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W W W . P R O J E T O R Y L E . C O M . B R 
 
3 
A Ceia do Senhor 
Capítulo extraído do livro Knots untied, de 
John Charles Ryle 
1º Bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool 
Publicado em 1877, republicado em 1900. 
 
 
 
O Sacramento da Ceia do Senhor é um assunto da religião cristã que 
exige um tratamento muito cuidadoso. Eu o abordo com reverência, temor 
e tremor. Não posso me esquecer de que estou pisando em solo muito 
delicado. Há muita coisa ligada ao assunto, que é ao mesmo tempo difícil, 
doloroso e suscita humildade. 
 
É doloroso pensar que uma ordenança estabelecida por Cristo para o 
nosso benefício tenha sido profanada pelo alarido e fumaça da polêmica 
teológica. É inegável que nenhuma outra ordenança tenha provocado 
tamanha polarização e discórdia, e tenha se tornado o motivo de contenda 
entre os teólogos polêmicos. Tamanha é a corrupção do homem caído que 
aquilo que foi “ordenado para a nossa paz” tenha se tornado “pedra de 
tropeço”. 
 
Provoca humildade lembrar que homens de opiniões opostas escre-
veram volumosos compêndios sobre a Ceia do Senhor sem produzir o 
menor efeito nas opiniões de seus adversários. Livros suficientes para 
encher carroças e mais carroças foram publicados durante os últimos três 
séculos e despejados sobre o abismo que separa os contendedores, em 
vão. Como o Pântano do Desânimo no Peregrino, ainda é um enorme 
canyon. Não levanto maior prova de que a queda de Adão tenha afetado o 
entendimento, assim como a vontade do homem, do que o atual estado 
dividido da cristandade acerca da Ceia do Senhor. 
 
É difícil saber como lidar com tal assunto sem esgotar a paciência 
dos leitores. É difícil saber o que dizer, e o que deixar por dizer. O campo 
foi tão completamente esgotado pelas obras de vários mestres em Israel, 
que é literalmente impossível trazer a lume algo que seja novo. O máximo 
que posso esperar conseguir é condensar alguns antigos argumentos. Se 
eu puder sintetizar algumas coisas antigas e apresenta-las aos meus 
leitores em um formato acessível e compacto, dou-me por satisfeito. 
 
No presente trabalho deverei contentar-me com dois argumentos, e 
dois somente: 
 
I – demonstrarei a intenção original da Ceia do Senhor. 
II – demonstrarei a posição que a Ceia do Senhor deveria ocupar. 
 
 
 
 
W W W . P R O J E T O R Y L E . C O M . B R 
 
4 
De qualquer forma, uma coisa me é bem clara: é impossível superes-
timar a importância do assunto. Eu tenho uma forte e crescente con-
vicção de que o erro acerca da Ceia do Senhor é um dos erros mais 
comuns e perigosos do tempo presente. Suspeito que mal saibamos do 
quanto opiniões malsãs deste Sacramento prevaleçam, tanto entre o 
laicato como entre o clero. Elas são a raiz oculta de 90% do ritualismo 
extravagante que, como uma neblina, tem se espalhado em nossa Igreja. 
Ao menos aqui, todos os ministros cristãos devem ser zelosos pelo Senhor 
Deus dos Exércitos. Nosso testemunho deve ser claro, distinto e incon-
fundível. Nossas trombetas não devem dar som incerto. Os filisteus estão 
sobre nós. A arca de Deus está em perigo. Se amamos a verdade por 
residir ela em Jesus, se amamos a Igreja da Inglaterra, devemos lutar 
valorosamente pela fé uma vez entregue aos santos, no tocante à Ceia do 
Senhor. 
 
I – Em primeiro lugar, qual era a intenção original da Ceia do Senhor? 
 
Esta questão não pode receber uma melhor resposta geral do que 
aquela de nosso bem conhecido Catecismo da Igreja. Falta simplicidade a 
este famoso formulário, infelizmente repleto de palavras difíceis e termos 
metafísicos da Escolástica, embora permaneça digno de toda a honra por 
suas declarações acerca dos Sacramentos. Nossos professores de Escola 
Dominical podem não compreender corretamente o Catecismo, e 
reclamar, com razão, que é preciso outro catecismo para explicá-lo! No 
final das contas, porém, suas definições possuem uma precisão lógica e 
exatidão doutrinária que todo teólogo bem instruído deve reconhecer e 
apreciar. Corretamente empregado, eu sustento que o Catecismo da Igreja 
é uma arma eficaz contra o semi-romanismo. Interpretado honestamente, 
ele subverte totalmente o sistema dos ritualistas. 
 
A primeiríssima pergunta do Catecismo sobre a Ceia do Senhor as-
sim segue: “Por que foi ordenado o Sacramento da Ceia do Senhor?” A 
resposta fornecida é a seguinte: “Para a memória continuada do sacrifício 
da morte de Cristo, e dos benefícios que dela recebemos.” Este é um texto 
sadio, que não pode ser condenado. Fundamentado na linguagem direta 
das Sagradas Escrituras, contém a verdade, toda a verdade e nada mais 
que a verdade (Lc. 22.19; I Co. 11.24). 
 
É a intenção do Senhor Jesus Cristo que a Ceia do Senhor seja uma 
lembrança1 contínua pela Igreja de sua morte expiatória sobre a Cruz. O 
pão, partido, dado e comido, deveria lembrar os cristãos de Seu corpo 
 
1 Permita-me o leitor recordar que a doutrina da Liturgia da Comunhão está em precisa harmonia com a 
de nosso Catecismo. Destaquemos as seguintes expressões: 
“De modo que devemos sempre recordar o imenso amor de nosso Mestre e único Salvador Jesus Cris-
to, que assim morreu por nós, e os inumeráveis benefícios que pelo verter de seu sangue ele obteve em 
nosso favor: Ele instituiu e ordenou santos mistérios como penhores de seu amor, e para memória 
perpétua de sua morte, e para nosso incessante consolo.” “Ele instituiu, e em seu Santo Evangelho nos 
ordena a continuar um memorial perpétuo de sua preciosa morte até a sua volta”. “Tomai e comei, em 
recordação de que Cristo morreu por vós”. “Bebei, em recordação de que o sangue de Cristo foi ver-
tido por vós.” 
 
 
 
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5 
dado por nossos pecados. O vinho, derramado e bebido, deveria lembrar 
os cristãos de Seu sangue vertido por nossos pecados. 
 
O Senhor Jesus sabia o que havia com o homem. Ele sabia bem da 
escuridão, lentidão, frieza, dureza, estupidez, orgulho, auto-engano, 
preguiça e pretensão de donos da verdade, da natureza humana em 
assuntos espirituais. Assim, ele cuidou para que sua morte pelos pe-
cadores não fosse apenas registrada por escrito na Bíblia (ou ela poderia, 
assim, ser trancafiada em bibliotecas) ou deixada para os ministros 
proclamarem do púlpito (pois assim poderia ser detida por falsos mes-
tres), mas ela deveria ser exibida em sinais e emblemas visíveis, no pão e 
no vinho em uma ordenança especial. A Ceia do Senhor era uma garantia 
contra a memória fraca do homem. Enquanto permanecer o mundo em 
sua ordem atual, aquilo que é feito à Mesa do Senhor proclama a sua 
morte até que ele venha (I Co. 11.26). 
 
O Senhor Jesus Cristo bem sabia da inenarrável importância de sua 
própria morte pelo pecado como pedra fundamental da religião escri-
turística. Ele sabia que sua própria satisfação pelo pecado como nosso 
substituto – Seu sofrimento pelo pecado, o Justo pelos injustos, Seu 
pagamento de nossa enorme dívida em Sua própria pessoa, Sua completa 
redenção de nós outros pelo Seu sangue – Ele sabia que essa era de fato a 
raiz do cristianismo, capaz de salvar e satisfazer as almas. Sem isto Ele 
sabia que Sua encarnação, milagres, ensinamentos, exemplo e ascensão 
não poderiam fazer qualquer bem ao homem; sem isto ele sabia que não 
haveria justificação, nem reconciliação, nem esperança, nem paz entre 
Deus e os homens. Sabendo de tudo isto, ele cuidou que sua morte, ao 
menos, não deveria ser esquecida. Ele cuidadosamente estabeleceu uma 
ordenança, pela qual, por figuras vivas, seu sacrifício na cruz fosse 
mantido em memória perpétua. 
 
O Senhor Jesus Cristo bem sabia da fraqueza e enfermidade mesmo 
do mais santo dos crentes. Ele sabia da absoluta necessidade de mantê-
los em íntima comunhão com Seu sacrifício vicário, como Fonte de Sua 
vida interior e espiritual. Assim, Ele não apenas deixou para eles promes-
sas nas quais suas memórias se alimentassem, e palavras que pudessem 
trazer à mente;Ele misericordiosamente providenciou uma ordenança 
pela qual a verdadeira fé pudesse ser desperta, pela contemplação dos 
vivos emblemas de Seu Corpo e Sangue, e por cujo uso os crentes pu-
dessem ser fortalecidos e renovados. O fortalecimento da fé dos eleitos de 
Deus na expiação é um grande propósito da Ceia do Senhor. 
 
Agora volto-me do lado positivo para o lado negativo da questão, em 
verdadeira dor e relutância. Mas é meu claro dever fazê-lo. Os ministros, 
como os médicos, devem estudar a doença, assim como a saúde, e 
demonstrar o erro assim como a verdade. Permitam-me, então, tentar 
demonstrar quais não são os objetivos da Ceia do Senhor. 
 
 
 
 
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6 
1. Jamais foi a intenção que ela fosse considerada um sacrifício. 
Jamais foi a intenção que nós crêssemos que qualquer transformação 
ocorre com os elementos do pão e do vinho, ou que haja qualquer presença 
corpórea de Cristo no Sacramento. Tais coisas não podem, jamais, ser 
justa e honestamente extraídas das Escrituras. Sejam examinadas 
imparcialmente as três narrativas evangélicas da Instituição, em Mateus, 
Marcos e Lucas, e aquela dada por Paulo aos Coríntios, e não tenho 
dúvidas quanto ao resultado. Elas ensinam que não há sacrifício, não há 
altar, não há mudança na substância dos elementos: o pão após a 
consagração ainda é, literal e verdadeiramente, pão; o vinho, após a 
consagração, é verdadeira e literalmente vinho. Em parte nenhuma do 
Novo Testamento vemos o ministro cristão chamado de sacerdote, e em 
parte nenhuma encontramos qualquer menção a sacrifício, senão aos de 
oração, de louvor e de boas obras. O último sacrifício literal, somos 
repetidamente informados na Epístola aos Hebreus, é aquele sacrifício 
consumado, de uma vez por todas, por Cristo na Cruz. 
Sem dúvida, agrada a tais polemistas como o finado Cardeal Wise-
man tomar textos como “Este é meu corpo” e “Este é meu sangue” como 
provas de que a Ceia do Senhor é um sacrifício. Contudo, alguém que se 
satisfaça com isso é alguém fácil de satisfazer, de fato! O citar de uma 
frase isolada é um meio de argumentação que serviria a legitimar até o 
arianismo ou o socinianismo. O contexto dessas famosas frases mostra 
claramente que aqueles que as ouviram empregadas as compreenderam 
como “Isto representa meu corpo” e “Isto representa meu sangue”. A 
analogia com outras passagens demonstra que “ser” com frequência 
significa “representar” nas Escrituras. Paulo, ao escrever sobre o Sacra-
mento, chama expressamente o pão consagrado de “pão”, e não de Corpo 
de Cristo, nada menos do que três vezes (I Co. 11.26, 27, 28). Acima de 
tudo, permanece o irretorquível argumento de que, se Nosso Senhor 
estava de fato segurando Seu Corpo em suas mãos quando disse do pão 
“Este é meu corpo”, Seu corpo deve ter sido bem diferente daquele dos 
homens comuns. É claro, se Seu corpo não era como o nosso, Sua própria 
e real humanidade se encerram. Nesse compasso, a bendita e consoladora 
doutrina da total identificação de Cristo com Seu povo, como verdadeiro 
homem, estaria completamente subvertida, e cairia por terra.2 
 
Mais uma vez, pode agradar a alguns considerar o capítulo 6 de Jo-
ão, onde Nosso Senhor fala de “comer sua carne e beber o seu sangue” 
como prova de que há uma presença corpórea literal de Cristo no pão e no 
vinho na Ceia do Senhor. Porém, há uma total ausência de provas con-
clusivas de que este capítulo de fato se refere à Ceia do Senhor. Aquele 
que sustentar que ele de fato se refere à Ceia do Senhor encontrar-se-á 
envolvido em consequências bastante constrangedoras. Ele condena à 
morte eterna todos quantos não recebem a Ceia do Senhor. Ele eleva à 
vida eterna todos quantos a recebem. Basta dizer que a maioria dos 
comentaristas protestantes nega de todo que o capítulo se refira à Ceia do 
 
2 Que o corpo de Nosso Senhor não seria um corpo real como o nosso era a doutrina favorita dos 
hereges chamados “apolinários”, na Igreja antiga. 
 
 
 
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7 
Senhor, e que mesmo alguns comentaristas romanistas concordam com 
eles neste ponto.3 
 
2. Passo a outra visão negativa do assunto. A Ceia do Senhor jamais 
pretendeu conferir benefícios aos comungantes ex opere operato, ou seja, 
por virtude da mera recepção formal da ordenança.4 Não deveríamos crer 
que ela produz qualquer bem a qualquer um, senão aos que a recebem 
com fé e entendimento. Não se trata de um remédio ou simpatia que 
funciona mecanicamente, independentemente do estado mental em que é 
recebido. Não pode, por si mesma, conferir graça, onde graça já não 
existir antes. Ela não converte, justifica ou comunica bênçãos ao coração 
de um descrente. Não é uma ordenança para os mortos, mas para os 
vivos; não para os descrentes, mas para os que creem; não para o pecador 
impenitente, mas para o santo. Quase que me envergonha ter de gastar 
tempo escrevendo declarações tão batidas e bem-sabidas como estas. A 
Palavra de Deus testifica claramente que alguém pode achegar-se à Mesa 
do Senhor e “comer e beber indignamente”, e assim “comer e beber juízo 
para si” (I Co. 11.27, 29). A tal testemunho, eu não acrescentarei uma só 
palavra. 
 
2. Eu só farei menção a mais um ponto do lado negativo do assunto. 
Jamais foi a intenção que a Ceia do Senhor fosse uma mera festividade 
social que indicasse o amor que deveria existir entre os crentes. Jamais 
deveríamos considera-la sob esta fria e parca luz. A noção do autor de 
Ecce Homo5, que “a comunidade cristã é um jantar de clube social” não é 
apenas degradante, mas também não pode ser reconciliada com as 
palavras de seu Fundador, no momento de sua instituição. “Alimentar-se 
do caráter de Cristo” (cito o famoso livro) é uma ideia que pode satisfazer 
um sociniano, ou qualquer um que rejeite a doutrina da expiação. Mas o 
verdadeiro cristão, que se alimenta especialmente da morte vicária de 
Cristo, e não de seu caráter, contemplará aquela morte proeminen-
temente exibida na Ceia do Senhor, e verá sua fé naquela morte fortifica-
da pela participação no Sacramento. A intenção era transportar sua 
mente de volta ao sacrifício uma vez feito no Calvário, e não meramente à 
encarnação; e nada menos que isso satisfará o coração de um verdadeiro 
cristão. 
 
Ora, acabo de afirmar qual a posição que, creio, devemos manter 
acerca do Sacramento da Ceia do Senhor. Negativamente, ela não deveria 
ser uma mera reunião social, nem ainda um sacrifício, nem tampouco 
uma ordenança que confira graça ex opere operato. Positivamente, a 
intenção é que ela seja “uma lembrança contínua do sacrifício da morte de 
Cristo” e um fortificante e restaurador dos verdadeiros crentes. Esta 
posição pode parecer simplória a alguns, tão simples que fique aquém da 
 
3 Aqui, ouso encaminhar meus leitores a meu Comentários no Evangelho de João, onde encontrarão 
um sumário condensado de minhas opiniões, nas notas ao capítulo 6. 
4 Convém lembrar que estas três palavras latinas ex opere operato significam simplesmente “em razão 
da obra realizada”. 
5 Friedrich Nietzche [N.T.]. 
 
 
 
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8 
verdade. Que seja: não me envergonho dela. Quer os homens a ouçam, 
quer a ignorem, estou convicto de que esta é a única postura que se 
harmoniza com as Escrituras e com os formulários da Igreja da Inglater-
ra. 
 
Eu concedo com liberdade que uma grande e crescente escola dentro 
de nossa própria Igreja discorde da posição que afirmei acerca da Ceia do 
Senhor. Centenas de membros do Alto e do Baixo clero consideram que 
não somente há uma real presença de Cristo na Ceia do Senhor, a qual 
sustento tão fortemente quanto eles, mas também que haja uma presença 
real de Cristo nos elementos do pão e do vinho após a consagração6, o que 
eu nego de todo. 
 
Ouçamos como o Arcediago Denison, autoridade de relevo, afirma 
sua posição.Ele diz: “O corpo e o sangue de Cristo estão presentes na 
Sagrada Eucaristia, sob a forma de pão e vinho, a saber, coisas presentes, 
embora presentes de uma maneira inefável, incompreensível ao homem e 
incognoscível pelos sentidos. A real presença de Cristo na Eucaristia não 
é, portanto (como creio que ela seja geralmente considerada) a presença 
de uma influência que emana de algo ausente, mas a presença invisível e 
sobrenatural de algo presente; de Seu corpo e Seu sangue presentes sob 
as formas de pão e vinho.”7 (Sermão II, p. 80). Ouçamo-lo de novo: 
“Adoração é devida à real, embora invisível e sobrenatural presença do 
corpo e do sangue de Cristo na Sagrada Eucaristia, sob as formas de pão 
e vinho” (Sermão II, p. 81). Ouçamo-lo uma vez mais: “O ato da 
consagração torna a presença real. Oh! Sacerdotes da Igreja de Deus! A 
nós nos é dado sermos canais e agentes, pelos quais o Espírito Santo com 
efeito torna o corpo e sangue de Cristo verdadeiramente presentes, ainda 
que de maneira invisível e sobrenatural. A nós nos é dado distribuir de 
seu corpo e sangue a seu povo. Oh! Sacerdotes e povo da Igreja de Deus! 
A nós nos é dado tomar e comer, sob a forma de pão e vinho, na Ceia do 
Senhor, o corpo e o sangue de Cristo.” (Sermão II, p. 107). 
 
Ora, não multiplicarei citações como estas. Seria fácil demonstrar 
que a doutrina exposta pelo Arcediago Denison é a doutrina de uma 
 
6 É extremamente difícil fazer com que certas pessoas vejam a enorme importância da estrita precisão 
ao definir termos nesta infeliz polêmica acerca da Ceia do Senhor. O ponto em debate não é se há uma 
“presença real” de Cristo na Ceia do Senhor. Nisto todos cremos. O ponto não é se a presença de Cristo 
é espiritual. Mesmo Harding, o bem conhecido antagonista de Jewel, admite que o corpo de Cristo está 
presente “não de uma forma corpórea, carnal ou natural, mas de maneira invisível, inefável, miraculosa, 
sobrenatural, espiritual, divina, só conhecida por Ele.” Harding’s reply to Jewel. O verdadeiro ponto é 
se o corpo e o sangue reais de Cristo estão realmente presentes nos elementos do pão e do vinho, tão 
logo sejam consagrados na Ceia do Senhor, e independentemente da fé daquele que a recebe. Romanis-
tas e semi-romanistas dizem que eles se fazem presentes desta forma. Nós asseveramos que não. 
7 O antagonismo entre estas frases do Arcediago Denison e as opiniões do Bispo Ridley sobre o mesmo 
assunto são tão singularmente fortes, que peço ao leitor não passar adiante sem tomar nota dele. O 
Bispo Ridley, em sua Disputation at Oxford, diz da doutrina romanista da presença real: “Ela destrói e 
remove a Instituição da Ceia do Senhor, que foi ordenada para ser empregada e continuada até que o 
Senhor retorne. Se, porém, Ele estiver realmente presente no corpo de sua carne, então deve cessar a 
Ceia, pois uma recordação não é de algo presente, mas de algo passado e ausente. E, como um dos Pais 
disse, „Uma figura é vã quando a coisa figurada está presente‟”. Cf. Foxe’s Martys, in loco. 
 
 
 
W W W . P R O J E T O R Y L E . C O M . B R 
 
9 
grande e crescente parcela da Igreja da Inglaterra.8 Seria não menos fácil 
demonstrar que a doutrina é substancialmente uma e a mesma que a da 
Igreja de Roma, e que por recusar essa mesma doutrina, nossos Reforma-
dores, martirizados, entregaram suas vidas. O tempo, porém, não me 
permitiria fazê-lo. Contento-me em tentar demonstrar que a doutrina do 
Arcediago Denison e sua escola não pode ser reconciliada com os formu-
lários autorizados da Igreja da Inglaterra, e que a mais simples e, como 
alguns a chamam, mais baixa posição acerca da intenção da Ceia do 
Senhor harmoniza-se inteiramente com eles. 
 
Permitam-me primeiro voltar-me aos Trinta e Nove Artigos. Não temos 
direito de invocar qualquer formulário antes deles. A Confissão de Fé da 
Igreja é seu primeiro símbolo de doutrina. O Artigo 28 dispõe o seguinte: 
 
“A Ceia do Senhor não é somente um sinal do amor que os 
Cristãos devem ter entre si um com o outro; antes, é um 
Sacramento de nossa Redenção pela morte de Cristo; tan-
to o é que, a tantos quantos correta e dignamente, e com 
fé, dela recebem, o Pão que partimos é comunhão do Cor-
po de Cristo, e igualmente o Cálice que abençoamos é a 
comunhão do Sangue de Cristo. 
A transubstanciação (ou mudança da substância do pão e 
do vinho) na Ceia do Senhor, não pode ser provada pela 
Sagrada Escritura, mas repugna diretamente a suas pa-
lavras, subverte a natureza do Sacramento e tem dado 
ocasião a muitas superstições. 
O Corpo de Cristo é dado, tomado e comido, na Ceia, 
apenas e tão-somente de uma maneira celestial e espir-
itual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é recebido é a 
fé. 
O Sacramento da Ceia do Senhor não é, pela ordenança 
recebida de Cristo, levantado, carregado em procissões ou 
cultuado.” 
 
8 Em uma obra devocional recentemente publicada pela Church Press Company, intitulada The little 
Prayer-book, intended for beginners in devotion, revised and corrected by three Priests, as seguintes 
passagens podem ser encontradas: “Quando entrar na igreja, antes de se dirigir ao seu lugar, curve-se 
reverentemente ao santo altar, pois é o trono de Cristo, e a parte mais sagrada da igreja.” “Curve-se 
reverentemente ao altar, antes de deixá-lo.” “Nas palavras „este é meu corpo, este é meu sangue‟, você 
deve crer que o pão e o vinho se tornam o verdadeiro corpo e sangue, com a alma e a divindade de 
Jesus Cristo. Curve seu coração e corpo na mais profunda adoração quando o sacerdote disser estas 
reverendas palavras, e adore o seu Salvador ali, presente de fato e de verdade ali, em seu altar.” 
Em um Catechism on the Office of the Holy Communion, editado por “Uma comissão de clérigos”, 
encontraremos a seguinte declaração: “A Santa Comunhão é um sacrifício, uma oferenda feita sobre 
um altar a Deus.” “Oferecemos pão e vinho, os quais, depois, se tornam o corpo e o sangue de Cristo.” 
“Apenas o Senhor Jesus Cristo em pessoa, como nosso Sumo Sacerdote, e os sacerdotes de sua Igreja, a 
quem nomeou aqui na terra, têm autoridade para oferecer este sacrifício.” “O sacrifício é o verdadeiro 
corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e é apresentado como uma oferta pelos pecados, para 
obter perdão pelas nossas transgressões.” “O corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo estão real e 
verdadeiramente presentes no altar sob as formas de pão e vinho, e o sacerdote oferece o sacrifício a 
Deus, o Pai.” “Nós devemos cultuar Nosso Senhor, presente em seu Sacramento, como o deveríamos se 
o pudéssemos ver corporalmente”. 
 
 
 
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10 
 
Não comentarei estas palavras. Peço tão somente aos membros da 
Igreja que as ponham lado a lado com as declarações do partido da High 
Church9 acerca da Ceia do Senhor, e que observem a absoluta contrarie-
dade que existe entre elas. Apelo ao bom senso de todos os ingleses 
imparciais e livres de preconceitos. Sejam eles os juízes. Se uma posição 
está correta, a outra está errada. Se o teor do Artigo 28 pode ser reconcil-
iado com a doutrina do Arcediago Denison e sua escola, só posso dizer 
que essas palavras não têm significado nenhum. 
 
Contento-me em citar o comentário do Bispo Beveridge acerca deste 
Artigo, e seguirei adiante. Diz ele: “Se o pão não se transforma realmente 
no corpo de Cristo, então o corpo de Cristo não está realmente presente; e 
se não está realmente presente, é impossível que ele seja realmente 
tomado e recebido em nossos corpos, como o é o pão.” Novamente, ele diz: 
“Não posso ver como se pode negar que Cristo comeu do pão do qual disse 
„Este é meu corpo‟, e se dele comeu, e o comeu corporeamente (a saber, 
comeu Seu corpo como nós comemos pão), então ele comeu a si mesmo, e 
fez de um corpo dois, e então os reuniu novamente em um, recebendo seu 
corpo em seu corpo, sim, todo o seu corpo paradentro de parte do seu 
corpo, seu estômago. E assim, devemos considerar que ele não apenas 
tenha dois corpos, mas dois corpos um dentro do outro; sim, para que 
seja um devorado pelo outro; o absurdo desta e de semelhantes asser-
tivas, qualquer um com meia vista é capaz de facilmente discernir. De 
modo que devemos considerar que foi de uma forma espiritual que o 
Sacramento foi instituído, e por consequência, é de uma forma espiritual 
que o Sacramento deve ser recebido.”10 
 
A Liturgia da Igreja da Inglaterra a esse respeito é de inteiro acordo 
com os Artigos. A palavra “altar” não é encontrada nenhuma vez em nosso 
Livro de Oração. A ideia de um “sacrifício” é cuidadosamente excluída de 
nossa Liturgia da Comunhão. Não importa o quanto os homens consigam 
torcer e distorcer as palavras da Liturgia do Batismo, não conseguem 
fazer nada com o Culto de Comunhão para provar os pontos de vista 
romanistas. Mesmo o famoso non juror11, Dr. Brett, foi obrigado a con-
fessar que “não sabia de qualquer forma de reconciliar a Oração de 
Consagração da atual Liturgia oficial com a [doutrina da] presença real; 
pois aquela faz uma clara distinção entre o pão e o vinho e o corpo e o 
sangue de nosso Salvador, ao dizer „Concede que nós, ao recebermos 
estas tuas criaturas, pão e vinho, sejamos partícipes do Corpo e do 
 
9 O partido ou movimento High Church, embora tenha defendido outras bandeiras em outros tempos na 
história do anglicanismo, nos tempos de Ryle era identificado com o ritualismo promovido pelo Mo-
vimento de Oxford, que desembocou no anglo-catolicismo (adoção não apenas do ritual, mas também 
de outras práticas e doutrinas mais afeitas ao catolicismo do que ao protestantismo) e, afinal, no anglo-
papismo (submissão ao papado e militância pela reunião formal entre a Igreja da Inglaterra e a Igreja 
Católica Apostólica Romana). [N.T.] 
10 Beveridge on the Articles. Ed. Oxford, 1846, pp. 482-486 
11 Non-jurors foram clérigos da Igreja da Inglaterra que, quando da ascensão de Guilherme de Orange e 
sua esposa Maria ao trono inglês, não puderam, por objeção de consciência, jurar lealdade a eles, por 
considerarem-se presos ao voto feito ao rei anterior, Jaime II. [N.T.] 
 
 
 
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11 
Sangue de Cristo‟, o que manifestamente implica que o pão e o vinho 
sejam coisas distintas e diferentes do corpo e do sangue.”12 
 
Contudo, a rubrica ao final do Culto de Comunhão torna mera perda 
de tempo dizer qualquer outra coisa a respeito da posição do Livro de 
Oração acerca da Ceia do Senhor. Diz ela, “Conquanto seja determinado 
nesta Liturgia para Administração da Ceia do Senhor que os comungantes 
recebam-na de joelhos (ordem de boa intenção, pois significa nosso humilde 
e grato reconhecimento dos benefícios de Cristo nela concedidos aos que 
dignamente a recebem; e para evitar a profanação e desordem que doutra 
sorte poderiam acometer a Santa Comunhão), para que tal ato de ajoelhar-
se não seja mal interpretado ou deturpado por qualquer pessoa, quer por 
ignorância ou fraqueza, quer por malícia ou obstinação, declara-se que 
nenhuma adoração é pretendida, nem se deve dar, quer ao pão sacramen-
tal ou o vinho corporalmente recebido, nem a qualquer presença corpórea 
do corpo e sangue naturais de Cristo. Pois o pão e o vinho sacramentais 
permanecem em suas veras substâncias naturais, e não devem, portanto, 
ser adorados (pois isto seria idolatria, a ser abominada por todos os 
cristãos fieis); e o corpo e sangue naturais de nosso Salvador Cristo estão 
no céu, não aqui, sendo contra a veracidade do corpo natural de Cristo 
estar em mais de um lugar ao mesmo tempo.” Se esta rubrica não condena 
de forma direta o ensinamento do Arcediago Denison e sua escola acerca 
da presença de Cristo no Sacramento, sob as formas do pão e do vinho, 
estou certo de que as palavras não têm mais significado nenhum.13 
 
O Catecismo da Igreja da Inglaterra está em direto acordo com os Ar-
tigos e a Liturgia. Embora ele afirme claramente que “o corpo e o sangue 
de Cristo são, de fato e de verdade, tomados e recebidos pelos fieis na 
Ceia do Senhor”, ele cuidadosamente evita proferir qualquer palavra que 
sancione a ideia de que o corpo e o sangue estejam localmente presentes 
nos elementos consagrados do pão e do vinho. De fato, uma presença 
espiritual de Cristo na Ceia do Senhor a cada fiel comungante, sem porém 
qualquer presença corpórea física no pão e no vinho para qualquer 
comungante, é evidentemente a doutrina uniforme da Igreja da Inglaterra. 
 
Contudo, não irei adiante sem citar a interpretação de Waterland a 
respeito da doutrina do Catecismo. Diz ele: “As palavras „de fato e de 
verdade tomados e recebidos pelos fiéis’ são corretamente interpretados 
como uma participação real nos benefícios adquiridos pela morte de 
Cristo. O corpo e o sangue de Cristo são tomados e recebidos pelos fieis, 
 
12 Brett’s discourse on discerning the Lord’s Body in the Communion. Londres, 1720, pref., pp. 19-20 
13 A rubrica ao final da Comunhão dos Enfermos é outra forte evidência das posições daqueles que 
prepararam nosso Livro de Oração em sua atual forma. Ela diz: “Se alguém, em virtude da severidade 
de sua doença, ou por falta de aviso tempestivo ao ministro, ou por falta de companhia para receber 
com ele, ou por qualquer outro justo impedimento, não puder receber o Sacramento do corpo e do 
sangue de Cristo, o ministro o instruirá que, se ele verdadeiramente se arrepender de seus pecados, e 
firmemente crer que Jesus Cristo sofreu a morte na cruz por ele, e derramou seu sangue para a sua 
remissão, encarecidamente recordando os benefícios que disto recebe, e rendendo-lhe por isto sinceras 
graças, ele de fato come e bebe o corpo e o sangue de nosso Salvador Cristo para benefício da saúde 
de sua alma, ainda que não receba o Sacramento com sua boca.” 
 
 
 
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12 
não corporalmente, não internamente, mas, de fato e de verdade, a saber, 
efetivamente. Os símbolos sagrados não são signos desnudos, não são 
figuras inverídicas de uma coisa ausente; antes, a força, a graça, a virtude 
e os benefícios do corpo de Cristo partido, e do sangue vertido, a saber, de 
Sua paixão, são real e efetivamente presentes com todos quantos recebem 
dignamente. Essa é toda a extensão da presença real que nossa Igreja 
ensina.”14 
 
Uma vez mais digo que, se a posição de Waterland a respeito do 
Catecismo puder ser reconciliada com a do Arcediago Denison e sua 
escola, as palavras não têm mais significado nenhum. 
 
A Homilia da Igreja da Inglaterra sobre o Sacramento15 está em com-
pleta harmonia com os Artigos, a Liturgia e o Catecismo. Diz ela: “Antes 
de tudo devemos estar especialmente certos disto, de que esta Ceia seja 
ministrada como Nosso Senhor e Salvador o fez, e determinou que se 
fizesse; como seus santos Apóstolos a empregaram, e como os bons Pais 
da Igreja a prestigiaram. Pois, como o digno Ambrósio disse, „é indigno do 
Senhor aquele que celebra este mistério de forma diversa da que lhe foi 
pelo Senhor entregue‟. Nem pode se dizer devoto o que a considera de 
forma diversa da que lhe foi dada pelo seu Autor. Devemos, assim, dar 
ouvidos, para que o memorial não se torne sacrifício, para que a comunhão 
não se torne refeição particular, para que duas partes não passem a ser 
apenas uma; para que não ocorra que, ao aplica-la aos mortos, percamos 
frutos vivos.” E torna a dizer, após enfatizar a necessidade de conheci-
mento e fé para os comungantes: “Isto é agarrar-se à promessa de Cristo 
feita e sua instituição: apropriar-se de Cristo e aplicar seus méritos a si. 
Nisto não necessitais do auxílio de outro homem, nem de outro sacrifício 
ou oblação, nem de sacerdote sacrificante, nem de missa, nem de meios 
estabelecidos pela invenção do homem.” E, novamente, diz: “Bem se sabe 
que a carne quebuscamos nesta Ceia é alimento espiritual, nutrição para 
nossa alma, uma refeição celestial e não terrena, uma carne invisível e 
não corpórea, uma substância espiritual, e não carnal. De modo que 
pensar que, sem fé, nós realmente podemos gozar do seu comer e beber, 
ou que tal é a sua fruição, não passa de um grosseiro devaneio carnal, 
que broncamente nos objetiva e nos prende aos elementos e criaturas. 
Pelo contrário, por ordem do Concílio de Niceia, devemos elevar nossas 
mentes pela fé e, abandonando estas coisas inferiores e terrenas, no alto 
buscar onde o Sol da Justiça brilha sempiterno. Ó tu, que desejas desta 
mesa, aprende esta lição do piedoso Pai da Igreja, Emisseno: que, quando 
vais à reverenda Comunhão para satisfazer-te de carne espiritual, con-
templas pela fé ao santo corpo e sangue de teu Deus; maravilhas-te com 
reverência, tocas-lhe com tua mente, recebes-lhe com a mão de teu 
coração e tomas-lhe plenamente com teu homem interior.” 
 
 
14 Waterland’s Works. Oxford, 1843, vol. VI, p. 42. 
15 Essa Homilia citada é um sermão padrão que faz parte de um livro de sermões elaborados na época 
da Reforma Inglesa que é autoritativo a todos os ministros e crentes da Igreja da Inglaterra, conforme o 
artigo 36 dos 39 Artigos. (N.R) 
 
 
 
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13 
Ora, seria fácil multiplicar as citações em favor da posição acerca da 
Ceia do Senhor que eu advogo, dos principais teólogos da Igreja da 
Inglaterra, mas disto abrirei mão. O tempo é precioso nestes dias de 
pressa, comoção e excitação. Citações são cansativas, e mui fre-
quentemente nem lidas. Quantos desejam aprofundar-se no assunto 
devem estudar o irretorquível, ainda que mui negligenciado livro do Deão 
Goode acerca da Eucaristia. Apenas duas citações darei, de dois homens 
de não pouca autoridade, embora divirjam largamente em alguns pontos. 
 
O primeiro é o bem conhecido Jeremy Taylor. Em seu livro The Real 
Presence ele diz: “Afirmamos que o corpo de Cristo está no Sacramento de 
maneira real, porém espiritual. Os católicos romanos dizem que ele está 
lá de maneira real, mas espiritual. Assim, Belarmino afirma com con-
vicção que a palavra deve ser permitida nesta questão. Ora, onde estará a 
diferença? Aqui, por espiritual, eles significam espiritual à maneira de um 
espírito. Nós, por espiritual, significamos presente a nosso espírito 
apenas. Eles dizem que o corpo de Cristo está tão verdadeiramente 
presente ali quanto como estava na Cruz, mas não como todos ou 
qualquer um se faz presente, mas da maneira que um anjo se faz 
presente em um lugar. Isso é o que querem dizer com espiritualmente. 
Nós, porém, pela real presença espiritual de Cristo, compreendemos que 
Cristo está presente, como o Espírito de Deus está presente, nos corações 
dos fieis por bênção e graça; e isto é tudo o que significamos para além da 
presença figurativa.” 
 
O outro teólogo que citarei foi um gigante na teologia, e notável tanto 
por sua solidez na fé quanto por sua prodigiosa erudição. Falo do Arce-
bispo Usher. Em seu sermão perante a Câmara dos Comuns, ele disse: 
“No sacramento da Ceia do Senhor, o pão e o vinho não são transforma-
dos em sua substância, não deixam de ser os mesmos que se serve em 
mesas comuns; mas quanto ao santo uso para o qual são consagrados, 
tamanha mudança se opera que agora tanto diferem do pão e vinho 
comuns quanto o céu difere da terra. Tampouco devem ser considerados 
meramente simbólicos, mas verdadeiramente exibem os elementos celes-
tiais com os quais são relacionados; sendo determinados por Deus para 
servirem de veículo para comunicá-los a nós, e constituindo-nos em sua 
posse. De modo que, ao empregarmos esta santa ordenança, tão verdadei-
ramente quanto o homem, com sua mão e boca físicas recebe as criaturas 
terrenas do pão e do vinho, assim verdadeiramente, com sua mão e boca 
espirituais, se os possuir, recebe o corpo e o sangue de Cristo. E esta é a 
real e substancial presença que afirmamos haver na parte interior desta 
ação sagrada.” 
 
Não posso deixar esta parte do assunto sem registrar meu indignado 
protesto contra o muitas vezes repetido insulto de que a erudição, o 
raciocínio e a pesquisa não são encontrados entre os apoiadores da ala 
evangélica da Igreja da Inglaterra! A obra do Deão Goode acerca da 
natureza da presença de Cristo na Eucaristia, contendo 986 páginas de 
argumentação magistral em defesa de sólidas posições protestantes 
 
 
 
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14 
acerca da Ceia do Senhor, já está há muitos anos perante o público. Ela 
tem estado, desde então, irrespondida e irrespondível. Onde está a 
honestidade, onde a justiça, em negligenciar a refutação deste livro, se 
puder ser refutado, e ainda se agarrar obstinadamente a posições que ele 
triunfantemente solapa? Recomendo este livro, sem hesitar, ao paciente e 
diligente estudo de todos os meus irmãos mais novos no ministério, se 
desejam ter suas opiniões formadas e confirmadas acerca do Sacramento 
da Ceia do Senhor. Leiam-no cuidadosamente, e creio que considerarão 
impossível chegar a qualquer outra, senão uma conclusão, a de que a 
Igreja da Inglaterra sustenta que não há sacrifício na Ceia do Senhor, 
nem oblação, nem altar, nem presença corpórea de Cristo no pão e no 
vinho; e que a verdadeira intenção da Ceia do Senhor é tão-somente 
aquela que o Catecismo afirma, nem mais, nem menos: “Foi ordenada 
para a contínua memória do sacrifício da morte de Cristo, e dos benefícios 
que por ela recebemos.” 
 
II – A segunda questão que eu me proponho a abordar neste trabalho 
é tão inteiramente ligada à primeira, que não me delongarei nela. Aquele 
que puder responder a pergunta “Qual é a verdadeira intenção da Ceia do 
Senhor?” não encontrará dificuldades em discernir “Qual é sua posição de 
direito na Igreja de Cristo”. 
 
Como a arca de Deus no Antigo Testamento, este bendito Sacramen-
to tem lugar e posição próprios entre as ordenanças cristãs e, assim como 
a arca de Deus, pode facilmente ser colocada no lugar errado. A história 
daquela arca prontamente recorre em nossas mentes. Colocada no lugar 
de Deus, e tratada como um ídolo, ela não fez bem nenhum aos israelitas. 
Nos dias de Eli, ela não os pôde salvar das mãos dos filisteus. Seus 
exércitos foram derrotados, e a própria arca, tomada, profanada e deson-
rada ao ser posta no templo de um ídolo, foi ela causa do recair da ira de 
Deus sobre toda uma nação, até que os filisteus disseram, a uma voz, 
“Mandem-na embora daqui!”. Tratada com descuido e leviandade, trouxe 
o julgamento de Deus sobre os homens de Bete-Semes, e sobre Uzá. 
Tratada com reverência e respeito, trouxe bênçãos a Obede-Edom e toda a 
sua casa. O mesmo se dá com a Ceia do Senhor. Posta no seu lugar de 
direito, ela é uma ordenança geradora de bênçãos. A grande questão a ser 
resolvida é: Que posição é esta? 
 
1. A Ceia do Senhor não está em seu devido lugar quando é tornada o 
primeiro, maior, principal e mais importante elemento do culto cristão. Que 
isto acontece em muitos lugares, todos devemos saber. As bem conhecid-
as missas da Igreja Romana, o aumento da importância atribuída à Santa 
Comunhão, como é chamada, por muitos em nossa própria Igreja, são 
provas claras do que quero dizer. O sermão, o modo de conduzir a oração, 
a leitura das Sagradas Escrituras, em muitas igrejas são tornados 
secundários diante da administração da Ceia do Senhor. Bem podemos 
perguntar, “Que fundamento há nas Escrituras para esta honra extrava-
gante?”, mas não ouviremos resposta. Há no máximo cinco livros em todo 
o cânone do Novo Testamento nos quais a Ceia do Senhor é ao menos 
 
 
 
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15 
mencionada. Acerca da graça, da fé e da redenção; da obra de Cristo; da 
obra do Espírito e do amor do Pai; da ruína do homem, de sua fraqueza e 
miséria espiritual; da justificação, santificação e retidão de vida; de todosesses portentosos assuntos encontramos os autores inspirados dando-nos 
linhas e mais linhas, e preceitos e mais preceitos. Acerca da Ceia do 
Senhor, pelo contrário, podemos observar na maior parte do Novo Testa-
mento um silêncio eloquente. Mesmo as Epístolas a Timóteo e Tito, que 
contêm muita instrução acerca dos deveres do ministro, não contêm uma 
só palavra a respeito. Este fato, apenas, já fala por volumes inteiros! 
Deslocar a Ceia do Senhor para o centro até que ela sobrepuje e se torne 
desproporcionalmente maior do que tudo o mais na fé é dar a ela uma 
posição para a qual não há autoridade na Palavra de Deus.16 
 
2. Uma vez mais, a Ceia do Senhor não estará em seu devido lugar 
quando administrada com um grau extravagante de cerimônia e veneração 
exterior. Ao dizer isto, sinto muito por ser mal compreendido. Deus me 
livre de propor qualquer desleixo ou irreverência no emprego de qualquer 
das ordenanças de Cristo. Em absoluto, a quem honra, honra demos. 
Contudo, pergunto a todos quantos leem este trabalho: não há algo 
dolorosamente suspeito quanto à enorme quantidade de pompa e 
reverência física com que a Ceia do Senhor é atualmente celebrada em 
muitas de nossas igrejas? O tratamento ostensivo da Mesa da Comunhão 
como um altar – as luzes, ornamentos, flores, as minúcias decorativas, 
gestos, posturas, reverências, persignações, incensações, procissões, 
todos ligados ao assim chamado altar – a misteriosa e obsequiosa ven-
eração com que o pão e o vinho são consagrados, dados, tomados e 
recebidos – o que tudo isso significa?17 Onde está, em tudo isso, a simpli-
cidade da primeira instituição, como a encontramos registrada na Bíblia? 
Onde a simplicidade que nossos reformadores protestantes pregaram e 
praticaram? Onde a simplicidade que qualquer leitor desarmado do Livro 
de Oração inglês pode justamente esperar? Bem podemos perguntar: 
onde? A verdadeira Ceia do Senhor não está mais ali. A coisa toda re-
cende a romanismo. Um leitor direto só pode ver nisso uma tentativa de 
introduzir em nosso culto a doutrina do sacrifício, a “fábula blasfema e o 
perigoso engano” da missa, da presença real papista e da transubstan-
 
16 Aproveito a ocasião para dizer que vejo com desgosto a prática moderna de se substituir o sermão 
por uma celebração da Ceia do Senhor nas visitas episcopais e arcediagais. Sem dúvida ela poupa 
Bispos e Arcediagos de muito trabalho. Poupa-os da responsabilidade individual de selecionar um 
pregador. Mas a coisa toda tem uma aparência suspeita e insatisfatória. Pregar a Palavra, a meu ver, é 
uma ordenança bem mais importante do que a Ceia do Senhor. 
17 É verdadeiramente lamentável observar quantos rapazes e moças, de quem se poderia esperar mais, 
caem hoje em um semi-romanismo, pela atração de um cerimonial altamente ornamentado e sensorial. 
Flores, crucifixos, procissões, estandartes, incenso, paramentos esplendorosos e outros que-tais jamais 
falham em atrair os jovens, assim como moscas ao mel. Não insultarei o bom senso dos que consid-
eram tais coisas interessantes, perguntando-lhes se de fato acreditam que podem disso obter qualquer 
alimento para o coração, consciência e alma. Mas gostaria que considerassem seriamente o que tais 
coisas significam. Eles sabem, verdadeiramente, que as doutrinas da missa e da transubstanciação estão 
na raiz de todo o sistema? Estão preparados para engolir todas essas horrendas heresias? Suspeito que 
muitos estão brincando com o ritualismo sem a menor idéia do que ele encobre. Enxergam uma isca 
atraente, mas não veem o anzol. 
 
 
 
 
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16 
ciação. É impossível evitar a sensação de que uma heresia mortal subjaz 
neste cerimonial pomposo e que não estamos lidando apenas com um 
amor infantil pelo espetáculo e pela forma, mas com um desígnio arraiga-
do de trazer de volta o papado à Igreja da Inglaterra e subverter o Evan-
gelho de Cristo. De qualquer forma, uma coisa me é bem clara: o Sacra-
mento da Ceia do Senhor, administrado como é atualmente em muitos 
lugares, não está em sua posição de direito. Encontra-se tão disfarçado, 
pintado, maquiado, aparelhado e inchado, e tão mudado por este novo 
tratamento, que mal posso ver nele, de fato, qualquer Ceia do Senhor. 
 
3. Uma vez mais, a Ceia do Senhor não está em sua posição de 
direito quando forçada a todos os presentes ao culto, indiscriminadamente, 
como um meio de graça de que todos, indistintamente, devem fazer uso. 
Uma vez mais, peço que ninguém me interprete mal. Tenho uma con-
vicção tão forte quanto qualquer outro, de que ir à igreja como um adora-
dor e não se fazer comungante é ser um cristão dos mais inconsistentes, e 
que não ser apto à Mesa do Senhor é não ser apto para a morte. Uma 
coisa, porém, é ensinar isto, e outra, instar a todos os homens para que 
recebam do Sacramento mecanicamente, quer estejam qualificados para 
isto, quer não. Não tenho a intenção de levantar uma acusação falsa. Nem 
por um momento suponha-se que qualquer ministro da linha High Church 
recomende, de forma direta, que pessoas ímpias participem da Ceia do 
Senhor para que se tornem pias. Mas não posso esquecer que, de muitos 
púlpitos, pessoas são constantemente ensinadas que são nascidas de 
novo e receberam graça em virtude de seu Batismo; e que se querem 
avivar a graça em si, e receber maior fé, devem fazer uso de todos os 
meios de graça, e especialmente da Ceia do Senhor! E não posso deixar de 
temer que milhares, no presente, estão substituindo o arrependimento, a 
fé e a união vital com Cristo pela participação na Ceia do Senhor, e 
enganando-se a si mesmos, que quanto mais receberem o Sacramento, 
mais se tornarão justificados, e mais prontos estarão para a morte. Minha 
firme convicção pessoal é de que a Ceia do Senhor não deve, de forma 
nenhuma, ser colocada antes de Cristo, e que os homens devem sempre 
ser ensinados a achegar-se a Cristo pela fé antes de se achegarem à Mesa 
do Senhor. Creio que esta ordem não pode jamais ser invertida sem que a 
inversão traga consigo grosseira superstição, e cause imenso mal às 
almas dos homens. Aquelas partes da cristandade onde se faz da “missa” 
toda a vida cristã, e a Palavra de Deus raramente é pregada, são precis-
amente os lugares onde há a mais completa ausência de um cristianismo 
viçoso. Quisera eu dizer que não há temor de que cheguemos a este 
estado de coisas em nossa própria terra. Contudo, quando ouvimos falar 
de centenas lotando a Mesa do Senhor aos domingos, e então chafurdan-
do em toda sorte de dissoluções durante a semana, há grave motivo para 
suspeitar que a Ceia do Senhor está sendo aplicada às congregações de 
uma maneira totalmente destituída de lastro nas Escrituras. 
 
Perguntará alguém agora: qual o devido lugar da Ceia do Senhor? Re-
spondo esta pergunta sem qualquer hesitação. Creio que seu lugar de 
direito, como o da santidade, é entre a graça e a glória; entre a justificação 
 
 
 
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17 
e o céu; entre a fé e o paraíso; entre a conversão e o descanso final; entre 
Porta Estreita e a Cidade Celestial. Ela não é Cristo, ela não é a conversão, 
ela não é um passaporte para o céu. Ela é para o fortalecimento e restau-
ração daqueles que já vieram a Cristo, que sabem algo acerca da con-
versão, que já estão no caminho estreito e já fugiram da cidade da destru-
ição. 
 
Bem sei que não somos capazes de ler corações. Não devemos ser 
rígidos e exclusivos demais quanto aos requisitos para a Comunhão, e 
tornar infelizes aqueles que Deus não fez infelizes. Contudo, não devemos 
jamais nos furtar de dizer aos inconversos e aos descrentes que, em sua 
condição atual, não estão aptos a achegar-se à Mesa do Senhor. Um 
clérigo fiel, de qualquer modo, jamais deve se envergonhar de defender a 
posição estabelecida pelo Catecismo da Igreja. A última pergunta desse 
bem conhecido formulário reza: “Que é exigido dos que se achegamà Ceia 
do Senhor?” A resposta a esta pergunta é substanciosa e cheia de signifi-
cado. Aqueles que vêm à Ceia do Senhor devem “examinar a si mesmos, 
arrepender-se verdadeiramente de seus pecados passados, firmemente 
propondo-se a viver uma nova vida; ter fé viva na misericórdia de Deus 
por Cristo e uma grata memória por Sua morte; e viver em caridade para 
com todos os homens.” Alguém tem tais sentimentos em seu próprio 
coração? Então podemos dizer com intrepidez que a Ceia do Senhor está 
posta diante de si por um Salvador misericordioso, para auxiliá-lo a correr 
a carreira que tem diante de si. Não devemos colocar esta ordenança mais 
alto do que isto. Não se espera do comungante que seja um anjo, mas um 
pecador ciente de seus pecados e confiante em seu Salvador. Mais baixo 
do que isto não temos o direito de pôr esta ordenança. Encorajar as 
pessoas a achegarem-se à Mesa sem conhecimento, fé, arrependimento 
ou graça é ativamente causar-lhes mal, promover a superstição e de-
sagradar o Mestre da festa. Ele deseja ver em Sua mesa não convivas 
mortos, mas vivos; não o culto morto do comer e beber por formalidade, 
mas o sacrifício espiritual de corações sensíveis e amorosos. 
 
Faço aqui uma pausa. Creio ter dito o bastante para esclarecer as 
posições que sustento a respeito da verdadeira intenção e da posição de 
direito do Sacramento da Ceia do Senhor. Se, ao expor minhas opiniões, 
tiver dito qualquer coisa que atrite com os sentimentos de qualquer dos 
leitores, posso assegurá-los que lamento sinceramente. Nada poderia 
estar mais distante do meu desejo do que ferir os sentimentos de um 
irmão. 
 
Porém, é minha firme convicção que o estado da Igreja da Inglaterra 
exige grande clareza no falar e distinção nas declarações acerca dos 
Sacramentos. Estou convencido de que não há nada que os tempos tão 
imperativamente exijam dos membros evangélicos da Igreja quanto 
afirmações diretas, valorosas e explícitas dos grandes princípios mantidos 
por nossos ancestrais, e especialmente acerca do Batismo e da Ceia do 
Senhor. Se desejamos “fortalecer as coisas que permanecem, que estão 
prestes a morrer”, devemos voltar resolutamente às veredas antigas, e 
 
 
 
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18 
sustentar as antigas verdades do jeito antigo. Devemos abrir mão da vã 
ideia de que podemos tornar a Cruz de Cristo aceitável ao polí-la, en-
vernizá-la, pintá-la, banhá-la a ouro e serrar seus cantos. Devemos parar 
de supor que podemos atrair os homens a se tornarem evangélicos 
adotando um método diminuído, contemporizador, diluído, meio-a-meio, 
de expor as doutrinas do Evangelho; ou pelo vestir plumas emprestadas e 
flertar com o movimento High Church, ou por proclamar em alta voz que 
não somos “partidaristas”, ou por deixar de lado as claras expressões das 
Escrituras e louvar o entusiasmo, ou por habilidosamente abster-se de 
proferir verdades sujeitas a ofender. Esse plano é pura ilusão. Não ganha 
nenhum inimigo e bem pode afastar os verdadeiros amigos. Causa o 
desprezo do espectador mundano e o enche de escárnio. Podemos nos 
assegurar de que a mais sábia e correta linha para os evangélicos de 
nossa igreja seguirem é a de aderir com firmeza ao velho plano de 
preservar a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade, como é 
em Jesus, e especialmente a verdade acerca dos dois Sacramentos, o 
Batismo e a Ceia do Senhor. Sejamos corteses, amigáveis, caridosos, 
afáveis e tenhamos consideração pelos sentimentos alheios, sim, com 
certeza, mas que nenhuma consideração nos faça ocultar qualquer parte 
da verdade de Deus. 
 
Permitam-me encerrar este trabalho com algumas sugestões práticas. 
Presumindo, por um momento, que tenhamos firmado nossa opinião 
acerca da intenção e posição de direito da Ceia do Senhor, consideremos o 
que os tempos demandam de nossas mãos. 
 
1. Em primeiro lugar cultivemos uma santa simplicidade em todas as 
nossas declarações acerca da Ceia do Senhor, e um santo zelo em todas 
as nossas práticas com relação a ela. 
 
Se somos ministros, recordemos nosso povo com frequência de que 
não há sacrifício na Ceia do Senhor; não há presença real do corpo e do 
sangue de Cristo no pão e no vinho; não há transformação nos elementos; 
não é conferida graça ex opere operato; não há altar no extremo leste de 
nossas igrejas18; não há sacerdócio sacrificante na Igreja da Inglaterra. 
Digamos a eles estas coisas, de novo, e de novo, e de novo, até que nossas 
congregações as tenham gravadas em suas mentes e memórias e almas, e 
recomendemos-lhes que, tanto quanto amam a própria vida, não as 
esqueçam. 
 
Quer sejamos leigos, quer clérigos, estejamos alerta quanto a con-
templar ou tolerar quaisquer práticas relativas à Ceia do Senhor que 
excedam ou contradigam as rubricas de nosso Livro de Oração e impli-
quem qualquer crença em uma posição romanista deste Sacramento. 
Protestemos de todas as formas possíveis contra qualquer veneração 
 
18 Em arquitetura eclesiástica, o extremo do templo oposto à entrada principal é considerado o “leste 
litúrgico”, ainda que o templo não seja construído voltado para o leste geográfico (que é a prática histó-
rica da “orientação”). No leste litúrgico de um templo cristão tradicional ficam o púlpito e a Mesa do 
Senhor, ou o altar nas igrejas católicas. [N.T.] 
 
 
 
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19 
extravagante da Mesa de Comunhão e do pão e do vinho, como se o corpo 
e o sangue de Cristo estivesse presente nesses elementos, ou na Mesa; e 
jamais nos esqueçamos do que o Livro de Oração diz sobre “a idolatria, a 
ser abominada por todos os fieis cristãos”. 
 
Não há como ser excessivamente insistente nestes pormenores. Os 
tempos mudaram. Coisas que poderíamos tolerar no passado como 
questões indiferentes, e minúcias desimportantes de cerimonial, não mais 
podemos tolerar. Alguns anos atrás, eu me voltaria para o leste durante a 
recitação do Credo em qualquer paróquia, para não ofender os sentimen-
tos do próximo. Não o posso mais fazer, pois vejo grandes princípios 
postos em jogo. Que nosso protesto nessas questões seja firme, decidido e 
universal em todo o país, e poderemos fazer muito bem. 
 
2. Em segundo lugar, não sejamos abalados ou atribulados com a 
acusação comum de que não somos membros da Igreja, porque não 
concordamos com muitas das posições de nossos irmãos a respeito dos 
Sacramentos. Tais acusações são feitas com facilidade, mas não tão 
facilmente provadas. Confio especialmente que meus irmãos mais jovens 
as tratarão com perfeita indiferença e despreocupação. Não sei de que me 
admirar mais, se da falta de vergonha ou da ignorância dos que as 
levantam. 
 
Os que friamente dizem que os membros do partido evangélico não 
são verdadeiros membros da Igreja supõem que não sabemos ler? Imagi-
nam que não podemos compreender o significado direto de um texto? 
Acaso acham que podem nos convencer de que nossas posições 
doutrinárias não podem ser encontradas nos Artigos, na Liturgia e nas 
Homilias, e nos escritos dos principais teólogos de nossa Igreja, até os 
dias de Carlos I? Acaso imaginam, por exemplo, que não sabemos que a 
Mesa da Comunhão raramente era posta no extremo leste do templo até 
os dias de Laud, mas ficava no presbitério, como uma mesa, e que Ridley 
a chamava especialmente de “o Balcão do Senhor”19? Temo, porém, que 
eles presumam que possuímos as tendências iletradas de nosso tempo. 
Bem sabem que a leitura de muitos dos evangélicos raramente vai além 
de jornais e revistas. 
 
 
19 É fato que a Mesa da Comunhão na Catedral de Gloucester foi disposta como um altar, encostada à 
parede leste do presbitério, pelo próprio Laud, quando era Deão de Gloucester, em 1616. Também é 
fato que o Bispo Miles Smith, então Bispo de Gloucester, aborreceu-se tanto com a mudança que 
declarou que não tornaria a entrar na Catedral até que a Mesa fossetrazida de volta a sua posição 
anterior. E manteve sua palavra, não adentrando os muros da Catedral até que foi enterrado nela em 
1624. 
Observemos os termos empregados pelo Bispo Ridley em suas injunções ao clero da Sé de Londres. 
Ao enunciar razões para a remoção dos altares e sua substituição por mesas, ele diz: “A serventia de 
um altar é sacrificar sobre ele. O uso de uma mesa é servir aos homens para que nela comam. Agora, 
quando nos achegamos à Mesa do Senhor, para que vimos? Para tornar a sacrificar Cristo e crucificá-
lo novamente, ou para nos alimentar dele que foi uma vez crucificado e oferecido por nós? Se vimos 
nos alimentar dele, para espiritualmente comer seu corpo e espiritualmente beber seu sangue, que é o 
verdadeiro sentido da Ceia do Senhor, então ninguém pode negar que a forma de uma mesa é mais 
adequada do que a forma de um altar. Cf. Foxe’s acts and mon., vol. VI, Seeley‟s Edition, p. 6. 
 
 
 
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20 
Digo com intrepidez que, no que tange à verdadeira, honesta e con-
sciente membresia na Igreja da Inglaterra, o partido dos evangélicos não 
precisa temer a comparação com qualquer outra seção do espectro de 
nossa Igreja. Podemos seguramente desafiar qualquer justa investigação e 
inquérito. Outros subscreveram os Trinta e Nove Artigos ex animo et bona 
fide20? Nós também. Outros declararam sua total concordância com a 
Liturgia? Nós também. Outros empregam a Liturgia, nada acrescentando 
ou omitindo, com reverência, solenemente e em voz audível? Nós também. 
Os outros são obedientes a seus Bispos? Nós também. Trabalham os 
outros pela prosperidade da Igreja da Inglaterra? Nós também. Os outros 
valorizam as prerrogativas da Igreja da Inglaterra e deploram separações 
desnecessárias? Nós também. Os outros honram a Ceia do Senhor e 
recomendam-na à atenção de todos os ouvintes crentes? Nós também. 
Mas nós não admitiremos que um homem tem obrigação de seguir o 
Arcebispo Laud e se tornar meio romanista para ser membro da Igreja. 
Somos nós os verdadeiros high churchmen, e não high churchmen roman-
istas. E a melhor prova de nossa membresia na Igreja é o fato de que, 
para cada um dos nossos que deixou a Igreja da Inglaterra para as igrejas 
Dissidentes, podemos nomear dez do partido High Church que deixaram a 
Igreja da Inglaterra e se foram para Roma. 
 
Não! Os evangélicos da Igreja não precisam se comover com a 
acusação de que não são verdadeiros membros. Homens ignorantes e 
desavergonhados podem fazer tais acusações, mas homem nenhum, 
senão os rasos e iletrados, crerão neles. Quando aqueles que as levantam 
responderem à obra do Deão Goode sobre a Eucaristia, bem como às 
outras obras sobre o Batismo e a Regra de Fé, aí será tempo de pre-
starmos atenção ao que dizem. Até lá, porém, podemos confiar no con-
selho dado aos judeus por Ezequias a respeito das virulentas acusações 
de Rabsaqué: “não as respondais”. 
 
3. Em último lugar, permitam-me expressar uma sincera esperança 
de que ninguém que leia este trabalho se deixe expulsar da Igreja da 
Inglaterra pela ascensão da atual maré de ritualismo e pela aparente 
decadência do grupo evangélico. Lamento que deva haver necessidade de 
proferir este aviso, mas estou certo de que não é desmotivado. 
 
Bem posso compreender os sentimentos que afetam muitos 
atualmente. Vivem, talvez, em uma paróquia onde o Evangelho nunca é 
pregado, onde doutrinas e práticas romanistas sobre a Ceia do Senhor 
enlevam todos à sua volta; onde, de fato, estão sozinhos. Semana após 
semana, mês após mês, ano após ano, nada ouvem senão a mesma batida 
ladainha sobre “Santa Igreja, Santo Batismo, Santa Comunhão, santos 
sacerdotes, santos altares, santo sacrifício”, até que fiquem enjoados da 
palavra “santo” e o domingo se torna um verdadeiro enfado para suas 
almas. E então vem o pensamento: “por que não deixar a Igreja da Ingla-
 
20 “De alma (sinceramente) e em boa-fé” (N.T.). 
 
 
 
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21 
terra de uma vez? Que poderá haver de bom em uma igreja assim? Por 
que não me tornar um Dissidente ou um dos Irmãos de Plimouth?”. 
 
Agora desejo oferecer um afetuoso aviso a todos que se encontram 
em tal estado mental. Peço-lhes que considerem bem o que farão, e 
escutem o conselho do oficial de Éfeso, “Nada façais apressadamente”. 
Peço-lhes que exercitem a fé e a paciência, e que, de qualquer forma, 
aguardem antes de partir; orem muito, leiam muito suas bíblias e estejam 
certos de que fizeram tudo o que estava a seu alcance para corrigir o que 
está errado. 
 
É uma solução fácil e barata deixar uma Igreja quando vemos males 
à nossa volta, mas não é sempre a mais sábia. Derrubar uma casa porque 
a chaminé está entupida; cortar fora uma mão porque temos um corte no 
dedo; abandonar um navio porque tem um vazamento e está fazendo um 
pouco de água; tudo isso é de uma impaciência pueril. Será, porém, a 
atitude de um sábio abandonar uma Igreja porque as coisas em nossa 
própria paróquia, e sob nosso próprio ministro naquela Igreja, estão 
erradas? Respondo decididamente, e sem hesitar: Não! 
 
Não é tão certo quanto parece que as coisas se corrigem ao se deixar 
a Igreja da Inglaterra. Cada homem conhece os defeitos de sua própria 
casa, mas não conhece os da casa de outrem até que se mude para ela, e 
talvez descubra que está pior agora do que antes de se mudar. Muitas 
vezes há chaminés entupidas, ralos que não drenam, infiltrações, portas 
que não se fecham, janelas que não se abrem, tanto na primeira quanto 
na segunda casa. Nem tudo está perfeito entre os Dissidentes e os Irmãos 
de Plymouth. Podemos descobrir, às nossas custas, se nos unirmos a eles 
por desgosto com a Igreja da Inglaterra, que apenas trocamos um mal 
pelo outro, e que a chaminé está entupida tanto na capela quanto na 
igreja. 
 
É bem certo que um leigo sensato e bem instruído pode fazer um 
bem imenso à Igreja da Inglaterra; pode barrar muito mal e promover a 
verdade de Cristo, se ele firmar sua posição e usar todos os meios legais. 
A opinião pública é muito poderosa. A exposição de desvios extremos de 
conduta tem um grande efeito. Os Bispos não podem ignorar por comple-
to os apelos do laicato. Pelo muito importunar, mesmo os mais cautelosos 
ocupantes do banco dos Bispos podem ser movidos à ação. A imprensa 
está aberta a todo homem. Em suma, há muito a ser feito, embora, como 
tudo o que é bom, possa causar muito problema. E, quanto à alma de um 
homem, deve estar em algum lugar estranho no mapa se não puder ouvir 
o Evangelho em alguma Igreja próxima. Na pior das hipóteses, ele tem 
sua Bíblia, o trono da graça e o Senhor Jesus Cristo sempre perto de si 
em seu próprio lar. 
 
Digo isto como alguém que é chamado um low churchman, como al-
guém que sente uma justa indignação contra o proceder romanizante de 
muitos dos clérigos em nosso próprio tempo. Lamento o perigo causado à 
 
 
 
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22 
Igreja da Inglaterra pelo ritualismo atual. Lamento pelos muitos que se 
fizeram retirar em desgosto do pálio de nossa Sião. Mas low churchman 
como sou, sou membro da Igreja21, e estou ansioso por que ninguém seja 
induzido a fazer coisas insensatas e apressadas por causa do proceder a 
que me referi. Enquanto tivermos verdade, liberdade e uma confissão de 
fé inabalada na Igreja da Inglaterra, estarei convicto de que o caminho da 
paciência é muito melhor que o da secessão. 
 
Quando os Trinta e Nove Artigos forem alterados; quando o Livro de 
Oração for revisado com padrões romanistas e entupido de papismos; 
quando a Bíblia for retirada da estante de leitura; quando o púlpito for 
fechado ao Evangelho; quando a missa for oficialmente restaurada em 
cada paróquia por Ato do Parlamento; quando, de fato, nossa presente 
ordem de coisas na Igreja da Inglaterra for alterada por lei, e quando a 
Rainha, os Lordes e os Comuns determinarem que nossasparóquias se 
entreguem a procissões, incensos, cruzes, imagens, estandartes, flores, 
paramentos esplendentes, veneração idólatra do Sacramento da Ceia do 
Senhor, orações murmuradas, leituras apócrifas, sermões curtos, secos e 
sem substância, gestos e posturas afetados, prostrações, persignações e 
coisas do tipo; quando estas coisas se derem por mando e autoridade da 
lei, então será o tempo de deixarmos todos a Igreja da Inglaterra. Então 
poderemos nos levantar e dizer a uma voz: “Vamos embora, porque Deus 
não está aqui.” 
 
Até esse dia, contudo (e Deus nos livre de que ele chegue; mas se 
chegar, haverá muitos bons que partirão), fiquemos firmes, e lutemos pela 
verdade. Não desertemos nossos postos para evitar aborrecimentos, 
saindo para o agrado de nossos adversários e arruinando nossos planos 
para evitar uma batalha. Não! Em nome de Deus, lutemos, ainda que 
sejamos como os 300 de Termópilas: poucos conosco, muitos contra nós e 
traidores de todos os lados. Prossigamos na luta, e batalhemos sinceros 
pela fé uma vez entregue aos santos. 
 
A boa nau da Igreja da Inglaterra pode ter algumas tábuas podres. A 
tripulação pode, muitos deles, ao menos, ser inútil e amotinada, e indigna 
de confiança. Mas ainda há fiéis entre eles. Ainda há esperança para o 
bom e velho vaso. O Grande Piloto ainda não a deixou. Portanto, per-
maneçamos a bordo. 
 
 
 
 
 
 
21 No original, churchman. [N.T.] 
 
 
 
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23 
 
ANEXO 
 
As seguintes citações podem interessar a alguns leitores: 
 
1. Arcebispo Cranmer, no Prefácio de sua Resposta a Gardiner, diz: 
“Eles (os romanistas) dizem que Cristo está corporalmente presente 
sob ou na forma do pão e do vinho; nós dizemos que Cristo não está ali, 
nem corporal, nem espiritualmente. Mas naqueles que dignamente 
comem e bebem do pão e do vinho, ele está espiritualmente, enquanto seu 
corpo permanece no céu. Não digo com isto que Cristo esteja espir-
itualmente presente, quer na Mesa, quer no pão e no vinho sobre ela 
dispostos, mas que ele se faz presente na ministração e na recepção desta 
Santa Ceia, segundo sua própria instituição e ordenança.” (Cf. Goode on 
the Eucharist, vol. II, p. 772). 
 
2. Bispo Ridley, em sua Disputation at Oxford, diz: 
 
“As circunstâncias das Escrituras, a analogia e proporção dos Sac-
ramentos e o testemunho dos fiéis Pais, deve nos dirigir quanto ao signifi-
cado das Sagradas Escrituras, no que concerne os Sacramentos. 
 
Mas as palavras da Ceia do Senhor, as circunstâncias das Escritu-
ras, a analogia dos Sacramentos e os escritos dos Pais, da maneira mais 
efetiva e direta nos provam um discurso figurado nas palavras da Ceia do 
Senhor. 
 
Portanto, um sentido e um significado figurado devem ser especial-
mente apreendidos nas palavras „Isto é o meu corpo‟.” (Cf. Goode on the 
Eucharist, vol. II, p. 766. 
 
3. Bispo Hooper, em sua Brief and clear confession of the Chris-
tian faith, diz: 
 
“Creio que todo este Sacramento consiste no seu uso; de modo que 
sem o uso correto, o pão e o vinho em nada diferem do pão e do vinho que 
são comumente utilizados; e, portanto, não creio que o corpo de Cristo 
possa ser contido, oculto ou incorporado ao pão, sob o pão ou com o pão; 
nem o sangue no vinho, sob o vinho ou com o vinho. Mas creio e confesso 
que o único corpo de Cristo está no céu, à destra do Pai, e que sempre, 
todas as vezes que usamos deste pão e deste vinho segundo a ordenança 
e instituição de Cristo, de fato e de verdade recebemos seu corpo e 
sangue. (Cf. Hooper’s Works. Parker Society‟s Edition, vol. II, p. 48. 
 
4. O Bispo Jewel diz: 
“Examinemos que diferença há entre o corpo de Cristo e o sacramen-
to de seu corpo. 
 
 
 
 
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24 
A diferença é esta: um sacramento é uma figura ou emblema; o corpo 
de Cristo é figurado ou representado em emblema. O pão sacramental é 
pão, não é o corpo de Cristo; o corpo de Cristo é carne, não pão. O pão 
está cá abaixo, o corpo está acima. O pão está na mesa, o corpo está no 
céu. O pão está na boca, o corpo está no coração. O pão alimenta o corpo; 
o corpo alimenta a alma. O pão se desfará; o corpo e imortal e não 
perecerá. O pão é vil; o corpo de Cristo é glorioso. Tal é a diferença entre o 
pão que é sacramento do corpo, e o corpo de Cristo propriamente dito. O 
sacramento é comido tanto por ímpios como por fiéis. O corpo só é 
recebido pelos fiéis. O sacramento pode ser comido para juízo; o corpo 
não pode ser comido senão para a salvação. Sem o Sacramento, podemos 
ser salvos; mas sem o corpo de Cristo, não temos salvação, não podemos 
ser salvos.” Jewel on the Sacrament. Parker Society‟s Edition, vol. IV, p. 
1121. 
 
5. Richard Hooker, em sua Ecclesiastical polity, diz: 
“A presença real do preciosíssimo corpo e sangue não deve ser 
procurada no Sacramento, mas naquele que dignamente o recebe. 
 
E com isto, a própria ordem das palavras de nosso Salvador concor-
da. Primeiro, „tomai e comei‟, então „isto é meu corpo, que é partido por 
vós‟. Primeiro, „bebei dele todos‟, e em seguida „este é o meu sangue da 
nova aliança, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados.‟ 
Não vejo de que modo se pode extrair das palavras de Cristo o quando e 
como seu pão seja seu corpo, ou o vinho seu sangue, senão no próprio 
coração e alma daquele que o recebe. Quanto aos Sacramentos, eles de 
fato exibem, mas de nada do que há escrito sobre eles podemos extrair 
que sejam ou contenham em si mesmos as graças que por eles, ou com 
eles, praza a Deus conceder.” Hooker, Eccl. Pol., livro V, p. 67. 
 
6. Waterland diz: 
“Os pais bem compreendem que, para fazer do corpo natural de Cris-
to o real sacrifício da Eucaristia não seria apenas absurdo à razão, mas 
altamente presunçoso e profano; e que fazer dos sinais externos um 
sacrifício propriamente dito, um sacrifício material, seria de todo contrário 
aos princípios do Evangelho, degradando o sacrifício cristão em um 
sacrifício judaico, sim, e tornando-o muito mais baixo e mesquinho do 
que o judaico, tanto em valor quanto em dignidade. O modo correto, 
portanto, seria tornar o sacrifício espiritual, e não poderia ser diferente 
nos princípios do Evangelho.” Works, vol. IV, p. 762. 
“Ninguém tem autoridade de oferecer Cristo como sacrifício, quer re-
al, quer simbolicamente, senão o próprio Cristo; tal sacrifício é seu, e não 
nosso; oferecido em nosso favor, e não por nós, a Deus, o Pai.” Works, 
vol. IV, p. 753. 
 
 
 
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25 
_________________ 
ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA 
EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES. 
 
 
FONTE 
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Todo direito de tradução em português protegido por lei internacional de 
domínio público 
 
Tradução: Eduardo Henrique Chagas 
Revisão Geral: Armando Marcos Pinto 
Capa: Victor Silva 
 
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Evangelho, por qualquer meio adquirido, exceto por venda. É vedada a 
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