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EDUCAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM FREIRE: DESAFIOS DA ATUALIDADE Vol. 1 EDUCAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM FREIRE: DESAFIOS DA ATUALIDADE Vol. 1 Organizadores: Maria Aparecida Vieira de Melo Maria Erivalda dos Santos Torres Ricardo Santos de Almeida Recife, PE 2021 Produzido por: Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro de Educação (CE), Recife, Pernambuco, Brasil. CEP: 50740-530 https://www.centropaulofreire.com.br/ ©Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Copyright © 2021. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio. Lei n. 9.610 de 19/02/1998 (Lei dos Direitos Autorais). A reprodução de pequenos trechos de obras preexistente, não constitui ofensa aos direitos autorais, desde que a reprodução em si não seja o objeto principal da obra nova nem cause prejuízo aos interesses dos autores. Sempre referencie a fonte. A obra pode ser utilizada e adquirida para fins didático-pedagógicos. 2021. Escrito e produzido no Brasil. Na obra ora a escrita referindo-se ao pensamento de Freire aparecem ora freiriano e ora freireano. Nós organizadores até pensamos em dar uma unidade, pois há controvérsia sobre a escrita, mas em respeito aos autores e autoras consideramos suas enunciações. Colaboração, revisão e diagramação: Ricardo Santos de Almeida Capa diagramada a partir da foto original disponível em: https://sinproeste.org.br/wp- content/uploads/2016/09/paulo-freire-4-600x300.jpg CONSELHO EDITORIAL CENTRO PAULO FREIRE – ESTUDOS E PESQUISAS Agostinho da Silva Rosas UPE e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Ana Paula de Abreu Costa de Moura UFRJ e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Ana Maria Saul PUC/SP e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Eliete Correia dos Santos UEPB – Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Inés María Fernández Mouján Cátedra Paulo Freire, Universidad Nacional de Mar del Plata, Centro de Investigaciones y Estudios en Teoria Poscolonial, Universidad Nacionl de Rosario, Argentina e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Inez Maria Fornari de Souza Joaquim Luís Medeiros Alcoforado Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Universidade de Coimbra/Portugal e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Luiza Cortesão Professora Emérita da Universidade do Porto, Presidente do Instituto Paulo Freire de Portugal e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Maria Aparecida Vieira de Melo Maria Fernanda dos Santos Alencar UFRN e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas UFPE e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Mírian Patrícia Burgos Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas e Instituto Paulo Freire de Portugal Ricardo Santos de Almeida IFAL, UFAL/NUAGRÁRIO, Prefeitura Municipal de Porto Calvo/AL e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas COMISSÃO CIENTÍFICA EDITAL 001/2020 Afonso Celso Caldeira Scocuglia UFPB Ana Paula de Abreu Costa de Moura UFRJ Anair Silva Lins e Mello AMESG Andréa Alice da Cunha Faria UFRPE André Gustavo Ferreira da Silva UFPE Cinthya Lúcia Martins Torres Saraiva de Melo UFPE Eduardo Jorge Lopes da Silva UFPB Eliete Correia dos Santos UFPB Fernanda da Costa Guimarães Carvalho UFPE Heron Ferreira Souza IFBAIANO José Dilson Beserra Cavalcanti UFPE Maria Aparecida Vieira de Melo UFRN e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Maria Fernanda dos Santos Alencar UFPE Ricardo Santos de Almeida IFAL e Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas Sara Ingrid Borba FEPEC/AL SUMÁRIO Prefácio Maria Aparecida Vieira de Melo; Maria Erivalda dos Santos Torres; Ricardo Santos de Almeida 10 Apresentação Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire Eliete Correia dos Santos 15 Esperançar em Paulo Freire 30 Um olhar freireano sobre a Educação Profissional Remota Maria Carla dos Santos Nogueira 31 Paulo Freire e o uso das tecnologias digitais na educação: tessituras, fios e nós Maria do Rosário Gomes Germano Maciel; Aníbal de Menezes Maciel 53 Paulo Freire em tempos de pandemia: refletindo sobre relações humanizadas no “novo” convívio escolar Karine da Silva Wasum; Jonas Grachten Fraga; Viviane Maciel Machado Maurente 77 As pedagogias de Freire embasando projetos com refugiados no IFRS - Campus Porto Alegre: da leitura da palavra à geração de emprego e renda para o enfrentamento ao COVID-19 103 Ana Rosaura Moraes Springer; Jaqueline Rosa da Cunha As tecnologias da informação e comunicação na perspectiva freiriana Luiz Claudio Correia dos Santos; Carlos Alberto Vasconcelos 132 SUMÁRIO Ato educativo e social em Paulo Freire 154 Avaliação formativa no curso de Engenharia de Computação: uma prática pedagógica em diálogo com Paulo Freire Edison de Queiroz Albuquerque; Targélia Ferreira Bezerra de Souza Albuquerque 155 Diálogos com Paulo Freire: contemporaneidade Ana Paula de Abreu Costa de Moura 192 Paulo Freire: os laços afetivos no tear da vida dos(as) dos(as) educadores(as) Eliana Sampaio Romão; Telma Sampaio Romão; César Aparecido Nunes 203 Prática pedagógica, Educação Popular, exílio e outros temas: o que dizia Freire? Ana Paula Campos Cavalcanti Soares; Lara Matoso del Boccio; Bruna Nascimento 229 Práticas literárias na Educação de Jovens e Adultos a partir de contribuições freirianas Juliana da Costa Neres 260 Resistência multicultural à luz de uma trama conceitual freiriana Raisa Albuquerque Andrade; Rita de Cassia Cavalcanti Porto 275 Educação do Campo e Paulo Freire: contribuições para uma educação emancipadora Maria Girlene Callado da Silva; Maria Fernanda dos Santos Alencar; Saulo Ferreira Feitosa 300 SUMÁRIO Exploração do acervo Paulo Freire: o que dizem os artigos Carla Netto; Fernanda Carvalho da Fonseca; Slaine Senra 322 Formação Política em Paulo Freire: leitura/releitura e escrita/reescrita de mundo Alder Júlio Ferreira Calado 342 O mundo é uma história ou uma cela? Sthella Laryssa Barros Loureiro Lima 353 O pensamento freiriano e a igreja: nem ingênuos nem espertos Jevison Cesário Santa Cruz; Maria do Rosário Alves Leite 372 Educação de Jovens e Adultos e a Gestão Escolar: o papel do gestor inovador Ana Patrícia Falcão de Oliveira; Dalva Lucia Carvalho; Patrícia Carla da Hora Correia 397 O sujeito neoliberal e o sujeito de sua própria história: a ação dialógica como saída à subjetivação da nova razão do mundo Elis Regina Arévalos Soares 422 7 Prefácio aria arecida ieira de elo 10 7 Prefácio11 aria rivalda dos an os orres 7 Prefácio icardo an os de lmeida 12 13 Prefácio PREFÁCIO A realização desta obra EDUCAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM FREIRE: DESAFIOS DA ATUALIDADE surge com o desejo de três pessoas que lutam pela difusão do pensamento do educador Paulo Freire. Pessoas simples que vislumbraram na educação mudança significativas na construção de suas histórias. Cada um de nós estabeleceu metas e propósitos em nossas vidas para atingir os nossos objetivos. E um deles foi que, através de uma educação libertadora, vidas puderam ser transformadas. Maria Erivalda dos Santos Torres é filha de agricultor e agricultora que migraram do Nordeste para o Sudeste do país, eles tornaram-se pedreiro e empregada doméstica, em uma grande cidade chamada São Paulo. Estudou em escola pública, se formou professora e conheceu Paulo Freire no início de sua carreira profissional, foi gestora administrativa e pedagógica da rede privada durante 26 anos, funcionária pública com atuação como professora e supervisora regional. Uma profissional que também, na pós-graduação, atuou em uma universidade pública, a Universidade de Pernambuco (UPE). E chegou à presidência do Centro Paulo Freire - Estudos e Pesquisas. Maria Aparecida Vieira de Melo uma camponesa, filha de pais camponeses, almejava galgar uma trajetória diferente de seus pais. Sempre estudou na escola pública e fez graduação e suas pós- graduações em universidades públicas federais. Doutora pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), professora da Universidade Aberta do Brasil/ Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAB/UFRPE) e Diretora Pedagógica do Centro Paulo Freire - Estudos e Pesquisas. Ricardo Santos de Almeida é alagoano, filho de pais que sempre lhe permitiu autonomia e liberdade sobre os caminhos a trilhar com amorosidade. É educador e educando, associado ao Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas e atua como pesquisador nas redes públicas de ensino sobre as seguintes temáticas: agronegócio, território e territorialidades, processos de ensino-aprendizagem em Geografia e Educação do/no campo. Embora disponha de diversas Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 14 formações e titulações acredita que os conhecimentos também podem ser construídos dentro e fora dos muros das escolas em uma relação dialógica com os diversos cotidianos. O diálogo inicial surge com o desejo de construir uma obra que houvesse uma diversidade de vozes e experiências pesquisadas. Essa obra nos propõe essa oportunidade de construir o conhecimento a partir dos diversos territórios em uma visão estreitamente freiriana. O momento histórico atual, pandêmico, nos suscita cada vez mais a leituras críticas libertadoras e é isso que estamos propondo aqui. A obra dividida em duas partes. A primeira Esperançar em Paulo Freire e a segunda Ato educativo e social em Paulo Freire. O primeiro capítulo apresenta um panorama contextualizado da obra, detalhando o objetivo dos autores e temática escolhida por eles. Nos capítulos seguintes, vamos tecendo a leitura de forma rebuscada e crítica para a construção de um conhecimento libertador e emancipatório dos homens e mulheres que constroem suas histórias de vida para ser mais, construindo uma educação com o outro e não para o outro. A leitura nos reserva o direito e o dever de aprofundar o pensamento e de sermos mais e mais humanizados. Finalmente, torna-se impossível não ressaltar o quanto a obra é recheada de belas produções, o quanto cada um e cada uma colocou aqui o seu sentimento, a sua amorosidade, o seu conhecimento criador. Não para repetir Paulo Freire, mas para reescrevê-lo e recriar os espaços que atuamos na transformação de um mundo mais justo e igualitário. Fazemos um convite a uma leitura dialógica e libertadora. Os organizadores Maria Aparecida Vieira de Melo Maria Erivalda dos Santos Torres Ricardo Santos de Almeida Brasil, verão de 2021 SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 15 lie e orreia dos an os 15 Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 16 APRESENTAÇÃO OUSAR A ESPERANÇAR: PARA INICIAR A CONVERSA COM O LEGADO DE PAULO FREIRE Eliete Correia dos Santos1 Sinto-me lisonjeada por ser convida para fazer este primeiro capítulo que apresenta esta obra EDUCAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM FREIRE: DESAFIOS DA ATUALIDADE e se junta a uma vasta publicação dos membros do Centro Paulo Freire. Primeiro, porque estamos comemorando os cem anos deste grande homem que muito nos representa em seu discurso, em sua trajetória, em seu legado. Não é qualquer um que chega aos 100 sendo o terceiro autor mais citado das ciências humanas/sociais no mundo todo e que tem a Pedagogia do oprimido1 entre os 100 livros mais referenciados em língua inglesa mundo afora. Segundo, porque sei do empenho investigativo e dos encontros contínuos dos membros desta instituição em manter aceso o diálogo2 e a liberdade3 tão buscada pelo Mestre Paulo Freire; terceiro, por fazer parte do comitê científico e poder debater e deixar viva a esperança do legado de Paulo Freire na defesa da necessidade da transição de uma consciência ingênua para uma consciência crítica. ou ainda preocupado com a consciência das classes populares tão impactada pela miséria exacerbada por uma pandemia sui generis. A obra é composta por dezoito artigos, dividida em duas partes: 1. Esperançarem Paulo Freire4 e 2. Ato educativo e social em Paulo Freire. O livro comprova que os estudos sob base freiriana podem ser variados e ultrapassar fronteiras para escolha de seus objetos de estudo e esferas de comunicação, investigar o presente, mas sempre recorda o seu passado, o seu começo, o texto visto como um representante da memória criativa no processo de desenvolvimento 1Professora e coordenadora do curso de Arquivologia, Professora do PPGLE-UFCG e do PPGFP-UEPB. Pós- doutora em Educação Contemporânea – UFPE, Doutora em Linguística – UFPB com Doutorado-sanduíche na Universidade do Porto, Mestre em Linguagem e Ensino - UFCG. Líder do Grupo de Pesquisa Arquivologia e Sociedade – GPAS e membro do GPLEI. Presidente da Rede Internacional SESA. E-mail: professoraeliete@hotmail.com SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 17 literário, sobretudo na conjuntura atual de uma situação pandêmica e de grandes desigualdades sociais. A primeira parte Esperançar em Paulo Freire proporciona um contributo para a reflexão da educação e da situação pandêmica, como se percebe a seguir. Iniciando com o texto Um olhar freiriano sobre a Educação Profissional Remota de Maria Carla dos Santos Nogueira apresenta o pensamento freiriano como alicerce da Educação profissional remota ofertada pelo Senac de Balsas no ano 2020, mediante a análise dos princípios da Pedagogia da Autonomia que possibilitaram a realização de trabalhos a distância, constituindo uma educação libertadora em oposição ao modelo de educação bancária. A autora destaca que, no novo normal, nota-se que a educação escolar deve conduzir os sujeitos aprendentes ao desenvolvimento global e humano, enfatizando os valores sociais, despertando e estimulando-os para a prática da verdade, da justiça, do respeito e da solidariedade. Na Educação Profissional, essas ideais se equilibram com as concepções educacionais proferidas por Freire, que crê na edificação de uma educação autêntica direcionada a justiça e a paz. Santos enfatiza que as lições de Freire, em especial extraídas do livro Pedagogia da Autonomia, são compatíveis e reforçam a proposta do Senac de desenvolvimento de uma educação mais crítica, colaborativa, autônoma e emancipadora, onde a relação e posição dos educadores e educandos encontra-se em equilíbrio mesmo no período de pandemia. O texto Paulo Freire e o Uso das Tecnologias Digitais na Educação: tessituras, fios e nós de Maria do Rosário Gomes Germano Maciel e Aníbal de Menezes Maciel busca promover uma reflexão acerca do uso de tecnologias digitais aplicadas à educação a partir de algumas categorias da pedagogia freiriana, tais como: a dimensão política e pedagógica da educação tecnológica; a organização social dos homens; a posição de sujeito a partir de conhecimento de mundo que portam; o diálogo; o papel do/a professor/a; texto/contexto. Os autores fazem uma travessia em torno das mudanças que afetam a sociedade na atualidade, particularmente, às relacionadas ao novo paradigma econômico estruturado por intermédio das tecnologias digitais da informação e redes globais de economias; apresentam aproximações entre o uso das tecnologias digitais, a educação e o pensamento Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 18 freiriano, evidenciando a relevância do diálogo, da problematização e da compreensão da linguagem e do mundo digital na atualidade. Explicitam possíveis relações entre o uso de tecnologias digitais, a cultura digital e a formação do/a professor (a) e refletem em torno das contribuições das tecnologias digitais para a atualidade. Como resultado, evidenciam que as categorias freirianas trazem contributos efetivos para alargar entendimentos sobre o uso da ambiência tecnológica digital aplicada à educação. Em Paulo Freire em tempos de pandemia: refletindo sobre relações humanizadas no “novo” convívio escolar, os au ores Karine da Silva Wasum, Jonas Grachten Fraga e Viviane Maciel Machado Maurente discutem as relações escolares em um contexto sociocultural transformado pela pandemia do COVID-19, à luz do referencial freiriano. Destacam a potencialidade da dialogicidade enquanto componente que pode favorecer a criação de relações mais humanizadas em meio ao cenário atual, marcado pela fragilização de alguns vínculos. Os autores afirmam que, diante do cenário de incerteza e distanciamento social, as concepções de Paulo Freire contagiam com a crença na humanidade. Como não poderia deixar de ser, ao discorrer sobre as contribuições do autor frente ao inédito viável, o texto trata, também, da amorosidade e da fé, tão presentes no seu legado, acreditando que, a partir da reflexão de todos os sujeitos envolvidos e da confiança no outro, podemos alcançar um convívio que considere, de forma mais adequada, a capacidade humana e que permita o ser mais na escola. Ana Rosaura Moraes Springer e Jaqueline Rosa da Cunha com o texto As pedagogias de Freire embasando projetos com refugiados no IFRS - Campus Porto Alegre: da leitura da palavra à geração de emprego e renda para o enfrentamento ao COVID-19 buscam demonstrar o quanto as ideias e ideais de Paulo Freire, por uma sociedade melhor, podem ser ao mesmo tempo, o mote e a base para projetos educacionais e de geração de renda e emprego. Segundo as autoras, ao se aproximar o centenário do homem que sonhava com uma escola cidadã, definida por Freire como uma escola de companheirismo, de viver em comunhão, que experiencia no seu cotidiano a democracia, SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 19 nada mais simbólico e potente do que registrar, no Centro Paulo Freire, a reflexão de dois projetos, no meu entender muito interessantes, vivos e latentes que envolvem, desde a escrita, o desenvolvimento e os resultados finais, as diversas pedagogias freirianas. O primeiro projeto é o curso de extensão denominado “ Socie ” complementares para eventos e trocas socioculturais. Nele esforça-se por realizar a inclusão social dos cursistas estrangeiros visando à manutenção de sua identidade sociocultural e, ao mesmo tempo, a construção de uma nova identidade estrangeira, ambas relacionadas ao conceito de 'pertencimento' e ao desenvolvimento de ações sociais pelo uso da língua. O público-alvo são estrangeiros, refugiados e (i)migrantes dos mais diversos países, línguas, dialetos e culturas, como Senegal, Haiti, Guiné-Bissau, Congo, Angola, Arábia, Grécia, Jordânia, Colômbia, Cuba, Venezuela, etc. O segundo projeto teve o mesmo público-alvo, mas com a proposta de ser uma ação educativa empreendedora e de segurança alimentar, que minimizasse os impactos sociais e econômicos causados pela pandemia do Coronavírus na vida dos refugiados como, por exemplo, a dificuldade de acesso a alimentos, tendo em vista a dificuldade de trabalho, pois muitos deles tiram seu sustento através da venda de suas mercadorias nas ruas de Porto Alegre, o que foi proibido enquanto perdurar a pandemia. O presente estudo, foca, portanto, na análise das experiências de desenvolvimento social vivenciadas na extensão do IFRS – Campus Porto Alegre com pessoas refugiadas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. De acordo com as autoras, a metodologia, à luz de Paulo Freire, partiu dos saberes experienciados e vivenciados tanto da equipe como dos participantes dos projetos, que foram elaborados de modo coletivo e dialógico seguindo uma proposta pedagógica na qual as vozes de todos(as) os(as) envolvidos(as) se fizeram ouvir e materializar em ações educativas. A interpretação dos dados foi feita com base na análise dos processos dos projetos e dos ensinamentos de toda a valiosa obra do grande pedagogo Paulo Freire.Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 20 Seguindo a mesma perspectiva de reflexões contributivas da perspectiva de Freire, Luiz Claudio Correia dos Santos e Carlos Alberto Vasconcelos, no texto As tecnologias da informação e comunicação na perspectiva freiriana, discutem o entendimento de tecnologias que perpassam obras freirianas, selecionadas e suas aplicabilidades na educação. É um estudo metodologicamente baseado em obras de Paulo Freire que abordam a temática das tecnologias. Os autores concluem que as abordagens de Freire, quando se referem às tecnologias que se encontram imersas na sociedade e que perpassam a educação, apresentam-nos diálogos e análises sobre seu papel nas mudanças educacionais. Com a segunda parte Ato educativo e social em Paulo Freire, a leitura da obra permite perceber que Freire se via como um pensador, livre da positividade e da modelização formal e se colocava fora de uma racionalidade propriamente científica, desenvolvia um pensar mais livre transcendendo as fronteiras de disciplinas e metodologias estabelecidas. Igualmente, aqui os autores procuram apresentar o mundo não como um objeto calculável com um modelo instrumentalizante de uma análise científica apenas, recusam às correntes do pensamento (estruturalismo e formalismo) e apresentam reflexões científicas nas ciências humanas materializadas por gestos interpretativos, por contínua atribuição de sentidos. Nas variadas esferas de comunicação social (religiosa, literária, escolar, política, etc), os autores apontam o objeto das ciências humanas como o ser expressivo e falante, o próprio texto fazendo um duplo movimento: como resposta ao já dito e também sob o condicionamento da resposta ainda não dita, mas solicitada e prevista; assim, os variados objetos investigados também são falantes a explicar e compreender, uma visão do sentido vivo da vivência na expressão, uma visão do fenômeno internamente compreendido. O texto Avaliação formativa no curso de Engenharia de Computação: uma prática pedagógica em diálogo com Paulo Freire de Edison de Queiroz Albuquerque e Targélia Ferreira Bezerra de Souza Albuquerque destacam que a avaliação educacional, em uma abordagem formativa e emancipatória, ocupa um espaço privilegiado nos debates sobre a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 21 nas instituições de Ensino Superior no Brasil, uma estratégia de gestão dos processos educacionais que pode contribuir com a formação plena do estudante, na medida em que se constitui como prática educativa dialógica, problematizadora, articulando teoria e prática, o que possibilita a tomada de decisões críticas e comprometidas com uma educação para a qualidade social. Trata-se de um relato da trajetória de rupturas com uma avaliação classificatória e a descrição dos momentos de construção da avaliação formativa, em que professor e estudantes se tornam coautores de uma jornada de apropriação crítica do conhecimento e de produção de novos saberes na área de Redes de Computadores. Os autores apresentam uma análise de uma experiência de avaliação “ ” Engenharia de Computação da Universidade de Pernambuco – Brasil, demonstrando ser possível romper com os padrões conservadores de uma cultura de avaliação classificatória, seletiva e excludente. Para eles, ao assumir como pressuposto de que a competência profissional abrange as dimensões política, técnica, ética e estética, esse trabalho procura demonstrar a inseparabilidade da avaliação do ato educativo e foca a necessidade de se construir fundamentos norteadores de uma nova prática avaliativa no Ensino Superior, com base nos princípios do diálogo, da autonomia e emancipação. A metodologia, “ ” modo coletivo e dialógico a proposta pedagógica de avaliação, na qual as vozes dos educandos(as) se fizeram ouvir e materializar em ações educativas. A interpretação dos dados foi feita com base na análise do discurso, levantando-se as categorias de: domínio de conteúdo, base técnica, criticidade, dialogicidade, aprendizagem colaborativa, direito de errar, superar e aprofundar os conhecimentos científicos e criatividade. Diálogos com Paulo Freire: contemporaneidade de Ana Paula Abreu Moura busca sistematizar as discussões realizadas na série Diálogos com Paulo Freire com o tema Contemporaneidade e traz para a discussão categorias centrais da obra do educador como: dialogicidade, concepção bancária de educação, relação educador- Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 22 “ ” em diálogo estas categorias, a partir da narrativa de situações vividas do lugar atual de professora universitária e de reflexões construídas quando ainda lecionava na Educação Básica, alfabetizando operários da Construção Civil. As reflexões tecidas ao longo do texto reafirmam que, apesar de o educador não estar mais fisicamente presente entre nós desde o ano de 1997, seu pensamento continua a inspirar e transpirar em muitos de nós ao conceber e realizar o ato educativo expressando uma ética de solidariedade, que reforça sua grande utopia e incansável esperança nas possibilidades históricas de humanização. Os autores Eliana Romão, Telma Romão e César Nunes são educadores(as) motivados(as) em prestar homenagem a Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) - Educador de primeira grandeza - e amparados por sentimentos de admiração e de gratidão por este Educador com o texto Paulo Freire: os laços afetivos no tear da vida dos(as) educadores(as). Mostram a importância do legado de Paulo Freire para a educação no Brasil e no mundo, sem ficar à margem dos fios que enredam sua história de vida. Amar as pessoas, acreditar nelas, escutá-las, libertá-las dos opressores e, enfim, rir com elas é sua marca e fontes de inspiração. Para os autores, é necessário sorrir com as pessoas, sem o que diminui a disposição de ensinar e, menos ainda, de aprender. A intenção, ao fazer esse artigo, é potenciar a dimensão humana para além do ofício da docência, pois optar por uma educação que se faz amorosamente e aprender a se tornar mais humano é, mais que um convite, uma convocação que pede a palavra em tempos de dias obnubilados, sombrios e frios. O texto Prática pedagógica, Educação Popular, exílio e outros temas: o que dizia Freire? de Ana Cavalcanti, Lara Matoso e Bruna Nascimento analisam os conteúdos dos áudios, disponíveis na home page do Acervo Paulo Freire, em contraponto com suas obras. Para tanto, utilizaram-se da pesquisa qualitativa, descritiva, com levantamento documental, selecionando nove áudios dos vinte e oito disponíveis, a partir dos quais foram realizados análise e estudo das obras relacionadas aos temas abordados nos materiais. Como metodologia de análise, os autores empregaram a Análise Textual SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 23 Discursiva – ATD e afirma que os dados revelaram a coerência dos discursos de Freire com a sua extensa obra bibliográfica e detalhes de sua biografia, sobretudo o período do exílio. Destacam que um dos áudios indica uma temática nunca abordada (claramente) em sua produção bibliográfica, mas consonante com os ideais democráticos sempre defendidos pelo educador, mas só lendo esta obra poderá encontrar esta curiosidade como outras manifestadas pelo conjunto de autores. O trabalho Práticas literárias na Educação de Jovens e Adultos a partir de contribuições freirianas de Juliana da Costa Neres entende que a Educação de Jovens e Adultos representa outra possibilidade de acesso ao direito àeducação escolar, para além disto, “Leituras literárias na Educação de Jovens e Adultos: Experiências com o gênero fábula nas aulas de leitura” apresenta uma discussão freireana que permite à pesquisa da autora a compreensão do processo de alfabetização na modalidade de jovens e adultos, compreendendo-os como sujeitos de direitos, principalmente com direitos à leitura literária, visando o estabelecimento do pacto ficcional e a capacidade de se de se apropriar efetivamente dela. Em Resistência multicultural à luz de uma trama conceitual freiriana de Raisa Albuquerque Andrade e Rita de Cassia Cavalcanti Porto, objetiva apresentar uma trama conceitual freiriana centrada na Resistência Multicultural, estabelecendo os enlaces possíveis entre o conceito central defendido por McLaren (1997) e os pressupostos filosóficos, epistemológicos e pedagógicos do pensamento freiriano. No esquema, os conceitos dialogam entre si, complementando-se. Ao mesmo tempo em que a Resistência Multicultural aparece como caminho à superação de situações-limite, ela é um percurso aos encontros e concretizações de inéditos viáveis – este é o movimento de decifração das situações e descoberta dos percebidos destacados. Este percurso se constrói em e para a conscientização, que é ponto de partida à Educação para a libertação. Estas ações consolidam o desenvolvimento da práxis política. Em síntese, a Resistência Multicultural à luz do pensamento freiriano tem a ver com a tomada de consciência aliada às ações transformadoras comprometidas com a Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 24 luta contra o racismo, machismo, sexismo, homofobia e todas as outras formas de opressões relacionadas às identidades e diferenças. Para Andrade e Porto, as tramas conceituais freirianas são representações gráficas que se assemelham e ao mesmo tempo diferenciam-se dos mapas conceituais. A semelhança se dá pela articulação de conceitos que propicia uma compreensão das temáticas por intermédio das relações estabelecidas entre um conceito e outro, sendo um recurso didático pedagógico significativo para auxiliar na compreensão de determinados conhecimentos. As distinções são perceptíveis na medida em que, nos mapas conceituais há uma linearidade entre os conceitos destacados. Enfatizam que, nas tramas conceituais freirianas, a representação gráfica rompe com a linearidade e hierarquização entre os conceitos, visto que aparecem de modo relacional e dialógico, consonante a base do pensamento freiriano. O conceito central movimenta-se em direção aos demais conceitos – no sentido de ir e/ou vir. Resistência Multicultural trata-se de um conceito aprofundado por McLaren, fundamentado em abordagens mais críticas do Multiculturalismo, consistindo em intervenções comprometidas com problematizações referentes aos lugares e sentidos atribuídos à raça, classe, gênero e orientação sexual. Almeja-se o desenvolvimento de práticas que ressaltem políticas para as diferenças, questionando e desestruturando os padrões normativos estabelecidos pelo Capitalismo, Colonialismo e Patriarcado - estruturas de dominações responsáveis pela produção de muitas das situações de opressões. O texto Educação do Campo e Paulo Freire: contribuições para uma educação emancipadora de Maria Girlene Callado da Silva, Maria Fernanda dos Santos Alencar e Saulo Ferreira Feitosa objetiva aprofundar reflexões acerca da contribuição de Paulo Freire para a materialização de uma educação emancipatória no contexto da Educação do Campo. Para essa finalidade acolhe estudos desenvolvidos “ j Ensino Médio: desafios para a garantia de permanência na educação do ” autora. Neste sentido, aponta a importância de se pensar a Educação do Campo como um paradigma de educação emancipadora que valoriza SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 25 a cultura, os saberes e valores dos povos campesinos, enquanto sujeitos de direito, partindo do pensamento de Paulo Freire para o desvelamento da realidade dos povos campesinos. Exploração do acervo Paulo Freire: o que dizem os artigos por Carla Netto, Fernanda Carvalho e Slaine Senra analisa os artigos disponibilizados no Acervo Paulo Freire. Para tanto, a metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, descritiva, com levantamento bibliográfico de 19 artigos, enriquecida com as contribuições buscadas na metodologia de análise de dados Análise Textual Discursiva - ATD. Com base no que foi analisado, os autores concluem que o conteúdo dos artigos pontua a visão de Paulo Freire na busca por novos elementos para conceber a vida humana em sociedade de forma radicalmente libertadora e democrática. A crença de Freire na democracia se dá a partir da certeza de que a educação e a esperança são as condições da ação e da política. O texto Formação Política em Paulo Freire: leitura/releitura e escrita/reescrita de mundo de Alder Júlio Ferreira Calado é uma homenagem e um convite à compreensão política de Paulo Freire ou por Paulo Freire, no qual o autor sublinha seu entendimento de política para além da relação sociedade – estado que significa também passar pelo exame das relações sociedade - estado, não as reduzindo, contudo, a esta dimensão. De contribuições aprofundadas e significativas nesta contemporaneidade, o autor trata de, sem negar a importância da política enquanto expressão das relações sociedade - estado, sublinhar as relações desta dimensão com outra dimensão não menos importante, especialmente na atual encruzilhada histórica. Aponta a compreensão da política como expressão também de uma malha de microrrelações no chão do cotidiano. Microrrelações que atravessam as diferentes dimensões da vida social: do âmbito da família às relações de trabalho; do âmbito econômico à esfera cultural; dos compromissos socioambientais às relações do Sagrado. O texto de Alder Júlio enfatiza que não basta ler o mundo, é preciso também reescrevê-lo, sempre lembrando da importância do contexto em que se dão as relações sociais, o que importa, de modo conjugado, é, segundo o autor, entender tal exercício em dinâmica Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 26 interconexão na perspectiva de irmos construindo um mundo alternativo à atual barbárie capitalista. O autor conclui não dando respostas esperadas; entretanto, “Q passos, então, somos chamados a usar, nesta direção? Aprendendo com a história e com a memória dos oprimidos de todos os tempos e lugares, o que é tarefa comum dos de baixo, como eles se têm organizado para enfrentar exitosamente este desafio? Que papel tem jogado os núcleos, as pequenas comunidades, os círculos de cultura, as células, quanto as suas potencialidades e eficácia no enfrentamento em defesa e promoção dos interesses dos debaixo e contra os interesses das classes dominantes e dirigentes? De que maneira as lutas mais diretas têm sido organicamente alimentadas tanto pelo processo organizativo quanto pelo processo formativo dest ?” apenas algumas das provocações realizadas pelo autor, só lendo o texto na íntegra que se pode deliciar com tanta responsabilidade social, amorosa e crítica. O texto O mundo é uma história ou uma cela? de Sthella Laryssa Barros Loureiro Lima analisa os efeitos da leitura na população carcerária em Salvador. Propõe-se a reflexão em torno da problemática existente na ausência de atividades contínuas de leitura no interior dos presídios. A pesquisa empírica e qualitativa, desenvolve-se em um complexo penitenciário em Salvador, através da Metodologia da Observação-participante. A autora busca desenvolver uma reflexãosobre os impactos decorrentes de atividades de leituras a população carcerária, ancorada na Teoria da intersubjetividade de Freire, entendendo-se que a abordagem sobre atividades de leitura no interior do Sistema Prisional, é um tema de grande relevância para a minimização dos efeitos circunstanciais da pena. A autora relata que as rodas de leituras são realizadas por professores de uma universidade pública de Salvador, através de um projeto de extensão e, geralmente, possuem um ciclo de 6 meses e realizadas em uma sala localizada dentro de um dos pavilhões. Durante o encontro, a autora observou a presença de expressões afetivas, através da apresentação de desenhos e de interações socioeducativas, percebeu que a prática da leitura precisa ser enfatizada no ambiente SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 27 prisional, visto que a leitura como instrumento de compreensão de si e do mundo, auxilia no processo de encontro e reencontro com a própria identidade. O pensamento freiriano e a igreja: nem ingênuos nem espertos de Jevison Cesário Santa Cruz e Maria do Rosário Alves Leite apresentam uma hipótese de compreensão acerca das ações desenvolvidas em uma congregação protestante, que tem cooperado no processo educacional de crianças e jovens, na comunidade de Jardim Jordão, divisa entre Recife e Jaboatão dos Guararapes. Com uma abordagem qualitativa, os autores mostram o estudo das concepções daquela instituição religiosa, levantamento de dados oficiais descritivos daquela comunidade, entrevistas e análise dos relatos de experiência de estudantes, professores e familiares que evidenciam profícuo diálogo entre a prática religiosa e o pensamento do educador Paulo Freire e que a aproximação com práticas educativas voltadas à população desassistida pelo Poder Público levaram os autores ao universo freiriano de busca por uma prática transformadora, abrangente, acolhedora, voltada para a libertação do homem da ingenuidade em que se encontra envolto, para o engajamento no movimento de construção de sua própria história. O texto A Educação de Jovens e Adultos e a Gestão Escolar: o papel do gestor inovador de Ana Patrícia Falcão de Oliveira, Dalva Lucia Carvalho e Patrícia Carla da Hora discute a complexidade da escola e o papel do gestor inovador numa perspectiva freireana de ensino, identificando os saberes escolares no Projeto Político Pedagógico (PPP). Para os autores, há necessidade de as escolas enquanto instituições de ensino buscarem a criticidade através dos saberes escolares de forma inovadora, objetivando a melhoria na qualidade de vida e de ensino para todos os sujeitos. Nessa perspectiva, o artigo busca reconhecer a escola como espaço diverso, participativo, inovador e democrático que concebe o ensino da EJA como princípio norteador da sua identidade. O trabalho justifica-se pela necessidade das instituições de ensino em EJA obter sua própria autonomia, fator preponderante na concepção freireana de ensino, considerando a Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 28 participação da comunidade escolar em meio às decisões que buscam um convívio participativo e democrático. Para concluir, o texto O sujeito neoliberal e o sujeito de sua própria história: a ação dialógica como saída à subjetivação da nova razão do mundo de Elis Regina Arévalos Soares pretende realizar uma análise das problemáticas relativas à subjetivação da racionalidade neoliberal, buscando traçar pontos de convergência com o pensamento “ ” como suporte para o desenvolvimento deste estudo as considerações a “ j ” “ ” Christian Laval. É demonstrada a presença dos elementos da Ação Antidialógica nas práticas da subjetivação da racionalidade neoliberal. A autora conclui, em síntese, que a contraconduta por meio da Ação Cultural Dialógica é capaz de abrir espaço para a libertação do oprimido moldado enquanto sujeito neoliberal. Destarte, a leitura deste livro não é linear, pois cada capítulo apresenta um olhar específico, por conseguinte, um modo de ler e de dialogar com o texto. Toda a complexidade do ato de ler deve-se à diversidade de gêneros, de sentidos e de leitores, o que torna a obra bastante interessante pela multiplicidade de olhares de seus autores, conduzindo a um cenário de vozes que se explicitam ou se ocultam nas atividades de linguagem realizadas pelos diversos sujeitos, através dos gêneros ou modos de dizer que veiculam socialmente e dão forma ao texto. Reafirmando uma carta que escrevi com Scocuglia5 (2021, no prelo), considero que esta obra se junta a uma reação mundial aos ataques contra a Paulo Freire e seu legado. Brotam diariamente iniciativas como esta deste Centro de entrar em contato com a obra, o legado e a presença distante do nosso grande mestre. Bem que gostaríamos de presenciar mais uma das tuas palestras a pedir (como fez na sua última entrevista por aqui, 1997) as muitas marchas pela terra, pela moradia, pela comida e o trabalho e, especialmente, pela educação. Quero desejar a quem ler esta obra o máximo da alegria que o mestre nos deu, a continuidade da esperança por um mundo mais SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de Paulo Freire 29 justo, a amorosidade com a qual respeitou todos os humanos, as boas lembranças que deixou por todos os caminhos que percorreu, com a proposta de hominização. Portanto, este que se encontra em suas mãos, prezado leitor, é um contributo inigualável para os estudos freirianos. Parabéns aos autores pela produção e aos leitores pela oportunidade de lê-los. Referências ¹FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. ²FREIRE, Paulo et alii. Pedagogia: diálogo e conflito. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. ³FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. 4FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 5Ver A história das ideias de Paulo Freire e a atual crise de paradigmas. Em: www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/boo k/138. Ver também o Programa Paulo Freire Vivo – YouTube (30 vídeos) https://www.youtube.com/watch?v=iwjRzpDlLU0&list=PLGshD_ YWCkUQg6cIbeo_BvZpDqpuDlwTK http://www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/book/138 http://www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/book/138 https://www.youtube.com/watch?v=iwjRzpDlLU0&list=PLGshD_YWCkUQg6cIbeo_BvZpDqpuDlwTK https://www.youtube.com/watch?v=iwjRzpDlLU0&list=PLGshD_YWCkUQg6cIbeo_BvZpDqpuDlwTK Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 30 30 NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 31 aria arla dos an os o ueira 31 Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 32 UM OLHAR FREIREANO SOBRE A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL REMOTA Maria Carla dos Santos Nogueira2 Introdução Em virtude da COVID-19 e considerando as mudanças globais, pode-se dizer que as instituições de educação tiveram que se reinventar buscando alternativas não presenciaispara continuar a desenvolver o processo de ensino e aprendizagem, sem perder o ritmo formativo e dando aos alunos o apoio educacional e psicológico necessário em tempos de pandemia. Diante do exposto, este artigo tem o objetivo de apresentar o pensamento freiriano como alicerce da Educação profissional remota ofertada pelo Senac de Balsas no ano 2020, mediante a uma análise acerca dos princípios da Pedagogia da Autonomia que possibilitaram a realização de trabalhos a distância, constituindo uma educação libertadora em oposição ao modelo de educação bancária. Em meio a realidade observada, levantou-se a seguinte problematização: Tomando os textos de Paulo Freire, como expressão da educação libertadora, com a finalidade de criar o conhecimento e de transformar-reinventar a realidade por meio da ação-reflexão, de que forma o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial poderá trabalhar sua metodologia ação-reflexão-ação no curso da Aprendizagem Profissional de Qualificação em Serviços Administrativos a fim de inserir docentes e discentes na realidade do ensino remoto? A revisão bibliográfica dos textos de Freire e dos documentos técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial fundamentaram as ideias formuladas no presente capítulo, assim também a pesquisa de campo com observação participante da realidade 2Mestra em Ciências das Religiões pela FU (Ênfase em Marketing, Religião e Sociedade), Pós- graduada em Psicologia da Educação pela UEMA, Pós-graduada em Docência para a Educação Profissional pelo Senac, Bacharel em Administração pela Faculdade de Balsas, Acadêmica do 3º período de Pedagogia pela UEMA. Instrutora no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). E-mail: profmcarla@outlook.com NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 33 vivenciada pelos docentes e discentes em meio a pandemia compôs o eixo do presente estudo. Os docentes responsáveis pelas turmas da Aprendizagem Profissional de Qualificação em Serviços Administrativos (total de 2) e os discentes inseridos nas turmas 31 e 32, um total de 52 alunos corresponderam a amostra analisada. O ensino remoto passa a compor a realidade da Educação Profissional do Senac no início de junho de 2020, após os docentes receberem vários treinamentos acerca do funcionamento dessa modalidade de ensino, visto como alternativa instrucional aplicada em situações emergenciais. Também receberam orientações quanto ao uso das Tecnologias Digitais da Educação e Comunicação (TDICs) e sobre as Metodologias Ativas, se empoderando dessa nova realidade. A necessidade de adaptar o processo de ensino e aprendizagem durante a pandemia levou docentes e discentes a utilizarem ferramentas digitais mediadas pelo uso da internet o que modificou a perspectiva de interação e comunicação dos educadores com seus educandos. O ensino remoto foi inserido de forma temporária no contexto da Educação Profissional ofertada pelo Senac que passou a utilizar as ferramentas síncronas e assíncronas para dar apoio a condução das aulas remotas mediadas pelas plataformas Google Meet e Google Classroom. “[ ] apenas para nos adaptarmos à realidade, mas, sobretudo, para transformar, para nela intervir, recriando- ” capacidade de aprender é intrínseca ao homem, logo desde o seu nascimento esse aprende, mediante situações concretas e a partir de ideias ou teorias testadas e vivenciadas. A crise sanitária provocou uma ressignificação na educação e nas formas de aprender, nos fazendo refletir acerca da revolução pedagógica como algo primordial à evolução das instituições de ensino. No novo normal, a educação escolar deve conduzir os sujeitos aprendentes ao desenvolvimento global e humano, enfatizando os valores sociais, despertando e estimulando-o para a prática da verdade, da justiça, do respeito e da solidariedade. Na Educação Profissional, essas ideais se equilibram com as concepções educacionais proferidas por Freire, que crê na edificação de uma educação autêntica direcionada Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 34 a justiça e a paz. Para Freire (2014, p. 16) a escola deve construir uma “ ” As obras de Freire reforçam que o processo educativo deve levar todos os participantes a alcançar a autonomia. Na sala de aula remota do Senac, a proposta de desenvolvimento de competências intensificou ainda mais a troca de saberes entre professores e alunos levando-os a construir e reconstruir os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores essenciais a reinvenção e a busca por autonomia no nov “ educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente j ” A pandemia reforçou a atuação do docente uma vez pautada na ocupação de várias funções e papeis no ensino remoto, onde esse tornou-se mais mediador, orientador, motivador e instigador do protagonismo dos discentes inseridos nessa modalidade emergencial de ensino. Antes mesmo da pandemia, os educandos já apresentavam um perfil autônomo diante do processo de aprendizagem, dessa forma o que se pretende expor é que a pandemia gerou a necessidade de apropriação das TDICs por parte dos docentes e discentes uma estratégia essencial a realização das aulas remotas. Para ampliar o engajamento dos alunos na Educação Profissional, o Senac reestruturou o processo de ensino e aprendizagem modificando seu modelo pedagógico para a realidade da cultura digital, ou seja, integrou o Google Meet, Google Classroom e as TDICs à sala de aula remota, de modo a desenvolver e recriar novas alternativas para a condução das aulas de forma virtuais. As metodologias ativas, já utilizadas na sala de aula presencial, passaram a fazer parte da realidade formativa do aluno de modo mais intenso nos últimos meses de 2020. Nesse sentido, as lições de Freire, em especial extraídas do livro Pedagogia da Autonomia, são compatíveis e reforçam a proposta do Senac de desenvolvimento de uma educação mais crítica, colaborativa, autônoma e emancipadora, onde a relação e posição dos NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 35 educadores e educandos encontra-se em equilíbrio mesmo no período de pandemia. A pandemia direcionou o Senac a redesenhar suas estratégias educacionais, analisando as contribuições, os riscos e as mudanças advindas da inserção das TDICs na sala de aula remota. A prática da cultura digital, os recursos utilizados para condução das aulas remotas, as formas de apresentação e a linguagem midiática aplicadas a prática pedagógica, transformaram a postura dos docentes e discentes frente a educação profissional, dando-lhes a oportunidade de explorar seu potencial teórico-científico e de criar contextos genuínos de aprendizagem. Contribuições de Paulo Freire na Educação Profissional Decerto que a Educação Profissional praticada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) tem transformado a vida de muitos jovens, ao longo dos últimos 74 anos. Entretanto, é possível afirmar que desde 1800, diversas são as ações e funções exercidas por essa modalidade de ensino no Brasil. Para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a Educação Profissional é um modelo de ensino que complementa a Educação Básica, sendo ofertada por instituições técnicas de ensino nos âmbitos federal, estadual, municipal e privado. A associação da Educação Profissional às diferentes formas de educação, assim como ao trabalho, à ciência e à tecnologia, tem conduzido jovens e adolescentes, entre 14 e 24 anos incompletos, a intensificar o desenvolvimento de suas competências e aptidões vislumbrando alcançar uma vida maisprodutiva e bem-sucedida. Analisando a metodologia proposta por Paulo Freire, convém afirmar que esta muito se alinha à realidade da Educação Profissional. Patrono da educação brasileira, Paulo Freire se destacou pela relevância social de suas obras delegando à educação, o papel de promotora da emancipação humana. Cenário característico à Educação Profissional, a proposta do Modelo Pedagógico Senac traduz o significado que a instituição atribui ao fazer educacional, na perspectiva da formação humana e do trabalho, considerando as Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 36 concepções filosóficas de ser humano, mundo, trabalho e educação para assim tornar os discentes ainda mais independentes. Derivados dos princípios filosóficos, os princípios pedagógicos – Escola, Currículo, Metodologia, Aluno, Docente e Avaliação – orientam a prática educativa do Senac. A escola representa o espaço para a construção do conhecimento e desenvolvimento de competências incorporando múltiplas formas de aprender. O currículo “ documento dinâmico, cultural e historicamente ” segmentação entre teoria e prática valorizando o desenvolvimento de competências a partir de práticas pedagógicas ativas, inovadoras, integradoras, colaborativas e centradas no protagonismo juvenil, social e econômico do aluno. O aluno nesse modelo metodológico torna-se mais ativo e autônomo, interagindo com o docente e se responsabilizando pela construção do próprio conhecimento. O docente não deixa de assumir seu papel, entretanto, constitui novos perfis, planejando, desenvolvendo e executando estratégias pedagógicas voltadas à promoção de uma aprendizagem mediada e significativa. Por fim, a avaliação envolve todo o ato educativo mantendo o foco docente e discente na edificação do processo de ensino e aprendizagem pautado no desenvolvimento de competências (SENAC, 2015). Na concepção freiriana, o processo educacional ocorre de modo a garantir uma formação que possibilite aos sujeitos aprendentes a edificação de seus conhecimentos, habilidades, atitudes e valores essenciais à intervenção no mundo, missão também assumida pelas instituições do Sistema S. No âmbito do processo educacional, Freire “ [ ] nsfere, se cria, ” Tal reflexão nos faz compreender que o conhecimento não é transferível, mas sim uma criação do homem inserido no espaço que habita. Fazendo um adendo, nota-se que a construção do conhecimento está alinhada ao pensamento humano uma vez embutido de caráter transformador. Por meio da ação-reflexão transformadora de Freire conseguimos criar esse processo social intitulado conhecimento, nos direcionando a repensar o mundo em que vivemos. NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 37 É fato que o mundo não é apenas um espaço no qual o homem deve se relacionar, intervir, dialogar, ensinar, mas principalmente aprender, a partir do momento que deixa de constatar os fatos para modificar e edificar sua realidade. Tomando a educação como norte, Freire evidencia que ensinar é uma especificidade humana e exige do sujeito formador mais competência, segurança, curiosidade e apreensão da realidade. No que concerne à ação de aprender, Freire (2010, p. 69) “ constatar para mudar, o que se faz sem abertura ao risco e à aventura ” conhecimento provisório adquirido acerca de algo. Como práxis da Educação Profissional do Senac, o movimento voltado ao desenvolvimento de competências tem início na ação, sendo que após fazer uma reflexão sobre ela, retorna à ação na forma de uma nova ação (SENAC, 2015). A construção do conhecimento por esse viés nos faz perceber a influência freiriana na estrutura pedagógica do Sistema S, já que mantém as ações do agir e refletir, acrescida de uma nova ação, ou também chamada de ação corretiva, finalizando assim o processo de construção do conhecimento ao alcançar uma transformação efetiva no indivíduo, tanto nas condições objetivas de vida e trabalho como na capacidade de o sujeito aprendente ser o instigador dessas mudanças. Esse movimento de ação-reflexão-ação, incidindo sobre capacidades humanas complexas, tende a exigir e implicar um desenvolvimento humano integral. Essa dinâmica entre o domínio técnico do trabalho e o desenvolvimento humano integral é reforçada na visão da competência como práxis. Portanto, se por um lado a competência pode ser vista pelo seu aspecto procedimental da execução da tarefa prescrita na ocupação, por outro lado também pode representar uma alternativa na qual se vislumbre uma formação integral que represente o aumento do significado real do trabalho para o homem e impulsione sua capacidade de superação e transformação da sociedade. (SENAC, 2015, p. 18). A Educação profissional, como fator de desenvolvimento conceitual, humano, inclusão social, cultural e produtiva, vai muito além da preparação de mão de obra, fortalecendo o seu papel frente à Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 38 formação para o mundo do trabalho ao focar nos pressupostos da democracia, igualdade de direitos e dignidade humana. Assim, compreendemos que a Educação Profissional se torna efetiva à medida que agrega suas Marcas Formativas Senac (Domínio técnico-científico, Visão crítica, Atitude Empreendedora, Atitude Colaborativa e Atitude Sustentável) ao desenvolvimento dos sujeitos aprendentes, contribuindo para a formação cidadã desse, em sociedade (SENAC, 2015). Enfatizando o diálogo de Freire acerca do processo social de construção do conhecimento, perceberemos que a ação-reflexão definida por esse pensador é a força que impulsiona o indivíduo a buscar novos saberes, da mesma forma que na Educação Profissional a ação-reflexão-ação atrelada ao desenvolvimento de competências potencializa a busca por novos conhecimentos, assim como, o fazer profissional e a criatividade dos sujeitos aprendentes, vinculando os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores ao passo que promove o desenvolvimento constante dos alunos. Pedagogia da Autonomia na Educação Profissional Remota A globalização e os avançados tecnológicos impulsionaram o surgimento de novas formas de comunicação e novos relacionamentos, causando mudanças no consumo de bens e serviços, além de conduzir escolas e professores ao desenvolvimento da educação em um cenário de ensino e aprendizagem virtual. A chegada abrupta da COVID-19 transformou de forma significativa a realidade educacional no mundo. Para não estagnar, as escolas tiveram que modificar seus métodos de ensino, superando os desafios impostos pela pandemia e realizando as aulas, que eram presenciais, de forma remota mediada pelo uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs). Diante dessa nova realidade, os professores buscaram compreender a essência do ensino remoto para em caráter emergencial passar a aplicá-lo através de videoconferências realizadas por plataformas web diversificadas, as quais são possíveis citar: Google NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 39 Meet, Zoom, Microsoft Teams, Google Classroom, Chat Gmail, entre outras. Muitos foram os desafios que docentes e discentes enfrentaram para se inserir nesse novo normal. Os docentes tiveram que passar por vários treinamentos envolvendo o uso de plataformas web, a aplicação de metodologias ativas de aprendizagem no ensino remoto e criação de estratégias pedagógicas para inclusão do discente no mundo digital. Enquanto isso, os discentes que receberam orientações dos docentes, a princípio via WhatsApp, passaram a utilizar o smartphone como recurso básico no processode aprendizagem, assumindo a responsabilidade de acessar as plataformas web e de manter uma participação ativa nas aulas remotas. É fato que ter internet de qualidade foi um dos primeiros desafios a serem superados durante a pandemia. Sendo 80% dos aprendizes inseridos no Programa de Aprendizagem 2020 do Senac de classe média-baixa, muitos apresentaram certas dificuldades para acessar as aulas realizadas através do Google Meet e Google Classroom, relatando a oscilação e a qualidade do sinal como os maiores problemas para permanecer conectado nas aulas remotas. Frente ao exposto, Demo (2009, p. 53) entende que, em tempos de internet, o apren “ logias podem nos trazer são oportunidades ainda mais ampliadas, em meio ” a relevância de incrementarmos as metodologias pedagógicas mediante a inserção das tecnologias educacionais, proporcionando aos discentes momentos de identificação prévia dos seus conhecimentos e maior interação com os recursos digitais à medida que contribuímos para a não execução de uma educação bancária como cita Freire (FREIRE, 1987). Ao detectar os conhecimentos prévios dos educandos, os docentes devem considerar as atividades propostas no projeto pedagógico da unidade curricular conforme a realidade educacional do Senac, a partir das quais os discentes serão provocados a falarem ou escreverem sobre o que sabem apresentando seus conhecimentos mediante o compartilhamento de conteúdos e temas já aprendidos, um momento excepcional a troca de ideias preliminares. Assim, podemos Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 40 compreender que a ação d “ nsinar exige respeito aos saberes dos educandos. [...] Por que não estabele ‘ ’ saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como ?” No cenário do ensino remoto buscou-se estabelecimento um diálogo com os estudantes, e entre os estudantes, a fim de promover um levantamento acerca dos conhecimentos prévios quanto ao uso das plataformas digitais escolhidas pelo Senac para condução das aulas remotas. Esse momento também se configurou como um repensar sobre os aspectos que distinguem a Educação a Distância do ensino remoto. Diferentemente da Educação a Distância, o ensino remoto preconiza a realização da aula em tempo real, ou seja, a proposta é que o docente e os discentes acessem a plataforma digital escolhida para desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem ao mesmo tempo, interagindo no dia e horário que a aula presencial acontecia, estando cada participante em um espaço geográfico distinto, porém dialogando no ambiente virtual de forma síncrona e dinâmica. Ferramenta síncrona, o Google Meet é um aplicativo criado pelo Google para ofertar o serviço de videochamada online. Essa plataforma digital compôs a realidade da Educação Profissional do Senac no período de pandemia, oportunizando aos docentes realizarem as aulas remotas em tempo real, garantindo a aplicação dos conteúdos programados no Plano de trabalho docente (PTD), a realização de debates, a apresentação de trabalhos online e a articulação das competências do perfil profissional demandado pelo mercado. Além da apropriação das novas tecnologias digitais, um desafio vivenciado pelos docentes foi adaptar os planos de aulas presenciais para o modelo remoto. Esse exercício levou os docentes a reescreverem as estratégias pedagógicas para a condução das unidades curriculares observando à realidade dos educandos, mantendo o roteiro previamente estruturado em uma perspectiva inovadora e virtual. Outra plataforma web utilizada pelos docentes do Senac durante a pandemia foi o Google Classroom ou Google Sala de Aula, uma plataforma social, gratuita e online que auxiliou os docentes e discentes frente ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 41 forma assíncrona, agregar valor ao ensino praticado em períodos emergenciais, como no caso de pandemias. (GOOGLE, 2014) Pode-se afirmar que o Google Classroom se assemelha a um Ambiente Virtual de Aprendizagem no qual docentes e discentes interagem em tempo e espaços distintos. Ao usar esta plataforma, os docentes do Senac tiveram a possibilidade de criar turmas diversas organizando e disponibilizando aos discentes uma série de materiais e tarefas ordenadas, como criação de mural, diário de bordo, atividades individuais e grupais, questionários, entre outras. Essas atividades passaram a compor o script avaliativo do Senac e contribuíram para o desenvolvimento das competências pessoais, acadêmicas e profissionais dos aprendizes. (GOOGLE, 2014) É fato que durante a pandemia, os docentes vivenciaram experiências magníficas frente ao uso das tecnologias, das plataformas digitais e da aplicação de metodologias ativas de aprendizagem, por meio das quais enfatizaram o protagonismo dos discentes no ensino remoto, compreendendo que de nada serve apresentar um bom discurso se a ação-reflexão pedagógica é impermeável às mudanças (FREIRE, 1996). Pode-se dizer que as Metodologias ativas estão pautadas nas ações de ouvir, ver, refletir, perguntar, discutir, fazer e compartilhar. Esse método orientou os docentes do Senac a incentivar os discentes a assumirem o papel de protagonistas da sua própria história, sendo que em linhas gerais, a implantação de metodologias ativas durante a pandemia contribui para o desabrochar do discente, afastando-o dos estilos metodológicos tradicionais. Na atualidade, muitas são as Metodologias ativas aplicadas pelos docentes da Educação Profissional do Senac, as quais é possível citar: Ensino Híbrido; Cultura Maker; Sala de aula invertida (Flipped Classroom); Aprendizagem baseada em Projetos (Project Based Learning); Aprendizagem baseada em Problemas; Método do Caso (Teaching Case); Aprendizado em equipe (Team - based Learning); Aprendizado por pares (Peer Instruction) e Gamificação. Tudo isso nos faz compreender que apesar dos prejuízos causados pela pandemia, essa crise serviu para nos ajudar a refletir sobre a necessidade de Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 42 aprofundamento dos conhecimentos construídos ao longo do processo formativo. Segundo Freire (1996) faz-se relevante aguçar a curiosidade, elemento que nos torna indagadores não somente quando percebemos as coisas, mas principalmente nos aprofundamos no conhecimento delas, buscando modos e maneiras para transformar nossa realidade, recriando-a. Na visão de Freire a prática da dialogicidade é dever do docente, sujeito responsável pela construção de uma educação crítica. A dialogicidade não nega a validade de momentos explicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica aberta, curiosa, indagadora, e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve (FREIRE, 1996, p. 86). Tomando os saberes pedagógicos em crise, ao recolocar questões tão relevantes para o momento atual, assim quanto foram na década de 60, Freire traduz em seu tempo, a partir do lúcido e peculiar, aquilo que os estudos das ciências da educação vêm sinalizando nos últimos anos: a ampliação e a diversificação das fontes legítimas de “ -fazer é o saber-ser- ” Em relação às lições de Freire sobre ensinar, pode-se dizer que muitas são as contribuições deixadas por esse autor para a realidade do “ ” j de que precisamos entender que a prática docente nos direciona a buscar saberes indispensáveis à nossa formaçãocrítica e, porque não dizer, progressista. Se, na experiência de minha formação, que deve ser permanente, começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me considero o objeto, que ele é o sujeito que me forma e eu, o objeto por ele formado, me considero como um paciente que recebe os conhecimentos-conteúdos-acumulados pelo sujeito que sabe e que são a mim transferidos. Nesta forma de compreender e de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar j “ ” j o de meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 43 cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao for-mar e quem é formado forma -se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem forrar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado (FREIRE, 1996, p. 13). Nessa perspectiva, professor e aluno assumem o papel de agentes produtores do saber, se convencendo definitivamente que ensinar não é transferir conhecimento, mas sim criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Assim é possível ressaltar que, nem o docente muito menos os discentes se reduzem ao papel de obj “Q ” Para Freire (2014), o professor não pode se deter a ensinar conteúdos acreditando que assim estará transmitindo o saber. É preciso despertar no indivíduo a busca pela aprendizagem como um elemento inseparável do ambiente escolar e da vida, do mesmo modo que a construção do conhecimento não pode ser compreendida como algo acabado em si, já que esse deve ser revisto, recriado e repensado sempre que necessário. A partir dessas colocações, o docente atuante na Educação profissional passa a respeitar a natureza e o tempo de aprendizagem de cada aluno, lhes proporcionando autonomia para refletir e buscar um aprendizado mais significativo considerando suas necessidades e limitações. Freire (2014) ainda descreve a necessidade de o professor ter bom senso ao estruturar suas ações pedagógicas de modo que contribua efetivamente para a autonomia dos alunos. Assim, se percebermos as dificuldades de aprendizagem dos alunos, poderemos ajustar nossas estratégias metodológicas tornado a aula mais acessível e interessante para a construção do conhecimento. E não obstante a realidade do ensino remoto, o pensamento freiriano prevalece como se refletisse inconscientemente um passado- presente construído com um olhar voltado para o futuro. Isso significa dizer que no atual cenário, a ação de ensinar de forma remota exige rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, ética, rejeição ao preconceito, reflexão crítica sobre a Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 44 prática, reconhecimento e assunção da identidade cultural, bem como aceitação ao novo. Cada situação de ensino e aprendizagem exige dos docentes e discentes uma reflexão crítica sobre como lidar com ela e, dessa maneira, Frei “ j ” p.39). Assim sendo, ao se preparar para atuar no novo normal, o professor deve identificar as peculiaridades dos alunos, considerando o contexto atual, cultural, social e afetivo no qual está inserido. Durante a pandemia, o papel do docente tornou-se ainda mais indispensável para a constituição da subjetividade do educando. À medida que foram descobrindo os segredos do pensamento e da estrutura argumentativa, por intermédio de uma visão crítica, os discentes se tornaram inteligentes o suficiente para compreender o mundo e se enxergar nele, estando envolto por outros seres com interesses diversos. Freire (1996) afirma que o sujeito enxerga as relações de forma crítica aprendendo a olhar para as múltiplas dimensões e hipóteses das conexões de fenômenos que formam a realidade. Neste sentido, é imprescindível que a cada momento das aulas remotas reforcem a curiosidade crítica do educando, ensinando-o as múltiplas maneiras de aproximar-se dos objetos cognoscíveis e o fazendo entender sua teia de relações criticamente possíveis. Essas questões e a aceitação ao novo nos faz pensar que, se tradicionalmente nossa preparação se voltava à ação de despejar conteúdo nos alunos, hoje, fundamentados nas lições de Freire, temos a consciência de que nossa missão é contribuir para a construção dos conhecimentos dos educandos mediante o desenvolvimento de competências, habilidades, atitudes e valores que os levem à emancipação, a construção do pensamento crítico e progressista. No Novo normal, reconhecer e respeitar a autonomia dos alunos tornou-se fator preponderante ao exercício da docência na sala de aula remota. O primeiro grande passo foi apreender a realidade na qual nos encontramos, para então ampliar o senso da curiosidade de modo a compreendermos que, viver a experiência do ensino remoto foi inevitável se considerarmos o cenário da pandemia, o que não significa NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 45 dizer que essa modalidade comporá as ofertas de cursos do Senac de Balsas-MA de modo primário. No período de 3 meses, de junho a agosto, o comportamento dos aprendizes inseridos no curso Aprendizagem Profissional de Qualificação em Serviços Administrativos diante dessa nova forma de ensinar e aprender foi moldado para o desenvolvimento da consciência do inacabado citado por Freire. Ou seja, diante do incerto, os alunos da Educação Profissional compreenderam que para edificar sua história de vida, teriam que assumir novas posturas frente às formas de se colocar em sociedade, refletindo acerca do novo perfil profissional solicitado pelo mercado de trabalho em um tempo cheio de possibilidades e sem determinismo. No livro Pedagogia da Autonomia, Freire destaca que o processo educacional está intrinsecamente conectado à vida cotidiana, “ ” eleva o professor ao posto de detentor absoluto do conhecimento, enquanto o aluno assume o papel de mero ouvinte. Dessa forma podemos dizer que mesmo participando das transformações do Mundo 4.0, a pandemia reforçou a inversão desses papeis tornando a relação educador-educando mais evidente. Fundamentado no contexto atual que nos encontramos e na perspectiva do aprender experimentando, vivenciando e agindo sobre o próprio objeto de aprendizagem, a Educação Profissional remota praticada pelo Senac foi renovada mediante a imersão pedagógica nas metodologias ativas, já aplicadas previamente, mas que a partir de então se tornaram ainda mais essenciais ao movimento educacional que preconiza o protagonismo do aluno. As metodologias ativas propiciam uma interconexão entre educação, cultura, sociedade, política e escola, sendo desenvolvidas a partir da aplicação de métodos ativos e criativos, que colocam o aluno no centro do processo de ensino de modo a gerar aprendizagem. Essa concepção de aprendizagem ativa e significativa surgiu bem antes das TDICs e teve o propósito de disseminar a proposta de uma metodologia de ensino focada na aprendizagem pela experiência e no desenvolvimento da autonomia do aprendiz (BACICH e MORAN, 2018). Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 46 Assim, para dar continuidade ao desenvolvimento de sua proposta educacional no período de pandemia e retomando aspectos anteriormente debatidos, o Senac utilizou as plataformas Google Meet e Google Classroom com as turmas da Aprendizagem Profissional de Qualificação do ano 2020. A dinâmica das aulas remotas foi
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