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Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
Maringá
2010
EDITORA DA UNIvERSIDADE ESTADUAl DE MARINgá
	 Reitor	 Prof. Dr. Décio Sperandio
	 Vice-Reitor	 Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo
	 Diretor	da	Eduem	 Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
	 Editor-Chefe	da	Eduem	 Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini
CONSElHO EDITORIAl
	 Presidente	 Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
	 Editor	Associado	 Prof. Dr. Ulysses Cecato
	 Vice-Editor	Associado	 Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza
	 Editores	Científicos	 Prof. Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima
 Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues
 Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer
 Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva
 Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim
 Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli
 Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik
 Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto
 Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes
 Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso 
 Prof. Dr. João Fábio Bertonha
 Profa. Dra. Larissa Michelle Lara
 Profa. Dra. Luzia Marta Bellini
 Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado
 Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini
 Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva
 Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima
 Prof. Dr. Raymundo de Lima
 Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias
 Prof. Dr. Ronald José Barth Pinto
 Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves
 Profa. Dra. Terezinha Oliveira
 Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco
 Profa. Dra. Valéria Soares de Assis
EqUIpE TéCNICA
	 Projeto	Gráfico	e	Design	 Marcos Kazuyoshi Sassaka
 Fluxo	Editorial Edneire Franciscon Jacob
 Mônica Tanamati Hundzinski
 Vania Cristina Scomparin
 Edilson Damasio
 Artes	Gráficas Luciano Wilian da Silva
 Marcos Roberto Andreussi
 Marketing Marcos Cipriano da Silva
 Comercialização Norberto Pereira da Silva
 Paulo Bento da Silva 
 Solange Marly Oshima
Maringá
2010
História e conHecimento
introdução aos 
estudos Históricos
Angelo Priori
(Organizador)
1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Copyright © 2010 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo 
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos 
reservados desta edição 2010 para Eduem.
Introdução aos estudos históricos / Angelo Priori, organizador. - 
 Maringá : Eduem, 2010. 
 118p. 21cm. (História e Conhecimento; n. 1). 
 ISBN 978-85-7628-250-1
 1. História - Pesquisa. 2. Estudos históricos. 3. História e historiador. 4. 
Historiografia - Pesquisa documental. I. Priori, Angelo, org.
CDD 21. ed. 901
I61
HISTÓRIA E CONHECIMENTO
 Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese
 Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
 Revisão Gramatical: Tania Braga Guimarães
 Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
 Júnior Bianchi
 Eliane Arruda
Endereço para correspondência:
Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392
http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br
3
Sobre os autores
Apresentação da coleção
Apresentação do livro
Capítulo 1 
A história e o ofício do historiador
Angelo Priori
Capítulo 2
 O tempo da história
Silvia Helena Zanirato
Capítulo 3 
Documentos: a ampliação dos materiais 
de pesquisa utilizados pela historiografia
Verônica Karina Ipólito / Angelo Priori / Silvia Maria Amâncio
Capítulo 4
Memória individual, memória coletiva
Silvia Maria Amâncio / Angelo Priori / Verônica Karina Ipólito
Capítulo 5 
A pesquisa com documentos orais: 
algumas considerações e umas poucas conclusões
Paula Silva Rollo / José Henrique Rollo Gonçalves
> 5
> 7
> 9
> 11
> 21
> 33
> 45
> 55
umárioS
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
4
Capítulo 6 
Concepção de história da 
escola rankeana e da escola prussiana, século xix
Bárbara Natalia Gómez
Capítulo 7 
 A escola metódica e a crítica documental
Silvia Maria Amâncio / Verônica Karina Ipólito / Angelo Priori
Capítulo 8 
 Marx e a História
Angelo Priori / Andrey Minin Martin
Capítulo 9 
 A Escola dos Annales
Verônica Karina Ipólito / Silvia Maria Amâncio / Angelo Priori
> 81
> 91
> 103
> 69
5
Andrey Minin Martin 
Graduado em História pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul 
(UFMS) e mestre em História pelo Programa de Pós-graduação em História 
da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Angelo Priori 
Graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), 
doutor em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professor 
do Departamento e do Programa de Pós-graduação em História da 
Universidade Estadual de Maringá.
Bárbara Natália Gomez
Licenciada em História e mestre em História pela Universidade Nacional de 
Missiones (Argentina), é professora na mesma instituição. 
José Henrique Rollo Gonçalves
Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre 
em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor do 
Curso de História e pesquisador do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e 
Etno-História (Tulha) da Universidade Estadual de Maringá.
Paula Silva Rollo
Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense, é membro do 
Núcleo de Estudos Contemporâneos (NEC) daquela universidade. Bolsista 
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). 
Silvia Helena Zanirato
Graduada em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), 
doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP), é professora da 
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
obre os autoresS
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
6
Silvia Maria Amâncio
Graduada em História e mestre em História pelo Programa de 
Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Maringá.
Verônica Karina ipólito 
Graduada em História e mestre em História pelo Programa de 
Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Maringá.
7
presentação da ColeçãoA
A	coleção	História	 e	Conhecimento	é	 composta	de	42	 títulos,	que	 serão	utiliza-
dos	como	material	didático	pelos	alunos	matriculados	no	Curso	de	Licenciatura	em	
História,	Modalidade	 a	Distância,	 da	Universidade	 Estadual	 de	Maringá,	 no	 âmbito	
do	sistema	da	Universidade	Aberta	do	Brasil	(UAB),	que	está	sob	a	responsabilidade	
da	Diretoria	de	Educação	a	Distância	(DED)	da	Coordenação	de	Aperfeiçoamento	de	
Pessoal	do	Ensino	Superior	(CAPES).	
A	utilização	desta	coleção	pode	se	estender	às	demais	instituições	de	Ensino	Su-
perior	que	integram	a	UAB,	fato	que	tornará	ainda	mais	relevante	o	seu	papel	na	for-
mação	de	docentes	e	pesquisadores,	não	só	em	História	mas	também	em	outras	áreas	
na	Educação	a	Distância,	em	todo	o	território	nacional.	A	produção	dos	42	livros,	a	
qual	ficou	sob	a	responsabilidade	da	Universidade	Estadual	de	Maringá,	teve	38	títulos	
a	cargo	do	Departamento	de	História	(DHI);	2	do	Departamento	de	Teoria	e	Prática	
da	Educação	(DTP);	1	do	Departamento	de	Fundamentos	da	Educação	(DFE);	e	1	do	
Departamento	de	Letras	(DLE).
O	início	do	ano	de	2009	marcou	o	começo	do	processo	de	organização,	produção	
e	publicação	desta	coleção,	cuja	conclusão	está	prevista	para	2012,	seguindo	o	cro-
nograma	de	recursos	e	os	trâmites	gerais	do	Fundo	Nacional	de	Desenvolvimento	da	
Educação	(FNDE).	Num	primeiro	momento,	serão	impressos	294	exemplares	de	cada	
livro	para	atender	à	demanda	de	material	didático	dos	que	ingressaram	no	Curso	de	
Graduação	em	História	a	Distância,	da	UEM,	no	âmbito	da	UAB.	
O	traço	teórico	geral	que	perpassa	cada	um	dos	livros	desta	coleção	é	o	compro-
misso	com	uma	reconstrução	aberta,	despreconceituosa	e	responsável	do	passado.	A	
diversidade	e	a	riqueza	dos	acontecimentos	da	História	fazem	com	que	essa	reconstru-
ção	não	seja	capaz	de	legar	previsões	e	regras	fixas	e	absolutas	para	o	futuro.	
No	entanto,	durante	a	recriação	do	passado,	ao	historiador	é	dado	muitas	vezes	
descobrir	avisos,	intuições	e	conselhos	valorosos	para	que	não	se	repitam	os	errosde	
outrora.
No	transcorrer	da	leitura	desta	coleção	percebemos	que	os	livros	refletem	várias	
matrizes	interpretativas	da	História,	oportunizando	ao	aluno	o	contato	com	um	ines-
timável	 universo	 teórico,	 extremamente	 valioso	 para	 a	 formação	 da	 sua	 identidade	
intelectual.	A	qualidade	e	 a	 seriedade	da	 construção	do	universo	de	 conhecimento	
desta	coleção	pode	ser	tributada	ao	empenho	mais	direto	por	parte	de	cerca	de	30	
organizadores	e	autores,	que	se	dedicaram	em	pesquisas	institucionais	ou	até	mesmo	
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
8
em	dissertações	de	mestrado	ou	em	teses	de	doutorado	nas	áreas	específicas	dos	livros	
que	se	propuseram	a	produzir.
Esta	coleção	traz	um	conhecimento	que	certamente	marcará	positivamente	a	for-
mação	de	novos	professores	de	História,	historiadores	e	cientistas	em	geral,	por	meio	
da	Educação	a	Distância,	o	qual	foi	fruto	do	empenho	de	pesquisadores	que	viveram	
circunstâncias,	recursos,	oportunidades	e	concepções	diferentes,	temporal	e	espacial-
mente.	
Como	corolário	disso,	seria	justo	iniciar	os	agradecimentos	citando	todos	aqueles	
que	não	poderiam	ser	nominados	nos	limites	de	uma	apresentação	como	esta.	Roga-
mos	que	se	sintam	agradecidos	todos	aqueles	que	direta,	indireta	ou	mesmo	longin-
quamente,	quiçá	os	mais	distantes	ainda,	contribuíram	para	a	elaboração	deste	rico	rol	
de	livros.
Além	do	agradecimento,	registramos	também	o	reconhecimento	pelo	papel	da	Rei-
toria	da	UEM	e	de	suas	Pró-Reitorias,	que	têm	contribuído	não	apenas	para	o	êxito	
desta	coleção	mas	também	para	o	de	toda	a	estrutura	da	Educação	a	Distância	da	qual	
ela	faz	parte.
Agradecemos	especialmente	aos	professores	do	Departamento	de	História	do	Cen-
tro	de	Ciências	Humanas	da	UEM	pelo	zelo,	pela	presteza	e	pela	atenção	com	que	
têm	se	dedicado,	inclusive	modificando	suas	rotinas	de	trabalho	para	tornar	possível	a	
maioria	dos	livros	desta	coleção.
Agradecemos	à	Diretoria	de	Educação	a	Distância	(DED)	da	Coordenação	de	Aper-
feiçoamento	 de	 Pessoal	 do	 Ensino	 Superior	 (CAPES),	 e	 ao	Ministério	 da	 Educação	
(MEC)	como	um	todo,	especialmente	pela	gestão	dos	recursos	e	pelo	empenho	nas	
tramitações	para	a	realização	deste	trabalho.
Outrossim,	agradecemos	particularmente	à	Equipe	do	NEAD-UEM:	Pró-Reitoria	de	
Ensino,	Coordenação	Pedagógica	e	equipe	técnica.
Despedimo-nos	atenciosamente,	desejando	a	todos	uma	boa	e	prazerosa	leitura.
Moacir	José	da	Silva
Organizador da coleção
9
Os	 textos	 que	 compõem	 esse	 livro	 foram	pensados	 para	 servir	 aos	 alunos	 do	
primeiro	 semestre	 do	 curso	 de	 graduação	 em	História.	 Esta	 edição	 foi	 realizada,	
exclusivamente,	para	os	alunos	matriculados	em	cursos	de	História	da	Universidade	
Aberta	do	Brasil	(UAB).	
A	 nossa	 preocupação	 central	 é	 a	 de	 iniciar	 o	 estudante	 nas	 concepções	mais	
usuais	 do	 trabalho	historiográfico	 e	 encorajá-lo	 a	praticar	 aquilo	 que	Marc	Bloch	
chamou,	oportunamente,	de	o	“ofício	do	historiador”.
Nesse	sentido,	os	capítulos	foram	elaborados	para	marcar	as	trajetórias	da	pro-
dução	historiográfica	nos	últimos	dois	séculos,	desvendando,	como	os	profissionais	
da	história,	ao	longo	do	tempo,	formularam	uma	definição	de	história,	elaboraram	
métodos	e	técnicas	de	pesquisa	e	conceberam	os	preceitos	das	principais	correntes	
historiográficas.	Enfim:	os	textos	servem	para	mostrar	como	os	historiadores	trilha-
ram	o	caminho	da	pesquisa	histórica	e	da	produção	do	conhecimento.
Ao	ler	o	livro,	o	estudante	leitor	irá	encontrar	dois	conjuntos	de	textos.	No	pri-
meiro	conjunto,	formado	pelos	cinco	capítulos	iniciais,	o	eixo	temático	essencial	foi	
uma	reflexão	sobre	temas	cruciais	para	o	ofício	do	historiador	tais	como:	a	formação	
do	conceito	de	história;	a	relevância	da	noção	de	tempo;	os	métodos	e	materiais	de	
trabalho;	a	importância	dos	documentos	e	das	fontes	históricas;	o	lugar	da	memória	
e	do	esquecimento.	O	segundo	conjunto	de	textos,	formado	pelos	quatro	últimos	
capítulos,	é	um	passeio	pelas	principais	correntes	historiográficas	formuladas	pelos	
historiadores	nos	séculos	XIX	e	XX.
Naturalmente,	diante	de	milênios	de	evolução	do	pensamento	humano,	o	traba-
lho	de	centenas	de	gerações	construindo	suas	idéias,	seria	um	conteúdo	desmesura-
do	para	os	limites	de	um	livro	de	caráter	introdutório	aos	estudos	históricos	de	uma	
coleção	que	contará	com	42	títulos.	No	afã	de	evitar	a	redundância	de	conteúdos,	
nosso	recorte	temático	recaiu	especialmente	sobre	os	últimos	dois	séculos.	Dessa	
forma,	o	estudo	de	historiadores	da	Antiguidade,	da	Idade	Média,	do	Iluminismo	e,	
mesmo	pesquisas	 recentes	do	estruturalismo	e	da	história	 cultural,	 serão	objetos	
de	abordagem	em	outros	livros	dessa	coleção.	Ainda	no	intuito	de	evitar	a	sobrepo-
sição	de	conteúdos	e	focalizar	os	pontos	mais	essenciais,	no	âmbito	da	Introdução	
aos	 Estudos	Históricos,	 neste	 livro	 nos	 detivemos	na	 noção	de	método	de	 histó-
ria	em	Marx,	sem	nos	aprofundarmos	nas	diferentes	vertentes	marxistas	pós-Marx.	
presentação do livroA
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
10
Seguindo	este	raciocínio,	na	abordagem	da	escola	dos	Annales,	priorizamos	o	seu	
desenvolvimento	intelectual	que	precedeu	as	últimas	duas	décadas.
Este	livro	é	coletivo.	Foi	escrito	por	historiadores	que	estão	em	diversos	momen-
tos	de	sua	carreira.	Há	textos	de	historiadores	já	talhados	pela	lida	historiográfica,	
como	de	jovens	historiadores,	que	constituirão	o	futuro	da	produção	historiográfica	
brasileira.	
Por	fim,	uma	última	observação.	O	organizador	desse	volume	escolheu	os	extra-
tos	de	documentos	e	formulou	as	reflexões	de	aprendizagem	apresentadas	em	cada	
capítulo,	visando	atender	a	um	procedimento	comum	da	coleção.	
Desejamos	uma	boa	leitura	a	todos	e	esperamos	que	este	livro	possa	ser	útil	para	
que	 os	 novos	 estudantes	 possam	 trilhar	 os	 caminhos	 emocionantes	 da	 história	 e	
descobrir	o	“ofício	do	historiador”.
Angelo	Priori
Organizador
	
11
Angelo Priori
“O	que	é	o	tempo?	Se	ninguém	me	pergunta,	ou	se	eu	não	pergunto	a	mim	
mesmo,	eu	o	sei;	mas	se	alguém	me	pergunta	e	eu	quero	explicar,	eu	não	o	sei	
mais”	(Santo	Agostinho).	
INTRODUÇÃO
A	preocupação	de	Santo	Agostinho,	em	relação	ao	tempo,	exposta	na	epígrafe	aci-
ma,	pode	ser	assinalada	em	relação	à	questão:	“O	que	é	história?”.	Estamos	diante	de	
uma	pergunta	simples.	Porém,	as	respostas	são	complexas,	difíceis	e	variadas.	
Quando	essa	pergunta	foi	realizada	por	um	professor	a	um	grupo	de	estudantes,	
no	 primeiro	 dia	 de	 aula	 na	 universidade,	muitas	 foram	 as	 respostas:	 “Tudo	 que	 já	
passou,	aconteceu.	Basicamente	 falando,	o	passado”,	disse	um.	 “É	 tudo	aquilo	que	
aconteceu	e	que	está	acontecendo”,	enfatizou	outro.	“É	o	estudo	do	tempo	e	o	espaço	
pelos	homens”,	revelou	um	terceiro.	“São	os	fatos	e	acontecimentos	passados,	com	
diversos	graus	de	relevância	para	o	homem”,	analisou	o	quarto.	“É	o	conhecimento	
dos	fatos	que	já	foram	pesquisados	e	relatados	ao	decorrer	do	tempo”,	sentenciou	um	
quinto	aluno.
A	complexidade	se	acentua	ainda	mais,	quando	pensamos	a	palavra	“história”	no	
idioma	português.	Se	buscarmos	a	definição	em	um	bom	dicionário	de	língua	portu-
guesa,	vamos	encontrar	respostas	como:	“a	história	é	o	conjunto	de	conhecimentos	
relativos	ao	passado	da	humanidade,	segundo	o	lugar,	a	época,	o	ponto	de	vista	es-
colhido”,	“a	história	é	a	ciência	que	estuda	os	eventos	passados,	com	referência	a	um	
povo,	país,	período	ou	indivíduo	específico”	(HOUAISS,	2001,	p.	1543).
Logo	se	percebe	o	duplo	sentido	da	palavra	história:	em	primeiro	lugar,	ela	apa-
rece	como	ciência,	ou	como	um	conjunto	de	conhecimentos;	em	segundo	lugar	ela	
aparece	como	os	eventos	passados,	os	acontecimentos	vividos	pela	humanidade.	Dois	
sentidos,	uma	mesma	palavra.
Mas	 essa	 complexidade	 não	 é	 privilégio	 da	 língua	 portuguesa.	 Com	 a	 Francesa	
A história e o ofício 
do historiador
1
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
12
ocorre	o	mesmo.	Mesmo	em	inglês(story/history)	ou	em	italiano	(istoria/storia),	que	
existem	duas	palavras	diferentes,	elas	não	são	suficientes	para	explicar	essas	ambigui-
dades,	já	que	as	primeiras	estão	dotadas	muito	mais	do	sentido	de	narrarem	eventos	
fictícios,	fantasiosos	ou	inacreditáveis	do	que	fatos	realmente	acontecidos.	O	mesmo	
ocorre	com	a	palavra	“estória”	em	português.	No	idioma	alemão	existem	duas	palavras	
para	diferenciar	os	significados:	uma	para	tratar	da	realidade	histórica	–	os	aconteci-
mentos	propriamente	ditos	(Geschichte)	e	outra	para	designar	o	conhecimento	histó-
rico,	ou	seja,	a	análise	dos	acontecimentos	realizada	pelo	historiador	(Historie).
Diante	da	dificuldade	de	se	achar	palavras	diferentes	para	significados	diferentes,	
os	historiadores	e	professores	de	história	não	se	intimidaram	em	responder	à	pergun-
ta:	o	que	é	história?	E	muitos	o	fizeram,	ao	longo	do	tempo,	tomando	como	referência	
as	suas	próprias	experiências	e	as	suas	reflexões	metodológicas.1
Marc	Bloch	diz	que,	“seguramente,	desde	que	surgiu,	já	há	mais	de	dois	milênios,	
nos	lábios	dos	homens,	ela	[a	palavra	história]	mudou	muito	de	conteúdo.	É	a	sorte,	
na	linguagem,	de	todos	os	termos	verdadeiramente	vivos”	(2001,	p.	51).
Na	primeira	frase	de	seu	brilhante	livro	“Histórias”,	Heródoto	já	sinaliza	o	que	ele	
pretende:	“Esta	é	a	exposição	das	investigações	de	Heródoto	de	Halicarnasso,	para	que	
os	feitos	dos	homens	não	se	desvaneçam	com	o	tempo,	nem	fiquem	sem	renome	as	
grandes	e	maravilhosas	empresas,	realizadas	quer	pelos	Helenos,	quer	pelos	Bárbaros;	
e,	sobretudo,	a	razão	porque	entraram	em	guerra	uns	com	os	outros”	(HERÓDOTO,	
1994,	p.	53).	
Outros	escritores,	bem	mais	contemporâneos	do	que	Heródoto,	também	buscaram	
uma	definição.	Tolstoi,	no	epílogo	de	Guerra	e	Paz,	dizia	que	o	“objeto	da	história	é	a	
vida	dos	povos	e	da	humanidade”	(1992,	p.	1557);	Collingwood	analisava	que	história	
é	“uma	investigação	para	o	auto-conhecimento	humano”	(1981,	p.	17);	Marrou	enfa-
tizava	que	a	“história	é	o	conhecimento	do	passado	humano”	(1978,	p.	28);	Carr	en-
sinava	que	a	história	é	“um	processo	contínuo	de	interação	entre	o	historiador	e	seus	
fatos,	um	diálogo	interminável	entre	o	presente	e	o	passado”	(2006,	p.	65);	e	Bloch	
enfatizava:	“o	objeto	da	história,	é	por	natureza,	os	homens”	(2001,	p.	54),	destacando	
o	plural.
Investigação,	pesquisa,	conhecimento:	eis	as	palavras	mágicas.	Se	buscarmos	a	eti-
mologia	da	palavra	história,	iremos	encontrar	exatamente	isso:	investigação,	pesquisa,	
informação,	relato,	narração.	Não	é	à	toa	que	o	chamado	“pai	da	história”	já	nos	colo-
cava:	“esta	é	a	exposição	das	investigações	de	Heródoto	de	Halicarnasso”,	para	dizer	
1 Nos capítulos 6, 7, 8 e 9, apresentaremos as características centrais das principais escolas 
historiográficas que tiveram importância significativa na formulação dos pressupostos teórico-
metodológicos de trabalho do historiador, no decorrer dos séculos XIX e XX. 
13
que	o	seu	livro,	o	seu	relato,	a	sua	narrativa,	isto	é,	a	sua	exposição,	era	resultado	da	
sua	pesquisa,	da	sua	observação,	ou	seja,	da	sua	investigação.
Enfim,	qual	a	melhor	definição	de	história?	O	já	esquecido	historiador	francês	Jean	
Glénisson	nos	recomendava,	exigindo	bom	senso,	que	cada	um	é	quem	deve	respon-
der	por	si	mesmo,	após	seus	estudos	universitários;	e	acrescentava:	para	ter	uma	maior	
segurança,	é	bom	realizar	algumas	atividades	de	pesquisa	antes	(GLENISSON,	1983,	
p.	12).
Mesmo	seguindo	o	conselho	de	Glénisson,	vamos	tentar	realizar	alguns	exercícios	
no	sentido	de	chegar	a	uma	definição	de	história	que	seja	plausível.
Poderíamos	tomar	como	exemplo	qualquer	definição	dos	historiadores	acima.	No	
entanto,	vamos	partir	da	definição	de	história	de	Marrou,	que	de	certa	forma	contem-
pla	todos	os	vetores	colocados	pelos	demais:	“a	história	é	o	conhecimento	do	passado	
humano”	(MARROU,	1978,	p.	78).	Talvez	essa	definição	nos	sirva	para	compreender	
melhor	as	preocupações	que	ora	suscitamos.
Primeiro ponto: a história é conhecimento.	No	entanto,	para	se	conhecer	algo,	
devemos	pesquisar,	investigar.	Mas	que	tipo	de	pesquisa,	que	espécie	de	investigação?	
Não	é	qualquer	pesquisa,	evidentemente;	é	pesquisa	científica,	elaborada	através	de	um	
rigor	metodológico	e	pressupostos	teóricos	bem	definidos.	Vejamos	alguns	aspectos.	
1)	 Para	 realizar	pesquisa	 científica	devemos	 ter	 claro	quais	 as	 formas	de	pensa-
mento	que	nos	permitem	 fazer	perguntas	e	 responder	essas	 indagações.	E	o	
que	é	mais	importante:	para	fazer	ciência	(pesquisa	científica)	não	basta	apenas	
reunir	aquilo	que	já	conhecemos	e	organizá-lo;	é	preciso	buscar	mais,	descobrir	
aquilo	que	não	conhecemos.	Evidentemente,	que	as	coisas	já	conhecidas	nos	
são	úteis	(elas	nos	servem	como	um	farol	na	escuridão),	mas	o	faro	do	historia-
dor	deve	ir	para	além,	buscando	o	desconhecido;	presença	onde	há	ausência;	e	
luz	onde	há	escuridão.
2)	 A	história	é	explicação.	Como	veremos	nos	capítulos	seis	e	sete,	foi	muito	co-
mum,	durante	praticamente	todo	o	século	XIX,	dizer	que	a	tarefa	da	história,	ou	
do	historiador,	era	“mostrar	o	que	realmente	se	passou”,	para	usar	uma	expres-
são	de	Leopold	Von	Ranke.	A	história	não	deve	só	mostrar	o	que	se	passou	(isto	
os	jornais,	as	revistas,	as	TVs,	a	Internet	fazem	com	bastante	propriedade).	
	 É	função	do	historiador	explicar	o	que	se	passou.	Como	nos	lembra	o	historia-
dor	italiano	Carlo	Ginzburg,	citando	o	filósofo	antiquário,	Francesco	Robortello:	
“O	historiador	não	inventa:	explica.	O	historiador	é	aquele	que	explica	as	ações	
que	os	próprios	homens	 fazem”	(GINZBURG,	2007,	p.	25).	No	entanto,	essa	
explicação,	esse	conhecimento,	tem	que	ser	verdadeiro.	A	história	deve	ser	o	
resultado	do	mais	rigoroso,	do	mais	sistemático	dos	esforços	para	se	aproximar	
A história e o ofício 
do historiador
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
14
da	verdade.	A	história	é	o	conhecimento	cientificamente	elaborado.	
	 Em	história,	quando	se	 fala	em	ciência,	é	preciso	 falar	grego.	História	não	no	
sentido	de	“epistéme”	(conhecimento	vulgar	da	experiência	cotidiana),	mas	sim	
de	“tékhnê”	(conhecimento	elaborado	em	função	de	um	método	sistemático	e	ri-
goroso,	aquele	que	se	mostra	capaz	de	representar	o	fator	optimum	da	verdade).	
3)	Toda	investigação	requer	escolha.	Esse	é	um	problema	de	ação	do	historiador.	
Logo,	cabe	ao	historiador,	por	dever	de	ofício,	definir	o	que	é	história	ou	o	que	
é	um	fato	histórico.	Claro	está	que	alguns	fatos	não	mudam.	Eles	são,	digamos,	
a	espinha	dorsal	da	história.	Não	é	possível	negar,	sobre	a	história	do	Brasil,	que	
a	proclamação	da	República	ocorreu	em	1889	e	que	o	golpe	militar	ocorreu	em	
1964.	Mas	isso	não	quer	dizer	muita	coisa.	O	historiador	não	deve	ter	dúvidas	
sobre	isso.	A	exatidão	é	um	dever	do	historiador	e	não	uma	virtude.	Como	nos	
diz	E.	H.	Carr:	“Elogiar	um	historiador	por	sua	exatidão	é	o	mesmo	que	elogiar	
um	arquiteto	por	usar	a	madeira	mais	conveniente	ou	o	concreto	adequada-
mente	misturado”	(2006,	p.	46).	
	 Dessa	forma,	vamos	deixar	claro	uma	coisa.	Quando	falamos	que	o	golpe	militar	
brasileiro	ocorreu	em	1964,	o	que	é	fato,	isso	não	quer	dizer	que	ele	fala	por	si.	
Naturalmente	isso	não	é	possível.	“Os	fatos	falam	apenas	quando	o	historiador	
os	aborda:	é	ele	quem	decide	quais	os	fatos	que	vêm	à	cena	em	que	ordem	ou	
contexto”	(CARR,	2006,	p.	47).	
	 É	o	historiador,	portanto,	que	irá	definir	quais	os	fatos	que	explicam	o	golpe	mi-
litar:	uma	reação	conservadora	contra	as	políticas	de	reformas	de	base	do	gover-
no	Goulart;	o	“medo”	do	comunismo;	a	ameaça	do	chamado	“inimigo	interno”;	
uma	reação	contra	a	livre	organização	dos	trabalhadores	urbanos	e	rurais;	um	
freio	nos	movimentos	sociais,	estudantis	e	intelectuais;	a	interferência	externa	
dos	Estados	Unidos;	a	vocação	golpista	dos	militares	conservadores	brasileiros,	
entre	tantas	outras	explicações	possíveis.	O	historiador	é	um	selecionador.	Essa	
ideia	de	que	os	fatos	históricos	existem	independentementeda	interpretação	
do	historiador	é	uma	falácia,	mas	sabemos	o	quanto	é	difícil	erradicá-la.
Segundo ponto: conhecimento do passado.	O	passado	é	o	objeto	do	historia-
dor.	Porém,	não	qualquer	passado.	O	passado	humano.	E	quando	falamos	em	passa-
do	humano	queremos	dizer	“dos	homens	que	vivem	em	sociedade”,	pois	afinal	não	
existe	homem	no	mundo,	por	mais	isolado,	que	não	tenha	uma	relação	direta	com	a	
sociedade,	com	a	humanidade.	Quando	falamos	em	passado	humano	nos	referimos	
também	aos	fatos	humanos	do	passado,	já	que	todos	os	fatos	históricos	são	realizados	
ou	influenciam	diretamente	os	homens	e	mulheres	desta	terra.	
15
Mesmo	uma	catástrofe	climática	-	como	uma	enchente,	uma	chuva	de	granizo,	uma	
geada,	um	vendaval,	um	terremoto,	que	aparentemente	não	tem	a	participação	do	ho-
mem,	por	ser	um	acontecimento	natural	(nestes	tempos	de	destruição	ambiental	sabe-
mos	que	essa	verdade	já	não	existe	mais)	–	interfere	diretamente	na	vida	dos	homens.	
Pode-se	citar	o	exemplo	da	grande	geada	de	1975,	ocorrida	nos	estados	de	São	Paulo	e	
Paraná,	com	rescaldo	em	alguns	outros	estados	que	dizimou	as	plantações	de	cafezais,	
ao	acelerar	o	seu	processo	de	erradicação	e	fortalecer	o	de	mecanização	do	campo.	Ge-
ada,	portanto,	com	consequência	direta	na	vida	de	milhares	e	milhares	de	trabalhadores	
rurais,	que	tiveram	de	migrar	em	busca	de	trabalho	nas	grandes	cidades	ou	se	deslocar	
para	novas	áreas	de	fronteiras	nos	estados	do	Mato	Grosso,	Rondônia,	Goiás	e	Pará.	
O	“passado	humano”,	no	sentido	amplo	da	expressão,	significa	as	ações,	os	pensa-
mentos,	os	sentimentos,	os	comportamentos	dos	homens	e	das	mulheres;	e	também	
todas	as	suas	obras,	suas	criações	materiais	e	espirituais,	suas	experiências	e	culturas,	
realizadas	 em	 suas	 comunidades,	 sociedades,	 civilizações,	 enfim,	nos	 locais	 onde	 a	
vida	cotidiana	exercita	a	sua	plenitude	(MARROU,	1978;	THOMPSON,	1981).
Terceiro ponto: conhecimento do passado humano.	Vimos	no	item	anterior	o	
que	é	passado	humano.	Mas	como	se	conhece	o	passado	humano?	Eis	a	pergunta	que	
precisa	ser	feita	e	que	não	é	tão	fácil	de	ser	respondida.	Conhecer	o	passado	humano	
significa	dizer	conhecer	o	homem	(ou	“os	homens”,	no	plural,	como	nos	ensina	Marc	
Bloch)	de	ontem,	de	outrora,	de	antigamente.	Mais	enfaticamente:	conhecer	o	passado	
humano	não	é	só	pensar	o	ser	humano,	mas	as	suas	ações	no	tempo.2
Nesse	 sentido,	 é	 importante	enfatizar	que	o	passado	 tem	um	significado	 impor-
tante	para	nós,	tanto	individual	quanto	socialmente.	Nos	dias	atuais,	é	quase	impen-
sável	vivermos	sem	as	tecnologias	que	facilitam	e	infernizam	nossas	vidas.	Todavia,	só	
podemos	desfrutar	dessas	tecnologias	porque	outros	homens,	que	viveram	antes	de	
nós,	conseguiram	deixar	esse	legado.	Portanto,	esse	passado,	próximo	ou	longínquo,	
ajuda-nos	a	compreender	melhor	a	sociedade	na	qual	vivemos	hoje,	saber	o	que	de-
fender	e	o	que	preservar,	saber	o	que	mudar	ou	que	destruir.	
A	história	tem	uma	relação	ativa	com	o	passado,	pois	o	passado	está	presente	em	
todas	as	esferas	da	vida	dos	homens.	Como	nos	diz	Jean	Chesneaux,	a	relação	coletiva	
com	o	passado,	o	conhecimento	ativo	do	passado	é,	ao	mesmo	tempo,	uma	exigência	
e	uma	necessidade.	O	passado	pesa.	Mas	precisa-se	romper	com	ele.	Precisamos	fazer	
“tábula	rasa	do	passado”	(CHESNEAUX,	1995).
A	quem	cabe	 fazer	 “tábula	 rasa	do	passado”?	Ou	para	usar	uma	expressão	mais	
2 No segundo capítulo, trabalhamos com maior ênfase o conceito de tempo, procurando pensá-
lo ao longo da história.
A história e o ofício 
do historiador
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
16
do	senso	comum:	a	quem	cabe	passar	o	passado	a	limpo?	Resposta	curta	e	direta:	o	
historiador!	O	 historiador	 é	 o	 profissional	 que	 tem	 formação	 teórico-metodológica	
para	passar	a	limpo	o	passado.	Portanto,	o	historiador	deve	lançar	sobre	o	passado	um	
olhar	racional	para	compreendê-lo	e	explicá-lo.	Só	o	conhecimento	elaborado	desse	
passado,	nas	condições	empíricas	e	lógicas	faz	com	que	esse	passado	se	torne	história.	
Já	em	1910,	o	historiador	americano	Carl	Becker	enfatizava:	“os	fatos	da	história	não	
existem	para	qualquer	historiador,	até	que	ele	os	crie”	(BECKER	apud	CARR,	2006,	p,	
57).	No	mesmo	sentido	escrevia	o	historiador	inglês	M.	Oakeshott,	em	1933:	“A	história	
é	a	experiência	do	historiador.	Ela	não	é	feita	por	ninguém,	exceto	pelo	historiador:	
escrever	a	história	é	a	única	maneira	de	fazê-la”	(OAKESHOTT	apud	CARR,	2006,	58).
Mas	esse	olhar	racional	que	o	historiador	lança	sobre	o	passado	é	um	olhar	do	pre-
sente.	Quando	um	historiador	escreve	sobre	um	fato	do	passado,	ele	o	faz	tomando	
como	referência	o	 tempo	presente.	O	historiador	pertence	à	sua	época	e	a	ela	está	
conectado	pelas	condições	de	sua	existência.	Portanto,	é	o	presente	que	nos	possibi-
lita	formular	questões	para	compreender	o	passado.	Temos	que	inverter	essa	relação	
passado/presente.	Não	é	o	passado	que	comanda,	que	dá	lições,	que	julga	do	alto	do	
seu	tribunal.	É	o	presente	que	questiona,	que	faz	as	intimações,	que	faz	as	perguntas.	
A	análise	sobre	os	fatos	passados	é	diretamente	influenciada	pelos	fatos	do	presen-
te.	Basta	uma	rápida	olhada	sobre	a	produção	historiográfica	recente	sobre	o	terroris-
mo,	para	ver	como	essas	análises	estão	influenciadas	pelos	ataques	às	torres	gêmeas	de	
Nova	York,	em	setembro	de	2001.	
O	historiador	não	pertence	ao	passado,	mas	ao	presente.	Portanto,	a	história	é	a	
relação,	a	conjunção,	estabelecida	por	iniciativa	do	historiador	entre	dois	planos	da	
humanidade:	“o	passado	vivido	pelos	homens	de	outrora;	e	o	presente,	onde	se	desen-
volve	o	esforço	de	recuperação	desse	passado	em	benefício	do	homem	[atual]	e	dos	
homens	que	virão”	(MARROU,	1978,	p.	32).
Quarto ponto: o conhecimento do passado humano se faz com documentos.	
Todo	 pesquisador	 necessita	 de	 um	método	 de	 trabalho	 e	 de	materiais.	 O	 químico	
quando	está	no	seu	laboratório	utiliza-se	de	diversos	reagentes	para	fazer	as	suas	ex-
periências.	O	biólogo	busca	na	natureza	 (plantas,	 animais,	 fungos,	 insetos,	 etc.)	os	
materiais	necessários	para	as	suas	pesquisas.	Com	o	historiador	não	é	diferente.	Ele	
necessita	de	um	conjunto	de	documentos	(fontes	históricas)	para	realizar	as	suas	pes-
quisas,	para	produzir	o	seu	conhecimento.3
Mas,	enfim,	o	que	é	um	documento?	Fustel	de	Coulanges	(1901),	um	dos	principais	
3 Nos capítulos 3, 4 e 5 discutiremos o conceito de documento e a ampliação do debate sobre 
fontes históricas.
17
historiadores	positivistas	da	segunda	metade	do	século	XIX,	dizia	que	eram	os	“textos	
escritos”,	como	as	leis,	as	cartas,	as	fórmulas,	as	crônicas,	os	tratados	militares	e	diplo-
máticos,	embora	também	reconhecia	que	onde	faltassem	os	documentos	escritos,	os	
historiadores	deveriam	buscar	outras	alternativas,	como	“escrutar	as	fábulas,	os	mitos,	
os	sonhos	de	imaginação	[...].	Onde	o	homem	passou,	onde	deixou	qualquer	marca	
da	sua	vida	e	da	sua	inteligência,	aí	está	a	história”	(1901,	p.	245).	
Lucien	Febvre	era	ainda	mais	enfático:	A	história	se	faz	“com	textos,	evidentemente:	
mas	não	apenas	os	textos”.	Mas	também	“um	poema,	um	quadro,	um	drama:	docu-
mentos	para	nós,	 testemunhos	de	uma	história	viva	e	humana,	saturados	de	pensa-
mento	e	de	ação	em	potência”	(FEBVRE,	1985,	p.	24).	Enfim,	documentos	são	todos	
os	vestígios	deixados	pelos	homens,	escritos	ou	não,	que	contemplem	as	suas	ações,	
as	 suas	 realizações,	 as	 suas	 ideias,	 as	 suas	 atitudes	 e	 as	 suas	 experiências	 sociais	 e	
culturais.	
Portanto,	pode	ser	uma	carta,	uma	fotografia,	uma	pintura,	uma	lista	de	supermer-
cado,	um	diário	de	adolescente,	um	blog,	um	perfil	em	um	sítio	de	relacionamento	na	
internet	ou	uma	reclamação	em	um	órgão	de	defesa	do	consumidor	contestando	que	
um	serviço	público	não	funciona	adequadamente.	
Marrou	 sintetiza:	 “Constitui	um	documento	 toda	 fonte	de	 informação	de	que	o	
espírito	do	historiador	sabe	extrair	alguma	coisa	para	o	conhecimento	do	passado	hu-mano,	considerando	sob	o	ângulo	da	questão	que	lhe	foi	proposta”	(1978,	p.	62).	Por	
fim,	cabe	registrar:	os	documentos	são	de	toda	espécie:	escritos,	estatísticos,	imagéti-
cos,	esculturais,	arquitetônicos,	orais,	gestuais,	sonoros,	digitais	etc	e	trazem	muitas	
informações.	Mas	isto	apenas	não	basta.	O	historiador	precisa	saber	interpretar	esses	
documentos.	Formular	as	questões	adequadas	para	obter	as	respostas	adequadas	às	
suas	perguntas.
A história e o ofício 
do historiador
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
18
BLOCH,	Marc.	Apologia da História ou o ofício do historiador.	Rio	de	Janeiro:	
Jorge	Zahar	Editor,	2001.
CARR,	Edward	Hallet.	Que é história?	9.	ed.	São	Paulo:	Paz	e	Terra,	2006.
CHESNEAUX,	Jean.	Devemos fazer tábula rasa do passado?	São	Paulo:	Ática,	1995.
COLLINGWOOD,	R.	G.	A idéia da História.	5.	ed.	Lisboa:	Editorial	Presença,	1981.
COULANGES,	Fustel.	Une	leçon	d’	ouverture	et	quelques	fragments	inédits.	Revue 
de Synthése Historique,	Paris,	n.	6,	p.	241-263,	1901.
FEBVRE,	Lucien.	Combates pela história.	2.	ed.	Lisboa:	Editorial	Presença,	1985.
GINZBURG,	Carlo.	O fio e os rastros:	verdadeiro,	falso,	fictício.	São	Paulo:	Cia	das	
Letras,	2007.
GLÉNISSON,	Jean.	Iniciação aos estudos históricos.	4.	ed.	São	Paulo:	Difel,	1983.
HERÓDOTO.	Histórias:	livro	1.	Lisboa:	Edições	70,	1994.
HOUAISS,	Antônio.	Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.	Rio	de	Janeiro:	
Objetiva,	2001.
KI-ZERBO,	J.	Para quando a África?:	entrevista	com	René	Holestein.	Rio	de	Janeiro:	
Pallas,	2006.	
	
MARROU,	Henri-Irénée. Sobre o conhecimento histórico.	Rio	de	Janeiro:	Zahar	
Editores,	1978.
THOMPSON,	E.	P.	O	termo	ausente:	experiência.	In:	______.	A miséria da teoria 
ou um planetário de erros.	Rio	de	Janeiro:	Zahar	Editores,	1981.	p.	180-201.
Referências
19
TOLSTOI,	Leon.	La Guerre et la paix (epílogue).	Paris:	Gallimard,	1992.
1) Extrato de documentos para leituras:
	 “A	história	anda	sobre	dois	pés:	o	da	 liberdade	e	o	da	necessidade.	Se	considerarmos	a	
história	na	sua	duração	e	na	sua	totalidade,	compreenderemos	que	há,	simultaneamente,	
continuidade	e	ruptura.	Há	períodos	em	que	as	intervenções	se	atropelam:	são	as	fases	da	
liberdade	criativa.	E	há	momentos	em	que,	porque	as	contradições	não	foram	resolvidas,	
as	rupturas	se	impõem:	são	as	fases	da	necessidade.	Na	minha	compreensão	da	história,	
os	dois	aspectos	estão	ligados.	A	liberdade	representa	a	capacidade	do	ser	humano	para	
inventar,	para	se	projetar	para	diante	rumo	a	novas	opções,	adições,	descobertas.	E	a	ne-
cessidade	representa	as	estruturas	sociais,	econômicas	e	culturais	que,	pouco	a	pouco,	vão	
se	instalando,	por	vezes	de	forma	subterrânea,	até	se	imporem,	desembocando	à	luz	do	dia	
numa	configuração	nova.	De	uma	certa	maneira,	a	parte	da	necessidade	da	história	escapa-
nos,	mas	pode-se	dizer	que,	mais	cedo	ou	mais	tarde,	ela	há	de	se	impor	por	si	própria.	
Assim,	não	podemos	separar	os	dois	pés	da	história	–	a	história-necessidade	e	a	história-
invenção	-,	como	não	podemos	separar	os	dois	pés	de	alguém	que	anda:	os	dois	estão	com-
binados	para	avançar.	Como	a	história	tem	esse	pé	da	liberdade,	que	antecipa	o	processo,	
existe	sempre	uma	grande	porta	aberta	para	o	futuro.	A	história-invenção	reclama	o	futuro;	
incita	as	pessoas	a	se	impelirem	para	algo	inédito,	que	ainda	não	foi	catalogado,	que	não	
foi	visto	em	parte	alguma	e	que,	subitamente,	é	estabelecido	por	um	grupo.	Isto	significa	
que	nem	tudo	está	fechado	a	cadeado	pela	história-necessidade:	continua	a	haver	sempre	
uma	abertura”.	
	 [Definição	de	História	elaborada	pelo	historiador	africano	 Joseph	Ki-Zerbo,	extraído	da	
seguinte	referência:	KI-ZERBO,	J.	Para quando a África?:	entrevista	com	René	Holestein.	
Rio	de	Janeiro:	Pallas,	2006.	p.	17.]	
2) Reflexão para aprofundamento temático:
	 Tomando	como	referência	o	extrato	documental	apresentado,	bem	como	as	argumenta-
ções	ao	longo	do	capítulo,	elabore	uma	definição	de	história,	contemplando	termos	como	
tempo,	homem	e	sociedade.
Fontes e referenciais para o aprofundamento temático
A história e o ofício 
do historiador
Anotações
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
20
Anotações
21
Como	e	por	que	o	tempo	nos	incomoda	tanto?	Por	que	temos	a	necessidade	de	en-
contrar	explicações	para	seu	acontecer?	Essa	indagação	por	vezes	perpassa	a	nossa	vida	
e	nos	vemos	sem	argumentos.	Em	busca	de	uma	resposta	a	essa	questão	acabamos	por	
nos	reportar	às	considerações	formuladas	pelo	jornalista,	Adauto	Novaes,	por	ocasião	
do	ciclo	de	conferências	Tempo	e	História	-	Caminhos	da	Memória,	Trilhas	do	Futuro,	
em	1992,	ocasião	em	que	se	comemorava	quinhentos	anos	da	chegada	de	Colombo	a	
América.	Segundo	Novaes	“tempo	é	memória,	é	experiência	vivida.	Esquecer	o	passa-
do	é	negar	toda	efetiva	experiência	de	vida;	é	negar	o	futuro	e	abolir	a	possibilidade	
do	novo	a	cada	instante”.	Mais	ainda,	para	ele,	sem	um	entendimento	a	respeito	do	
tempo,	as	ideias	de	justiça,	liberdade,	alteridade,	“tornam-se	abstrações	vazias	no	es-
paço	e	tempo,	a	partir	do	momento	em	que	qualquer	ação	já	sabe	eternamente	feita	e	
absolutamente	irreparável”	(NOVAES,	1992,	p.	9-17).
Se	considerarmos	que	para	o	historiador,	“tudo	começa,	tudo	acaba	pelo	tempo	
[...]	o	tempo	imperioso	do	mundo”	(BRAUDEL,	1992,	p.	72),	temos	que	as	reflexões	
sobre	o	tempo	são,	necessariamente,	reflexões	de	historiadores.	Em	face	disso	é	que	
a	discussão	sobre	o	tempo	e	a	história	se	torna	relevante;	faz-se	necessário	investigar	
mais	detalhadamente	a	relação	existente	entre	tempo	e	história,	verificar	a	associação	
estabelecida	por	 teóricos	 que	 se	propuseram	 a	 refletir	 sobre	 esse	 assunto	 e	 tornar	
menos	complexas	as	explicações	para	o	acontecer	histórico.
Um	dos	primeiros	aspectos	a	ser	destacado	diz	respeito	à	natureza	do	tempo.	O	
entendimento	do	tempo	é	algo	natural	no	homem	ou	resultado	de	um	processo	de	
aprendizagem?	
A	resposta	a	essa	pergunta	não	é	tão	fácil	e	inquieta	os	filósofos	há	tempos.	Isaac	
Newton,	por	exemplo,	dizia	que	o	tempo	é	um	dado	objetivo	do	mundo	e	que	não	se	
distingue	dos	demais	objetos	da	natureza.	Não	muito	diferente	era	o	entendimento	de	
René	Descartes	para	quem	o	entendimento	do	tempo	é	uma	forma	de	conhecimento	
que	precede	qualquer	experiência	humana.	Kant	também	afirmava	que	o	tempo	é	uma	
O tempo da 
história
2
Silvia Helena Zanirato
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
22
experiência	a	priori	da	consciência	humana.	
Tais	concepções	tinham	em	comum	o	pressuposto	de	que	o	tempo	é	uma	forma	
inata	de	experiência,	um	dado	não	modificável	da	experiência	humana.	Ou	ele	é	um	
dado	objetivo,	que	independe	da	realidade	humana,	ou	é	uma	simples	representação	
subjetiva,	enraizada	na	natureza	humana	(ELIAS,	1998,	p.	9).
Norbert	Elias,	numa	perspectiva	oposta	a	essas,	defendeu	que	o	conhecimento	do	
tempo	não	é	inato	ao	homem,	mas	sim	resultado	de	um	longo	processo	de	aprendi-
zagem,	uma	vez	que	o	indivíduo	não	tem	capacidade	de	forjar,	por	si	só,	tal	conceitu-
ação.	O	entendimento	sobre	o	tempo	é	um	conhecimento	que	foi	construído,	assimi-
lado	e	transmitido	socialmente	e	que	remonta	a	momentos	em	que	o	homem	sentiu	
necessidade	de	explicar	os	movimentos	da	natureza,	as	posições	e	trajetórias	que	se	
apresentam	sucessivamente:	o	nascer	e	pôr-do-sol,	as	estações	do	ano,	as	mudanças	da	
lua,	etc.	Para	Elias,	essas	sequências	recorrentes	serviram	como	unidade	de	referência	
e	meios	de	comparação	que	permitiram	aos	homens	explicar	a	natureza	a	sua	volta.	
(ELIAS,	1998).
O	tempo,	para	Elias,	é	uma	forma	de	orientação	criada	pelo	homem	no	decorrer	
do	desenvolvimento	das	sociedades	humanas,	que	traz	imbricada	a	interdependência	
entre	natureza,	sociedade	e	indivíduo	(ELIAS,	1998,	p.	17).	No	interior	da	sociedade,	
os	indivíduos	aprendem	e	transmitem	seus	conhecimentos,	entre	os	quais	o	do	tempo,	
que	é	uma	instituição	social,	cujo	aprendizado	se	faz	de	forma	coercitiva,	de	modo	que	
todo	sujeito,	desde	criança,	vai	se	habituando,	autodisciplinando-se,e	modelando	a	
sua	sensibilidade	em	relação	a	essa	compreensão.	Trata-se	de	uma	coerção	exercida	de	
fora	para	dentro	do	indivíduo,	num	processo	de	internalização	de	hábitos	sociais,	ou	
aquilo	que	Norbert	Elias	denominou	processo	de	civilização.
Por	isso	mesmo,	George	Woodcok	afirma	que	tanto	para	os	antigos	gregos	e	chi-
neses,	quanto	para	os	nômades	árabes	ou	para	o	peão	mexicano	de	hoje,	o	tempo	é	
considerado	“pelos	processos	cíclicos	da	natureza,	pela	sucessão	dos	dias	e	das	noites,	
pela	passagem	das	estações”	(1981,	p.	120).	Sociedades	não	sujeitas	às	compreensões	
civilizatórias	 interpretam	o	 passar	 do	 dia	 pelo	 amanhecer	 e	 pelo	 crepúsculo	 e	 dos	
anos	pelos	períodos	de	plantar	e	colher,	das	folhas	que	caem	e	do	gelo	que	derrete	
nos	lagos	e	rios.	
De	acordo	com	Woodcock,	até	a	Modernidade,	o	transcorrer	do	tempo	era	conside-
rado	um	processo	natural	de	mudança	e	os	homens	não	se	preocupavam	em	medi-lo	
com	exatidão.	Daí	que	“em	nenhum	lugar	do	Mundo	Antigo	ou	da	Idade	Média	havia	
mais	do	que	uma	pequeníssima	minoria	de	homens	que	se	preocupavam	realmente	
em	medir	o	tempo	em	termos	de	exatidão	matemática”	(1981,	p.	120).
O	calendário	e	o	relógio	consistem	em	formas	de	expressar	o	entendimento	das	
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sequências	recorrentes	as	quais	chamamos	dias,	meses,	anos.	Ambos	são	símbolos	do	
nosso	entendimento	das	sequências	de	acontecimentos.	O	relógio	surgiu	no	século	XI	
para	regular	os	sinos	do	monastério	em	intervalos	regulares	(WOODCOCK,	1981,	p.	
121).	Essa	criação	adequou-se	de	tal	maneira	à	realidade	que	cada	vez	fica	mais	difícil	
distingui-la	dessa	mesma	realidade.	Hoje	confundimos	as	sequências	de	acontecimen-
tos	que	balizam	a	vida,	com	a	relação	construída	pela	humanidade	para	explicar	essas	
sequências,	ou	seja,	com	os	símbolos	instituídos	como	o	relógio	e	o	calendário	(ELIAS,	
1998).
A	forma	como	passamos	a	conceber	o	tempo,	pelo	passar	dos	ponteiros	do	relógio	
fez	com	que	o	tempo,	como	duração,	perdesse	sua	importância	“e	os	homens	começa-
ram	a	falar	em	extensões	do	tempo	como	se	estivessem	falando	em	metros	de	algodão”	
(WOODCOCK,	1981,	p.	122).
O	relógio	marca	o	passar	dos	dias,	o	calendário	o	passar	dos	anos.	Por	meio	desses	
instrumentos	determinamos	 a	 idade	das	pessoas,	 os	processos	 sociais,	 situamos	os	
acontecimentos	em	um	período	e	procuramos	explicá-los.	Para	ser	entendida,	a	histó-
ria	do	ser	tem	que	estar	inserida	num	calendário.
Feitas	essas	considerações,	podemos	nos	voltar	para	as	discussões	acerca	da	proble-
mática	do	tempo	na	escrita	da	história,	ou	de	como	os	historiadores	procuram	explicar	
as	ações	humanas	inscritas	no	tempo.
Entre	elucidações	sobre	o	assunto,	retomamos	a	concepção	cunhada	na	Antiguida-
de	grega.	Em	sua	discussão	sobre	a	física	dos	corpos,	Aristóteles	afirma	que	o	tempo	
é	um	contínuo	e	que	não	se	pode	tratá-lo	independente	da	história	humana.	Para	ele,	
a	compreensão	do	ser,	a	sua	definição,	depende	de	se	descobrir	em	cada	fenômeno,	
a	sua	causa.	(As	causas:	eficiente	–	o	que	provoca	o	movimento,	formal	-	o	que	torna	
um	ser	ele	mesmo,	material	–	a	matéria	da	qual	o	ser	é	feito	e	final	–	o	fim	para	onde	
o	ser	se	dirige).
Para	Aristóteles	o	Universo	é	único	e	finito,	eterno,	seu	movimento	é	circular,	é	
passagem	em	atos	sucessivos.	Não	tem	início,	meio	ou	fim.	O	tempo	também	se	coloca	
nessa	concepção,	é	eterno,	isto	é,	existe	sempre,	e	as	coisas	é	que	são	temporais,	ha-
vendo	um	tempo	para	cada	gênero	ou	espécie.	Cada	ser	tem	um	tempo:	nascimento,	
desenvolvimento,	morte.	O	mundo	 e	 o	universo	 são	 finitos,	 hierarquizados,	 gover-
nados	pela	finalidade.	Nesse	universo	não	existe	uma	ideia	de	um	deus	regulador	de	
todos	os	fenômenos	ou	o	criador.	Tudo	tem	um	sentido,	imutável	e	eterno,	uma	vez	
que	as	mudanças	de	cada	ser	se	repetem	na	natureza	com	inexorável	precisão	(ARIS-
TOTELES,	1987).
Até	o	Renascimento,	essa	visão	de	mundo	imperou	como	um	modelo	de	conheci-
mento	sobre	o	tempo,	ainda	que	concorrendo	com	as	explicações	fundamentadas	nas	
O tempo da história
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
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concepções	 judaico-cristãs,	que	passaram	a	mostrar	o	 tempo	em	outra	perspectiva.	
Segundo	os	judeus,	Moisés	recebeu	as	Tábuas	das	Leis	num	lugar	e	numa	data	certa:	
isso	se	constituiu	em	um	evento	histórico,	irreversível,	a	partir	do	qual	a	intervenção	
de	Deus	se	fez	constante	na	história,	revelando	sempre	Sua	vontade	através	dos	even-
tos	(REIS,	1994,	p.	11).
Influenciados	por	essa	forma	de	pensar,	o	tempo	e	a	história	passaram	a	ser	vistos	
como	uma	sucessão	iniciada	com	a	Criação	Divina	e	predestinada	a	terminar	com	o	
Juízo	Final.	Traçou-se	uma	linha	voltada	para	frente,	o	tempo	tornou-se	linear	e	pro-
gressivo,	seu	movimento	direcionado	para	o	fim.	O	nascimento	de	Cristo	foi	um	marco	
nessa	linha	que	unia	a	Criação	ao	Juízo	Final	e,	sem	romper	com	a	concepção	linear,	o	
tempo	continuou	a	ser	visto	em	série,	uma	sucessão,	uma	cadeia	do	antes	e	do	depois.
Tal	compreensão	provocou	uma	mudança	epistemológica	em	relação	à	concepção	
grega	de	um	tempo	circular.	O	tempo	tornou-se	linear,	singular,	irreversível,	com	um	
sentido	e	uma	finalidade.
Alimentada	pelas	crenças	judaico-cristãs	essa	visão	do	tempo	permaneceu	por	sé-
culos	propagando	um	desenrolar	da	vida	humana	mediada	pelo	bem	e	pelo	mal.	O	
caminho	a	ser	seguido	pela	humanidade	apontava	para	a	participação	ou	não	no	para-
íso,	onde	não	mais	haveria	o	pecado	e	a	opressão.	As	ideias	religiosas	passaram	a	ser	
colocadas	em	termos	absolutos	e	inquestionáveis,	sob	forma	de	dogmas	e	com	uma	
rígida	moral.	As	explicações	históricas	seguiram	tais	determinações.
Calcado	nessa	visão	teológica	do	mundo,	um	pensador	medievalista	como	Santo	
Agostinho,	ao	elaborar	uma	das	primeiras	filosofias	da	história	atribuiu-lhe	um	sentido	
teológico	(ciência	de	Deus,	de	suas	relações	com	o	mundo	e	com	o	homem),	concluin-
do	que	a	história	da	humanidade	era	a	história	da	vontade	divina.	Para	isso,	retomou	
o	pensamento	aristotélico	e	adaptou-o	para	conciliá-lo	com	o	cristianismo,	afirmando	
que	o	tempo	era	algo	estabelecido	por	Deus.	
Ainda	que	sejam	suas	as	palavras:	“Se	ninguém	me	pergunta	o	que	é	o	tempo,	acre-
dito	que	sei,	todavia	se	tiver	que	responder	ou	explicar	a	quem	me	perguntar,	tenho	
que	responder	que	já	não	sei”	(SANTO	AGOSTINHO,	1987,	p.	218),	na	verdade	ele	
se	empenhou	em	definir	o	tempo	na	história.	Segundo	ele,	haveria	um	tempo	longo,	
que	se	refere	ao	passado,	e	um	tempo	breve.	O	tempo	longo	seria	o	tempo	de	Deus,	
o	tempo	breve	o	dos	homens,	um	mero	intervalo	da	eternidade.	A	história	sagrada	se	
escreveria	nesse	tempo	longo,	num	desenrolar	submetido	à	história	bíblica.	A	história	
secular,	produto	da	vida	dos	homens	e	resultante	do	pecado	original	caminharia	em	
outro	tempo.	A	história	sagrada	seria	aquela	revelada	pelo	próprio	Deus	e	indicadora	
da	salvação,	ao	passo	que	a	história	secular	se	inscreveria	nessa	história	através	dos	
atos	destinados	a	conduzir	a	os	homens	à	salvação	(BIGNOTO,	1992).
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Santo	Agostinho	entendia	que	 “todo	o	universo	 foi	 criado	por	Deus	a	partir	do	
nada”,	de	tal	forma	que	“o	tempo	não	existe	para	Deus,	só	passa	a	existir	a	partir	da	
criação	do	universo	e	se	encerra	com	o	fim	deste”	(SANTO	AGOSTINHO,	1987,	p.	211).	
As	concepções	de	Santo	Agostinho	se	fizeram	numa	conjuntura	na	qual	o	conheci-
mento	não	poderia	contradizer	as	ideias	religiosas.	Não	havia	como	encontrar	a	certe-
za	do	conhecimento	fora	das	regras	eternas	e	imutáveis	da	ciência	divina.	Nesse	tipo	de	
explicação,	a	História	não	era	mais	do	que	o	desenvolvimento	do	plano	providencial.
Influenciados	por	essa	concepção,	historiadores	procuraram	estabelecer	uma	con-
cordância	entre	a	cronologia	e	a	história	santa,	narrada	pela	Bíblia.	A	escrita	voltou-se	
particularmente	para	o	sagrado,	para	a	história	da	vida	dos	santos;	era	uma	escrita	que	
privilegiava	personagens	como	o	clero	e	outros	personagens	não	eram	objetos	desse	
tipo	de	história	(ÀRIÉS,	1989,	p.	103).A	partir	do	Renascimento	ocorreram	mudanças	significativas	no	campo	do	conheci-
mento	que	se	fizeram	sentir	na	explicação	histórica	e	no	entendimento	sobre	o	tempo.	
Fundou-se	um	paradigma	explicativo	para	o	saber	que	excluía	a	explicação	conjectural	
e	exigia	um	rigor	“científico”	e	que	se	sobrepôs	à	religião	e	acarretou	o	antagonismo	
entre	a	fé	e	a	razão.
Um	outro	entendimento	de	ciência	se	fez	e	nele	a	ideia	do	conhecimento	se	fazia	
de	forma	progressiva,	linear,	em	direção	à	perfeição.	O	progresso	aparecia	ligado	ao	
conhecimento	de	 tal	modo	que	seria	o	homem,	ele	próprio,	não	mais	Deus,	quem	
encontraria	a	salvação	nesse	mundo	e	em	plena	história	(REIS,	1994,	p.	12).
A	história,	como	um	campo	de	conhecimento	procurou	se	adequar	a	esses	princí-
pios,	sem	romper	com	o	pressuposto	de	um	tempo	linear	e	progressivo.	Nessa	nova	
forma	de	pensar,	o	passado	passou	a	ser	explicado	como	algo	 isolado	do	presente,	
como	um	objeto	em	si.
Immanuel	Kant,	por	exemplo,	defendeu	que	o	entendimento	do	tempo	era	algo	
próprio	da	racionalidade	humana.	O	tempo	era	uma	construção	humana	e	a	faculdade	
de	sua	compreensão	advinha	da	racionalidade,	posto	que	nenhum	outro	ser	é	dotado	
da	capacidade	de	compreender	abstratamente	o	que	se	denomina	tempo.	Para	Kant,	
só	os	homens	são	capazes	de	perceber	o	tempo	transcorrido,	de	verificar	as	diferenças	
entre	o	passado,	o	presente	 e	o	 futuro.	Essa	percepção	dimensional	 é	 algo	 estrita-
mente	humano	e,	ainda	que	haja	essas	dimensões,	o	tempo	é	sempre	uniforme	e	as	
diferenças	“são	apenas	partes	do	mesmo	tempo”	(KANT,	1987,	p.44).
Augusto	Comte,	expressão	dessa	concepção	de	tempo	e	história,	adotou	uma	posi-
ção	antimetafísica	(do	ser	e	das	causas	do	ser)	e	antiteológica	no	que	se	refere	ao	co-
nhecimento	científico.	Em	sua	concepção	a	história	era	o	desenvolvimento	progressivo	
da	humanidade,	um	processo	contínuo	de	conhecimento	que	ocorria	dentro	de	uma	
O tempo da história
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
26
ordem	absoluta,	modulada	por	leis	invariáveis.	Sempre	linear,	a	história	implicava	em	
aprimoramento,	não	em	ruptura	ou	revolução.	Seu	sentido	era	predeterminado	em	
direção	ao	progresso	e	o	tempo	linear,	contínuo,	 irreversível	e	progressivo	(FURET,	
199-).
De	acordo	com	tal	modo	de	pensar,	a	história	era	essencialmente	política,	sua	es-
crita	deveria	 ser	a	mais	objetiva	possível	e	 retratar	os	 fatos	“como	eles	 se	passaram	
realmente”.	Esta	escrita	se	fazia	através	de	uma	narrativa	dos	acontecimentos	funda-
mentados	exclusivamente	em	documentos,	na	qual	os	registros	oficiais	eram	enfatiza-
dos.	Concentrada	nos	‘grandes’	feitos	dos	‘grandes’	homens,	o	resto	da	humanidade	
permanecia	destinado	a	um	papel	secundário	na	história.	
Em	meados	do	século	XIX	começou	a	ganhar	corpo	uma	outra	forma	de	explicação	
sobre	o	de	tempo	e	a	história.	De	acordo	com	teóricos	desse	novo	pensar,	o	tempo	
tinha	uma	existência	objetiva,	seu	curso	era	marcado	pela	cadeia	de	atos	de	porvir	que	
exprimiam	as	mudanças	sucessivas	dos	acontecimentos	(CARDOSO,	1991,	p.	29).
Karl	Marx	e	Frederich	Engels,	principais	representantes	desse	pensamento,	afirma-
ram	a	existência	de	uma	evolução	necessária	e	necessariamente	progressiva	do	mundo	
natural.	Para	eles,	o	sentido	da	história	era	o	sentido	do	progresso	e	esse	era	contínuo.	
A	história	era	um	processo	unilinear	e	progressivo,	que	levava,	através	da	luta	de	clas-
ses,	para	a	sociedade	sem	classes,	para	a	sociedade	perfeita	(MARX,	1982).	
A	partir	de	então,	as	explicações	históricas	passaram	a	falar	em	sucessão	de	etapas,	
cada	uma	geradora	de	elementos	constitutivos	da	etapa	seguinte,	cada	qual	qualita-
tivamente	 superior	 à	 antecessora,	de	modo	 tal	 que	 seria	possível	 alcançar	 cotas	de	
liberdade	cada	vez	mais	elevadas.	O	tempo,	tal	qual	a	história,	era	considerado	line-
ar,	progressivo;	as	ações	do	homem,	numa	evolução	constante	através	dos	 tempos,	
garantiriam	um	 futuro	melhor,	 onde	não	haveria	mais	dominantes	 e	dominados.	 A	
finalidade	que	orientaria	o	conjunto	do	desenvolvimento	histórico	seria	um	bem	viver	
neste	mundo,	onde	se	pressupunha	um	homem	liberado	da	produção	e	do	trabalho.	
Essa	forma	de	pensar	foi	duramente	criticada	nas	décadas	iniciais	do	século	XX	por	
Walter	Benjamim	(1994),	de	modo	especial	o	tempo	linear	e	contínuo	e	a	crença	no	
progresso.	Estarrecido	em	face	dos	movimentos	totalitários,	Benjamim	questionou	a	
ideia	de	progresso,	a	convicção	de	que	a	história	caminhava	evolutivamente	em	dire-
ção	ao	bem	estar	da	humanidade.
Também,	nas	primeiras	décadas	do	século	XX,	surgiu	uma	outra	forma	de	se	ex-
plicar	a	história,	conhecida	posteriormente	por	“Nova	História”.	Os	defensores	des-
se	pensar	propagaram	que	a	história	não	deveria	ser	explicada	como	a	narrativa	dos	
povos	e	 indivíduos	produtores	de	eventos	grandiosos	que	avançavam	em	direção	à	
liberdade.	O	que	propagavam	era	uma	escrita	que	fosse	além	do	acontecimento,	que	
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não	fosse	vista	como	uma	história	contínua,	progressiva	e	irreversível	da	realização	de	
uma	consciência	humana,	mas	que	buscasse	ser	total.
Para	eles,	o	tempo	histórico	deveria	ser	visto	em	diferentes	sintonias,	até	mesmo	
simultâneas,	o	que	até	então	era	inconcebível	em	face	da	defesa	da	irreversibilidade	
do	tempo	humano.
O	conceito	de	longa	duração	formulado	por	Fernand	Braudel	introduziu	a	ideia	de	
um	tempo	de	repetição,	de	permanência,	contrapondo-o	a	um	entendimento	antes	
limitado	à	irreversibilidade,	à	mudança.	Para	os	historiadores	que	se	identificam	com	
essa	forma	de	conceber	a	história	era	necessário	pensar	em	sucessão	sem	mudança,	
em	repetição	em	permanências,	em	mudanças	lentas	(REIS,	1994,	p.	20).
Imbuídos	por	essa	concepção,	 rejeitaram	as	explicações	ancoradas	na	defesa	do	
progresso	da	humanidade.	A	história	não	poderia	ser	explicada	como	tendendo	assin-
tomaticamente	uma	direção	a	um	ideal	final,	pois	ela	não	se	explica	de	forma	teleoló-
gica,	já	que	suas	direções	são	múltiplas.	O	conhecimento	da	duração	do	tempo	não	
poderia	 ser	dado	antecipadamente	na	pesquisa,	mas	 sim	constatado	na	observação	
dos	fenômenos	históricos,	pois	os	desdobramentos	do	tempo	não	são	uniformes.	Sua	
topologia	não	está	definida,	preestabelecida.	São	exatamente	os	processos	que,	ao	se	
desenvolver,	realizam	sua	direção.	O	tempo	na	história	não	é	pressuposto	especulati-
vamente;	mas	sim	construído	conceitualmente	e	verificado	empiricamente.
Tal	concepção	de	história	passou	a	recusar	a	hipótese	de	um	tempo	linear,	cumu-
lativo	e	irreversível	e	se	criou	uma	topologia	global	complexa,	uma	sequência	de	ci-
clos.	Ciclos	de	crescimento,	estagnação,	declínio	e	retomada	de	crescimento.	O	tempo	
na	história	passou	a	ser	visto	não	mais	como	progressivo,	mas	pluridirecionado,	não	
global,	mas	múltiplo,	 no	 qual	 os	 acontecimentos	 devem	 se	 explicados	numa	 tripla	
duração:	a	curta	duração	do	evento;	a	média	duração	da	conjuntura	na	qual	ocorreu	
o	evento	(com	múltiplos	ritmos)	e	a	longa	duração	das	estruturas	nas	quais	se	situa	o	
evento	(BRAUDEL,	1992,	p.	47).
Assim	também	Michel	Foucault	postulou:	“a	história	não	deve	ser	entendida	como	
a	coleta	das	sucessões	de	fatos,	tais	como	se	constituíram;	ela	é	o	modo	de	ser	funda-
mental	das	empiricidades,	aquilo	a	partir	de	que	elas	são	afirmadas,	postas,	dispostas	e	
repartidas	no	espaço	do	saber	para	eventuais	conhecimentos	e	para	ciências	possíveis”	
(FOUCAULT,	1999,	p.	300).
Abriram-se	então	possibilidades	de	pensar	o	tempo	histórico	não	linear,	não	neces-
sariamente	simultâneo,	não	com	um	final,	pois	não	há	garantia	alguma	do	ponto	final	
na	história.	As	consequências	das	decisões	tomadas	no	passado	têm	implicações	no	
presente	e	este	prepara,	para	o	bem	ou	para	o	mal,	o	futuro.
Nas	últimas	décadas	do	século	XX,	uma	nova	preocupação	se	fez	presente	na	escrita	
O tempo da história
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
28
da	história	e	implicou	em	um	outro	olhar	para	o	tempo.	O	surgimento	das	preocupa-
ções	com	a	deterioraçãodo	meioambiente,	com	os	riscos	decorrentes	do	modo	como	
o	homem	se	relacionou	com	a	natureza	favoreceram	a	busca	de	explicações	fundadas	
na	história	ambiental.	Esse	tipo	de	escrita	requer	“unidades	de	tempo	e	prazos	estra-
nhos	 à	moderna	 cultura	ocidental,	mais	 afins,	 talvez,	 aos	 intervalos	 imprecisos	das	
narrativas	míticas”	(DRUMMOND,	1991,	p.	179).	
Dessa	forma,	passou-se	a	pensar	no	tempo	da	natureza,	que	não	é	tão	e	somente	
o	 tempo	social.	A	história	voltou-se	a	um	tempo	no	qual	 “a	cultura	humana	é	uma	
pequena	frase	ao	fim	de	uma	nota	de	rodapé	na	última	página	do	longo	compêndio	
da	vida	do	planeta”	(DRUMMOND,	1991,	p.	181).	Enfim,	a	escrita	da	história	tornou-
se	preocupada	com	o	tempo	da	“história	natural”	e	com	o	tempo	da	“história	social”.
Pode-se	dizer	que	o	entendimento	que	se	tem	hoje	é	o	de	que	é	necessário,	para	a	
compreensão	do	tempo	na	história,	a	sua	reconstrução	teórica	e	formal.	São	os	histo-
riadores,	com	suas	problematizações	singulares,	com	documentos	específicos,	teorias	
e	conceitos	particulares	que	devem	definir	essa	duração	sem	se	esquecer	de	que	o	
tempo,	no	acontecimento	histórico,	é	assimétrico,	pluridirecional	e	heterogêneo.	Ele	
não	se	reduz	a	uma	sucessão	de	fatos,	não	é	uma	infinidade	de	fatos	como	uma	régua	
geométrica	que	contém	uma	infinidade	de	pontos	(ÀRIÉS,	1989,	p.	225).
O	passado	não	pode	ser	visto	como	algo	isolado	do	presente,	mas	sim	abordado	
a	partir	do	presente,	pois	é	dele	que	partem	as	perguntas	sobre	o	passado.	Passado	e	
presente	são	diferentes,	são	momentos	singulares	do	tempo	histórico	que	informam	
um	ao	outro	estabelecendo	uma	relação	de	conhecimento	recíproco.	O	presente	não	
é	superior	ao	passado,	é	somente	um	outro	momento	(REIS,	1994,	p.	27).
Sobre	 tais	 concepções	 se	 assenta	 a	 formulação	 de	 Alfredo	Bosi	 sobre	 o	 tempo.	
Citando	as	datas	de	1492,	1822,	1922	e	1992,	Bosi	 indaga:	O	que	são	datas?	Datas,	
responde	o	autor,	são	pontas	de	icebergs.	O	navegador	que	singra	a	imensidão	do	mar,	
bendiz	a	presença	dessas	pontas	emersas,	pois	sabe	que	tem	de	evitar	que	a	navegação	
se	despedasse	indo	de	encontro	às	massas	submersas	que	não	se	veem.	E	o	que	é	que	
se	encontra	por	debaixo	da	ponta	que	emerge?	Se	olharmos	mais	atentamente,	prosse-
gue	Bosi,	veremos	que	há	ali	uma	estranha	consistência,	que	precisa	ser	considerada,	
pois	vai	muito	além	do	que	se	vê.	As	pontas	não	podem	ser	deslocadas	das	massas,	
pois	se	criam	blocos	erráticos,	que	vagam	nas	águas,	chocam-se	uns	com	outros	e	se	
destroem	nas	ondas	do	mar”	(BOSI,	1992,	p.	19-32).
As	datas,	pontas	do	tempo,	como	as	pontas	dos	icebergs,	dão	o	que	pensar.
29
ÀRIÉS,	Philipe.	O tempo da História.	Rio	de	Janeiro:	Francisco	Alves,	1989.
ARISTÓTELES.	Ética a Nicômaco.	São	Paulo:	Nova	Cultural.	1987.	(Os	pensadores).
BENJAMIN,	Walter.	Magia e técnica, arte e política:	ensaios	sobre	a	literatura	e	
história	da	cultura.	São	Paulo:	Brasiliense,	1994.	(Obras	escolhidas;	v.	1).
BIGNOTO,	Newton.	O	círculo	e	a	linha.	In:	Novais,	Adauto.	Tempo e História.	São	
Paulo:	Cia	das	Letras,	1992.	p.	177-190.
BOSI,	Alfredo.	O	tempo	e	os	tempos.	In:	Novais,	Adauto.	Tempo e História.	São	
Paulo:	Cia	da	Letras,	1992.	p.	19-32.
BRAUDEL,	Fernand.	Escritos sobre a História.	São	Paulo:	Perspectiva,	1992.
CARDOSO,	Ciro	Flamarion.	Ensaios racionalistas.	Rio	de	Janeiro:	Campus,	1991.
DRUMMOND,	José	Augusto.	A	história	ambiental:	temas,	fontes	e	linhas	de	pesquisa.	
Estudos Históricos,	Rio	de	Janeiro,	n.	8.	p.	177-197,	1991.
ELIAS,	Norbert.	Sobre o tempo.	Rio	de	Janeiro:	Jorge	Zahar,	1998.
FOUCAULT,	Michel.	As palavras e as coisas:	uma	arqueologia	das	ciências	humanas.	
São	Paulo:	Martins	Fontes,	1999.
FURET,	François.	A oficina da História.	Lisboa:	Gradiva,	[199-].
KANT,	Emmanuel.	Crítica da razão pura.	São	Paulo:	Nova	Cultural,	1987.	
MARX,	Karl.	O Capital.	8.	ed.	São	Paulo:	Difel,	1982.	v.	1.
NOVAES,	Adauto.	Sobre	tempo	e	História.	In:	Novais,	Adauto.	Tempo e História.	São	
Paulo:	Cia	das	Letras,	1992.	p.	9-17.
Referências
O tempo da história
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
30
REIS,	José	Carlos.	Nouvelle Histoire e tempo histórico.	São	Paulo:	Ática,	1994.
SANTO	AGOSTINHO.	Confissões.	São	Paulo:	Nova	Cultural,	1987.	
WOODCOCK,	George.	Os grandes escritos anarquistas.	Porto	Alegre:	LPM,	1981.
1) Extrato de documentos para leituras:
	 “A	história	tem	início	quando	os	homens	começam	a	pensar	na	passagem	do	tempo,	não	
em	termos	de	processos	naturais	–	o	ciclo	das	estações	do	ano,	a	duração	da	vida	humana	
–,	mas	de	uma	série	de	acontecimentos	específicos	em	que	os	homens	estão	consciente-
mente	envolvidos,	e	que	podem	ser	conscientemente	influenciados	pelos	homens.	[...]	A	
história	é	a	longa	luta	do	homem,	através	do	exercício	de	sua	razão,	para	compreender	seu	
meio	ambiente	e	atuar	sobre	ele.	Mas	a	época	moderna	ampliou	a	luta	de	uma	maneira	re-
volucionária.	Agora	o	homem	procura	compreender	o	seu	próprio	meio	ambiente	e	sobre	
ele	atuar,	assim	como	a	si	mesmo;	isto	acrescentou,	por	assim	dizer,	uma	nova	dimensão	à	
razão	e	uma	nova	dimensão	à	história.	A	época	atual	é,	entre	todas	as	épocas,	a	de	maior	
consciência	histórica.	O	homem	moderno	tem	um	grau	sem	precedentes	de	autoconsciên-
cia	e,	portanto,	de	consciência	histórica.	Ele	olha	para	trás	na	esperança	de	encontrar	um	
resto	de	luz	capaz	de	iluminar	a	obscuridade	para	onde	está	indo;	reciprocamente,	suas	
aspirações	e	ansiedades	sobre	o	que	está	à	sua	frente	aguçam	a	sua	percepção	daquilo	que	
fica	para	trás.	Passado,	presente	e	futuro	estão	todos	ligados	na	corrente	interminável	da	
história”.
	 [Extraído	de:	CARR,	E.	H. Que é história?	Rio	de	Janeiro:	Paz	e	Terra,	2006.	p.	168].
2) Reflexão para aprofundamento temático:
	 A	partir	do	século	XX,	os	historiadores	formularam	uma	nova	forma	de	explicar	a	história	
e	o	tempo.	O	tempo	linear,	cumulativo	e	cronológico	passou	a	ser	fortemente	criticado.	
Surgiu	um	tempo	assimétrico,	pluridirecional	e	heterogêneo.	Tomando	como	referência	
esse	capítulo	e	o	extrato	documental,	 faça	uma	análise	de	como	os	historiadores	atuais	
abordam	a	relação	passado/presente.
Fontes e referenciais para o aprofundamento temático
31
Anotações
O tempo da história
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
32
Anotações
33
Veronica Karina ipólito/ Angelo Priori/ Silvia Maria Amâncio
Em	 toda	 a	 parte	 a	monumentalidade	 se	 difunde,	 se	 irradia,	 se	 condensa,	 se	
concentra.	Um	momento	vai	além	de	si	próprio,	de	sua	fachada	(se	tem	uma),	
de	 seu	 espaço	 interno.	 A	monumentalidade	pertence,	 em	geral,	 a	 altura	 e	 a	
profundidade,	a	amplitude	de	um	espaço	que	ultrapassa	seus	limites	materiais	
(Henri	Lefbvre).
INTRODUÇÃO
O documento é a matéria-prima do historiador. No entanto, o seu uso 
varia, no tempo e no espaço, conforme a trajetória	pessoal	e	cultural	do	profis-
sional	de	história.	Mesmo	com	as	diferenças	históricas	no	 trato	com	o	documento,	
o	historiador,	tanto	do	presente	quanto	do	passado,	deveria	explorar	a	erudição	e	a	
sensibilidade	das	 fontes,	pois	delas	dependiam	a	construção	de	 seus	argumentos	e	
o	convencimento	de	sua	pesquisa.	Nesse	sentido,	pelo	menos	duas	questões	seriam	
fundamentais:	qual	a	relevância	dos	documentos	para	a	construção	do	discurso	dos	
historiadores?	Qual	a	importância	dos	documentos	e	como	os	historiadores	os	incor-
poraram	em	sua	escrita?
Os	primeiros	registros	da	vida	humana	podem	ser	vistos	nas	paredes	das	cavernas,	
com	a	arte	rupestre	(desenhos	e	pinturas),	que	se	constituíram	nas	fontes	primárias	
dos	historiadores.	Essas	 sociedades	 ágrafas	deixaram	 indícios	 e	permitiram	que	 an-
tropólogos,	arqueólogos,	etnólogos,	dentre	outros	cientistas,	elaborassem	hipóteses	
sobre	diferentes	povos.	
A	questão	do	uso	do	documento	pelos	historiadores	é	algo	que	nos	remete	a	di-
versas	concepções.	Desde	o	momento	em	que	a	História	se	constitui	como	disciplina	
Documentos: a 
ampliação dos 
materiais de pesquisa 
utilizados pela 
historiografia
3
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOSHISTÓRICOS
34
acadêmica,	na	segunda	metade	do	século	XIX,	alguns	modelos	metodológicos	cien-
tificistas	rigorosos	foram	construídos,	o	que	permitiu	elaborar	diretrizes	avaliadoras	
de	autenticidade	documental.	A	concepção	dominante	na	historiografia	daquele	mo-
mento	defendia	que	a	comparação	de	documentos	possibilitava	a	reconstituição	de	
acontecimentos	do	passado,	desde	que	fossem	coligados	a	uma	explicação	de	causas	
e	consequências.	
Ao	mesmo	tempo,	influenciados	pelos	princípios	do	racionalismo,	os	filósofos	afir-
mavam	 que	 o	 destino	 da	 humanidade	 estaria	marcado	 pelo	 progresso	 e	 evolução.	
Logo,	os	historiadores	 incorporaram	esse	pensamento	e	 conceberam	a	história,	 so-
bretudo	na	Escola	Metódica	predominante	no	século	XIX,	como	essencialmente	po-
lítica.	Sua	escrita	deveria	ser	a	mais	objetiva	possível	e	retratar	os	fatos	como	“eles	se	
passaram	realmente”.	Essa	escrita	se	fazia	através	de	uma	narrativa	de	acontecimentos	
fundamentados	exclusivamente	em	documentos	oficiais.	 “Concentrado	nos	grandes	
feitos	e	nos	grandes	homens,	o	resto	da	humanidade	permanecia	destinado	a	um	pa-
pel	secundário	da	história”	(ZANIRATO,	1999,	p.	94).
No	entanto,	no	 século	XX,	houve	uma	verdadeira	 revolução	 sobre	o	que	 se	en-
tendia	por	documento	(LE	GOFF,	1992).	Peter	Burke	(1992)	 ressaltou	essa	mudan-
ça	e	afirmou	que	a	historiografia	do	século	XX	(sobretudo	a	 francesa,	 representada	
pelos	Annales)	questionou	a	objetividade	e	a	autenticidade	relegada	ao	documento	
escrito	pelos	integrantes	da	Escola	Metódica	(Positivista)	no	século	XIX.	E	enfatizou	
que	a	história	dos	“grandes	homens”	era	uma	história	“vista	de	cima”,	e	por	isso	não	
contemplaria	todas	as	esferas	e	grupos	sociais.	O	resultado	desse	embate	foi	um	sig-
nificativo	aumento	das	possibilidades	de	fontes	a	serem	utilizadas	pelos	historiadores	
em	suas	pesquisas.	Além	disso,	a	subjetividade	na	escrita	da	história	foi	reconhecida	e	
constatou-se	a	existência	de	história	“das	massas”,	“vista	de	baixo”	e	até,	como	propôs	
Harvey	Kaye	(1989,	p.	201),	uma	história	“vista	de	baixo	para	cima”.
O DOCUMENTO NAS DIFERENTES ESCOlAS HISTORIOgRáFICAS
Antes	de	tornar-se	uma	ciência	propriamente	dita,	a	história	era	repassada	grosso	
modo	pela	tradição	oral	por	meio	de	estudiosos	amadores,	conhecidos	como	“antiquá-
rios”.	Com	o	Renascimento	e	o	Iluminismo,	nos	séculos	XVI	e	XVII,	a	preocupação	se	
centra	na	elaboração	de	um	método	que	dê	fundamento	à	pesquisa	científica.	Sem	ele,	
o	campo	de	conhecimento	não	poderia	ser	considerado	ciência.
Essa	nova	preocupação	trouxe	mudanças	na	narrativa	histórica,	eliminando	a	ex-
plicação	conjectural	e	exigindo	um	rigor	“científico”.	Rompeu-se	com	a	religião	e	a	fé	
deu	lugar	à	razão.	Houve	mudanças	na	noção	de	ciência	como	também	na	explicação	
histórica.	Os	conceitos	da	história	começam	a	se	adequar	aos	pressupostos	racionais.	
35
O	tempo	passa	a	ser	linear,	progressivo	e	irreversível,	sendo	o	passado	considerado	um	
objeto	em	si	e,	portanto,	visto	isolado	do	presente.
Entre	os	séculos	XVIII	e	XIX	surge	a	Escola	Positivista,	de	August	Comte.	Visando	
adequar	os	estudos	sociais	ao conceito de ciência proposto de acordo com o 
modelo iluminista, Comte elege o documento como método. Buscando a 
objetividade científica, essa vertente adotou como mecanismo de estudo o 
documento em sua forma sequencial, descritiva e oficial. 
Essa	narrativa	dos	acontecimentos	políticos	e	militares,	apresentada	como	a	“histó-
ria	dos	grandes	feitos	e	de	grandes	homens”,	passou	a	ser	a	forma	predominante	na	es-
crita	da	história.	Por	volta	do	século	XVIII,	alguns	intelectuais	e	estudiosos	começaram	
a	se	preocupar	com	a	“história	da	sociedade”.	Leovold	Von	Ranke,	considerado	um	
positivista,	fugiu	da	perspectiva	política	e	trabalhou	com	a	Reforma	e	Contra-Reforma	
sem	rejeitar	a	história	da	sociedade,	da	 literatura,	da	arte	ou	da	ciência.	 Jacob	Bur-
ckhardt	analisou	a	história	como	um	campo	em	que	interagiram	três	forças:	o	Estado,	a	
religião	e	a	cultura.	Jules	Michelet	defendia	uma	história	por	meio	da	visão	das	classes	
subalternas	(BURKE,	1997).	Essas	perspectivas	colocaram	em	questão	o	enfoque	e	o	
método	da	produção	historiográfica.
O	desenvolvimento	do	capitalismo	comercial-industrial,	as	revoluções	liberais	da	
Inglaterra	e	da	França	ocorridas,	respectivamente,	nos	séculos	XVII	e	XVIII	e	a	inde-
pendência	norte-americana,	ocorrida	também	no	século	XVIII,	destacaram	o	papel	da	
burguesia	e	do	Estado	na	defesa	de	posições	imperialistas	e	na	adesão	do	liberalismo	
como	política	governista.	A	considerada	“voracidade	em	acumular	capital”	rendeu	de-
bates,	nos	quais	o	assunto	central	era	a	exploração	da	recém-formada	classe	operária.	
As	condições	de	vida	desses	trabalhadores	influenciaram	o	pensamento	de	Karl	Marx	
e	o	levou	a	escrever	“O	Capital”,	obra	em	que	defende	a	concepção	de	que	a	estrutura	
econômica	é	a	base	da	sociedade.	Opondo-se	ao	liberalismo,	a	teoria	do	materialismo	
dialético	de	Marx	defende	que	as	lutas	entre	as	classes	dominantes	e	dominadas	dão	
sentido	à	história.
Oferecendo	 um	 paradigma	 histórico	 alternativo	 ao	 de	 Comte,	 Karl	 Marx	 argu-
mentava	que	as	causas	essenciais	da	mudança	histórica	deveriam	ser	localizadas	nas	
tensões	existentes	no	interior	das	estruturas	socioeconômicas.	Para	isso,	o	marxismo	
iniciou	um	tratamento	diferenciado	em	relação	às	fontes.	Segundo	essa	concepção,	o	
documento	deveria	ser	analisado	de	acordo	com	um	processo	histórico,	no	qual	fosse	
possível	trabalhar	as	perspectivas	de	dominantes	e	dominados	(luta	de	classes).	
Ao	contrário	do	positivismo	comtiano,	o	marxismo	infundiu	a	crítica	à	especulação	
filosófica	e	procurou	demonstrar,	na	análise	das	fontes,	os	interesses	e	aspirações	das	
classes	trabalhadoras.	Como	enfatiza	Janotti,	foi	sob	a	influência	desse	modelo,	que	se	
Documentos: a 
ampliação dos materiais 
de pesquisa utilizados 
pela historiografia 
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
36
desenvolveu	a	pesquisa	em	Sociologia	e	Economia:
a	coleta	e	interpretações	de	fontes	–	antes	focada	na	área	política	e	na	atuação	
de	grandes	personagens	–	para	documentos	sobre	atividades	econômicas,	de-
vassando-se	cartórios,	processos	judiciais,	censos,	contratos	de	trabalho,	movi-
mentos	de	portos,	abastecimento	e	outros	de	cunho	coletivo	e	reivindicatório.	
A	historiografia	 social	 e	 econômica	 sobrepujou	 a	política	na	preferência	dos	
historiadores	que	investigaram	as	estruturas	básicas	sobre	as	quais	a	política	se	
assentava	( JANOTTI,	2005,	p.	11).
A	 abordagem	do	 documento	 no	modelo	marxista	 reforçava	 a	 importância	 em	
trabalhar	com	as	estruturas,	ignorando	as	intenções	dos	indivíduos.	Nesse	modelo,	
os	mecanismos	econômicos	deveriam	ser	identificados.	Acreditavam	que	eles	dariam	
conta	de	organizar	as	relações	sociais	e,	portanto,	de	articular	as	formas	de	discurso.
Em	comum,	tanto	Comte	como	Marx,	decretaram	às	fontes	uma	existência	obje-
tiva	em	que	o	curso	do	tempo	é	marcado	pela	cadeia	de	atos	que	exprimem	as	mu-
danças	sucessivas	dos	acontecimentos.	Tal	como	no	positivismo,	o	tempo	continua	
linear,	evolutivo	e	com	uma	direção	pré-determinada	(passado,	presente	e	futuro).
Já	em	fins	do	século	XIX,	a	historiografia	francesa	expôs	questionamentos	a	essas	
escolas.	Tais	contestações	frutificaram	principalmente	na	década	de	1920,	momento	
em	 que	 as	 críticas	 a	 esses	modelos	 historiográficos	 eram	particularmente	 agudas	
e	as	sugestões	para	a	sua	substituição	bastante	férteis.	Foi	a	partir	de	1929,	com	a	
fundação	da	revista	Annales d’histoire économique et sociale,	que	a	utilização	do	
documento	como	fonte	sofreu	mudanças	significativas.	O	tempo	histórico	ultrapas-
sou	os	fatos	e	começou	a	ser	visto	numa	“longa	duração”.	Esse	conceito,	formulado	
por	Fernand	Braudel	(1978),	introduz	na	escrita	da	história,	a	ideia	de	repetição	e	
permanência,	sendo,	nesse	sentido,	necessário	pensar	em	sucessão	sem	mudança,	
em	repetição,	criando	permanênciaonde	se	articulam	as	mudanças	lentas.	
Com	o	movimento	dos	Annales	houve	uma	considerável	 ampliação	no	 campo	
documental:	fontes	orais,	objetos,	ícones	etc.,	superaram	a	exclusividade	do	teste-
munho	escrito	no	âmbito	das	fontes.	Os	sujeitos	analisados	nessa	perspectiva	não	
são	somente	os	dominantes	e	os	dominados,	mas	também	os	marginalizados	(pros-
titutas,	mendigos,	ladrões	etc.),	abrindo	uma	maior	possibilidade	de	diálogo	entre	
o	historiador	e	a	fonte.	Essa	subjetividade	é	vista	pelas	gerações	dos	Annales	como	
um	ponto	positivo	e	enriquecedor	na	narrativa	histórica,	pois	permite	ao	historia-
dor	 questionar,	 problematizar	 e	 confrontar	 as	 fontes	 de	 pesquisa.	 Por	 isso,	 para	
essa	nova	história,	o	passado	não	se	isola	do	presente,	mas	é	abordado	a	partir	das	
questões	levantadas	por	ele.
37
A CRíTICA AOS DOCUMENTOS: A REvOlUÇÃO DOCUMENTAl
Os	integrantes	da	Escola	dos	Annales	não	aceitavam	os	pressupostos	baseados	na	
superficialidade	dos	 fatos	elaborados	pela	historiografia	política	 tradicional.	Contra-
pondo	essa	perspectiva,	desenvolveram	o	método	da	História-problema,	que	consistia	
na	busca	e	interpretação	das	fontes	segundo	as	hipóteses	que	partiam	do	historiador.	
Todas	as	ações	do	homem	e	na	sua	vida	em	sociedade	eram	consideradas	da	mesma	
importância.
A	reconstrução	do	passado,	nesse	sentido,	tornou-se	mais	rica	em	virtude	da	ex-
pansão	da	noção	de	documento.	Lucien	Febvre	(1985)	nos	deixa	explícito	em	sua	obra	
“Combates	pela	história”,	a	mudança	no	trato	com	o	documento,	partindo	da	interpre-
tação	e	da	possibilidade	em	explorar	vários	tipos	de	fontes:
A	história	faz-se	com	documentos	escritos,	sem	dúvida.	Quando	eles	existem.	
Mas	 ela	pode	 fazer-se,	 ela	deve	 fazer-se	 sem	documentos	 escritos,	 se	os	não	
houver.	Com	tudo,	o	que	o	engenho	do	historiador	pode	permitir-lhe	utilizar	
para	fabricar	o	seu	mel,	à	falta	de	flores	habituais.	Portanto,	com	palavras.	Com	
signos.	Com	paisagens	e	telhas.	Com	formas	de	cultivo	e	ervas	daninhas.	Com	
eclipses	da	lua	e	cangas	de	boi.	Com	exames	de	pedras	por	geólogos	e	análises	
de	espada	de	metal	por	químicos.	Numa	palavra,	com	tudo	aquilo	que	pertence	
ao	homem,	depende	do	homem,	serve	o	homem,	exprime	o	homem,	significa	
a	presença,	a	atividade,	os	gostos	e	as	maneiras	de	ser	do	homem	(FEBVRE,	
1985,	p.	249).
A	partir	da	crítica	feita	aos	documentos,	a	escola	historiográfica	dos	Annales	inovou	
na	ampliação	das	 fontes	de	pesquisa.	Um	exemplo	disso	 foi	a	utilização	da	história	
oral,	introduzida	na	pesquisa	histórica	principalmente	nos	anos	de	1950,	sobretudo	
nos	países	da	Europa	Ocidental	e	nos	Estados	Unidos.	A	história	oral,	a	exemplo	dos	
outros	tipos	de	fontes	adotadas	nesse	momento,	manifestou-se	no	seio	dos	movimen-
tos	sociais,	procurando	dar	voz	aos	marginalizados	e	excluídos.
Jacques	Le	Goff	(1992)	afirma	que	não	basta	haver	uma	diversidade	documental	na	
pesquisa	histórica.	Abordando	diretamente	a	postura	do	historiador,	Le	Goff	defende	
a	crítica	em	profundidade	 iniciada	pelos	 fundadores	dos	Annales,	que	puseram	em	
discussão	o	documento	 como	 tal.	Nesse	 sentido,	o	historiador	não	deve	 assumir	o	
papel	de	ingênuo.	Compete	a	ele	problematizar	o	documento,	não	isolando-o	de	sua	
realidade.
Por	isso,	Le	Goff	afirma	que	todo	documento	não	é	inofensivo.	Trata-se,	evidente-
mente,	de	um	instrumento	de	poder.	A	escolha	do	historiador	em	selecionar	um	do-
cumento	em	detrimento	de	outro,	atribui	um	“valor	de	testemunho”,	que	garante,	ao	
contrário	do	que	os	positivistas	pensavam,	uma	escolha	pessoal	e,	portanto,	subjetiva.	
Os	documentos,	que	outrora	falavam	aos	positivistas,	hoje	murmuram	nos	ouvidos	
Documentos: a 
ampliação dos materiais 
de pesquisa utilizados 
pela historiografia 
INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
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dos	pesquisadores.	Desmistificar	o	significado	aparente	do	testemunho	vai	muito	além	
da	simples	compilação	dos	escritos.	Exige	do	profissional	da	história,	uma	preparação	
e	adequação	com	os	preceitos	de	interpretação,	análise	e	problematização	da	discipli-
na	histórica.
 UM NOvO SENTIDO pARA AS FONTES (E pARA A HISTÓRIA)
O	documento,	para	a	Escola	Metódica	do	fim	do	século	XIX	e	início	do	século	XX,	
era	considerado	o	fundamento	do	fato	histórico	e	apresentado	como	prova	histórica.	
A	concepção	de	documento	muda,	substancialmente,	com	a	Escola	dos	Annales.	Antes,	
apenas	o	documento	manuscrito	era	considerado	fonte	histórica.	Hoje,	essa	ideia	foi	
ampliada.	“Não	há	história	sem	documentos	[...].	Há	que	tomar	a	palavra	documento	
no	sentido	mais	amplo,	documento	escrito,	ilustrado,	transmitido	pelo	som,	imagem,	
ou	de	qualquer	outra	maneira”	(SAMARAN	apud	LE	GOFF,	1992,	p.	540).
Desde	 a	 Idade	Média	 e,	principalmente	 com	o	Renascimento,	houve	uma	preo-
cupação	 com	 a	 busca	 da	 autenticidade.	 Essa	 procura	 recebe	 novo	 direcionamento	
quando	Paul	Zumthor	estabelece	a	relação	documento/monumento.	Foi	Zumthor	que	
identificou	 o	 que	 transforma	 o	 documento	 em	monumento,	 “a	 sua	 utilização	 pelo	
poder”	(LE	GOFF,	1992,	p.	543).	Logo,	todo	documento	permanece	como	monumen-
to.	Revestindo-se	em	documento	arquitetônico,	escultural,	escrito	ou	iconográfico,	o	
monumento	é	utilizado	como	testemunho	de	poder.	Esse	poder	é	perpetuado	pela	
memória	coletiva,	a	qual	tenta	recordar	as	futuras	gerações	sobre	sua	existência,	ins-
truindo-as	e	avisando-as	sobre	a	importância	e	força	que	possui.	Buscando	as	origens	
etimológicas	das	palavras	“documento”	e	“monumento”,	Le	Goff	(1992)	apresenta	as	
maneiras	distintas	como	esses	conceitos	foram	utilizados	pelos	historiadores	durante	
o	desenvolvimento	da	ciência	histórica.	Sobre	o	monumento,	Le	Goff	afirma:
A	palavra	latina	monumentum remete	para	a	raiz	indo-européia	men, que	ex-
prime	uma	das	funções	essenciais	do	espírito	(mens), a	memória	(meminí). O	
verbo	monere significa	‘fazer	recordar’,	de	onde	‘avisar’,	‘iluminar’,	‘instruir’.	
O	monumentum é um	sinal	do	passado.	Atendendo	às	suas	origens	filológicas,	
o	monumento	é	tudo	aquilo	que	pode	evocar	o	passado,	perpetuar	a	recorda-
ção,	por	exemplo,	os	atos	escritos.	Quando	Cícero	fala	dos monumenta hujus 
ordinis [Philippicae, XIV,	41],	designa	os	atos	comemorativos,	quer	dizer,	os	
decretos	do	senado.	Mas	desde	a	Antiguidade	romana	o monumentum tende	a	
especializar-se	em	dois	sentidos:	1)	uma	obra	comemorativa	de	arquitetura	ou	
de	escultura:	arco	de	triunfo,	coluna,	troféu,	pórtico,	etc.;	2)	um	monumento	
funerário	destinado	a	perpetuar	a	recordação	de	uma	pessoa	no	domínio	em	
que	a	memória	é	particularmente	valorizada:	a	morte	(1992,	p.	536,	grifos	no	
original).	
Antes	do	século	XX,	as	escolas	historiográficas	concebiam	os	monumentos	como	
“atos	escritos”,	ou	seja,	documentos	jurídicos	e	políticos,	ou	eram	representados	por	
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coleções	de	documentos,	glorificando	a	história	de	um	país	ou	de	um	povo.	Tanto	que	
até	a	primeira	metade	do	século	XIX,	não	são	raras	as	coletâneas	como	Monumenta 
Germaniae historica,	Monumenta historiae patrie,	Monumenti di storia patria delle 
provincie modenesi,	dentre	outras.	Por	 isso,	muito	mais	do	que	propor	uma	“revo-
lução	documental”,	a	concepção	de	documento/monumento	direciona	o	historiador	
a	uma	crítica	dos	documentos	enquanto	patrimônio	de	uma	sociedade,	defendendo	
uma	história-problema,	como	proposta	pelos	Annales.
O	documento	como	monumento	é	submetido	à	crítica	 interna,	 sendo	analisado	
pelas	condições	de	sua	produção	histórica	e	pela	intencionalidade	inconsciente	de	seu	
autor.	Ao	lançarmos	nosso	olhar	crítico	sobre	fontes	de	diversas	naturezas,	estamos	
resgatando	 o	 cotidiano	 de	 uma	 época,	 a	 experiência	 de	 personagens	muitas	 vezes	
esquecidos	ou	marginalizados	pela	história	tradicional.	
Afinal,	 se	a	história	é	a	ciência	que	problematiza	a	vida,	 compete	ao	historiador	
compreendê-la	e	não	julgá-la.	Seu	ofício,	a	partir	dos	Annales,	passou	a	ser	a	inaceitabi-
lidade	das	coisas	como	são	dadas.	É	preciso	ter	em	mente	a	elaboração	de	problemas

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