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CARVALHO, José Murilo de Cidadania no Brasil O longo Caminho

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CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3a ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
Introdução
· Reconstrução da democracia no país após o fim da ditadura de 1985.
· A cidadania virou povo, em 1988 a Constituição ‘Cidadã’.
· Crença de que a democratização das instituições traria rapidamente a felicidade nacional, havia ingenuidade e entusiasmo;
· Pensava-se sobre o ser social democrático com direito de eleger seus governantes em instâncias federativas garantiria a liberdade e direitos plenos. 
· Carvalho aponta que anos depois da ditadura há uma sociedade com um compilado de problemas centrais como o desemprego, violência, analfabertismo, falta de oferta de saneamento básico e serviços de saúde. 
· A falta de perspectivas de melhoras importantes a curto prazo inclusive em âmbito econômico e a dependência do Brasil a ordem internacional, carece da necessidade de refletir sobre o que é cidadania: seu significado sua evolução histórica e suas perspectivas. 
· O exercício de certos direitos como a liberdade de pensamento e o voto, não gera automaticamente o gozo de outros, como a segurança e o emprego.
· O exercício do voto não garante a existência de governos atentos aos problemas básicos da população. 
· A liberdade e a participação não levam automaticamente ou rapidamente, a resolução de problemas sociais.
· Uma cidadania plena que combine liberdade, participação e igualdade para todos é em ideal desenvolvida no Ocidente e talvez inatingível. Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. 
· O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos incompletos seriam os que possuem apenas algum dos direitos os que não se beneficiam de nenhum dos direitos seriam não cidadãos. 
· Direitos civis: direito à vida, liberdade de pensamento expressão, fé, propriedade justiça. Estado de direito. 
· É possível haver direitos civis sem direitos políticos. 
· Direitos políticos: direitos de participação da política, votar e ser votada, organizar partidos, fazer oposição. Auto governo. 
· Não se pode haver direitos políticos sem direitos civis.
· Sem os direitos civis sobretudo a liberdade de opinião e organização os direitos políticos sobretudo o voto podem existir formalmente mas ficam esvaziados de conteúdo e servem antes para justificar governos do que para representar cidadãos. 
· Os direitos políticos tem como instituição principal partidos, um parlamento livre e representativo, são eles que conferem a legitimidade, a organização política da sociedade. 
· Os direitos sociais garantem a participação da riqueza coletiva. Direito à educação, trabalho, salário justo, saúde, aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo. Os direitos sociais permitem as sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdades produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem estar para todos. Tem como ideia central a justiça social. 
· A educação popular que definida como direito social mas tem sido historicamente um pré-requisito para expansão de outros direitos. Na Inglaterra foi ela que permitiu as pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos da cidadania civil e política. 
· A diferença no Brasil para o modelo inglês perpassa por dois pontos, o primeiro a maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros. O segundo, refere-se a alteração da sequência que os direitos foram adquiridos, entre nós o social precedeu os outros. 
· Há uma diferença entre as cidadanias em cada país. A cidadania se desenvolveu dentro do fenômeno a que chamamos de Estado-nação. A luta pelos direitos, todos eles, sempre se deu dentro das fronteiras geográficas do Estado-nação. 
· A redução do poder do Estado afeta a natureza dos antigos direitos, sobretudo dos políticos e sociais. Se os direitos políticos significam participação no governo uma diminuição no poder do governo reduz também a relevância do direito de participar.
Conclusão 
· 178 anos de história do esforço para construir o cidadão brasileiro. A chegada ao final é com a sensação desconfortável de incompletude. Os progressos feitos são inegáveis mas ainda falta um longo caminho a percorrer. 
· Há drama dos milhões de pobres desempregados, analfabetos e semianalfabetos, de vítimas de violência particular e oficial. 
· Não há indícios de saudosismo em relação a ditadura mas perdeu-se a crença de que a democracia resolveria com rapidez os problemas da pobreza e da desigualdade. 
· A cronologia e a lógica descrita por Marshall foram invertidas no Brasil. Aqui primeiro vieram os direitos sociais implantados em período de supressão dos direitos políticos e de redução dos direitos civis por um ditador que se tornou popular. 
· Depois os direitos políticos, a maior expansão do direito do voto deu-se em outro período ditatorial em que órgãos de representação política foram transformados em peça decorativa ao regime. 
· Há uma excessiva valorização do Poder Executivo no Brasil. 
· A fascinação com o Poder Executivo forte está sempre presente e foi ela uma das razões da vitória do presidencialismo sobre o parlamentarismo no plebiscito de 1993. Essa orientação reforça a longa tradição portuguesa ou ibérica do patrimonialismo.
· A ação política nessa visão é sobretudo orientada para a negociação direta com o governo, sem passar pela mediação da representação. 
· O Estado é sempre visto como todo poderosos, na pior das hipóteses repressor e cobrador de impostos, na melhor como distribuidor paternalista de empregos e favores. 
· Essa cultura orientada mais para o Estado do que para a representação é o que chamamos de estadania em contraste com a cidadania.
· Ligada à preferência pelo Executivo está a busca de um messias político, de um salvador da pátria. A busca por lideranças carismáticas e messiânicas. Pelo menos três dos cinco presidentes eleitos por voto popular após 1945, Getúlio Vargas, Jânio Quadros e Fernando Collor possuíam traços messiânicos, sintomaticamente nenhum deles terminou o mandato. 
· A contrapartida da valorização do Executivo é a desvalorização do Legislativo e de seus titulares, deputados e senadores. As eleições legislativas sempre despertam menor interesse que as do Executivo, nunca houve no Brasil reação popular contra o fechamento do Congresso. 
· Durante o governo de Vargas, os benefícios sociais não eram tratados como direitos de todos mas como fruto da negociação de cada categoria com o governo. A sociedade passou a se organizar para garantir os direitos e os privilégios distribuídos pelo Estado. 
· A ausência de ampla organização autônoma da sociedade faz com que os interesses corporativos consigam prevalecer. Clientelismo, esquizofrenia política: os eleitores desprezam os políticos mas continuam votando neles na esperança de benefícios pessoais. 
· Para isso tem contribuído o ambiente internacional hoje, totalmente desfavorável a golpes de Estado e governos autoritários. 
· A globalização da economia em ritmo acelerado e outros fatores, continuam a provocar mudanças nas relações entre Estado, sociedade e nação, que eram o centro da noção e da prática da cidadania ocidental. 
· O foco está: Na redução do papel central do Estado e como fonte de direitos e como um arena de participação e o deslocamento da nação como principal fonte de identidade coletiva. Trata-se de um desafio à Instituição de Estado-nação. 
· No Brasil há uma longa tradição de estatismo. 
· A inversão da sequência dos direitos reforços entre nós a supremacia do Estado. A consolidação democrática é reforçar a organização da sociedade para dar embasamento para democratizar o poder. 
· A organização da sociedade deve ser feita contra o Estado, dientelista, corporativo e colonizado. 
· A cultura do consumo dificulta o desatamento do nó que torna tão lenta a marcha da cidadania entre nós, qualseja a incapacidade do sistema representativo de produzir resultados que impliquem a redução da desigualdade e o fim da divisão dos brasileiros em castas separadas pela educação, pela renda, pela cor. José Bonifácio afirmou, em representação enviada à Assembléia Constituinte de 1823, que a escravidão era um câncer que corroía nossa vida cívica e impedia a construção da nação. A desigualdade é a escravidão de hoje, o novo câncer que impede a constituição de uma sociedade democrática. A escravidão foi abolida 65 anos após a advertência de José Bonifácio. A precária democracia de hoje não sobreviveria a espera tão longa para extirpar o câncer da desigualdade.

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