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- -1 PROJETO INTEGRADOR: TEMAS TRANSVERSAIS EM DIREITO CAPÍTULO 4 - COMO AGIR NO PRESENTE PARA GARANTIR A TODOS UM FUTURO MELHOR? Maíra Souto Maior Kerstenetzky - -2 Introdução A humanidade, ao longo de sua existência, passou por diversos estágios evolutivos. Com essa evolução, percebemos que os recursos sociais e naturais não são inesgotáveis, verificando-se a necessidade de preservá- los. Na maior na maior parte das vezes, a ideia de evolução da humanidade está associada à evolução industrial e digital, em que cada vez mais os seres humanos distanciam-se um dos outros e, ao mesmo tempo, exploram a natureza sem pensar em sua conservação. Por outro lado, algumas pessoas, entendendo que os recursos naturais e sociais podem se extinguir, preocupam-se com a vida presente e futura no planeta e procuram soluções que conectem a preservação da natureza e as atividades humanas. Assim, chegamos ao conceito de sustentabilidade. Contudo, a concepção de sustentabilidade não pode ser reduzida à ideia atrelada à preservação do meio ambiente. A sustentabilidade associa-se também às atividades humanas que se prolongam no tempo, transcendendo as gerações. Junto com a sustentabilidade, surgem as concepções de responsabilidade social, econômica e ambiental. Dessa maneira, podemos indagar: Qual é o conceito de sustentabilidade? Quais são os benefícios de adotarmos ações sustentáveis? Quando e onde o conceito de sustentabilidade começou a ser empregado? Acompanhe o conteúdo com atenção para conseguir responder a essas questões. Bons estudos! 4.1 O tripé da sustentabilidade Os impactos sofridos pela natureza em todo o planeta originaram-se na explosão demográfica e agravaram-se devido à falta de conscientização e educação ambiental. Por isso, não se pode pensar sustentabilidade apenas na esfera do meio ambiente. A sustentabilidade deve ser pensada também no âmbito social e econômico. Isso significa dizer que as três esferas do desenvolvimento sustentável, devem ser analisadas conjuntamente. Você sabe quais são estas esferas? Clique nos itens para conhecê-las. • Meio ambiente • Economia • Sociedade Assim, para a construção de uma consciência ecológica, é necessário que sejam solucionados outros problemas que estão intimamente ligados ao meio ambiente e não apenas aqueles atrelados à fauna e a flora. Dessa maneira, discutiremos a sustentabilidade e tudo o que ela representa para a área socioeconômica que, direta ou indiretamente, influenciam no ambiente que vivemos e desenvolvemos nossas atividades. 4.1.1 Conceito de sustentabilidade Inicialmente, o conceito de sustentabilidade começou a ser empregado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo, em 1972, resultando no documento denominado “Nosso Futuro Comum”. Podemos dizer que sustentabilidade é uma característica ou uma condição de um processo ou de um sistema que possibilita a sua permanência. Assim, para que o ser humano continue a existir, deverá preservar o meio ambiente à sua volta, não comprometendo os recursos naturais e, possibilitando conservação para as gerações futuras (SILVA, 2010). Além disso, a sustentabilidade pode ser definida como “um meio de vida ou uma forma de viver que, devido à sua • • • - -3 para as gerações futuras (SILVA, 2010). Além disso, a sustentabilidade pode ser definida como “um meio de vida ou uma forma de viver que, devido à sua complexidade, não permite uma descrição por completo. Trata-se de um modo de pensar e de agir para as pessoas, sociedades e comunidades do presente e do futuro” (SILVA, 2010, p. 37). Figura 1 - A sustentabilidade é difícil de ser definida, pois envolve diversas relações do ser humano com o meio à sua volta. Fonte: SILVA, 2010, p. 38. Considerando todas as relações humanas que se desenvolvem no meio social e tudo que decorre delas, podemos afirmar que a sustentabilidade, como maneira de preservar o mundo para as gerações futuras, “compatibiliza, no tempo e ao longo dele, e também no espaço, o crescimento e a eficiência econômica, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e com a solidariedade entre gerações” (BUARQUE, 1999 apud SILVA, 2010, p. 41). Figura 2 - A sustentabilidade é pensada como juma forma de preservar o planeta (nas esferas econômica, social e ambiental) para as gerações futuras. Fonte: Romolo Tavani, Shutterstock, 2019. - -4 Fonte: Romolo Tavani, Shutterstock, 2019. Nessa ótica, é importante perceber que os seres humanos, junto com o meio ambiente, evoluem de acordo com o tempo, a história e o espaço em que se encontram. É quase uma relação dialógica, à medida que tanto a humanidade muda de acordo com o espaço-tempo que vive, quanto o espaço também poderá ser alterado de acordo com o indivíduo que nele habita. E, assim, faz-se necessária a preservação do meio para que seja possível uma vida harmônica e saudável nos seus mais diversos aspectos. Diante dos diversos conceitos apresentados, podemos afirmar que a sustentabilidade é composta por três pilares: , e . É o que veremos detalhadamente a seguir.social econômico ambiental 4.1.2 Conexão entre sociedade, economia e meio ambiente Hoje, o conceito de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável mais utilizado é o de Gisbert Glaser (MARIOTTI, 2013). Ele afirma que desenvolvimento sustentável “é ‘um alvo móvel’ e corresponde ao esforço constante para equilibrar e integrar três pilares: ‘bem-estar social, prosperidade econômica e proteção ambiental’” (MARIOTTI, 2013, p. 61). Mais detalhadamente, [...] o ambiente refere-se aos processos de sustentação da vida (sistemas) da terra e seus recursos naturais. A economia inclui aspectos como a oferta de trabalho, renda e riqueza individual e coletiva resultantes da atividade econômica. Saúde e bem-estar social referem-se a dimensões tais como: a saúde física, psicológica, espiritual e social em geral e o bem-estar de indivíduos, famílias e comunidades (DIAS, 2015, p. 44). Na ótica empresarial e dos negócios, de acordo com Dias (2015, p. 42), John Elkington, estabeleceu que toda empresa deve ter noção do que gera e do que destrói no ambiente em que estão situadas e, nesse sentido, [...] seu argumento era de que as empresas devem se preparar para enfrentar três responsabilidade diferentes nos negócios. Uma delas é a responsabilidade tradicional do lucro corporativo, a questão de lucros e perdas. A segunda é a de uma empresa responsável socialmente preocupada com as pessoas, uma medida da forma ou do grau de responsabilidade social de como uma organização age em suas operações. A terceira é a que trata da empresa responsável com o planeta, uma medida de quão ambientalmente responsável tem sido a organização (DIAS, 2015, p. 42). Nesse sentido, o bem-estar social, como um dos pilares da sustentabilidade, pode ser visto por meio da alteridade, ou seja, do reconhecer-se no outro, mesmo que esse outro seja diferente. Isso tornaria as relações sociais mais harmoniosas, diminuindo as causas de conflitos, a auto e a heterodestruição da humanidade. Um exemplo são as guerras, nas quais ocorrem diversas mortes e situações capazes de gerar transtornos mentais e comportamentais que causam quadros depressivos e suicídios. Tais acontecimentos costumam dizimar parcelas da população. - -5 Figura 3 - As três dimensões da sustentabilidade (econômica, social e ambiental) só se efetivam quando há participação. Fonte: DIAS, 2015, p. 45. A partir do conceito de sustentabilidade, podemos entender que quando se fala em promover o desenvolvimento econômico, é porque vivemos num modo de produção capitalista em que o consumo é o propulsor. Contudo, esse consumo não deve ser desenfreado. Na esfera econômica, a sustentabilidade representa uma melhor distribuição de renda. Isso possibilita um aumento do poder aquisitivo da população, elevando-se o poder de compra e melhorando-se o padrão e a qualidade de vida das pessoas. Com isso,alcança-se a consciência ecológica, ou seja, a conservação dos recursos naturais. - -6 Figura 4 - As decisões tomadas hoje por uma pessoa ou grupo de pessoas impactam no futuro das novas gerações. Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2019. Por fim, na esfera ambiental, a sustentabilidade se traduz em um ambiente “em que os recursos da Terra são capazes de sustentar a vida dos ecossistemas, a saúde e o progresso aceitável de forma renovável” (DIAS, 2015, p. 45). 4.2 Responsabilidade socioeconômica No art. 170 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), a responsabilidade socioeconômica é prevista nos seguintes termos: “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”. Aqui, devem ser observados alguns princípios. Clique na interação a seguir para saber quais são eles. Função social da propriedade. Livre concorrência. Defesa do consumidor. Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Redução das desigualdades regionais e sociais. Busca do pleno emprego. Saiba mais sobre a responsabilidade social a seguir. 4.2.1 Responsabilidade social Entre os meios de alcance da sustentabilidade, destacamos algumas revelações do comportamento das pessoas e das organizações, como a responsabilidade social e as políticas públicas. Esses esforços possuem um único fim e merecem atenção para que seja verificado se estão contribuindo ou não para a sustentabilidade (SILVA, 2010, p. - -7 merecem atenção para que seja verificado se estão contribuindo ou não para a sustentabilidade (SILVA, 2010, p. 36). Podemos verificar que a responsabilidade social se mostra fundamental para o desenvolvimento da sociedade, uma vez que por meio dela é possível desenvolver a ética, o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da comunidade humana, gerando-se, assim, um crescimento econômico saudável para todos. Dessa maneira, [...] o sentido de responsabilidade social descreve como as pessoas sentem que têm uma responsabilidade compartilhada em relação a determinados problemas econômicos, sociais e ambientais, e sua disposição em participar na resposta coletiva que deve ser dada para solucioná-los (DIAS, 2015, p. 62). Assim, a responsabilidade social das empresas e demais organizações ganha cada vez mais adeptos, seja por obrigações advindas da legislação ou por pressão social e midiática. Contudo, é importante compreender que a prática da responsabilidade social vai além da simples tarefa de cuidar do meio ambiente. Para uma atividade empresarial ser considerada socialmente responsável, ela deverá diminuir a exclusão social, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, ou seja, deverá ir além da obrigação de respeitar a legislação. 4.2.2 Responsabilidade econômica Considerando o desequilíbrio ecológico, as crises financeiras e as enormes desigualdades sociais, a sustentabilidade é vista como uma solução à crise ambiental, econômica e social pela qual passa a humanidade. Assim, o pensamento sustentável, lentamente, tem sido incutido na vida das pessoas, da sociedade e do Estado. Silva (2010, p. 80) afirma que “a inobservância de padrões mínimos de racionalidade na gestão do Estado nas últimas décadas, principalmente nos países em desenvolvimento, é uma das principais responsáveis pela atual crise econômica e financeira, na qual muitos deles se encontram”. Contudo, essa situação tende a se transformar, uma vez que a sociedade e o Estado estão em constante mudança e crescimento. Dessa forma, diversos setores produtivos iniciaram sua reestruturação com base na concepção sustentável, integrando as questões econômicas, sociais e ambientais. Assim, as empresas continuariam com seu principal objetivo, qual seja a obtenção do maior lucro possível, sem, contudo, deixar de promover a conservação do meio ambiente para as gerações presentes e futuras. Não há como evitar o desenvolvimento econômico. No entanto, cabe às empresas deixarem de gerar tão somente o lucro relativo às questões econômicas, mas alinharem-no às dimensões sociais e ambientais. Isso faz com que elas permaneçam e sobrevivam ao mercado, no qual há cada vez mais concorrência, bem como contribuam com VOCÊ SABIA? Os Livros Verdes são documentos publicados pela Comissão Europeia e destinados a promover uma reflexão sobre um assunto específico, convidando as partes interessadas a participar de um processo de consulta e debate com base nas propostas que apresentam. Em 2001, a responsabilidade social foi definida no Livro Verde como um conceito pelo qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo (UNIÃO EUROPEIA, 2001). Confira: <https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?qid=1550087943571&uri=CELEX: >.52001DC0366 - -8 o lucro relativo às questões econômicas, mas alinharem-no às dimensões sociais e ambientais. Isso faz com que elas permaneçam e sobrevivam ao mercado, no qual há cada vez mais concorrência, bem como contribuam com a sociedade e com a preservação do meio ambiente. Inclusive, o art. 170 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) dispõe sobre a necessidade de se valorizar a livre iniciativa e o trabalho humano, a fim de assegurar aos empresários, trabalhadores e clientes condições financeiras para viver com dignidade. Entendemos, assim, que a lei fundamental brasileira previu expressamente a sustentabilidade econômica das empresas (BRASIL, 1988). 4.3 Responsabilidade ambiental Sabemos que a sustentabilidade ambiental surgiu como uma forma de garantir que haja equilíbrio nas ações humanas em relação ao meio natural. Nesse sentido, o esforço é para se manter um ambiente ecologicamente equilibrado, capaz de assegurar uma vida digna para todas as pessoas, a fauna e a flora e, principalmente, a utilização sustentável dos recursos naturais pelas empresas. Também prevê a obediência à legislação, os impactos ambientais nas atividades das empresas, a gestão de resíduos líquidos e sólidos, tecnologias limpas, reciclagem e educação ambiental dentro das empresas. Dessa maneira, é importante perceber que a Constituição Federal (BRASIL, 1988), bem como outras legislações nacionais, estimulam a adoção da sustentabilidade ao prever a necessidade de as empresas realizarem práticas ambientalmente sustentáveis sem, contudo, excluir aspectos socioeconômicos. 4.3.1 Desenvolvimento sustentável O conceito de desenvolvimento sustentável consolidou-se na ECO-92 (Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Podemos defini-lo como “uma ideia de um mundo onde as pessoas protegem o meio ambiente ao desenvolver suas atividades do dia a dia [...]” e exige “um conhecimento mais detalhado sobre os recursos naturais, as capacidades dos ecossistemas e interações entre os sistemas sociais, econômicos, políticos e ambientais” (DIAS, 2015, p. 43). Nessa ótica, [...] existem organizações e culturas predatórias e organizações e culturas susten- táveis. A diferença é que as sustentáveis aprendem e evoluem. Aprendem por meio de suas interações com o ambiente e assim sabem que precisam preservá-lo, o que é condição fundamental para sua sustentabilidade /longevidade. As organizações predatórias destroem o meio ambiente e com isso destroem também suas possibi- lidades de sustentabilidade. A sustentabilidade é um fenômeno do mundo natural. O desenvolvimento sustentável é um fenômeno cultural. A natureza não precisa do homem para ser sustentável. Mas as práticas ditas sustentáveis precisam, pois são uma forma humana de continuar a explorar a natureza, que deveriam incluir a preocupação de até quando isso pode ser feito sem gerar prejuízos de parte a parte. (MARIOTTI, 2013, p. 100). Com isso, se pode pensar o desenvolvimento sustentável apenas pelos vieses tecnológicos efinanceiros. Devendo-se, também, pensar em outros dois fatores principais, a auto e a heterodestrutividade humana e a ideia de separação sujeito-objeto (MARIOTTI, 2013, p. 134). O desenvolvimento sustentável é o meio para a sustentabilidade e, assim, só́ é possível verificá-lo se as pessoas, as organizações e as instituições estiverem envolvidas por um objetivo que direciona seus comportamentos para a sustentabilidade. Desse modo, ele pode ser entendido como um amadurecimento. Assim como as pessoas se desenvolvem e amadurecem com relação ao conhecimento, as pessoas, as organizações e as instituições também, mas nos esforços para a sustentabilidade. Contudo, é preciso ser sustentável para alcançar a sustentabilidade (SILVA, 2010, p. 39). - -9 O desenvolvimento sustentável também “pode ser visto ainda como um processo de transformação que ocorre de forma harmoniosa nas dimensões espacial, social, ambiental, cultural e econômica, partindo do individual para o global” (SILVA, 2005 apud SILVA, 2010, p. 42). Por fim, é importante salientar que o princípio do desenvolvimento sustentável tem escopo no art. 225 da Constituição Federal, de 1988. Ainda, o conjunto de leis ambientais brasileiras estabelece esse princípio como basilar. Por exemplo, o art. 2º, II, da Lei n. 9.433/97 (Lei de Gerenciamento de Recursos Hídricos) e o art. 4º, IV, da Lei n. 9.985/2000 (Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza). 4.3.2 Responsabilidade intergeracional Inicialmente, é importante destacar que o art. 225 da Constituição Federal de 1988 prevê que “têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Analisando o referido dispositivo legal, pode-se observar que o meio ambiente foi instituído pelo Texto Constitucional como um direito fundamental de toda e qualquer pessoa. Já o art. 5º, XXXV, estabelece que é de todos os cidadãos o direito de procurar o Poder Judiciário para proteger o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado contra lesão ou ameaça. É interessante observar que ordenamento jurídico brasileiro dispõe expressamente sobre o princípio da responsabilidade intergeracional, sem deixar qualquer dúvida ou lacuna sobre o assunto, evidenciado, porém, a necessidade de políticas públicas e ações afirmativas nessa área. VOCÊ SABIA? A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 foi assim conhecida porque marcou os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. Saiba mais em: < >.http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20.html - -10 Figura 5 - A responsabilidade intergeracional diz respeito ao fato de que a sociedade deve defender e preservar o ambiente em que vive para as presentes e futuras gerações. Fonte: Dmitry Naumov, Shutterstock, 2019. A expressão “presentes e futuras gerações”, presente no Texto Constitucional (BRASIL, 1988), remete ao fato de que toda e qualquer pessoa seria titular do direito humano e fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrando. E, assim, prevê que tal direito é ao mesmo tempo de cada um, pertencente à geração presente, bem como daqueles viveram as gerações passadas e daqueles que farão parte das futuras geração. Traduzindo-se, dessa maneira, a expressão “responsabilidade intergeracional”. Figura 6 - A empresa sustentável é aquela que realiza ações nas esferas econômicas, sociais e ambientais. Fonte: Shutterstock, 2019. - -11 Logo, podemos concluir que o conceito de sustentabilidade perpassa a prática da indivisibilidade e interdependência nos âmbitos econômicos, sociais e ambientais. Além disso, chegamos à conclusão de que as responsabilidades econômicas, sociais e ambientais de todos os setores da sociedade, públicos ou privados, devem passar de geração em geração, para que seja possível preservar os recursos naturais e sociais para todos que deles necessitarem. 4.4 Prevenção, controle e punição do crime ambiental Entendendo que há a necessidade de as empresas adotarem políticas sustentáveis nas áreas sociais, econômicas e ambientais foram editadas diversas leis, normas e regras estabelecendo parâmetros de sustentabilidade a serem seguidos. Contudo, mesmo existindo todo esse arcabouço normativo, muitas empresas não o obedecem, gerando assim a degradação socioambiental, bem como crises econômicas. Logo, mesmo entendendo que o Direito Penal deve ser , ou sejam última opção, em algumasultima ratio situações, não há outra opção senão aplicá-lo. Assim, nasce a Lei n. 9.605/1998, a Lei de Crimes Ambientais para punir penalmente aquelas empresas que não seguirem padrões sustentáveis, objetivando a preservação do meio ambiente e da vida humana no planeta. 4.4.1 Licenciamento e zoneamento ambiental As normas de licenciamento e zoneamento ambiental encontram-se no art. 10 da Lei n. 6.938/81, que determina: [...] a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis (BRASIL, 1981). No mesmo sentido, o art. 2º da Resolução CONAMA n. 237/1997 (BRASIL, 1997), prevê que [...] a localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis. Assim, qualquer atividade ou empreendimento que, por qualquer motivo possa causar poluição, deverá se submeter a prévio licenciamento ambiental. - -12 A natureza jurídica do licenciamento ambiental pode ser verificada no art. 1º, I da Resolução CONAMA n. 237 (BRASIL, 1997), transcrito abaixo: Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. Por sua vez, Silva (2015, p. 254) elucida que a legislação ambiental brasileira prevê a três espécies de licenças ambientais, nos termos do art. 8º da Resolução CONAMA n. 237/1997. Clique nos itens a seguir para conhecê-las. I - Licença Prévia (LP) Concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação (BRASIL, 1997). II - Licença de Instalação (LI) Autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante (BRASIL, 1997). III - Licença de Operação (LO) Autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantesdeterminados para a operação (BRASIL, 1997). Além disso, no Brasil, vigora a Lei n. 9.985/2000, a qual institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Entre seus principais objetivos, está a conservação de variedades de espécies biológicas e dos recursos genéticos, a preservação e restauração da diversidade de ecossistemas naturais e a promoção do desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais. Outra importante lei nessa esfera é a Lei n. 6.766/1979 (Lei do Parcelamento do Solo Urbano), a qual estabelece regras para loteamentos urbanos, proibidos em áreas de preservação ecológicas, naquelas em que a poluição representa perigo à saúde e em terrenos alagadiços. VOCÊ QUER LER? A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Leia mais em: < >.http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21 - -13 Podemos concluir, portanto, que a licença ambiental é o documento por meio do qual o órgão competente determina regras, condições, restrições e medidas de controle ambiental a serem seguidas pelas empresas em geral, as quais deverão assumir compromissos para a manutenção do ambiente no qual estão instaladas. Além disso, devem assumir os riscos de eventuais degradações ambientais que possam acontecer devido às suas atividades. VOCÊ QUER LER? Chico Mendes - Crime e castigo (VETURA, 2003) reúne reportagens escritas por Zuenir Ventura a respeito do maior líder ambientalista que o Brasil já teve, assassinado em 22 de dezembro de 1988. No início de 1989, o autor havia sido enviado para realizar uma série de reportagens sobre esse assassinato. Quinze anos depois, em 2003, o autor e repórter, retornou à região para concluir a grande reportagem sobre o herói dos Povos da Floresta. - -14 4.4.2 Política ambiental Política Ambiental é um conjunto de ações que possuem o objetivo de preservar o meio ambiente e garantir o desenvolvimento sustentável do planeta, devendo ser realizada pelas empresas e pelos governos. As decisões políticas tomadas nesse sentido são lançadas para promover ações, e, também, subsidiar a criação de legislações específicas. Nesse sentido, o governo brasileiro criou a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), que “tem a finalidade de promover a responsabilidade socioambiental, a adoção de procedimentos de sustentabilidade e critérios socioambientais nas atividades do setor público” (BRASIL, 2018). Embora vise a preservação do meio ambiente, o referido programa não tem caráter obrigatório, sendo facultativa a sua aderência pelos órgãos públicos, em suas três instâncias (federal, estadual e municipal), bem como pelos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário). Na esfera privada, as empresas devem implementar as normas do ISO 14001, obtendo o certificado. Dessa maneira, foi elaborada a ABNT NBR ISO 14001 pelo Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental e pela Comissão de Estudo de Gestão Ambiental. De acordo com esse documento: “as normas de gestão ambiental têm por objetivo prover as organizações de elementos de um sistema da gestão ambiental (SGA) eficaz que possam ser integrados a outros requisitos da gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos” (ABNT, 2015). Logo, não se pretende, com tais normas, criar obstáculos ao crescimento empresarial. Clique na interação a seguir para conhecer as principais leis que regem a política ambiental no Brasil. Nesse sentido, o Brasil publicou a Lei n. 12.305/2010, a qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecendo diretrizes à gestão integrada e ao gerenciamento ambiental adequado dos resíduos sólidos. Ela propõe regras para o cumprimento de seus objetivos em amplitude nacional e interpreta a responsabilidade como compartilhada entre governo, empresas e sociedade. Além disso, estipula que todo resíduo deverá ser processado apropriadamente antes da destinação final, e que o infrator está sujeito a penas passivas, inclusive, de prisão (BRASIL, 2010). No Brasil, também vigora a Lei n. 11.445/2007, a qual estabelece a Política Nacional de Saneamento Básico e versa sobre todos os setores do saneamento (drenagem urbana, abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos) (BRASIL, 2007). Ainda, no que concerne à legislação ambiental brasileira, temos a Lei n. 6.938/1981, a qual institui a Política e o Sistema Nacional do Meio Ambiente e determina, dentre outras coisas, que o poluidor é obrigado a indenizar os danos ambientais que causar, independentemente da culpa, e que o Ministério Público pode propor ações de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, como a obrigação de recuperar e/ou indenizar prejuízos causados (BRASIL, 1981). Por fim, a Lei n. 12.187/2009 estabeleceu a Política Nacional sobre Mudança do Clima e oficializou o VOCÊ O CONHECE? Sônia Bone Guajajara, registrada civilmente como Sônia Bone de Souza Silva Santos, nasceu na terra Indígena Arariboia, no Maranhão, em 1974. Conhecida líder indígena brasileira, é formada em Letras e em Enfermagem, especialista em Educação especial pela Universidade Estadual do Maranhão. Atualmente, atua na luta pela demarcação de terras na Amazônia. - -15 Por fim, a Lei n. 12.187/2009 estabeleceu a Política Nacional sobre Mudança do Clima e oficializou o compromisso do Brasil junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima e redução de emissões de gases de efeito estufa. O objetivo era reduzir entre 36,1% e 38,9% das emissões projetadas até 2020 (BRASIL, 2009). A seguir, falaremos sobre os crimes ambientais. Vamos lá?! 4.4.3 Crimes ambientais De acordo com o art. 225 da CRFB/1988, o meio ambiente é um bem fundamental à existência humana e, como tal, deve ser assegurado e protegido para uso de todas as pessoas. O fato de ser considerado um direito humano e fundamental impõe ao Estado e à sociedade a responsabilidade pela proteção ambiental (SILVA, 2015, p. 148). A Constituição Federal de 1988 previu a responsabilização do ofensor devido ao dano ambiental nas esferas civil, administrativa e penal. Nos termos do §3° do artigo 225 do Texto Constitucional, “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente podem sujeitar os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, simultaneamente ambiental a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (SILVA, 2015, p. 156). Nessa ótica, é importante trazer o conceito legal de meio ambiente. Conforme o art. 3º, I da Lei 6.938/1981, meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. CASO Nos autos do Processo n. 2001.61.05.001829-7, que tramitou perante a 1ª. Vara Federal de Campinas, Valdir Bondini, por meio do instituto da transação penal, se comprometeu a pagar a quantia de três salários mínimos ao centro CORSINI e a promover a recuperação da área degradada por meio de um PRAD. A prestação pecuniária foi paga, todavia, depois de transcorridos quase cinco anos da homologação da transação penal. Além disso, Valdir não cumpriu integralmente a obrigação de recuperar as áreas degradadas conforme o PRAD apresentado, fato que motivou o IBAMA a ajuizar uma ação civil pública. Ao final, o Poder Judiciário entendeu pela responsabilidade civil de Valdir, que decorreu do fato dele ser o responsável pela empresa Cerâmica Bodini Ltda, causadora de impacto ambiental, bem como por ser proprietário do imóvel denominado Sítio Capotuna, sendo, portanto, cabível a condenação ao pagamento de indenização pelos danos ambientais causados, haja vista a legislação ambiental vigente e a teoria da reparação integral do dano. - -16 Figura 7 - A Lei n. 9.605/1998 indica que causar poluição de qualquer natureza em níveis que possam resultar em danos à saúde humana, mortandade deanimais ou destruição da flora, é crime ambiental. Fonte: maxim ibragimov, Shutterstock, 2019. Dessa forma, consideramos crime ambiental todo e qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente, sejam eles, flora, fauna, recursos naturais e o patrimônio histórico-cultural. Assim, a violação do bem protegido pela lei, será passível de penalização. A lei que tipifica as condutas violadoras ao direito ao meio ambiente é a Lei n. 9.605/1998 (Lei de Crimes , a qual dispõe sobre as sanções penais e administrativas advindas de condutas e atividades lesivasAmbientais) ao meio ambiente (BRASIL, 1998). Quanto à responsabilização penal das pessoas físicas, importante verificar o que enuncia o artigo 2° da Lei n. 9.605/1998. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la (BRASIL, 1998). A lei trouxe uma grande inovação no que concerne à responsabilização criminal das pessoas jurídicas que causarem danos à natureza (SILVA, 2015, p. 701). Nesse sentido, o art. 3° da Lei de Crimes Ambientais também a prevê expressamente que: [...] as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade (BRASIL, 1998). Silva (2015, p. 702) nos ensina que “para que haja responsabilização penal da pessoa jurídica, a infração deve ter sido cometida no interesse ou benefício da entidade e por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado”. - -17 Assim, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/1998), os crimes ambientais são classificados em crimes contra a fauna (arts. 29 a 37), a flora (art. 38 a 53), poluição e outros crimes ambientais (art. 54 a 61) e contra a administração ambiental (art. 66 a 69) (BRASIL, 1998). De acordo com Silva (2015, p. 704), a pena base deverá ser fixada a partir dos critérios estabelecidos pelo art. 6° da Lei n. 9.605/1998, a serem verificados pelo juiz. Saiba quais são eles clicando nos itens a seguir. Gravidade do fato: importante observar que, diferentemente do art. 59 do Código Penal (que trata dasa) consequências para a vítima), o inciso I do artigo 6° da Lei 9.605/98 determina que seja analisada a gravidade do fato para o meio ambiente e para a saúde pública (BRASIL, 1998). Antecedentes ambientais do infrator: o juiz analisará se o réu tem bons ou maus antecedentes no que seb) refere ao cumprimento das normas ambientais de uma maneira geral, e não apenas em relação às infrações previstas na lei 9.605/98. Assim, uma autuação administrativa configura maus antecedentes ambientais por descumprimento à legislação ambiental, apesar de sequer ter sido instaurada ação penal (BRASIL, 1998). Situação econômica do infrator, nos casos de pena de multa (BRASIL, 1998).c) Por fim, vemos que o rápido crescimento das cidades e, consequentemente, da urbanização e industrialização causaram problemas ambientais e socioeconômicos gravíssimos. Isso porque, por muito tempo, as atividades produtivas não observaram as práticas sustentáveis. Assim, verificamos a necessidade de desenvolver estratégias para diminuir o impacto negativo das atividades humanas sobre o meio ambiente e vice-versa. Síntese Neste capítulo, você pôde ver que o crescimento da populacional atrelado à sua produtividade, não observando padrões sustentáveis de consumo, pressiona cada vez mais o planeta, o qual, por sua vez, fica cada vez mais sem condições de sustentar as vidas humanas e os recursos naturais. Neste capítulo, você também percebeu que são inúmeros os meios utilizados para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para isso, verificamos as possíveis soluções sustentáveis para as crises nos âmbitos social, econômico e ambiental. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: • aprender o conceito de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável; • compreender o tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental; • compreender o conceito de responsabilidade intergeracional; • compreender o conceito e as espécies de crimes ambientais. VOCÊ QUER VER? Erin Brockovich (GRANT, 2000), baseado em fatos reais, é um filme que conta a história de uma mulher e mãe de três filhos que trabalha num pequeno escritório de advocacia. Quando descobre que a água de uma cidade no deserto está sendo contaminada e espalhando doenças entre seus habitantes, convence seu chefe a deixá-la investigar o suposto crime ambiental cometido por uma grande empresa. • • • • - -18 Bibliografia ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. . Sistema de gestão ambiental: requisitosISO 14.001:2015 com orientações para uso. Disponível em < >. Acessohttps://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=345116 em 06/03/2019. BRASIL. 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