio de uma TABELA DESCRITORA DA ATIVIDADE na qual se destacam as peculiaridades, segundo o do Modelo de van Hiele, de cada procedimento a ser realizado pelo aluno. No Anexo encontram-se algumas redes gráficas para serem utilizadas nas atividades ou na construção dos materiais manipulativos. Boa leitura! agradecimentos Aos alunos da UFF, dos cursos de Licenciatura e de Especialização em Matemática para Professores de Ensino Fundamental e Médio, que contribuíram com atividades didáticas e sugestões para este livro. Um agradecimento especial à ex-aluna Bruna Moustapha Corrêa, tutora do CEDERJ, pela atenta leitura dos originais. Ferramentas para o Professor de Matemática PARTE 1 Unidade 1 A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais METAS Esta unidade apresenta a importância da habilidade mental da visualização e da sua relação com os traçados de desenhos na sala de aula de Geometria. OBJETIVOS Ao final desta unidade você deve: • compreender a importância da habilidade da visualização; • identificar os principais conceitos diretamente relacionados à visualização em Geometria: imagem mental, figura, figura matemática e figura geométrica euclidiana; • identificar exemplos de operações mentais relacionadas à habilidade da visualização; • entender como o ensino da Geometria é considerado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. MATERIAIS UTILIZADOS • Folhas de papel sulfite totalmente em branco; tiras de papel de 2cm de largura. • Lápis e régua. • Palitos de picolé perfurados nas extremidades; grampos tipo “Bailarina”. • Ripas de madeira Grampo tipo “Bailarina”. 16 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Texto 1 A IMPORTÂNCIA DA HABILIDADE DA VISUALIZAÇÃO PARA A GEOMETRIA Entre os pesquisadores da Educação Matemática, tem sido muito divulgada que a habilidade para visualizar é uma das mais importantes para o desenvolvimento dos conceitos da Geometria, e, portanto, no que se refere à sala de aula, esta é a principal habilidade para tornar os alunos capazes de dominar e de apresentar autonomia no lidar com conceitos geométricos elementares (HERSHKOWITZ et al., 1994). Tem sido observado que na literatura sobre Educação Matemática termos e expressões como “visualizar”, “visualização”, “imagem mental”, “figura”, “figura matemática” e “figura geométrica euclidiana” são interpretados das mais variadas maneiras, dependendo do contexto em que são utilizados. Cabe,portanto, inicialmente, apresentar um pequeno glossário destes termos e expressões, enfatizar os seus significados e esclarecer como eles serão aqui considerados. O Significado das Expressões “Imagem Mental”, “Figura Matemática” e “Figura Geométrica Euclidiana” A expressão imagem mental significa uma imagem de um objeto ausente do campo visual, ou seja, como ela é percebida pela mente de um indivíduo. O termo figura designa qualquer organização de elementos gráficos que emerge de um fundo uniforme por meio da presença de pontos, traços ou elementos de uma superfície (sombreados ou coloridos), representando uma unidade (ou congregação de elementos) de informação. Uma figura pode ser apresentada em um meio gráfico convencional (papel) ou especial (tela de vídeo, tecelagem, pintura e outros). Os Termos “Visualizar” e “Visualização” como Apresentados em um Dicionário. Os termos visualizar e visualização são apresentados no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1986, p. 1783-1784) como: visualizar. Formar ou conceber uma imagem visual, mental (de algo que não se tem ante os olhos no momento). visualização. 1. Ato ou efeito de visualizar. 2. Transformação de conceitos abstratos em imagens reais ou mentalmente visíveis. 17 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais Em Matemática, portanto, não existe figura sem uma legenda, ainda que esta possa estar implícita. Por exemplo, o desenho de um quadrado só pode ser considerado como o de uma figura geométrica euclidiana se, de fato, seus atributos geométricos determinantes estiverem, de alguma forma, sendo levados em conta (ainda que não explicitamente), pois um desenho pode ser um esquema de traços sem estar ligado à Matemática (como se verá a seguir). Ao se dizer, isto é um quadrado, está sendo considerado que a figura desenhada tem as características de ter quatro lados iguais e quatro ângulos retos. Por outro lado, o simples desenho de uma figura quadrada, por mais perfeito que seja, não permite que se saiba se estas características estão realmente presentes nos traços. Por exemplo, ao se considerar os lados de dois cubos como os desenhados em perspectiva na Figura 1(a), isso fica bem visível ao se observar como se apresentam as suas faces, que deveriam ter a forma de um quadrado. No caso da Figura 1(b), fica claro que se trata de um quadrado, pelo fato da figura apresentar a legenda explicitada pelo desenho e indicada pela expressão simbólica de que o ângulo é igual a 90°. Uma figura é considerada uma figura matemática quando preenche exigências específicas relativas a duas maneiras de ser representada: por um lado, em uma forma de pontos e traços, e por outro em uma forma proposicional, isto é, na forma de proposições expressas em linguagem natural ou simbólica formal, representando suas propriedades matemáticas características, isto é seus atributos relevantes. Uma figura geométrica euclidiana se caracteriza, por um lado, por ser uma figura composta por traços obtidos por meio de ferramentas de desenho (régua, esquadro, compasso, curvas francesas etc.), ou outras mais atuais, como as advindas do uso do computador. E por outro lado, por estar ancorada em um discurso expresso na linguagem natural na forma de proposições que sintetizam suas propriedades geométricas euclidianas características, isto é, seus atributos determinantes relevantes. Existe uma âncora descritora das propriedades matemáticas, que fornece um elo determinante entre o desenho e o objeto abstrato da Matemática. É o conjunto de suas propriedades que caracteriza uma figura em Matemática. Dessa maneira, uma figura matemática sempre apresenta uma legenda, mesmo que esta esteja subentendida. 18 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria b FIGURA 1 – O quadrado desenhado como lados de um cubo em perspectiva. a Resumidamente, pode-se dizer que o simples traçado não garante se ter uma figura matemática, pois, como se verá a seguir, os desenhos podem ser, até mesmo, obras de arte. Essas características que diferenciam as figuras matemáticas das demais são muito conhecidas, mas nem sempre são bem percebidas pelos estudantes. A Interpretação dos Desenhos Geométricos na Vida O ato de interpretar desenhos geométricos não é importante por si só, mas está muito ligado com a vida do cidadão comum, pois a interpretação de informações visuais está presente tanto nos simples problemas do dia a dia como em problemas da Engenharia, da Arquitetura, da Medicina, das Artes etc. A interpretação de informações visuais está em jogo quando se trata, por exemplo, do mais simples esboço de uma figura geométrica como o triângulo, ou de um mapa que indique o caminho entre duas localidades, ou até mesmo de sofisticadas representações gráficas. Por outro lado, a Informática e as ferramentas advindas da Computação criam, a cada dia, novas situações nas quais as formas virtuais ganham aspectos de uma realidade quase material, abrindo novos rumos para o entendimento das formas que se apresentam no plano da tela do computador. As representações gráficas podem ser o registro de indicadores numéricos, de esboços de objetos, de imagens impressas em fotos ou chapas de raio- X, de imagens observadas através de microscópios e outros meios ópticos ou computadorizados, até mesmo na forma de imagens pintadas por artistas representando a natureza ou suas visões imaginárias. 19 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais QUESTIONAMENTO AO LEITOR a) Você conhece alguma obra de arte envolvendo figuras com formas geométricas, mas que não são figuras geométricas euclidianas? Por exemplo, procure obras do artista Piet Mondrian na Internet. Em http://www.eco.ufrj.br/ epos/tema/mondrian.htm encontram-se algumas destas obras. b) Já que este texto trata da interpretação das informações visuais e dos desenhos, uma pergunta importante sobre s relações entre um desenho e aquilo que ele representa pode surgir em uma sala de aula, principalmente com adolescentes e adultos, ou mesmo nos cursos de formação de professores: você acha que, a partir de um desenho pode-se sempre construir um protótipo, uma maquete ou um modelo concreto daquilo que está traçado? Isto é, você acha que de qualquer esquema traçado sobre uma superfície plana, pode-se sempre construir um objeto correspondente no espaço da realidade à nossa volta? Se você não consegue responder, não desanime e continue com a leitura do próximo texto. 20 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria TEXTO 2 OPERAÇÕES MENTAIS RELACIONADAS À HABILIDADE DA VISUALIZAÇÃO EM GEOMETRIA Apesar das muitas controvérsias entre os pesquisadores sobre a forma pela qual a habilidade da visualização se processa em nossa mente, é importante que esta habilidade ocupe seu lugar no ensino da Geometria, pois já se sabe que vários de seus aspectos podem ser desenvolvidos na escola. O desenvolvimento dessa habilidade acontece na medida em que se coloca para o aluno um apoio didático baseado em materiais concretos que representam o objeto geométrico em estudo. O material concreto permite ao indivíduo efetivamente ver o objeto e ter uma imagem visual do que está estudando e não somente ver a sua imagem mental por meio da imaginação, ou seja, na tela mental da sua cabeça. Habilidade da Visualização: um Conjunto de Operações Cognitivas e Ações Mentais Você sabia que ao visualizar objetos geométricos, o indivíduo passa a mobilizar um conjunto de operações cognitivas, isto é, de ações mentais, relacionadas à habilidade da visualização e exigidas no tratoda Geometria? Conheça a seguir alguns exemplos dessas operações mentais. Apresentam-se a seguir, as operações mentais envolvidas na habilidade de visualização e mais importantes para a aprendizagem em Geometria. a) Identificar uma determinada figura plana, isolando-a dos demais elementos de um desenho. Por exemplo, o aluno reconhecer uma face quadrada em um cubo, quando este se apresenta em um desenho em perspectiva, como aqueles na Figura 1(a), no texto anterior. b) Reconhecer que as formas geométricas de um objeto são independentes de suas características físicas, tais como tamanho, cor e textura. Por exemplo, o aluno, ter a sua frente os desenhos de três quadrados de mesmo comprimento de lado, pintados nas cores laranja, vermelha e verde e perceber que as três figuras têm o mesmo tamanho. Ou seja, o aluno não se deixar influenciar pela aparência visual do objeto de cor laranja, o qual parece ser maior, pois esta cor é mais significativa para a percepção visual e, por isso chama mais a atenção para o objeto. c) Identificar um objeto, ou um desenho, quando apresentado em diferentes posições. Por exemplo, como no caso da Figura 2, o aluno reconhece a forma de uma figura quadrada em qualquer posição sobre uma folha de papel, mesmo que a figura não esteja com os lados paralelos às bordas da folha. 21 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais d) Produzir imagens mentais de um objeto e visualizar suas transformações e movimentos, mesmo na sua ausência visual. Por exemplo, no caso em que o aluno percebe que movimenta, na sua imaginação e até mesmo com os olhos fechados, a figura de um cubo. e) Relacionar um objeto a uma representação gráfica ou a uma imagem desse objeto. Por exemplo, no caso em que o aluno relaciona o objeto que está vendo a um desenho, ou a uma foto deste objeto, ou a uma representação em raio-X, ou a um outro tipo de representação virtual (computadorizada) deste objeto. f) Relacionar vários objetos, representações gráficas ou imagens mentais entre si. Por exemplo, no caso em que o aluno é capaz de relacionar vários objetos (que está vendo) a diversos tipos de representações desse objeto: como um desenho no papel, uma pintura em um quadro, fotos, desenhos na tela do computador etc. g) Comparar vários objetos, suas representações gráficas e suas imagens para identificar diferenças e regularidades entre eles. Por exemplo, como na Figura 3, no caso em que o aluno reconhece um indivíduo, quando lhe são apresentadas suas fotos em vários tamanhos, ou quando o retratam em diferentes fases da vida, ou também o reconhece em charges e caricaturas. FIGURA 2 – Reconhecendo uma forma geométrica em diferentes posições FIGURA 3 – Comparando e reconhecendo diferenças e regularidades 22 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Resumo das Principais Operações Mentais Envolvidas na Visualização em Geometria a) Identificar uma determinada figura plana, isolando-a dos demais elementos de um desenho. b Reconhecer que as formas geométricas de um objeto são independentes de suas características físicas, tais como tamanho, cor e textura. c) Identificar um objeto, ou um desenho, quando apresentado em diferentes posições. d) Produzir imagens mentais de um objeto e visualizar suas transformações e movimentos, mesmo na sua ausência visual. e) Relacionar um objeto a uma representação gráfica ou a uma imagem desse objeto. f) Relacionar vários objetos, representações gráficas ou imagens mentais entre si. g) Comparar vários objetos, suas representações gráficas e suas imagens para identificar diferenças e regularidades entre eles. Como tem sido mostrado por psicólogos e como se verá durante este estudo, a habilidade da visualização possui uma peculiaridade muito importante para a Educação: o potencial de visualização individual varia de sujeito para sujeito, o que demanda um aprendizado especial, a fim de que cada sujeito possa atingir os níveis de ensino matemáticos mais avançados. Esta peculiaridade é muito importante de ser considerada na escola e, até mesmo no ensino universitário, principalmente nas disciplinas relacionadas ao Cálculo e à Geometria Analítica (PRESMEG, 1997). QUESTIONAMENTO AO LEITOR Tente responder aos questionamentos apresentados com muita calma e, conforme você vá lendo este volume, volte a analisar as suas respostas. Nos textos que se seguem, provavelmente você encontrará todas as respostas desejadas. a) Observe atentamente o desenho apresentado na Figura 4. Ele foi criado, em 1915, por um cartunista famoso chamado W. E. Hill, mas nele é difícil saber o que se deve ver. O que você acha que vê nele? b) Você vê a figura de uma mulher? Ela é jovem ou velha? c) Observe novamente o desenho. Você continua a ver somente uma figura de mulher? d) Mostre o desenho para alguma outra pessoa, mas não comente com ela sobre o que você viu. Peça que lhe descreva o que ela vê. Analise atentamente o que ela descreve. 23 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais e) Ela observou as mesmas fi guras que você? Em que ordem ela viu essas fi guras? Descreva as suas observações. FIGURA 4 – Uma Figura Intrigante Frente à habilidade da visualização não ser inata a todos os indivíduos, isto é, ao nascer cada ser humano apresenta uma capacidade diferente para visualizar, essa diferença acarreta a existência de indivíduos visualizadores e de indivíduos não-visualizadores. Se os profi ssionais não estiverem conscientes desse fato podem surgir grandes confl itos na escola, pela confrontação de alunos visualizadores e professores não-visualizadores e vice-versa. Um outro obstáculo ao bom relacionamento entre alunos e professores pode surgir em sala de aula e ele está relacionado à origem e ao signifi cado dos objetos geométricos. É importante ressaltar um fator para o qual poucos profi ssionais estão atentos: a existência de uma ambigüidade relacionada à origem e à natureza dos objetos geométricos, a qual frequentemente se apresenta no ensino da Geometria. Como se verá mais a frente, na segunda parte deste volume, embora os objetos geométricos tenham tido sua origem histórica no mundo físico, atualmente são considerados abstrações matemáticas que necessitam de uma linguagem para serem expressados e, portanto, representados. Ou seja, para os matemáticos não há dúvidas de que os elementos geométricos (ponto, reta, plano, sólidos etc.) pertençam ao mundo das idéias matemáticas e necessitam de representações gráfi cas, isto é, necessitam de signos, sinais, desenhos etc. para serem percebidos. 24 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Na escola, essa mudança de concepção filosófica sobre os objetos geométricos se mostra como um fator perturbador ao entendimento do significado das definições geométricas, as quais se apresentam como uma grande dificuldade para os alunos, que não percebem os objetos geométricos como abstrações. Vale ainda lembrar que, no processo de aprendizado do ser humano desde tenra idade, as crianças pequenas percebem o espaço a sua volta por meio do conjunto de seus sentidos, isto é, o conhecimento dos objetos resulta de um contato direto com os mesmos por meio da visão, do olfato, do paladar, do tato e da audição. Disso decorre que é a partir do contato com as formas do objeto, através da visão das cores do material de que ele é composto, bem como da percepção da sua textura pelo tato e sua manipulação, que tem origem a construção de uma imagem mental a qual permitirá à criança a evocar o objeto na sua ausência. Assim, a criança vai formando um conjunto de imagensmentais que representam o objeto, as quais são envolvidas no raciocínio. É a partir da observação do real, que a criança poderá vir a representar com sucesso, o objeto geométrico observado, na forma de um esboço gráfico ou de um modelo concreto. Na sala de aula, é importante que o professor esteja atento para o fato de que, no caso do aluno necessitar visualizar um objeto geométrico, um modelo concreto desse objeto pode servir de representação visual para gerar uma imagem mental. Esta primeira imagem dá partida a um processo de raciocínio visual no qual, dependendo das características do objeto, o aluno recorre à habilidade da visualização para executar diversas operações mentais, as quais geram outras imagens mentais ou representações do objeto. Essas representações podem ser expressadas por meio de um desenho ou de outro modelo concreto do objeto geométrico em questão. É por essa razão que a utilização de uma grande variedade de modelos concretos representantes de uma mesma idéia geométrica pode auxiliar o aluno a reconhecer que algumas propriedades do objeto geométrico transcendem suas propriedades materiais, tais como tamanho, cor e textura e, portanto, pertencem ao mundo ideal da Geometria. Como se levar tudo isso para a sala de aula, é o que se pretende apresentar nos textos que se seguem. Assim, a maior parte dos estudantes, e até mesmo professores do Ensino Básico, não aceitam que ao observarem o desenho de uma figura geométrica no livro-texto, ou no quadro-negro, ou até mesmo a imagem na tela do computador, estão, na realidade, vendo apenas uma representação do objeto geométrico, que é um conceito abstrato. Embora a maioria das representações dos objetos geométricos seja perceptível visualmente, é importante não se confundir a habilidade da visualização, isto é, a habilidade de se perceber o objeto geométrico em sua totalidade, com a percepção sensorial das diferentes representações disponíveis desse objeto. Ou seja, não confundir ver com os olhos da mente (visualizar) e ver o objeto (imagem real) por meio do aparato sensorial, principalmente daquele advindo das imagens visuais geradas por um desenho, sinais, fotos, traçados gráficos computadorizados etc. Uma boa utilização didática dos materiais concretos, ao contrário do que muitos professores consideram, pode propiciar uma economia de tempo no andamento da sala de aula, pois possibilita ao aluno não- visualizador alcançar mais facilmente os resultados geométricos e ultrapassar os seus desafios. 25 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais TEXTO 3 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DA GEOMETRIA Nos dias de hoje, os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem os principais documentos orientadores da formação do professor e das ações didáticas voltadas para a escola básica, ou seja, para os Ensinos Fundamental (PCN, 1° e 2° Ciclos; 3° e 4° Ciclos - BRASIL, 1998) e Médio (PCNEM - BRASIL, 2000). Publicados em meados da década de 1990, esses parâmetros foram elaborados conjuntamente por um grupo de educadores no âmbito dos órgãos governamentais, buscando transformá-los na principal referência para o trabalho didático a ser realizado nas escolas, tanto nas da rede pública como nas particulares. Esses documentos apresentam características de grande abrangência, pois além de sintetizarem as diretrizes didáticas para o trabalho nas disciplinas tradicionais Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, Geografia e História, também norteiam outras mais inovadoras nas áreas das Artes, Educação Física e Língua Estrangeira. As diretrizes de cada disciplina específica ainda são permeadas por orientações advindas dos chamados Temas Transversais, os quais englobam conteúdos que podem ser abordados em todas as outras disciplinas. Desta forma, esses documentos enfatizam a necessidade de se relacionar os temas específicos do âmbito de cada disciplina a outros pertencentes as mais diversas áreas, considerando como prioritária a educação para a cidadania. Como conseqüência, entende-se que os aspectos disciplinares específicos deverão perpassar toda a formação do educando, embasando também os aspectos éticos e sócio-culturais que lhes permitirão entender melhor a si mesmo e ao mundo à sua volta em sua diversidade e complexidade. É importante observar que esses documentos consideram a Matemática como um conjunto de conhecimentos dinâmicos, construídos historicamente pela reflexão e pela experiência humana, na interação constante entre o meio ambiente e os contextos social e cultural. 26 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Em busca do desenvolvimento escolar para a melhoria do ensino da Matemática tais parâmetros apresentam um conjunto de habilidades e competências que o aluno necessita desenvolver, e o professor tomar como base para sua prática didática e para o planejamento de suas aulas. Em PCNEM (BRASIL, 1998, p. 46) pode ser encontrada uma listagem das habilidades e competências desenvolvidas pelo ensino da Matemática para a escola básica. Principais Características da Matemática, segundo os PCN “A Matemática caracteriza-se como uma forma de compreender e atuar no mundo e o conhecimento gerado nessa área do saber, como um fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e cultural. Esta visão opõe-se àquela presente na maioria da sociedade e na escola que considera a Matemática como um corpo de conhecimento imutável e verdadeiro, que deve ser assimilado pelo aluno. A Matemática é uma ciência viva, não apenas no cotidiano dos cidadãos, mas também nas universidades e centros de pesquisas, onde se verifica, hoje, uma impressionante produção de novos conhecimentos que, a par de seu valor intrínseco, de natureza lógica, têm sido instrumentos úteis na solução de problemas científicos e tecnológicos da maior importância. Em contrapartida, não se deve perder de vista os caracteres especulativo, estético não imediatamente pragmático do conhecimento matemático sem os quais se perde parte de sua natureza. Duas forças indissociáveis estão sempre a impulsionar o trabalho em Matemática. De um lado, o permanente apelo das aplicações às mais variadas atividades humanas, das mais simples na vida cotidiana, às mais complexas elaborações de outras ciências. De outro lado, a especulação pura, a busca de respostas a questões geradas no próprio edifício da Matemática. A indissociabilidade desses dois aspectos fica evidenciada pelos inúmeros exemplos de belas construções abstratas originadas em problemas aplicados e, por outro lado, de surpreendentes aplicações encontradas para as mais puras especulações” (BRASIL, 1998, p. 24. http://www.im.ufrj.br/licenciatura/PCNmat-ensfund- pag.pdf). Os Parâmetros consideram a ciência Matemática como um conjunto de conhecimentos que se renovam e ampliam a cada dia, e cujas aplicações, no cotidiano, nas Ciências e Tecnologia são de grande importância. Ou seja, consideram a Matemática como um conjunto de saberes dinâmicos, contrapondo-os àqueles acabados e enclausurados em si mesmo. 27 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais Objetivos do Ensino da Matemática Resumidamente, o ensino de Matemática deve levar o estudante do Ensino Básico a desenvolver habilidades e competências, tornando-o apto para: • planejar ações e projetar soluções para problemas novos, que exigem iniciativa e criatividade; • compreender e transmitir idéias matemáticas, por escrito ou oralmente, desenvolvendo a capacidade de argumentação; • usar independentemente o raciocínio matemático, para a compreensãodo meio ambiente; • interpretar matematicamente situações do cotidiano ou do mundo tecnológico e científico; • avaliar resultados obtidos na solução de situações-problema considerando se elas são adequadas; • fazer estimativas mentais de resultados ou cálculos aproximados; • saber usar o pensamento aritmético, incluindo a aplicação de técnicas básicas de cálculo, regularidade das operações etc.; • saber empregar o pensamento algébrico, incluindo o uso do conceito de função e de suas várias representações, na forma de gráficos, tabelas, fórmulas etc.; • saber utilizar os conceitos fundamentais relativos a grandezas e medidas em situações concretas; • reconhecer regularidades e semelhanças entre formas, conhecer as propriedades das figuras geométricas planas e sólidas, relacionando- as com objetos de uso cotidiano, desenvolvendo progressivamente o pensamento geométrico; • utilizar o pensamento estatístico e probabilístico, incluindo noções de combinatória e o tratamento de dados; • estabelecer relações entre os conhecimentos da aritmética, álgebra, geometria, grandezas e medidas, combinatória, estatística e proba- bilidade, para resolver problemas, integrando esses saberes, enriquecendo a interpretação do problema e encarando-o sob vários pontos de vista. 28 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Fundamentalmente, tais documentos têm por objetivo maior levar à escola básica condições didáticas que permitam a melhoria da qualidade de ensino. Na busca de tal melhoria, a Geometria ocupa uma posição especial no ensino da Matemática. Essa perspectiva permite que situações, há muito estabelecidas para a Geometria escolar, venham, aos poucos, se modificando. Além de incentivar a inclusão curricular dos conteúdos geométricos, esses parâmetros oferecem orientações específicas sobre a importância de se apresentar aos alunos os relacionamentos entre formas geométricas e suas relações em situações de problemas cotidianos. Portanto, nos últimos tempos, tem sido quase um consenso geral que o estudo da Geometria auxilia a criança a organizar o pensamento para a resolução de problemas, através da visualização e da análise das propriedades características de modelos geométricos que representam os objetos do mundo à sua volta. As formas ou padrões geométricos podem servir como os padrões mais elementares para muitos tipos de fenômenos da vida cotidiana. Embora exista uma intensa relação entre as formas geométricas e o mundo ambiente, até há bem pouco tempo, nas aulas de Geometria, quase não se dava atenção ao seu estudo. Quando estas eram estudadas, mesmo nas séries do Ensino Fundamental, a ênfase era colocada nas relações métricas de cálculo de medidas de comprimento de lados ou de medidas de áreas e de volumes. Os parâmetros, mesmo nos documentos destinados ao Ensino Fundamental, buscam reverter esta situação ao apontarem como o aluno deve entender o papel da Matemática e como pode ser estimulado a valorizá-la como um instrumental para compreender o mundo à sua volta. Para tanto, deve ser incentivado a vê-la como uma área do conhecimento que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas. Nesta direção, aos primeiros anos escolares cabe levar o aluno a desenvolver atitudes de segurança com relação à própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, de cultivar a auto-estima, de respeitar o trabalho dos colegas. Os parâmetros valorizam o papel do professor para a construção desse conhecimento na forma de um saber escolar ao colocarem explicitamente que: “o conhecimento matemático formalizado precisa, necessaria- mente, ser transformado para se tornar passível de ser ensinado/ aprendido; ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico não são passíveis de comunicação direta aos alunos. Essa consideração implica rever a idéia, que persiste na escola, de ver nos objetos de ensino cópias fiéis dos objetos da ciência” (BRASIL, 1998, p.30). As razões históricas que levaram a esta situação na escola serão intensamente tratadas nos textos seguintes. Nestes, se verá que durante as décadas de 1960 a 1980, nos tempos do chamado Movimento da Matemática Moderna, a Geometria Euclidiana foi, no currículo escolar, relegada a um segundo plano, até mesmo na Escola Básica, tendo sido privilegiado o uso das linguagens matemáticas simbólicas em detrimento do uso de figuras e desenhos. 29 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais No âmbito do Ensino Médio, os parâmetros também são coerentes ao apontarem para o valor formativo da Matemática, considerando o seu papel estruturador do pensamento e do raciocínio dedutivo, e também ao enfatizarem o seu papel instrumental, pois a consideram ser uma ferramenta para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas em quase todas as atividades humanas. Além disso, apontam para o seu papel como ciência: “[...]. Contudo, a Matemática no Ensino Médio não possui apenas o caráter formativo ou instrumental, mas também deve ser vista como ciência, com suas características estruturais específicas. É importante que o aluno perceba que as definições, demonstrações e encadeamentos conceituais e lógicos têm a função de construir novos conceitos e estruturas a partir de outros e que servem para validar intuições e dar sentido às técnicas aplicadas. (BRASIL, 2000, p. 40). Como conseqüência desta busca da revisão do papel da Matemática na escola, em nossos dias, há um renascer da postura escolar frente às representações gráficas, as quais são consideradas cada vez mais importantes para o entendimento dos conceitos matemáticos e da realidade virtual advinda dos meios computacionais. Como bem fica sinalizado nos PCN: “No ensino da Matemática, destacam-se dois aspectos básicos: um consiste em relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas, figuras); outro consiste em relacionar essas representações com princípios e conceitos matemáticos. Nesse processo, a comunicação tem grande importância e deve ser estimulada, levando-se o aluno a ’falar’ e a ‘escrever’ sobre Matemática, a trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como organizar e tratar dados” (BRASIL, 1998, p. 19). Por outro lado, os parâmetros do Ensino Médio também dão especial atenção às potencialidades da habilidade da visualização e de suas relações com as habilidades para o desenho, para a argumentação lógica e de sua aplicação na busca de soluções para problemas. Tais relações podem ser desenvolvidas com um trabalho adequado em Geometria, para que o aluno possa usar as formas e propriedades geométricas na representação e visualização de partes do mundo que o cerca. Os PCNEM consideram que: “essas competências são importantes na compreensão e ampliação da percepção de espaço e construção de modelos para interpretar questões da Matemática e de outras áreas do conhecimento. De fato, perceber as relações entre as representações planas nos desenhos, mapas e na tela do computador com os objetos que 30 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria lhes deram origem, conceber novas formas planas ou espaciais e suas propriedades a partir dessas representações são essenciais para a leitura do mundo através dos olhos das outras ciências, em especial a Física” (BRASIL, 2000, p. 44). No questionamento que se segue apresenta-se uma atividade que pode ajudar o leitor a relacionar diversos aspectos da habilidade da visualização à Psicologia e às Artes em uma visão de interdisciplinaridade como a preconizada pelos parâmetros aqui considerados. Sob essas perspectivas,conforme apresentado em muitos livros didáticos destinados ao Ensino Básico e aos cursos de formação de professores, uma grande variedade de representações gráficas tem sido amplamente utilizada nas salas de aula. Essa utilização visa a motivar o aluno a observar com mais atenção desenhos, diagramas, gráficos e tabelas, e também a vivenciar situações interdisciplinares, que permitam relacionar a Matemática às Artes, às Ciências e às novas tecnologias relacionadas às imagens. QUESTIONAMENTO AO LEITOR a) Nos últimos 30 anos o ilustrador holandês Maurits Cornelis Escher tem tido as suas obras muito divulgadas no Brasil. Você conhece alguma obra desse artista? As obras de Escher podem ser encontradas na Internet na página ofi cial da Fundação M. C. Escher (www.mcescher.com). Visite a página e procure estas obras antes de continuar a leitura deste texto. b) Busque três destas obras e faça uma breve análise sobre o que você acha que elas representam. c) Busque as fi guras denominadas de Belvedere (1958) e Queda de Água (1961). Observe-as atentamente. Você acha que os edifícios representados nestes desenhos foram realmente construídos? d) O desenho na Figura 5 representa um esquema gráfi co muito interessante, chamada de grade louca, segundo o autor Bruno Ernst (1991, p. 87). e) Utilizando ripas de madeira, tente construir um objeto que represente esta grade. Você conseguiu? Analise e faça uma descrição do seu procedimento para a construção. f) Agora, tente montar a grade utilizando tiras de papel. O que aconteceu? Conseguiu? FIGURA 5 – Mais uma Figura Intrigante 31 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais g) E se você utilizasse palitos de madeira, como aqueles usados nos picolés, perfurados nas extremidades e ligados pelos furos, por algum tipo de grampo de papel, sendo os do tipo “bailarina” os mais indicados? Você conseguiria fazer? h) Nestes dois últimos casos, você obteve um objeto concreto que aparentemente é uma figura espacial, ou ele se parece mais com uma figura plana? Você acha que este objeto realmente reapresenta a profundidade da grade louca? i) Você acha que a grade louca tem alguma relação com a figura Belvedere de Escher? j) Você acha que a figura Belvedere tem alguma relação com o desenho da mulher apresentado no quadro anterior? Descreva as suas conclusões. CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUESTIONAMENTO AO LEITOR Você, caro leitor, pode estar com muitas dúvidas sobre os questionamentos que lhe foram feitos ao longo dos textos anteriores. Agora tente acompanhar as considerações que se seguem, revendo as respostas que você elaborou. Você deve ter realizado as atividades relacionadas à Figura 4, na qual encontrou um desenho do tipo ilusão de ótica. Saiba que, na prática do LEG, tem sido observado que frente a esse desenho, a maioria das pessoas percebe inicialmente os traços de uma figura de mulher jovem e, em segundo lugar, a de uma velha, sendo muito raros os sujeitos que observam tais figuras em ordem inversa, ou, ainda, aqueles que não conseguem observar as duas. Além disso, também se constata que os sujeitos podem apresentar intervalos de tempo variados para perceberem estas duas figuras. A partir dessa atividade, podem-se resumir as particularidades de duas características psicológicas importantes da habilidade da visualização. Tais características são pouco consideradas e necessitam ser lembradas e, portanto, você deve trabalhá-las didaticamente quando optar pelo uso dos desenhos de ilusão de ótica em sala de aula. E você leitor, qual foi o resultado da sua observação? 32 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Você sabia que o desenho com figuras de ilusão de ótica foi divulgado no Brasil, durante a década de 1980, principalmente por meio de gravuras do ilustrador holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972)? As obras deste artista são hoje amplamente conhecidas, pois ilustram livros escritos por matemáticos, físicos, químicos e filósofos, como também aparecem em trabalhos de educadores e em livros didáticos, encantando professores e alunos em geral. Nos meios relacionados à Matemática, chamam à atenção, principalmente aquelas obras criadas pelo artista cujos traçados têm como base desenhos de figuras matemáticas ou cujos traços foram concebidos aparentemente segundo as regras do desenho em perspectiva. Exemplos do primeiro tipo de traçados encontram-se em extensas séries de litografias baseadas na Faixa de Möbius, mas é nos desenhos de Sólidos Platônicos, envolvendo elementos de uma perspectiva impossível, que se encontram as obras mais interessantes do ponto de vista da ilusão de ótica. Você conhece essas obras? Nos meios educacionais, têm sido muito divulgadas as gravuras de duas de suas litografias: Belvedere (1958) e Queda de Água (1961). Estes desenhos, como pode ser constatado em um livro escrito pelo próprio artista, Escher on Escher: Exploring the Infinite, representam o impossível como realidade, nas formas de objetos tridimensionais, cujos traçados têm por base figuras bidimensionais (ESCHER, 1989, p. 77-79). A litografia Belvedere tem por fundamento um esboço gráfico que aparentemente parece representar um cubo desenhado em perspectiva. Para que você possa entender melhor essa obra de Escher, é necessário que observe atentamente os desenhos (a), (b) e (c) da Figura 6. Características Psicológicas Importantes da Visualização • Nem todos os sujeitos percebem as mesmas configurações de traços sobre o plano de fundo de uma mesma figura. • Os sujeitos apresentam diferentes intervalos de tempo para estabelecer as suas percepções a partir de uma mesma figura. Foram os desenhos do físico e matemático Roger Penrose (1931- ) e de seu pai, o matemático Lionel. S. Penrose, que fascinaram Escher e definitivamente influenciaram a sua arte na direção do emprego da ilusão de ótica para a criação de mundos impossíveis. Você pode encontrar uma grande variedade de desenhos de ilusão de ótica e do tipo daqueles que inspiraram a Escher na página da Internet http:// brisray.com/optill/oreal. htm. Vale ainda lembrar que a página oficial da Fundação M. C. Escher é www.mcescher.com, e que o livro O Espelho Mágico de M. C. Escher (ERNST, 1991) encontra-se traduzido em língua portuguesa e apresenta uma extensa análise da obra do artista. 33 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais O esquema (a) representa um cubo em perspectiva, enquanto que (b) e (c) são desenhos denominados de cubóides. Note ainda que, ao olhar o cubo (a), poderá observá-lo de quatro maneiras: a primeira, aceitando que os pontos 1 e 4 estejam mais próximos e, portanto os pontos 2 e 3, mais longe. Na outra possível visada, acontece o contrário, ou seja, os pontos 2 e 3 estejam mais perto. Mas também é possível ver 2 e 4 à frente e, 1 e 3, atrás. Todavia, conforme tem sido constatada pela Psicologia, esta última situação “vai contra a nossa imaginação de um cubo e, por esta razão, não chegamos, por nós próprios, a esta interpretação” (ERNST, 1991, p. 86). Por outro lado, se você tentar engrossar os traços das arestas do cubo, dando-lhes a aparência de um certo volume, poderá perceber mais duas interpretações: uma delas, como no esquema (c), deixando correr a aresta A-2 antes da aresta 1-4 e C-4 antes de 3-2; ou ainda, um desenho, como do esquema (b). Observe que o esquema (c) é o traçado básico para o desenho de Belvedere. De fato, o cubóide apresenta pares de supostas arestas cuja superposição torna impossível a ligação entre elas no mundo real. Tal superposição permite que a percepção da dimensão de profundidade seja modificadae que o artista crie a figura do edifício do castelo, o qual, na realidade física tridimensional e, portanto, fora do papel, não pode ser construído. a) CUBO b) CUBÓIDE c) CUBÓIDE d) CUBO EM BELVEDERE e) CUBÓIDE DE PENROSE f) TRIBAR FIGURA 6 – Ilusões de Ótica e a Geometria Segundo Ernst (1991), nos estudos prévios feitos para a litografia Belvedere, e realizados em 1958, Escher chamou este edifício de casa-fantasma. No entanto, como a atmosfera do desenho final não tinha em si nada de fantasmagórico, o artista mudou o nome da litografia. Cabe considerar que, fantasmagórico ou não, a arquitetura do edifício do castelo é, de qualquer maneira, impossível. 34 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Você talvez não tenha percebido, mas em Belvedere, esta situação é completamente clara, pois embora o desenho pareça como a representação de um prédio, na realidade concreta, não se pode ter nenhum edifício, como o que está ali representado. No entanto, este aparente enigma gráfico é tão ilustrativo, que apresenta a sua resposta na parte inferior da própria litografia: na forma dos traços de uma figura colocada nas mãos de um jovem pensativo. Você chegou a perceber isso? É nessa figura, cuja forma é a de um aparente cubo, que se encontra a pista para o enigma da gravura Belvedere. Antes de analisar esta forma de cubo em relação à gravura, cabe, no entanto, uma olhada mais acurada à sua parte central. Nesta vê-se uma escada de mão que parece estar dentro do edifício e ao mesmo tempo encostada às suas paredes exteriores. A escada está desenhada completamente reta e, no entanto, a sua extremidade superior está encostada contra a parede exterior do pavilhão do edifício, enquanto que a extremidade inferior está dentro dele. Observe que, se um sujeito estivesse em pé no degrau do meio da escada, não poderia dizer se estaria dentro ou fora do edifício, pois visto de baixo, o mesmo sujeito estaria claramente dentro do pavilhão, visto de cima, claramente fora dele. Por outro lado, se o desenho do pavilhão for cortado horizontalmente ao meio, verifica-se que ambas as metades são completamente normais. Note que, é na combinação, como se fora uma justaposição destas duas partes, que se encontra a impossibilidade da construção tridimensional e, portanto, real do pavilhão Belvedere. O jovem que aparece sentado no banco, aparentemente parece meditar sobre a combinação impossível destas duas partes ao observar o modelo que segura nas mãos. Observe que este modelo apresenta o traçado de um aparente cubo, isto é, um cubóide devido a Penrose, cujo lado superior é ligado ao inferior, de uma forma impossível, por meio de arestas muito estranhas. Observe novamente a Figura 6(e). Um Desenho que não Corresponde a um Objeto da Realidade Considerando que todos os desenhos das representações da realidade tridimensional são tidos como uma projeção sobre o plano do papel, no exemplo da litografia do Belvedere tem-se um caso de uma representação desenhada no plano que não é a projeção da realidade tridimensional. Ou seja, esse desenho não corresponde a nenhum objeto criado por um ser humano ou existente na natureza. 35 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais É mesmo impossível se segurar na mão um cubóide, pois, simplesmente, este não pode existir no espaço da realidade, na forma de uma construção material. O jovem, no entanto, teria como encontrar a solução para o enigma da construção das duas partes do pavilhão, e das colunas que as ligam, se observasse cuidadosamente o desenho que está no chão, em frente a ele e a seus pés. Pois, este desenho desvela o segredo do cubóide relativamente à posição das colunas do Belvedere, ao apresentar indicadas as superposições possíveis das arestas no desenho, as quais são, no entanto, impossíveis de serem realizadas em uma construção material real. Observe a Figura 6(d). Ao tentar criar o objeto correspondente à grade a partir do desenho, você pode ter observado que: mesmo ao lidar com as tiras de papel ou com palitos de picolé, cuja espessura aparentemente não é relevante para a construção da grade, o objeto construído na realidade espacial não foi fiel ao esperado. Tudo isso, sem contar a possibilidade de quebra dos palitos, ao tentar conectá-los em planos diferentes. De fato, você deve ter percebido que os objetos construídos para representar a grade, não apresentam a característica tridimensional relativa à profundidade, ainda que as suas arestas apresentem posições coerentes com as do desenho. Você gostou das atividades envolvendo a observação da figura com os traços das duas mulheres, a da construção frustrada e impossível da profundidade da grade louca, e o da observação da gravura do Belvedere de Escher? Embora essa atividade de construção concreta da grade louca como figura plana, já tenha sido realizada com sucesso por adolescentes com cerca de 13 anos, no LEG, tem sido observado um comportamento peculiar entre alguns professores em exercício e familiarizados com a obra de Escher. Ou seja, muitas vezes, é somente após esse exercício de construção e de representação impossível da profundidade, que alguns profissionais percebem a ilusão de ótica representada no mundo impossível da litografia Belvedere. Tal ilusão pode ser constatada na ligação impossível desenhada entre o piso superior e o inferior do suposto castelo. É somente após esta frustrada construção de um objeto espacial, representando a profundidade, a partir de um desenho, que muitos cursistas percebem que a partir de um esboço traçado no plano, nem sempre se pode construir um protótipo, uma maquete ou um modelo concreto daquilo que está traçado no plano do papel. E você, leitor, está lembrado da grade louca na Figura 5? Você realmente tentou construí- la? Agora, você deve estar se perguntando no que Escher se baseou para desenhar a outra litografia, a da Queda de Água. Analisando agora essa outra gravura, note que ela representa uma queda de água traçada com base no desenho de um triângulo, que aparentemente pode ser construído no mundo físico. Este desenho, denominado tribar, apresentado Figura 6(f), passa a sensação de que os lados de um triângulo estão em planos diferentes. Aparentemente um tribar representa o esboço de um objeto que pode ser construído, por exemplo, por meio de ripas de madeira, cujas extremidades se justapõem. Todavia, da mesma forma que no caso do cubóide, tal construção, ou outra qualquer com algum tipo de material concreto, é impossível. E você, leitor, ainda duvida, ou quer tentar construir um tribar? Observe que é a justaposição engenhosa de três desenhos do tipo tribar que permitiu a Escher traçar uma queda de água em que se apresenta uma ilusão de ótica. Esta permite ter a impressão de se ver o movimento contínuo de uma corrente de água, a mover uma roda de moinho. Esta roda parece levar a água de um plano para outro, do qual aparentemente volta a cair em direção ao primeiro plano. 36 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria Ainda que a obra de Escher venha influenciando a introdução das figuras de ilusão de ótica nos meios educacionais e a sua ligação com a Matemática tenha sido uma grande inspiradora de práticas pedagógicas para o ensino dessa disciplina, as vivências educacionais no LEG apontam que vários aspectos relacionados à Psicologia têm sido negligenciados na escola. Em muitos livros didáticos e na prática de muitos professores esses aspectos não são considerados, no afã de apresentarem atividades lúdicas e motivadoras da curiosidade do aluno. Tal fenômeno acontece até mesmo em livros destinadosao ensino superior e aparentemente, a maioria dos profissionais desconhece que tais características psicológicas podem ser desenvolvidas no ensino da Geometria, com o trabalho didático a partir da aplicação desses desenhos tão instigantes. Saiba que, as atividades didáticas aqui consideradas também têm incentivado muitos professores a uma mudança de postura profissional: alguns declaram que após realizá-las se tornaram mais pacientes e passaram a ser mais tolerantes com seus alunos, buscando evitar conflitos desnecessários à sala de aula, principalmente aqueles estabelecidos entre o professor que visualiza rapidamente formas geométricas e o aluno que não apresenta a mesma maestria, e vice-versa. As atividades aqui apresentadas efetivamente auxiliam na transposição dos desafios à convivência, em sala de aula, de indivíduos visualizadores e não- visualizadores. Cabe lembrar que nem todos os alunos apreciam figuras instigantes e artisticamente elaboradas, como as apresentadas na obra de Escher, pois tais gravuras, nem só provocam a curiosidade, mas podem também produzir estranhamento e emoções negativas. Nesses casos, as características artísticas das figuras deixam de ser um fator positivo para o alcance dos objetivos educacionais e passam a servir como um elemento de dispersão e de distração para o aluno. No caso de grupos de estudantes mais sensíveis e dispersivos, é aconselhável se trabalhar com figuras menos elaboradas, como, por exemplo, a da ilusão de ótica com os traços das duas mulheres, ou outras mais simples e mais geométricas, como aquelas que você, leitor, já deve ter visto em http://brisray.com/optill/ oreal.htm. Se quiser mais informações sobre os temas ligados às figuras de ilusão de ótica veja em Kaleff (2007 a). 37 Parte 1 | Unidade 1 – A Habilidade da Visualização Frente à Sala de Aula de Geometria e os Parâmetros Curriculares Nacionais RESUMO DA UNIDADE Nessa unidade você viu que: • O trabalho didático sobre as representações gráficas e os objetos que representam, fica mais objetivo e produtivo quando se levam em conta as inter- relações cognitivas enfatizadas pela Psicologia, entre as figuras de ilusão de ótica e o desenvolvimento da habilidade da visualização. • O trabalho pedagógico cuidadoso com este tipo de figuras pode ir muito além da simples mediação lúdica e curiosa, podendo tornar o ensino das representações geométricas mais ameno e significativo. • Ao se quebrar a ilusão de que todos os educandos possuem igualmente as mesmas características cognitivas da habilidade da visualização, abrem-se caminhos mais amplos para a aquisição individual e para o desenvolvimento do conhecimento nas salas de aula de Matemática. • Respeitada a individualidade do educando tem-se chance de um sucesso maior na sala de aula. • Nem tudo que se desenha pode ser construído na realidade do mundo concreto e espacial. Unidade 2 A Aprendizagem Significativa da Geometria e o Desenvolvimento do Pensamento Geométrico METAS Esta unidade apresenta elementos que permitem entender o que seja uma aprendizagem significativa em Matemática e como o aluno desenvolve conhecimentos em Geometria. OBJETIVOS Ao final desta unidade você deve: • conhecer como são tratados os atributos, conceitos e defi- nições do ponto de vista de uma aprendizagem significativa da Geometria; • ter conhecimento do que seja o Modelo de van Hiele do desen- volvimento de um conceito geométrico; • saber reconhecer no modelo os níveis referentes ao desenvol- vimento cognitivo; • conhecer algumas propriedades do Modelo de van Hiele; • conhecer a metodologia de ensino adequada ao desenvolvimento dos níveis; • conhecer as características de um laboratório de ensino que permitem levar o aluno a uma aprendizagem significativa. MATERIAIS UTILIZADOS • Nenhum material especial. 40 Tópicos em Ensino de Geometria – A Sala de Aula Frente ao Laboratório de Ensino e à Historia da Geometria TEXTO 4 ATRIBUTOS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES EM UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DA GEOMETRIA Considerando que os PCN apontam para o fato de que “o conhecimento matemático formalizado precisa, necessariamente, ser transformado para se tornar passível de ser ensinado/aprendido; ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico não são passíveis de comunicação direta aos alunos” (BRASIL, 1998, p.30), é necessário refletir em como o professor pode atuar em sala de aula a fim de tornar possível essa transformação didática, em um dos momentos mais importantes e delicados da sala de aula, ou seja, o do ensino de uma definição geométrica. É a educadora matemática israelense Rina Hershkowitz quem traz uma importante contribuição para a reflexão escolar no que se refere a como se trabalhar a introdução dos atributos relacionados a um conceito geométrico e à sua definição. O quadrado é um exemplo de retângulo, pois tem os quatro ângulos iguais e do fato de ter quatro lados iguais, também tem lados iguais dois a dois, dessa forma possui as duas características relevantes de um retângulo. No entanto, um retângulo é um não-exemplo de um quadrado, pois não tem todos os quatro lados iguais (característica relevante do quadrado), apesar de ter lados iguais dois a dois. Assim, o quadrado é um exemplo particular de retângulo, embora um retângulo qualquer também seja um não-exemplo de quadrado. Atributos Relevantes de um Conceito Ao se trabalhar em sala de aula um conceito geométrico devem ser levadas ao aluno atividades nas quais se apresentem atributos, ou seja, características relevantes do referido conceito, bem como seus atributos não-relevantes (HERSHKOWITZ, 1994). São considerados atributos relevantes àqueles que aparecem em qualquer exemplo do conceito, isto é, são todos os atributos que devem ser satisfeitos para se ter um exemplo positivo do conceito (como preferem alguns autores, como Bairral e Silva, 2004). Enquanto que, os atributos não relevantes são características que se apresentam em apenas alguns exemplos do conceito. Esses casos são chamados de não-exemplos. No caso da definição do quadrado são atributos relevantes: quatro lados iguais e quatro ângulos iguais. Por sua vez, para o retângulo são atributos relevantes: lados iguais dois a dois e quatro ângulos iguais. 41 Parte 1 | Unidade 2 – A Aprendizagem Significativa da Geometria e o Desenvolvimento do Pensamento Geométrico Figura Geométrica Atributos Relevantes Atributos Não-relevantes Classificação Quanto aos Atributos Quadrado Quatro lados iguais Quatro ângulos iguais Lados iguais dois a dois Exemplo de Retângulo Retângulo Lados iguais dois a dois Quatro ângulos iguais Lados paralelos, dois a dois Não-Exemplo de Quadrado Observação Importante!!! A Definição de um Conceito como Conseqüência de um Processo Construtivo de Elaboração do Pensamento Caro leitor, você pode ter observado que, neste texto, não se está tratando de contra-exemplos e que este termo também não foi utilizado. Como as atividades visam à construção do conceito pelo aluno, tal conceito ainda não lhe foi apresentado por meio de uma definição, pois o estudante ainda o está elaborando em sua mente. Desta forma, em um procedimento didático como o aqui tratado, a definição de um conceito geométrico surge como conseqüência desse processo construtivo de elaboração. Leitor, ainda que lhe possa parecer estranho, saiba que é importante ao aluno vivenciar experiências que simulem tanto situações didáticas nas quais ocorram exemplos do conceito geométrico em que apareçam todos os atributos relevantes, como também ocorram também não-exemplos, os quais, no entanto, devem apresentar apenas alguns desses atributos relevantes. As pesquisas israelenses indicam ser do confronto entre
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