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409-P01 J A N U A R Y 2 5 , 2 0 0 5 ____________________________________________________________________________________________________________ Caso LACC # 409-P01 é a versão traduzida para Português do caso # 404-087 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um gerenciamento eficaz ou ineficaz. Copyright 2005 President and Fellows of Harvard College. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de dados, usada em uma tabela de dados, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocopiada, gravada, ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. M I C H A E L B E E R R A K E S H K H U R A N A J A M E S W E B E R Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança Nossa crença afirma que o progresso não vem dos cínicos e duvidosos. É feito por quem acredita que tudo é possível. — Carly Fiorina, Presidente e CEO1 Podíamos ter ficado no oscilador de áudio (o primeiro produto da HP, de 1939). Era um bom negócio. Podíamos ter ficado na calculadora científica de bolso. Afinal, a HP inventou a categoria. Até hoje, há quem diga que podíamos ficar nas impressoras. Mas as ambições da HP sempre foram muito maiores. A união da HP e da Compaq é uma renovação das metas tradicionais da empresa, adaptadas aos novos tempos tecnológicos... Se fundir culturas corporativas é um desafio, a HP Way (a maneira de gestão HP) sempre foi corajosa o bastante para abraçar a mudança e flexível o bastante para absorvê-la. — Anúncio da HP promovendo a fusão2 Há, hoje, um perigo real de que a HP morra de coração partido. — David W. Packard (filho do cofundador)3 Em setembro de 2001, a Hewlett-Packard, encabeçada por Carly Fiorina, anunciou uma aquisição altamente controversa da Compaq Computer, que resultaria na maior guerra de procurações da história corporativa e numa batalha jurídica com Walter Hewlett, um membro do conselho da empresa e filho de um de seus fundadores. Fiorina acreditava que a aquisição era necessária para ajudar a reerguer duas empresas em dificuldades. Juntas, elas ocupariam o primeiro lugar - ou quase - em participação no mercado nos mais importantes segmentos da indústria de computadores. A transação também permitiria significativas economias de custos, em parte através de demissões. Fiorina acreditava que a aquisição seria a melhor opção estratégica para a HP e que faria avançar a transformação organizacional e cultural a que ela dera início na empresa dois anos antes. Embora admitisse que a fusão das duas organizações seria difícil e representaria um desafio a “HP Way”, estava confiante de que teria sucesso. Muitos investidores, analistas e funcionários, contudo, opunham-se veementemente ao negócio e o preço da ação da HP havia caído 18% depois do anúncio, em setembro do ano anterior. O CEO de Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 2 uma grande concorrente anunciou: “A imagem que vejo é a de uma colisão em câmera lenta entre dois caminhões de lixo”. Acrescentou um investidor: “É como pegar duas pedras e amarrar uma na outra para ver se flutuam”.4 Os funcionários, alguns dos quais já se referiam a ela como “Carly Motosserra” por causa dos cortes feitos antes da fusão, estavam desalentados. Hewlett, que acreditava que a fusão poderia causar sérios danos à empresa, não conseguira convencer o conselho a deixar a aquisição de lado. Quando Hewlett, dois meses depois do anúncio, publicou um comunicado opondo-se à transação, o preço da ação da HP subiu 17% e uma salva de palmas irrompeu em uma das fábricas. “Com essa transação vem algo que não queremos, colocamos em risco aquilo que já temos e comprometemos nossa capacidade de conseguir aquilo de que precisamos”, disse ele.5 Depois que a HP venceu por uma pequena margem uma votação entre os acionistas em março de 2002, Hewlett moveu uma ação alegando que a HP coagira um grande investidor institucional a votar pela aquisição e enganara os investidores, ocultando dados sobre as verdadeiras perspectivas da fusão. Surgiram diversas questões durante o debate sobre a aquisição da Compaq pela HP. Deveria a HP dobrar sua aposta na área de computadores pessoais, dado seu histórico como empresa inovadora, com uma cultura distinta e que sustentava o negócio? Se a HP continuasse no negócio de computadores pessoais, poderia permanecer sustentando e mantendo seus valores e/ou práticas nesse setor? Caso optasse por continuar no negócio utilizando a HP Way, seria Carly Fiorina a líder certa para a empresa e sua abordagem seria correta para a HP? Histórico da Empresa Bill Hewlett e Dave Packard, que haviam sido colegas em Stanford, fundaram em 1939 uma empresa que ficou conhecida tanto por suas práticas administrativas quanto por seus produtos confiáveis e inovadores.6 Sua cultura e suas práticas gerenciais, conhecidas como HP Way, eram progressistas e incluíam um foco mais voltado para os lucros do que para o crescimento de receita; trabalho em equipe, gestão de portas abertas, pleno emprego, práticas salariais igualitárias e horários de trabalho flexíveis. Todas essas práticas, por sua vez, estavam ligadas aos valores dos fundadores quanto à importância dos lucros e das pessoas. Em suas primeiras quatro décadas, a HP vendia principalmente equipamentos de teste e mensuração e foi nesta época que surgiu a HP Way. Estes produtos eram baseados em tecnologia de ponta desenvolvida na empresa e podiam ser vendidos com elevadas margens de lucro. Os compradores eram, de modo geral, engenheiros ou outras pessoas da área de tecnologia que deles necessitavam para aplicações profissionais. Na década de 1970, a HP lançou computadores e impressoras, primeiro para aplicação em negócios e, depois, para uso doméstico. A empresa algumas vezes enfrentou dificuldades na área de computadores, principalmente porque construir minicomputadores e, mais tarde, máquinas UNIX exigia uma abordagem diferente da usada no negócio de instrumentação. Os computadores exigiam grandes investimentos iniciais em P&D (pesquisa e desenvolvimento). Também exigiam que muitas divisões da HP (como as de software, chips e periféricos) trabalhassem juntas, algo que divergia do modo descentralizado que funcionava tão bem no negócio de instrumentação (a HP só entrou no mercado de computadores domésticos em meados da década de 1990 e a maior parte de suas atividades nos anos 80 e 90 era voltada para computadores de ponta e elevada margem de lucro). A empresa também começou a construir PCs de margem de lucro mais baixa no final da década de 1980. Os fundadores — e Packard em especial — demonstraram dúvidas quanto à possibilidade de o negócio de computadores de baixa margem ser uma boa opção para a HP (um executivo da divisão de computadores, recordando-se do começo da década de 1990, diz “Não ajudava muito tê-lo Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 3 [Packard] andando por aí e dizendo ‘Por que raios estamos neste negócio?“).7 Em meados da década de 1990, contudo, a HP era uma das principais empresas de tecnologia do mundo — líder de mercado tanto em impressoras quanto em computadoresUNIX, além de ser um potência em ascensão na área de PCs. Obtinha a maior parte de suas receitas e lucros na área de computadores. Ficando Bill Hewlett ativo na empresa até 1987 e Packard até 1994, a HP manteve uma forte consciência de seu passado (Packard abriu mão do posto de CEO em 1977 e nomeou John Young como seu sucessor). (Ver no Quadro 1 dados da demonstração de resultados da HP, nos Quadros 2 e 3 dados do segmento de atividade e, no Quadro 4, o desempenho histórico do preço de suas ações). A década de 1990 No começo dos anos 90, a HP contava com três principais áreas de atividade. A de instrumentos de teste e mensuração, onde a empresa começou, vendia diversos instrumentos de elevada margem a engenheiros, através de divisões altamente independentes da empresa. Era a que se mantinha mais fiel a HP Way e estava crescendo lucrativamente; porém, cada vez mais ia sendo tolhida pelas outras atividades da HP (para os fins deste estudo de caso, as áreas de equipamento médico, instrumentos analíticos e componentes eletrônicos da empresa serão consideradas como parte desta área de negócios). A unidade de computadores projetava e vendia principalmente sistemas computacionais UNIX de alto desempenho a empresas que não podiam arcar com o custo de mainframes da IBM, a principal concorrente da HP. Assim, da mesma forma que a unidade de instrumentação, a área de computadores da HP realizava intensa P&D e operava a margens elevadas. Mas os computadores eram sistemas muito mais complexos, exigiam investimento em P&D mais elevado e envolviam maior coordenação entre atividades técnicas e funções de negócios. No começo da década de 1990, os computadores domésticos entravam numa fase de crescimento acelerado enquanto setor, mais ainda não haviam se tornado uma parte significativa das atividades da empresa. A terceira atividade da HP, impressoras, seguia um modelo de negócio fundamentalmente diferente das áreas de instrumentação e de computadores. Na década de 1980, a HP vendia impressoras de ponta fabricadas pela empresa japonesa Canon e impressoras HP mais baratas que usavam tecnologia Canon. No final dessa década e com grande impulso nos anos 90, a HP passou a vender impressoras jato de tinta de tecnologia própria. As ofertas de produto e o marketing da empresa permitiram que conquistasse a liderança do setor de impressoras. Com o crescimento da base instalada, as vendas de consumíveis altamente lucrativos, como cartuchos de tinta, explodiram. O negócio de impressoras diferia dos outros produtos da HP no sentido de vender elevados volumes a baixo custo. Por causa de sua posição dominante no setor, a unidade de impressoras logo se tornou a principal geradora de lucros da empresa, apesar das menores margens unitárias. O foco de baixo custo do negócio de impressoras levou os engenheiros e vendedores das divisões de computadores e instrumentação a reclamar que a unidade de impressoras violava a crença dos fundadores em inovação. Dick Harborn, líder da divisão de impressoras, achava, contudo, que a inovação estava no modelo de negócio e não na tecnologia. “Eu sempre perguntava a (Bill) Hewlett e a Packard se estava infringindo de qualquer maneira a HP Way,” declarou. “E, todas as vezes, eles me garantiram, que eu estava totalmente de acordo com a HP Way se olharmos para seus princípios e não para suas práticas.”8 O faturamento da HP apresentou rápido crescimento (mais de 20% ao ano) entre 1992 e 1996, mas não sem preocupações com a crescente dependência de PCs de baixa margem e de lucros advindos das impressoras. Entre o começo da década de 90 e 1997, a HP deixou de constar apenas entre as 30 principais produtoras de PCs para se tornar a terceira, atrás da IBM e da Compaq. A Compaq, Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 4 contudo, logo viria a ser substituída pela Dell entre as três maiores. Estar neste grupo era fundamental no mercado de computadores pessoais porque muitos varejistas só trabalhavam com duas ou três marcas. Alguns executivos também acreditavam que os PCs serviam como produto de entrada para a venda de outros componentes de sistemas de computação. Afirmavam que seria difícil continuar a ser líder na venda de impressoras sem ter uma boa posição em PCs. Mas muitos executivos da unidade de impressoras discordavam. Acreditavam que ter uma unidade de computadores restringia a venda de impressoras através de outros fabricantes de PCs, como a Dell, que via a HP como concorrente. Enquanto as líderes do setor lutavam por participação no mercado, os preços declinavam. A margem bruta em PCs da HP caiu de 31% em 1992 para 19% em 1998. Ao entrar no ano de 1995, a HP debatia o futuro do setor de computadores e o papel que representaria nele. O que seria mais importante no futuro, computadores de alto padrão (como as máquinas Unix da empresa) ou computadores pessoais? O alto padrão provavelmente forneceria maiores margens e permitiria que a HP continuasse a desempenhar uma função de liderança em desenvolvimento de tecnologia. A divisão de computadores de ponta da empresa crescera 25% ao ano desde 1992, mas havia questionamentos sobre se o mercado para computadores como os que a empresa fazia continuaria a sustentar as altas taxas de crescimento de vendas nos próximos anos. O mercado de PCs, por outro lado, provavelmente se tornaria uma disputa acerca de qual concorrente forneceria o computador mais barato, argumentava Hackborn, que havia prosperado com uma abordagem de baixo custo no mercado de impressoras. Se a HP tivesse sucesso nesse segmento, provavelmente operaria com menores margens, mas vendas unitárias potencialmente muito maiores. A dúvida não se referia tanto a estar ou não no mercado de computadores de ponta; isso já era fato para a HP. A questão era se a empresa deveria continuar a expandir sua área de PCs, o que traria implicações econômicas e, possivelmente, culturais. Finalmente, a HP decidiu concentrar-se em PCs e atribuiu a Rick Belluzzo a responsabilidade sobre todas as atividades relacionadas a computadores.9 Em meio a todas estas discussões, o CEO Lew Platt formou uma equipe de executivos para examinar o enorme porte da empresa e os problemas que essas dimensões poderiam vir a criar. O crescimento anual da HP vinha sendo de 20%, em média, desde a década de 1950 — uma taxa e uma duração de crescimento que superavam as de qualquer outra empresa. Se a tendência se mantivesse, a HP atingiria US$ 80 bilhões em 2000 e US$ 250 bilhões em 2006. Platt considerava que tal crescimento contínuo era improvável e procurou entender o que havia acontecido com outras empresas de grandes dimensões, especialmente as que superavam US$ 40 bilhões. O estudo revelou que apenas a Wal-Mart atingira US$ 50 bilhões “sem enfrentar uma interrupção profunda e permanente” do crescimento. Outras empresas passaram por grandes quedas de lucros, capitalização de mercado e emprego. O executivo que encabeçou o estudo relatou: “A interrupção de crescimento foi o fim das empresas como eram conhecidas. Só faltou mudarem o nome”. O relatório preocupou Platt e a diretoria da HP, que tinham adiante grandes decisões estratégicas a tomar para impedir que a empresa tivesse o mesmo destino. A HP teria que considerar desinvestir em algumas unidades existentes e, talvez, adquirir outras.10 No final da década de 1990, duas mudanças da dinâmica do setor fizeram com que os competidores reavaliassem suas estratégias e organizações. Em primeiro lugar, os grandes compradores, especialmente do lado comercial, queriam que seus fornecedores oferecessem soluções de tecnologia,o que significava manter alto nível de coordenação entre as atividades comerciais. A IBM, uma das maiores concorrentes da HP, havia implementado com sucesso uma estratégia de solução ao agrupar computadores, software e outros produtos e serviços para atender à necessidade que os clientes tinham de soluções integradas. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 5 A segunda mudança envolvia o fantástico crescimento da Internet, cujos usuários queriam se comunicar e realizar transações on-line, estivessem em suas mesas ou na rua. Isso significava que os fornecedores, como a HP, precisavam desenvolver e vender produtos que atendessem a essas necessidades e se comunicassem efetivamente com os dispositivos oferecidos por outros fabricantes. Além de produtos para usuários individuais, havia um grande mercado para produtos como os roteadores e servidores que formavam o backbone da Internet. Uma dificuldade enfrentada pelo setor era que, apesar do crescimento da Internet, nem sempre era claro como os usuários iriam querer usá-la ou conectar-se à rede. A Internet também permitiu que as empresas vendessem diretamente, on-line, a consumidores. A Dell havia aberto o caminho do desenvolvimento de um modelo de negócio que girava em torno da venda de computadores e produtos correlatos através da Internet. Com isto, gozava de uma estrutura de custo mais leve que seus concorrentes. Naquela época, a HP não vendia pela Internet. A Dell, fundada em 1984, sempre havia sido vendedora direta de seus próprios produtos — não usava intermediários e seus produtos não eram exibidos em lojas. A Internet permitiu que a Dell montasse seus computadores sob medida e nunca mantivesse um estoque de produtos acabados. O desempenho da HP começou a fraquejar no fim da década de 1990. A concorrência da Dell e a crise econômica asiática fizeram com que a empresa não atingisse suas metas trimestrais de lucros ou receitas durante grande parte dos anos 1997 e 1998. Os lucros da HP vinham primordialmente do setor de impressoras, enquanto o de computadores ou empatava, ou perdia dinheiro. Enquanto isso, o negócio de testes e mensuração, embora apresentasse crescimento com lucro, estava em meio ao processo de mudar seu foco do setor de defesa para o de telecomunicações e de instrumentos individuais para sistemas, ao mesmo tempo em que se transformava para acomodar estas mudanças. No entanto, o setor diminuía cada vez mais frente as outras atividades da empresa. A falta de presença da HP no explosivo mercado da Internet era uma preocupação crescente. A Liderança da HP na Década de 1990 As dificuldades da HP em seu setor de computadores levaram os fundadores da empresa a demitir John Young do cargo de CEO em 1992. Eles pretendiam que Hackborn acumulasse os cargos de CEO e presidente. Hackborn havia sido gerente de engenharia da empresa, encarregado de projetar computadores no começo dos anos 1970. Aparentemente, teria se frustrado tanto com as “reuniões e debates estratégicos intermináveis” da sede em 1977 que decidiu deixar o Vale do Silício. Em 1979, encabeçava uma divisão da HP no estado de Idaho, quando decidiu explorar uma nova tecnologia de impressão que a empresa havia desenvolvido. Logo se tornaria o líder da bem-sucedida unidade de impressoras. Hackborn era considerado tanto um visionário quanto um grande gestor no dia a dia. Nesse meio tempo, lhe fora oferecido o cargo de diretor de operações da Microsoft, mas ele recusou, da mesma forma que recusou os cargos máximos da HP, apesar de grandes esforços dos fundadores.11 Incapazes de convencer sua primeira opção, os fundadores voltaram-se para Lew Platt e o nomearam CEO, ficando Packard como presidente da empresa. Platt ocupara cargos executivos em engenharia e operações ao longo dos 25 anos anteriores. Era um forte defensor da HP Way, acreditando que a mão de obra altamente comprometida da empresa facilitava todos os aspectos de gerenciamento do negócio. Frente a um relatório especial que dizia que a HP estava perdendo seu “toque humano”, Platt passou os primeiros anos em seu novo cargo redefinido a HP Way como um conjunto de valores, mas não necessariamente de práticas tradicionais, que haviam se tornado obsoletas por conta da competição mais acirrada. Em alguns círculos, ficou conhecido como o “guardião da HP Way”. Havia quem reclamasse de que Platt se dedicava demais aos “aspectos externos da filosofia dos fundadores — os benefícios, a diversidade, o serviço comunitário — e menos Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 6 do que devia ao aspecto empresarial dos ideais dos fundadores”. Um executivo observou que todas as medidas tinham o mesmo peso: “Podia até ser que sua unidade estivesse indo para o buraco, mas era como se estivesse tudo bem porque a segurança laboral estava ótima”.12 Segundo outro comentário, “Bill e Dave eram caras bem durões. Mas, por alguma razão, isto se perdeu. Precisávamos ter cuidado para não ferir os sentimentos das pessoas”.13 Enquanto CEO, Platt delegou o estabelecimento da direção estratégica aos líderes de cada unidade de negócio. Mas estes líderes muitas vezes não conseguiam concordar a respeito do melhor caminho para a empresa. A falta de consenso causou uma deriva estratégica com respeito à questão se a HP deveria ou não estar no mercado de PCs e quanto a sua abordagem a Internet, levando a empresa a uma reação tardia. Hackborn concluiu que não conseguiria trabalhar para Platt e aposentou-se cedo, em 1993. Mas curvou-se aos desejos de Packard e entrou para o conselho de diretores da empresa.14 Platt logo nomeou Belluzzo, um forte aliado de Hackborn, para substituí-lo na liderança dos negócios de computadores pessoais e de impressoras. Platt tornou-se presidente da HP em 1993, quando Packard se aposentou aos 81 anos de idade. Belluzzo virou um defensor de mudanças e fez diversas reformas para enfrentar os problemas com que a empresa se deparava. A seu pedido, a HP gastou US$ 1,2 bilhão em ações em 1997 para adquirir a VeriFone, uma fabricante de produtos de software e hardware para pagamentos eletrônicos e, com isso, recuperar terreno no mercado da Internet. A empresa também reorganizou suas atividades de vendas de computadores como uma só unidade, numa tentativa de superar as deficiências causadas por fazer com que cada divisão buscasse independentemente sua clientela. Belluzzo queria fazer mudanças mais dramáticas, mas Platt, que não havia definido claramente o futuro estratégico da HP, discordava. Especulava-se que Belluzzo um dia substituiria Platt. Disse um membro do conselho que “Belluzzo queria grandes mudanças e Lew, não. Lew o afastou e isso foi mais transparente para o conselho do que suspeito que Lew pensa”. Belluzzo saiu da HP no começo de 1998 para tornar-se presidente e CEO de uma concorrente, a Silicon Graphics, embora sua estada ali tenha sido curta por não ter conseguido promover uma virada da empresa. A saída de Belluzzo forçou Platt a assumir temporariamente a liderança de computadores e de impressoras. No verão de 1998, Hackborn, o defensor de Belluzzo, também decidiu renunciar ao seu cargo no conselho. Mas Platt conseguiu convencê-lo a ficar, prometendo tomar atitudes fortes para consertar a empresa. Hackborn manteve uma grande força dentro do conselho.15 Nesse período, a McKinsey &Company foi contratada para ajudar a HP a examinar suas opções estratégicas. A consultoria propôs cindir as atividades não relacionadas a computadores e impressoras. Entre elas estavam os negócios de testes e instrumentos, equipamentos médicos, instrumental analítico e componentes eletrônicos. Juntas, essas unidades respondiam por 16% da receita total, contra 23% em 1993 e 31% em 1990 (entre 1993 e 1998 o negócio de computadores e impressoras cresceu a uma taxa anual composta de 20%, enquanto para os demais negócios da HP essa taxa foi de 10%). A McKinsey também sugeriu dividir as atividades de computadores e impressoras em duas empresas, mas o conselho decidiu que elas deveriam continuar juntas. No começo de 1999, contudo, a HP anunciou que iria cindir suas áreas de instrumentos e outras correlatas. A empresa resultante ficou conhecida como Agilent Technologies, ao passo que as unidades de computadores e impressoras mantiveram o nome HP. Anos depois, muitos observadores acreditavam que a Agilent se mantivera mais fiel a HP Way. Isso levou um antigo executivo a comentar que “se a Agilent se chamasse HP, todos estariam felizes”.16 Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 7 Uma Mudança de Liderança No fim de 1998, Lew Platt passou a dizer aos membros do conselho da HP que não estava certo de ter as respostas para os problemas da empresa ou a visão para levar a companhia adiante. Foi contratado um consultor para fazer uma revisão da cultura da HP. Numa assembleia do conselho realizada em janeiro de 1999, o consultor relatou que “a HP estava muitíssimo bem em termos de integridade corporativa e lealdade dos quadros, mas havia perdido sua agressividade e grande parte de sua autoconfiança”. Além disso, quando as pessoas falavam em respeitar a HP Way, muitas vezes o que estavam fazendo era “proteger seus próprios interesses”. “Gerenciar a empresa era o equivalente corporativo de tentar tocar um rebanho de gatos”. Nesta reunião, o conselho concordou em encontrar um novo líder e chegou a um consenso sobre diversas características que esta pessoa deveria ter: carisma, capacidade de elevar o perfil da empresa, experiência em marketing e vendas e força suficiente para desafiar a cultura da HP. Durante os meses seguintes, o conselho considerou diversos e fortes candidatos internos, mas acabou concluindo que todos estavam aquém das expectativas. A maioria deles carecia de experiência suficiente, de resultados consistentes, ou de “combustão”. Ao recorrerem a um CEO de fora, muitos diretores acreditavam que poderiam reconquistar a confiança dos investidores, dos analistas de Wall Street e da mídia de negócios — todos que, na época, vinham criticando ininterruptamente a HP.17 Com isto, o conselho passou a procurar alguém de fora da empresa — um mea culpa importante para uma companhia conhecida por sua cultura e seu estilo gerencial protetor. Havia poucas pessoas que já tivessem gerido uma empresa tecnológica com o porte e a força da HP e qualquer candidato qualificado para o cargo provavelmente teria muitas opções de ações de seu empregador atual que precisariam ser compensadas. Surgiram diversas questões quanto ao processo de busca. A principal talvez fosse o que o novo CEO deveria fazer com a HP Way. Um membro da comissão de recrutamento queria eliminar partes dela, enquanto outro queria acabar de vez com a HP Way.18 Em maio de 1999, o conselho considerou Carly Fiorina, uma executiva da Lucent Technologies, como a principal candidata (obs.: John Young, ex-CEO da HP, era membro do conselho da Lucent na época em que Fiorina foi escolhida). Carly Fiorina Na graduação, Carly Fiorina estudou história medieval e filosofia em Stanford, onde criou a reputação de ser inteligente, excelente aluna e extremamente dedicada, além de alguém que enfrentava o pensamento convencional e gostava de desafios intelectuais. Na época, tinha pouco interesse em negócios, mas ocupou diversos cargos de meio período durante e depois da faculdade, inclusive um verão passado como secretária na HP. Diversos anos depois de se formar, Fiorina conquistou um MBA pela Universidade de Maryland. Enquanto estudava lá, escreveu uma tese criticando um estudo seminal sobre uma fábrica de pijamas que tinha usado a participação da força de trabalho para introduzir mudanças nos processos empresariais. O estudo concluía que a participação havia melhorado a moral e a produtividade. Fiorina sustentava, contudo, que a produtividade tinha aumentado, na verdade, por conta de um maior treinamento laboral e da remuneração atrelada ao desempenho. Este estudo era uma prévia da filosofia gerencial que Fiorina traria para a Hewlett-Packard — uma empresa conhecida pela gestão participativa e por um sistema de remuneração igualitário.19 Após formar-se, Fiorina foi aceita num programa altamente competitivo de desenvolvimento gerencial da AT&T, em 1979. Na época, a empresa tentava se preparar para uma nova era em que deixaria de ser um monopólio sem desafiantes. Fiorina causou impressão desde o começo. Seus colegas a descreviam como uma pessoa inteligente, confiante, franca, ambiciosa, difícil de abalar, com Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 8 enorme força de vontade, bem vestida (ternos femininos) e popular entre seus subordinados. Descreviam-na, ainda, como alguém que parecia decidida a galgar a pirâmide corporativa. Com o passar do tempo, contudo, outras pessoas enxergaram um lado diferente de Fiorina — havia quem achasse que se autopromovia e que atingir metas era mais importante para ela do que a lealdade para com amigos e colegas. Durante toda a sua carreira, as pessoas desenvolveram opiniões muito fortes sobre ela, fossem positivas ou negativas.20 Na AT&T, Fiorina procurava por cargos difíceis e desafiadores onde pudesse realizar coisas consideradas impossíveis por outros. Ela ficou conhecida como alguém que conseguia enxergar o panorama macro e fazia o que fosse necessário para obter sucesso — fosse trabalhar duro, trazer especialistas de fora ou gerenciar a imprensa. Seu trabalho lhe rendeu uma prestigiosa Sloan Fellowship no Massachusetts Institute of Technology no final da década de 1980. Depois do ano passado no MIT, ela aceitou um emprego na Divisão de Sistemas de Rede da AT&T — “certamente o lugar menos hospitaleiro do sistema Bell para uma mulher formada em marketing. A divisão era quase toda formada por homens e as disciplinas que importavam eram engenharia e produção”.21 Enquanto esteve nos Sistemas de Rede, Fiorina continuou a construir sua reputação de alguém que lutava constantemente para atingir elevadas metas de crescimento das vendas, mesmo aquelas que alguns colegas consideravam inatingíveis. Em 1994, recebeu diversas promoções e acabou se tornando líder de vendas para a América do Norte e ficando conhecida como a maior vendedora da empresa.22 Uma livro recente sobre Fiorina na HP observa : Ninguém trabalhava mais para entender o cliente, o mercado ou a política inerente a cada grande transação. Ela sabia como todos os produtos e serviços da empresa podiam ser reunidos. Sabia qual preço ou pacote de financiamento seria necessário para fechar o negócio. Era a única pessoa que dispunha do carisma, dos contatos e da determinação necessários para tanger todas as capacidades dos Sistemas de Redede encontro às necessidades de um cliente. “Ela era o elemento de coesão”, segundo um antigo colega.23 Quando a AT&T anunciou, em 1995, que iria cindir sua unidade de equipamentos, inclusive o setor Sistemas de Rede, e rebatizá-lo como Lucent Technologies, Fiorina representou um papel central na implementação do negócio. Foi ela quem liderou o road show (caravana) para vender a ideia a investidores e quem brilhou como apresentadora. Disse o então CEO da AT&T: “Eu tinha grande respeito por todos os meus altos administradores, mas sempre achei que ela estava mais próxima dos clientes e das pessoas dentro da empresa. Ela tinha a capacidade de julgamento para saber como eles reagiriam às coisas mais do que o restante de nós ali no topo”. Parte da função de Fiorina na Lucent era transformar a cultura de “lentidão” herdada da AT&T em algo capaz de fazer o negócio crescer a taxas de dois dígitos.24 No outono de 1996, Fiorina foi escalada para encabeçar a divisão de produtos de consumo da Lucent, que estava em dificuldades. Foi seu primeiro cargo de gestão geral. Ela agora tinha plena responsabilidade pelo desempenho de uma divisão, mas as coisas não funcionaram muito bem. Para lidar com os problemas da unidade, ela concordou com um joint venture (empreendimento conjunto) proposto pela Philips Electronics. Foi, em muitos sentidos, uma transação semelhante à aquisição da Compaq pela HP, que aconteceria alguns anos depois — duas empresas de fraco desempenho reunidas em uma tentativa de revitalizarem-se e ganhar eficiências. Um colega lembra-se de que Fiorina reuniu sua equipe para debater se o negócio fazia sentido; mas, na verdade, o que ela queria era lhes vender a ideia. Segundo um membro da equipe, “Carly é uma ótima formadora de consenso, desde que o consenso seja o que ela quer”. O joint venture foi oficializado em meados de 1997, mas no começo de 1998 havia se tornado uma das piores do setor. A Philips perdeu US$ 1,5 bilhão antes de desfazer o negócio no começo daquele ano. Pouco depois do anúncio, porém, Fiorina se foi para Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 9 ocupar um cargo na sede corporativa da Lucent. Segundo um executivo da Philips, “Acho que ela (Fiorina) faz discursos demais sem conhecer suficientemente os detalhes de sua organização. Ela não tem ideia do quanto uma organização pode ser resistente a mudanças. A Lucent nunca mudou de verdade; ainda era a velha AT&T. Acho que ela tem boas intenções e que suas ideias são razoáveis ou não de todo ruins. Mas ela não faz a menor ideia daquilo que realmente acontece dentro de uma empresa”. Como observou um consultor do setor, “Fiorina era considerada uma pessoa excepcional porque defendia mudanças. Mas as mudanças que ela defendia só iam até certo ponto”.25 Fiorina teve desempenho muito melhor em posições ocupadas posteriormente na Lucent. Primeiro, ajudou o CEO da empresa como ponto de contato com a Delta Consulting para a transformação da empresa. Isto envolveu uma reorganização em 11 unidades para diminuir a burocracia e a criação de um ambiente empreendedor. Fiorina tornou-se a líder de uma dessas divisões, uma organização de vendas e marketing. Ali, suas habilidades como vendedora se fizeram valer e ela recebeu o crédito por ajudar a Lucent a superar, trimestre após trimestre, as já elevadas expectativas de Wall Street. Fiorina parecia ter a capacidade de usar o estilo de vendas necessário para fechar qualquer negócio — um colega referiu-se a ela como “camaleoa”. Ela era muito admirada no grupo de vendas e desenvolveu na Lucent uma “personagem maior do que a realidade”. Além do grupo de vendas, Fiorina desenvolveu uma reestruturação geral do sistema de remuneração, fazendo com que praticamente qualquer empregado fizesse jus a bonificações por desempenho baseadas no sucesso da empresa — pequenos bônus pela consecução de metas públicas, bônus maiores pela sua superação e bônus muito maiores se a empresa atingisse metas “aspiracionais”. Em outubro de 1998, a revista Fortune estampou Fiorina em sua capa, referindo-se a ela como a executiva mais poderosa dos Estados Unidos.26 Embora nem tudo tenha corrido perfeitamente durante a permanência de Fiorina na Lucent, o desempenho financeiro da empresa decolou. Entre 1996 e 1999, as vendas da Lucent cresceram quase 17% ao ano, atingindo US$ 38 bilhões em 1999, as margens brutas aumentaram de 39% pára 49% da receita, o resultado líquido foi de um prejuízo de $600 milhões para um lucro de US$ 4,8 bilhões e o preço da ação superou significativamente os enormes ganhos do mercado como um todo.27 Foi o desempenho da Lucent e o papel central de Fiorina ao impulsionar suas vendas que atraíram para ela a atenção da comissão de recrutamento da HP. No entanto, pouco depois de sair da Lucent, o desempenho e o preço das ações despencaram e, em 2002, a empresa era um fantasma do que havia sido. Fiorina Entra para a Hewlett-Packard Não sendo pessoa de lidar com um problema por vez, Fiorina se põe a transformar todos os aspectos da HP ao mesmo tempo e dane-se a queda da atividade econômica. Isto envolvia estratégia, estrutura, cultura, remuneração — tudo, de como incentivar a inovação a como agilizar processos internos. Mudanças tão amplas são difíceis em qualquer lugar - e duas vezes mais complicadas na HP, tão presa à tradição.28 — Peter Burrows, escritor. Em julho de 1999 a Hewlett-Packard anunciou a nomeação de Carly Fiorina, aos 44 anos de idade, como sua nova CEO. A reação inicial na empresa foi de entusiasmo. “Ela era tudo que a HP não era — carismática, corajosa, até glamourosa”.29 Fiorina recebeu um pacote de remuneração gigantesco pelos padrões da HP e isso causou uma certa comoção na empresa, que não era conhecida por tais extravagâncias. A companhia defendeu o pacote observando que estava alinhado com o que outros CEOs do setor de tecnologia estavam recebendo na época.30 Para ajudar em sua preparação, Fiorina Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 10 leu o livro “The HP Way”, de Dave Packard, cinco vezes. Ao mesmo tempo, o conselho elegeu Dick Hackborn como seu presidente. Em 1993, ele recusara por motivos pessoais a oferta de Dave Packard para se tornar CEO. Era visto como alguém que poderia suavizar a transição de alguém de fora que chegava para comandar a empresa. A reação do público à escolha de Fiorina foi altamente positiva, ainda que pessoas próximas a ela tivessem se surpreendido, tendo em vista sua falta de experiência. Um antigo colega da AT&T resumiu as preocupações: “Ver ela indo diretamente para o cargo de CEO da HP foi uma surpresa. Era um cargo enorme num setor diferente. Não conheço nenhum caso de relevância em que a posição de CEO tenha sido dada a alguém de fora do setor e que jamais havia sido CEO antes”. Fiorina fez mudanças significativas na HP. Começou pela reformulação da imagem da empresa. “A HP é uma das marcas mais reverenciadas e admiradas do mundo e, ainda assim, talvez esteja correndo o risco de parecer um pouco antiquada,” declarou. “[Precisamos] garantir que esteja sempre fresca e atualizada e represente o próximo século além deste”. Fiorina começou pela mudança da logomarca com o nome completo dos fundadores para as iniciais “HP” escritas sobre a palavra Invent. Ela também reduziu o númerode agências de publicidade de 43 para duas para lançar um foco melhor na mensagem da HP sobre a oferta de soluções completas em lugar de produtos específicos, feitos pelas divisões independentes. Em novembro de 1999, a HP lançou uma nova propaganda televisiva apresentando imagens antigas dos fundadores. O filme os mostrava trabalhando em sua famosa garagem, seguidos por Fiorina, em pé, em frente a uma réplica da garagem e falando brevemente sobre reinventar a empresa e agir como se tivesse acabado de ser fundada. A ideia era relembrar o passado e, ao mesmo tempo, apontar para o futuro. O anúncio não foi aprovado por alguns empregados, que se ofenderam com o esforço de Fiorina para se ligar aos fundadores, conhecidos por não buscarem publicidade para si próprios. Segundo um executivo, “Tudo para ela é um evento de mídia”.32 Poucos meses depois de chegar a HP, Fiorina anunciou que a empresa se reorganizaria, adotando uma estrutura front-back. A reorganização exigia a combinação de 80 divisões operacionais autônomas e voltadas para produtos em duas organizações de vendas e marketing de front-end; e duas outras de P&D e produção de back-end. Um grupo de frente atenderia a clientes corporativos e outro, a consumidores; enquanto a unidade de back-end desenvolveria e construiria computadores e outra, impressoras e equipamento de imagem. A reorganização foi movida, em parte, pelo desejo de Fiorina de pensar mais em termos de sistemas de soluções do que de produtos, além da necessidade de fazer com que fosse mais fácil para os clientes comprar da HP. A histórica independência das divisões da HP apresentava muitas vantagens — permitia que unidades pequenas mantivessem uma cultura empreendedora e liberdade para explorar novas ideias para produtos, mas mantivessem, ao mesmo tempo, claras responsabilidades por lucros e prejuízos. Isso também permitia a HP desenvolver um grande grupo de gestores experientes. Mas a estrutura divisional também restringia cooperação e coordenação entre divisões e era responsável por uma das grandes reclamações dos clientes, de que tinham que lidar com um excesso de ofertas pouco integradas da HP. Como as impressoras a laser e a jato de tinta da empresa estavam abrigadas em divisões separadas, por exemplo, o software dos dois tipos de dispositivo era incompatível, dificultando a substituição pelos clientes de uma impressora por outra. A estrutura divisional também dificultava o estabelecimento de uma direção estratégica para a empresa como um todo. Estas limitações eram bem conhecidas na HP e líderes anteriores já tinham tentado fazer com que o sistema funcionasse melhor. Mas nenhuma dessas tentativas foi tão radical quanto a reorganização front-back. O plano de Fiorina permitiria que as organizações de front-end adquirissem uma visão mais ampla das necessidades dos clientes e orientassem as unidades de back- end no desenvolvimento de produtos que atendessem a estas necessidades. Isso era essencial porque Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 11 os clientes cada vez mais queriam que computadores, software e impressoras se integrassem em soluções completas para seus problemas. Os executivos e os gerentes das divisões reagiram fortemente contra essa reorganização. Embora ela parecesse boa no papel, havia muitas dúvidas sobre como funcionaria na prática. Empresa alguma com uma oferta de produtos tão ampla quanto a da HP jamais havia experimentado uma abordagem front-back e os gestores reclamavam ser difícil saber de quem era a responsabilidade em última instância. Um ex-executivo afirmou: “Não conheço ninguém que fosse a favor, a não ser Carly. Ela simplesmente resolveu fazer e fez”. Também havia questionamentos sobre a possibilidade de a proposta ser aceita na empresa. Segundo um executivo graduado, “Tudo aquilo em torno do que os caras tinham criado suas carreiras ia mudar, de modo que havia muito medo e muita gente fazendo força no sentido contrário”. Os gestores temiam a estrutura front-back por causa de seu impacto em potencial sobre seus empregos, mas, também, porque muitos acreditavam que ela não proporcionaria responsabilidade adequada pelos resultados.33 Juntamente com essa mudança organizacional radical, Fiorina estabeleceu metas de crescimento elevadas e aspiracionais para seu primeiro ano. Queria que a HP atingisse um crescimento de 15% no ano fiscal de 2000. Se a empresa queria ver subir o preço de sua ação, tinha que apresentar taxas de crescimento mais alinhadas com as das empresas de Internet, que vinham recebendo a atenção do mercado no fim dos anos 90. Muitas pessoas dentro da HP não entendiam como a empresa poderia crescer tanto durante uma reorganização e frente a uma competição acirrada, especialmente tendo em vista o crescimento de apenas 7% em 1999. Mas a meta condizia com a tendência de Fiorina de mirar alto. Apesar das dúvidas o faturamento da HP realmente aumentou pouco mais de 15% no ano.34 Durante seus primeiros seis meses no emprego, Fiorina passou bastante tempo na estrada, conversando com as pessoas e falando aos funcionários da HP sobre a visão que tinha do futuro. Recebeu uma boa avaliação por seus esforços e muitos funcionários se encantaram com ela. Um executivo observou que a liderança de Fiorina vinha exercendo impacto sobre o ambiente de trabalho da empresa, declarando que o novo ambiente “era energizante, rápido e divertido”. Ela fez um esforço especial para formar uma ligação com os laboratórios de pesquisa da HP, onde muitos engenheiros pensavam que sua perda de prestígio só poderia aumentar com alguém de vendas e marketing no comando (além de fazer visitas regulares aos laboratórios, Fiorina deslocou recursos de pequenas melhorias em impressoras e computadores para projetos com potencial revolucionário).35 Mas muita gente da administração estava bem menos impressionada, especialmente quando ela tentava falar sobre detalhes do negócio. Um gestor observou que “ela fala muito bem, mas não faz a menor ideia do que está dizendo”.36 Fiorina muitas vezes falava de elos com o passado, da força da HP Way e da necessidade de mudança. Dizia aos empregados: “Preservar o que presta e reinventar o resto” (Burrows, pág. 145). Como parte da campanha publicitária de 1999, Fiorina fez a agência responsável revisitar o livro “The HP Way”, de Dave Packard, e criar uma lista de ideias para atualizar as práticas e crenças dos fundadores, alinhando-se com a era da Internet. Fiorina, então, editou a lista para que se adequasse à visão que tinha do futuro, tomando liberdades na qualidade de nova formadora de mitos da empresa. A lista foi publicada sob o título de Regras da Garagem37 (ver as Regras da Garagem no Quadro 5). A reação dos funcionários foi confusa. Sua principal reclamação era que as regras pareciam ter sido escritas por um marqueteiro e careciam do “brilhantismo pragmático dos fundadores.”38 Divergindo significativamente das práticas anteriores, Fiorina começou a enfatizar o uso da remuneração para motivar o comportamento executivo, atrelando firmemente incentivos monetários às metas de desempenho — bonificações pequenas pela consecução de metas públicas e bônus muito Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 12 maiores pela de metas internas mais elevadas. Antes de sua chegada, apenas alguns executivosmuito graduados eram remunerados de forma significativamente baseada em desempenho e todos os empregados recebiam cheques trimestrais devidos a um plano de distribuição de resultados que estava em vigor havia décadas. O plano de pagamento por resultados de Fiorina abrangia, em 1999, os 200 executivos mais graduados. No mesmo ano, a remuneração dos vendedores também se deslocou em direção à estrutura de pagamento baseada em comissões, comumente utilizada pelos concorrentes da HP, distanciando-se da remuneração predominantemente salarial, vigente até então. No ano 2000, o plano de pagamento por resultados expandiu-se para os 2.000 gestores mais graduados e, a partir de 2001, o plano de distribuição de resultados foi substituído por um sistema segundo o qual todos os empregados da HP fariam jus a uma bonificação individual por desempenho caso o desempenho da empresa superasse um determinado limiar. Atingir metas de desempenho significava mais do que apenas obter remuneração. Numa reunião, um mês depois de chegar à empresa, Fiorina interrompeu um chefe de divisão que discutia as dificuldades de sua unidade, dizendo: “Quero deixar algo bem claro. Você vai atingir estes números. Não vai haver desculpas. E, se você não conseguir chegar nestes números, vou achar quem consiga”.39 A filosofia e o estilo empresariais de Fiorina eram diferentes daqueles dos fundadores e seus sucessores. Ela tendia a apostar tudo e torcer por uma grande vitória, enquanto eles agiam de forma mais pragmática e cautelosa. No nível pessoal, ela costumava comer em seu escritório, não na cantina da empresa, raramente passeava pela sede (pessoas que ocupavam lugares próximos de seu escritório às vezes passavam meses sem a ver) e comprou um jato executivo em que viajava (Platt era conhecido por viajar 200.000 milhas por ano em classe econômica). Embora nada disso fosse estranho para a maioria dos CEOs, na HP era uma violação da cultura igualitária que havia sido cuidadosamente alimentada durante anos. 40 Mudanças Estratégicas Fiorina dirigiu uma série de modificações na estratégia da HP com o objetivo de acompanhar as tendências do setor. A ênfase na venda de soluções em lugar de produtos, discutida anteriormente, foi uma delas, assim como a mudança radical de estrutura (a organização front-back) que a acompanhou. Fiorina também deu maior importância a marketing e vendas na organização. Declarou que “tecnologia não é um jogo só para engenheiros. É nisso que a Microsoft tem sido brilhante. Se pensarmos nas empresas de tecnologia que realmente lideram, vemos que elas não se apaixonaram demais pela tecnologia”. 41 O interesse de Fiorina em aquisições como instrumento estratégico também representeou uma grande reviravolta. Antes dela, as aquisições eram desprezadas porque ameaçavam diluir e enfraquecer a cultura da HP. Mas no outono de 2000 Fiorina tentou adquirir o braço de consultoria da PricewaterhouseCoopers por quase 18 bilhões. A transação, que não se concluiu, teria acrescentado 31.000 consultores aos 6.000 já existentes na HP, permitindo que competisse no mercado altamente lucrativo de consultoria tecnológica a grandes empresas. O objetivo da aquisição era o de possibilitar a HP concorrer com a bem-sucedida transformação da IBM em uma empresa prestadora de serviços. A IBM empregava aproximadamente 86.000 consultores. Em 2002, num mercado de capitais deprimido, a IBM adquiriu a PricewaterhouseCoopers por US$ 3,5 bilhões. Na época das negociações com a PricewaterhouseCoopers, a HP já acrescentara “presidente” ao título de Fiorina.42 Fiorina, ao contrário dos fundadores, também empurrava a crescente ênfase da HP em receitas acima de lucros. Os fundadores da empresa e seus sucessores sempre colocaram o crescimento do lucro acima do crescimento da receita para permitir que a empresa se autofinanciasse ao crescer. Isso a isolava de pressões por capital e dos mercados de crédito e limitava propositadamente o Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 13 crescimento. Estas duas coisas haviam se tornado políticas centrais do negócio para permitir investimentos consistentes em inovação técnica e evitar a diluição da cultura de alto comprometimento, duas coisas que a administração acreditava serem fontes diferenciadas e sustentáveis de vantagem competitiva. Essas políticas não haviam restringido o crescimento, como provava o crescimento de dois dígitos atingido durante as seis décadas anteriores à chegada de Fiorina. Mas, com a aquisição da Compaq, a HP passava a depender de unidades de computadores cujos PCs eram vendidos como commodities (a preço). No começo de 2001, o negócio de US$ 10 bilhões de cartuchos para jato de tinta subsidiava prejuízos com computadores. A Aquisição da Compaq A Compaq Computer Corporation havia sido fundada em Dallas, Texas, em 1992. Dentro de dois anos havia atingido mais de US$ 100 milhões em vendas e era a maior concorrente no setor de PCs. Mas a segunda metade da década de 90 trouxe um rápido declínio para a empresa, que foi duramente afetada pelo surgimento da Dell, com sua estrutura de custos mais baixos, baseada em vendas pela Internet.43 Em 1998 a Compaq adquiriu a Digital Equipment Corporation, que estava em dificuldades, naquilo que foi a maior aquisição do setor de TI até então. Esta aquisição trouxe para a Compaq uma das maiores organizações de atendimento ao cliente do setor. A empresa acreditava que a transação lhe permitira competir melhor com a IBM. Os observadores do setor concordavam, desde que as duas empresas conseguissem se integrar realmente. Infelizmente, a Compaq não conseguiu unir as duas culturas e linhas de produtos e continuou a perder terreno para suas rivais. Em maio de 2001 o CEO da Compaq abordou Fiorina para discutir a possibilidade de fundir as duas empresas. O conselho de administração decidiu que o negócio fazia sentido e começaram as negociações. Fiorina liderou as conversas e o conselho nunca discutiu o assunto sem que ela estivesse presente. Todos os conselheiros apoiavam a ideia, com exceção de Hewlett, que não acreditava que a aquisição fosse boa para a empresa. Mas ele não desempenhava função ativa na administração e nem era um membro especialmente forte do conselho. Suas preocupações eram praticamente ignoradas. Diversos conselheiros que conheciam Hewlett há anos o convenceram a votar a favor do negócio, apesar de suas objeções, porque a aquisição seria aprovada com ou sem ele e a HP provavelmente conseguiria negociar um preço melhor se a decisão do conselho parecesse unânime.44 A fusão da HP e da Compaq foi anunciada ao público no começo de setembro. Hewlett logo ouviu questionamentos quanto ao negócio, vindos de amigos, funcionários e colegas, sem falar em seu amigo de infância, David Woodley Packard, filho do cofundador. Quanto mais Hewlett pensava no assunto, menos gostava da aquisição. Muitos analistas de Wall Street também haviam se revelado contrários. Com o conselho aparentemente decidido a ir em frente, apesar das dúvidas de pessoas de fora da empresa, Hewlett anunciou publicamente que ele e outros acionistas que, juntos, tinham 5,2% das ações da HP votariam contra o negócio. Depois que o conselho se recusou a voltar atrás, Hewlett protocolou uma moção junto à Comissão de Valores Mobiliários, questionando as projeções financeiras da empresa e explicando a crença de Hewlett de que a aquisição colocaria a HP em risco.45 Fiorina liderou a HP na luta contra Hewlett. Ela e sua equipe o retrataram como alienado em relação à realidade econômica e competitiva enfrentada pela empresa e tentaramdesacreditá-lo publicamente, referindo-se a ele como um filósofo e músico. Uma multa rescisória de US$ 675 milhões que a HP concordara em pagar à Compaq se não prosseguisse com a aquisição também dificultava um recuo (a multa não seria devida se os acionistas da HP votassem contra o plano).46 A própria Fiorina tinha muito a perder se o negócio fracassasse. Embora o desempenho da HP em todos os trimestres de seus dois primeiros anos tivesse superado as expectativas de Wall Street, no Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 14 último trimestre fiscal de 2001 os lucros haviam ficado muito abaixo do esperado e o desempenho foi inconstante nos meses seguintes. Além disso, muita gente achava que ela tinha lidado mal com a tentativa abortada de comprar a unidade de consultoria da PricewaterhouseCoopers. Dadas as declarações públicas de Fiorina, dizendo que a fusão representava a melhor escolha estratégica para a HP, ela provavelmente teria que renunciar, ou seria demitida pelo conselho, se a transação não fosse aprovada.47 A HP marcou a votação sobre a aquisição para 19 de março de 2002. A contagem prometia ser apertada, possivelmente com margem de menos de 1%. Fiorina anunciou resultados preliminares que demonstravam que a aquisição seria aprovada, mas ainda transcorreria algum tempo até que a contagem oficial saísse. Nesse intervalo, Hewlett começou a ouvir boatos sobre possíveis “fraudes e informações enganosas” envolvidas na tática da HP para vencer a votação. No final de março, depois que a contagem oficial revelou que a HP vencera por menos de 3%, Hewlett moveu um processo, contestando a aquisição em juízo. Embora ele tivesse conseguido reunir dados importantes, não foi o suficiente para convencer o juiz. O pedido foi repelido e a aquisição, aprovada. Desempenho desde a Fusão Na época da fusão, os executivos da HP e da Compaq acreditavam que a empresa resultante da combinação estaria mais apta a enfrentar as mudanças pelas quais passava o setor. Estas mudanças incluíam avanços tecnológicos e demandas dos consumidores. Em áreas cruciais, como servidores, computadores pessoais e impressoras, onde uma das empresas ocupava uma posição fraca, a outra era forte. Além disso, havia sobreposição o bastante entre as duas para permitir ganhos significativos de eficiência. Mais especificamente, a HP pretendia ampliar sua liderança em servidores e armazenagem de dados para aplicações empresariais. Dado a força da Compaq em computadores pessoais (desktops, laptops e novos dispositivos de acesso, como os computadores de mão para uso pessoal e profissional), a HP esperava alavancar sua própria força em aparelhos pessoais. A HP também esperava que a fusão permitisse adquirir eficiências, especialmente em seus sistemas de fabricação e distribuição. Em impressoras e sistemas de imagem, a HP planejava reforçar sua liderança de mercado através de avanços tecnológicos, ao mesmo tempo em que aproveitava a maior escala na qualidade de fornecedora de soluções completas; em serviços, as empresas combinadas poderiam atingir porte suficiente para competir por grandes contratos de consultoria e terceirização, desde que desenvolvessem esta capacidade (a terceirização era uma prática em ascensão. Fornecedores de tecnologia, como a HP, tinham começado a preencher as necessidades de TI de clientes — e não apenas com produtos e assessoria). Finalmente juntas, as empresas esperavam obter eficiências operacionais significativas, inclusive uma redução de custos anuais de US$ 2,5 bilhões até o segundo trimestre do ano fiscal de 2004. As reduções de custos envolviam eliminação de 15.000 empregos, pouco mais de 10% da mão de obra total das duas. Esses cortes de pessoal iriam somar-se aos 11.000 e aos 6.000 que a HP e a Compaq, respectivamente, haviam anunciado em 2001, antes da fusão (a Dell havia declarado que reduziria seu pessoal em 5.000 pessoas durante o período — era parte da queda geral da atividade do setor). Ao fim de 2003, a HP tivera sucesso em algumas áreas, mas havia deixado a desejar em outras. A integração das empresas tivera êxito e a HP tinha evitado muitos dos problemas que costumam surgir quando duas grandes empresas combinam suas operações. No quesito eficiência, a HP reduziu seus custos em US$ 3,5 bilhões e o número de empregados em quase 20.000 — superando, antes do prazo, as metas de cortes tanto de custos quanto de recursos humanos.48 A unidade de serviços decolou entre o final de 2002 e o final de 2003. A HP partiu da estratégia anterior da Compaq, chamada de “empreendedorismo adaptável”, para impulsionar sua estratégia Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 15 de soluções, de maneira semelhante à adotada por Louis Gestner na IBM. A empresa conquistou diversos grandes contratos de terceirização que provavelmente não conseguiria antes da fusão. O líder da unidade de serviços da HP estimou que, nesse período, a empresa havia passado de sétima ou oitava maior prestadora de serviços para a terceira posição.49 Os executivos da HP acreditavam que a empresa dispunha de uma unidade de serviços grande o bastante para ser levada a sério em qualquer contrato de monta. Apesar dessa melhoria, alguns analistas duvidavam da capacidade da empresa para equiparar-se à IBM, a líder do setor em prestação de serviços. Isto se tornou ainda mais evidente depois que a IBM adquiriu a Pricewaterhouse Coopers. Ademais, ao contrário da IBM, a HP dependia de parceiros externos para o fornecimento de tecnologias que não dominava. Em impressoras e sistemas de imagem, a HP manteve sua posição dominante no mercado. Isto incluiu o lançamento de uma linha simples de impressoras de jato de tinta com preços a partir de US$ 39. O negócio de impressoras continuava a proporcionar a maior parte dos lucros da HP, chegando a superar as estimativas pré-fusão. Uma ameaça em potencial à HP era o lançamento, pela Dell, de uma linha própria de impressoras. O custo da Dell era significativamente menor do que o da HP e isso poderia roubar desta última participação no mercado. Mas os executivos da HP achavam que a ameaça que a Dell representava estava sendo exagerada e que o mais provável seria que ela tomasse participação de outros competidores no setor. A HP não foi tão bem-sucedida em sistemas empresariais e computadores pessoais. Após a fusão, a HP detinha uma forte primeira posição nos mercados de servidores e PCs desktop. Ao fim de 2002, contudo, a Dell a havia superado em PCs e, em meados de 2003, a IBM a ultrapassara em servidores.51 No negócio de servidores, a HP ainda enfrentava forte concorrência da IBM em produtos intermediários e da Dell em produtos mais simples. Em termos de cultura, a HP Way praticamente se fora e, com ela, a cultura de alto comprometimento a que dera origem. Alguns observadores indicaram que, embora ainda existisse nos quadros mais baixos da empresa, tinha praticamente desaparecido no topo. Outros observavam que menos de 10% dos empregados da HP trabalhava no Vale do Silício e que mais da metade estava com a empresa há menos de cinco anos. Por outro lado, a aquisição da Compaq provavelmente ajudara Fiorina a realizar sua meta de mudar a cultura da HP. De acordo com alguns, a tomada de decisões era agora mais rápida, especialmente no negócio de computadores pessoais. No final de2003, a HP não entrou na lista da Fortune das “100 Melhores Empresas para Trabalhar”. Antes da aquisição da Compaq, constava da lista, mas não participou do processo em 2001 e 2002 porque a fusão a tornava inelegível. Quando voltou a se candidatar, em 2003, os resultados das pesquisas com empregados não deixaram a HP entre as 100 melhores. Um memorando interno da empresa indicava que os entrevistados atribuíram baixas notas à credibilidade da administração, ao respeito e à justiça.52 O desempenho financeiro da HP desde a fusão era confuso. Em 2002 perdeu dinheiro pela primeira vez em sua história. Mas isso ocorreu em meio a uma profunda recessão no setor. No geral, os dois últimos trimestres de 2002 e os dois primeiros de 2003 foram bons, tendo em conta a economia e as atividades de fusão. Mas, no terceiro trimestre de 2003, tanto vendas quanto lucros ficaram aquém das expectativas dos analistas. O preço da ação da HP caiu 10% quando isso foi divulgado. As notícias eram particularmente ruins nos segmentos de computadores pessoais, onde a HP atribuía o baixo faturamento ao estado da economia; e os baixos lucros a cortes de preços muito agressivos para continuar a acompanhar a Dell. Depois de anunciar esses resultados, a empresa indicou que moderaria seus cortes de preços. No dia seguinte, a Dell anunciou que suas reduções de preços seriam ainda maiores. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 16 Muitos analistas se preocupavam, acreditando que a HP ainda era muito dependente de impressoras e alguns deles acrescentavam que, com base nos lucros da empresa com impressoras e na razão preço/lucro da Lexmark (a principal concorrente no segmento), as ações da HP deveriam estar cotadas a cerca de US$ 20 cada — muito perto do valor que atingiam no mercado. A partir dessa informação, o analista concluía que, essencialmente, os investidores atribuíam valor zero aos negócios remanescentes da empresa.53 Olhando para o Futuro Ao fim de 2003, estava claro que Fiorina imprimira seu próprio estilo à empresa e que, bem ou mal, a cultura de alto comprometimento da HP chegara ao fim. A nova cultura vinha de cima, empurrada por Fiorina e incluía práticas administrativas, inclusive remuneração de incentivo, encontradas na maioria dos concorrentes da empresa. Ninguém discutia que Fiorina havia se saído bem ao integrar a Compaq e a HP. Mas a organização front-back fora reconhecida como um fracasso e abandonada. Outras questões permaneciam em aberto. Poderia Fiorina ter tido sucesso com a organização front-back se tivesse conseguido que os líderes divisionais se envolvessem mais? Será que mudanças mais sutis da estrutura em divisões da HP teriam sido mais eficazes? Além disso, qual a vantagem diferencial da HP — tendo em vista seu histórico de empresa técnica, voltada para a inovação e focada em lucros — no setor de computadores, onde as empresas competiam em custo e por meio de marketing e promoções? Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 17 Quadro 1 Dados das Demonstrações Financeiras Anuais da HP ($ milhões)a 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999b 2000 2001 2002 Receita líquida: Produtos $15.533 $21.380 $27.125 $33.114 $36.672 $40.105 $36.178 $41.446 $37.498 $45.955 Serviços 4.784 3.611 4.394 5.306 6.233 6.958 6.192 7,336 7.325 10.178 Receita financeira -- -- -- -- -- -- -- -- 403 455 Receita líquida total 20.317 24.991 31.519 38.420 42.895 47.061 42.370 48.782 45.226 56.588 Custos e despesas Custo dos produtos 8.929 13.012 17.069 22,013 24.217 27.477 25.498 29.727 28.370 34.573 Custo dos serviços 3.194 2.478 2.945 3.486 4.102 4.595 4.222 5.137 4.870 6.817 Pesquisa e desenvolvimento 1.761 2.027 2.302 2.718 3.078 3.355 2.440 2.646 2.670 3.312 Vendas gerais e administrativas 4.554 4.925 5.635 6.477 7.159 7.793 6.522 7.383 7.259 9.033 Outros -- -- -- -- -- -- -- -- 618 3.865 Total dos custos e despesas 18.438 22.442 27.951 34.694 38.556 38.556 38.682 44.893 43.787 57.600 (Prejuízo) Lucro operacional 1.879 2.549 3.568 3.726 4.339 4.339 3.688 3.889 1.439 (1,012) (Prejuízo) Lucro líquido 1.177 2.599 2.433 2.586 3.119 3.119 3.491 3.697 408 (903) Porcentagem da receita líquida total Receita líquida: Produtos 0,76 0,86 0,86 0,86 0,85 0,85 0,85 0,85 0,83 0,81 Serviços 0,24 0,14 0,14 0,14 0,15 0,15 0,15 0,45 0,16 0,18 Receita financeira -- -- -- -- -- -- -- -- 0,01 0,01 Receita líquida total 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Custos e despesas Custo dos produtos 0,44 0,52 0,54 0,57 0,56 0,58 0,60 0,61 0,63 0,61 Custo dos serviços 0,16 0,10 0,09 0,09 0,10 0,10 0,10 0,11 0,11 0,12 Pesquisa e desenvolvimento 0,09 0,08 0,07 0,07 0,07 0,07 0,06 0,05 0,06 0,06 Vendas gerais e administrativas 0,22 0,20 0,18 0,17 0,17 0,17 0,15 0,15 0,16 0,16 Outros -- -- -- -- -- -- -- -- 0,01 0,07 Total dos custos e despesas 0,91 0,90 0,89 0,90 0,90 0,92 0,91 0,92 0,97 1,02 (Prejuízo) Lucro operacional 0,09 0,10 0,11 0,10 0,10 0,08 0,09 0,08 0,03 (0,02) (Prejuízo) Lucro líquido 0,06 0,06 0,08 0,07 0,07 0,06 0,08 0,08 0,01 (0,02) Custo dos produtos (% da receita com produtos) 0,57 0,61 0,63 0,66 0,66 0,69 0,70 0,72 0,76 0,75 Custo dos serviços (% da receita com serviços) 0,67 0,69 0,67 0,66 0,66 0,66 0,68 0,70 0,66 0,67 Fonte: Relatórios anuais da empresa de 1993 a 2002. a cada ano mostra os dados do relatório anual respectivo, mas não reflete retificações de anos anteriores b Não inclui a cisão da Agilent Technologies Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 18 Quadro 2a Dados do Segmento 1997-2002 (em US$ milhões)a 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Receita líquida Imagem e Impressão $15.986 $17.046 $18.902 $20.476 $19.447 $20.324 Sistemas de computadores 15.500 17.775 18.435 21.095 17.771 --b Serviços de TI 4.804 5.242 5.916 7.129 7.599 --b Outros 84 162 80 1.299 1.010 --b Total dos Segmentos 36.374 40.225 43.333 49.999 45.827 57.259 Lucro (prejuízo) operacional Imagem e Impressão 2.037 2.050 2.305 2.476 1.987 3.249 Sistemas de computadores 581 515 856 960 (450) -- Serviços de TI 979 785 636 634 342 (487)a Outros (11) (1) (11) (103) (321) -- Total dos Segmentos 3.404 3.349 3.786 4.237 1.558 2.762 Fonte: Anos de 1997, 1998, 1999 extraídos do relatório anual de 1999. Anos de 2000, 2001 e 2001 extraídos do relatório anual de cada ano. a Anos de 1997, 1998 e 1999 não incluem atividades relacionadas à cisão da Agilent Technolgies, em 1999. b Em 2002 a HP reorganizou e rebatizou seus segmentos de Sistemas de Computadores, Serviços de TI e Outros, de modo que os dados para 2002 não são diretamente comparáveis com os dos anos anteriores. Combinadas, essas unidades anunciaram US$ 39.935 em receita líquida.O segmento de Imagem e Impressão ficou inalterado. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 19 Quadro 2b Dados do Segmento 1993-1998 (em US$ milhões)a 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Receita líquida Produtos, serviços e suporte a computadoresb $15.572 $19.632 $25.269 $31.430 $35.449 $39.466 Produtos e serviços de testes e mensuração 2.318 2.722 3.288 3.798 4.297 4.169 Equipamentos e serviços médicos eletrônicos 1.149 1.141 1.300 1.416 1.256 1.408 Instrumentação e serviços analíticos 704 754 806 858 909 966 Componentes eletrônicos 574 742 856 918 975 1.052 Receita total dos Segmentos 20.137 27.991 31.519 38.420 42.895 47.061 Fonte: Relatórios anuais 1993-1998. a Cada ano mostra os dados do relatório anual respectivo, mas não reflete retificações de anos anteriores. b Os segmentos de produtos para computadores incluem produtos de impressão c Segmentos incluídos na cisão da Agilent Technologies, em 1999. Quadro 3 Dados Comparativos dos Concorrentesa (em US$ milhões) 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Receita Dell $2.873 $3.475 $5,296 $7.759 $12.327 $18.243 $25.265 $31.888 $31.168 $35.404 IBM 62.716 64.052 71.940 75.947 78.508 81.667 87.548 88.396 85.866 81.186 Compaq 7.191 10.866 14.755 18.109 24.584 31.169 38.525 42.383 33.554 -- HP 20.317 24.991 35.519 38.420 42.895 47.061 42.370 48.782 45.226 56.588 Despesa/receita de P&D Dell 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 IBM 0,09 0,07 0,08 0,06 0,06 0,06 0,06 0,06 0,06 0,06 Compaq 0,02 0,02 0,02 0,02 0,03 0,04 0,04 0,03 0,04 -- HP 0,09 0,,8 0,07 0,07 0,07 0,07 0,06 0,05 0,06 0,06 Despesa/receita geral, administrativa e de vendas Dell 0,15 0,12 0,11 0,11 0,10 0,10 0,09 0,10 0,09 0,09 IBM 0,29 0,25 0,23 0,22 0,21 0,20 0,17 0,18 0,20 0,23 Compaq 0,12 0,11 0,11 0,11 0,12 0,16 0,16 0,14 0,16 -- HP 0,22 0,20 0,18 0,17 0,17 0,17 0,15 0,15 0,16 0,16 Fonte: Relatórios Anuais das Empresas, 1993-2002. a Cada ano mostra os dados do relatório anual respectivo, mas não reflete retificações de anos anteriores. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 20 Quadro 4 Preço Histórico da Ação Fonte: Adaptado de Datastream International. Quadro 5 Regras da Garagem Acredite que pode mudar o mundo. Trabalhe rápido, mantenha as ferramentas destrancadas, trabalhe sempre que der. Saiba quando trabalhar só e quando trabalhar em grupo. Compartilhe — ferramentas, ideias. Confie em seus colegas. Sem política. Sem burocracia. (Que são coisas ridículas numa garagem). O cliente é quem define o que é um trabalho bem feito. Ideias radicais não são ideias ruins. Invente jeitos diferentes de trabalhar. Faça uma contribuição a cada dia. Se ela não ajudar, não sai da garagem. Acredite que, juntos, podemos fazer qualquer coisa. Fonte: Peter Burrows, Backfire: Carly Fiorina’s High-Stakes Battle for the Soul of Hewlett-Packard (Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2003), pág. 146. Carly Fiorina é nomeada CEO Anúncio da aquisição da Compaq. Em 03 de setembro de 2001 o preço da ação caiu quase 20%. Depois de 11 de setembro de 2001, a ação caiu mais 10%. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 21 Notas 1. Peter Burrows, Backfire: Carly Fiorina’s High-Stakes Battle for the Soul of Hewlett-Packard (Hobioken, NJ: John Wiley & Sons, 2003), pág.246 2 Anúncio da HP, The Wall Street Journal, 19 de dezembro de 2001, pág. A9. 3 David W. Packard, anúncio em oposição à fusão HP-Compaq, The Wall Street Journal, 23 de janeiro de 2002, pág. C20. 4 Burrows, Backfire, pág. 175. 5 Ibid, pág. 186 e 200-202. 6 Ver Michael Beer, “Human Resources at Hewlett-Packard (A) e (B)” (Recursos Humanos na Hewlett-Packard [A] e [B] – Tradução nossa), HBS Case Nos. 495-051 e 495-052 (Boston: Harvard Business School Publishing, 1995) para maiores detalhes sobre a história da empresa, suas práticas administrativas e a HP Way. 7 Burrows, Backfire, pág. 178. 8 Ibid, pág. 74-75. 9 Ibid, pág. 79. 10 Ibid, pág. 83. 11 Ibid, pág. 70-76. 12 Beer, “Human Resources at Hewlett-Packard (A)”, pág. 77-80. 13 Burrows, Backfire, pág. 77-80. 14 Ibid, pág. 78. 15 Ibid, pág. 82-85. 16 Ibid, pág. 85-86. 17 Ibid, pág. 120-122. 18 Ibid, pág. 124. 19 Ibid, pág. 40-42. 20 Ibid, pág. 43-47 e 97. 21 Ibid, pág. 95. 22 Ibid, pág. 95. 23 Ibid, pág. 95-96. 24 Ibid, pág. 98. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 409-P01 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 22 25 Ibid, pág. 101-105 e 115. 26 Ibid, pág. 106-109 e 115. 27 Rakesh Khurana, Searching for a Corporate Savior (Em Busca de um Salvador Corporativo – Tradução nossa) (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2002). 28 Peter Burrows, “The Radical. Carly Fiorina’s Bold Management Experiment at HP” (A Radical. A Corajosa Experiência de Gestão de Carly Fiorina na HP – Tradução nossa), BusinessWeek, 19 de fevereiro de 2001. 29 Burrows, Backfire, pág. 135. 30 Burrows, Backfire, pág. 135-138. 31 Ibid, pág. 134. 32 Burrows, Backfire, pág. 147-149; e Burrows, “The Radical”. 33 Burrows, Backfire, pág. 142. 34 Ibid, pág. 143-144. 35 Burrows, “The Radical”. 36 Burrows, Backfire, pág. 139, 144-146 e 161. 37 George Anders, “The Carly Chronicles: An Inside Look at Her Campaign to Reinvent HP” (As Crônicas de Carly: Uma Visão Interna de Sua Campanha para Reinventar a HP – Tradução nossa), Fast Company, 1º de fevereiro de 2003. 38 Burrows, Backfire, pág. 146. 39 Burrows, Backfire, pág. 141 e 153 e relatório anual da empresa de 2000. 40 Burrows, Backfire, pág. 58 e 150-151. 41 Anders, “The Carly Chronicles”. 42 Burrows, Backfire, pág. 168. 43 Ibid, pág. 177. 44 Ibid, pág. 8-9 e 178-184. 45 Ibid, pág. 185-186 e 190-200. 46 Ibid, pág. 179 e 219. 47 Ibid, pág. 209. 48 Roy Harris, “Doubly Blessed?” (Duplamente Abençoado?- Tradução nossa), CFO, 1º de setembro de 2003. 49 “HP Bets Big on Outsourcing” (HP Aposta Alto na Terceirização – Tradução Nossa), Business Times Singapore, 15 de maio de 2003. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Roberto Filho, Estacio de Sa University until June 2015. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Hewlett-Packard: Cultura em Tempos de Mudança 409-P01 23 50 Martin Banks, “HP Rivals IBM in Adaptable Computing” (HP Compete com IBM em Computação Adaptável – Tradução nossa), VNUnet Newswire, 30 de
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