Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 M175c McShane, Steven L. Comportamento organizacional : conhecimento emergente, realidade global [recurso eletrônico] / Steven L. McShane, Mary Ann Von Glinow ; tradução : Francisco Araújo da Costa. – 6. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-404-5 1. Comportamento organizacional. I. Von Glinow, Mary Ann. II. Título. CDU 005.32 McShane_Iniciais_6ed_eletronica.indd iiMcShane_Iniciais_6ed_eletronica.indd ii 28/07/14 13:4328/07/14 13:43 14 Cultura Organizacional Até recentemente, o Facebook não possuía um escritório em Austin, Texas. Hoje, 125 funcionários trabalham na cida- de, tornando o de Austin o segundo maior escritório ame- ricano da empresa além da matriz em Palo Alto, Califórnia. A rede social está em franca expansão, tendo inaugurado operações em Dublin, na Irlanda, e Hyderabad, na Índia. Em cada país, o Facebook conseguiu introduzir sua cultura corporativa especial: causar impacto, ser audacio- so e mover-se rápido (e cometer erros). “Tem uma cultura ótima de autocapacitação aqui”, afirma Charlton Gholson, funcionário do Facebook em Austin. “Queremos que as pessoas corram riscos e sejam audaciosas, que se esfor- cem para causar impacto, pois é isso que a empresa está tentando fazer”. Manter essa cultura intacta durante a expansão rá- pida da empresa é uma das principais preocupações do Facebook. “Manter a cultura é uma de nossas principais prioridades enquanto empresa”, conta Sarah Smith, dire- tora de operações on-line em Austin. “Então estamos nos concentrando em montar poucos escritórios, mas sempre garantindo que todos têm laços fortes com a cultura”. O Facebook seleciona cuidadosamente alguns poucos funcionários, chamados de Equipe de Aterrissagem, para abrir cada local e atuar como portadores da cultura da empresa. O objetivo da equipe é “uma transferência de conhecimento e de cultura para garantir que estamos dis- seminando a cultura exclusiva do Facebook nos diferentes escritórios de todo o mundo”, afirma Joanna Lee, membro da Equipe de Aterrissagem que abriu o escritório em Hy- derabad. “Assim, a Equipe de Aterrissagem indiana tinha sete membros divididos em três equipes diferentes nas operações: anunciantes, desenvolvedores e testadores”. A Equipe de Aterrissagem seleciona cuidadosamente os candidatos em termos de compatibilidade com a cul- tura da empresa e treina os recém-chegados no estilo de vida Facebook, tudo para integrar a cultura do Facebook em cada local. A equipe também introduz um dos símbo- los culturais mais famosos do Facebook, as Hackathons. São eventos especiais de um dia nos quais os funcioná- rios podem trabalhar em projetos interessantes que eles próprios selecionam, algo que normalmente não teriam a oportunidade de fazer. A cultura do Facebook também é reforçada pela arqui- tetura do escritório: áreas de trabalho com espaços aber- tos, mesas de madeira e nada de repartições, várias ativi- dades recreativas, comida grátis e salas de conferências batizadas em homenagem a ícones culturais. Os escritó- rios do Facebook também aparentam estar inacabados, o que segundo Sarah Smith é consistente com a cultura dinâmica. “Falamos sobre a ideia de que só avançamos 1% na jornada da empresa”, diz Smith. “Estamos apenas começando a construir este escritório”. 1 O Facebook possui uma cultura organizacional distin- ta e, apesar de seu crescimento exponencial, descobriu maneiras de mantê-la, talvez até de fortalecê-la, em seus escritórios globais. A cultura organizacional consiste nos valores e pressupostos compartilhados por uma organi- zação. 2 Ela identifica o que é e o que não é importante na empresa e, por consequência, direciona todas as pessoas na organização para a “maneira certa” de fazer as coisas. Pense na cultura organizacional como o DNA da empre- sa: invisível a olho nu, mas também um modelo poderoso que molda o que acontece no local de trabalho. Este capítulo começará identificando os elementos da cultura organizacional e, depois, descreverá como a cultura é decifrada pelos artefatos. A seguir, teremos uma discus- são da relação entre a cultura e o desempenho da organiza- ção, que incluirá os efeitos da força, adequação e capacida- de de adaptação. Em seguida, examinaremos os desafios e soluções da mescla de culturas organizacionais. A parte final deste capítulo analisa as maneiras de mudar e reforçar a cultura organizacional, incluindo um exame mais atento do tópico relacionado da socialização organizacional. Smith: manter a cultura é prioridade para o Facebook. McSchane_14.indd 368McSchane_14.indd 368 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce CAPÍTULO 14 Cultura Organizacional 369 ELEMENTOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL De acordo com sua definição, a cultura organizacional consiste em valores e pressupostos compartilhados. A Figura 14.1 ilustra como esses valores compartilhados se relacionam uns com os outros e estão associados com artefatos, os quais serão discutidos neste capítulo. Va- lores são crenças estáveis e avaliativas que guiam nossas preferências por resultados ou cursos de ação em diversas situações (ver Capítulos 1 e 2).3 São percepções conscientes sobre o que é bom ou ruim, certo ou errado. No contexto da cultura organizacional, os valores são apresen- tados como valores compartilhados, aqueles que as pessoas de uma organização ou unidade de trabalho têm em comum e colocam perto do topo da sua hierarquia de valores.4 No Face- book, a maioria dos funcionários adota os valores compartilhados de fazer a diferença (foco no impacto), correr riscos (audaciosidade) e empreendedorismo (ser rápido). A cultura organizacional também consiste em pressupostos compartilhados, elementos mais profundos que alguns especialistas acreditam ser a essência da cultura empresarial. Os pressupostos compartilhados são percepções inconscientes dadas como certas ou protótipos ideais de comportamento, que são considerados a maneira correta de pensar e agir em relação aos problemas e às oportunidades. Esses pressupostos são tão profundamente arraigados que você provavelmente não os descobriria a partir de um levantamento com os funcionários. Seria apenas ao observá-los, analisar suas decisões e interrogá-los sobre suas ações que esses pressupostos viriam à tona. Tornou-se uma prática popular os líderes identificarem e afirmarem publicamente os va- lores compartilhados de sua organização. A varejista on-line Zappos lista 10 valores centrais, como “Produzir UAU com o atendimento”, “Adotar e promover a mudança” e “Criar diversão e um pouco de esquisitice”. A Gap Adventures, uma empresa de aventuras ao ar livre com sede em Toronto, descreve seus cinco valores: adoramos mudar as vidas das pessoas, acolher o diferente, liderar com serviço, fazer a coisa certa e criar felicidade e comunidade.5 Esses valores representam realmente o conteúdo cultural da Zappos e da Gap Adven- tures? Muito provavelmente sim no caso dessas duas organizações, pois suas culturas são famosas e têm raízes profundas. Contudo, as descrições de valores de muitas organizações não refletem necessariamente os valores compartilhados e praticados de forma geral dentro delas. Essa distinção ocorre porque os líderes corporativos costumam descrever os valores defendidos, ou seja, aqueles que querem que os outros acreditem que orientam suas decisões e ações.6 Em geral, os valores defendidos são socialmente desejáveis, então apresentam uma imagem pública positiva. Mesmo que a alta gerência aja de maneiras consistentes com esses valores, seus subordinados podem não fazer o mesmo. Os funcionários trazem seus valores pessoais diversificados para a organização, alguns dos quais podem estar em conflito com os valores defendidos pela empresa.A cultural organizacional não é representada por esses valores defendidos. Em vez dis- so, consiste em valores praticados compartilhados, aqueles nos quais a maioria dos líderes e funcionários verdadeiramente se baseia para guiar suas decisões e ações. Esses “valores em uso” ficam claros quando observamos executivos e outros funcionários em ação, tomando suas decisões, distribuindo sua atenção e recursos e se comportando em relação às partes OA1 Objetivos de aprendizagem Após ler este capítulo, você deve ser capaz de: OA1 Descrever os elementos da cultura organizacional e discutir a importância das subculturas organiza- cionais. OA2 Apresentar quatro categorias de artefatos por meio dos quais a cultura da empresa é decifrada. OA3 Discutir a importância da cultura organizacional e as condições sob as quais ela melhora o desem- penho da organização. OA4 Comparar e contrastar quatro estratégias para mesclar culturas organizacionais. OA5 Identificar quatro estratégias para mudar ou re- forçar a cultura de uma organização, incluindo a aplicação da teoria da atração-seleção-atrição. OA6 Descrever o processo de socialização organizacio- nal e identificar estratégias para melhorá-lo. McSchane_14.indd 369McSchane_14.indd 369 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce 370 PARTE IV Processos Organizacionais interessadas. O texto Conexões 14.1 descreve como o valor declarado (defendido) de res- ponsabilidade de uma empresa pode ser radicalmente contrário às decisões, prioridades e comportamentos de seus líderes e muitos de seus funcionários. Conteúdo da cultura organizacional As organizações diferem em seu conteúdo cultural, ou seja, no ordenamento relativo dos valores compartilhados. O Facebook possui uma cultura empreendedora na qual os funcio- nários são incentivados a correr riscos para fazer a diferença para a empresa e a sociedade. A organização também reconhece que os funcionários cometem erros em sua jornada de inovação. A cultura na Netflix é significativamente diferente.7 Os executivos da empresa de aluguel de filmes sob demanda e pelo correio se veem como uma equipe esportiva. “Os líde- res da Netflix contratam, desenvolvem e cortam de maneira inteligente, então temos astros em todas as posições”, um slideshow da empresa afirma francamente. A empresa até mesmo pede aos gerentes que apliquem regularmente o “teste da preservação”: Determinar por quais funcionários eles lutariam para impedir que fossem embora. E os outros? “[Eles] deveriam receber uma indenização generosa agora mesmo, para que possamos abrir uma vaga e tentar encontrar um astro para a função”. Assim, enquanto a Netflix possui uma cultura de desem- penho onde o vencedor leva tudo, a cultura da Facebook é mais empreendedora: autocapa- Artefatos da cultura organizacional Cultura organizacional Estruturas físicas Linguagem Rituais e cerimônias Histórias e lendas Pressupostos compartilhados • Crenças inconscientes dadas como certas. • Modelos mentais implícitos, protótipos ideais de comportamento. Valores compartilhados • Crenças conscientes. • Avaliar o que é bom ou ruim; certo ou errado. FIGURA 14.1 Pressupostos, valores e artefatos da cultura organizacional. cultura organizacional Valores e pressupostos compartilhados em uma organização. McSchane_14.indd 370McSchane_14.indd 370 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce CAPÍTULO 14 Cultura Organizacional 371 citar os funcionários para que causem impacto, corram riscos e recebam apoio para cometer erros razoáveis pelo caminho. Quantas culturas empresariais existem? Vários modelos e medidas classificam a cultura organizacional em uma porção de categorias facilmente memorizáveis. Um desses mode- los, apresentado na Figura 14.2, identifica sete culturas empresariais. Outro modelo popular identifica quatro culturas organizacionais divididas em uma tabela 2x2, que representa foco interno versus externo e flexibilidade versus controle. Outros modelos organizam as culturas em torno de um círculo com 8 ou 12 categorias. Esses modelos circumplexos sugerem que algumas culturas são opostas às outras, por exemplo, uma cultura de evitação versus uma cul- tura de autorrealização ou uma cultura de poder versus uma cultura corporativista.9 Esses modelos e pesquisas são populares entre os líderes empresariais confrontados com a questão confusa de diagnosticar a cultura de sua empresa e identificar que tipos de cultura desejam desenvolver. Infelizmente, eles simplificam demasiadamente a diversidade dos valores culturais nas organizações. Existem dezenas de valores individuais e muito mais combinações de valores, de modo que a quantidade de culturas organizacionais que esses modelos descre- vem provavelmente está muito aquém do conjunto completo. Uma segunda preocupação é que a cultura organizacional inclua pressupostos compartilhados, não apenas valores compar- tilhados. A maioria dos modelos de cultura organizacional ignora os pressupostos, pois estes representam um aspecto mais subterrâneo da cultura. Uma terceira preocupação é que muitos modelos e medidas da cultura organizacional pre- sumem incorretamente que as organizações possuem uma cultura bastante clara e unificada que é facilmente decifrável.10 Essa perspectiva de “integração”, como é chamada, pressupõe ainda Os valores defendidos versus promulgados da BP A BP, gigante britânica do setor de energia, relaciona quatro valores centrais: progressividade, responsividade, inovação e orientação para o desempenho. Segundo a empresa, esses valores “nos guiam na condução do nosso negócio”. Em outras palavras, a BP afirma que esses valores são promulgados, que ficam evidentes nas decisões da empresa e na alocação de re- cursos, assim como no comportamento de seus funcionários. A maioria das pessoas no Golfo do México e no Alasca questionaria e muito essas afirmações. Em especial, a BP des- creve seu valor de “responsabilidade” como ser “comprome- tida com a segurança e o desenvolvimento do nosso pessoal e das comunidades e sociedades nas quais as pessoas atuam. Almejamos a não ocorrência de acidentes, e nenhum dano às pessoas e ao ambiente”. Mas o histórico de segurança e am- bientalismo da BP sugere o contrário. A BP está no centro do derramamento de petróleo no Golfo do México, considerado o pior desastre ambiental da história recente. Poucos meses antes do derramamento, a Occupatio- nal Safety and Health Administration (OSHA) do Governo dos Estados Unidos penalizou a BP com a maior multa na história da agência por não melhorar suficientemente a segurança em sua refinaria de Texas City. Quatro anos antes, 15 funcionários morreram em uma explosão na refinaria, acidente sobre o qual um relatório do governo norte-americano concluiu que a BP “não exerceu uma liderança eficaz em cultura de segurança”. O valor de “responsabilidade” da BP existe há alguns anos, mas os problemas de segurança e ambientais da em- presa eram conhecidos muito antes dos desastres no Golfo do México e no Texas. Em 2003, o governo norueguês afirmou que uma “cultura de SAS (Saúde, Ambiente e Segurança) ruim” contribuiu para uma fatalidade em uma plataforma de petróleo da BP. Alguns anos antes, um jornal de destaque concluiu que uma série de derramamentos, acidentes e supostos acoberta- mentos nas operações no Alaska geridas pela BP “levantam sérias questões sobre a cultura de segurança da empresa”. Em suma, ser “responsável” em termos de segurança e meio ambiente são valores defendidos na BP, mas provavelmente não fazem parte da cultura atual ou recente da empresa.8 C O N E X Õ E S 1 4 . 1 A BP descreve um de seus valores centrais como sendo ode almejar “a não ocorrência de acidentes, e nenhum dano às pessoas e ao am- biente”, mas o histórico da empresa de energia britânica indica que o valor pode ser defendido, mas não é promulgado. McSchane_14.indd 371McSchane_14.indd 371 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 372 PARTE IV Processos Organizacionais que, quando a cultura de uma organização muda, ela passa de uma condição unificada para uma nova condição unificada com ambiguidade ou fraqueza temporária somente durante a transi- ção. Provavelmente, esses pressupostos estão incorretos ou, na melhor das hipóteses, demasiada- mente simplificados. A cultura de uma organização normalmente é opaca e confusa, tanto que não pode ser estimada apenas com levantamentos feitos com funcionários. Como discutiremos em seguida, as organizações consistem em subculturas diversas porque os funcionários que os compõem têm diferentes grupos de experiências e formações que moldaram seus valores e prio- ridades. Por exemplo, após a explosão na refinaria texana da BP alguns anos atrás, uma comissão independente investigou a cultura de segurança da empresa de energia em todos os Estados Uni- dos. A comissão concluiu que algumas instalações da BP entendiam a importância da segurança, mas que a maioria ainda precisava desenvolver uma cultura de segurança muito mais forte.11 Mesmo os agrupamentos subculturais podem não ser bem-definidos, pois, em última análise, os valores e pressupostos variam entre os funcionários individuais. Enquanto os fun- cionários diferirem entre si, a cultura da organização sempre terá algum nível perceptível de variabilidade. Desse modo, muitos dos modelos e medidas populares de cultura organizacio- nal simplificam excessivamente a variedade de culturas organizacionais e presumem errone- amente que é relativamente fácil encaixar as organizações em categorias. Subculturas organizacionais Quando discutimos cultura organizacional, estamos nos referindo realmente à cultura domi- nante, ou seja, aos valores e pressupostos compartilhados com mais consistência e abrangên- cia pelos membros da empresa. A cultura dominante geralmente é apoiada pela alta gestão, mas as culturas também podem persistir apesar do desejo da alta gestão por outra cultura. Além disso, as empresas são compostas de subculturas localizadas por todas as suas várias divisões, regiões geográficas e grupos ocupacionais.12 Algumas subculturas melhoram a cul- tura dominante ao defenderem pressupostos e valores paralelos. Outras diferem da cultura dominante, mas não se opõem à ela. Outras ainda são chamadas de contraculturas porque incluem valores ou pressupostos que se opõem diretamente à cultura dominante da empresa. Também é possível que algumas organizações (incluindo certas universidades, de acordo com um estudo) sejam compostas de subculturas sem nenhuma cultura dominante observável.13 As subculturas, particularmente as contraculturas, têm o potencial de criar conflito e di- vergência entre os funcionários, mas também possuem duas funções importantes.14 Primeiro, elas mantêm os padrões de desempenho e o comportamento ético da organização. Os funcio- nários com valores contraculturais são uma fonte importante de vigilância e análise crítica da ordem dominante. Eles encorajam o conflito construtivo e mais pensamento criativo sobre como a organização deve interagir com seu ambiente. As subculturas também têm o poten- cial de apoiar a conduta ética ao evitar que os funcionários sigam cegamente um conjunto de DIMENSÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL CARACTERÍSTICAS DA DIMENSÃO Inovação Experimentar, buscar oportunidades, assumir riscos, poucas regras, pouca cautela Estabilidade Previsibilidade, segurança, orientada para regras Respeito pelas pessoas Justiça, tolerância Orientação para resultados Orientada para ação, expectativas altas, orientada para resultados Atenção aos detalhes Precisa, analítica Orientação para equipes Colaboração, orientada para pessoas Agressividade Competitiva, pouca ênfase na responsabilidade social FIGURA 14.2 Dimensões e características do perfil da cultura organizacional. Fonte: Baseado em informações de C.A. O’Reilly III, J. Chatman, and D.F. Caldwell, “People and Organizatio- nal Culture: A Profile Comparison Approach to Assessing Person-Organization Fit,” Academy of Management Journal 34, no. 3 (1991), pp. 487–518. McSchane_14.indd 372McSchane_14.indd 372 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce CAPÍTULO 14 Cultura Organizacional 373 valores. Os membros da subcultura questionam continuamente as decisões e ações “óbvias” da maioria, tornando, assim, todos mais conscientes das consequências de suas ações. A segunda função das subculturas é que elas são as zonas de reprodução dos valores emergentes que mantêm a empresa alinhada com as necessidades e expectativas mutantes de clientes, fornecedores, comunidades e outras partes interessadas. Mais cedo ou mais tarde, as empresas precisam substituir seus valores dominantes por outros mais adequados para o am- biente em mutação. Se as subculturas forem suprimidas, a organização pode levar mais tempo para descobrir e adotar valores alinhados com o ambiente emergente. DECIFRAR A CULTURA ORGANIZACIONAL POR MEIO DE ARTEFATOS Não é fácil mensurar valores e pressupostos compartilhados com levantamentos, e eles po- dem não estar refletidos precisamente nas declarações de valores da organização. Em vez disso, como a Figura 14.1 mostrou anteriormente, a cultura da organização deve ser decifrada por meio de uma investigação detalhada dos artefatos. Os artefatos são os símbolos e sinais observáveis da cultura de uma organização, como a maneira pela qual seus visitantes são sau- dados, seu arranjo físico e como seus funcionários são recompensados.15 Alguns especialistas sugerem que os artefatos são a essência da cultura organizacional, enquanto a maior parte deles (incluindo os autores deste livro) os encaram como símbolos ou indicadores da cultu- ra. Em outras palavras, a cultura é cognitiva (valores e pressupostos dentro das cabeças das pessoas), enquanto os artefatos são manifestações observáveis dessa cultura. Seja como for, os artefatos são importantes porque representam e reforçam a cultura da organização. Os artefatos fornecem evidências valiosas sobre a cultura de uma empresa.16 Normalmente, a melhor maneira de entender a cultura ambígua (fragmentada) de uma organização é obser- vando os comportamentos no local de trabalho, ouvindo as conversas cotidianas entre os fun- cionários e com os clientes, estudando documentos escritos e e-mails, reparando nas estruturas e configurações físicas e entrevistando os funcionários a respeito das histórias que envolvem a empresa. Em outras palavras, para compreender verdadeiramente a cultura de uma organiza- ção, precisamos colher informações amostrais a partir de vários artefatos organizacionais. A Clínica Mayo realizou uma avaliação alguns anos atrás. Um antropólogo foi contratado para decifrar a cultura da organização médica na sua sede no estado de Minnesota e para identificar maneiras de transferir essa cultura para seus novos locais na Flórida e no Arizona. Durante seis semanas, o pesquisador acompanhou os pacientes, passou-se por paciente nas salas de espera, realizou inúmeras entrevistas e acompanhou médicos nas consultas. Seu rela- tório final delineou a cultura dominante da Mayo e como as suas operações-satélite variavam a partir dela.17 Nesta seção, examinaremos as quatro categorias amplas de artefatos: histórias e lendas da organização, rituais e cerimônias, linguagem e estruturas físicas e símbolos. Histórias e lendas da organização David Ogilvy é uma lenda da publicidade, mas igualmente lendárias são as histórias a seu res- peito que continuaram a reforçar os valores que introduziu em sua empresa. Uma das histórias conta como o conselho de administração da Ogilvy chegou a uma reunião e descobriu uma bo-neca matryoshka russa em cada um dos assentos. Os diretores abriram cada boneca, uma ani- nhada na outra, até descobrirem a mensagem dentro da menor: “Se contratar pessoas que são menores do que você, nós nos tornaremos uma empresa de anões. Se contratar pessoas maiores do que você, nós nos tornaremos uma empresa de gigantes”. As bonecas russas se transforma- ram em parte da cultura da Ogilvy, que exige a contratação de talentos, não de subserviência.18 Histórias como a das bonecas russas da Ogilvy permeiam as culturas organizacionais for- tes. Alguns contos narram feitos heroicos, enquanto outros narram eventos ridículos que se desviam dos valores centrais da empresa. As histórias e lendas organizacionais servem como percepções sociais poderosas da maneira como as coisas devem (ou não) ser feitas. Elas acres- centam realismo humano às expectativas da empresa, aos padrões individuais de desempenho e aos critérios para demissão. As histórias também provocam emoções nos ouvintes, o que tende a melhorar sua memória a respeito da lição que elas contêm.19 As histórias surtem maior OA2 McSchane_14.indd 373McSchane_14.indd 373 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce 374 PARTE IV Processos Organizacionais efeito na comunicação da cultura corporativa quando descrevem pessoas reais, são tomadas como verdadeiras e são conhecidas pelos funcionários em toda a organização. Além disso, as histórias são prescritivas, aconse- lhando as pessoas sobre o que fazer e o que não fazer.20 Rituais e cerimônias Rituais são rotinas programadas da vida diária da organização que dra- matizam sua cultura.21 Eles abrangem a forma como os visitantes são sau- dados, com que frequência os altos executivos visitam os subordinados, como as pessoas se comunicam entre si, quanto tempo os funcionários levam para almoçar, e assim por diante. Esses rituais são eventos repetiti- vos e previsíveis que têm significados simbólicos que refletem os valores e pressupostos culturais fundamentais. Por exemplo, a cultura dinâmica da BMW fica literalmente evidente no modo como os funcionários andam pelos escritórios da montadora. “Quando você anda pelos corredores dos prédios das outras empresas, as pessoas se arrastam, elas andam lenta- mente”, observa um executivo da BMW. “Mas os funcionários da BMW tendem a andar mais depressa”.22 As cerimônias são artefatos mais for- mais do que os rituais. Elas são atividades planejadas, realizadas especifi- camente em prol de uma audiência. Isso incluiria recompensar (ou punir) publicamente os funcionários ou comemorar o lançamento de um novo produto ou um contrato recém-conquistado. Linguagem organizacional A linguagem do local de trabalho diz muito sobre a cultura de uma empre- sa. A forma como os funcionários falam uns com os outros, descrevem os clientes, expressam raiva e cumprimentam as partes interessadas são sím- bolos verbais dos valores culturais. A linguagem da cultura fica evidente na The Container Store, onde os funcionários elogiam uns aos outros por “ser Gumby”, o que significa que eles estão sendo tão flexíveis quanto o brinque- do verde para ajudar um cliente ou outro funcionário.24 A linguagem tam- bém destaca os valores detidos pelas subculturas organizacionais. Os con- sultores que trabalham na Whirlpool ouvem os funcionários da empresa de eletrodomésticos falarem sobre a “cultura PowerPoint” da empresa. Essa expressão, que faz referência ao software de apresentação da Microsoft, implica que a Whirlpool possui uma cul- tura hierárquica na qual a comunicação é de mão única (dos executivos para os funcionários).25 Estruturas físicas e símbolos Winston Churchill disse que “nós moldamos nossas edificações; depois disso, são elas que nos moldam”.26 O ex-primeiro-ministro britânico estava nos lembrando que os edifícios refletem e influenciam a cultura de uma organização. O tamanho, a forma, a localização e a idade das edificações podem sugerir a ênfase que elas dão ao trabalho em equipe, ao respeito pelo meio ambiente, à hierarquia ou a qualquer outro conjunto de valores.27 Um exemplo extremo é a “sede interplanetária” da Oakley, Inc. A empresa ultradescolada de óculos e vestuário criou uma estrutura que mais parece um cofre em Foothills Ranch, Califórnia, cercada por paredes metálicas enormes com parafusos gigantes, representando sua cultura cheia de segredos e ultra- protetora. “Sempre tivemos uma mentalidade de fortaleza”, afirma um executivo da Oakley. “O que fazemos vale ouro e as pessoas fariam de tudo para obtê-lo, então precisamos protegê-lo”.28 Mesmo se a edificação não disser muita coisa, deve haver um verdadeiro tesouro de ar- tefatos físicos dentro dela. Me- sas, cadeiras, espaço das salas e tapeçarias de parede (ou a falta delas) são apenas alguns itens A Zappos é famosa por sua qualidade de serviço “Uau”. A loja on-line de calçados e vestuário tem uma cultura focada no cliente que fica igualmente clara (assim como um pouco de sua esquisitice) nos artefatos de sua sede em Nevada. Os visitantes são aplaudidos pela equipe. Os funcionários parecem sempre alegres. Provavelmente o artefato mais estranho na Zappos é uma cerimônia em que os convidados tiram uma fotografia sentados em um trono e usando uma coroa real.23 artefatos Os símbolos e sinais obser- váveis da cultura de uma organização. rituais As rotinas programadas da vida diária da organização que dramatizam sua cultura. cerimônias Exibições planejadas da cultu- ra organizacional, conduzidas especificamente em prol de uma audiência. McSchane_14.indd 374McSchane_14.indd 374 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce Iury Realce CAPÍTULO 14 Cultura Organizacional 375 que poderiam transmitir um significado cultural.29 Considere os artefatos físicos que você poderia observar se visitasse os escritórios do Facebook. Como está descrito no começo deste capítulo, todos os escritórios do Facebook têm uma arquitetura aberta parecida, na qual os funcionários trabalham em mesas de madeiras sem repartições. Muitos desses espaços de trabalho parecem inacabados. Isoladamente, cada um desses artefatos não diz muito. Juntos, no entanto, é possível ver como eles simbolizam a cultura criativa e rápida do Facebook, ainda em seus primeiros estágios, com uma forte orientação para o coleguismo.30 A CULTURA ORGANIZACIONAL É IMPORTANTE? McSchane_14.indd 375McSchane_14.indd 375 23/06/14 14:3023/06/14 14:30 esaito Retângulo Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Compartilhar