Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ANA CLARA TORRES MULLER LUIZ HENRIQUE JORGE RIBEIRO LUIZ HENRIQUE SOARES RELATÓRIO GEOLÓGICO DA REGIÃO DE ALTO FORCAÇÃO, NO MUNICÍPIO DE DOUTOR PEDRINHO/SC - 1:25.000 CURITIBA 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA ANA CLARA TORRES MULLER LUIZ HENRIQUE JORGE RIBEIRO LUIZ HENRIQUE SOARES RELATÓRIO GEOLÓGICO DA REGIÃO DE ALTO FORCAÇÃO, NO MUNICÍPIO DE DOUTOR PEDRINHO/SC - 1:25.000 Relatório apresentado como requisito parcial à conclusão da Disciplina de Mapeamento Sedimentar (GC029) do curso de Geologia, Setor de Ciência da Terra, Universidade Federal do Paraná. Orientadores: Prof. Dra. Carolina Danielski Aquino Prof. Dr. Fernando Vesely CURITIBA 2018 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 1 1.1. Objetivo ............................................................................................. 1 1.2. Localização ....................................................................................... 1 2. CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLÓGICA ..................................................... 3 2.1 Bacia do Paraná: Síntese Bibliográfica ................................................... 3 2.2. Geologia Local ....................................................................................... 9 2.2.1. Grupo Itararé ................................................................................. 10 2.2.2. Grupo Guatá .................................................................................. 14 2.2.3. Província Magmática do Paraná-Etendeka ................................... 15 3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................... 17 4. RESULTADOS ...................................................................................... 19 4.1. Estratigrafia ..................................................................................... 19 4.1.1. Fácies Sedimentares ................................................................... 19 4.1.2. Associações de fácies e ambientes deposicionais ........................ 30 4.1.3. Litoestratigrafia .............................................................................. 38 4.2. Dados estruturais ............................................................................ 41 5. DISCUSSÕES ....................................................................................... 45 5.1. Evolução Geológica ........................................................................ 45 5.2. Análise de paleocorrentes ............................................................... 48 5.3. Análise estrutural .................................................................................. 50 5.4. Aspectos Econômicos .......................................................................... 52 6. CONCLUSÕES ...................................................................................... 54 7. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 55 ANEXOS ......................................................................................................... 60 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Figura de localização da área estudada. ........................................... 2 Figura 2: A) Modelo paleotectônico da margem sul-ocidental do Gondwana durante o Neo-Ordoviciano segundo Milani (2004). B) Mapa de localização da Bacia do Paraná segundo Schneider et al.(1974). ................................................................ 3 Figura 3: Carta cronoestratigráfica da Bacia do Paraná (Milani et al., 2007). ... 8 Figura 4: Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná (Rios,2017 modificado de Milani, 2004)......................................................................................... 9 Figura 5:Correlação das cinco seqüências definidas para o Grupo Itararé com as colunas litoestratigráficas propostas em superfície (Schneider et al, 1974) e subsuperfície.(França & Potter, 1988) extraído de Vesely, 2006. ............................. 11 Figura 6: Coluna estratigráfica mostrando a divisão do Grupo Itararé em três sequencias de deglaciação segundo d'Avila, 2009 por Aquino, 2016. ...................... 12 Figura 7: A) Contato entre fácies Smr-i e R; B) Fácies R; C) Estratos deformados da fácies Rd; D) Smr-i e R intercalados E) Smr-i com marca de sobrecarga F) Fácies Sa. ............................................................................................................. 21 Figura 8: Ritmito com clasto caído da fácies Rc ............................................. 25 Figura 9: Afloramento da fácies Rrs no Ponto 28. .......................................... 26 Figura 10: A) Ritmito com B) ripples da fácies Rrs. ........................................ 26 Figura 11: A) Diamictito maciço com clasto centimétrico de granitoide; B) Fóssil lenhoso na fácies Dm. ............................................................................................... 29 Figura 12: A) Contato entre basalto sob folhelhos da fácies Fc; B) Esfoliação esferoidal na fácies B. ............................................................................................... 29 Figura 13: Folhelhos da associação de fácies 2 sob arenitos da associação de fácies 3. ..................................................................................................................... 32 Figura 14: Associação de fácies 3. A) Intercalação de Smr-i e Rrs com B) Marcas onduladas e C) Intraclasto na fácies Smr-i. .................................................. 34 Figura 15: A) Turbiditos da AF3 e B) a relação entre seus estratos; C) Smr-i da AF3 com marcas de sobrecarga sobre Rrs e D) camdas amalgamadas. ................. 36 Figura 16: A) Afloramento de AF4 no ponto 9; B) Ripples deformadas da fácies Rd; C e D) Ritmitos com laminação muito deformada evidenciando slump. ............. 37 Figura 17: Gráfico de roseta construído a partir das medidas de fraturas da área 5, n=22. ..................................................................................................................... 42 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029621 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029622 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029622 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029622 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029623 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029624 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029624 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029625 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029625 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029625 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029626 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029626file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029627 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029627 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029627 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029628 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029629 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029630 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029631 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029631 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029632 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029632 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029633 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029633 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029634 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029634 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029635 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029635 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029636 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531029636 Figura 18: Medidas de paleocorrentes para área 5. Em ordem a partir da esquerda: Unidade 3 (n=34); Unidade 4 (n=5) e Unidade 5 (n=32) .......................... 43 Figura 19: estereograma gerado a partir das atitudes de estratos e laminações da área 5, n=69. ........................................................................................................ 44 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Identificação das fácies, caracterização e processos deposicional. Baseado em Miall (1978; 1996) e Eyles et al. (1983). ............................................... 20 Tabela 2: Tabela de associação de fácies, identificação das associações e sistema deposicional. ................................................................................................ 30 Tabela 3: Unidades estratigráficas mapeadas e sua correlação litoestratigráfica se acordo com Schneider et al, (1974). ..................................................................... 39 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531030338 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531030338 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531030339 file:///C:/Users/Dell/Documents/GEOLOGIA%20UFPR/8º%20PERÍODO/MAPEAMENTO%20SEDIMENTAR/Relatório/Relatório%20final.docx%23_Toc531030339 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. Objetivo Esta nota explicativa é referente ao mapeamento geológico realizada durante a disciplina de Mapeamento Sedimentar (GC-029), pertencente ao 8º Período do Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Paraná. O trabalho tem como objetivo apresentar os dados obtidos durante a realização do mapeamento geológico da área 5, em escala de 1:25.000, em conjunto com uma interpretação da evolução da sedimentação e disposição dos estratos, como também a determinação dos sistemas deposicionais, sempre buscando correlacionar os trabalhos já existentes sobre a região, com os dados obtidos no mapeamento. Além disso, busca-se retratar a real influência de ações glaciogênicas na deposição dos estratos, tendo por fim uma análise dos potenciais recursos econômicos e riscos geoambientais na região. 1.2. Localização A região mapeada encontra-se ao norte do estado de Santa Catarina no Município de Doutor Pedrinho - SC, a área 5 possui aproximadamente 32 Km2 localizada entre as coordenadas UTM 22J 634.600 e 642.700 (Leste); 7.043.800 e 7.039.800 (norte). O acesso a cidade de Doutor Pedrinho foi realizado a partir de Curitiba através da Rodovia BR-116 sentido Mafra/SC, posteriormente adentrando na BR-280 sentido Rio Negrinho/SC, na qual seguiu-se pela Rodovia SC-112 rumo à Vila de Volta Grande (Distrito Rio Negrinho/SC). Alguns quilômetros seguindo no sentido sul pegou-se o acesso à Rodovia DPE-410, na qual tem ingresso direto ao centro do município de Doutor Pedrinho. Outra possibilidade de acesso se dá pela BR-477, com ínicio no município de Canoinhas – SC, sendo essa última, a principal via de acesso transpondo a área mapeada, na qual também se encontra o maior número de afloramentos estudados. 2 Figura 1: Figura de localização da área estudada. 3 2. CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLÓGICA 2.1 Bacia do Paraná: Síntese Bibliográfica Localizada no continente Sul-americano, a Bacia do Paraná possui aproximadamente 1,5 milhões de metros quadrados (Schneider et al, 1974) que se estendem desde o Brasil meridional até o nordeste da Argentina, como mostrado na figura 1. O estudo desta bacia é feita pelo menos desde o início do século passado, destacando o trabalho pioneiro apresentado por Israel C. White para a “Comissão de Estudos das Minas de Carvão de Pedra do Brazil” em 1908. O resultado deste estudo foi uma das primeiras e mais clássicas colunas estratigráficas do Brasil, denominada “Coluna White” cuja importância geológica e histórica perdura até a atualidade (Orlandi Filho et al, 2009). Desde então muitos estudos tem sido feitos na bacia, principalmente afim de aprofundar o conhecimento sobre sistemas petrolíferos no Figura 2: A) Modelo paleotectônico da margem sul-ocidental do Gondwana durante o Neo-Ordoviciano segundo Milani (2004). B) Mapa de localização da Bacia do Paraná segundo Schneider et al.(1974). 4 país, sendo que os artigos e trabalhos mais relevantes ao presente trabalho serão descritos e/ou resumidos neste capítulo. Apesar da existência de uma vasta bibliografia a respeito da Bacia do Paraná, como já mencionado, ainda há divergências sobre sua evolução geológica, especialmente sobre seu arcabouço e contexto tectônico-estrutural, sendo possível sumarizar duas linhas de raciocínio distintas principais para essa discussão, resumidas nesta seção. A mais antiga proposta de origem e evolução da bacia considera um contexto geológico estável para sua formação. Situada sobre um núcleo central cratônico, a origem da Bacia do Paraná estaria associada a um processo de flexura litosférica (Soares, 1991; Fúlfaro et al., 1982 e Zálan et al.,1987). Vale destacar que mesmo dentro desta vertente ocorrem desacordos entre os autores que a defendem: enquanto Zalán et al (1987) postulam a participação também de processos de subsidência mecânica decorrentes do fim do ambiente compressional Brasiliano,por exemplo, Soares (1991) nega a participação destes processos no início da acomodação da bacia. Outra linha de pensamento refere-se ao que é defendido principalmente por Milani (1997), Milani e Ramos (1998) e Milani et al (2007). Estes autores postulam uma série de episódios geotectônicos mais dinâmicos, Neo a Meso- Paleozoicos, como origem da bacia. A subsidência do terreno, para estes autores, é inicialmente transtensiva e relacionada principalmente a reativação de estruturas do substrato Brasiliano durante a orogenia Ocloyca, que ocorria nas margens do Gonwana Sul. A figura 3 mostra como Milani et al. (2007) inclui também um contexto tectônico policíclico na formação do arcabouço estrutural da Bacia do Paraná, também abarcando episódios flexurais e isostáticos em sua evolução geológica. Para uniformizar as informações no presente relatório, serão priorizadas as conclusões de Milani et al (1997), Milani e Ramos (1998) e Milani et al (2007), juntamente com outros autores que adicionam informações e corroboram com as interpretações destes trabalhos. Segundo Milani (1997), a Bacia do Paraná é basicamente composta por rochas sedimentares e vulcanogênicas formadas desde o Neo-Ordoviciano até o Neo- Cretáceo, separadas em seis supersequências (Vail et al 1977 apud Milani 1997) a 5 saber: Rio Ivaí, Paraná, Gondwana l, Gondwana ll, Gondwana lll e Bauru, em ordem decrescente de idade. A Supersequência Rio Ivaí é a mais antiga da bacia, com idade Ordoviciano- Siluriano. Esta entidade engloba os estratos sedimentares depositados sobre o grande golfo conectado ao Panthalassa que se consolidava na região, originando as rochas das Formações Alto Garças, Iapó e Vila Maria (Milani, 1997). Assine (1996) corrobora essa divisão e descreve os sedimentos do Rio Ivaí como arenosos costeiros na base (Fm. Alto Garças), encimados por diamictitos polimíticos glaciais (Fm. Iapó) e no topo descreve-os como pelitos plataformais (Fm. Vila Maria). Apesar dos esforços para caracterização dessa superquencia, muitas dúvidas ainda restam, principalmente sobre sua geometria e correlações espaciais visto que não há afloramentos muito contínuos das camadas e as informações de subsuperfície são muito esparsas (Milani, 1997). Delimitando o topo da Supersequência Rio Ivai encontra-se a discordância Neossiluriana, uma superfície erosiva formada por exposição subárea do relevo que precede a deposição da Supersequência Paraná (Milani et al., 2007). Com origem e evolução datada principalmente no Devoniano, a Supersequência Paraná é caracterizada por um ciclo transgressivo-regressivo, sedimentando os depósitos areno-conglomeráticos encimados por depósitos pelíticos fossilíferos que correspondem às Formações Furnas e Ponta Grossa, respectivamente (Milani,1997; Milani 2004 e Milani et al., 2007). Para Almeida et al (1980), a sedimentação Devoniana na Bacia do Paraná permite definir a participação de uma sinéclise em sua evolução estrutural. Após a formação destes estratos sedimentares, intensos processos erosivos ocorridos no intervalo do Neodevoniano ao Carbonífero Médio esculpiram sua superfície, gerando um importante marco estratigráfico da Bacia do Paraná, a discordância Neodevoniana, “pré-Itararé” (Milani et al., 2007). Esta discordância determina um hiato deposicional de cerca de 70 Ma, relacionada a Orogenia Herciniana segundo Zalan et al (1990) e também associada ao rebaixamento do nível do mar, decorrente da glaciação que se formava na região, segundo Milani et al (2007). Sobre essa discordância formou-se a Supersequência Gondwana l composta principalmente pelo Grupo Itararé na base, seguido pelo Grupo Guatá e sobrepostos pelo Grupo Passa Dois. Essa classificação de Milani (1997) é semelhante àquela proposta por Schneider et al (1974) para o então denominado Supergrupo Tubarão, 6 cuja principal diferença é a separação do Grupo Passa Dois desta entidade geológica. De modo geral, essa Supersequência é um ciclo deposicional de transgressão- regressão completa, com registros basais geralmente glaciais, tanto continentais como marinhos, no Grupo de Itararé, sucedidos por evidências de um ambiente sedimentar com aumento do nível do mar associado a deglaciação (Grupo Guatá). Por fim, ocorreu a deposição do Grupo Passa Dois, encerrando um extenso processo de continentalização da bacia, culminando na deposição de sedimentos eólicos eótriássicos das Formações Sangra do Cabral e Piramboia (Scheneider,1974; França e Potter, 1988; Milani,1997; Milani & Ramos, 1998; Milani et al, 2007). Nessa Supersequência estão a maioria dos litotipos encontrados na área em estudo, sendo que os principais aspectos dos Grupos Itararé e Guatá serão retomados e detalhados na próxima seção deste capítulo. No início do Triássico, a Bacia do Paraná encontra-se majoritariamente continentalizada, predominando o clima árido no seu ambiente deposicional (Milani et al, 2007). Nesse período ocorreu ainda a consolidação da Supersequência Gondwana ll, restrita à sedimentação em grábens onde hoje se encontra o Rio Grande do Sul e Uruguai e cujo conteúdo fossilífero indica uma importante correlação com sequencias sedimentares da Argentina e África do Sul (Barbaerma et al.,1991 apud Milani, 2007). Apesar desse ciclo sedimentar, o que mais demarca o intervalo Triássico-Jurássico na bacia é um hiato deposicional, principalmente associado a deflação eólica que precede a sedimentação da Formação Botucatu (Milani, 1997; Milani etal,2007). O predomínio da erosão do terreno estendeu-se até o início do Cretáceo, quando se iniciou a deposição de dunas e areais eólicas características do ambiente desértico que formou os estratos da Formação Botucatu (Milani et al.,2007; Schneider et al,1974). Os arenitos dessa Formação são os primeiros do que Milani (1997) classificou como Supersequência Gondwana lll. Esta Supersequência é caracterizada principalmente pela presença de rochas vulcânicas associadas ao magmatismo Serra Geral sobrepondo os arenitos eólicos do deserto Botucatu, com algumas intercalações ao longo da estratigrafia dessa sequência (Schneider et al,1974; Milani, 1997). Por fazerem parte da área em estudo, as rochas da Província Magmática Paraná- Etendeka serão descritas mais adiante neste capítulo. Em suma, o vulcanismo fissural associado ao rompimento do Supercontinente Gondwana foi a origem das rochas vulcânicas geralmente basálticas que caracterizam a Formação Serra Geral 7 (Schneider et al,1974; Milani, 1997), atualmente incorporada a Província Magmática Paraná-Etendeka (Peate et al.,1992; Marques & Ernesto,2004). Sobre as lavas do Serra Geral, depositaram-se os estratos Neocretáceos da Supersequência Bauru (Milani,1997; Milani et al, 2007). Esta discordância foi definida por depósitos de brechas com clastos basálticos angulosos em matriz areno-argilosa no contato entre as duas Supersequência (Almeida & Melo, 1981 apud Milani et al., 2007). Os estratos sedimentares que compõem a Supersequência Bauru pertencem as Formações Caiuá, Bauru, Cachoeirinha e Rio Claro descritas por Schneider et al (1974). Posteriormente essas entidades foram reclassificadas, passando a compor os Grupos Bauru e Caiuá (Milani,1997). O ambiente sedimentar que caracteriza a deposição desses estratos é de ambiente desértico (Caiuá) e fluvial semi-árido (Bauru) e a relação espacial entre esses dois grupos é geralmente definida como lateral e gradacional (Milani et al, 2007). Com o decorrer da abertura do Oceano Atlântico o aporte de sedimentos da bacia praticamente cessou e os processos diagenéticos passaram a predominar. Associado a esse processo algumas fraturas e falhas cortaram as rochas da bacia, porém sem grandes impactos sobre sua fisionomia e constituição. Assim sendo, a consolidação final desta gigante Bacia Paleozoica ocorreu, sendo que seu soerguimento relacionadoao clima mais tropical que se instaurou na região deram origem ao seu relevo e fisiologia atuais. 8 F ig u ra 3 : C a rta c ro n o e s tra tig rá fic a d a B a c ia d o P a ra n á (M ila n i e t a l., 2 0 0 7 ). 9 2.2. Geologia Local Os litotipos sedimentares encontrados na área estudada estão inseridos na Bacia do Paraná (Gordon Jr., 1947) e depositados principalmente no intervalo do Neocarbonífero ao Eotriássico, correspondente a Supersequência Gonwana I de Milani, 1997. Foram encontradas também rochas Ígneas subvulcânicas da Formação Serra Geral. Serão detalhados a seguir o grupo Itararé, grupo Guatá e Província Magmática Paraná-Etendeka, com prioridade às informações mais pertinentes ao relatório. Figura 4: Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná (Rios,2017 modificado de Milani, 2004) 10 2.2.1. Grupo Itararé O Grupo Itararé corresponde aos depósitos formados na fase de degelo da glaciação Gondwânica, tendo uma de suas primeiras descrições feitas por White em 1908 (op cit) quem agrupou seus estratos em uma série denominada “Série de Tubarão”. Apesar de várias modificações, as considerações de White sobre as rochas sedimentares pós-glaciais se mantém verdadeiras, sendo que modernamente a classificação mais utilizada é a de Schneider et al (1974) (Milani,1997; Milani et al,2004). Para estes autores, quatro formações fazem parte do Grupo Itararé: Campo do Tenente, Aquidauana (presente em Goiás e Mato Grosso), Mafra e Rio do Sul (Schneider et al, 1974). Outras propostas de divisão foram feitas desde então, merecendo destaque a feita por França & Potter (1988) que definem quatro formações (Lagoa Azul, Campo Mourão, Taciba e Aquidauana) a partir de dados de subsuperfície. Para estes autores cada formação representa um ciclo deposicional com aumento relativo do nível do mar, gerando um padrão de afinamento ascendente dos grãos em cada ciclo. O presente mapeamento foi feito interinamente em superfície, logo, será priorizada a classificação de Schneider et al (1974). O início da sedimentação Permo-carbonífera da Bacia do Paraná corresponde às rochas da Formação Campo do Tenente. O ambiente sedimentar inferido para esse pacote sedimentar é principalmente subglacial, com erosão do substrato Devoniano e formação de argilitos castanho avermelhados, tilitos basais e subordinadamente ritmitos e arenitos (Schneider et al, 1974; Vesely et al, 2015). Esta Formação equivale ao Membro Tarabaí de França e Potter (1988) e é descrita por esses autores como lamitos seixosos intercalados com arenitos, depositados em ambientes de planície de lavagem e folhelhos depositados em ambiente lacustre anóxico (Folhelhos Roncador). 11 Sobre a formação Campo do Tenente, encontra-se a Formação Mafra. Inicialmente esta entidade foi descrita informalmente como ‘arenitos’ por Tommassi e Roncarati (1970, apud Schneider et al, 1974) porém em 1974 Schneider et al detalharam esses litotipos e propuseram a classificação como Formação Mafra. Depositada tanto em ambiente marinho como continental, esta Formação é composta majoritariamente por arenitos e secundariamente por diamictitos e ritmitos (Schneider et al 1974). Os estratos basais indicam ambiente fluvial enquanto as partes média e superior indicam ambiente marinho com influência glacial, evidenciada principalmente pela presença de braquiópodes e moluscos e de diamictitos (Schneider, op cit; Weinschütz,2001 apud Weinschütz e Castro,2005) e por outros trabalhos mais recentes como Aquino,2016. A sedimentação destas rochas sedimentares foi datada Figura 5:Correlação das cinco seqüências definidas para o Grupo Itararé com as colunas litoestratigráficas propostas em superfície (Schneider et al, 1974) e subsuperfície.(França & Potter, 1988) extraído de Vesely, 2006. 12 pela caracterização de palinomorfos como Permiana Inferior (Daemon e Quadros,1970 apud Schneider et al, 1974). Três subdivisões na estratigrafia da Formação Mafra foram propostas por Weinschütz (2001, apud Weinschütz e Castro,2005): Mafra inferior, composta por arenitos e diamictitos; Mafra médio, formada por varvitos, diamictitos e arenitos e Mafra superior, onde predominam arenitos e diamictitos. Nesta última subdivisão a influência glacial no ambiente deposicional é evidenciada pela presença de clastos caídos, drappes e intraclastos de folhelhos. Entretanto o ambiente sedimentar inferido para este nível estratigráfico do Grupo Itararé, especificamente na área de Doutor Pedrinho aonde o presente mapeamento foi feito, envolve um modelo muito mais complexo. Como consequência da migração do continente Gonwânico para latitudes mais equatoriais, fluxos densos foram liberados por túneis subglaciais, adentrando uma bacia subaquaosa na qual o fluxo perde energia, depositando estratos em forma de leque com transições abruptas entre as suas associações faciológicas (Aquino, 2016). Esta interpretação da autora corrobora o contexto de deglaciação definido para o Grupo Itararé e corresponde a Sequência 2 da coluna da figura 6. Figura 6: Coluna estratigráfica mostrando a divisão do Grupo Itararé em três sequencias de deglaciação segundo d'Avila, 2009 por Aquino, 2016. 13 Sobre os arenitos e diamictitos Mafra se assentam os depósitos sedimentares da Formação Rio do Sul. A parte basal dessa Formação é composta pelo folhelho Lontras, marco regional na região de Santa Catarina que define um contato concordante com as rochas sedimentares que a precedem (Schneider et al, 1974; França & Potter, 1988). Estes folhelhos basais da Formação Rio do Sul caracterizam um ambiente deposicional essencialmente marinho transgressivo e profundo, com ausência de influência de marés e correntes de turbidez, apenas exibindo estruturas plano-paralelas, cone in cone, nódulos calcíferos e clastos caídos, provenientes de blocos de gelo que flutuavam no nível do mar (Schneider et al , 1974; Vesely, 2006; Aquino, 2016). A formação do folhelho Lontras remete ao Estefeniano segundo seu conteúdo palinológico (Souza, 2000 apud Vesely, 2006). Com a evolução do degelo nesta parte mais superior do Grupo Itararé percebe-se o aumento na quantidade de sedimentos carreados pelas geleiras para o interior da bacia (Schneider et al, 1974; Vesely, 2006; Aquino, 2016). Nas palavras de Schneider et al (1974): “A ocorrência de ritimitos, diamictitos e arenitos na parte basal é relativamente pequena em relação à superior, onde são abundantes e consequência da grande quantidade de material carreado para a bacia por meio de geleiras. A instabilidade deste material, acumulado rapidamente nas bordas da bacia, causou o desencadeamento de escorregamentos subaquosos e correntes de turbidez dando origem aos diamictitos, ritmitos e arenitos intercalados nas seções de folhelhos.” Os processos deposicionais que predominam acima do Folhelho Lontras, na Formação Rio do Sul, são sistemas turbidíticos cuja origem está associada a instabilidade de taludes deltaicos que estariam presentes na borda da bacia (Fallgatter, 2015). Ainda segundo este autor, especificamente na localidade de Doutor Pedrinho-SC, a deposição se deu em uma área mais ampla e menos confinada do que em outras regiões da Bacia do Paraná. O fim da sedimentação do Grupo Itararé é registrada por um contato majoritariamente concordante com a Formação Rio Bonito, a mais basal do Grupo Guatá (Schneider et al, 1974) cujos principais aspectos serão descritos na próxima seção. 14 2.2.2. Grupo Guatá De acordo com Milani et al. (2007), o Grupo Guatá é depositado em contexto de subida relativa do nível do mar resultante da deglaciação de geleiras carboníferas, tal progressiva subida resulta na cobertura total da bacia, culminado na deposição da Formação Palermo(parte superior do Grupo), que segundo Milani (1997); Milani et al. (2007) compõe um horizonte de correlação regional associado a máxima inundação da Supersequência Gondwana I. A Formação Palermo também culmina com o que Schneider et al. (1974) denominou de Supergrupo Tubarão, formado pelo Grupo Itararé e Grupo Guatá, tendo esse último, segundo Daemon e Quadros (1970) apud Milani et al. (2007), idades entre o Sakmariano e o Artinskiano. A Formação Rio Bonito, forma a base do Grupo Guatá, que segundo Milani et al. (2007) é o primeiro registro de deposição pós-glacial na Bacia do Paraná. Nesta Formação uma notável ciclicidade sedimentar se traduz em oscilações do nível de base da bacia de acumulação, com uma seção arenosa basal, uma média essencialmente argilosa e uma superior areno-argilosa com depósitos de carvão (Schneider et al. 1974). O mesmo autor, observando a gênese de deposição diferentes de tais conjuntos litológicos separou a Formação Rio Bonito da base para o topo em: Membro Triunfo, Membro Paraguaçu e Membro Siderópolis. No presente trabalho se dará maior importância ao Membro Triunfo. O Membro Triunfo é composto por arenitos brancos finos a médios com abundantes estratificações cruzadas, planar e acanalada intercalados localmente por arenito grossos e conglomerados; siltitos, folhelhos carbonosos e carvão fecham a parte superior do conjunto. Northfleet et al. (1969), interpretou o Membro Triunfo como uma sucessão flúvio deltaico progradacional; Milani et al. (2007) destacou que a base do Grupo Guatá é predominantemente composto por lobos deltaicos dominados por maré, pontuado por níveis marinhos de fluxos de alta energia, formando tempestitos (Castro, 1991 apud Milani et al. 2007). Já Castro et al. 2005, que a partir de estudos de 4 testemunhos rasos nos arredores do munícipio de Mafra/SC, detalhou a transição do Grupo Itararé para a Formação Rio Bonito/Membro Triunfo separando em 6 sequências deposicionais (S0, S1, S2, S3, S4 e S5), interpretando ambientes deposicionais distintos para cada sequência. A sequência S3 corresponde a base do Membro Triunfo no qual a característica de depósitos de decantação seguido de depósitos de tração 15 caracterizam uma frente deltaica proximal constituindo um ciclo regressivo transgressivo. Zacharias (2004) em estudos de afloramentos, correlação de poços e estudos de paleocorrentes abrangendo a Formação Rio Bonito no nordeste do Paraná, destaca que a parte inferior da Formação Rio Bonito possui ambiente de talvegue de vales escavados do topo do Grupo Itararé em contexto de estuários, onde processos fluviais e marinhos interagem resultando num preenchimento por sedimentos marinhos e continentais. O membro Triunfo, segundo Schneider et al. (1974), adelgaça e desaparece por acunhamento no norte do estado do Paraná. O Membro Paraguaçu, seção intermediária da Formação Rio Bonito, é composto por sequência de siltitos e folhelhos cinza, intercalados com camadas de arenitos finos e calcários (Schneider et al. 1974). O mesmo autor interpretou um ambiente marinho transgressivo para tal sequência pelítica carbonática. O Membro Siderópolis, parte superior da Formação Rio Bonito, é caracterizado pela presença de arenitos finos a muito finos cinza escuros, intercalados com argilitos e folhelhos carbonosos com desenvolvimento de carvão. Sendo comum a presença de laminação plano paralela, ondulada e localmente estratificação cruzada de pequeno porte (Schneider et al. 1974). O ambiente de deposição foi interpretado como sendo marinho litorâneo, representando sistemas regressivos costeiros, antecedendo a transgressão generalizada dos folhelhos plataformais da Formação Palermo (França & Caldas 1983). A Formação Palermo, parte superior do Grupo Guatá, compreende siltitos e siltitos arenosos de cores cinza e por alteração, amarelo esverdeados. Localmente encontram-se arenitos finos e conglomerados com alguma preservação de laminações cruzadas de pequeno porte, bastante bioturbados (Schneider et al. 1974). Tal Formação marca a sequência máxima transgressiva do Grupo Guatá, sendo a máxima inundação da Supersequência Gondwana I (Milani,1997). 2.2.3. Província Magmática do Paraná-Etendeka A Província Magmática do Paraná é uma das maiores Províncias de basaltos continentais do planeta cuja principal atividade vulcânica ocorreu entre 133-132 Ma, no Cretáceo Inferior (Marques & Ernesto, 2004). Segundo Milani (1997) e Milani et al. (2007), o magmatismo Serra Geral está incluso na Supersequência Gondwana ll e é 16 associada aos campos tensoriais e fenômenos endógenos que levaram à separação do Pangea. Na Bacia do Paraná esse magmatismo está presente principalmente na forma de derrames vulcânicos fissurais que cobrem cerca de 75% da bacia. São expressivos também soleiras e diques de caráter toleítico que atravessam toda a bacia sedimentar, divididos em 3 enxames principais: Ponta Grossa, Serra do Mar e Florianópolis (Peate et al., 1992; Marques 7 Ernesto,2004; Milani et al., 2007). A classificação geoquímica da Província Magmática do Paraná, segundo Peate et al (1992), é feita a partir do teor de Titânio de suas rochas, definindo assim seis magmas-tipo basálticos (Gramado, Esmeralda, Ribeira, Urubici, Pitanga e Paranapanema) e dois magmas-tipo ácidos (Palmas e Chapecó). A atual cobertura vulcânica da Bacia do Paraná corresponde a praticamente toda Supersequência Gondwana ll indicada na figura 3. 17 3. MATERIAIS E MÉTODOS O primeiro passo para a realização do trabalho foi a confecção de um mapa base da região da Alto Forcação (Doutror Pedrinho –SC), na escala 1:10.000, com base nos mapas do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Represa Alto Rio Preto (1980) MI: 2880-2; Dona Ema (1980) MI: 2880-4; Rio dos Cedros (1981) MI:2881-1 e Timbó (1981) MI: 2881-3 com escala 1:50.000 disponíveis no site do IBGE. Para a confecção do mesmo, foi utilizado o software ArcGIS 10.2.2, com a base num sistema de coordenadas cartesianas bidimensional, a projeção UTM (Universal Transversa de Mercartor), no DATUM WGS 84. Juntamente com o mapa base, foi feita a interpretação preliminar da área da área por SIG, sendo feita a geração de Modelo Digital de Elevação (MDE) e curvas de nível com espaçamentos de 5m e 20m. ambos os produtos foram gerados através do programa ArcGIS. Nesta interpretação foram traçadas as drenagens e as quebras negativas, individualizando diferentes zonas foto geológicas. Também se utilizando do ArcGIS e das cartas do IBGE citadas anteriormente, foram traçados os principais lineamentos regionais (escala 1:250.000) e lineamentos locais (escala 1:50.000). Ainda foram usados recursos do Google Earth na atualização de estradas, drenagens e como auxiliar para interpretação das quebras de relevo e lineamentos. O mapa base, juntamente as interpretações feitas, foram utilizados para localização e orientação durante as etapas de campo, com o objetivo de demarcar possíveis contatos geológicos e corroborar as feições/estruturas geológicas traçadas em escritório. Juntamente aos dados coletados em campo, foram de grande importância para a confecção do produto final deste trabalho. Foram realizadas, no total, duas etapas de campo com cinco dias cada, a primeira etapa ocorrendo de 17/09 a 21/09 e a segunda etapa ocorrendo de 15/10 a 19/10. Durante estes trabalhos, além dos equipamentos de segurança pessoal (botas apropriadas, perneiras, coletes reflexivos, etc...), foram utilizados: um GPS, de projeção UTM, lupa de aumento de 10x e 40x, duas bussolas geológicas tipo Brunton, escala granulométrica, caderneta de campo, martelos (petrológicos e não petrológicos), talhadeira, ácido clorídrico 1:10, rádios comunicadores de médio alcance (para comunicação com equipes em áreas próximas)e canivete. O GPS foi utilizado para localização e para definir as coordenadas dos afloramentos, que foram, posteriormente, plotados no mapa base. As bússolas foram utilizadas para coletar os 18 dados estruturais, como atitudes de laminações, fraturas, acamamento, e paleocorrentes para auxiliar na confecção dos perfis e do modelo deposicional. Durante as etapas de campo foram descritos 85 pontos (Anexo 1), com descrições qualitativas e petrografia macroscópica, com auxílio da lupa de aumento de 10x e 40x, escala granulométrica, ácido clorídrico 1:10 e canivete. Como resultado foi produzido um perfil geológico na escala 1:200 (Anexo 2), além de os dados coletados serem necessários para a conclusão do mapa geológico. Entre as etapas de campo foi confeccionado um mapa geológico prelimitar, que foi integrado com os das demais equipes e debatido junto a elas, a título de auxiliar a sua interpretação. O mesmo mapa, debatido com outras equipes, foi então usado para localização durante a segunda etapa de capo, bem como para conferir as interpretações e auxiliar no real entendimento da área. Os dados estruturais e de paleocorrentes foram listados e tratados com o programa OpenStereo. Já a confecção de perfis e da coluna estratigráfica da área foram feitas manualmente em papel quadriculado e posteriormente foram digitalizadas, e a partir das digitalizações foram confeccionados os produtos digitais finais no programa Illustrator. Durante todas as etapas o trabalho foi balizado por referências bibliográficas indicadas e disponibilizadas pelos professores e também disponíveis em livros e artigos na biblioteca da UFPR e bibliotecas digitais de outras universidades do país. Ainda foi utilizado o software Adobe Photoshop CS3, Aviary e ferramentas já inclusas no Sistema Operacional Windows para tratamento das fotos tiradas em campo. 19 4. RESULTADOS 4.1. Estratigrafia 4.1.1. Fácies Sedimentares Após os esforços desenvolvidos durante as duas etapas de campo, foram descritas, no total, 17 fácies sedimentares que serão apresentadas na Tabela 1 com base nas principais e mais simples características apresentadas pelos litotipos da área, além de também ser considerada a abrangência da área e a escala de detalhe que melhor serve ao propósito deste trabalho. Depois de separadas as fácies, estas foram agrupadas em cinco associações de fácies, onde foram feitas interpretações sobre seus prováveis ambientes de deposição. As características peculiares ou não tão expressivas de cada fácies serão melhor abordadas no texto. 20 Código Denominação Processo deposicional Sm Arenito maciço Fluxo de Detritos Smr-i Arenito maciço com ripples no topo e intraclastos na base Correntes de Turbidez de Alta Densidade Sa Arenito com estratificação cruzada acanalada de baixo ângulo Fluxo Trativo Sp Arenito com estratificação cruzada planar Fluxo Trativo Sd Arenito com estratificação deformada Slump Fl Folhelho com laminação plano-paralela Decantação em Ambiente Calmo Flc Folhelho com laminação plano-paralela e clastos caídos Decantação + Chuva de Detritos Fm Finos maciços Decantação em Ambiente Calmo R Ritmito Correntes de Turbidez de Baixa Densidade Rc Ritmito com clastos caídos Correntes de Turbidez de Baixa Densidade + Chuva de Detritos Rrs Ritmito com ripples e climbing ripples e marcas de sola Correntes de Turbidez de Baixa Densidade Rd Ritmito deformado Slump H Heterolito Decantação e Fluxos Oscilatórios Lmg Lamito maciço com granocrescencia ascendente da matriz e clastos Fluxo de Detritos Dm Diamictito maciço Fluxo de Detritos B Basalto Intrusão Magmática Qa Sedimentos Inconsolidados Fluxos trativos Tabela 1: Identificação das fácies, caracterização e processos deposicional. Baseado em Miall (1978; 1996) e Eyles et al. (1983). 21 Figura 7: A) Contato entre fácies Smr-i e R; B) Fácies R; C) Estratos deformados da fácies Rd; D) Smr-i e R intercalados E) Smr-i com marca de sobrecarga F) Fácies Sa. 22 A) Arenito maciço (Sm) A fácies Sm foi observada no afloramento 36. A rocha possui cor castanho claro, composta por 95% de clastos e 5% de matriz. É moderadamente selecionada texturalmente, granulação variando de areia muito fina a areia média, os clastos são sub-esféricos e sub-arredondados, é mineralogicamente madura, composta por quartzo e até10% de feldspato alcalino e argilominerais, apresentando ainda traços de óxidos. A falta de continuidade lateral e vertical do afloramento não permitiu definir a geometria e espessura dos estratos. B) Arenito maciço com ripples no topo e intraclastos na base (Smr-i) A fácies Smr foi observada nos afloramentos 05; 13; 14; 15; 16; 17; 21; 22; 23; 30; 49; 50; 51; 52; 53; 54; 55; 56; 58; 59; 62; 63; 64; 66; 67; 68; 69; 70; 71; 72; 73; 74; 76; 80; 81; 82. A rocha possui cor castanha amarelada, composta por 95% de clastos e 5% de matriz. É bem selecionado texturalmente, tem granulação e areia muito fina a areia fina, os clastos são esféricos e arredondados, possui gradação normal, é mineralogicamente madura, composta por quartzo e até 10% de feldspato alcalino e argilominerais. Os estratos observados apresentam marcas onduladas assimétricas indicando fluxo unidirecional, mas que não estão preservadas por toda a área, em geral, na base dos estratos são encontrados intraclastos de folhelhos rítmicos com cerca de 2-3cm, em alguns estratos ocorre o fenômeno de elutriação fazendo com que os intraclastos se concentrem no topo das camadas arenosas, podem ainda ser observadas estruturas de carga na base dos estratos de arenito, tanto quando estes então sobre ritmitos quanto quando estão sobre outros estratos de arenitos. Em vários estratos ainda ocorrem concreções de sulfatos (com presença de pirita) de formatos variados (oblatas, esféricas, alongadas). Em alguns estratos marcas onduladas simétricas ocorrem no topo (figura) Os estratos expressam continuidade lateral, são tabulares e tem espessuras que variam de 0,1m a cerca de 2,5m. C) Arenito com estratificação cruzada acanalada de baixo ângulo (Sa) A fácies Sa foi observada no afloramento 8. A rocha possui cor castanha amarelada a castanha alaranjada, composta por 95% de clastos e 5% de matriz. É 23 muito bem selecionado texturalmente, tem granulação e areia fina, os clastos tem alta esfericidade e são bem arredondados, é mineralogicamente supermatura, composta por quartzo e até 5% de feldspato alcalino, micas e argilominerais. Os sets são em geral lenticulares e possuem espessura variando de 0,4m a 1m, foram medidas paleocorrentes do acamadamento indicando um fluxo multidirecional. D) Arenito com estratificação cruzada planar (Sp) A fácies Sp foi observada no afloramento 25. A rocha possui cor castanha amarelada a castanha alaranjada, composta por 95% de clastos e 5% de matriz. É muito bem selecionado texturalmente, tem granulação e areia média, os clastos tem alta esfericidade e são bem arredondados, é mineralogicamente supermatura, composta por quartzo e até 5% de feldspato alcalino e argilominerais. Os estratos expressam continuidade lateral, são tabulares e tem espessuras que variam de 0,4m a cerca de 1,0m. E) Arenito com estratificação deformada (Sd) A fácies Sd foi observada nos afloramentos 9 e 77. A rocha possui cor castanho claro, composta por 95% de clastos e 5% de matriz. É moderadamente selecionada texturalmente, granulação variando de areia fina a areia média, os clastos são esféricos e sub-arredondados, é mineralogicamente madura, composta por quartzo, até 20% de feldspato alcalino, até 15% de mica e argilominerais, apresentando ainda traços de óxidos. As estratificações do arenito se encontram dobradas, redobradase falhadas. Na base este arenito é formado por estratos tabulares amalgamados, porém fica impossível a distinção de estratos a medida que se sobe em direção ao topo deste arenito, parecendo se tornar uma única massa com vários metros de altura. No contato com a fácies inferior podem ser vistos clastos caídos de tamanhos variados (o maior visto tendo cerca de 30cm de diâmetro), mas no geral são esféricos e bem arredondados, ainda neste mesmo limite pode-se ver estruturas de carga. Foram encontrados também concreções arredondadas de coloração roxa/vermelha acinzentadas recobertas por uma camada oxidada. 24 F) Folhelho com laminação plano paralela (Fl) A fácies Fl foi observada nos afloramentos 37 e 38. A rocha possui cor castanha acinzentada, é composto por silte e argila, é provavelmente composta por quartzo e argilominerais. Possui laminação plano paralela milimétrica, expressa continuidade lateral e não parece ser segmentado em estratos, formando uma única grande massa folhelhosa. G) Folhelho com laminação plano-paralela e clastos caídos (Flc) A fácies Flc foi observada nos afloramentos 35; 43; 44; 45; 46; 47; 48; 49. A rocha é negra, formada por silte e argila, o fato de ser um folhelho negro nos permite concluir que a rocha possui matéria orgânica e o restante da composição é provavelmente conta com quartzo e argilominerais. Possui laminação plano-paralela milimétrica, em pontos isolados esta laminação pode ser lenticular, possui clastos caídos de composição granítica, que em sua grande maioria variam de 2-4mm, mas chegou a ser encontrado clasto com 10cm. expressa continuidade lateral, os estratos são métricos, formando estratos únicos até entrar em contato lateral ou superior com outra fácies. G) Finos maciços (Fm) A fácies Rg foi observada nos afloramentos 15; 17; 21; 22; 23; 50; 51; 52; 53; 54; 59; 62; 63; 64; 67; 68; 69; 71; 72; 74; 76; 80; 82; 83. A rocha tem cor cinza escuro, de textura maciça. A rocha é lamosa, tem granulação silte e argila, com predomínio de argila, suas camadas variam entre 2cm e 20cm de espessura e apresentam baixa continuidade lateral, em alguns pontos pode apresentar aspecto pastilhado. H) Ritmito (R) A fácies R foi observada nos afloramentos 13; 14; 15; 16; 17; 20; 21; 22; 23; 53; 49; 51; 52; 53; 54; 55; 56; 59; 62; 63; 66; 67; 68; 69; 70; 71; 73; 74; 76; 81; 82; 83. A rocha é composta por camadas cinza claro e cinza escuro, as faixa cinza-claro tendo granulação silte e areia muito fina e composição quartzosa e as faixas cinza escuras sendo lamosas (silte e argila, predominando argila), as lâminas são tabulares possuem espessura milimétrica, raramente chegando a mais de 1cm. 25 I) Ritmito com clastos caídos (Rc) A fácies Rc foi observada nos afloramentos 43; 44; 46 e 47. A rocha é composta por camadas cinza claro e cinza escuro, as faixa cinza-claro tendo granulação que varia de silte e areia fina e composição quartzosa e as faixas cinza escuras sendo lamosas (silte e argila), as lâminas são tabulares possuem espessura milimétrica, raramente chegando a mais de 4mm. Possui clastos caídos de composição granítica, que em sua grande maioria variam de 2-4mm. Ocorrem em estratos tabulares, em alguns casos lenticulares e tem baixa continuidade lateral. J) Ritmito com ripples e climbing ripples e marcas de sola (Rrs) A fácies Rg foi observada nos afloramentos 28; 75 e 83. A rocha é composta por camadas cinza claro e cinza escuro, as faixa cinza-claro tendo granulação areia muito fina e composição quartzosa e as bandas cinza escuras sendo lamosa (silte e argila, predominando argila). As lâminas lamosas variam de 1mm a 1cm, expressam continuidade lateral, no geral são tabulares, local e ocasionalmente deformadas em função das camadas superiores (geralmente arenosas) podendo ser forçados para dentro do arenito e formar pequenas estruturas em chama. Ainda nos níveis arenosos mais espessos ocorre níveis submilimétricos de argila, sem continuidade lateral. Figura 8: Ritmito com clasto caído da fácies Rc 26 As lâminas arenosas também variam de 1mm a 1cm na ausência de estruturas, expressam continuidade lateral e são tabulares. Quando apresentam estruturas estas camadas podem variar de 1cm a 5cm de espessura com topos ondulados. Estas camadas mais espessas apresentam ripples assimétricas e ocasionalmente climbing ripples que foram medidas e tem fluxo preferencial para Sul, muitas destas camadas também apresentam estrutura de carga nos contatos com as lâminas lamosas subjacentes e estruturas de fluxo com estruturas que indicam a direção do fluxo e também foram medidas. Algumas camadas arenosas apresentam pequenos clastos com tamanhos que variam de 1mm a 3mm e parecem ter sido depositados ao mesmo tempo que a areia que compõe a camada. Figura 10: A) Ritmito com B) ripples da fácies Rrs. Figura 9: Afloramento da fácies Rrs no Ponto 28. 27 K) Ritmito deformado (Rd) A fácies Rd foi observada nos afloramentos 9; 29 e 78. A rocha alterna entre as cores cinza claro e cinza escuro, as partes cinza-claro tendo granulação areia muito fina e composição quartzosa e as bandas cinza escuras sendo lamo-arenosa (areia fina, silte e argila, predominando argila) possui mica disseminada, tanto nos níveis argilosos quanto nos níveis arenosos e as vezes pode se concentrar em lentes milimétricas onde há o predomínio da mica. As laminações do antigo ritmito se encontram dobradas, redobradas e falhadas essas dobras variando de milimétricas a métricas. Grande parte do material está homogeneizado, apresentando cor cinza escura que predomina nos afloramentos. Em outras partes a deformação parece ter segregado a areia da lama ao invés de haver homogeneização. Em partes arenosas melhores preservadas (menos deformadas) pode ser visto relíquias sutis de um acamamento, com estruturas que lembram ripples. Ocasionalmente são vistos fragmentos de arenito boudinados em meio aos dobramentos e redobramentos, estes arenitos têm granulação muito fina e espessuras que variam de 3cm a 15cm, não sendo possível dizer se eram estratos de arenito, uma fase segregada pela deformação ou ainda uma das camadas arenosas que constituía o ritmito pré-deformação. L) Heterolito (H) A fácies H foi observada nos afloramentos 4; 5; 32; 33 e 34. A rocha tem lâminas com cor cinza escuro e níveis que variam entre o amarelo e o vermelho. Em geral as lâminas não ultrapassam 4mm de espessura e são tabulares, sendo que a fração lamosa pode ocorrer na forma de lentes centimétricas em pontos distintos dos afloramentos, os níveis “coloridos” são areno-siltosos e os níveis cinza lamosos. Nos afloramentos 33 e 34 podem ser observadas também pequenas falhas normais isoladas e escalonadas com deslocamento milimétricos, sendo que elas atingem apenas algumas lâminas no afloramento, no geral não se propagam mais que 5cm verticalmente. 28 M) Lamito maciço com granocrescencia ascendente da matriz e clastos (Lmg) A fácies Lmg foi observada nos afloramentos 5; 6; 7; 18; 19; 24; 26; 27; 31 e 65. A rocha é castanha amarelada e é composta por uma matriz de argila, silte e areia muito fina, os clastos são sub-esféricos e arredondados variam de 5mm à 10cm e tem composição granítica. Considerando a matriz, na base desta fácies há predomínio da argila (70%) e grada para o predomínio de areia fina (40% a 50%) no topo. Já os clastos representam menos de 1% do volume total da rocha, sendo que na base os clastos são menores e mais escassos e no topo se concentram os clastos maiores que também ocorrem em maior número (mas ainda ≤1%). Foi encontrado um fóssil lenhoso com cerca de 2cm, de parte de um galho que passou pelo processo de carbonificação, restando apenas uma película de carbono sobre a rocha. N) Diamictitomaciço (Dm) A fácies Dm foi observada nos afloramentos 79 e 80. A rocha tem cor cinza escuro, de textura maciça e em alguns pontos apresenta aspecto pastilhado. A matriz lamosa com predomínio de argila, os clastos têm composição riolítica, são sub- esféricos e arredondados, variam de 5mm até 3cm e ocorrem esparsos em meio à matriz, representam cerca de 5% do volume total da rocha. A fácies não apresenta continuação lateral, sendo observada apenas nos dois afloramentos citados. Foi encontrado um fóssil lenhoso semelhante àquele encontrado na fácies Lmg, este com cerca de 1cm e também sendo parte de um galho que parece ter passado polo processo de carbonificação, restando apenas uma película de carbono sobre a rocha. 29 O) Basalto (B) A fácies B foi observada nos afloramentos 3, 39, 40, 42, 44, 54, 63, 68 e 70. Ocorre subordinadamente às rochas sedimentares encontradas na região, são rochas ígneas subvulcânicas de composição basáltica e definem duas soleiras intrudindo nos contatos entre os estratos sedimentares e suas fraquezas. A rocha encontrada é um diabásio hipohialino que apresenta disjunções colunares no ponto 42 e com esfoliação esferoidal nos pontos 3, 39 e 42. Estas rochas estão associadas a pequenas quedas d’água nos pontos 40, 42 e 54 atuando como patamares que sustentam o relevo. E ainda, no ponto 54, os estratos sedimentares localizados até aproximadamente 3m acima e abaixo da soleira encontram-se silicificados. Figura 12: A) Contato entre basalto sob folhelhos da fácies Fc; B) Esfoliação esferoidal na fácies B. Figura 11: A) Diamictito maciço com clasto centimétrico de granitoide; B) Fóssil lenhoso na fácies Dm. 30 P) Sedimentos inconsolidados (Qa) A fácies Qa consiste em sedimentos inconsolidados encontrados nos pontos 36, 41, 85 e delimitados por interpretação de imagens aéreas. Os grãos variam de argila a blocos de composição variegada, sendo que no ponto 85 encontram-se blocos de até 15 cm de ritmitos em matriz arenosa, provavelmente originados por deslizamentos de encosta das unidades sedimentares cercanas. 4.1.2. Associações de fácies e ambientes deposicionais A partir da análise das fácies descritas, foram caracterizadas cinco associações de fácies (AF) que indicam assim os prováveis ambientes deposicionais das mesmas. • Associação de fácies 1 – Ambiente indefinido Os arenitos maciços (Sm) e finos laminados (Fl) compõem a associação de fácies 1. Não foi possível definir os ambiente e sistema deposicionais da AF1 pela ausência de afloramentos conclusivos na área 5. Entretanto aventa-se a hipótese de que fluxos de detritos e decantação ocorrendo num sistema marinho profundo em Identificação Sistema deposicional Fácies associadas AF1 Indefinido Sm; Fl AF2 Marinho Profundo com Influência Glacial Flc; Rc AF3 Leque Submarino Smr-i; R; Rrs; Fm; H AF4 Movimento Gravitacional de Massa Lmg; Smr-i; R; Dm; Rd; Sd AF5 Delta Channel Sa; Sp Tabela 2: Tabela de associação de fácies, identificação das associações e sistema deposicional. 31 contato direto com geleiras seja a origem desses estratos. Esta hipótese é corroborada pelos dados obtidos na área 6. • Associação de fácies 2 – Ambiente marinho profundo com influência glacial A associação de fácies 2 é basicamente formada por folhelhos negros e ritmitos, ambos contendo clastos caídos (Flc e Rc). Esta sucessão é constituída por um pacote de folhelhos com níveis rítmicos intercalados com espessura de até 60m e seu ambiente deposicional é interpretado como marinho profundo com influência glacial. A fácies Flc tem uma considerável extensão lateral, podendo ser acompanhada até a metade da área estudada, onde deixa de ser observada pela morfologia do relevo e ângulo de mergulho do próprio folhelho. Já a fácies Rc ocorre de forma subordinada e tem baixa continuidade lateral, em alguns casos é possível ver seu aparecimento e desaparecimento em escala de afloramento. Internamente as relações de contatos entre as fácies ocorrem vertical e lateralmente, sendo que verticalmente este contato pode ser gradual ou abrupto e lateralmente ocorrendo geralmente de maneira gradual. A grande presença de folhelhos constituídos basicamente de material nas granulações silte e argila com estruturas plano-paralelas indicam que a deposição ocorreu em ambiente dominado por processos gravitacionais, preferencialmente por decantação, abaixo da zona de influência das ondas e marés, indicando um ambiente marinho-profundo (Schneider, 1974). Já os níveis rítmicos indicam o aporte de sedimentos mais grossos, provavelmente trazidos por variados pulsos turbidíticos de baixa densidade (Lowe, 1982 apud Fallgatter, 2016; Vesely, 2006). Nas duas fácies desta associação há a ocorrência de clastos caídos milimétricos a centimétricos perturbando sua laminação, o que indica a presença de icebergs ou plataformas flutuantes de gelo atuando, não como agente deposicional, mas como fontes de sedimentos depositados gravitacionalmente a partir do degelo das mesmas. O conjunto dessas evidências e interpretações permite caracterizar um ambiente marinho profundo com influência glacial, bem como a progradação de um sistema turbidítico sobre esse sistema glácio-marinho. De forma geral, a decantação de finos que ocorria na bacia começa a gradar para uma deposição turbiditica, 32 provavelmente originada pelo cada vez mais intenso degelo da cobertura glacial Gondwânica levando sedimentos à bacia (Milani, 1997 e Milani et al., 2007). A posição estratigráfica assim como as características das fácies encontradas (Flc e Rc) correlatam a AF2 ao folhelho Lontras, base da Formação Rio do Sul (Schneider et al, 1974). Agrupando a laminação plano-paralela comum nesses estratos, a predominância de decantação de finos (argila+silte) e a revisão bibliográfica (Schneider et al, 1974; França & Potter, 1988 e Aquino, 2016), define-se um sistema marinho profundo para esta associação, corroborando sua correlação com o folhelho Lontras. Vesely (2006) aponta outros dois fatos importantes que corroboram com a caracterização do ambiente deposicional da AF2: o primeiro é que folhelho Lontras estaria próximo a superfície de máxima inundação marinha e, segundo, que mesmo com o recuo das geleiras (em contraponto a superfície máxima de inundação marinha) o corpo de gelo ainda mantinha contato com o mar, comprovando a influência glacial na deposição desta associação. • Associação de fácies 3 – Ambiente deposicional marinho profundo Esta associação possui espessura aproximada de 100m e é formada pelas fácies: Arenito maciço com ripples no topo e intraclastos na base (Smr-i); Ritmito (R); Figura 13: Folhelhos da associação de fácies 2 sob arenitos da associação de fácies 3. 33 Ritmito com ripples e climbing ripples e marcas de sola (Rrs); Finos maciços (Fm) e Heterolito (H), sendo que as fácies Smr-i e R são as que predominam neste intervalo. A associação foi interpretada como sendo resultados de leques submarinos de sistema misto de areia e lama, com base na variabilidade no conteúdo de areia e lama de cada fluxo configurando fluxos de alta e baixa densidade (Reading & Richards, 1994 in Nichols, 2009) e também pela proximidade com as porções que variam de “Inner Fan: Thin-bedded levee” a “Distal Fan: Thin, fine-grained turbidites.” No modelo proposto para leques submarinos por Nichols (2009). Esta interpretação sobre fluxos de alta e baixa densidade se revelam nas fácies Smr-i, R e Fm. Smr-i e R ocorrem de maneira intercalada sendo que a presença de Srm-i sob R é constante. A fácies Fm ocasionalmente junto a R (lateralmente ou acima) e em outros casos ainda os estratos de Smr-i podem acontecer de forma amalgamada. A fácies Srm-i tem gradação normal variando de 0,1m até cerca de 3 m e as espessuras dafácies R variam de 0,02m até cerca de 3m. Contudo, percebe-se que as espessuras dessas fácies são inversamente proporcionais, ou seja, quanto mais espessos os estratos de uma, mais finos são os da outra, dentro de um determinado nível estratigráfico. 34 Cada um desses pares ou trios de fácies é interpretado como um evento de deposição por fluxo turbidítico. Há alternância ao longo de toda a associação, hora tendo estratos arenosos mais espessos e hora tendo estratos lamosos mais espessos, o que permite definir sua deposição como resultado de fluxos de alta e baixa densidade. O fato de a fácies arenítica predominante na associação ter gradação normal, permite concluir também que este sistema de leques submarinos era alimentado pelo colapso de frentes deltaicas, como já constatado por Fallgatter (2015). O evento deflagrador destes colapsos pode estar ligado ao avanço e recuo de geleiras e mudanças no nível de base causados pelo mesmo motivo. Figura 14: Associação de fácies 3. A) Intercalação de Smr-i e Rrs com B) Marcas onduladas e C) Intraclasto na fácies Smr-i. 35 A fácies Rrs se encontra em meio a associação descrita acima, ocorrendo como um pacote com cerca de 15m de espessura e é composta por material que se concentra entre a granulação argila e areia muito fina. Esta fácies foi descrita como um ritmito, sendo composta de intercalação de níveis lamosos com níveis silto-arenosos cujos níveis arenosos possuem ripples e ocasionalmente cilmbing-ripples, além de estruturas de carga e fluxo em diferentes níveis desta fácies. Estas estruturas permitem que a mesma possa ser interpretada como TBT’s (Tin Bedded Turbidites). Observando a AF3 da base para o topo, podemos ver que a transição para a fácies Rrs é gradual e que, após sua sedimentação, o retorno ao padrão comum de deposição da associação é abrupto. Esta diferença pode ter duas origens, a primeira sendo uma mudança na rota ‘normal’ dos fluxos, seja ela pela quantidade de sedimentos fornecidos ou pelo acúmulo de material nesta parte do ambiente, incitando o desvio dos fluxos de mais alta densidade que se depositaram então em outras pastes do próprio leque. Outra hipótese é de que, sendo estes leques submarinos alimentados por deltas marginais, uma mudança no seu aporte de sedimentos resulta numa diferente composição granulométrica e geometria dos turbiditos a ele associados. 36 • Associação de fácies 4 – Ambiente deposicional de talude As fácies Lmg, Smr-i, R, Dm, Rd e Sd estão agrupadas na associação de fácies 4 e foi interpretado um sistema deposicional por movimentos gravitacionais de massa em um ambiente de talude (Eyles e Eyles, 1993). A fácies lamitos maciços com granocrescência ascendente da matriz e clastos (Lmg) encontra-se sob turbiditos formados pelas fácies ritmito (R) e arenito maciço com ripples e intraclastos (Smr-i). Isto indica presença de fluxos de detritos (Lmg) e de correntes de turbidez de baixa (R) e alta (Smr-i) densidade agindo. De forma semelhante, a fácies diamictito maciço (Dm) encontra-se imediatamente abaixo de turbiditos representados pela intercalação de R e Smr-i. Esta constatação permite Figura 15: A) Turbiditos da AF3 e B) a relação entre seus estratos; C) Smr-i da AF3 com marcas de sobrecarga sobre Rrs e D) camdas amalgamadas. 37 interpretar a ocorrência de um fluxo híbrido na deposição destes estratos sendo que R e Smr-i provavelmente são formadas por correntes de turbidez cogenéticas aos fluxos de detritos que depositaram Flg e Dm (Haughton et al, 2009; Fallgatter, 2015; Fallgatter et al, 2017). Acima de ambos depósitos de fluxos híbridos ocorrem depósitos de movimento de massa (MTD- Mass Transport Deposits), classificados a partir das deformações dos estratos de ritmitos (Rd) e arenitos (Sd) como escorregamentos (slump) (Posamentier e Martinsen, 2011). Portanto o ambiente deposicional seria um talude instabilizado pelo sobrepeso dos sedimentos, desmoronando em forma de slumps (Rd e Sd) que originaram os fluxos híbridos formadores de Dm, Lmg, R e Smr-i bacia adentro. A sequência Lmg, R, Smr-i e Rd seria o registro de uma progressão do sistema sobre a bacia, de forma que os MTD’s acabassem por se depositar sobre estratos de debritos e turbiditos cogenéticos originados por movimentos gravitacionais de massa anteriores. Este raciocínio aplica-se também à sequência Dm, R, Smr-i, Rd e Sd. Figura 16: A) Afloramento de AF4 no ponto 9; B) Ripples deformadas da fácies Rd; C e D) Ritmitos com laminação muito deformada evidenciando slump. 38 • Associação de fácies 5 – Ambiente deltaico dominado por maré A associação de fácies AF5 compreende as Fácies Arenito com estratificação cruzada acanalada de baixo ângulo (Sa) e Arenito com estratificação cruzada planar (Sp) cujo contexto deposicional foi interpretado como flúvio deltaico dominados por maré. A fácies Arenito com estratificação cruzada acanalada de baixo ângulo (As) depositado logo acima da associação faciológica AF4 possui uma gênese diferente das demais já mencionadas. O caráter radial das medidas de paleocorrentes para essa fácies demostram um retrabalhamento da frente deltaica em zonas de corrente de maré de alta energia, formando barras de areia de maré, no qual sedimentos oriundos de canais fluviais depositam-se no mar. (Nichols, 2009). A fácies Arenito com estratificação cruzada planar (Sp), reforça tal característica impondo um caráter mais trativo ao fluxo. A composição textural de granulometria areia fina variando até areia média nesta associação faciológica é outro importante indicador de baixo gradiente de deposição, muito comum em deltas dominados por maré. Tais interpretações corroboram com Nichols (2009), segundo qual as características de reversão do sentido de fluxo, demonstradas no presente trabalho pelas medidas de paleocorrentes, são importantes feições para definição de deltas dominados por maré. A granocrescência ascendente da associação da AF5 diferencia seu sistema deposicional dos estuarinos, já que estes apresentam características retrogradacionais e/ou transgressivos, contrário ao que constatado na área estudada. 4.1.3. Litoestratigrafia A Bacia do Paraná é dividida em seis Supersequências tectonossedimentares (Milani,1997; Milani et al, 2007) sendo que, à exceção do Grupo Serra Geral, a Supersequência Gondwana l incorpora todas as formações encontradas na área em estudo. Segundo Schneider et al (1974), o Grupo Itararé é dividido nas formações Campo do Tenente, Mafra e Rio do Sul enquanto o Grupo Guatá é dividido em formação Rio Bonito e Palermo, ambos Grupos inseridos na Supersequência Gondwana l de Milani (1997) e Milani et al (2007). Na região mapeada relaciona-se as seis unidades sedimentares encontradas às formações Mafra, Rio do Sul e Rio Bonito ao passo que a única manifestação magmática na região está inserida no Grupo Serra 39 Geral, pertencente a Supersequência Gondwana lll. As unidades e a associação de fácies que elas englobam estão organizadas na tabela 3. Tabela 3: Unidades estratigráficas mapeadas e sua correlação litoestratigráfica se acordo com Schneider et al, (1974). Unidade 7: Formação Mafra Superior A associação de fácies 1 pode ser correlacionada à parte superior da formação Mafra (Schneider et al, 1974) pelo seu posicionamento estratigráfico (abaixo dos folhelhos Lontras) e por interpolação de dados com a área 6. Unidade 6: Formação Rio do Sul - Folhelhos Lontras A posição estratigráfica assim como as características das fácies encontradas (Flc e Rc) correlatam a AF2 ao folhelho Lontras, base da Formação Rio do Sul (Schneider et al, 1974) que foi classificada como membro por França & Potter, 1988. Agrupando a laminação plano-paralela comum nesses estratos, a predominância de decantaçãode finos (argila+silte) e a revisão bibliográfica (Schneider et al, 1974; França & Potter, 1988 e Aquino, 2016), define-se a correlação com o folhelho Lontras. Vesely (2006) aponta outros dois fatos importantes que corroboram com a caracterização do ambiente deposicional da AF2: o primeiro é que folhelho Lontras estaria próximo a superfície de máxima inundação marinha e, segundo, que mesmo com o recuo das geleiras (em contraponto a superfície máxima de inundação marinha) Unidade estratigráfica Associação de fácies Correlação litoestratigráfica 7 AF1 (Sm, Fl) Fm. Mafra 6 AF2 (Fc, Rc) Fm. Rio do Sul – Folhelho Lontras 5 AF3 (Smr-i, R, Rrs, Fl, H) Fm. Rio do Sul 4 AF4 (Lmg, Smr-i, Dm, R, Rd, Sd) Fm. Rio do Sul 3 AF5 (Sa, Sc) Fm. Rio Bonito – Membro Triunfo 2 Fácies B Grupo Serra Geral - PMPE 1 Fácies Qa Quarternário 40 o corpo de gelo ainda mantinha contato com o mar, comprovando a influência glacial na deposição desta associação. Unidade 5: Formação Rio do Sul – Médio Considerando as estruturas turbidíticas observadas em campo, a disposição espacial destes estratos (acima do folhelho Lontras) e a bibliografia sobre a geologia regional (Schneider et al, 1974; França & Potter, 1988; Vesely, 2006; Fallgatter, 2015; Aquino, 2016) define-se que a AF3 corresponde a porção mediana da Formação Rio do Sul, na concepção de Schneider et al (1974). Unidade 4: Formação Rio do Sul – Superior O registro de sistemas deposicionais mais rasos em ambiente de talude marinho aliado a posição estratigráfica, logo abaixo de depósitos deltaicos do Grupo Guatá (próximo tópico) define a unidade litoestratigráfica 4 como parte superior da Formação Rio do Sul (Schneider et al, 1974; França & Potter, 1988; Vesely, 2006). Unidade 3: Formação Rio Bonito – Membro Triunfo As posições estratigráficas assim como as observações feitas em campo (arenitos bem selecionados em discordância com os diamictitos do Rio do Sul) definem a associação faciológica 5 como pertencente ao Grupo Guatá, Formação Rio Bonito/Membro Triunfo (Schneider et al. 1974). Castro (1999), destaca que os arenitos com estratificação cruzada na base do Formação Rio Bonito/Membro Triunfo (Schneider et al. 1974) possuem contexto de posição de frente deltaica proximal, consentindo com a interpretação do presente trabalho. Unidade 2 – Grupo Serra Geral As rochas ígneas vulcânicas encontradas na área são diabásios intrudidos entre os estratos de rochas sedimentares do Grupo Itararé, indicando assim que pertencem a única manifestação magmática-vulcânica posterior registrada na Bacia do Paraná, o Grupo Serra Geral da Província Magmática do Paraná-Etendeka (Peate et al, 1992). 41 Unidade 1 – Quaternário Os colúvios e aluviões encontram-se acima de todos os litotipos já citados, logo são mais recentes segundo a Lei de Stokes. Associando este fato à interpretação de imagens aéreas e características descritas em campo pode-se definir que esta fácies corresponde a depósitos Quaternários. São pacotes essencialmente arenosos formados a partir de erosão e ressedimentação de rochas circundantes por movimentos gravitacionais subaéreos e fluxos fluviais. 4.2. Dados estruturais Para melhor entendimento da área estudada foram coletadas durante as etapas de campo medidas do contato entre estratos, laminações, paleocorrentes e fraturas. Para tanto foram usadas duas bússolas tipo Brunton que obtiveram valores na forma de rumo e azimute. Para interpretação das fraturas e paleocorrentes foram feitos diagramas de roseta com o auxílio do programa GeoRose 0.5.1. Já para estratos e laminações foi confeccionado uma projeção estereográfica no diagrama de Schimidt-Lambert com o auxílio do programa OpenStereo. As feições rúpteis da área se manifestam na forma de fraturas. Foram identificadas duas famílias de fraturas, que se manifestam de maneira constante. A família 1 está restrita as unidades estratigráficas 4 e 5 deste trabalho. A família 2 é melhor observada nas unidades estratigráficas 4 e 5, mas pode ser vista ocasionalmente na unidade 6. As famílias foram determinadas através da direção preferencial das mesmas em relação ao norte, com base em 22 medidas. a) Família de fraturas 01 (F1): As fraturas ocorrem paralelas e tem trend N10W- N10E, com direção média N05E e não apresentam preenchimento. A superfície de ruptura é lisa e a geometria da superfície é plana. O espaçamento é estreito (6cm – 20cm) próximos aos grandes lineamentos NNE da área e pode chegar a ser largamente espaçada (>2,0m) a medida que se afasta dos mesmos. Quanto a abertura, variam de estreitas (0,2cm – 0,6cm) a moderadamente estreitas (0,6cm – 2,0cm). A persistência é muito variável, e depende da reologia da rocha fraturada. Em arenitos raramente a fratura se propaga continuamente por vários estratos, 42 geralmente é refratada na passagem de um estrato para o outro. Já nos folhelhos e ritmitos se propaga continuamente por afloramentos inteiros. b) Família de fraturas 02 (F2): As fraturas são paralelas entre si e tem trend N60-80W, com direção média N65W e não apresentam preenchimento. A superfície de ruptura é lisa e a geometria da superfície é plana. É moderadamente espaçada (20cm – 60cm), a medida que se caminha para o norte da área o espaçamento aumenta e a fratura deixa de ser observada. Quanto a abertura, são estreitas (0,2cm – 0,6cm). A persistência é muito variável e depende da reologia da rocha fraturada. Em arenitos raramente a fratura se propaga continuamente por vários estratos, geralmente é refratada na passagem de um estrato para o outro. Já nos folhelhos e ritmitos se propaga continuamente por afloramentos inteiros. Figura 17: Gráfico de roseta construído a partir das medidas de fraturas da área 5, n=22. As paleocorrentes foram agrupadas por unidades, uma vez que cada unidade litológica representa também uma associação de fácies no presente trabalho. As medidas foram obtidas a partir da medição de ripples nas fácies Smr-i; Srr e Sa em diferentes afloramentos e são referentes as unidades 3, 4 e 5. Não foi possível obter medidas de paleocorrentes para as unidades 6 e 7 por falta de estruturas que pudessem fornecer tais dados. A Unidade 3 (U3) é relativa a um ambiente deltaico dominado por maré e possui uma grande variação nas medidas das suas paleocorrentes. Possui valores dispersos ao longo de 255º sendo que apenas o intervalo Sul entre N115 e N220 não apresenta 43 nenhuma paleocorrente. Este fator foi utilizado para interpretar a estrutura cruzada acanalada da U3 como Swaley. Além disso, esta dispersão também corrobora o fato da fácies Sa, inclusa nesta unidade, ter sido depositada a partir de fluxos oscilatórios. A Unidade 4 (U4) é relativa a um ambiente de talude e possui uma direção bem definida de paleocorrentes entre ENE e E. Esta direção bem definida, pode ser condicionada pela baixa quantidade de dados estruturais desta unidade. A Unidade 5 (U5) é relativa a um ambiente marinho-profundo transacionando para um ambiente de talude, sendo depositada por sistemas de leques submarinos e tem valores preferencialmente para Sul. Esses valores variam de SE a SW. Figura 18: Medidas de paleocorrentes para área 5. Em ordem a partir da esquerda: Unidade 3 (n=34); Unidade 4 (n=5) e Unidade 5 (n=32) 44 Com relação as atitudes dos estratos e laminações, foi observada uma tendência geral de mergulho para W, predominando as medidas com mergulho para W-NW com alguma variação para SW. Estas medidas são concordantes com o caimento geral da bacia. Existem também camadas com caimento para E (predominando caimento para NE). Estas camadas se concentram próximas aos lineamentos que ocorrem com direções NEN e NWN, gerando dispersão no estereograma. Figura 19: estereograma
Compartilhar