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UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO RENATA APARECIDA VIANA A PENA DE MORTE BAURU 2016 1 – INTRODUÇÃO No mundo atual, diariamente nos confrontamos com as diversas formas de violência e criminalidade, gerando uma sensação de “normalidade” ou ainda, de ser algo “comum”. Através dos meios de comunicação obtemos informações de que nosso país tem se tornado muito violento, levando a sociedade a buscar soluções eficazes para resolver a problemática da criminalidade. Diante disso, uma solução rapidamente apontada é a aplicação da pena de morte (também conhecida como pena capital). Vale ressaltar que aqui no Brasil essa pena não é aplicada, pois não é prevista em nossa Carta Magna, salvo em casos de guerra declarada, e também que o nosso país segue os Acordos e Pactos Internacionais de defesa dos Direitos Humanos, inclusive da Declaração de Viena (1993). Com isso, o Brasil demonstra grande compromisso com a preservação da vida e com os Direitos Humanos. Mas nesse mundo civilizado no qual nos inserimos, é possível que haja espaço para a execução de uma pena em que é retirado da vítima o que lhe há de mais precioso e único: a vida? Quando surgiu esse tipo de condenação? Há países que ainda a mantém? Qual o posicionamento da Igreja Católica sobre esse tema? Como alguns filósofos se posicionam diante da Pena de Morte? 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DO TEMA 2.1 ORIGEM A pena de morte, ou também conhecida como pena capital, remonta sua origem junto com o surgimento da humanidade, uma vez que desde o início da civilização o homem procura minimizar ou acabar com a criminalidade. Nas comunidades tribais existentes nos primórdios de nosso tempo este tipo de punição surgiu como ato de vingança para os casos de afrontas contra famílias e grupos e, como naquele tempo não havia o conceito sobre cárcere ou a criação de prisões para que os criminosos ficassem reclusos da sociedade, este tipo de ato tinha a utilidade de prevenir determinadas ofensas ou era visto como necessário para que a prática de ações que a sociedade considerava criminosa fosse extirpada. Na Suméria, em suas cidades-estados, a pena de morte era aplicada nos casos em que ocorriam homicídios e adultérios. O Código de Hamurabi, que pode ser considerado como o primeiro código penal datando por volta de 2000 a.C. criado pelo rei Hamurabi que futuramente criaria também o Império Babilônico, instituía os castigos corporais e que somente o indivíduo que cometeu a infração é que deveria cumprir a pena, conforme podemos ver em alguns de seus 282 artigos: Art. 6°. Se um homem roubou bens de Deus ou do palácio, deverá ser morto juntamente com aquele que recebeu o objeto roubado. Art. 7°. Se um homem comprou ou recebeu em custódia prata ou ouro, escravo ou escrava, boi ou ovelha, asno ou qualquer outro valor da mão do filho de alguém ou do escravo de um homem, sem testemunha nem contrato, esse homem é ladrão e deverá ser morto. Art.15°. Se um homem fez sair pela porta da cidade um escravo ou uma escrava do palácio ou de outra pessoa, ele será morto. Art. 22°. Se um homem cometeu um assalto e foi preso, deverá ser morto. Art.153°. Se a esposa de um homem, por causa de outro homem mandou matar seu marido, essa mulher será empalada. Art.157°. Se um homem, depois da morte de seu pai, dormiu no seio de sua mãe, eles o queimarão. Art.209°. Se um homem agrediu a filha de um outro homem e a fez expelir o fruto de seu seio, pesará dez siclos de prata pelo fruto de seu seio. Se essa mulher morrer: matarão a sua filha. Art.229°. Se um pedreiro edificou uma casa para um homem, mas não a fortificou e a casa caiu e matou o seu dono, esse pedreiro será morto. Art. 230°. Se causou a morte do filho do dono da casa, matarão o filho desse pedreiro. (SOUSA, 2007) A conhecida Lei de Talião a qual diz que o infrator deve pagar do mesmo modo que infringiu a vítima, tem sua origem no Código de Hamurabi em seu artigo 196: “Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho.” Esta Lei juntamente com o Código de Hamurabi são as bases de muitos outros conjuntos de leis civis e penais de outras civilizações da antiguidade, em especial do povo israelita, o povo de Deus. Os israelitas têm como grande legislador o hebreu Moisés, que por volta de 1450 a.C., durante a sua peregrinação junto de seu povo pelo deserto, cria um conjunto de leis a respeito de diversos assuntos, e entre eles alguns semelhantes aos de Hamurabi e Talião, entre eles podemos citar o livro de Êxodo no capítulo 21 e versículos 23 ao 27: 23 - Mas se houver morte, então darás vida por vida, 24 - Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, 25 - Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe 26 - E quando alguém ferir o olho do seu servo, ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu olho. 27 - E se tirar o dente do seu servo, ou o dente da sua serva, o deixará ir livre pelo seu dente. Avançando um pouco mais na escala cronológica nos deparamos com outro código de grande importância, o qual ocorreu na Índia no ano 1000 a.C. e este conjunto de artigos recebeu o nome de Código de Manu. O mesmo apresenta um sistema penal teocrático que dividia a sociedade em quatro castas (ou camadas) sendo os brâmanes a casta mais elevada e os sudras que nada valiam. Na Roma da antiguidade tal prática também ocorria, mas para crimes ou infrações de grande relevância, tais como: traição à Pátria, falso testemunho, homicídios e outros. Além dessa prática, a pena de morte era utilizada como entretenimento para o Imperador romano e seus concidadãos. Dentre essas sádicas práticas para mero divertimento pode-se citar as lutas travadas por prisioneiros de guerra que ao tornarem-se escravos do Império lutavam até a morte de um dos dois combatentes, e os casos ocorridos no Coliseu contra os cristãos, onde estes eram “abandonados” no centro da arena sem qualquer tipo de proteção e armas diante de ferozes leões. Em meados do século XVIII na França, por intermédio da doutrina iluminista, surgiu um movimento que obteve notoriedade, pois mudou a característica da política mundial da época, a famosa Revolução Francesa (1789). Depois de inúmeras batalhas travadas contra o rei francês Luiz XVI, os revolucionários alcançaram a vitória e, como consequência retorna com toda a força a pena de morte, uma vez que diante da derrota a família real francesa e os considerados como “inimigos da revolução” tiveram suas vidas ceifadas de forma sumária mediante a execução na guilhotina. E por fim nessa nossa caminhada histórica da pena capital, encontramos seu retorno na primeira metade do século XX e o local de seu renascimento foi nos campos de concentração nazista e por toda a Alemanha que, sob o comando de Adolf Hitler (o maior expoente do movimento) perseguiu e executou de modo bárbaro os povos que foram considerados inferiores a raça ariana. Entre os povos executados com a pena capital podemos citar os judeus, ciganos, homossexuais e toda pessoa que apresentasse qualquer tipo de deficiência física. 2.1 A APLICAÇÃO DA PENA DE MORTE EM ALGUNS PAÍSES DO MUNDO Em uma matéria publicada em 2015 no seu site de notícias, o Estadão publicou as seguintes informações conforme relato da Anistia Internacional: De acordo com a Anistia Internacional, 57 países ainda aplicam a pena de morte com frequência. Outros 35 têm legislação que permite a pena capital, mas não a aplicam há mais de 10 anos. Em sete países, incluindo o Brasil, a pena de morte é ilegal para crimes comuns, sendo aplicada apenas em contextos de guerra. Em 98 países as execuções foram completamente erradicadas. Entre os que ainda aplicam a pena de morte, estão países como Estados Unidos e Japão únicos pertencentes ao G8, Afeganistão, Botswana, Etiópia,Guatemala, Índia, Nigéria, Sudão, Síria, Zimbábue e Uganda. A pena foi abolida na França, Argentina, Bolívia, Finlândia, Itália, Alemanha, Portugal, México, África do Sul, Suíça, Canadá e Venezuela. 2.1.1 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Os Estados Unidos da América (EUA) é um dos países onde a pena de morte é permitida, mas este ato não ocorre na totalidade de seu território, mas em mais de trinta estados que o compõem. Entre os cidadãos há uma divisão entre a favor e contra a prática de tal pena, apresentando ao longo dos últimos tempos uma leve tendência no sentido da pena de morte ser extinta. Um aspecto que é levado em consideração pelos estados que não praticam a pena de morte é o econômico. Segundo Amaral (2014): Para especialistas no assunto, existe ainda o aspecto econômico que deve em conta, pois custa mais caro para o governo executar alguém do que usar a prisão perpétua, em que o gasto é menor. Num caso de pena de morte, há ao menos oito recursos, e o julgamento dura em média 13 anos, tornando muito dispendioso para o Estado. 2.1.2 CHINA A China é um dos países que adotam a pena de morte em todo seu território, mas a punição com a morte fica a cargo do poder judiciário. Todas as sessões referentes à condenação de um réu são públicas exceto nos casos: segredo de Estado, infrações juvenis, etc. Dentre os países que aplicam a pena de morte em todo nosso planeta, a China lidera esse ranking com mais de três mil execuções anuais e muitos dos casos a aplicação da pena ocorre antes da revisão da mesma pela Suprema Corte. Há indícios que o governo chinês busca uma solução legal, isto é, uma revisão em sua legislação (lei criminal) visando minimizar a quantidade de delitos condenáveis com a pena capital: a morte. 2.1.3 OUTROS PAÍSES Segundo o boletim da Ordem dos Advogados de Portugal (2010), há relatos da aplicação da pena de morte em outras regiões do planeta como, por exemplo, na Europa “apenas a Bielorrússia continua a aplicar a pena de morte (os dados sobre este país são, contudo, confidenciais, pelo que não se sabe com exactidão qual o número de execuções ali praticadas)” (p. 7), no Oriente Médio: “Na Arábia Saudita, Iémen, Irão, Sudão e Mauritânia a homossexualidade é, ainda hoje, punida com a pena de morte.” (p. 7) e no leste asiático podemos citar o Japão onde “os condenados à pena capital estão separados e fechados em celas, onde apenas conseguem estar sentados, com períodos de exercícios físicos duas vezes por semana. O regime é de isolamento e silêncio total.” (p. 24). 3 – A PENA DE MORTE NO TERRITÓRIO NACIONAL A temática da pena de morte gera muitas dúvidas a respeito da sua existência em nossa história e Constituição. É importante ressaltar que, no Brasil essa prática já esteve em vigência há muito tempo atrás, evidentemente utilizando-se de outros métodos para aplicá-la, comuns naquela época. Há aproximadamente 400 anos, aqui no Brasil, as mais diversas formas de concretizar a pena de morte eram por: mutilamento físico ocasionado por espada, pelo esquartejamento do condenado, fogueira e corpo amarrado na boca de um canhão. O fim, formalmente só aconteceu com a Constituição de 1891, no governo de Manuel Deodoro da Fonseca. Atualmente no Brasil a pena máxima para todo e qualquer delito podendo chegar até 30 anos (trinta anos de reclusão), conforme diz a nossa legislação, não havendo permissão para a implantação de pena de morte, salvo nos períodos de guerra, como diz o artigo 5º Inciso XLVII da Constituição Federal: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo – se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, a igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes: XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em casos de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX. Sendo assim, na nossa Constituição a pena de morte não poderá existir, pois, é contrária aos direitos e garantias fundamentais do indivíduo que são consideradas cláusulas pétreas da Carta Magna de 1988. Destarte, caso o Brasil queira instituir novamente a pena capital na Constituição, isso não seria possível mediante as cláusulas pétreas que impedem qualquer emenda com esse objetivo, sendo assim necessária a instituição de uma nova Assembleia Constituinte para abolir a atual Constituição e elaborar outra incluindo a pena de morte. Porém, isso acarretaria problemas ao Brasil em âmbito internacional, uma vez que é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, Convenção esta que proíbe explicitamente a pena de morte. Ademais, porque a pena capital fere a Tratados internacionais e a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, que tem em seu art. 3º a garantia à vida: “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sua pessoa”. 4 – A PERCEPÇÃO FILOSÓFICA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE Ao examinar a história humana é possível constatar divergentes opiniões de filósofos a respeito do assunto questionável que é a pena de morte. Durante séculos a questão preponderante era: “É lícito condenar o culpado de um crime à morte?”. Para elucidar as diferentes opiniões sobre a pena de morte, será referido o posicionamento de Platão, Kant, Hegel e Cesare Beccaria. Platão (427 a.C – 347 a.C), filósofo e matemático do período clássico da Grécia antiga, no Livro IX, evidencia que “a pena de morte deve ter a finalidade de tornar melhor”, mas argumenta que, “se demonstrar que o malfeitor é incurável, a morte será para ele o menor dos males.” Platão relata também que os que ali cometessem erros deveriam necessariamente “pagar a pena natural”, ou seja, “padecer” ao que se fez. Esse primórdio nasceu da doutrina da reciprocidade, que foi redigida pelos juristas medievais, originando a famosa expressão que o malum passionis deve corresponder ao malum actionis. Kant (1724 - 1804) defende uma teoria retributiva da pena (não refrear os delitos, mas fazer justiça) e chega a mencionar que a pena de morte é até mesmo um dever. O dever da pena de morte cabe ao Estado e é um imperativo categórico, não tem relação com o imperativo hipotético, que é fundado na relação meio-fim. Uma frase significativa de Kant em sua concepção ao tema (A era dos Direitos, 2004, p.70) Se ele matou, deve morrer. Não há nenhum sucedâneo, nenhuma comutação de pena que possa satisfazer a justiça. Não há nenhuma comparação possível entre uma vida, ainda que penosa, e a morte; e, por conseguinte, nenhuma outra compensação entre o delito e a punição, salvo a morte juridicamente infligida ao criminoso, mas despojada de toda maldade que poderia, na pessoa de quem a padece, revoltar a humanidade. Assim, Kant considera que mesmo que um assassino fosse condenado a uma vida miserável ainda seria melhor que a morte, de modo que se a pena não for a morte, qualquer pena que ele sofresse não se equivaleria ao crime que cometeu. Por meio desse critério, Em consonância com isso, todo assassino – todo aquele que cometer assassinato, ordená-lo ou ser cúmplice deste – deverá ser executado. Isso é o que a justiça, como ideia do poder judiciário, quer de acordo com leis universais que têm fundamento a priori. (Akamine Ausgabe – Tradução: edição Academia - VI 334- ). É importante ressaltar que Kant descarta a possibilidade de maus tratos, torturas entre tantas alternativas terríveis que alguém poderia sofrer, sendo admissíveis apenas as penas de modo direto e respeitoso. Porém, além do assassinato outro crime também pode ser punido com a morte, diz Kant, que seria a revolta política. Kant adota como critério formal para o fundamento da pena, especialmente em caso de assassinato, a defesa de Ius Talionis (A lei de talião), a lei mais antiga da história da humanidade e expressada pelo pensamento olhopor olho, dente por dente. Kant afirma: [...] somente a lei de Talião (ius talionis) – entendida, é claro, como aplicada por um tribunal (não por teu julgamento particular) – é capaz de especificar definitivamente a qualidade e a quantidade de punição; todos os demais princípios são flutuantes e inadequados a uma sentença de pura e estrita justiça [...]. (AA, VI 332) No contexto da filosofia do direito de Kant, a justiça penal nada mais é do que um “componente indispensável para a garantia dos princípios categóricos do direito”. Hegel (1770 – 1831), filósofo alemão, considera que o delinquente deve ser punido com a morte, já que a punição é que fará o papel de resgatá-lo e é somente através dessa punição que o mesmo será reconhecido como ser racional. Ele designa um método dialético em que a pena em suma seria a reafirmação do direito. O indivíduo vive em função do Estado, e assim deve obediência a ele. Quando esse indivíduo comete um crime, desobedecendo ao Estado, deve ser retirado da sociedade para que não viole mais o direito. Hegel baseia-se também na lei do talião. A pena para Hegel apresenta-se, em conclusão, como condição lógica inerente à existência mesma do direito, que não pode permanecer sendo direito senão pela negação da vontade particular do delinquente, representada pelo delito, pela vontade geral (da sociedade) representada peça lei. (QUEIROZ, 2005, p. 23) Cesare Beccaria (1738 – 1794) foi um Iluminista Italiano que foi contra a pena de morte. Beccaria propaga que em um Estado onde as penas são justas e harmônicas, os crimes são inferiores. Agora, a pena de morte promoveria o efeito contrário: “Quanto mais atrozes forem os castigos, tanto mais audacioso será o culpado para evitá-los. Acumulará os crimes, para subtrair-se à pena merecida pelo primeiro.” (BECCARIA, 2001, p.62). A pena de morte é ainda funesta à sociedade, pelos exemplos de crueldade que dá aos homens. Se as paixões ou a necessidade da guerra ensinam a espalhar o sangue humano, as leis, cujo fim é suavizar os costumes, deveriam multiplicar essa barbárie, tanto mais horrível quanto dá morte com mais aparato e formalidades? Não é absurdo que as leis, que são a expressão da vontade geral, que detestam e punem o homicídio, ordenem um morticínio público, para desviar os cidadãos do assassínio? (BECCARIA, 2001, p.70 – 71) Beccaria se questiona, como pode o Estado proteger seus cidadãos e condená- los à morte? Quem poderia ter dado a homens o direito de degolar seus semelhantes? Esse direito não tem certamente a mesma origem que as leis que protegem. A soberania e as leis não são mais do que a soma das pequenas porções de liberdade que cada um cedeu à sociedade. Representam a vontade geral, resultado da união das vontades particulares. Mas quem já pensou em dar a outros homens o direito de tirar-lhes a vida? Será o caso de supor que, no sacrifício que faz de uma pequena parte de sua liberdade, tenha cada indivíduo querido arriscar a própria existência, o mais precioso de todos os bens? (BECCARIA, 2001, p.64 – 65) Devido às reflexões de Beccaria, a pena de morte foi abolida, pela primeira vez, em 1786, no Grão-ducado da Toscana (Itália). Foi através do livro revolucionário, Dos delitos e das penas, que houve um avanço significativo das ideias em nossa história. Em poucas páginas, Beccaria fundamenta o desenvolvimento do Direito Penal Moderno, pondo fim à concepção de que a pena de morte é justificável. Sendo assim, qual será o melhor meio para diminuir o número de crimes? Beccaria ao finalizar seu livro escreveu uma frase importantíssima para que todos possam refletir, a respeito dessa pergunta: “Enfim, o meio mais seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil de tornar os homens menos inclinados a praticar o mal, é aperfeiçoar a educação” (BECCARIA, 2001, p.132). 5 – CONCEPÇÃO RELIGIOSA – IGREJA CATÓLICA Muito se discute acerca da Pena de morte em âmbito jurídico, político, ético, sociológico, e não menos importante é a abordagem em âmbito religioso, afinal, o mandamento “não matarás” tem valor absoluto e diz respeito quer ao inocente quer ao culpado. Com o intuito de uma reflexão aprofundada no posicionamento religioso, o referido será o da Igreja Católica. Na passagem bíblica de Gênesis, capítulo 4, é elucidada a entrada da morte no mundo, a qual entra por causa da inveja do diabo (cf. Gn 3, 1.4-5) e do pecado dos primeiros pais (cf. Gn 2,17; 3,17-19). E a mesma se dá de modo violento, através do assassínio de Abel por obra do seu irmão: “Logo que chegaram ao campo, Caim levantou a mão contra o irmão Abel e matou-o” (Gn 4,8). Um pouco mais adiante, precisamente no versículo 10 encontra-se a indagação do Senhor para Caim: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim”. A voz do sangue derramado pelos homens não cessa de clamar, de geração em geração, assumindo tons e acentos sempre novos e diversos. Assim, é a face da Pena de Morte, a qual com um equivocado conceito de justiça, ou melhor, uma regulamentação da vingança, embasada na lei de Talião: Olho por olho, dente por dente, é uma cruel e desumana medida, desrespeitando o direito inerente a qualquer ser humano, a vida. Mas o que é a vida? Como se pode conceituar a vida? Pela atividade cerebral? Pelo batimento cardíaco? Pela formação da consciência ou pela possibilidade de autoconsciência? Residirá a vida na possibilidade de fruição política ou de cidadania? Estará a vida atrelada a um conceito de padrão social ou econômico que, se não atingido, não permite a realização desta mesma vida? Será a vida medida, calculada, estimada pelo tempo de sua duração, sendo válida aquela que apenas perdurar por determinado decurso? (João Ibaixe, 2009) Qualquer reposta dada para alguma destas perguntas, desta maneira, permitiria um conceito e a vida seria colocada em nível reducionista a um objeto meramente causal. A vida vai muito além, transpõe o cognoscível, pois, segundo a Carta Encíclica Evangelium Vitae, do Papa João Paulo II (1995, n. 2), “o homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus”. A vida é sagrada, e especialmente a humana pertence unicamente a Deus. Vida humana, sem exceções. Neste caso, também o criminoso mantém o direito inviolável à vida, dom de Deus. Ainda de acordo com a Carta Encíclica Evangelium Vitae, do Papa João Paulo II (1995, n. 2) Mesmo por entre dificuldades e incertezas, todo homem sinceramente aberto à verdade e ao bem pode, pela luz da razão e com o secreto influxo da graça, chegar a reconhecer, na lei natural inscrita no coração, o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu termo, e afirmar o direito que todo o ser humano tem de ver plenamente respeitado este bem primário. Assim, a Igreja deve defender e promover o direito à vida de todo homem e mulher, consciente da verdade recordada pelo Concílio Vaticano II: “Pela sua encarnação, Ele o filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem”. Eis o amor infinito de Deus e o valor incomparável de cada pessoa humana. Valor este que se prolonga no artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia-geral das Nações Unidas em dezembro de 1948, no qual reconhece a cada pessoa o direito à vida e afirma categoricamente no artigo 5º que “Ninguém deverá ser submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”. A este propósito recordou o Papa João XXIII na Encíclica Pacem in terris (1963) Hoje em dia crê-se que o bem comum consiste sobretudo no respeito dos direitos e deveres da pessoa. Oriente-se, pois, o empenho dos poderes públicos sobretudo no sentido que esses direitos sejam reconhecidos, respeitados, harmonizados, tutelados e promovidos, tornando-seassim mais fácil o cumprimento dos respectivos deveres. A inviolabilidade da vida humana é direito de todos; “o homem vivo constitui o primeiro e fundamental caminho da Igreja”. (Donum Vitae, 1988, n. 80) Em contrapartida com os posicionamentos acima mencionados, pode ser encontrado nos vários Catecismos antigos, nos documentos papais e nos escritos dos grandes teólogos da Igreja, o parecer de que a Igreja Católica sempre admitiu a aplicação da pena de morte. Um exemplo claro desta visão é Santo Tomás de Aquino, um dos maiores filósofos e teólogos de todos os tempos (Suma Teológica no Tratado da Justiça II, IIae, Q. 64, a.2.) Se fosse necessário para a saúde de todo o corpo humano a amputação de algum membro, por exemplo, se a parte está apodrecida e pode infeccionar as demais partes, tal amputação seria louvável e salutar. Pois bem, cada pessoa singular se compara a toda a comunidade como a parte para o todo. Portanto, se um homem é perigoso para a sociedade e a corrompe por algum pecado, louvável e salutarmente se lhe tira a vida para a conservação do bem comum, pois como afirma São Paulo, "um pouco de fermento corrompe toda a massa". Esta visão de Santo Tomás de Aquino é exatamente a premissa que circunda a pena de morte. Trata-se de uma situação em que uma pessoa está lesando o bem comum e não tem remissão, portanto, deve ser retirada do convívio da sociedade, seja pela prisão perpétua ou pela pena capital. Contudo, nos dias atuais, com o desenvolvimento das sociedades é possível retirar uma pessoa do convívio social de forma definitiva, sem necessariamente ter que aplicar a pena de morte. O Papa Francisco, atual Chefe da Igreja Católica, em uma alocução do Ângelus na Praça São Pedro, disse a esse respeito (2016) As sociedades modernas têm a possibilidade de reprimir eficazmente o crime sem privar de modo definitivo aquele que o cometeu da possibilidade de se redimir. O problema deve ser visto conforme a dignidade do homem e com o desígnio de Deus sobre o homem e sobre a sociedade e também com uma justiça penal aberta à esperança da reinserção na sociedade. Além dessa proposição, é preciso admitir que os sistemas judiciários não são infalíveis e que em alguns países são verdadeiros instrumentos de injustiça. Assim sendo, a pena de morte não encontra no mundo real a sua aplicabilidade. É isso o que o Papa João Paulo II afirma na sua Encíclica Evangelium Vitae, no número 56: Nesta linha, coloca-se o problema da pena de morte, à volta do qual se registra, tanto na Igreja como na sociedade, a tendência crescente para pedir uma aplicação muito limitada, ou melhor, a total abolição da mesma. O problema há-de ser enquadrado na perspectiva de uma justiça penal, que seja cada vez mais conforme com a dignidade do homem e, portanto, em última análise, com o desígnio de Deus para o homem e a sociedade. Na verdade, a pena, que a sociedade inflige, tem “como primeiro efeito o de compensar a desordem introduzida pela falta”. A autoridade pública deve fazer justiça pela violação dos direitos pessoais e sociais, impondo ao réu uma adequada expiação do crime como condição para ser readmitido no exercício da própria liberdade. Deste modo, a autoridade há-de procurar alcançar o objetivo de defender a ordem pública e a segurança das pessoas, não deixando, contudo, de oferecer estímulo e ajuda ao próprio réu para se corrigir e redimir. Claro está que, para bem conseguir todos estes fins, a medida e a qualidade da pena hão-de ser atentamente ponderadas e decididas, não se devendo chegar à medida extrema da execução do réu senão em casos de absoluta necessidade, ou seja, quando a defesa da sociedade não fosse possível de outro modo. Mas, hoje, graças à organização cada vez mais adequada da instituição penal, esses casos são já muito raros, se não mesmo praticamente inexistentes. O novo Catecismo da Igreja Católica trata de forma compilada o referido assunto (n. 2267): “Se os meios incruentos bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e para proteger a ordem pública e a segurança das pessoas, a autoridade se limitará a esses meios, porque correspondem melhor às condições concretas do bem comum e estão mais conformes à dignidade da pessoa humana”. Atualmente não só existem meios para reprimir o crime de modo eficaz sem privar definitivamente quem o cometeu da possibilidade de redimir-se (Evangelium Vitae, 27), mas desenvolveu-se também uma maior sensibilidade moral em relação ao valor da vida humana, suscitando uma crescente repugnância da pena de morte e o apoio da opinião pública às diversas disposições que têm por finalidade a sua abolição ou a suspensão da sua aplicação (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 405). A indagação feita pelo Senhor a Caim no Livro do Gênesis perante o assassinato do irmão e abordada no início da presente reflexão, é dirigida mais uma vez ao homem contemporâneo, para que tome consciência da amplitude e gravidade dos atentados à vida que continuam a registrar-se na história da humanidade: “Que fizeste?” O irmão mata o irmão. Como naquele primeiro fratricídio, também em cada homicídio é violado o parentesco espiritual que congrega os homens numa grande família, sendo todos participantes do mesmo bem fundamental: a igual dignidade pessoal. (EV, n. 8) Como anteriormente explicitado, a vida humana pertence unicamente a Deus, portanto, nem sequer o homicida, o criminoso perde a sua dignidade pessoal e o próprio Deus faz-se seu garante. Como ensina Santo Ambrósio, Deus não quis castigar Caim com o homicídio, porque deseja o arrependimento do pecador e não a sua morte. (EV, 9) O Papa Francisco, em uma Carta ao Presidente da Comissão Internacional contra a Pena de Morte citou Dostoevskij: “Matar quem matou é um castigo incomparavelmente maior que o crime cometido. O assassínio em virtude de uma sentença é mais assustador do que o assassínio que comete um criminoso”. Nunca se alcançará a justiça matando um ser humano. Assim como discursou o Papa Francisco à Delegação da Associação Internacional de Direito Penal, que todos os cristãos e homens de boa vontade lutem não só pela abolição da pena de morte, legal ou ilegal, mas em todas as suas formas, como no respeito da dignidade humana das pessoas privadas da liberdade. Instaure-se na sociedade o Evangelho da vida, deveras mencionado nas referidas abordagens, para que as ações que os povos empreendem a favor da abolição desta pena cruel, sejam oportunas e fecundas. Para este fim, assim pediu o Papa Francisco: Confio-vos ao Senhor Jesus, que nos dias da sua vida terrena não quis que ferissem os seus perseguidores em sua defesa – “Embainha a tua espada” (Mt 26,52) – foi capturado e condenado injustamente à morte, e identificou-se com todos os presos, culpados ou não: “Estava na prisão e viestes visitar-me” (Mt 25,36). Ele que diante da mulher adúltera não se interrogou sobre a sua culpabilidade, mas convidou os acusadores a examinar a própria consciência antes de a lapidar (Jo 8, 1-11), vos conceda o dom da sabedoria. 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Face ao exposto, constata-se que o direito à vida é assegurado pela Constituição Federal em seu artigo 5º, que resumidamente versa: “a inviolabilidade do direito à vida”. É o mais básico de todos os direitos, no sentido de que surge como verdadeiro pré- requisito da existência dos demais direitos consagrados constitucionalmente. É, por isto, o direito humano mais consagrado (TAVARES, 2008, P.527); ter condições para permanecer vivo é o pressuposto para resguardar e cumprir os demais direitos. Destarte, a pena de morte é uma punição extrema, degradante e desumana, pois viola o direito à vida, a qual é inerente a todo ser humano. Contudo, em muitos países a pena capital é vigente, por meio da qual os governos justificam sua utilização alegando que esta previne a criminalidade.Porém, dados concretos não existem afirmando que esta medida seja mais eficaz na redução do crime em vista de outras práticas, até mesmo severas. É mister ter presente que a pena de morte é de caráter irrevogável e, considerando que o sistema de justiça está sujeito ao preconceito e ao erro, ou seja, não é infalível, incorre-se no risco de se executar uma pessoa inocente. Esse tipo de erro não é reversível. De acordo com pesquisadores de tal pena, a mesma não é a solução para a criminalidade, e sim uma afronta à dignidade humana. Faz-se, portanto, necessário compreender que a referida integra uma política pública destrutiva que não é condizente com os valores universalmente aceitos e aprovados. Finaliza-se a presente reflexão com a parábola de E. Magalhães de Noronha (NORONHA, p. 231): Enquanto não ficar demonstrado cabalmente que a pena de morte é o meio mais eficaz na luta contra o crime, não tem o homem o direito de invocá-la. De todas as penas é a que mais reveste o caráter de vingança (...) é repetir com Koestler: “Uma vida não vale nada, mas nada vale uma vida.”38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, Ariel Carneiro. Pena de morte. Disponível em: carneiro.jusbrasil.com.br/artigos/111686526/pena-de-morte Acesso em 25 abr. 2016. AQUINO, Tomás de. Questões sobre a Lei na Suma Teológica, in Escritos Políticos. Petrópolis: Vozes, 1997. BABINI, Maurizio. Cesare Beccaria: Um Iluminista Italiano contra a Tortura e a Pena de Morte. 2009. 6 f. 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