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Andressa – P3B FMO – 2021.1 H i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o C a r a c t e r í s t i c a s e f u n ç õ es d a s p a r a t i r e o i d e s e d o P T H As paratireoides são pequenas glândulas do sistema endócrino, com o tamanho de uma ervilha, que estão geralmente localizadas atrás da tireoide. Localizações ectópicas incluem a tireoide, o mediastino e o ângulo da mandíbula. Em geral, há 4 paratireoides, porém algumas pessoas têm 6 ou, até mesmo, 8 glândulas. ► A função principal das paratireoides é manter o nível de cálcio (Ca++) no sangue dentro do estreito limite adequado ao funcionamento dos sistemas nervoso e muscular. ♦Receptores do sensor de cálcio (CaSR) nas glândulas são ativados quando esse elemento alcança determinado nível, liberando o PTH na corrente sanguínea. Ca++ e fósforo (P) são os principais constituintes do osso, e 99% do cálcio corporal encontram-se nos ossos. ♦ No sangue, cerca de 50% do cálcio total está ligado a proteínas, principalmente albumina e globulinas. A fração livre do Ca++ constitui o cálcio ionizado. A regulação do cálcio ionizado é efetuada pela secreção do PTH em resposta a mudanças no cálcio ionizado dentro de uma faixa fisiológica relativamente estreita. ► A secreção de PTH é, por sua vez, regulada negativamente pelo CaSR, localizado na superfície das células principais paratireóideas, bem como pelo aumento no sangue do cálcio e da 1,25(OH) vitamina D (calcitriol). ‼O PTH mantém o cálcio sérico ionizado, principalmente por intermédio de três mecanismos: estimulação da reabsorção de cálcio no túbulo distal do rim, estímulo da reabsorção osteoclástica no osso e ativação da 1α-hidroxilase 25(OH) vitamina D3 no túbulo proximal renal, levando à síntese de calcitriol, que, por sua vez, promove a absorção de cálcio no intestino delgado. Paratireoides, ossos, rins e intestino são, portanto, órgãos essenciais para a homeostase do cálcio. ‼ Quanto mais PTH, menos fosforo vai ser reabsorvido e haverá uma diminuição do fosfato sérico ♦ O hiperparatireoidismo primário é uma entidade clínica caracterizada por um desequilíbrio no metabolismo do cálcio e fósforo, secundário a uma elevação da secreção da hormona paratireoideia (PTH). Esta patologia resulta predominantemente da presença de adenoma único, produtor de hormona paratireoideia, estando mais raramente associada a síndromes hereditárias ou tumores múltiplos da paratireoide. Pode ocorrer a qualquer tempo, porém é mais frequente entre os 40 e 65 anos de idade. Predomina no sexo feminino. ‼Verifica-se uma grande variabilidade na apresentação clínica, a qual está diretamente relacionada com a elevação da concentração plasmática de cálcio. A hipercalcemia ligeira (cálcio plasmático < 12mg/dL) pode ser assintomática ou apresentar-se sob a forma de sintomas inespecíficos, como obstipação, cansaço e depressão. A elevação da concentração plasmática de cálcio, sobretudo grave quando superior a 14mg/dL, pode causar sintomas marcados que incluem poliúria, polidipsia, desidratação, anorexia, fraqueza muscular. De um modo geral, a generalização das determinações de cálcio sérico leva a que muitos doentes sejam identificados em fases precoces e assintomáticas ou com sintomatologia inespecífica. No entanto, em casos mais graves, esta entidade pode cursar com uma grande diversidade de manifestações clínicas que incluem dores difusas, nefrolitíase ou extensa reabsorção óssea com fraturas. ♦Adenomas solitários das paratireoides são responsáveis por cerca de 85 a 90% dos casos de HPTP. Hiperfunção em múltiplas glândulas paratireoides (uma categoria ampla que inclui hiperplasia e adenomas múltiplos) ocorre na maior parte dos casos restantes. Na maioria das séries, o carcinoma de paratireoide é responsável por menos de 1% dos casos de HPTP. Adenomas podem ser múltiplos (2 a 4%) e estar localizados ectopicamente (1 a 5%) na tireoide, no mediastino ou no ângulo da mandíbula. ► Doença em múltiplas glândulas representa o achado mais comum em indivíduos com as síndromes de hiperparatireoidismo familiar. Raramente, adenomas e carcinomas de paratireoide podem cursar sem hiperparatireoidismo. Também raros são cistos paratireóideos intratireoidianos Andressa – P3B FMO – 2021.1 hiperfuncionantes. Cerca de 10% dos casos de HPTP correspondem a tipos de hiperparatireoidismo familiar que podem vir isolados ou associados a doenças endócrinas hereditárias autossômicas dominantes, como as neoplasias endócrinas múltiplas tipo 1 (MEN1), tipo 2A (MEN-2A) e tipo 4 (MEN-4), a síndrome do hiperparatireoidismo–tumor de mandíbula e a hipercalcemia hipocalciúrica familiar (HHF). ► A MEN-1 consiste primariamente em tumores ou hiperplasia de paratireoide, adenomas hipofisários e neoplasias pancreáticas. Ela responde por apenas 2 a 4% dos casos de HPTP. ► A MEN-2A, por sua vez, caracteriza-se por carcinoma medular da tireoide, feocromocitoma e HPTP. Este último representa a manifestação mais comum da MEN-1 (presente em até 100% dos casos) e ocorre em 20 a 30% dos pacientes com MEN-2A. O HPTP clássico, na forma originalmente descrita por Albright e Reifenstein na década de 1930, associava-se à nefrolitíase em cerca de metade dos casos e à doença óssea (osteíte fibrosa cística) em aproximadamente 25%. A adoção da dosagem sistemática do cálcio sérico resultou tanto em um aumento significativo na incidência da doença como no surgimento de uma nova apresentação clínica, a forma assintomática do HPTP. Esta última se caracteriza pela ausência de envolvimento ósseo e renal, porém muitos pacientes podem apresentar sintomas vagos ou inespecíficos, como astenia, cansaço fácil, depressão, distúrbios da memória etc. ‼A maioria dos pacientes (80 a 90%) tem a forma assintomática – sendo o HPTP um achado quando se diagnostica hipercalcemia em exames de rotina –, ao passo que cálculos renais são vistos em 15 a 20% dos pacientes, e doença óssea acomete menos de 5% deles. ♦ Manifestações renais ►Nefrolitíase recorrente é a manifestação renal mais característica do HPTP, sendo encontrada em cerca de 15 a 20% dos casos. Perda gradativa da função renal e, mais raramente, nefrocalcinose podem também estar presentes. ♦Envolvimento ósseo ► No HPTP há maior perda de osso cortical do que trabecular. Isso ocorre em função de o PTH ter ação catabólica no esqueleto apendicular (sobretudo nos terços médio e distal do rádio) e anabólica no esqueleto axial (vértebras). Dores ósseas (de intensidade e localização variáveis), fraturas patológicas e fraqueza muscular (geralmente proximal) são as queixas mais frequentes relacionadas à doença óssea. Entretanto, os pacientes podem ser assintomáticos e ter seu envolvimento ósseo apenas revelado por radiografia simples, densitometria óssea e/ou cintilografia óssea O achado radiológico mais sensível e específico da osteíte fibrosa cística é a reabsorção óssea subperiosteal, mais bem evidenciada nas falanges e porções distais das clavículas. Outras manifestações incluem osteopenia generalizada (nos casos mais graves), desmineralização “em sal e pimenta” do crânio e os chamados tumores marrons ou osteoclastomas. Estes últimos representam um processo reativo não neoplásico, devido a reabsorção óssea e lesão óssea localizada, induzido pelo PTH. Seu nome deriva de seu aspecto marrom-avermelhado decorrente de micro- hemorragias e deposição de hemossiderina. Radiologicamente, os tumores marrons caracterizam-se como lesões líticas, bem definidas, que expandem ou erodem o osso afetado, e podem simular uma neoplasia primária óssea ou lesão metastática. Esses tumores ocorrem mais frequentemente na pelve, em ossos longos e na clavícula, mas podem também acometer a maxila,a mandíbula, as costelas e o crânio. ‼Tumor marrom mandibular ou maxilofacial pode eventualmente ser a manifestação inicial do HPTP. ♦ Manifestações cardiovasculares Alguns estudos relataram taxas variáveis de distúrbios cardiovasculares no HPTP, incluindo hipertensão, hipertrofia ventricular esquerda, doença coronariana, calcificações valvulares e miocárdica, além de anormalidades nas funções cardíaca e vascular. Dislipidemia, caracterizada por diminuição do HDL-colesterol e aumento dos triglicerídeos, também foi relatada. ♦Manifestações psiquiátricas Andressa – P3B FMO – 2021.1 Sintomas psiquiátricos podem ocorrer em até 23% dos pacientes com HPTP, dos quais 78% têm depressão e ansiedade. Outras manifestações encontradas são fadiga, perda de memória, dificuldade de concentração, irritabilidade, somatização, bem como distúrbios do humor e do sono. ♦ Outras manifestações clínicas Doença ulcerosa péptica e hipertensão arterial são frequentemente citadas como manifestações do HPTP, mas esses distúrbios são comuns, e não há uma evidência definitiva de relação causal. Devido à hipercalcemia, podem também ocorrer poliúria, polidipsia, prurido e alterações gastrintestinais (anorexia, constipação intestinal e, nos casos graves, náuseas/vômitos). Foi relatado que pancreatite aguda ou crônica pode ser uma rara complicação do HPTP e, até mesmo, a manifestação inicial da doença. Manifestações articulares podem ocasionalmente ser vistas, dentre as quais se incluem condrocalcinose (com ou sem ataques agudos de pseudogota), erosões justarticulares, fraturas subcondrais, sinovites traumáticas e gota úrica. Baqueteamento digital pode estar presente nos casos mais graves. D i a g n ó s t i c o O diagnóstico é confirmado pela avaliação laboratorial com determinação dos valores de cálcio e PTH, sendo posteriormente feita avaliação ecográfica e cintilografia da glândula. Quanto ao tratamento, na generalidade dos casos verifica-se reversão do quadro clínico com o tratamento cirúrgico, que consiste na excisão parcial ou total da glândula. T r a t a m e n t o O tratamento definitivo do HPTP é a paratireoidectomia, que está indicada para todos os pacientes com nefrolitíase ou osteíte fibrosa cística. Também pode ser indicada para muitos pacientes com HPTP assintomático. Alguns fármacos, particularmente calcimiméticos e bisfosfonatos, podem ser úteis para os pacientes não submetidos à cirurgia. ♦ Cirurgia De acordo com as recomendações do Quarto Workshop Internacional sobre o Manuseio do HPTP Assintomático, são também candidatos à paratireoidectomia pacientes com HPTP assintomático que, ao diagnóstico ou durante o seguimento, apresentem uma ou mais das seguintes situações: (1) cálcio sérico > 1 mg/dℓ acima do limite superior da normalidade; (2) T-escore do rádio, 1/3 distal, coluna e/ou colo femoral < –2,5; (3) redução no clearance de creatinina (ClCr) para menos de 60 mℓ/min/1,73 m2 ; (4) fratura de fragilidade; (5) hipercalciúria (> 400 mg/24 h) associada a cálculo renal rico em cálcio; (6) idade < 50 anos. Cirurgia está também indicada para os pacientes cujo acompanhamento médico não seja possível ou desejado. É importante ressaltar que as condutas citadas para o HPTP assintomático são recomendações, e não regras. Vale a pena levar em conta que os pacientes não submetidos à cirurgia precisam ser acompanhados com exames periódicos e que, a longo prazo, pode ocorrer elevação da calcemia e deterioração da DMO. Da mesma forma, melhora dos sintomas gerais e parâmetros neuropsiquiátricos (p. ex., cognição, humor, ansiedade, qualidade de vida e função psicológica), da tolerância à glicose e de alguns parâmetros cardiovasculares (incluindo pressão arterial e espessura da íntima média carotídea) foi relatada em alguns estudos. Dessa forma, temos considerado cirurgia para o HPTP assintomático, sempre que os exames de localização forem positivos. A conduta ideal para o HPTP normocalcêmico ainda não está estabelecida, principalmente pelo desconhecimento de sua história natural. Assim, a maioria dos experts Andressa – P3B FMO – 2021.1 preferem uma abordagem mais conservadora, indicando cirurgia somente se houver progressão da doença (p. ex., surgimento de hipercalcemia, cálculo renal, nefrocalcinose, piora da DMO ou fraturas). Q u e s t õ e s 01. Os rins e o osso constituem os principais órgãos- alvo dos efeitos fisiológicos do PTH (paratormônio). Considerando a ação deste hormônio sobre a reabsorção renal de cálcio e fósforo escolha a alternativa correta: A) O PTH aumenta a reabsorção renal do fosfato. B) O PTH diminui a reabsorção renal de cálcio. C) O PTH aumenta a reabsorção renal de cálcio e fosfato. D) O PTH aumenta a reabsorção renal de cálcio e diminui do fosfato. 02. Mulher, 38 anos, foi encaminhada ao endocrinologista após ser diagnosticada com hiperparatireoidismo primário pelo clínico geral. No momento encontra-se assintomática e traz consigo resultados de exames laboratoriais. Qual combinação de exames seria mais compatível com o diagnóstico em questão? A) Hipocalcemia e PTH normal. B) PTH elevado, hipercalcemia e hiperfosfatemia. C) Hipercalcemia, hipofosfatemia e PTH elevado. D) PTH elevado, vitamina D3 baixa e cálcio normal. 03. Sobre o hiperparatireoidismo primário (HPTP), marque a alternativa mais adequada: A) Hiperplasia das paratireoides é a causa mais comum. B) Cerca de 50% dos casos correspondem a hiperparatireoidismo familiar. C) É um achado frequente na Neoplasia Endócrina Múltipla do tipo 2B. D) Adenomas solitários de paratireoide são responsáveis por cerca de 90% dos casos de HPTP. 04. Sobre as manifestações do hiperparatireoidismo primário (HPTP), marque a alternativa mais adequada: A) Aumento da densidade mineral óssea, tumor marrom e osteíte fibrosa cística são manifestações ósseas características de pacientes com HPTP. B) A manifestação renal mais característica do HPTP é a presença de nefrolitíase. C) A desmineralização “em sal e pimenta” do crânio é um achado precoce do HPTP. D) A presença de sintomas não é um critério utilizado na decisão do tratamento. Paciente com hipercalcemia, devemos solicitar a dosagem do PTH → se PTH alto, paciente apresenta hiperparatireoidsmo primário → se PTH baixo, paciente pode ter um tumor secretando PTHrp (peptidio relacionado ao PTH, esse peptidio simula todas as ações do PTH, por isso há um aumento do cálcio) → hipercalcemia também pode estar seno causado por uma intoxicação por vitamina D, caso o paciente esteja fazendo uso de suplementos, por exemplo. 05. Homem, 32 anos, assintomático, vai para consulta levando os seguintes exames: PTH 110 pg/mL (VR: 12-72), Cálcio 12 mg/dl (VR: 8,5 – 10,5), Creatinina: 0,7 mg/dl (VR: até 1,2), Vit D: 33 ng/mL. Cintilografia de paratireoides é normal e não localiza paratireoide hipercaptante. Nega uso de medicamentos. Possui exames laboratoriais prévios com as mesmas alterações. Diante desse caso, marque a alternativa correta: A) A cirurgia estará indicada se o paciente apresentar nefrolitíase. B) Deve ser realizada densitometria óssea e o paciente deve ser encaminhado para cirurgia apenas se T-score < -2,5 DP em qualquer sítio. C) Como o paciente encontra-se assintomático não há indicação de cirurgia. D) O paciente já deve ser encaminhado para cirurgia.
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