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Medicina – UFCG Aula 5 – Biofísica Yahanna Estrela Bioeletricidade INTRODUÇÃO Foi observada pela primeira vez no século XIV por Luigi Galvani que identificou em laboratório a contração das patas de rãs. A bioeletrogênese é o fluxo iônico através da membrana plasmática. Os íons, principalmente sódio e potássio (não são os únicos), induzem a corrente de eventos. Os eventos dos potenciais de ação se restringem apenas à membrana do plano celular, visto que a diferença de potencial existe apenas neste plano. O LIC e o LEC são neutros. D.D.P DE MEMBRANA O potencial elétrico é mais negativo na face interna da membrana. Fatores que levam a ddp de todas as membranas ser negativa: 1. Efluxo de K+. É o principal gerador da ddp negativa em todas as células, responsável por aproximadamente 90% da ddp de membrana. A concentração de potássio maior no LIC que no LEC. Cada vez que um potássio sai do LIC para o LEC, ele adiciona uma carga negativa a face interna da membrana. É sabido que em todas as nossas células temos mais carga negativa na face interna do que na face externa da célula. Haverá uma inversão durante o potencial de ação das excitáveis. 2. Diferença de concentração iônicas do LIC e do LEC. Não só do potássio, mas de demais substâncias, que se concentram em maior quantidade no LIC. Embora seja uma colaboração pequena, também contribuem. 3. Na+/K+ ATPase ser eletrogênica (bomba de sódio e potássio). Cada vez que ela é ativada, joga 3 átomos de sódio para o LEC e internaliza 2 potássio. Gerando em cada ativação, um déficit de 1 carga positiva no LIC, ou seja, adicionando uma carga negativa a cada ativação. POTENCIAL TRANSMEMBRANA Células não excitáveis: -20mV. Aquelas que não conseguem desenvolver o potencial de ação, ou seja, há uma inversão de polaridade elétrica produzida pelo deslocamento de íons. Células excitáveis: -90mV. Aquelas que conseguem ter uma inversão nesse potencial elétrico, conduzindo uma corrente elétrica, uma inversão de sinais elétricos, que culmina numa resposta muscular/nervosa. Fibras musculares e células nervosas. EQUAÇÃO DE NERNST Onde: 61 => R T Z é a carga elétrica do íon (+1 para K+, +2 para Ca++) (íone) concentração de iônica Extracelular (íoni) concentração de iônica Intracelular É o potencial eletroquímico para cada íon. Esse potencial eletroquímico prediz a capacidade de uma membrana de gerar ddp. Aborda a concentração de determinados íons no LEC e no LIC. POTENCIAL DE MEMBRANA EM REPOUSO 1. Se as membranas fossem permeáveis exclusivamente ao potássio, a ddp de membrana seria: -94mV. 2. Se as membranas fossem permeáveis exclusivamente ao sódio, a ddp de membrana seria: +70mV. 3. Se as membranas fossem permeáveis exclusivamente ao cloro, a ddp da membrana seria: -86mV. EQUAÇÃO DE GOLDMAN Considera ambos os gradientes de concentração-elétrico e a permeabilidade relativa da célula a cada íon. Queria obter a ddp final/real das membranas biológicas. Porém, o número não bate. Quando se soma os potenciais eletroquímico dos principais íons, vê-se que o resultado é diferente. A explicação para isso é que cada íon, além do seu potencial eletroquímico, precisa se deslocar através da permeabilidade da membrana e essa permeabilidade não é padrão, ela depende do número de proteínas canais e da concentração iônica. Para chegar no objetivo inicial de Goldman (ddp final), é preciso se levar em consideração a concentração da valência dos íons e sua permeabilidade iônica. ESTÁGIOS DO POTENCIAL DE AÇÃO 1. Repouso 2. Despolarização 3. Repolarização 4. Hiperpolarização O sódio é o responsável por iniciar o potencial de ação na fase de despolarização, fazendo com que a ddp saia de valores negativos e atinja valores positivos. A repolarização ocorre por meio da abertura dos canais de voltagem dependente de potássio, fazendo com que o potássio saia em uma corrente iônica de alta intensidade, trazendo os valores negativos para a ddp de membrana novamente. POTENCIAL DE AÇÃO (D.D.P) Canais de sódio: os canais de rápidos sódio são um tipo especializado de canal iônico dependente de voltagem. Sua abertura está condicionada a valores menos negativos do potencial de membrana, acima de um valor limite de voltagem o canal abre-se, permitindo o influxo de íons de sódio na célula. O canal permanece aberto por poucos milisegundos. O tempo suficiente para elevar o potencial de membrana para 50 mV. O canal de sódio possui dois portões distintos, portões m (de ativação) e h (de inativação). O portão h fecha-se após a despolarização e permanece fechado, não permitindo o início de um novo potencial de ação (período refratário). Canais de potássio: esse canal abre-se imediatamente após a despolarização, o que permite a saída de carga positiva da célula, na forma de íons de potássio. O canal de potássio fica aberto durante toda a fase de repolarização, onde o potencial de membrana será trazido a valores negativos, chegando a ficar mais negativo que o potencial de repouso, durante a fase seguinte a repolarização, chamada de fase de hiperpolarização. Os canais de Na+, dependentes de voltagem, da membrana plasmática do axônio são os responsáveis primários pelo potencial de ação. Podemos pensar no potencial de ação como um evento “tudo ou nada” e auto-regenerante. Vejamos atentamente essa animação (figura abaixo, animação apresentada em aula) do funcionamento dos canais durante as fases de despolarização e repolarização. Os canais de Na+, dependentes de voltagem abrem-se, permitindo a elevação do potencial, gráfico ao lado. Vemos claramente os íons do Na+ (cargas positivas) entrando na célula, e o potencial de membrana respondendo a essa entrada no gráfico. Nessa fase (abaixo) vemos a repolarização, onde as cargas positivas (indicadas em verde), devido aos íons de K+, saem da célula, concomitantemente temos a queda do potencial de membrana no gráfico ao lado. O canal de K+ também é indicado em verde. Esse canal fica aberto durante toda a fase de repolarização. É importante citar que com esses fenômenos de influxo de sódio e efluxo de potássio não há variação da concentração desses íons no LEC e no LIC. A concentração não muda porque esses fenômenos são ínfimos com relação a concentração iônica. O que faz ter variação são outros fatores/fenômenos. A imagem acima será utilizada para abordar o potencial de ação, entender como é a distribuição de cargas no plano da membrana e que as concentrações iônicas no LEC e no LIC permanecem sem alteração. É a representação de uma membrana celular de uma célula excitável. Têm-se o LEC, no qual encontra-se muito sódio e pouco potássio. No LIC, na face interna da membrana, tem-se muito potássio e pouco sódio. Durante o repouso, a ddp dessa fibra é -70mV. Quanto mais negativa for a ddp, maior será a concentração de cargas negativas na face interna. Quando o potencial de ação é iniciado na despolarização, quanto mais próximo do zero, a ddp vai diminuindo e em zero não há diferença de potencial elétrico, a diferença de cargas é nula. Há redução do número de cargas negativas na face interna e de cargas positivas na face externa (a concentração dessas cargas até chegar em 0 tem unidade). Quando a ddp atingir valores positivos, ou seja, quando houver inversão de cargas ou potencial de overshoot, existirão cargas positivas na face interna e negativas na face externa. Quanto mais positiva for essa ddp, maior será a concentração de cargas positivas na face interna e maior a de negativas na face externa. A membrana está em repouso. Incide nela um estímulo despolarizante (existem estímulos hiperpolarizantes) que aumenta a condutância ao sódio, aumentando a abertura dos canaisde sódio e fazendo com que a ddp diminua. Se a ddp atingir a voltagem específica de abertura dos canais de sódio dependente, haverá uma rápida despolarização (despolarização em Spike, porque forma uma agulha e é muito rápido, muito da abrupta). Após atingir esse limiar de despolarização, ou seja, essa voltagem positiva máxima, os portões dos canais de sódio voltagem dependente se fecham e se abrem os portões dos canais de potássio voltagem dependentes. Acontece a repolarização. A condutância tanto ao sódio quanto ao potássio se altera ao longo das etapas do potencial de ação. É preciso evocar o equilíbrio dinâmico de Gibbs-Donnan visto anteriormente. A concentração desses íons permanece constante nos dois meios em todas as etapas do potencial de ação, mesmo com entrada de sódio (essa entrada é inerte a produzir uma variação de concentração). O sódio terá um potencial químico, ou seja, de concentração, todo tempo para entrar na célula durante todas as etapas do potencial de ação. Porém, o potencial elétrico varia: quanto mais negativa for a ddp, maior concentração de cargas negativas na face interna da membrana. É preciso estar atento pois sódio, por ter valência positiva, será atraído para o lado interno (será empurrado pelo potencial químico, porque tem muito só de fora e pouco dentro) e será atraído pelas cargas negativas da face interna da membrana. Essa atração será maior quanto mais negativa for a ddp. A medida que a ddp na despolarização vai diminuindo, essa atração elétrica vai diminuindo progressivamente, até atingir o 0mV, na qual não haverá mais atração elétrica, pois não terá diferença de cargas elétricas. No potencial de overshoot, o campo elétrico irá fazer com que o sódio diminua sua entrada, por isso tem-se uma diminuição na intensidade no influxo de sódio durante a fase positiva da despolarização. É um mecanismo que ajuda na finalização da despolarização, juntamente com a fechamento dos portões h os canais de sódio voltagem dependentes. O influxo de sódio ocorre durante a ddp negativa, favorável ao Gradiente químico e favorável Gradiente elétrico. Durante a overshoot (inversão da polaridade), apenas o gradiente químico faz com que o sódio se desloque do LEC para o LIC. Só que esse influxo é de menor intensidade. Uma vez cessando-se a despolarização, não tem mais entrada de sódio pelos canais de cinética rápida e tem-se uma abertura dos canais de cinética rápida de potássio. O potássio se encontra em muito maior quantidade no LIC que no LEC. O potássio, durante a ddp positiva, o potencial inversão de overshoot, sairá da célula (será empurrado para fora) favoravelmente ao gradiente químico e ao elétrico, já que tem uma concentração de cargas negativas na face externa da membrana e positiva na face interna. Então, durante o overshoot, o potássio sairá favorecido pelos dois ingredientes (químico e elétrico). Quando a membrana cruza a barreira do zero, ao se repolarizar, e há novamente uma ddp negativa, o potássio continua a sair (empurrado pelo gradiente químico), mas o gradiente elétrico será desfavorável. Isso ocorre porque voltará a ter carga negativa na face interna e positiva na face interna. Quanto mais negativa for a ddp, maior a concentração de cargas negativas e menor será a tendência do potássio de sair, porque o campo elétrico vai tentar prender ele no LIC. Entender esse mecanismo/variação de cargas elétricas, esse balanceio entre potencial eletroquímico, é fundamental para entender a variação de condutância e também entender porque é que, principalmente em relação ao potássio, a variação da sua concentração no LEC, a hipocalemia e a hipercalemia, vão repercutir no potencial de ação de todas as células excitáveis. A alteração da concentração do potássio é o principal causador de alteração no potencial de ação. A variação na concentração do sódio extracelular vai induzir um efeito osmótico. O sódio é o principal é a gente na osmolalidade, então a sua concentração não vai interferir tanto no potencial de ação. Porém, a variação da concentração de potássio, como dito anteriormente, irá interferir, sendo o principal causador de patologias relacionadas a função da eletrofisiologia. CONCENTRAÇÃO DE POTÁSSIO 1. Calemia: 3,5 a 5,5 mEq/L 2. Hipocalemia: <3,5 mEq/L (<2,5 é crítico). Ocasionado por ingestão insuficiente (pacientes com anorexia, com restrição alimentar), vômitos, diarréia, alcalose, insulina. 3. Hipercalemia: > 5,5 mEq/L (> 7,5 é crítico). Ocasionado por I.R, acidose, citólise, hipoaldosteronismo. A concentração do potássio no LEC de celular é chamada de calemia ou potassemia Hipocalemia é uma diminuição do potássio sérico, sendo assim do LEC. De 3,5 a 3 hipocalemia leve. De 3 a 2,5 moderada. Abaixo de 2,5 grave Hipercalemia é o aumento do potássio sérico. A hipercalemia crítica pode ser letal. O EFEITO DA VARIAÇÃO DO POTÁSSIO NO POTENCIAL DE AÇÃO Já é sabido que há pouco potássio no LEC (em torno de 4mEq/L) e 140mEq/L no LIC. Se há uma diminuição da concentração do potássio no LEC (no LIC a concentração desses íons é rigorosamente mantida pelos processos ativos. Como o LEC está na interface com o meio externo através do sistema renal e gastrointestinal, pode haver uma variação das concentrações dos íons) haverá um aumento no gradiente químico. Por exemplo, se a concentração era 4mEq/L e ela cai para 2mEq/L, haverá uma duplicação do gradiente de concentração. Portanto, a força química que o potássio tinha para sair, será dobrada. Ocorrendo isso, o efluxo passivo do potássio pelos canais vazamento ocorrerá com muito maior intensidade. Então a ddp de repouso irá aumentar, ficará mais negativa. As células excitáveis ficarão hipo-excitáveis, ou seja, elas diminuirão a excitabilidade devido a ddp estar maior, estar mais negativa. Quanto mais negativa a ddp for, quanto maior for a distância da voltagem de despolarização, menos excitada essas célula ficará. Isso acarretará em uma hipofuncionalidade daquela fibra, seja muscular, seja nervosa. Toda a clínica que o paciente apresentar irá depender da intensidade dessa hipocalemia. Ela pode apresentar desde flacidez muscular, até fenômenos neurais mais complexos. Quanto maior for a hipocalemia, menos suscetível a desenvolver o potencial de ação a fibra nervosa e/ou muscular estará e o inverso será na hipercalemia. Quando eu tenho o aumento da concentração do potássio, haverá diminuição do gradiente de concentração. Por exemplo, se é quatro e ele passa para oito, haverá diminuição pela metade do gradiente de concentração, o gradiente químico, e o potássio sairá com menor intensidade. Lembrando que o potássio é o principal mantenedor da ddp negativa, porque quando ele sai, leva carga positiva para o LEC adicionando para cada potássio que sai, uma carga negativa na face interna da membrana. Quando na hipercalemia essa concentração diminui, a saída do potássio estará comprometida (ele sairá em menor intensidade). A ddp que antes estava em -70, por exemplo, começa, sem estímulo algum, a diminuir, assumindo valores de -65, -60, e ao atingir -55, as células irão se despolarizar (sem nenhum estímulo), simplesmente induzida pela hipercalemia, pelo aumento da concentração de potássio no LEC. Isso faz com que todas as fibras excitáveis se despolarizem. É uma situação grave, que pode levar ao óbito. Tanto a hipercalemia quanto a hipocalemia são reveladas no traçado eletrocardiográfico. As hipercalemias acima de 7,5 (intensas) causam a não repolarização. Quanto maior o aumento dp potássio do LEC, menor será a probabilidade de haver a repolarização Isso ocorre porque a repolarização depende completamente/exclusivamente da saída do potássio e por ele ter uma força química/gradiente químico menor, essa repolarizaçãopode não ocorrer. Isso ocorre, por exemplo, na hiperpotassemia desenvolvendo a fibrilação ventricular. Em casos de hiperpotassemia severa ocorrerá a fibrilação ventricular, o coração entra em parada cardíaca.
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