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BIBLIOTECONOMIA, LEGISLAÇÃO E NORMAS UNIASSELVI-PÓS Autoria: Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Mattos Indaial - 2020 1ª Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M444b Mattos, Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Biblioteconomia, legislação e norma. / Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Mattos. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 162 p.; il. ISBN 978-65-5646-084-0 ISBN Digital 978-65-5646-085-7 1. Biblioteconomia. – Brasil. 2. Ciência da informação. – Brasil. 3. Eventos. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 020 Impresso por: CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 O CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA ..........................................7 CAPÍTULO 2 A FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL ...65 CAPÍTULO 3 ASPECTOS ÉTICOS NA FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO ..... 117 APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico, tudo bem? Seja bem-vindo à especialização de Gestão de bibliotecas escolares e salas de leitura. Nesta disciplina, “Biblioteconomia, Legislação e Normas”, abordaremos diversos assuntos fundamentais da área, sendo seus conteúdos divididos em três capítulos. No Capítulo 1, faremos uma incursão ao contexto da Biblioteconomia e sua grande área de pesquisa, a Ciência da Informação, inserindo alguns pontos históricos e conceituais principais. Também apresentaremos os tipos de Unidades de Informação e suas especificidades, ressaltando as atividades que permeiam a profissão de bibliotecário em cada uma delas. No Capítulo 2, apresentaremos o contexto histórico da formação do profissional de Biblioteconomia no Brasil, bem como os aspectos jurídicos do exercício da profissão no Brasil. Também destacaremos os diferentes serviços da área. Neste, traremos as especificidades da sociedade contemporânea e a necessidade de atualização profissional. No Capítulo 3, falaremos sobre a importância e aspectos éticos na formação e atuação do profissional de Biblioteconomia, apresentando seu código de ética e os diversos contextos aos quais a postura ética se destaca. Esperamos que goste da disciplina e que ela faça diferença em sua formação profissional e intelectual. Bons estudos! Professora Miriam Mattos. CAPÍTULO 1 O Contexto Da Biblioteconomia A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • entender o contexto da Biblioteconomia e sua área de pesquisa; • diferenciar Biblioteconomia da Ciência da Informação; • compreender os principais conceitos e aspectos históricos que envolvem a área; • saber atuar em diferentes contextos profissionais da área; • executar atividades gerais da área de Biblioteconomia. 8 Biblioteconomia, legislação e normas 9 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste primeiro capítulo, iniciaremos nossos estudos fazendo uma incursão no contexto da Biblioteconomia e sua principal área de pesquisa, a Ciência da Informação – CI. A CI estuda a informação desde a sua gênese até o processo de transformação de dados em conhecimento. Também pesquisa a aplicação da informação em organizações, englobando seu uso e as interações entre pessoas, além da organização e sistemas de informação, logística, planejamento, modelagem de dados e análise da informação. Várias áreas do conhecimento utilizam a Ciência da Informação e atuam em pesquisas nesse contexto, dentre elas: Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, que, ao debaterem teoria da organização, se relacionam diretamente com a CI. Assim, neste primeiro capítulo, traremos informações históricas da CI, seus conceitos iniciais e fundamentais da área, contextualizando sua natureza interdisciplinar, bem como os paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. Aprofundaremos o debate sobre o objeto de pesquisa na área, a informação que se relaciona com o documento e a recuperação da informação, resgatando a mudança dos suportes da informação ao longo da história. Por fim, introduziremos a história da Biblioteconomia e das Bibliotecas, trazendo as tipologias de bibliotecas existentes, bem como suas especificidades na atividade do profissional. A seguir, você pode visualizar nosso caminho de aprendizagem: FIGURA 1 – PRINCIPAIS TEMAS DA UNIDADE FONTE: A autora 10 Biblioteconomia, legislação e normas 2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Segundo Oliveira (2005), existe uma vasta literatura a respeito da fundamentação teórica que sustenta a origem da Ciência da Informação, ao mesmo tempo que reflete as diversas tentativas de contextualizá-la, e de melhor definir seu objeto de estudo, ou seja, a informação. Também as relações da CI com outras disciplinas, que caracterizam sua interdisciplinaridade. A Ciência da Informação, a exemplo de outras áreas, nasce no bojo da revolução científica e técnica que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Para alguns autores, como Harmon (1971), Saracevic (1999) e Pinheiro (2002), a história da Ciência da Informação sofreu influências marcantes de duas disciplinas, que contribuíram não só para sua gênese, mas também para seu desenvolvimento, a documentação e a recuperação da informação. FIGURA 2 – ÁREAS DE INFLUÊNCIA NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO FONTE: A autora A documentação trouxe novas conceituações e, a recuperação da informação, viabilizou o surgimento de sistemas automatizados de recuperação de informações. Detalhes dessa contribuição, veremos no próximo tópico, que fala da história da ciência da informação. 2.1 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO É difícil definir um marco inicial para o surgimento de debates acerca da Ciência da Informação. Muito antes de se falar desta ciência, já havia diversos estudos com o objetivo de melhor organizar, guardar e disseminar a informação, 11 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 deixando resquícios do que viria após. Já na Antiguidade, na busca de organizar a informação, buscavam-se métodos como ordem alfabética, ou ainda, na Idade Média, os catálogos e inventários. Há autores que vão mais longe, falando da existência de análise documentária na Mesopotâmia, por volta de 2000 a.C. (WITTY, 1973). Mas é no século XIX que encontramos alguns marcos nessa história. É notoriamente reconhecido que, neste estágio, autores como Charles A. Cutter, Melvin Dewey, Henry E. Bliss e Ranganathan produziram princípios para organização do conhecimento que prosseguem válidos e importantes na atualidade. QUADRO 1 – AUTORES E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES CHARLES CUTTER MELVIN DEWEY HENRY E. BLISS RANGANATHAN Criou a tabela de Cutter, utilizada até os dias atuais para elaboração das nota- ções dos livros. Criou o sistema de classificação de assuntos que levou seu nome, conhecida como CDD. É a mais utilizada no mundo ainda nos dias atuais. Também criou um sistema de classificação, que é utilizado principalmente no Reino Unido. Autor das 5 Leis da Biblioteco- nomia: “Livros são para uso; para cada leitor, seu livro; para cada livro, seu leitor; poupe o tempo do leitor; a biblioteca á uma orga- nização em crescimento”. FONTE:A autora Por meio desses autores, temos um período que Hjorland (2003, p. 262) define como sendo “de profissionalização de classificações e indexações, criação da CDD – Classificação Decimal Dewey e fundação de escolas de biblioteconomia”. É também nesse período que as comunicações científicas passam a ser um espaço de larga divulgação de trabalhos na área, com a criação de institutos internacionais, a publicação da CDU – Classificação Decimal Universal e diversos estudos, sendo os principais autores Paulo Otlet, Bernal e Bradford. 12 Biblioteconomia, legislação e normas CLÁSSICOS DA BIBLIOTECONOMIA Paul Otlet é um clássico da área de Biblioteconomia. Com seu amigo La Fontaine, em 1904, criaram a CDU (Universal Decimal Classification) com base na CDD (Dewey Decimal Classification). Otlet escreveu diversos ensaios sobre a forma de organizar o mundo do conhecimento, resultando em dois livros, o Traité de documentation (1934) e Monde: Essai d’universalisme (1935). Seu legado é apresentado no livro As contribuições de Paul Otlet para a Biblioteconomia, em especial em seu Capítulo 1 – PAUL OTLET: BIOGRAFIA E LEGADO, que sugerimos como leitura. Tal livro está disponível em: https://www.acbsc.org.br/wp-content/uploads/2018/08/EBOOK- Paul-Otlet-ACB-vers%C3%A3o-final-revisada-22-08-2018.pdf. Na década de 50 do século passado, surgem os primeiros protótipos de armazenamento e recuperação da informação em formato digital. Se para a sociedade em geral, esse período será marcado por um avanço tecnológico, para a Ciência da Informação será o momento propício para seu nascimento. As novas tecnologias da informação, como Sistemas de Recuperação da Informação (SRIs), bases de dados, entre outras, já modificavam o dia a dia das indústrias, universidades e sociedade em geral. As teorias de comunicação de Shannon e Wienner, bem como estudos de outros autores, dentre eles Bradford, que falava do caos documentário e usou pela primeira vez o termo Ciência da Informação em 1948, já pressagiavam o que viria alguns anos depois. 13 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Um dos autores que destacamos em nossos estudos foi Vannevar Bush (1945), que durante a Segunda Guerra Mundial, em julho 1945, escreve o texto As We May Think – Como Podemos Pensar, que discute um dos problemas mais difíceis para a comunidade científica em tal período, e para a humanidade em geral: encontrar uma forma de armazenar e recuperar o conhecimento que desenvolvemos em nossas pesquisas e investigações. O artigo apresenta propriedades importantes que as soluções existentes na época poderiam evoluir para oferecer, e sugere um mecanismo para automatizar as ações de guardar, indexar e recuperar conhecimento. O autor chama este aparelho de Memex. É um dispositivo em que o indivíduo armazenará seus livros, seus registros, suas anotações, suas comunicações. O dispositivo será mecanizado de modo a poder ser consultado com extrema velocidade e flexibilidade. Digamos que seja um suplemento íntimo a nossa memória: uma grande expansão da memória pessoal (BUSH,1945). FIGURA 3 – MEMEX DE VANNEVAR BUSH FONTE: <https://king.host/blog/2017/05/do-memex-de-vannevar- bush-ate-web-de-todos-nos/>. Acesso em: 20 jul. 2020. Em 1958 é assinalada com um dos marcos na formalização da Ciência da Informação, quando foi fundado no Reino Unido o Institute of Information Scientist. Alguns autores descrevem a origem da nova disciplina a partir das bibliotecas especializadas (em indústrias e outras organizações, e especialmente pela ênfase dada por estas, a ideia de documentação). Na indústria moderna, houve uma crescente demanda de informação para maior desempenho das organizações. Então, alguns cientistas qualificados se deslocaram para a área de pesquisa e desenvolvimento ou de produção com o intuito de estabelecer um serviço de informação ativo para seus colegas, eles se consideravam cientistas. Como a atividade se expandiu e se formalizou, houve necessidade de treinamento para 14 Biblioteconomia, legislação e normas aqueles que optavam por essa atividade. O conjunto desse treinamento passou a se chamar Ciência da Informação. Ou seja, o uso do termo “Cientista da Informação” pode ter tido a intenção de distinguir os cientistas da informação dos cientistas de laboratório, uma vez que o interesse principal daqueles membros era a organização da informação científica e tecnológica. Os membros denominados cientistas da informação eram profissionais de várias disciplinas que se dedicavam às atividades de organizar e suprir de informação científica seus colegas pesquisadores. Um ponto importante salientado por Meadows (1991) foi a intensidade com que o computador afetou a estrutura dentro da qual a Ciência da Informação opera. Como outros campos científicos de natureza semelhante, por exemplo, a ciência da computação, a ciência da informação tem sua origem na esteira da revolução científica e técnica que se seguiu a Segunda Guerra Mundial. As novas tecnologias projetaram-se sobre a ciência da informação da mesma maneira que o fazem sobre muitos outros campos do conhecimento. No entanto, há consenso entre muitos estudiosos da ciência da informação de que está inexoravelmente conectada à tecnologia da informação. A recuperação da informação teve papel importante no surgimento da área, guarda em sua evolução as associações da ciência com a tecnologia da informação. Já as décadas de 60 e 70 do século passado foram marcadas pelas mudanças nos contextos históricos, políticos e econômicos, principalmente ocasionados pela tecnologia e suas implicações na vida social e acadêmica. Sabe-se que, em uma reunião do Instituto Tecnológico da Geórgia, em 1962, nasceu “oficialmente” a Ciência da Informação, cuja principal característica era estudar as propriedades e comportamentos da informação, investigando a sua geração, armazenamento, processamento, disseminação e uso da informação. Em relação ao tempo histórico, podemos considerar que a ciência da informação é um campo científico recente, e, portanto, ainda em construção. Cada disciplina científica possui conceitos e teorias consistentes, reconhecidas e partilhadas por sua comunidade. Com cerca de 50 anos de existência, a ciência da informação não conta ainda com uma construção teórica que integre todos os seus conceitos e práticas, por isso opera baseando-se em construções teóricas mais ou menos fragmentadas. 15 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Desde o seu surgimento, muitos estudiosos da área já conceituaram o que é ciência da informação. Alguns apresentam uma visão ampla da área, outros têm dela uma visão mais restrita, dependendo do entendimento do autor sobre o que é informação e seu universo de atuação. Para ter ideia dessa problemática, no estudo Mapa de Conhecimento da Ciência da Informação, realizado por Chain Zins entre 2003 a 2005, o autor documentou mais de 50 definições de Ciência de Informação, traçando correntes teóricas mais relevantes à formulação de uma concepção sistemática. Zins (2007, p. 528) formula seis concepções diferentes do campo e discute suas implicações, constatando que “o campo de Ciência da Informação está em constante mudança. Portanto, os cientistas da informação regularmente necessitam revisar – e se for necessário – necessitam redefinir seus fundamentos epistemológicos”. Leia o artigo de Zins (2007), que pode ser acessado em: http://www.success.co.il/is/bjis-2007.pdf. Trata-se de um painel internacional composto de 57 acadêmicos de 16 países que representam quase todos os subcampos e os aspectos mais importantes da área de Ciência da Informação. Chaim Zins é um cientista da informação israelense, especializado em mapeamento do conhecimento. Dentre seus principais projetos de pesquisa estão: metodologia de pesquisa, 10 pilares do conhecimento,mapa da Ciência da Informação, e o Delphi crítico. Professor na Universidade de Haifa (Israel), do Gordon College of Education (Israel), e também foi professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP (Marília, SP), ele possui um site onde é possível acompanhar seus estudos e pesquisas, principalmente na área de mapeamento do conhecimento. 16 Biblioteconomia, legislação e normas FIGURA – CHAIM ZINS FONTE: <https://i1.rgstatic.net/ii/profile.image/279349489094679-1443613516542_ Q512/Chaim_Zins.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2020. Mas, aqui, trabalharemos com a definição de Borko (1968, p. 2), para quem a Ciência da informação é: Uma Ciência interdisciplinar que investiga as propriedades e comportamento da informação, as forças que governam os fluxos e os usos da informação e as técnicas, tanto manual quanto mecânica de processamento da informação. Relaciona- se com o corpo de conhecimento relativo à produção, coleta, organização, armazenagem, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. As ideias de Borko, ao conceituar a nova disciplina, apontam a essência do problema que orienta o campo da Ciência da Informação: organizar e disponibilizar para uso as informações sobre o que é produzido socialmente (BORKO, 1968). Haroldo Borko é considerado um dos autores clássicos em Ciência da Informação, centrou-se no início dos anos 1960, no estudo da aplicação dos computadores ao processamento da linguagem e à recuperação da informação, mantendo, todavia, projetos paralelos como o da classificação automática de documentos. 17 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 FONTE: https://www.asist.org/about/history-of-information-science/ pioneers-of-information-science/harold-borko-2/ Em 1968, ele escreve um breve, mas denso texto, intitulado Ciência da informação: O que é isso?. Borko dá uma contribuição decisiva para os fundamentos científicos da Ciência da Informação com a formulação de uma definição de Information Science (IS), que vai muito além das apresentadas em 1961 e 1962 nas conferências do George Institute of Technolog. FIGURA – HAROLDO BORKO 2.1.1 A Natureza Interdisciplinar da Ciência da Informação Há unanimidade entre os praticantes e pesquisadores da ciência da informação sobre o fato de esta ser um campo interdisciplinar. Isso significa que os problemas da área, tanto de natureza teórica quanto os técnicos, têm sido equacionados com a participação de outros ramos do conhecimento. Na opinião de Saracevic (1999), a interdisciplinaridade foi introduzida na Ciência da informação pela variedade de antecedentes de todas as pessoas que se ocuparam com seus problemas (já descritos). Entre os pioneiros, havia engenheiros, bibliotecários, químicos, linguistas, filósofos, psicólogos, matemáticos, cientistas da computação, homens de negócio e outros, oriundos de diferentes profissões ou ciências. 18 Biblioteconomia, legislação e normas Nem todas as disciplinas das quais tais pessoas se originaram, tiveram contribuições relevantes, mas essa multiplicidade de visão nas construções da área foi responsável pela introdução e pela permanência do objetivo interdisciplinar na Ciência da informação. A participação de outros campos do conhecimento na Ciência da informação permanece em função da complexidade dos problemas a serem equacionados pela área, o que exige contribuições de diferentes profissionais e/ou pesquisadores. Dentre as disciplinas com as quais a Ciência da informação tem trabalhado distinguem-se: Biblioteconomia, Ciência da Computação, Comunidade Social, Administração, Linguística, Psicólogos, Lógica, Matemática, Filosofia/ Epistemologia. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Órgão federal de financiamento e pesquisa no país, adotou uma conceituação para a área, para assim administrar a demanda de financiamento à pesquisa. Essa definição foi descrita no documento Avaliação e perspectiva que analisa a Ciência da informação, a Biblioteconomia e a Arquivologia. Tal documento que descreve as atividades da área de Ciência da Informação, no Brasil, foi elaborado por uma comissão composta por consultores de tais disciplinas. A conceituação da área, elaborada por aquela comissão, apoiou-se nas orientações da UNESCO, que, então, estimulava a criação de uma infraestrutura de informação com base de sistemas nacionais de informação. No contexto daquele documento, a área é assim definida: “Ciência da informação designa o campo mais amplo, de propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por objetivo o estudo dos fenômenos ligados à produção, organização, difusão e utilização de informações em todos os campos do saber” (CNPQ, 1983, p. 52 apud OLIVEIRA, 2005, p. 143). O termo interdisciplinaridade, aqui empregado, trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso, caracterizado por uma nova linguagem. Já a transdisciplinaridade é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade. É consequência normal da síntese provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem-sucedida. No entendimento daqueles consultores, a Biblioteconomia e a Arquivologia são disciplinas aplicadas que tratam da coleta, da organização e da difusão de informações preservadas em diferentes tipos de suporte materiais. Diferenciam- se, basicamente, pelo fato de: • Que as bibliotecas e outros órgãos assemelhados lidam com a necessidade de prover os usuários com informações substantivas sobre 19 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 o universo dos conhecimentos, ou parte deles. • Enquanto os arquivos lidam com aqueles documentos que foram produzidos como resultado das atividades desenvolvidas por uma pessoa física ou jurídica e que, portanto, documentam essas atividades. Assim, percebe-se no estudo daquele documento, que a ciência da informação é vista como uma grande área na qual estão abrigadas subáreas, como a Biblioteconomia e a Arquivologia, disciplinas mais voltadas à aplicação técnica, que não quer dizer que no âmbito daquelas disciplinas não se realizem pesquisas ou se produzam novos conhecimentos com possibilidades de distender- se para abrigar novas habilidades ligadas às novas atividades de informação. 2.2 PARADIGMAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DA BIBLIOTECONOMIA A ciência da informação se desenvolveu no Brasil, mais do que nos países centrais, imbricada com a biblioteconomia. Ou seja, a ciência da informação é um conjunto de teorias e, como campo científico, produz intercâmbio com outras disciplinas. Uma delas é a Biblioteconomia, área com a qual ela tem falado mais de perto, pelo menos na realidade brasileira. Mas a Ciência da Informação não é uma evolução da Biblioteconomia, pois cada uma delas se baseia em orientações paradigmáticas diferenciadas. As teorias da Ciência da Informação, aliadas às novas tecnologias de informação, vêm contribuindo com novas práticas e serviços bibliotecários. Biblioteconomia e a Ciência da Informação trabalham juntas na busca de solução para o mesmo problema que orienta a área. Segundo Thomas Kuhn (2003), paradigma é um modelo ou padrão de ciência que é compartilhado por uma determinada comunidade. O Paradigma da ciência da informação compõe-se de um grupo de ideias relativas ao processo que envolve o movimento da informação em um sistema de comunicação humana. Este paradigma surgiu nos anos 1950, quando as ideias da engenharia de comunicações e teorias cibernéticas obtiveram êxito na representação das propriedades do sistema de transmissão de sinais em termos matemáticos. Tornou-se então, base das tentativas para caracterizar e modelar o processo de recuperação da informação e/ou do documento. 20 Biblioteconomia, legislação e normas SegundoOliveira (2005), este paradigma tem influenciado profundamente o campo da Biblioteconomia, contribuindo não só com a palavra informação para denominar o novo campo, mas também, suprindo a área com um conjunto completamente novo de termos com os quais os praticantes caracterizavam suas atividades. O paradigma evidencia, particularmente, o fluxo de informação que ocorre em um sistema no qual objetos de representação do conhecimento (documentos) são buscados e recuperados em resposta à pergunta iniciada pelo usuário. Isso pressupõe uma grande extensão de assuntos específicos envolvendo processos também específicos, por exemplo, a criação e o crescimento do volume de documentos na sociedade, a organização e a recuperação desses documentos e/ou da sua representação e também uso. Esse modelo de sistema de informação tem origem em um contexto mais geral, que é a teoria matemática da comunicação. A teoria consiste em um ponto de destino (receptor) com possibilidade de codificação e decodificação para fins de retroalimentação. FIGURA 4 – MODELO DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE SHANNON WEAVER FONTE: Shannon-Weaver (1949, p. 22) Essa estrutura tem sido aplicada em bibliotecas como modelo de recuperação de documentos e para caracterizar agências que se dedicam às atividades tanto de Biblioteconomia quanto de Ciência da Informação. O modelo permitiu estudo sobre fluxos de informação em agências públicas e privadas, entre membros de uma disciplina, profissões especialistas etc. Para Miksa (1992), a importância desse paradigma se expressa em três ideias básicas: 21 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 1. Permitiu a formalização da ideia de que informação é algo que flui dentro de um sistema. A partir daí, surgiram os conceitos de entropia e incerteza, redundância, retroalimentação, sinal para taxas de ruídos. 2. A informação passou a ser entendida como algo divisível dentro de unidades feitas em partes, num sistema. 3. A ideia de movimento da informação tem intensificado a busca de entendimento da informação em si mesma. A princípio, tal movimento foi discutido como fenômeno físico – isto é, como a transmissão de sinais mensuráveis, o que tornou flexível o conceito principal do paradigma. Depois foram acrescentados outros domínios do movimento da informação, por exemplo, aqueles relacionados ao fluxo de ideias, significados, ou mensagens cheias de significados envolvidos com a semiótica e a semântica. Após a década de 1990, as tecnologias avançam ainda mais. Debates como o da arquitetura da informação passam a ser imprescindíveis dentro da Ciência da Informação, com espaço garantido em eventos nacionais e internacionais da área, bem como inseridos em disciplinas das graduações de Biblioteconomia. Neste sentido, Santos e Vidotti (2008, p. 21) afirmam que “O entendimento deste momento que se constrói historicamente remete à compreensão de que a potencialização da competência informacional digital muda a cultura, criando rupturas, rompendo paradigmas e introduzindo novas posturas experimentais a princípio, mas que solidificam novos hábitos”. Segundo Barreto (2009, p. 54): O ciberespaço é visto como uma dimensão da sociedade em rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais. É associada à rede mundial de documentos multiculturais. O indivíduo rompe com alguns princípios tidos como regras do linguagear permitido, alterando alguns valores e crenças, como uma determinação de uma nova sociabilidade existente no mundo. Sendo notória essa mudança na sociedade, acredita-se que o espaço dos debates acerca de tecnologias e arquiteturas digitais, que deem um respaldo às necessidades sociais, tendem a crescer. Corroborando com Braga (1995, p. 23), “está se tornando cada vez mais difícil estudar algo do qual só estamos conseguindo perceber o rastro”. Enfim, Ciência da Informação é considerada uma ciência nova e em construção, ligada diretamente ao processo de comunicação e aos avanços tecnológicos. É considerada, também pela maioria dos autores, uma ciência interdisciplinar ou até mesmo transdisciplinar, pois a informação, seu objeto 22 Biblioteconomia, legislação e normas de pesquisa, perpassa todas as áreas de conhecimento. Entre seus principais desafios, está a ampliação e qualificação de seu quadro teórico. O link a seguir apresenta os paradigmas epistemológicos da CI (físico, cognitivo e social) elaborados por Rafael Capurro. Acesse: http://www.capurro.de/enancib_p.htm. 3 A INFORMAÇÃO E DOCUMENTO De acordo com Ortega e Lara (2008), a Ciência da Informação estuda o conhecimento sob o ponto de vista dos registros que lhe conferem permanência e possibilitam seu acesso e uso. Tais registros constituem documentos que, para serem efetivamente informacionais, têm de ser construídos de modo a serem apropriados. Assim, nesta seção, veremos as diferenças e relações desses dois conceitos. 3.1 INFORMAÇÃO Em um primeiro olhar, parece simples um processo de conceituação do objeto de pesquisa da Ciência da Informação, ou seja, da Informação. Mas, em uma leitura atenta dos clássicos da CI, podemos observar dificuldades nessa definição. Em Buckland (1991), por exemplo, em seu texto Informação como coisa, o autor trabalha a ambiguidade do termo “informação”. Ele a define em três contextos diferenciados: 23 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 FIGURA 5 – BUCKLAND E A AMBIGUIDADE DA INFORMAÇÃO FONTE: A autora Segundo Oliveira (2005), a Ciência da Informação, desde seu surgimento, padece de dificuldades para isolar e descrever seu objeto de pesquisa, a informação. Há muitas definições para o termo informação, que conduzem às diferentes visões dos autores sobre o que é um processo de informação. É preciso relembrar que esse objeto não é exclusivo da ciência da informação, pois perpassar todas as áreas de conhecimento, sendo interpretado também de forma adversa. Mas a autora ressalta que, na ótica da Ciência da Informação, o objeto informação é uma representação do conhecimento, do real, se tornando uma representação da representação. Sendo um objeto complexo, flexível, mutável, de difícil apreensão, sendo que sua importância e relevância estão ligadas ao seu uso. Para Le Coadic (1996, p. 41): “A informação é um conhecimento inscrito, ou seja, gravado, sob a forma escrita, que pode ser impressa ou numérica, ou ainda oral ou audiovisual. A informação comportaria um elemento de sentido. Um significado transmitido a um consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte”. Essa inscrição é feita graças a um sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuação. O objetivo da informação permanece sendo a apreensão de sentidos ou seres em sua significação, ou seja, continua sendo o conhecimento; e o meio é a transmissão do suporte, da estrutura (LE COADIC, 1996). 24 Biblioteconomia, legislação e normas FIGURA 6 – ESQUEMA DE INFORMAÇÃO FONTE: A autora Segundo Pinheiro (2002), a informação está imersa em um campo vasto e complexo de pesquisas que, por tradição, se relacionam a documentos impressos e a bibliotecas. No entanto, a informação de que trata a ciência da informação não se restringe a documentos impressos, pode ser percebida em conversas entre cientistas e outros tipos de comunicação informal. Ela representa também em uma inovação para o setor produtivo, na forma de patente, fotografia ou objeto, no registro magnético da base de dados, numa biblioteca virtual ou repositório na internet. Em seu estudo, Pinheiro (2002) extrai de vários outros autores os atributos da informação. Vejamos: FIGURA 7 – ATRIBUTOS DA INFORMAÇÃO FONTE: Adaptada de Pinheiro (2002) Em resumo, a informação trata-se de um fenômeno tão amplo que abrange todos os aspectosda vida em sociedade; pode ser abordado por diversas óticas, seja a comunicacional, a filosófica, a semiológica, a sociológica, a pragmática, entre outras. Essa multiplicidade de possibilidades de análise do fenômeno 25 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 conduz a uma reflexão sobre a natureza interdisciplinar, ou transdisciplinar, da área, uma vez que esta, se por um lado busca sua identidade científica, por outro, fragmenta-se ao abordar diferentes temáticas relacionadas ao binômio informação comunicação. 3.2 DOCUMENTO Documento pode ser definido como o registro de uma informação, independentemente da natureza do suporte que a contém (PAES, 2004). Outra designação para documento – o suporte material do saber e da memória da humanidade. Os documentos podem ser diferenciados segundo suas características, vejamos: • Textuais: livros e e-books, periódicos, fichas, textos de leis etc. • Não textuais: imagens; mapas; plantas; cartazes; discos; fitas; quanto à forma de produção; quanto à modalidade de utilização. Quanto à forma de produção, os documentos podem ser Brutos ou Manufaturados: • Bruto: minerais; plantas; ossos; fósseis e meteoritos. • Manufaturados: artesanal; industrial; intelectual e utilitário. Existem vários e-books disponíveis para web para consulta. Conheça a iniciativa do Google books: https://books.google.com/. Quanto à utilização, os materiais podem também ser utilizados pelos homens, ou ainda, serem equipamentos especiais e de informática. Quanto à periodicidade, podem ser produzidos apenas uma vez, ou ainda, terem uma regularidade de volumes, exemplares, tiragens e tomos. Podem também ser organizados em coleções. 26 Biblioteconomia, legislação e normas Você sabe o que é um tomo? O conceito de tomo é geralmente usado relativamente à segmentação de uma obra escrita. Um escritor pode tomar a decisão de dividir um livro em várias partes: cada uma destas partes recebe o nome de tomo. Quanto à forma, também podem ser publicados ou não. Os materiais não publicados também são considerados literatura subterrânea, não convencional ou cinzenta. Por exemplo, aqueles que são produzidos em todos os níveis do governo, institutos, academias, empresas e indústria em formato impresso e eletrônico, mas que não são controlados por editoras ou científicas ou comerciais. Aqui também estão os documentos manuscritos. Curiosidade – Incunábulos são obras impressas anteriormente ao ano de 1500, nos primeiros tempos com a invenção da imprensa com tipos móveis. Essas obras imitavam os manuscritos. Assim, demorou-se 50 anos para que o livro impresso passasse a ter suas próprias características, abandonando, paulatinamente, as características do livro manuscrito. A sua origem vem da expressão latina in cuna, referindo-se assim ao berço da tipografia. Quanto ao grau de elaboração, podem ser primários, ou seja, originais. Secundários, que se referem aos primários, como bibliografias, catálogos, boletins. Ou ainda, terciários, elaborados a partir de documentos primários e secundários. Quanto à origem, os documentos podem ter fonte: pública; privada; anônima; conhecida; individual; coletiva; secreta ou divulgada. Podem ainda ter autoria: pessoal ou coletiva, se autor entidade; ser de domínio público ou ainda propriedade literária. 27 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 SAIBA MAIS – Os direitos autorais duram por 70 anos após a morte do autor, contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao falecimento. Depois desse prazo, a obra passa a ser domínio público. Com um acervo de mais de 123 mil obras e um registro de 18,4 milhões de visitas, o Portal do Governo Federal, “Domínio Público”, é a maior biblioteca virtual do Brasil. Lançado em 2004, oferece acesso de graça a obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação autorizada. Acesse http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ PesquisaObraForm.jsp. 3.3 OS SUPORTES DA INFORMAÇÃO O suporte pode ser entendido como toda e qualquer mídia que armazene informação ao longo dos tempos. Monte e Lopes (2004, p. 22) definem suporte da informação como “o produto utilizado para o armazenamento das informações, podendo conter dados, histórias, documentos, imagens, filmes, sons símbolos entre outros. A partir da popularização da informática, este termo ficou conhecido como mídias ou dispositivos de armazenamento”. 28 Biblioteconomia, legislação e normas Um dos primeiros suportes utilizados para registrar a expressão gráfica humana remonta à Pré-História e utilizava a pedra como mídia. São exemplos clássicos desse período, os painéis de arte rupestre, executados nas paredes das cavernas onde o homem primitivo desenhava o seu cotidiano (MONTE; LOPES, 2004). A arte rupestre iconizava normalmente rituais primitivos para boa colheita, condições ambientais, guerras, cotidiano, entre outros. FIGURA 8 – GRAVURA RUPESTRE LOCALIZADA NA PEDRA DO INGÁ, PARAÍBA (BRASIL) FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-rupestre/>. Acesso em: 20 jul. 2020. FIGURA 9 – PINTURA RUPESTRE ENCONTRADA NA ARGÉLIA (ÁFRICA) FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-rupestre/>. Acesso em: 20 jul. 2020. 29 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Você percebeu, assim como vimos antes, que a pedra foi o mais primitivo suporte utilizado para armazenamento de informações, porém, com o advento da escrita sistemática, outros materiais foram sendo testados, utilizados e substituídos, evoluindo em direção à eficiência do registro e da comunicação. As formas mais importantes de suportes utilizados antes do aparecimento do papel foram o papiro e o pergaminho. O papiro era um suporte orgânico de origem vegetal, feito a partir de tiras de uma planta da família das ciperáceas (cyperus papyrus). Segundo Donato (1951), atingia até três metros de altura, haste nua, formada por uma série de películas concêntricas, umas sobre as outras. O papiro foi bastante difundido como suporte de informações, sendo encontrado há mais de 3500 anos, nas margens do Rio Nilo, no Egito. Martins (1996) afirma que o papiro foi o mais célebre de todos os produtos vegetais empregados na escrita na Antiguidade. Embora não se conheça o momento exato em que se transformou em material de escrita, tudo indica que se trata de uma época extraordinariamente longínqua. FIGURA 10 – PAPIRO FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/01/Sesostris%27_ boook_of_the_dead%2C_Papyrusmuseum_Wien.jpg/1200px-Sesostris%27_ boook_of_the_dead%2C_Papyrusmuseum_Wien.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2020. O pergaminho se tornou o principal suporte da escrita na Idade Média. Segundo Luccas e Seripierri (1995), sua preparação era semelhante ao curtimento do couro. Depois de lavada, a pele era depilada, estendida num retângulo de madeira e amaciada com pedra-pomes, até a obtenção de uma superfície lisa e clara. Segundo Martins (1996, p. 68), o Pergaminho viabilizou o aparecimento das cores, “nome dado aos manuscritos cujas folhas eram reunidas entre si pelo dorso, e recobertas de uma capa semelhante à das encadernações modernas”, o pergaminho foi largamente utilizado até a descoberta e difusão do papel, uma invenção dos chineses. 30 Biblioteconomia, legislação e normas Já o papel foi inventado por T’sai-Lun, Diretor das Oficinas Imperiais, na província de Hunan, ao norte da China, por volta do ano 105 d.C. (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995) e revolucionou o mundo da escrita, rapidamente, tornando- se o suporte mais utilizado para guarda e armazenamento de informações no mundo moderno. Mas percebe-se que os recursos que existiam no passado ainda eram limitados para viabilizar a disseminação da informação e ficava restrito a poucos.O surgimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) provocou uma grande revolução nos registros de informação e do conhecimento. Com o aparecimento da internet e com os novos processos de gestão, guarda, preservação e disseminação de informações, novos estoques foram se desenvolvendo e pressionando a indústria de Tecnologia da Informação (TI) a produzir suportes mais eficientes para o armazenamento de registros em meio digital. FIGURA 11 – EVOLUÇÃO DOS SUPORTES TECNOLÓGICOS FONTE: <http://cantinhotic.blogspot.com/2013/02/evolucao-dos- suportes-de-informacao.html>. Acesso em: 5 ago. 2020. No decorrer de uma década, romperam-se seguidamente diversos limites de armazenamento, vencendo com facilidade a barreira dos gigabytes de capacidade, por unidade de memória. Com o advento da informática, da internet e com a expansão geométrica do volume de usuários e pontos de presença na web, novos produtos de informação foram gerados e, consequentemente, novos suportes para o armazenamento dessas informações foram desenvolvidos. O disquete, fita magnética, disco rígido, CD, DVD, Blue-Ray, HD Externo, Pen Drive, são exemplos recentes do esforço tecnológico realizado para o armazenamento da informação digital gerada, até o armazenamento nas nuvens, 31 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 4 BIBLIOTECONOMIA A Biblioteconomia está relacionada ao significado de suas três palavras: biblio – teca – nomia. A primeira está associada a livros (ou de forma mais ampla, materiais bibliográficos), enquanto a segunda é relativa à caixa (algo que arranja, arruma ou organiza), e a terceira, por fim, quer dizer norma, isto é, norma estabelecida para um determinado fim (FONSECA, 2007). Pensar a Biblioteconomia pode perpassar em termos técnicos, científicos, profissionais ou acadêmicos. Porém, é pertinente ressaltar que a aventura de compreender o que é a Biblioteconomia é uma necessidade premente dos mais diversos representantes de sua área, é o que nos entusiasma a tentar conceber uma síntese sobre o assunto (BIBLIOO, 2019). Podemos conceber que a Biblioteconomia é a união de duas palavras, biblioteca e economia, no sentido de organização, administração, gestão. Le Coadic (1996), em sua obra A Ciência da Informação, afirma que a Biblioteconomia não é nem uma ciência, nem uma ciência tecnológica rigorosa, mas uma prática de organização: a arte de organizar bibliotecas. 4.1 ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS DA BIBLIOTECONOMIA E DAS BIBLIOTECAS Os conceitos etimológicos que ganharam força, sobretudo durante o século XIX até o final do século XX, significam dizer que a Biblioteconomia pode ser considerada, em sua essência epistemológica, uma norma estabelecida (conjunto de normas) para a organização de acervos de uma biblioteca que está embasada pelos códigos e materiais de catalogação, classificação, indexação e de outros instrumentos técnicos de organização, visando promover disseminação e acesso à informação para a sociedade. Historicamente, o emprego da palavra biblioteca já se encontra expandido durante os séculos XVII e XVIII na Europa e século XIX no continente americano, com o surgimento das grandes bibliotecas nacionais. Todavia, o emprego do termo biblioteconomia começa a se expandir na primeira metade do século XX, com o início dos primeiros cursos de Biblioteconomia. Le Coadic (1996), em sua obra A Ciência da Informação, afirma que a Biblioteconomia não é nem uma ciência, nem uma ciência tecnológica rigorosa, mas uma prática de organização: a arte de organizar bibliotecas. 32 Biblioteconomia, legislação e normas Também podemos afirmar que a história das bibliotecas acompanha a história da escrita e das formas de registro do conhecimento humano. Que, como pudemos observar no tópico anterior, perpassa as tábuas de argila, as coleções de papiros e pergaminhos, papel até o surgimento de novas tecnologias. Uma das mais famosas bibliotecas da Antiguidade foi Alexandria, no Egito. Criada no século III a.C., chegou a reunir cerca de 700 mil volumes de manuscritos. Ela compreendia dez grandes salas e quartos separados para os consulentes. A Biblioteca de Alexandria foi o grande marco da história das bibliotecas da Antiguidade e foi destruída por um grande incêndio provocado pelos árabes, em 646 da Era Cristã (OLIVEIRA, 2005). Na Idade Média, existiam três tipos de bibliotecas: as bibliotecas dos mosteiros (lembradas por Umberto Eco, em seu livro O Nome da Rosa) e de ordens religiosas diversas, as bibliotecas das universidades e as bibliotecas particulares, quase sempre pertencentes aos reis, nobres ou grandes senhores. Estas últimas constituem a origem das bibliotecas nacionais. Desde o surgimento das bibliotecas até o período da Renascença, os guardiões dos livros não tinham uma existência social como os bibliotecários que conhecemos hoje; eram sempre eruditos (sacerdotes ou figuras da elite) que viviam reclusos em suas bibliotecas e preocupados em salvaguardar e copiar as obras dos acervos. As bibliotecas da Antiguidade e da Idade Média não tinham como objetivo dar acesso ao grande público, pelo contrário, eram símbolos de poder e acúmulo de conhecimento para os poucos que tinham o privilégio de consultá-las. Tanto que nas invasões e guerras, as bibliotecas não eram poupadas da destruição do inimigo, dada a importância simbólica que exibiam. Dizimar os símbolos do saber acumulado de um povo era, também, dizimá-lo da História. Quando a tipografia foi criada na Renascença, o livro ganhou uma maior visibilidade e veiculação, tornando a biblioteca e, consequentemente, o bibliotecário, mais populares. Mas o bibliotecário, nesse período, ainda era um erudito ou um escritor que cuidava dos acervos, à procura de paz para idealizar e escrever sua obra, neste contexto, arquivos e museus eram uma só entidade, onde eram guardados todos os tipos de documentos. Com o surgimento do livro impresso, a biblioteca também ganha uma existência própria. A partir do século XVII, surgiram as primeiras bibliotecas públicas, patrocinadas por mecenas (pessoas que patrocinavam artistas e escritores para obter prestígio). A abertura maciça das instituições, até então restritas ao grande público, como museus e bibliotecas, deu-se a partir da Revolução Francesa, que também foi o estopim para os ideais de uma educação 33 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 pública laica e gratuita. A figura do bibliotecário começou a ganhar uma visibilidade social e a biblioteca passou a não ser mais o local do saber e conhecimento restrito, mas sim o local que deveria ser organizado de modo que todos pudessem ter acesso aos conteúdos que ela disponibilizasse. A partir de meados do século XIX, sentiu-se a necessidade de haver um profissional com formação especializada e técnica, pois se reconheceu que era uma profissão socialmente indispensável. Um livro-chave para compreensão da Biblioteconomia, de uma forma bem brasileira, é Introdução a Biblioteconomia, de Edson Nery da Fonseca. Nele, Fonseca (2007) aborda os aspectos e objetos presentes na história da Biblioteconomia, conceituando e apresentando suas formas de organização e suas funções na sociedade. Também contextualiza a evolução histórica da área. Para o autor: • O livro é uma ferramenta importantíssima como veículo de comunicação e estímulo ao conhecimento. • A biblioteca é onde são reunidos os livros, bem como os seus leitores e onde o bibliotecário exerce suas funções. • O leitor é destacado por Fonseca (2007) como figura central, pois sem ele, a biblioteca não existiria. • A leitura vai além do que está escrito, é a criação de ideias, a expansão do conhecimento. • O bibliotecário é a chave dessa mediação, entre os livros e o conhecimento adquirido pelos leitores. Verdadeiro disseminador da informação, sem ele a biblioteca fica desorganizadae sem sentido. 34 Biblioteconomia, legislação e normas FONTE: <https://s2.glbimg.com/dhAfpw3DyB7dwRqScvm954B6AS8=/290x217/ s2.glbimg.com/tICgpAU6QRY5fnuEdSxsBBaftcI=/s.glbimg.com/jo/ g1/f/original/2011/11/12/nery.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2020. Nascido no Recife, em 6 de dezembro de 1921, a trajetória do Mestre Edson se entrelaça com a história da biblioteconomia brasileira. Foi fundador dos cursos de biblioteconomia do Recife (1948) e da Universidade de Brasília (1962), onde também foi o primeiro diretor da sua Biblioteca Central. Colaborou, a partir de 1954, com a implantação da Divisão de Bibliografia do antigo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (hoje, Ibict); foi bibliotecário da Câmara dos Deputados e assessor da Fundação Joaquim Nabuco (1980-1987). CLÁSSICOS DA BIBLIOTECONOMIA FIGURA – EDSON NERY DA FONSECA Atualmente, a biblioteconomia busca alicerçar seus saberes em conceitos e técnicas elaboradas com o intuito de aprimorar seus processos, questionando e reelaborando seus métodos, a fim de acompanhar o desenvolvimento informacional e atender plenamente aos seus usuários. Esses conceitos procuram cientificar a biblioteconomia, desvinculando o aspecto técnico que está fortemente vinculado e ela. Nesse aprimoramento, o repensar de serviços e processos abre possibilidades diversas para a atuação do profissional bibliotecário, além dos locais clássicos em que estamos habituados a associar a atividade desse profissional. E entre esses novos campos de atuação, outros nomes surgem para definir o bibliotecário, de acordo com o enfoque de trabalho e o local de atuação deste. 35 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Podemos considerar algumas definições para Biblioteca: • Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizados para estudo, leitura e consulta. • Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. • Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam livros. • Processamento de Dados. • Coleção ordenada de modelos ou de rotinas ou sub-rotinas por meio da qual se pode resolver os problemas e suas partes. O bibliotecário avalia o material a ser adquirido por sua instituição como peças isoladas. Os documentos são unidos pelo seu conteúdo e caracterizados, em sua maior parte, como impressos. A biblioteca é órgão colecionador, e o seu público é formado pelo pesquisador, estudantes e o cidadão comum, possuindo, portanto, um maior número de usuários, com os mais tipos de Biblioteca. 4.2 TIPOS DE BIBLIOTECA Segundo Oliveira (2005), as bibliotecas se dividem segundo sua finalidade em: nacionais; públicas; universitárias; especializadas, infantis, escolares, comunitárias e digitais. Vejamos alguns detalhes desses tipos de biblioteca a seguir. 4.2.1 Nacionais As Bibliotecas Nacionais possuem, em sua gênese, o sinônimo de preservação documental de um país. A instituição apresenta o princípio de preservar a memória documental da cultura do país. FIGURA 12 – BIBLIOTECA NACIONAL BRASIL FONTE: <https://www.bn.gov.br>. Acesso em: 20 jul. 2020. 36 Biblioteconomia, legislação e normas A Biblioteca Nacional do Brasil está localizada no Rio de Janeiro. Para se aprofundar na história da criação e desenvolvimento da Biblioteca Nacional, recomenda-se a leitura da sessão Histórico, localizada no site da própria Fundação Biblioteca Nacional (FBN). A Biblioteca Nacional é o órgão responsável pela execução da política governamental de captação, guarda, preservação e difusão da produção intelectual do País. A Biblioteca Nacional é responsável pelo Controle Bibliográfico Universal, formando um grande catálogo nacional de toda a produção intelectual da nação. Sugestão de leitura para os acadêmicos: Bibliotecas Nacionais: Memória, História, Conceitos. Acesse: http://www.ufpb.br/evento/index.php/ enancib2015/enancib2015/paper/viewFile/2646/1221. O Controle Bibliográfico Universal é possível por meio de Depósito Legal, “definido como a obrigação do envio de exemplares das obras publicadas em um país para uma instituição depositária, as instruções sobre depósito legal, existem não só no Brasil, mas em diversos outros países [...]” (GRINGS; PACHECO, 2010, p. 77). Tanto o Controle Bibliográfico Legal quanto o Depósito Legal formal são os objetivos da própria existência da Biblioteca Nacional. Fique sabendo: As bibliotecas nacionais fazem o que é chamado de “Depósito Legal” O Depósito Legal é definido pelo envio de um exemplar de todas as publicações produzidas em território nacional, por qualquer meio ou processo, segundo as Leis n. 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Tem como objetivo assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional. Nele estão inclusas obras de natureza bibliográfica e musical. Para assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional, foi estabelecido o dispositivo de Depósito Legal, incluindo obras de natureza bibliográfica e musical. 37 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 O Depósito Legal é definido pelo envio obrigatório de no mínimo um exemplar de todas as publicações produzidas em território nacional, por qualquer meio ou processo, para distribuição gratuita ou venda, no prazo máximo de 30 dias após sua publicação. O cumprimento de leis de Depósito Legal Estadual não isenta a obrigatoriedade do Depósito Legal Federal através do envio das publicações para a Biblioteca Nacional por meio dos Correios ou da entrega direta no edifício Sede. As remessas deverão ser acompanhadas de carta ou documento similar contendo lista dos títulos e os dados do depositante (nome, endereço completo, telefones e e-mails) para emissão de recibo. Não é necessário efetuar o pagamento de taxas específicas para a Biblioteca Nacional para fins de depósito legal nem preencher formulários. Duas leis regem o Depósito Legal, dependendo do tipo de obra: Lei nº 10.994, de 14/12/2004, para as obras de natureza bibliográfica; Lei nº12.192, de 14/01/2010, para as obras de natureza musical – partituras, fonogramas e videogramas musicais. O depósito deverá ser efetuado pela pessoa física ou jurídica responsável pela impressão, cabendo ao seu editor e ao autor verificar a efetivação dessa medida. Já no caso de obras musicais, essa verificação cabe à editora, ao produtor fonográfico e ao produtor videográfico. O cumprimento das leis de Depósito Legal Estadual não isenta a obrigatoriedade do envio das publicações para a Biblioteca Nacional, em cumprimento da Lei de Depósito Legal Federal. O que deve ser enviado para o Depósito Legal: Livros Periódicos Partituras Fonogramas Videogramas O que não deve ser enviado para o Depósito Legal: Publicações com fins publicitários Cartazes de material de propaganda Publicações em xerox do original publicado Reimpressões de obras com o mesmo ISBN 38 Biblioteconomia, legislação e normas Calendários/ Cadernetas escolares Agendas Recortes de jornais Obras não editadas (no prelo) Provas de impressão ou ‘bonecas’ Folders/ Convites Monografias/ Teses universitárias (sua guarda e tratamento são de competência das respectivas universidades de origem). FONTE: Biblioteca Nacional. Disponível em: https://www.bn.gov. br/sobre-bn/deposito-legal. Acesso em: 20 jul. 2020. 4.2.2 Bibliotecas Públicas A biblioteca pública tem por consenso ser um espaço que proporcione igualdade de acesso para todos os cidadãos, não fazendo restrição ou diferenciação de idade, raça, sexo, gênero, crença, status social etc., tendo como forte característica a disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento (não se dedicando aos conhecimentos científicos, por exemplo, como nas bibliotecas universitárias). Diante desse quadro, podemosdizer que a biblioteca pública é a unidade de informação mais democrática no que tange a sua razão de existir, ou seja, toda a sociedade. A biblioteca pública deve ser compreendida como “um ambiente realmente público, de convivência agradável, onde as pessoas possam se encontrar para conversar, trocar ideias, discutir problemas, autoinstruir-se e participar de atividades culturais e de lazer” (BIBLIOTECA PÚBLICA..., 2000, p. 17), ou pelo menos assim deveria se constituir. O Manifesto da IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Públicas (1994, p. 1), a define como “o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros”. O conceito é amplo e visa agregar sob um mesmo prisma, todas as unidades de informação de caráter pública (em suas funções e não necessariamente em relação a sua instituição mantenedora). 39 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Conheça o Manifesto da IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Públicas (1994). Acesse https://www.ifla.org/files/assets/public- libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.pdf. Andrade e Magalhães, em seu clássico texto de 1979, expõem o que para as autoras seriam as funções das bibliotecas públicas: • Função de apoio à educação em suas diferentes origens, formal e não formal. • Função informativa, de acesso à informação e ao conhecimento. • Função cultural, de reconhecimento, fortalecimento e preservação das identidades e culturas locais. • Função recreativa, proporcionando lazer à comunidade frequentadora da biblioteca. Como exemplo, sugerimos que você navegue no site da Biblioteca Pública de SC: FIGURA 13 – BIBLIOTECA PÚBLICA DE SC FONTE: <http://www.cultura.sc.gov.br/espacos/biblioteca>. Acesso em: 20 jul. 2020. 40 Biblioteconomia, legislação e normas 4.2.3 Bibliotecas Universitárias Para Cunha (2010, p. 22), as bibliotecas universitárias são “organizações complexas, com múltiplas funções e uma série de procedimentos, produtos e serviços que foram desenvolvidos ao longo de décadas”. Sendo assim, a definição exata de biblioteca universitária é sempre um desafio, pois cada unidade é diferente uma da outra, sendo moldada conforme as características da instituição a qual está subordinada. Em uma definição tradicional, Cunha e Cavalcanti (2008, p. 32) consideram que as bibliotecas universitárias “são aquelas mantidas por instituições de ensino superior e se caracterizam por assumir a responsabilidade de oferecer suporte informacional a toda comunidade acadêmica da instituição, entendida como o corpo docente, discente e pessoal técnico-administrativo”. Machado (2009, p. 21) aponta a importância e os significados da biblioteca universitária, a qual pode: [...] ser entendida como a instância que possibilita à universidade atender às necessidades de um grupo social ou da sociedade em geral, através da administração do seu patrimônio informacional e do exercício de uma função educativa, ao orientar os usuários na utilização da informação. É um ambiente de fundamental importância, pois gera conhecimento e produção científica na comunidade acadêmica em que está inserida, bem como contribui para o desenvolvimento intelectual da sociedade à qual ela pertence. Machado e Blattmann (2011, p. 10-11) consideram que a biblioteca universitária “serve de apoio ao ensino, pesquisa e extensão, através da prestação de serviços aos alunos de graduação, pós-graduação, professores e funcionários da instituição na qual está inserida, bem como promove a cooperação e o intercâmbio de ideias e conhecimentos científicos com outras bibliotecas e a sociedade em geral”. Apresenta um acervo selecionado e atualizado sobre diversas áreas do conhecimento, compatíveis com os programas de ensino, pesquisa e extensão. As autoras complementam afirmando que é competência das bibliotecas universitárias “prover o acesso da comunidade acadêmica aos recursos de informação relevantes, de modo a subsidiá-la no desenvolvimento de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão” (MACHADO; BLATTMANN, 2011, p. 11). Além da disseminação da informação entre os membros da comunidade acadêmica e em geral, as autoras apontam que as bibliotecas universitárias possuem relevante papel no intercâmbio de conhecimento científico com outras bibliotecas e instituições. Machado e Blattmann (2011) também apontam alguns produtos e serviços das bibliotecas universitárias, em virtude de seu acervo e comunidade de usuários 41 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 que é bem específica, docentes e discentes envoltos no fazer ciência. Os produtos e serviços descritos se assemelham aos de todas as bibliotecas, porém com características específicas, a saber: • Consulta local: item básico de qualquer biblioteca, independentemente de sua tipologia. • Pesquisas em bases de dados e Internet: as bases de dados precisam ser específicas nas áreas de interesse da instituição e atualizadas, contribuindo com as pesquisas desenvolvidas pela comunidade universitária. Há a necessidade de ter-se acessos a bases nacionais e internacionais, de grande conhecimento e qualidade comprovada. • Empréstimo em domicílio: compreendendo quantitativo de itens relevantes com a comunidade, ou seja, liberar um item por vez não basta para estudantes universitários e pós-graduandos, por exemplo. Serviço de suma importância nas bibliotecas universitárias visando ao aprofundamento das temáticas estudadas e pesquisadas pelos usuários. • Levantamento bibliográfico: produto fundamental, que quando devidamente divulgado, se torna essencial para estudantes que estão finalizando seus cursos, bem como para docentes e pesquisadores que precisam conhecer de forma aprofundada a produção científica de um determinado campo/área do conhecimento. • Orientação quanto às normas da ABNT (e outras normas): as orientações podem ser realizadas em cursos e treinamentos, bem como no atendimento especializado do serviço de referência. • Empréstimo entre bibliotecas: serviço de grande relevância para instituições que possuem diferentes campi, seja em uma mesma cidade ou em cidades diferentes, contribuindo para atender às necessidades dos usuários com itens que não constam em uma determinada biblioteca da rede. • Treinamentos: quanto ao uso da biblioteca, normas, catálogo, localização de materiais no acervo etc., bem como para as normas na ABNT, Vancouver e APA; Educação de usuários; item por vezes negligenciado pelas bibliotecas, mas que em um futuro economizará tempo e recursos humanos, tornando os usuários mais autônomos e independentes para utilizarem a biblioteca e tudo o que ela oferece. • Divulgação de eventos: não somente os elaborados pela biblioteca, mas também os eventos da instituição e de suas áreas de interesse da comunidade. • Divulgação da própria biblioteca/marketing: muitas vezes, os usuários não utilizam a biblioteca ou seus produtos e serviços justamente por não os conhecer, é fundamental mostrar aos usuários, 42 Biblioteconomia, legislação e normas e isso não somente nas bibliotecas universitárias. Parte significativa dos usuários trabalham durante o dia e frequentam a instituição somente à noite para estudarem, e até mesmo por falta de tempo e oportunidade, acabam não conhecendo a biblioteca e como ela pode os ajudar durante o curso. Como exemplo, sugerimos que você conheça o sistema de Bibliotecas da UFMG: FIGURA 14 – SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG FONTE: <https://cerrado.bu.ufmg.br/bu/>. Acesso em: 20 jul. 2020. 4.2.4 Bibliotecas Especializadas As bibliotecas especializadas surgem no avanço e especialização das ciências, cujos pesquisadores se aperfeiçoavam de forma aprofundada em seus estudos em áreas cada vez mais detalhadas e foram realizando novas descobertas, consequentemente, necessitando consultar obrascom conteúdos específicos de suas respectivas áreas do saber. Diante desse contexto, as bibliotecas universitárias passaram a não dar conta dessa nova demanda de conhecimento, pois geralmente atuam com todas (ou quase todas) as áreas do conhecimento (no caso, as áreas abrangidas pela instituição a qual pertence), e de certo modo, uma certa generalização diante das novas necessidades. 43 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Os pesquisadores demandavam acervos focados em suas áreas de estudos para aperfeiçoarem suas pesquisas, surgindo então, as bibliotecas especializadas, cujos acervos não costumam ser volumosos como os de outras unidades de informação, justamente para propiciarem um ambiente de acolhida e simplificação do trabalho de seus usuários, focando nas temáticas de real interesse de sua comunidade de usuários. As bibliotecas especializadas se caracterizam por manterem seus acervos dedicados a uma área do conhecimento, abrangendo assuntos específicos de interesse de sua comunidade de usuários. Geralmente, os usuários são pesquisadores especialistas no assunto e que frequentam a unidade para se atualizarem e fomentarem seus estudos. Litton (1974) aponta cinco características das bibliotecas especializadas que as diferenciam de outras bibliotecas, que são: • Limitam-se a um só assunto no geral e as suas ramificações. • Diferenciam-se quanto aos lugares em que são instaladas, como bancos, hospitais, indústrias, empresas etc. • Quanto aos usuários que atendem, pois são pessoas com um bom conhecimento sobre o campo do saber representado no acervo da biblioteca. • O seu tamanho também é elemento de diferenciação, geralmente costumam ser pequenas se comparadas às bibliotecas universitárias em geral. • Devem fornecer informações precisas, confiáveis e de forma rápida aos seus usuários, que justamente pela suas formações acadêmicas e atividades profissionais, não costumam ter muito tempo e paciência na espera pela informação certa. Como exemplo, sugerimos que você conheça o sistema de Bibliotecas da UFMG: 44 Biblioteconomia, legislação e normas FIGURA 15 – BIBLIOTECA ESPECIALIZADA EM SAÚDE FONTE: <http://brasil.bvs.br/>. Acesso em: 20 jul. 2020. 4.2.5 Bibliotecas Escolares A biblioteca escolar é entendida como espaço de aprendizagem e tem por objetivo fomentar a leitura, possibilitar o acesso, promover situação de contato com a leitura a todos os educandos, tornando uma alternativa de inclusão social. De acordo com Andrade (2005), todos os recursos devem ser mobilizados, a fim de que as crianças e os jovens tenham acesso ao conhecimento, que possibilitará a inserção social e a realização humana. Para Andrade (2005), a biblioteca, por ser uma instituição milenar e que durante séculos garantiu a sobrevivência dos registros do conhecimento humano, apresenta na atualidade seu potencial reconhecido como espaço de mediação do processo de formação de leitores e integrante fundamental no processo educacional. Sabemos que as bibliotecas têm a função que ultrapassa a ação de arquivamento, pois contribui de modo efetivo na formação leitora de crianças e jovens, em que a informação e conhecimento assumem destaque central. Para Pimentel (2007, p. 22), as bibliotecas podem ser classificas como: escolar, especializada, infantil, pública e nacional. A autora apresenta algumas características de como deve ser o espaço da biblioteca escolar, o que nem sempre é concebido na execução do projeto. Por isso, muitas vezes, elas funcionam em espaços inadequados. Desta forma, necessita-se de soluções criativas para torná- la um ambiente adequado, ou ao menos razoável, para atender ao público: “O 45 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 ideal é que as instalações da biblioteca fossem abrigadas em um prédio próprio, projetado para esse fim, em local de pouco barulho e de fácil acesso às pessoas” (PIMENTEL, 2007, p. 32). A biblioteca escolar, como laboratório de autoaprendizagem, oferece aos seus usuários diversos materiais bibliográficos (bem como não bibliográficos) e propicia aos estudantes conhecer várias informações diversificadas que contribuem para o processo de aprendizagem, de alfabetização, de ampliação da atividade de leitura, da formação de leitores autônomos. Assim, promove o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos alunos. De acordo com Pimentel, Bernardes e Costa (2007), o espaço da biblioteca escolar deve ser concebido como um espaço dinâmico e indispensável na formação do cidadão. Ela abrirá, no ensino básico, os caminhos que despertam nos alunos a curiosidade, o senso crítico e os tornarão cidadãos plenos. Diante disso, o espaço da biblioteca escolar não deve se resumir a lugar de realização de atividades pedagógicas configuradas como aula, servindo de espaço de punição a tarefas não realizadas ou limitação à realização de pesquisas. Torna- se importante pensar na biblioteca escolar como “[…] um espaço perfeito para que todos nela atuam possam utilizá-la como uma fonte de experiência, exercício da cidadania e formação para toda a vida” (PIMENTEL; BERNARDES; COSTA, 2007, p. 25). Os autores compreendem que a biblioteca escolar faz a junção entre salas de aula e o currículo escolar e está intrinsecamente ligada ao processo de ensino- aprendizagem que, além de promover a leitura e uma gama de informações, propiciará ações para atender à comunidade, o que permite construir elos propícios para a formação cidadã. O fato de as bibliotecas estarem localizadas em escolas e serem organizadas para integrarem-se com as atividades de sala de aula e no desenvolvimento do currículo escolar, de modo que “[…] funciona como um centro de recursos educativos, integrado ao processo de ensino-aprendizagem, tendo como objetivo primordial desenvolver e fomentar a leitura e a informação […]” (PIMENTEL; BERNARDES; COSTA, 2007, p. 23). Assim, a definição de biblioteca escolar parece atrelada à função que ocupa no espaço da instituição escolar. De modo que sua função, segundo Pimentel (2007), é a de contribuir para o desenvolvimento curricular e ampliar a visão de mundo de seus usuários, tornando os cidadãos responsáveis e contribuindo, assim, para a formação integral dos sujeitos. Tendo em vista que nem sempre leitura e biblioteca escolar são valores definidos como prioritários, o papel das bibliotecas deverá ser revisto pelo sistema de ensino e pelas escolas, transformando-as em um espaço de convivência, 46 Biblioteconomia, legislação e normas de debate, de reflexão e de fomento à leitura. A agenda escolar e o projeto político-pedagógico da escola, tomando a leitura e biblioteca como uma de suas prioridades, podem contribuir para alterar e definir novos objetivos para a educação (BERENBLUM; PAIVA, 2006, p. 33). Neste sentido, a compreensão de biblioteca escolar como “[…] um espaço de convivência, de debate, de reflexão e de fomento à leitura”, conforme sinaliza Berenblum e Paiva (2006, p. 33), é fundamental para abrir a discussão sobre a biblioteca escolar e as atuações em práticas educativas. Daí um passo importante seria contemplá-la como prioridade no Projeto Político-Pedagógico, a fim de que todos que integram a instituição escolar, se certifiquem de sua função, compreendendo o que ela é, de fato, e não minimizada a um depósito de livros. Entenda melhor o papel da biblioteca escolar acessando o manifesto da IFLA. Disponível em: https://www.ifla.org/files/assets/ school-libraries-resource-centers/publications/school-library- manifesto-pt-brazil.pdf. Conheça também uma importante lei para o fomento das bibliotecas escolares no Brasil: LEI Nº 12.244, DE 24 DE MAIO DE 2010 Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art.1º As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei. 47 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se biblioteca escolar a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura. Parágrafo único. Será obrigatório um acervo de livros na biblioteca de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado, cabendo ao respectivo sistema de ensino determinar a ampliação deste acervo conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento das bibliotecas escolares. Art. 3º Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nºs 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de maio de 2010; 189º da Independência e 122º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad Carlos Lupi Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de 25/05/2010 FONTE: Publicação: Diário Oficial da União - Seção 1 - 25/5/2010, Página 3 (Publicação Original). Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/ lei/2010/lei-12244-24-maio-2010-606412-publicacaooriginal-127238-pl.html. Acesso em: 20 jul. 2020. 4.2.6 Bibliotecas Infantis As bibliotecas infantis possuem caráter de entretenimento, propiciando o gosto pela leitura de recreação e não necessariamente caráter educativo formal, que seria o papel das bibliotecas escolares de um modo geral. As bibliotecas infantis se caracterizam pelo encantamento propiciado pelo mundo mágico do descobrir ludicamente o mundo, sem a pressão imposta do aprender para progredir de ano/ turma. Por biblioteca infantil, pode-se compreender uma unidade de informação específica, ou seja, possuir prédio, acervo e recursos financeiros, humanos e materiais próprios, ou também, como um setor dentro de uma biblioteca pública, 48 Biblioteconomia, legislação e normas por exemplo, como se fosse uma biblioteca dentro de uma biblioteca, atendendo exclusivamente ao público infantil. Como objetivos das bibliotecas infantis, Litton (1974) menciona: • Formar uma coleção ampla e variada de livros e outros materiais apropriados para as crianças, sendo os mesmos acessíveis e de fácil uso. • Orientar os pequenos usuários na seleção de materiais de leitura que possam satisfazer as suas necessidades recreativas e escolares. • Fomentar, divulgar e compartilhar com os usuários, o incentivo e o gosto pela leitura. • Propiciar a aquisição cultural por meio da leitura. • Estimular o convívio social. As bibliotecas infantis têm como objetivo central “familiarizar as crianças com os diversos materiais que poderão enriquecer suas horas de lazer. Visa despertá- las para os livros e a leitura, desenvolvendo sua capacidade de expressar-se” diante do mundo, de sua comunidade e de si mesmo (MELO; NEVES, 2005, p. 3). Vejamos dois exemplos de bibliotecas infantis: FIGURA 16 – BIBLIOTECA INFANTIL MULTILINGUE FONTE: <http://bibliotecainfantil.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2020. FIGURA 17 – BIBLIOTECA VIRTUAL INFANTIL FONTE: <http://www.ufjf.br/bibliotecavirtualinfantil/>. Acesso em: 20 jul. 2020. 49 O Contexto Da BiblioteconomiaO Contexto Da Biblioteconomia Capítulo 1 4.2.7 Bibliotecas Especiais As bibliotecas especiais se destinam a públicos específicos e “apresentam coleções que tratam sobre temas diversos e possuem vida própria, no sentido de que não se constituem em atividades de extensão da biblioteca pública, as quais pretendem oferecer material de leitura para grupos especiais de pessoas” (TARGINO, 1984, p. 45). É o caso de bibliotecas com acervo em libras para deficientes visuais, cujo acervo é formado por conteúdos diversos, considerando que os interesses da comunidade de usuários podem e devem ser múltiplos. As bibliotecas especiais, portanto, se caracterizam pelo público a que se destina (em maior grau) e pelo acervo que armazenam (em menor grau), cuja finalidade é proporcionar atendimento educacional e cultural a sua comunidade. Atenta-se para a diferenciação dos termos biblioteca especial e biblioteca especializada. Enquanto a primeira se destina a atender a um público com deficiências, as bibliotecas especializadas se caracterizam por concentrar o seu acervo em uma área do conhecimento em específico, conforme estudamos na disciplina. Alguns pontos precisam ser levados em consideração em bibliotecas especiais, tais como: • Projeto arquitetônico. • Mobiliário adaptado, quando for o caso. • Acervo com características especiais, quando for o caso. • Equipamentos que possibilitem a leitura dos materiais. • Entorno da biblioteca, como calçadas, rampas e degraus. • Sinalização completa e diferenciada, quando for o caso. • Iluminação do ambiente, dentre outras. Todas essas questões recaem sobre a acessibilidade da biblioteca, as quais foram trabalhadas no que diz respeito ao planejamento e organização de bibliotecas. De acordo com a Lei nº 13.146 de 6 de junho de 2015, que estabelece o Estatuto da Pessoa com Deficiência, é dever do Estado, das sociedades e da família assegurar à pessoa com deficiência a efetivação dos seguintes direitos referentes: [...] à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 2015, s.p.). 50 Biblioteconomia, legislação e normas Considera-se muito importante para os bibliotecários que atuam ou forem atuar em bibliotecas especiais, bem como para aqueles que atuarem em diferentes unidades de informação, que realizem formação continuada em diferentes níveis e cursos, tais como Libras e Braille. Atender satisfatoriamente ao seu público deve ser missão de todos bibliotecários, independentemente do espaço onde desenvolva suas atividades profissionais. Quando o próprio bibliotecário não possuir tais conhecimentos, é importante que tenha algum membro da equipe com formação para atuar com usuários cegos e surdos, por exemplo. O acervo de bibliotecas especiais, além de possuir materiais específicos, como em Braille e áudiobooks, deve manter presente tecnologias assistivas (como estudado), as bibliotecas digitais e virtuais podem compor e enriquecer o acervo de qualquer biblioteca convencional. O Estatuto da Pessoa com Deficiência assegura o “acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis”, ou seja, as tecnologias assistivas, imprescindíveis às bibliotecas não só especiais, mas a todas, que poderão atender ou já atendem às pessoas com deficiências. Tem-se por tecnologias assistivas como sendo os “recursos e serviços que visam facilitar o desenvolvimento de atividades da vida diária por pessoas com deficiência. Procuram aumentar capacidades funcionais e assim promover a autonomia e a independência de quem as utiliza” (MELO; COSTA; SOARES, 2006, p. 62). Os autores complementam afirmando que: Existem tecnologias assistivas para auxiliar na locomoção, no acesso à informação
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