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DOENÇA DE CHAGAS

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DOENÇA DE CHAGAS 
 
• A doença de Chagas, ou tripanossomíase 
americana, é causada pelo parasita protozoário 
Trypanosoma cruzi; 
PATÓGENO 
• Várias espécies estão inclusas no gênero 
Trypanosoma, mas somente o tripanossoma 
africano Trypanosoma brucei [com as subespécies 
T.b. gambiense (Oeste Africano) e T.b. rhodesiense 
(Leste Africano)] e o tripanossoma americano T. 
cruzi causam doenças em seres humanos; 
• Insetos triatomíneos (barbeiros) agem como vetores 
para o T. cruzi e muitas espécies de mamíferos 
domésticos e selvagens, assim como os seres 
humanos, estão envolvidos no ciclo de vida; 
• Os vetores são infectados ao ingerir o sangue de 
mamíferos que possuem o parasita em sua corrente 
sanguínea. A transmissão para um novo hospedeiro 
mamífero ocorre quando as fezes do vetor 
carregando parasitas entra em contato com as 
superfícies vulneráveis, como mucosas da boca ou 
nariz, conjuntiva ou feridas da pele. 
• Além da transmissão vetorial, o T. cruzi pode ser 
transmitido pelo sangue ou órgãos doados por 
pessoas infectadas, da mãe para feto, pela ingestão 
de alimentos ou bebidas contaminados e em 
acidentes de laboratório; 
FISIOPATOLOGIA 
• Pode aparecer uma lesão inflamatória (chagoma) no 
local de entrada dos parasitas; 
• Alterações histológicas locais: parasitismo 
intracelular de músculos e outros tecidos 
subcutâneos, infiltração linfocitária, edema 
intersticial e hiperplasia dos gânglios linfáticos que 
drenam a área; 
• Os parasitas se espalham através dos vasos 
linfáticos e da corrente sanguínea, invadindo 
tecidos – músculos principalmente; 
• Pseudocistos: são células hospedeiras 
multiplicadoras do parasita; 
• Doença de Chagas crônica: o coração é o órgão 
mais comumente afetado; 
• Quadro de inflamação crônica com infiltração de 
células mononucleares, fibrose intersticial difusa 
e atrofia das células miocárdicas - afeta o sistema 
 
de condução e causa bradiarritmias e fibrilação 
atrial; contrações ventriculares prematuras, 
bloqueio de ramo (muitas vezes do direito), 
taquicardia ventricular e bloqueio atrioventricular 
de terceiro grau; 
• Dilatação e hipertrofia do esôfago ou cólon; 
• O número de neurônios no plexo mioentérico é 
reduzido e a fibrose periganglionar e a 
intraganglionar com a proliferação de células de 
Schwann e linfocitose estão presentes; 
• As consequências clínicas da denervação 
parassimpática são limitadas ao esôfago ou ao cólon 
(ou ambos), mas os ureteres, a árvore biliar e outras 
vísceras ocas também podem ser afetados; 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
Doença de Chagas Aguda: 
• Geralmente é uma doença infantil, mas pode 
ocorrer em qualquer idade; 
• No local da picada do vetor, como observado, um 
chagoma pode aparecer com uma linfadenopatia 
local; 
• Sinal de Romaña: edema indolor dos tecidos 
palpebral e periocular e pode aparecer quando a 
conjuntiva é a porta de entrada; 
• Febre, mal-estar, anorexia e edema da face e das 
extremidades inferiores; 
• Linfadenopatia generalizada e a 
hepatoesplenomegalia podem estar presentes 
• Miocardite aguda - insuficiência cardíaca 
congestiva; 
• Meningoencefalite - complicação rara; 
• Em pacientes não tratados a doença aguda resolve-
se espontaneamente em um período de 6 a 8 
semanas; 
• Estágio indeterminado da doença de Chagas: 
parasitemia subpatente - ausência de sinais e 
sintomas associados e anticorpos facilmente 
detectáveis para o T. cruzi; 
Cardiopatia Chagásica Crônica: 
• Os sintomas da forma cardíaca da doença de Chagas 
podem se desenvolver insidiosamente ao longo de 
anos, ou mesmo décadas, após a infecção inicial; 
• Distúrbios do ritmo, insuficiência cardíaca 
congestiva e tromboembolismo; 
doença de chagas 
• Tonturas, síncope e até mesmo convulsões podem 
resultar de uma grande variedade de arritmias; 
• Cardiomiopatia: leva à falência biventricular e a 
insuficiência cardíaca do lado direito pode 
predominar em pacientes com a doença avançada; 
• A doença de Chagas crônica é um fator de risco 
independente para o acidente vascular encefálico; 
Doença de Chagas Gastrointestinal Crônica (Doença 
Megálica): 
• O esôfago e o cólon são os segmentos do trato 
gastrointestinal mais comumente afetados; 
• Megaesôfago: sintomas são semelhantes aos da 
acalasia idiopática - tosse, disfagia, odinofagia e 
regurgitação; 
o Hipersalivação e a hipertrofia da 
glândula salivar se desenvolvem em 
alguns pacientes; 
• Perda de peso e caquexia podem se combinar com 
a pneumonite – morte; 
• Megacólon chagásico: dor abdominal intermitente 
e constipação crônica; 
o Em raros casos, a obstrução aguda 
ocasionalmente com volvo, pode levar à 
perfuração, septicemia e morte; 
DIAGNÓSTICO 
Doença de Chagas Aguda: 
• Estabelecer se a pessoa está sob risco de infecção 
por T. cruzi; 
• Fatores de risco: residência recente ou transfusão de 
sangue em uma área endêmica, no caso de um 
recém-nascido, nascimento de mãe sob risco, ou um 
acidente de laboratório envolvendo o parasita; 
• O diagnóstico definitivo só pode ser realizado por 
meio da detecção de parasitas; 
o A melhor abordagem é o exame a fresco de 
sangue anticoagulado ou do creme 
leucocitário para os parasitas móveis da 
corrente sanguínea; 
• Quando os métodos diretos não detectarem 
organismo, as amostras devem ser testadas pelo 
PCR - mais sensíveis; 
• Em recém-nascidos, cujo sangue é negativo tanto 
pelo exame direto quanto por PCR logo após o 
nascimento, a avaliação sorológica para o IgG 
específico do T. cruzi deve ser realizada de 6 a 9 
meses depois, pois neste período os anticorpos 
maternos terão desaparecido; 
 
Doença de Chagas Crônica: 
• É diagnosticada pela detecção de anticorpos IgG; 
• Reações falso-positivas: em pessoas com outras 
doenças infecciosas ou doenças autoimunes; 
• PCR: pode ser útil em indivíduos com resultados 
sorológicos limítrofes, na doença de Chagas 
congênita ou aguda com parasitas indetectáveis 
microscopicamente e em pacientes infectados que 
receberam um tratamento específico; 
TRATAMENTO 
Drogas Antiparasitárias: 
• Os dois medicamentos atualmente disponíveis são 
insatisfatórios; 
• Nifurtimox: 
o Derivado de nitrofurano; 
o Reduz os sintomas e diminui a taxa de 
mortalidade em pacientes com a doença de 
Chagas aguda - aproximadamente 70% de 
cura parasitológica; 
o Desvantagens: curso de tratamento longo e 
efeitos colaterais (queixas gastrointestinais 
- anorexia, náuseas, vômitos, perda de peso 
e dor abdominal); 
o Os pacientes podem apresentar sintomas 
neurológicos como insônia, inquietação, 
parestesias, espasmos, polineurite e 
convulsões; 
o Adultos: dose oral de 8 a 10 mg/kg de peso 
corporal diariamente; 
o Adolescentes: 12,5 a 15 mg/kg/dia; 
o Crianças de 1 a 10 anos de idade: 15 a 20 
mg/kg/dia; 
o Deve ser administrado em quatro doses 
fracionadas diariamente, e o tratamento 
deve ser continuado por 90 a 120 dias; 
• Nitroimidazol: 
o Derivado do benzonidazol; 
o Os índices de cura são semelhantes ou 
talvez um pouco maiores do que os obtidos 
com o nifurtimox; 
o Efeitos colaterais: erupções cutâneas, 
neuropatia periférica e granulocitopenia; 
o A dose oral diária recomendada de 
benzonidazol é de 5 a 10 mg/kg de peso 
corporal para crianças e 5 mg/kg de peso 
corporal para adultos, com uma duração 
de 60 dias; 
o O tratamento é indicado para infecções 
agudas ou congênitas, assim como em 
crianças infectadas cronicamente até os 18 
anos de idade; 
Tratamento da Doença de Chagas Sintomática: 
• Doença de Chagas crônica sintomática cardíaca: 
o Anticoagulantes e medicamentos 
cardiotrópicos; 
o Marca-passos são úteis em pacientes com 
arritmias primárias; 
o Transplante cardíaco - fase terminal; 
• Megaesôfago chagásico: 
o Deve ser tratado como a acalasia idiopática 
- responde a dilatação do esfíncter inferior 
do esôfago com balão quando os sintomas 
são leves;o Tratamento cirúrgico pode ser necessário 
em pacientes que não respondem à 
dilatação por balão; 
▪ Miotomia laparoscópica; 
• Megacólon chagásico: 
o Fase inicial: tratado com uma dieta rica em 
fibras e laxantes ou enemas ocasionais; 
o Compactação fecal: desimpactação 
manual; 
o Megacólon tóxico: tratamento cirúrgico; 
o Megacólon avançado com volvo: 
tratamento cirúrgico é necessário porque o 
volvo tende a reaparecer; 
o Procedimentos cirúrgicos: ressecção do 
sigmoide e a remoção de parte do reto; 
 
MEGACÓLON CHAGÁSICO (MCH) 
 
• No Brasil, acomete 2 a 5% dos indivíduos 
infectados pelo tripanossoma, atingindo geralmente 
pessoas de meia-idade (30-60 anos); 
• Depois da cardiopatia, é a forma mais grave; 
• Quando associado ao megaesôfago (comum), o 
paciente procura o médico com disfagia; 
• Atinge ambos os sexos na mesma proporção; 
Patologia 
• Aspectos histopatológicos: espessamento e 
dilatação da parede colônica - do reto e do 
sigmoide; 
• Microscopicamente: neuropatia inflamatória do 
plexo mioentérico, com hiperplasia das células 
musculares lisas, infiltração do plexo 
mioentérico por linfócitos e células plasmáticas, 
degeneração e destruição neuronal; 
Quadro clínico 
• Principal sintoma: constipação intestinal - instala-
se lenta e progressivamente, obrigando o uso de 
laxativos cada vez mais potentes; 
• Distensão abdominal - devido à grande retenção de 
fezes e gases; 
• Formação de fecaloma; 
• Disfagia - comprometimento esofágico 
concomitante; 
• Tontura, palpitações e perda transitória da 
consciência indicam cardiopatia chagásica; 
Diagnóstico 
• Exame físico: 
o Diferentes graus de distensão abdominal – 
assimétrica; 
o Estado nutricional depende do 
comprometimento ou não do esôfago; 
o Arritmia cardíaca; 
o Quando há grande retenção de fezes: 
provocar o sinal do cacifo, comprimindo-
se o sigmoide cheio de fezes e passando-se, 
em seguida, a mão sobre esse local da 
parede abdominal; 
o Toque retal deve ser sempre realizado; 
o Necrose intestinal: dor em cólica contínua, 
sinais de peritonite, distensão abdominal 
passa a ser simétrica e o estado geral 
deteriora-se rapidamente; 
• Exame radiológico: radiografia simples do 
abdome e enema opaco; 
o Raio X simples: comprova a existência de 
ectasia do cólon sigmoide, distensão gasosa 
e fecaloma; 
o Enema opaco: essencial para confirmação 
de casos duvidosos; determina o grau de 
dilatação e os segmentos que estão 
comprometidos; 
 
 
• Exame proctológico: evidencia dilatação luminal e 
fezes no reto; podem-se observar ulcerações da 
mucosa; 
• Exames laboratoriais: reação de fixação do 
complemento para doença de Chagas e reação de 
Machado-Guerreiro; 
• Eletrocardiograma; 
Complicações 
• Fecaloma, impactação fecal, vólvulo do sigmoide, 
úlceras por estase fecal e perfurações; 
• Fecaloma: 
o 59% dos pacientes; 
o Forma-se por descuido em promover o 
esvaziamento intestinal; 
o Localizam-se, quase sempre, no 
retossigmoide - ao alcance do dedo no 
toque retal; 
o Radiografia simples do abdome confirma o 
diagnóstico; 
• Impactação fecal: 
o Obstrução aguda por fecaloma; 
o História de obstipação de longa duração, 
piora súbita, com distensão abdominal e dor 
no baixo ventre; 
• Vólvulo do sigmoide: 
o Torção com alça viável: obstrução 
intestinal baixa, com dores em cólica de 
forte intensidade, parada de eliminação de 
gases e distensão abdominal assimétrica; 
o Torção com necrose de alça. 
o Geralmente, não há sinais de peritonismo, 
nem grande comprometimento do estado 
geral; 
o Diagnóstico: radiografia simples do 
abdome - evidencia o sigmoide muito 
dilatado, contrastando com o reto, que se 
acha vazio; 
o Retossigmoidoscopia permite avaliar o 
estado da alça no ponto de torção; 
o Suspeitar de torção com necrose de alça se 
o paciente referir história de cólicas que 
passam a ter caráter contínuo, com grande 
comprometimento do estado geral e sinais 
evidentes de toxernia; 
o Distensão é generalizada e há sinais de 
peritonismo; 
• Perfuração do megacólon em peritônio livre: 
o Ocasionada por ruptura de úlceras, causada 
pela estase fecal; 
o Quadro clínico de peritonite generalizada 
com toxemia grave; 
Tratamento 
Megacólon não complicado: 
• Casos com ritmo intestinal normal não requerem 
tratamento; 
• Orientação clínica: medidas comportamentais 
higiênico-dietéticas, uso de laxativos e lavagens 
intestinais - evitando a formação de fecaloma e 
prevenindo a dilatação do cólon; 
• Fecaloma: 
o Na maioria dos casos, pode ser eliminado 
manualmente, quando estiver ao alcance do 
dedo ao toque retal, ou através de 
gotejamento retal de soro fisiológico ou 
solução de bicarbonato a 10% 
o Raquidianestesia: para remover a porção 
distal do fecaloma impactado na ampola 
retal – relaxa os esfíncteres com maior 
facilidade; 
• Vólvulo: 
o Descompressão da alça pela inserção de 
colonoscópio ou de sonda passada pelo 
retossigmoidoscópio - desfaz a torção e 
promovendo o esvaziamento da alça; 
▪ Optar sempre pela utilização do 
colonoscópio - permite a sua 
execução sob visão direta e detecta 
possíveis alterações isquêmicas 
locais; 
o Tratamento cirúrgico: em casos de torção 
completa (acima de 180°) e na suspeita de 
sofrimento de alça; 
Tratamento cirúrgico: 
• Indicado nos pacientes com evolução prolongada; 
• Retossigmoidectomia: remoção do cólon sigmoide 
dilatado, juntamente com a porção alta do reto - 
pode ser realizada por via abdominal, com 
anastomose colorretal terminoterminal, podendo, 
quando houver desproporção de calibres entre o 
cólon e o reto, ser terminolateral; 
• Colectomia esquerda, associada ou não à 
anorretomiectomia; 
• Colectomia total, com ceco ou ileorretoanastomose 
- pouco utilizada devido a sua morbidade; 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
Dani, Renato. Gastroenterologia essencial I. 4. ed.- 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 
Cecil. Medicina Interna. 24. ed. - Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2014. 
Clínica cirúrgica. Vários autores. Hospital das clínicas 
FMUSP. Barueri, SP: Manole, 2008.

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