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2º Samuel Marcio Bertachini em foco Sm A Bíblia pede carona 10 cristoescrito@hotmail.com 2020 2º Samuel Concepção Mical – a esposa sem filhos Davi entre os estrangeiros Mefibosete – o agraciado Uma casa para a arca de Deus Absalão e seu comércio O cântico [profético] de Davi A Bíblia pede carona 10 1. Concepção do livro Se o primeiro livro termina com a morte do persegui- dor de Davi, este segundo livro começa com a belíssima his- tória do maior rei de Israel. Sua prudência, fidelidade, devo- ção a Deus e a seus súditos, fizeram-no um rei sem igual. E a nação como um todo colherá seus benditos frutos, tanto no campo espiritual quanto no físico. Ele aumentará em muito as fronteiras de Israel, trará prosperidade material ao jovem reino e unificará a nação de- baixo de seu governo. Começa reinando em Hebrom e de- pois de conquistada Jerusalém, transfere a capital do reino para lá, sendo conhecida a partir dali como a cidade de Davi ou Sião. Aqui, podemos dizer como nunca, bem aventurado o povo cujo príncipe teme ao Senhor! Sua devoção ao Deus de Israel o leva a construir uma casa ao SENHOR, mas é impedido por este nos Seus sábios conselhos. Isto lhe renderá uma aliança eterna com seu trono que jamais findará, ainda que o mundo ímpio despreze, ou sua Igreja não reconheça. Mas nem tudo obviamente correrá sem tropeços. Co- meterá graves erros que refletirão tanto em seu governo – como quando foge de seu filho Absalão, tendo que abando- nar temporariamente seu trono –, quanto erros que refletirão sobre o destino de seus próprios filhos. Em torno dele, homens se ligarão com amor e dedica- ção profundos, bem como outros que se afastarão nos mo- mentos mais difíceis de sua vida. É uma pena que todas as suas grandes conquistas se- rão paulatinamente perdidas pela sua linhagem infiel nos rei- nados subsequentes, mas isto não tirará de seus lábios e co- ração um agradecimento especial ao seu Deus por sua fideli- dade. “Ainda que a minha casa não seja tal para com Deus, contudo estabeleceu comigo uma aliança eterna, que em tudo será bem ordenado e guardado, pois toda a minha salvação e todo o meu prazer está nele, apesar de que ainda não o faz brotar” (23.5). 2. Mical – a esposa sem filhos Todos conhecem a história de Mical, filha de Saul que foi des- posada por Davi, e nas palavras dele mesmo – “Dá-me minha mulher Mical, que eu desposei por cem prepúcios de filisteus” (3.14). Ela havia sido desposada por outro homem, quando Davi fugia das perseguições de Saul. E agora, reinando sobre Hebrom ao início de sua carreira, pede sua mulher de volta. Tentaremos nesta, e nas próxi- mas notas, traçar o perfil tipológico de Davi nas suas semelhanças com seu Senhor perseguido e prometido a reinar. Mical se liga afetivamente a Davi da mesma forma que Israel um dia foi desposada pelo SENHOR. "Convertei-vos, ó filhos rebeldes, diz o SENHOR; pois eu vos despo- sei..." (J r 3.14). Mical e Israel se ligaram aos seus maridos somente depois que am- bos pagassem um certo preço de resgate. “Então disse Saul: Assim direis a Davi: O rei não tem necessidade de dote, senão de cem prepúcios de filisteus, para se tomar vingança dos inimigos do rei... Então Davi se levantou, e partiu com os seus homens, e feriu dentre os filisteus duzentos homens, e Davi trouxe os seus prepúcios, e os entregou todos ao rei, para que fosse genro do rei; então Saul lhe deu por mu- lher a sua filha” (1 Sm 18.25-27). “E o Senhor nos tirou do Egito com mão forte, e com braço es- tendido, e com grande espanto, e com sinais, e com milagres; e nos trouxe a este lugar, e nos deu esta terra, terra que mana leite e mel” (Dt 26.8-9). Ambos agiram além das expectativas, como bem atesta Paulo quando afirma que Deus “é poderoso para fazer tudo muito mais abun- dantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Ef 3.20). Mas o que mais impressiona é a atitude de desprezo das duas mulheres. Mical, no momento mais sublime da vida nacional e espiri- tual de Israel e do seu rei – quando Davi transportava a arca do Senhor para Jerusalém – o despreza em seu coração. “E sucedeu que, entrando a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração” (6.16). Um dia, também Jesus transportou sua própria arca para Jerusa- lém, nos dias da sua carne, na esperança que fosse reconhecido como Messias autorizado de Deus. E qual a resposta do povo? “Mas toda a multidão clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás... Falou, pois, outra vez Pilatos, queren- do soltar a Jesus... Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifi- ca-o, crucifica-o” (Lc 23.18-21). E como já acentuamos antes – “E, engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura te cobriste) e dei- xou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação” (Dt 32.15). Jeremias também já adiantava em teor profético. “Deveras, como a mulher se aparta aleivosamente [deslealmente] do seu marido, assim aleivosamente te houveste comi- go, ó casa de Israel, diz o Senhor” (3.20). As duas terão castigo à altura do seu pecado. “E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua mor- te” (6.23). “E, avistando [Jesus] uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente” (Mt 21.19). E assim como as servas dos servos de Davi dariam o louvor digno a Davi – “E ainda mais do que isto me envilecerei [tornar des- prezível], e me humilharei aos meus olhos; mas das servas, de quem falaste, delas serei honrado” (6.22) – também Paulo faria esta distin- ção. “E para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericór- dia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios, e canta- rei ao teu nome” (Rm 15.9). Tenhamos nós um coração manso e humilde que se alegra com os que se alegram com o Senhor, pois em breve nosso Senhor chamará sua noiva para estar com ele para sempre. Estamos todos prontos para este dia?! A seguir veremos outra faceta da vida de Davi, porém antes do seu reinado. 3. Davi entre os estrangeiros Como pretendemos analisar vários ângulos tipológicos da vida de Davi, temos que retornar ao primeiro livro de Samuel já examinado por nós. Vamos a um breve contexto. Saul havia sido reprovado em dois testes – quanto a esperar Sa- muel para sacrificar ao seu Deus, diante do cerco dos filisteus (1 Sm 13) e quando não destruiu totalmente aos amalequitas, desprezando uma ordem direta divina e profética (1 Sm 15). Davi então é ungido rei por Samuel diante de seus irmãos, o que nos faz lembrar obrigatoriamente da unção de Jesus pelo Espírito no início de seu ministério: “E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batiza- do também Jesus, orando ele, o céu se abriu; e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o meu Filho amado [o significado do nome Da- vi], em ti me comprazo” (Lc 3.21-22). A partir daqui Davi terá uma vida dupla – ora em companhia de Saul em seu reino, ora na casa de seu pai com suas ovelhas – lembran- do o ministério duplo de Jesus – ora junto ao trono do Pai em interces- são, ora junto às ovelhas dispersas de Israel. “Davi, porém, ia e voltava de Saul, para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém” (1 Sm 17.15). Mas a derradeira falha de Saul diante de toda a nação fica ex- plícita em sua falta de coragem, falta de comunhão divina, falta de ati- tude diante de Golias – afrontador de Israel e por analogia, Satanás afrontando céus e terra na falta de um campeão. O filho amado aparece e lhe corta a cabeça, numa clara alusão às palavras de Paulo. “Havendo riscadoa cédula que era contra nós nas suas orde- nanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.14-15). Com a vitória triunfal de Davi, e aos olhos de todo o povo, ele é integrado definitivamente ao reino de Saul, mas aí começam seus pro- blemas. Sua clara dignidade pessoal, sua eleição aos olhos do próprio Deus, o abandono do Espírito do Senhor na vida de Saul, levam a uma perseguição insistente e sistemática da parte do rei reprovado. Desnecessário lembrar toda perseguição de Satanás na vida e ministério de Jesus. Davi chega ao ponto de ter que fugir de Israel e se abrigar entre os inimigos de seu próprio povo, vivendo como um banido, um revol- toso, um desertor entre estrangeiros. Citemos apenas um caso. “E Davi levantou-se, e fu- giu aquele dia de diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate [cidade dos filisteus]. Porém os criados de Aquis lhe disseram: Não é este Da- vi, o rei da terra? Não se cantava deste nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares? E Davi considerou estas palavras no seu ânimo, e temeu muito diante de Aquis, rei de Gate. Por isso se contrafez diante dos olhos deles, e fez-se como doido entre as suas mãos, e esgrava- tava nas portas de entrada, e deixava correr a saliva pela barba” (1 Sm 21.10-13). Ora, se Davi já era rei de Israel pela unção de Samuel, mas ti- nha que fugir de diante de Saul, então Saul era um usurpador do trono de Israel, exatamente como Satanás é hoje um usurpador do trono do mundo, pois ‘o mundo ainda jaz no maligno’ embora a vitória esmaga- dora de Cristo na cruz. Isto nos leva a crer, por analogia, 1) a presente era da Igreja, onde o evangelho é pregado e aceito no mundo, pelos gentios, enquan- to 2) Israel está por um pouco de tempo ‘esquecido’ aos olhos de Deus. Comparemos duas passagens acerca destas duas visões. “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glór ia” (! Tm 3.16). “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado (Rm 11.25). E assim como Davi teve que aguardar a destruição do reinado ímpio de Saul para poder reinar, também o Filho de Deus espera agora que certos inimigos sejam derrotados pela mão potente de Deus para poder reinar, não só sobre Israel, mas sobre todo o mundo. “Mas este [Jesus], havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés” (Hb 10.12-13). E quanto à ‘loucura’ de Davi entre os gentios, poderíamos en- contrar um interessante paralelo em Paulo. “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiri- dor deste século [Satanás]? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (1 Co 1.20-21). Realmente são muitos os paralelos entre a história do amado de Deus e o amado do Pai. E certamente nem enxergamos um décimo do que poderia ser visto. Que Deus nos agracie nestes últimos dias a andar com propósi- to firme diante de Deus, como Davi sempre andou. Passaremos a seguir para Mefibosete, outro personagem ligado a Davi e suas tipologias. 4. Mefibosete – o agraciado Davi, após devidamente entronizado e com uma administração relativamente segura sobre Israel, preocupa-se com o destino da famí- lia de Jônatas, seu amigo mais precioso. “Há ainda alguém que tenha ficado da casa de Saul, para que lhe faça benevolência por amor de Jônatas?” (9.1). A resposta de Ziba, servo na casa de Saul, indica com certo desprezo que ainda havia alguém, e ele faz questão de frisar sua condi- ção física. “Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés” (9.3). Ele tentou influenciar negativamente com uma observação mal- dosa, pois não conhecia o coração complacente de Davi, sempre pron- to a demonstrar benevolência. E é aqui que recomeçamos nossa tipolo- gia a respeito de Davi e Israel. Este povo também era coxo à sua ma- neira. “Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando co- xeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1 Re 18.21). O silêncio do povo de Israel diante daquele desafio atrevido de Elias a Acabe e seus 850 profetas do engano, demonstra bem sua inca- pacidade em se erguer com firmeza e clamar juntamente com o profeta o nome de seu Senhor. “Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar” (Is 59.14). O significado de Mefibosete – ‘da boca da vergonha’ – também encontra eco em seu povo. “Para que te lembres disso, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua vergonha, quando eu te expiar de tudo quanto fizeste, diz o Senhor DEUS” (Ez 16.63). Mas como garante o Senhor pela boca de Paulo – “onde o pe- cado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20). Do seu estado aviltante, o rei humano providenciará terra e co- munhão íntima em quem encontramos reflexo no rei divino. “Então chamou Davi a Ziba, moço de Saul, e disse-lhe: Tudo o que pertencia a Saul, e a toda a sua casa, tenho dado ao filho de teu senhor. Trabalhar -lhe-ás, pois, a terra, tu e teus filhos, e teus ser- vos, e recolherás os frutos, para que o filho de teu senhor tenha pão para co- mer; mas Mefibosete, filho de teu se- nhor, sempre comerá pão à minha me- sa” (9.9-10). Pelo comparativo da sombra, Israel também herdará toda sua terra no mo- mento oportuno bem como comunhão íntima com Cristo. “Eis que EU os congregarei de todas as terras, para onde os tenho lançado na minha ira, e no meu furor, e na mi- nha grande indignação; e os tornarei a trazer a este lugar, e farei que habitem nele seguramente. E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus... E alegrar-me-ei deles, fazendo-lhes bem; e plantá-los-ei nesta terra firmemente, com todo o meu cora- ção e com toda a minha alma” (Jr 32.37-41). Salmo 23, usado alegoricamente para a Igreja de Cristo e refri- gério de seus filhos, fala excelentemente para Israel em seu descanso futuro e comunhão íntima com seu Deus no milênio. “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias” (Sl 23.5- 6). O destino eterno de reinado de Davi é o mesmo destino de seus súditos. Mas como vamos frisar outras vezes, não antes que os inimi- gos de Israel forem subjugados. “O Senhor sairá como poderoso, como homem de guerra des- pertará o zelo; clamará, e fará grande ruído, e prevalecerá contra seus inimigos. Por muito tempo me calei [nestes 2000 anos]; estive em silêncio, e me contive; mas agora darei gritos como a que está de par- to, e a todos os assolarei e juntamente devorarei” (Is 42.13-14). Assim como Israel será trazido de volta ao convívio pacífico com seu Deus somente após a destruição de seus inimigos no período tribulacional já às portas, Davi também só pôde estender sua miseri- córdia ao pobre coxo (cap. 9 de Segundo Samuel), depois de subjuga- do seus inimigos como indica o capítulo 8 anterior. Israel está em sua terra agora, enganosamente seguro, mas sem o seu Deus. Novamente o Senhor os espalhará pelas mãos do falso Messias. Serão perseguidose massacrados. Mas seus inimigos também serão julgados, então a luz de Israel voltará a brilhar sobre o mundo como profetiza Isaías. “Faço chegar a minha justiça, e não estará ao longe, e a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião a salvação, e em Isra- el a minha glória” (Is 46.13). “Volta, ó Senhor, para os muitos milhares de Israel” (Nm 10.36). 5. Uma casa para a arca de Deus Sabe aqueles momentos em que não temos muito o que fazer, mas sentimos que ainda falta algo? Davi estava em “descanso de todos os seus inimigos em redor” (7.1). Olhou para sua casa bem montada e lembrou que a arca de Deus repousava em uma tenda. “Disse o rei ao profeta Natã: Eis que eu moro em casa de cedro, e a arca de Deus mora dentro de cortinas” (7.2). Não havia nada de errado em sua percepção, era em todo verda- deira. E como servo fiel do Senhor, consultou o profeta Natã. Este foi pronto em responder. “E disse Natã ao rei: Vai, e faze tudo quanto está no teu cora- ção; porque o Senhor é contigo” (7.3). Uma coisa é sermos do Senhor, e a Palavra de Deus nos garante através de Paulo que “tudo é vosso” (1 Co 3.21-23). Outra coisa é sa- ber se podemos agir em todas estas coisas. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21). Natã foi rápido em sua resposta positiva pois lhe pareceu (como parece a muitos hoje!) que se era algo para Deus seria inevitável e obrigatoriamente bom. Mas esta não era a perspectiva do Senhor. “Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar- me-ás tu uma casa para minha habitação?... falei porventura algu- ma palavra a alguma das tr ibos de Israel, a quem mandei apascen- tar o meu povo de Israel, dizendo: Por que não me edificais uma casa de cedro?” (7.5-7). Deus não aceita nada para Ele que não venha dele mesmo, que não venha da Sua vontade Santa e Soberana. Paulo sabia bem disto. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Agostinho tem um pensamento muito interessante, que ilustra bem o que propomos – “Dai-me o que ordenais, e ordenai-me o que quiserdes”. Só Deus pode construir uma casa para Deus. Nenhum homem mortal e temporal pode conceber algo para o imortal e eterno. Ele mes- mo então responde sempre na sua graciosidade imerecida típica. “Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre” (7.12-13). Salomão, sabemos, realmente construiu uma casa ao Senhor, inclusive com uma pompa desmesurada. Mas ele mesmo reconheceu que, apesar da sua grandeza e magnificência, não era suficiente. “Mas, na verdade, ha- bitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” (1 Re 8.27). É exatamente onde o homem tem dificuldade de aceitar e en- tender que Deus age e transcende. “E o Verbo se fez carne, e habitou [tabernaculou no original] entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Era desta casa que Deus falava a Davi de forma inédita. “Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não qui- seste, mas corpo me preparaste” (Hb 10.5). O mesmo tabernáculo de Deus na terra desafiou seus filhos in- crédulos. “Jesus respondeu, e disse-lhes: Derrubai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19). No entanto, apesar de Jesus ser este tabernáculo em que Deus podia habitar entre os homens, Ele não foi reconhecido pelos seus. Sendo crucificado e ressuscitado ao terceiro dia, subiu aos céus, “esperando até que os seus inimigos sejam postos por estrado de seus pés” (Hb 10.13). Ele retornará para Sua entrada (agora sim triunfal!) no templo de Deus que se construirá segundo os moldes de Ezequiel para Sua entronização. A ocasião para esta entrada definitiva se dará na mesma sequência proposta nesta mesma profecia que analisamos. “E prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes” (7.10). Somente quando Israel estiver seguro no seu lugar, seus peca- dos lavados, seu templo devidamente santificado, que seu Messias tão esperado ‘confirmará o trono do seu reino [Davi] para sempre’. Ainda que isto não fale diretamente para nós, tem o leitor e lei- tora convicção destas coisas? Aguarda e deseja do fundo de sua alma todo o bem para este povo sofrido, mas escolhido? Como diz a Escritura – “o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios [eu e você] haja entrado. E as- sim todo o Israel será salvo, como está escr ito: De Sião virá o Li- bertador, e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.25-26). Comentaremos logo após sobre Absalão e sua triste tipologia. 6. Absalão e seu comércio Sempre interpretei esta curiosa passagem de Absalão como uma referência tipológica (porém lembrando o passado) do comércio que Satanás fez no céu para destronar o Todo Poderoso, quando arre- gimentou um grande grupo de afiliados em sua rebeldia contra Deus. Afinal, Absalão e toda sua beleza e astúcia que se levantam contra o rei, favorecem tal interpretação. Mas talvez possa falar também de seu filho na terra – o anticristo – em rebelião contra Deus. Vamos tentar esmiuçar esta nova visão, aliás que me surgiu enquanto procurava as- suntos para estas notas. Toda história de Absalão começa com o estupro de Tamar por outro irmão dela. Tamar significa ‘palmeira’, e em busca do significa- do espiritual deste nome, encontrei esta passagem esclarecedora de Cantares que poetiza o amor do Senhor pela sua virgem Israel. “A tua estatura é semelhante à palmei- ra; e os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas [falando de sa- cerdócio]... Levantemo- nos de manhã para ir às vinhas... As mandrágo- ras [lembram a br iga das duas esposas de Jacó – Lia e Raquel em Gn 30] exalam o seu per- fume...” (Ct 7.7-13). Toda a Escritura é repleta de passagens indicando a virgindade original da nação desposada pelo Senhor, mas, por causa de seus maus caminhos, o adultério e prostituição espiritual contaminam esta ima- gem. Vamos citar uma passagem no Antigo Testamento referindo-se aos três comandos essenciais e corruptos do povo, e uma do Novo nos mesmos moldes porém de forma mais abrangente. “Conspiração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge, que arrebata a presa; eles devoram as almas... Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas... Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem sangue, para destruírem as almas... Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazendo vio- lência ao pobre e necessitado” (Ez 22.25-29). “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23.13). Amnom, o irmão que violentou Tamar, estranhamente significa ‘Fiel’. Mas fiel em quê, poderíamos perguntar, diante desta exibição escabrosa de maldade? Penso que fiel a si mesmo, aos seus próprios desejos carnais, a ponto de se fingir doente para abusar de sua própria irmã. E depois do abuso a enxota miseravelmente. Não foi assim que agiram os cabeças de Israel em praticamente toda sua história, fazendo do povo mero joguete de suas cobiças perversas? Nesta mesma sequência de ais aos escribas e fariseus, talvez esta fale bem do que estamos propondo. “Assim também vós exteriormente pareceis justos [ou fiéis]aos homens, mas inter iormente estais cheios de hipocr isia e de iniqui- dade” (Mt 23.28). Voltando ao caso da palmeira violentada por seu próprio irmão, Absalão recolhe sua irmã em casa sem maiores cuidados, lembrando uma triste condição do povo de Israel perante seus líderes. Associemos estas passagens. “E Absalão, seu irmão, lhe disse: Esteve Amnom, teu irmão, contigo? Ora, pois, minha irmã, cala-te; é teu irmão. Não se angustie o teu coração por isto. Assim ficou Tamar, e esteve solitária em casa de Absalão seu irmão” (2 Sm 13.20). “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr 6.13-14). Assim como Absalão curou superficialmente a ferida de sua irmã, também o anticristo proporcionará uma paz falsa ao seu povo logo em breve. “E ele [a besta que sobe do mar de Ap 13.1] firmará aliança com muitos por uma semana [sete anos futuros]; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abo- minações virá o assolador [a besta do mar que sobe agora do abis- mo de Ap 11.7], e isso até à consumação” (Dn 9.27). O meio que Absalão emprega para enganar os súditos de Davi será o mesmo meio que a besta usará para enganar Israel nesta semana futura – um comércio de mentiras, hipocrisia, falsas esperanças e os- tentação – mas com intuito único de governar como usurpador. Com- paremos. “E aconteceu depois disto que Absalão fez aparelhar carros e cavalos, e cinquenta homens que corressem adiante dele... E suce- dia que a todo o homem que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si, e lhe dizia: De que cidade és tu? E, di- zendo ele: De uma das tribos de Israel é teu servo; então Absalão lhe dizia: Olha, os teus negócios são bons e retos, porém não tens quem te ouça da parte do rei... Sucedia também que, quando alguém se chegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava [o beijo de Judas]. E desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo; assim furtava Ab- salão o coração dos homens de Israel” (15.1-6). “Filho do homem, dize ao príncipe [não ao rei] de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Porquanto o teu coração se elevou e disseste: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no meio dos mares; e não passas de homem, e não és Deus, ainda que estimas o teu cora- ção como se fora o coração de Deus; eis que tu és mais sábio que Da- niel; e não há segredo algum que se possa esconder de ti. Pela tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste para ti riquezas, e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros. Pela extensão da tua sabedo- ria no teu comércio aumentaste as tuas riquezas; e eleva-se o teu coração por causa das tuas riquezas” (Ez 28.2-5). Que esta passagem, usando alegoricamente a figura do príncipe de Tiro (cidade altamente comercial dos fenícios), representa o anti- cristo na sua arrogante presunção divina, fica aprovada pelas próprias palavras do verdadeiro Cristo e do maior de seus apóstolos. “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo [no templo de Deus]; quem lê, entenda...” (Mt 24.15). “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será as- sim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do peca- do, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 Ts 2.3-4). Outra situação muito interessante da semelhança de Absalão e a besta futura está no estupro das dez concubinas de Davi a pleno sol. “E saiu o rei [Davi fugindo de Absalão], com toda a sua casa, a pé; deixou, porém, o rei dez mulheres concubinas, para guardarem a casa... E disse Aitofel a Absalão: Possui as concubinas de teu pai, que deixou para guardarem a casa; e assim todo o Israel ouvirá que te fizeste aborrecível para com teu pai; e se for talecerão as mãos de todos os que estão contigo. Estenderam, pois, para Absalão uma tenda no terraço; e Absalão pos- suiu as concubinas de seu pai, perante os olhos de todo o Isra- el” (15.16; 16.21-22). Também o anticristo perseguirá implacavelmente a Israel no período tribulacional. “E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher [Israel]que dera à luz o filho homem [Jesus]... E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar... E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os man- damentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo” (Ap 12.13- 17). Estas dez concubinas violentadas e depois separadas sem co- munhão com Davi, depois de reaver seu trono, podem também já ante- cipar as 10 tribos do norte que serão levadas em cativeiro definitivo para a Assíria. Deixo apenas mais uma passagem extremamente interessante quanto ao caráter de 10 virgens futuras para que o leitor e leitora pos- sam meditar. “Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, to- mando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas... E, tardando o esposo, tosquenejaram todas [nenhuma deixou de dormir], e adormeceram” (Mt 25.1-5). Possamos nós, como corpo de Cristo, estar atentos a todos es- tes breves sinais e mais breve retorno ainda de nosso Senhor e Salva- dor Jesus! 7. O cântico [profético] de Davi Sabe quando temos aquela vontade de gritar aos quatro ventos que o Senhor nos libertou de alguma grande prova ou nos agraciou com tremendo favor? A carreira de Davi não foi fácil. Alguns anos sendo perseguido pelo ‘rei’ Saul, encurralado em morte iminente em algumas ocasiões, desterrado outras vezes, guerras constantes com seus inimigos na con- quista de territórios para sua jovem nação, além de seus próprios erros a que todos nós também estamos sujeitos. Ele e o Espírito acharam por bem gravar um agradecimento todo especial que ficasse eternizado. “E Falou Davi ao SENHOR as palavras deste cântico, no dia em que o SENHOR o livrou das mãos de todos os seus inimigos e das mãos de Saul” (2 Sm 22.1). Mas sabemos que, quando o Espírito age, suas ações não se prendem somente ao presente, mas dilatam suas verdades para o futu- ro. É aquele “fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef 3.20). O cântico falava tanto do livramento de Davi, quanto do livra- mento do verdadeiro Rei Jesus que era tipificado por ele. Mas também falava do livramento ainda futuro do remanescente de Israel que será ferozmente perseguido pela besta que sobe do mar e do abismo em tribulação muito próxima. Vamos a algumas análises. Quanto à primeira vinda de Cristo, sabemos toda sua persegui- ção implacável e sua necessidade de intercessão constante. Como não ver no clamor de Davi o verdadeiro alvo do Espírito no drama do Monte das Oliveiras? “Estando em angústia, invoquei ao Senhor, e a meu Deus clamei; do seu templo ouviu ele a minha voz, e o meu clamor che- gou aos seus ouvidos” (22.7). “E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lc 22.44). “O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvi- do quanto ao que temia” (Hb 5.7). E quanto à sua segunda vinda em glória, exatamente quando vai salvar seu povo perseguido e acuado no vale do Armagedom? “Então se abalou e tremeu a terra, os fundamentos dos céus se moveram e abalaram, porque ele se irou. Subiu fumaça de suas nari- nas, e da sua boca um fogo devorador;carvões se incenderam dele. E abaixou os céus, e desceu; e uma escur idão havia debaixo de seus pés” (22.8-10). “Desde o alto enviou, e me tomou; tirou-me das muitas águas. Livrou-me do meu poderoso inimigo, e daqueles que me tinham ódio, porque eram mais fortes do que eu” (22.17-18). “E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a ou- tra metade dele para o sul. E fugireis pelo vale dos meus montes, pois o vale dos montes chegará até Azel... Então virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo” (Zc 14.4-5). Davi foi implacavelmente perseguido e viu seu livramento e salvação. Jesus foi esmagado sob todas as circunstâncias humanas, di- vinas e demoníacas, mas obteve sua vitória e altíssimo galardão. O re- manescente judaico futuro também será perseguido sem tréguas, mas obterá a mesma vitória e galardão proporcionais à sua provação. Peço que o leitor e leitora façam uma releitura deste cântico sob estas três perspectivas e garanto que este cântico terá um novo sabor. Possamos nós cantar como Davi. “O caminho de Deus é perfeito, e a palavra do Senhor refinada; e é o escudo de todos os que nele con- fiam. Por que, quem é Deus, senão o Senhor? E quem é rochedo, senão o nosso Deus?” (22.31-32). Findamos assim estas notas sobre o segundo li- vro de Samuel, e partimos certos de Sua infinita bonda- de para o primeiro livro de Reis. Ficaria muito feliz e honrado se você me acompanhasse em mais esta jornada!
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