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Conceito contemporâneo de Família Diversas entidades familiares

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Brenda Amengol 
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Conceito Contemporâneo de Família. Diversas entidades 
familiares. 
 
 Conceito contemporâneo de Família. 
 
Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves conceituaram Família: 
“Com o passar dos tempos, porém, o conceito de família mudou significativamente até que nos 
dias de hoje, assume uma concepção múltipla, plural, podendo dizer respeito a um ou mais 
indivíduos, ligados por traços biológicos ou sociopsico-afetivos, com a intenção de estabelecer, 
eticamente, o desenvolvimento da personalidade de cada um. 
No entanto, não se pode perder de vista que em cada sociedade, a partir dos mais diversificados 
valores, a família assume diferentes funções, influenciada pelas circunstâncias de tempo e lugar. 
Isso implica reconhecer ao fenômeno familiar um permanente processo de mudança, evolução. 
Com isso, trata-se de um núcleo transmissor de costumes e experiências humanas que vão 
passando de geração em geração. 
Sendo assim, a família é, inegavelmente, a instituição social primária, podendo ser 
considerada um regime de relações interpessoais e sociais, com ou sem a presença da 
sexualidade humana, com o desiderato de colaborar para a realização das pessoas humanas 
que compõem um determinado núcleo. 
É exatamente nessa ambientação primária que o homem se distingue dos demais animais, pela 
suscetibilidade de escolha de seus caminhos e orientações, formando grupos onde desenvolverá a 
sua personalidade. Não é por outro motivo que o civilista lusitano Diogo Leite de Campos 
destaca ser a entidade familiar um instituto "destinado a ser instrumento de felicidade" 
das pessoas envolvidas." 
Com esse espírito, não se pode olvidar que a família está sempre se reinventando, se 
reconstruindo. Transforma-se a cada momento e espaço, naturalmente, renovando-se em face da 
sua própria estrutura cultural. 
Ora, com a Lex Fundamentallis de 1988 determinando uma nova navegação aos juristas, 
observando que a bússola norteadora das viagens jurídicas tem de ser a dignidade da pessoa 
humana (art. 1°, lII), a solidariedade social e a erradicação da pobreza (art. 3°) e a igualdade 
substancial (arts. 3° e 5°), o Direito das Famílias ganhou novos ares, possibilitando viagens em 
mares menos revoltos, agora em "céu de brigadeiro" 
A família do novo milênio, ancorada na segurança constitucional, é igualitária democrática 
e plural (não mais necessariamente casamentária), protegido todo e qualquer modelo de 
vivência afetiva e compreendida como estrutura socio-afetiva, forjada em laços de 
solidariedade. 
Desse modo, exsurge a justificativa constitucional de que a proteção a ser conferida aos novos 
modelos familiares tem como destinatários (imediatos e mediatos) os próprios cidadãos, pessoas 
humanas, merecedoras de tutela especial, assecuratória de sua dignidade e igualdade. 
 
 
 
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Pois bem, essa ruptura definitiva com um modelo necessariamente heteroparental,fundado na 
chefia paterna, propicia o reconhecimento de novos grupos familiares como as famílias 
monoparentais (comunidades de ascendentes e descendentes, no claro exemplo da mãe 
solteira com a sua filha), demonstrando a possibilidade de estruturas familiares 
homoparentais. 
Assim sendo, a proteção ao núcleo familiar tem como ponto de partida e de chegada a 
tutela da própria pessoa humana, sendo descabida (e inconstitucional!) toda e qualquer 
forma de violação da dignidade do homem, sob o pretexto de garantir proteção à família. 
Superam-se, em caráter definitivo, os lastimáveis argumentos históricos de que a tutela da 
lei se justificava pelo interesse da família, como se houvesse uma proteção para o núcleo 
familiar em si mesmo. O espaço da família, na ordem jurídica, se justifica como um núcleo 
privilegiado para o desenvolvimento da pessoa humana. 
Não há mais proteção à família pela família senão em razão do ser humano. Enfim, é a 
valorização definitiva e inescondível da pessoa humana! (Farias, Cristiano Chaves de/Nelson 
Rosenvald. Curso de direito civil: famílias. 9. ed. rev. e atual - Salvador: Ed JusPodlvm, 2016, p. 
40 e 41). 
A organização das Nações Unidas na Convenção sobre os Direitos da Criança define família 
como “núcleo fundamental da sociedade e meio natural para o crescimento e bem estar de todos 
os seus membros e, em particular, as crianças” (ONU-1989, recepcionado no Direito Brasileiro 
pelo Decreto nº 99.710/1990) 
 
Diversas formas de entidades familiares: 
Atualmente, a família originada do casamento é tão somente um dos modelos de arranjo familiar. 
Não há mais imposição que obriga todos a seguirem exatamente esse caminho. No passado, 
quem não o fizesse corria o risco de ficar sem a devida proteção legal, já que o ordenamento 
jurídico não garantia o reconhecimento, o que afetava, inclusive, a prole. 
As entidades familiares são múltiplas, algumas expressamente reconhecidas pelo Direito, mas 
devemos entender o rol previsto na nossa legislação como meramente exemplificativo. 
 
Família Natural: 
Art. 25 do ECA: Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer 
deles e seus descendentes. 
A família natural pode ser biparental e monoparental, dependendo do número de genitores. 
 
Família Monoparental 
Art. 226, § 4º da CF: Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes. 
Sobre a família monoparental, escreveu Sílvio de Salvo Venosa: "...é aquela na qual um 
progenitor vive sem a presença do outro na convivência e criação dos filhos. Esse núcleo 
geralmente é formado pela mãe, mas não é estranho que seja conduzido pelo pai. São vários os 
 
 
 
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fatores que fazem surgir esse fenômeno social, não se resumindo às situações das chamadas 
mães solteiras. O Código Civil e a legislação ordinária ignoraram simplesmente o aceno 
constitucional, embora o conjunto de normas de direito de família seja suficiente, em princípio, 
para dirimir as dificuldades práticas." (Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: família, vol. 5. 17. 
ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 24) 
 
Família anaparental: 
"Ao lado da família nuclear construída dos laços sanguíneos dos pais e sua prole está a família 
ampliada, como uma realidade social que une parentes, consanguíneos ou não, estando presente 
o elemento afetivo e ausentes relações sexuais, porque o propósito desse núcleo familiar 
denominado anaparental não tem nenhuma conotação sexual como sucede na união estável e na 
família homoafetiva, mas estão juntas com o ânimo de constituir estável vinculação familiar. 
Nesse arquétipo, a família anaparental está configurada pela ausência de alguém que ocupe a 
posição de ascendente, como na hipótese da convivência apenas entre irmãos. (Madaleno, Rolf 
Direito de família. 8. ed., rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2018, p 49). 
 
Família Ampliada: 
Parágrafo único do art. 25 do ECA: 
Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e 
filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou 
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, 
de 2009) 
Na família ampliada incluem-se os parentes próximos que convivem com a criança, como, por 
exemplo, os avós, o padastro, a madastra, etc. 
 
Família Substituta: 
Art. 28 do ECA: A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, 
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. 
§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe 
interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as 
implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. (Redação dada pela Lei nº 
12.010, de 2009) 
§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento,colhido em audiência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) 
§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade 
ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. (Incluído 
pela Lei nº 12.010, de 2009) 
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família 
substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique 
 
 
 
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plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o 
rompimento definitivo dos vínculos fraternais. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) 
§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua 
preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a 
serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos 
responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. 
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) 
 
Art. 32 do ECA: Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e 
fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos. 
 
Família Adotiva: trata-se de sub-espécie de família substituta, na hipótese de se formar vínculos 
familiares em razão da adoção. 
 
Família Reconstruída: 
Tânia da Silva Pereira, na atualização da Obra de Caio Mário, citando Waldyr Grisard Filho, 
trata da Família reconstruída: 
"Nestes novos contextos que envolvem as relações familiares, não se pode deixar de citar as 
famílias recompostas, ou seja, aquelas que decorrem de novas uniões depois da separação, 
também conhecidas como famílias “reconstruídas”, “mosaico”, “pluriparentais” ou “recasadas”. 
Para Roberta Tupinambá, reportando-se a Waldyr Grisard Filho, “estas famílias caracterizam-se 
pela ambiguidade. No seu processo de constituição implica reconhecer uma estrutura complexa, 
conformada por uma multiplicidade de vínculos e nexos, na qual alguns dos seus membros 
pertencem a sistemas familiares originados em uniões precedentes. As crianças podem passar a 
ter novos irmãos, que, sem ser irmãos o são em seu funcionamento cotidiano”. (Pereira, Caio 
Mário da Silva, Instituições de direito civil – Vol. V / Atual. Tânia da Silva Pereira. – 25. ed. 
rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 362).

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