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AULA 5 GERENCIAMENTO DE RISCOS Prof. Thiago Ayres 02 CONVERSA INICIAL É possível ao gestor de projetos traçar ações que possibilitem ampliar oportunidades geradas por riscos positivos ou reduzir ameaças ocasionadas por riscos negativos? Essas ações podem impactar o projeto? Como realizar o planejamento de respostas aos riscos de forma a garantir o sucesso do projeto? É possível e recomendável realizar o planejamento de respostas aos riscos. Essa rota lhe auxiliará a empregar elementos práticos sobre respostas aos riscos. Abordaremos os tipos de respostas para riscos positivos e negativos, aprofundando o desenvolvimento de tais temas nas seções subsequentes. Veremos como elaborar respostas ao risco geral do projeto. Por fim, trabalharemos a elaboração de respostas de contingências aos riscos. CONTEXTUALIZANDO Até aqui finalizamos as análises qualitativa e quantitativa e, depois, chegamos a uma lista de riscos priorizada de acordo com sua probabilidade de ocorrência e impacto. Mas e agora? Já podemos finalizar o plano de riscos e iniciar a execução do projeto? Ainda não. Precisamos definir quais serão as respostas, bem como atribuir uma contingência aos riscos mais prioritários. Vamos aprender a fazer isso? TEMA 1 – TIPOS DE RESPOSTAS PARA RISCOS DO PROJETO Após as análises dos riscos e a priorização, qual é o próximo passo? Como se posicionar diante dos riscos? O caminho é buscar respostas para os riscos. As respostas aos riscos devem considerar as características de cada risco. Como já vimos, há dois tipos de riscos: positivos e negativos. Além de respostas para esses dois tipos, é importante planejar a contingência, as quais se caracterizam por serem implementadas apenas quando determinados eventos previamente previstos ocorrem. Segundo o Guia PMBOK® (Project Management Institute, 2017) para riscos positivos, os tipos de respostas podem ser: • escalar – quando existe uma oportunidade que está fora do escopo de projeto e excede a autoridade do gerente de projeto; • explorar – essa resposta normalmente é selecionada para oportunidades de alta prioridade, visando garantir que a oportunidade seja concretizada; 03 • compartilhar – envolve passar a responsabilidade de uma oportunidade para um terceiro. Normalmente envolve o pagamento de um prêmio; • melhorar – essa resposta é usada para aumentar a probabilidade de ocorrência ou impacto de oportunidade. O foco aqui é ficar atento a todas as causas do risco; • aceitar – a aceitação de um risco é reconhecer que ele existe, mas que não será implementada nenhuma ação. Essa estratégia é adotada para oportunidade de baixa prioridade. Ainda, de acordo com o Guia PMBOK® (Project Management Institute, 2017), os riscos negativos podem ter respostas como: escalar – quando existe uma ameaça que está fora do escopo de projeto e excede a autoridade do gerente de projeto; prevenir – é quando a equipe do projeto atua para eliminar uma ameaça; transferir – envolve passar a responsabilidade de uma ameaça para um terceiro. Normalmente envolve o pagamento de um prêmio; mitigar – envolve uma ação para reduzir a probabilidade de ocorrência ou do seu impacto; aceitar – a aceitação de um risco é reconhecer que ele existe, mas que não será implementada nenhuma ação. Essa estratégia é adotada para ameaças de baixa prioridade. O Van Haren Publishing (2006) destaca que uma correta definição da resposta aos riscos do projeto facilita a definição da estratégia de contingência. As respostas aos riscos mais prioritários normalmente possuem também uma estratégia de contingência associada. Essa estratégia define reservas que têm como objetivo resguardar o projeto de eventuais infortúnios que possam causar impacto no seu objetivo. TEMA 2 – DESENVOLVENDO RESPOSTAS A RISCOS POSITIVOS Os riscos não são, necessariamente, negativos, apesar de o termo ser usualmente utilizado com essa conotação. Os riscos positivos, também conhecidos como riscos de oportunidade, são capazes de trazer consideráveis benefícios ao projeto, se bem planejados e gerenciados. Agora que já compreendemos as possibilidades de respostas a riscos positivos, vamos aplicar esse conhecimento em um estudo de caso? 04 Figura 1 – Desenvolvendo respostas a riscos positivos . Vamos compreender na prática? Considere o projeto descrito a seguir e alguns riscos de oportunidades identificados. Vamos refletir sobre possíveis respostas a esses riscos. 2.1 Estudo de caso O Projeto analisado é o projeto Reciclar. Este projeto tem como principal objetivo incentivar a mudança de hábitos da comunidade em relação à destinação correta dos resíduos sólidos, integrando a educação ambiental a atividades escolares e públicas. Visa-se também incentivar a adoção de práticas sustentáveis para a comunidade, tendo como público-alvo, professores, alunos, membros da comunidade, empresas e órgãos públicos. O Projeto proporcionará experiências e instrumentos para uma prática interdisciplinar de educação ambiental e propiciará aos alunos e à comunidade oportunidades de aprendizagem sobre as relações entre os ecossistemas e as questões culturais, considerando o ambiente onde a escola, o bairro e a cidade encontram-se inseridos, respeitando suas peculiaridades. (Andrade, 2014) 2.2 Análise do estudo caso Durante a identificação dos riscos aplicáveis ao projeto Reciclar, foram identificados alguns riscos de oportunidade, dentre os quais estão: 1) Participação do setor público no projeto, fato que pode implicar alocações de novos recursos; 2) Possibilidade de mobilização da comunidade, em prol do projeto, por parte do núcleo de agentes ambientais da região. Quais respostas poderíamos atribuir aos riscos de oportunidades apresentados? Como decidir entre escalar, explorar, compartilhar, melhorar ou aceitar o risco? O primeiro passo é levantar possíveis respostas. Reuniões de facilitação com a equipe do projeto ou opiniões especializadas são técnicas para o levantamento das alternativas de respostas aos riscos. Diante das possibilidades 05 de respostas, o próximo passo é verificar qual opção tem maior probabilidade de eficácia. Nesse caso, a equipe do projeto identificou as respostas a seguir como passiveis de maior probabilidade: 1. a) Risco: Participação do setor público no projeto, fato que pode implicar alocações de novos recursos. b) Tipo de risco: De oportunidade. c) Resposta ao risco: Elaborar projeto de captação de recursos para ser apresentado ao setor público. d) Tipo de resposta ao risco: explorar. 2. a) Risco: Possibilidade de mobilização da comunidade, em prol do projeto, por parte do núcleo de agentes ambientais da região. b) Tipo de risco: De oportunidade. c) Resposta ao risco: Estruturar grupo de diálogo com os agentes ambientais, tendo em vista atuar em ações que ampliem a motivação em colaborar de tais agentes. d) Tipo de resposta ao risco: Melhorar. Como podemos perceber na análise desse estudo de caso, as respostas aos riscos positivos de um projeto devem trazer elementos que potencializem a probabilidade de ocorrência desse tipo de risco. TEMA 3 – DESENVOLVENDO RESPOSTAS A RISCOS NEGATIVOS Acabamos de compreender a importância dos riscos positivos e de aprender como elaborar respostas para eles. E quanto aos riscos negativos? No tema 1, vimos que os tipos de respostas são diferentes entre os dois tipos de riscos. Vimos também que, para riscos negativos, temos cinco tipos de respostas: escalar, prevenir, transferir, mitigar e aceitar. Para aprofundarmos esse conhecimento, vamos dar continuidade ao nosso estudo de caso sobre o Projeto Reciclar. Porém, agora, pensaremos em respostas a alguns riscos negativos identificados: 1) Histórico de baixa incidênciade 06 programas de educação ambiental na comunidade; 2) Capacidade de gestão limitada por parte do núcleo de catadores de materiais recicláveis da região. Durante reunião com a equipe do projeto e de reuniões com alguns especialistas, as seguintes respostas aos riscos negativos foram identificadas. 1. a) Risco: Histórico de baixa incidência de programas de educação ambiental na comunidade. b) Tipo de risco: De ameaça. c) Resposta ao risco: Desenvolver ações de sensibilização da comunidade em relação à educação ambiental. d) Tipo de resposta ao risco: Mitigar. 2. a) Risco: Capacidade de gestão limitada por parte do núcleo de catadores de materiais recicláveis da região. b) Tipo de risco: De ameaça. c) Resposta ao risco: Estruturar e capacitar equipe de gestão para cooperativa de catadores de materiais recicláveis da região. d) Tipo de resposta ao risco: Prevenir. Conforme Montes (2017), todos os riscos negativos devem ter uma resposta claramente definida. Essa resposta pode ser simplesmente aceitar os riscos considerados pequenos ou então escalar, prevenir, transferir, mitigar os demais riscos. A resposta ao risco potencializa a probabilidade de o projeto ser concluído dentro da linha de base definida no planejamento. TEMA 4 – DESENVOLVENDO RESPOSTAS AO RISCO GERAL DO PROJETO Até então, conhecemos um pouco mais sobre os riscos individuais. Além desses riscos, existe outro grupo chamado de risco geral do projeto. No entanto, qual é a diferença entre risco individual e risco geral? Vamos às definições apresentadas pelo Guia PMBOK® 6.ª edição para compreender melhor: “Risco individual do projeto: evento ou condição incerta que, se ocorrer, provocará efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos do projeto. Risco geral do projeto: 07 efeito da incerteza do projeto no seu todo, decorrente de todas as fontes de incerteza.” (Project Management Institute, 2017). As definições deixam claro a diferença entre abrangência do impacto de um risco individual e de um risco geral na implementação do projeto. Vamos a um estudo de caso para aprofundarmos essa questão. 4.1 Estudo de caso Barbosa e Carvalho (2017) realizaram um estudo exploratório sobre a gestão de riscos em sistemas militares. Foram avaliados riscos de diferentes categorias no âmbito de três projetos. Consideraremos, para este estudo, o projeto B, descrito a seguir. O Projeto B realiza a modernização de viaturas blindadas. Na verdade, tais viaturas são de um modelo anterior, muito defasado tecnologicamente em relação aos carros atuais. Apesar de o problema ter sido estudado por vários anos, tais estudos foram bastante superficiais e não havia nenhuma decisão firme sobre as viaturas antigas até que uma ordem do escalão superior determinou o início às pressas do projeto, com duração inicial de 18 meses (60 viaturas). Algumas evoluções foram adotadas em relação ao formato do contrato. A incumbência de recolhimento e expedição das viaturas ficaram a cargo da empresa, que deveria seguir um cronograma acordado pelo Estado- Maior do Exército. A gestão da cadeia de suprimento também passou para o rol de encargos da contratada, que, na verdade, assumiu grande parte dos trabalhos, ficando a administração militar com encargos gerenciais e de fiscalização. Não há relatos de problemas quanto ao recolhimento de viaturas, entretanto a gestão de materiais foi vista com muita desconfiança em relação ao controle da aplicação de peças. Imposições restringiram seriamente as verbas destinadas a este projeto, e o processo licitatório selecionou pelo critério de menor preço. Há um custo estimado de US$ 120.000,00 por viatura, valor mais baixo do que o previsto para o Projeto A. Pelo caráter emergencial da verba empregada, não houve destinação de etapas de preparação e de desenvolvimento de protótipos. Apesar do escopo da modernização ser determinado a priori, com a troca de módulos completos, uma cláusula do contrato permitia a contratada propor modificações que deveriam ser estudadas e aprovadas pelo corpo técnico da Organização Militar. Isto provocou uma série de atrasos e a indefinição do escopo dos trabalhos até a decisão pelo cancelamento do contrato. Esta postura da empresa contratada foi entendida por alguns oficiais como uma iniciativa para redução de custos e adequação à verba prevista, causando bastante desconforto à administração militar. Por uma questão de amparo legal, que impedia o prolongamento do tempo de vigência do contrato, decidiu-se pelo seu cancelamento e a instalação de novo processo de projeto A ser iniciado no final de 2012. (Barbosa; Carvalho, 2017). 4.2 Análise do estudo de caso Vamos à análise do estudo de caso. Vejam que os autores relataram diferentes situações as quais, sob os aspectos do gerenciamento de riscos, 08 devem ser consideradas. Se organizarmos tais situações vinculando-as aos objetivos do projeto, será possível visualizar quais riscos são individuais. Consequentemente, conseguiremos vislumbrar possibilidades de risco geral do projeto. Para simularmos esse exercício, utilizaremos alguns temas utilizados por Barbosa e Carvalho (2017) para organizarem a análise. Alguns desses temas se transformarão em objetivos do projeto. Dessa forma, teremos como objetivos específicos do projeto: 1. Garantir as expectativas dos stakeholders (contexto PPP e militar); 2. Realizar aquisições e licitações do projeto; 3. Executar gestão do material. Diante dos objetivos específicos e situações de risco, o que fazer? Lembre- se de que nosso intuito é chegar a respostas ao risco geral do projeto e que isso decorre de todas as fontes de incerteza do projeto, trazendo à tona o efeito da incerteza para seu todo. Dessa forma, o mapeamento de vínculos entre os objetivos e situações de riscos poderá nos ajudar a identificar risco geral. A figura a seguir mostra essa vinculação. Figura 2 – Vínculo entre objetivos específicos e riscos Imaginem que todas as situações de riscos que ocorreram nesse projeto já fossem previstas desde sua fase de planejamento e que todo o conteúdo apresentado até agora tenha sido aplicado corretamente. Teríamos em mãos respostas específicas para cada risco. Por sua vez, cada risco impactaria em um objetivo, certo? 09 Agora, imaginem a probabilidade de todas as situações de riscos ocorrerem ao mesmo tempo e, consequentemente, impactarem todos os objetivos específicos do projeto. Estamos diante de qual cenário? De um cenário de risco geral do projeto. Foi exatamente o que ocorreu no caso estudado. Diante desse cenário, qual foi a resposta ao risco? O projeto B foi cancelado, tendo algumas de suas operações transferidas para outro projeto. A resposta a esse risco geral do projeto foi do tipo “prevenir”, aplicável em casos no qual o risco se torna inaceitável. TEMA 5 – DESENVOLVENDO RESPOSTAS DE CONTINGÊNCIAS AOS RISCOS O Guia PMBOK® 6ª edição define respostas de contingências aos riscos como respostas planejadas para serem executadas mediante condições predefinidas. Geralmente, o conjunto de respostas de contingências é denominado “plano de contingência” e, usualmente, é implementado em situações críticas. Voltemos ao caso “Projeto B”. Vejam que, ao se concretizarem diversos riscos que impactaram todos os objetivos do projeto ao mesmo tempo, a ação tomada foi cancelar o projeto e transferir as operações essenciais a outro projeto bem-sucedido. Essa transferência de operações poderia ocorrer rapidamente caso não estivesse planejada? É pouco provável. Entraves como indisponibilidade da equipe do projeto bem-sucedido para assumir mais compromissos ou entendimento contrário da área jurídica poderiam gerar atrasos consideráveis na transferência de competências entre projetos. Nesse caso, prever uma ação de contingência para cancelamento e transferência de competênciasem caráter emergencial, e apenas se o projeto fracassasse, foi essencial para que demais departamentos da organização já estivessem preparados e capazes de responderem ao risco efetivado. Eis a importância de planejar respostas de contingências aos riscos! FINALIZANDO Chegamos ao fim da aula 5, na qual conhecemos os tipos de respostas para riscos positivos e negativos e as desenvolvemos. Além disso, explicamos como uma correta definição da resposta aos riscos pode facilitar a definição da estratégia de contingência. 010 Na sequência, aprendemos a desenvolver respostas para o risco geral do projeto, mapeando os vínculos entre os objetivos e, assim, garantindo o alinhamento com as expectativas dos stakeholders. Por fim, vimos as respostas de contingências aos riscos e como elas podem contribuir para atingir os objetivos do projeto. Agora, vamos avançar para a reta final desse caminho. Até essa rota, adquirimos o conhecimento necessário para iniciarmos o aprendizado sobre como implementar e monitorar os riscos. Vamos em frente! 011 REFERÊNCIAS ANDRADE, P. de F. Modelo de apoio à decisão multicritério para seleção de escopos de projetos de investimento social privado. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção e Sistemas) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2014. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 31000: Gestão de riscos – Princípios e diretrizes. Brasília, 2009. BARBOSA, G. E. da C.; CARVALHO, M. M. Gestão de riscos em projetos: um estudo ex-post de projetos de material de emprego militar. Revista de Gestão e Projetos, 2017. DINSMORE, P. C.; SILVEIRA NETO, F. H. da. Gerenciamento de projetos e o fator humano. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualimark, 2012. MONTES, E. Introdução ao gerenciamento de projetos. São Paulo: Createspace Independent Publishing Platform, 2017. PMI – Project Management Institute. Gerenciamento de riscos do projeto. In: _____. Guia PMBOK: um guia de conhecimento em gerenciamento de projetos. 6. ed. Filadélfia: PMI, 2017. VAN HAREN PUBLISHING. Risk Management based on MoR, a management Guide. 2006.
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