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EDUCAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM 
FREIRE: 
DESAFIOS DA ATUALIDADE 
Vol. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM 
FREIRE: 
DESAFIOS DA ATUALIDADE 
Vol. 1 
 
 
 
 
Organizadores: 
Maria Aparecida Vieira de Melo 
Maria Erivalda dos Santos Torres 
Ricardo Santos de Almeida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife, PE 
2021
 
 
Produzido por: 
Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas 
Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro de 
Educação (CE), Recife, Pernambuco, Brasil. 
CEP: 50740-530 
https://www.centropaulofreire.com.br/ 
©Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas 
 
 
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, 
por qualquer meio. Lei n. 9.610 de 19/02/1998 (Lei dos Direitos Autorais). A 
reprodução de pequenos trechos de obras preexistente, não constitui ofensa aos 
direitos autorais, desde que a reprodução em si não seja o objeto principal da obra nova 
nem cause prejuízo aos interesses dos autores. Sempre referencie a fonte. A obra pode 
ser utilizada e adquirida para fins didático-pedagógicos. 
2021. Escrito e produzido no Brasil. 
 
Na obra ora a escrita referindo-se ao pensamento de Freire aparecem ora 
freiriano e ora freireano. Nós organizadores até pensamos em dar uma unidade, 
pois há controvérsia sobre a escrita, mas em respeito aos autores e autoras 
consideramos suas enunciações. 
 
Colaboração, revisão e diagramação: Ricardo Santos de Almeida 
Capa diagramada a partir da foto original disponível em: https://sinproeste.org.br/wp-
content/uploads/2016/09/paulo-freire-4-600x300.jpg 
 
 
 
CONSELHO EDITORIAL 
CENTRO PAULO FREIRE – ESTUDOS E PESQUISAS 
 
Agostinho da Silva Rosas 
 
UPE e Centro Paulo Freire – Estudos e 
Pesquisas 
 
Ana Paula de Abreu Costa de 
Moura 
UFRJ e Centro Paulo Freire – Estudos e 
Pesquisas 
 
Ana Maria Saul PUC/SP e Centro Paulo Freire – Estudos e 
Pesquisas 
 
Eliete Correia dos Santos 
 
UEPB – Centro Paulo Freire – Estudos e 
Pesquisas 
 
Inés María Fernández Mouján 
 
Cátedra Paulo Freire, Universidad Nacional 
de Mar del Plata, Centro de Investigaciones y 
Estudios en Teoria Poscolonial, Universidad 
Nacionl de Rosario, Argentina e Centro Paulo 
Freire – Estudos e Pesquisas 
 
Inez Maria Fornari de Souza 
 
Joaquim Luís Medeiros Alcoforado 
Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas 
 
Universidade de Coimbra/Portugal e Centro 
Paulo Freire – Estudos e Pesquisas 
 
Luiza Cortesão 
 
 
 
 
Professora Emérita da Universidade do 
Porto, Presidente do Instituto Paulo Freire 
de Portugal e Centro Paulo Freire – Estudos 
e Pesquisas 
Maria Aparecida Vieira de Melo 
 
 
Maria Fernanda dos Santos 
Alencar 
UFRN e Centro Paulo Freire – Estudos e 
Pesquisas 
 
UFPE e Centro Paulo Freire – Estudos e 
Pesquisas 
 
Mírian Patrícia Burgos Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas e 
Instituto Paulo Freire de Portugal 
 
Ricardo Santos de Almeida IFAL, UFAL/NUAGRÁRIO, Prefeitura 
Municipal de Porto Calvo/AL e Centro Paulo 
Freire – Estudos e Pesquisas 
 
 
 
 
COMISSÃO CIENTÍFICA 
EDITAL 001/2020 
 
Afonso Celso Caldeira Scocuglia UFPB 
 
Ana Paula de Abreu Costa de Moura UFRJ 
 
Anair Silva Lins e Mello AMESG 
 
Andréa Alice da Cunha Faria UFRPE 
 
André Gustavo Ferreira da Silva UFPE 
 
Cinthya Lúcia Martins Torres Saraiva de Melo 
 
UFPE 
 
Eduardo Jorge Lopes da Silva UFPB 
 
Eliete Correia dos Santos UFPB 
 
Fernanda da Costa Guimarães Carvalho UFPE 
 
Heron Ferreira Souza IFBAIANO 
 
José Dilson Beserra Cavalcanti UFPE 
 
Maria Aparecida Vieira de Melo UFRN e Centro Paulo Freire – 
Estudos e Pesquisas 
 
Maria Fernanda dos Santos Alencar UFPE 
 
Ricardo Santos de Almeida IFAL e Centro Paulo Freire – 
Estudos e Pesquisas 
 
Sara Ingrid Borba FEPEC/AL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Prefácio 
Maria Aparecida Vieira de Melo; Maria Erivalda dos Santos 
Torres; Ricardo Santos de Almeida 
 
10 
Apresentação 
Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado 
de Paulo Freire 
Eliete Correia dos Santos 
 
15 
Esperançar em Paulo Freire 
 
30 
Um olhar freireano sobre a Educação Profissional 
Remota 
Maria Carla dos Santos Nogueira 
 
31 
Paulo Freire e o uso das tecnologias digitais na educação: 
tessituras, fios e nós 
Maria do Rosário Gomes Germano Maciel; Aníbal de Menezes 
Maciel 
 
53 
Paulo Freire em tempos de pandemia: refletindo sobre 
relações humanizadas no “novo” convívio escolar 
Karine da Silva Wasum; Jonas Grachten Fraga; Viviane Maciel 
Machado Maurente 
 
77 
As pedagogias de Freire embasando projetos com 
refugiados no IFRS - Campus Porto Alegre: da leitura da 
palavra à geração de emprego e renda para o 
enfrentamento ao COVID-19 
103 
Ana Rosaura Moraes Springer; Jaqueline Rosa da Cunha 
 
 
As tecnologias da informação e comunicação na 
perspectiva freiriana 
Luiz Claudio Correia dos Santos; Carlos Alberto Vasconcelos 
132 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Ato educativo e social em Paulo Freire 
 
154 
Avaliação formativa no curso de Engenharia de 
Computação: uma prática pedagógica em diálogo com 
Paulo Freire 
Edison de Queiroz Albuquerque; Targélia Ferreira Bezerra de 
Souza Albuquerque 
 
155 
Diálogos com Paulo Freire: contemporaneidade 
Ana Paula de Abreu Costa de Moura 
 
192 
Paulo Freire: os laços afetivos no tear da vida dos(as) 
dos(as) educadores(as) 
Eliana Sampaio Romão; Telma Sampaio Romão; César Aparecido 
Nunes 
 
203 
Prática pedagógica, Educação Popular, exílio e outros 
temas: o que dizia Freire? 
Ana Paula Campos Cavalcanti Soares; Lara Matoso del Boccio; 
Bruna Nascimento 
 
229 
Práticas literárias na Educação de Jovens e Adultos a 
partir de contribuições freirianas 
Juliana da Costa Neres 
 
260 
Resistência multicultural à luz de uma trama conceitual 
freiriana 
Raisa Albuquerque Andrade; Rita de Cassia Cavalcanti Porto 
 
275 
Educação do Campo e Paulo Freire: contribuições para 
uma educação emancipadora 
Maria Girlene Callado da Silva; Maria Fernanda dos Santos 
Alencar; Saulo Ferreira Feitosa 
 
300 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Exploração do acervo Paulo Freire: o que dizem os 
artigos 
Carla Netto; Fernanda Carvalho da Fonseca; Slaine Senra 
 
322 
Formação Política em Paulo Freire: leitura/releitura e 
escrita/reescrita de mundo 
Alder Júlio Ferreira Calado 
 
342 
O mundo é uma história ou uma cela? 
Sthella Laryssa Barros Loureiro Lima 
 
353 
O pensamento freiriano e a igreja: nem ingênuos nem 
espertos 
Jevison Cesário Santa Cruz; Maria do Rosário Alves Leite 
 
372 
Educação de Jovens e Adultos e a Gestão Escolar: o 
papel do gestor inovador 
Ana Patrícia Falcão de Oliveira; Dalva Lucia Carvalho; Patrícia 
Carla da Hora Correia 
 
397 
O sujeito neoliberal e o sujeito de sua própria história: a 
ação dialógica como saída à subjetivação da nova razão 
do mundo 
Elis Regina Arévalos Soares 
 
422 
 
 
7 
Prefácio 
 aria arecida ieira de elo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
7 
Prefácio11 
 aria rivalda dos an os orres
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
Prefácio 
 icardo an os de lmeida
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
13 
Prefácio 
PREFÁCIO 
 
A realização desta obra EDUCAÇÃO E PRÁTICA 
PEDAGÓGICA EM FREIRE: DESAFIOS DA ATUALIDADE 
surge com o desejo de três pessoas que lutam pela difusão do 
pensamento do educador Paulo Freire. Pessoas simples que 
vislumbraram na educação mudança significativas na construção de 
suas histórias. Cada um de nós estabeleceu metas e propósitos em 
nossas vidas para atingir os nossos objetivos. E um deles foi que, 
através de uma educação libertadora, vidas puderam ser 
transformadas. 
Maria Erivalda dos Santos Torres é filha de agricultor e 
agricultora que migraram do Nordeste para o Sudeste do país, eles 
tornaram-se pedreiro e empregada doméstica, em uma grande cidade 
chamada São Paulo. Estudou em escola pública, se formou professora 
e conheceu Paulo Freire no início de sua carreira profissional, foi 
gestora administrativa e pedagógica da rede privada durante 26 anos, 
funcionária pública com atuação como professora e supervisora 
regional. Uma profissional que também, na pós-graduação, atuou em 
uma universidade pública, a Universidade de Pernambuco (UPE). E 
chegou à presidência do Centro Paulo Freire - Estudos e Pesquisas. 
Maria Aparecida Vieira de Melo uma camponesa, filha de pais 
camponeses, almejava galgar uma trajetória diferente de seus pais. 
Sempre estudou na escola pública e fez graduação e suas pós-
graduações em universidades públicas federais. Doutora pela 
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), professora da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), professora da Universidade 
Aberta do Brasil/ Universidade Federal Rural de Pernambuco 
(UAB/UFRPE) e Diretora Pedagógica do Centro Paulo Freire - 
Estudos e Pesquisas. Ricardo Santos de Almeida é alagoano, filho de 
pais que sempre lhe permitiu autonomia e liberdade sobre os caminhos 
a trilhar com amorosidade. É educador e educando, associado ao 
Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas e atua como pesquisador 
nas redes públicas de ensino sobre as seguintes temáticas: agronegócio, 
território e territorialidades, processos de ensino-aprendizagem em 
Geografia e Educação do/no campo. Embora disponha de diversas 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
14 
formações e titulações acredita que os conhecimentos também podem 
ser construídos dentro e fora dos muros das escolas em uma relação 
dialógica com os diversos cotidianos. 
O diálogo inicial surge com o desejo de construir uma obra que 
houvesse uma diversidade de vozes e experiências pesquisadas. Essa 
obra nos propõe essa oportunidade de construir o conhecimento a 
partir dos diversos territórios em uma visão estreitamente freiriana. O 
momento histórico atual, pandêmico, nos suscita cada vez mais a 
leituras críticas libertadoras e é isso que estamos propondo aqui. 
A obra dividida em duas partes. A primeira Esperançar em 
Paulo Freire e a segunda Ato educativo e social em Paulo Freire. O 
primeiro capítulo apresenta um panorama contextualizado da obra, 
detalhando o objetivo dos autores e temática escolhida por eles. Nos 
capítulos seguintes, vamos tecendo a leitura de forma rebuscada e 
crítica para a construção de um conhecimento libertador e 
emancipatório dos homens e mulheres que constroem suas histórias de 
vida para ser mais, construindo uma educação com o outro e não para 
o outro. A leitura nos reserva o direito e o dever de aprofundar o 
pensamento e de sermos mais e mais humanizados. 
Finalmente, torna-se impossível não ressaltar o quanto a obra 
é recheada de belas produções, o quanto cada um e cada uma colocou 
aqui o seu sentimento, a sua amorosidade, o seu conhecimento criador. 
Não para repetir Paulo Freire, mas para reescrevê-lo e recriar os 
espaços que atuamos na transformação de um mundo mais justo e 
igualitário. Fazemos um convite a uma leitura dialógica e libertadora. 
 
Os organizadores 
Maria Aparecida Vieira de Melo 
Maria Erivalda dos Santos Torres 
Ricardo Santos de Almeida 
Brasil, verão de 2021 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
15 
 lie e orreia dos an os
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
16 
APRESENTAÇÃO 
OUSAR A ESPERANÇAR: PARA INICIAR A CONVERSA COM 
O LEGADO DE PAULO FREIRE 
 
Eliete Correia dos Santos1 
 
Sinto-me lisonjeada por ser convida para fazer este primeiro 
capítulo que apresenta esta obra EDUCAÇÃO E PRÁTICA 
PEDAGÓGICA EM FREIRE: DESAFIOS DA ATUALIDADE e 
se junta a uma vasta publicação dos membros do Centro Paulo Freire. 
Primeiro, porque estamos comemorando os cem anos deste 
grande homem que muito nos representa em seu discurso, em sua 
trajetória, em seu legado. Não é qualquer um que chega aos 100 sendo 
o terceiro autor mais citado das ciências humanas/sociais no mundo 
todo e que tem a Pedagogia do oprimido1 entre os 100 livros mais 
referenciados em língua inglesa mundo afora. 
Segundo, porque sei do empenho investigativo e dos encontros 
contínuos dos membros desta instituição em manter aceso o diálogo2 
e a liberdade3 tão buscada pelo Mestre Paulo Freire; terceiro, por fazer 
parte do comitê científico e poder debater e deixar viva a esperança do 
legado de Paulo Freire na defesa da necessidade da transição de uma 
consciência ingênua para uma consciência crítica. ou ainda 
preocupado com a consciência das classes populares tão impactada pela 
miséria exacerbada por uma pandemia sui generis. 
A obra é composta por dezoito artigos, dividida em duas 
partes: 1. Esperançarem Paulo Freire4 e 2. Ato educativo e social 
em Paulo Freire. O livro comprova que os estudos sob base freiriana 
podem ser variados e ultrapassar fronteiras para escolha de seus 
objetos de estudo e esferas de comunicação, investigar o presente, mas 
sempre recorda o seu passado, o seu começo, o texto visto como um 
representante da memória criativa no processo de desenvolvimento 
 
1Professora e coordenadora do curso de Arquivologia, Professora do PPGLE-UFCG e do 
PPGFP-UEPB. Pós- doutora em Educação Contemporânea – UFPE, Doutora em Linguística – 
UFPB com Doutorado-sanduíche na Universidade do Porto, Mestre em Linguagem e Ensino - 
UFCG. Líder do Grupo de Pesquisa Arquivologia e Sociedade – GPAS e membro do GPLEI. 
Presidente da Rede Internacional SESA. E-mail: professoraeliete@hotmail.com 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
17 
literário, sobretudo na conjuntura atual de uma situação pandêmica e 
de grandes desigualdades sociais. 
A primeira parte Esperançar em Paulo Freire proporciona 
um contributo para a reflexão da educação e da situação pandêmica, 
como se percebe a seguir. Iniciando com o texto Um olhar freiriano 
sobre a Educação Profissional Remota de Maria Carla dos Santos 
Nogueira apresenta o pensamento freiriano como alicerce da Educação 
profissional remota ofertada pelo Senac de Balsas no ano 2020, 
mediante a análise dos princípios da Pedagogia da Autonomia que 
possibilitaram a realização de trabalhos a distância, constituindo uma 
educação libertadora em oposição ao modelo de educação bancária. 
A autora destaca que, no novo normal, nota-se que a educação 
escolar deve conduzir os sujeitos aprendentes ao desenvolvimento 
global e humano, enfatizando os valores sociais, despertando e 
estimulando-os para a prática da verdade, da justiça, do respeito e da 
solidariedade. Na Educação Profissional, essas ideais se equilibram 
com as concepções educacionais proferidas por Freire, que crê na 
edificação de uma educação autêntica direcionada a justiça e a paz. 
Santos enfatiza que as lições de Freire, em especial extraídas do livro 
Pedagogia da Autonomia, são compatíveis e reforçam a proposta do 
Senac de desenvolvimento de uma educação mais crítica, colaborativa, 
autônoma e emancipadora, onde a relação e posição dos educadores e 
educandos encontra-se em equilíbrio mesmo no período de pandemia. 
O texto Paulo Freire e o Uso das Tecnologias Digitais na 
Educação: tessituras, fios e nós de Maria do Rosário Gomes Germano 
Maciel e Aníbal de Menezes Maciel busca promover uma reflexão acerca 
do uso de tecnologias digitais aplicadas à educação a partir de algumas 
categorias da pedagogia freiriana, tais como: a dimensão política e 
pedagógica da educação tecnológica; a organização social dos homens; 
a posição de sujeito a partir de conhecimento de mundo que portam; o 
diálogo; o papel do/a professor/a; texto/contexto. Os autores fazem 
uma travessia em torno das mudanças que afetam a sociedade na 
atualidade, particularmente, às relacionadas ao novo paradigma 
econômico estruturado por intermédio das tecnologias digitais da 
informação e redes globais de economias; apresentam aproximações 
entre o uso das tecnologias digitais, a educação e o pensamento 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
18 
freiriano, evidenciando a relevância do diálogo, da problematização e 
da compreensão da linguagem e do mundo digital na atualidade. 
Explicitam possíveis relações entre o uso de tecnologias 
digitais, a cultura digital e a formação do/a professor (a) e refletem em 
torno das contribuições das tecnologias digitais para a atualidade. 
Como resultado, evidenciam que as categorias freirianas trazem 
contributos efetivos para alargar entendimentos sobre o uso da 
ambiência tecnológica digital aplicada à educação. 
Em Paulo Freire em tempos de pandemia: refletindo sobre 
relações humanizadas no “novo” convívio escolar, os au ores 
Karine da Silva Wasum, Jonas Grachten Fraga e Viviane Maciel Machado 
Maurente discutem as relações escolares em um contexto sociocultural 
transformado pela pandemia do COVID-19, à luz do referencial 
freiriano. Destacam a potencialidade da dialogicidade enquanto 
componente que pode favorecer a criação de relações mais 
humanizadas em meio ao cenário atual, marcado pela fragilização de 
alguns vínculos. 
Os autores afirmam que, diante do cenário de incerteza e 
distanciamento social, as concepções de Paulo Freire contagiam com a 
crença na humanidade. Como não poderia deixar de ser, ao discorrer 
sobre as contribuições do autor frente ao inédito viável, o texto trata, 
também, da amorosidade e da fé, tão presentes no seu legado, 
acreditando que, a partir da reflexão de todos os sujeitos envolvidos e 
da confiança no outro, podemos alcançar um convívio que considere, 
de forma mais adequada, a capacidade humana e que permita o ser mais 
na escola. 
Ana Rosaura Moraes Springer e Jaqueline Rosa da Cunha com o 
texto As pedagogias de Freire embasando projetos com refugiados 
no IFRS - Campus Porto Alegre: da leitura da palavra à geração 
de emprego e renda para o enfrentamento ao COVID-19 buscam 
demonstrar o quanto as ideias e ideais de Paulo Freire, por uma 
sociedade melhor, podem ser ao mesmo tempo, o mote e a base para 
projetos educacionais e de geração de renda e emprego. Segundo as 
autoras, ao se aproximar o centenário do homem que sonhava com uma 
escola cidadã, definida por Freire como uma escola de companheirismo, 
de viver em comunhão, que experiencia no seu cotidiano a democracia, 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
19 
nada mais simbólico e potente do que registrar, no Centro Paulo 
Freire, a reflexão de dois projetos, no meu entender muito 
interessantes, vivos e latentes que envolvem, desde a escrita, o 
desenvolvimento e os resultados finais, as diversas pedagogias 
freirianas. 
O primeiro projeto é o curso de extensão denominado 
“ 
Socie ” 
complementares para eventos e trocas socioculturais. Nele esforça-se 
por realizar a inclusão social dos cursistas estrangeiros visando à 
manutenção de sua identidade sociocultural e, ao mesmo tempo, a 
construção de uma nova identidade estrangeira, ambas relacionadas ao 
conceito de 'pertencimento' e ao desenvolvimento de ações sociais pelo 
uso da língua. O público-alvo são estrangeiros, refugiados e 
(i)migrantes dos mais diversos países, línguas, dialetos e culturas, 
como Senegal, Haiti, Guiné-Bissau, Congo, Angola, Arábia, Grécia, 
Jordânia, Colômbia, Cuba, Venezuela, etc. 
O segundo projeto teve o mesmo público-alvo, mas com a 
proposta de ser uma ação educativa empreendedora e de segurança 
alimentar, que minimizasse os impactos sociais e econômicos causados 
pela pandemia do Coronavírus na vida dos refugiados como, por 
exemplo, a dificuldade de acesso a alimentos, tendo em vista a 
dificuldade de trabalho, pois muitos deles tiram seu sustento através 
da venda de suas mercadorias nas ruas de Porto Alegre, o que foi 
proibido enquanto perdurar a pandemia. O presente estudo, foca, 
portanto, na análise das experiências de desenvolvimento social 
vivenciadas na extensão do IFRS – Campus Porto Alegre com pessoas 
refugiadas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. 
De acordo com as autoras, a metodologia, à luz de Paulo 
Freire, partiu dos saberes experienciados e vivenciados tanto da equipe 
como dos participantes dos projetos, que foram elaborados de modo 
coletivo e dialógico seguindo uma proposta pedagógica na qual as 
vozes de todos(as) os(as) envolvidos(as) se fizeram ouvir e materializar 
em ações educativas. A interpretação dos dados foi feita com base na 
análise dos processos dos projetos e dos ensinamentos de toda a valiosa 
obra do grande pedagogo Paulo Freire.Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
20 
Seguindo a mesma perspectiva de reflexões contributivas da 
perspectiva de Freire, Luiz Claudio Correia dos Santos e Carlos Alberto 
Vasconcelos, no texto As tecnologias da informação e comunicação 
na perspectiva freiriana, discutem o entendimento de tecnologias que 
perpassam obras freirianas, selecionadas e suas aplicabilidades na 
educação. É um estudo metodologicamente baseado em obras de Paulo 
Freire que abordam a temática das tecnologias. Os autores concluem 
que as abordagens de Freire, quando se referem às tecnologias que se 
encontram imersas na sociedade e que perpassam a educação, 
apresentam-nos diálogos e análises sobre seu papel nas mudanças 
educacionais. 
Com a segunda parte Ato educativo e social em Paulo 
Freire, a leitura da obra permite perceber que Freire se via como um 
pensador, livre da positividade e da modelização formal e se colocava 
fora de uma racionalidade propriamente científica, desenvolvia um 
pensar mais livre transcendendo as fronteiras de disciplinas e 
metodologias estabelecidas. Igualmente, aqui os autores procuram 
apresentar o mundo não como um objeto calculável com um modelo 
instrumentalizante de uma análise científica apenas, recusam às 
correntes do pensamento (estruturalismo e formalismo) e apresentam 
reflexões científicas nas ciências humanas materializadas por gestos 
interpretativos, por contínua atribuição de sentidos. 
Nas variadas esferas de comunicação social (religiosa, literária, 
escolar, política, etc), os autores apontam o objeto das ciências 
humanas como o ser expressivo e falante, o próprio texto fazendo um 
duplo movimento: como resposta ao já dito e também sob o 
condicionamento da resposta ainda não dita, mas solicitada e prevista; 
assim, os variados objetos investigados também são falantes a explicar 
e compreender, uma visão do sentido vivo da vivência na expressão, 
uma visão do fenômeno internamente compreendido. 
O texto Avaliação formativa no curso de Engenharia de 
Computação: uma prática pedagógica em diálogo com Paulo 
Freire de Edison de Queiroz Albuquerque e Targélia Ferreira Bezerra de 
Souza Albuquerque destacam que a avaliação educacional, em uma 
abordagem formativa e emancipatória, ocupa um espaço privilegiado 
nos debates sobre a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
21 
nas instituições de Ensino Superior no Brasil, uma estratégia de gestão 
dos processos educacionais que pode contribuir com a formação plena 
do estudante, na medida em que se constitui como prática educativa 
dialógica, problematizadora, articulando teoria e prática, o que 
possibilita a tomada de decisões críticas e comprometidas com uma 
educação para a qualidade social. 
Trata-se de um relato da trajetória de rupturas com uma 
avaliação classificatória e a descrição dos momentos de construção da 
avaliação formativa, em que professor e estudantes se tornam 
coautores de uma jornada de apropriação crítica do conhecimento e de 
produção de novos saberes na área de Redes de Computadores. Os 
autores apresentam uma análise de uma experiência de avaliação 
 “ ” 
Engenharia de Computação da Universidade de Pernambuco – Brasil, 
demonstrando ser possível romper com os padrões conservadores de 
uma cultura de avaliação classificatória, seletiva e excludente. Para 
eles, ao assumir como pressuposto de que a competência profissional 
abrange as dimensões política, técnica, ética e estética, esse trabalho 
procura demonstrar a inseparabilidade da avaliação do ato educativo e 
foca a necessidade de se construir fundamentos norteadores de uma 
nova prática avaliativa no Ensino Superior, com base nos princípios do 
diálogo, da autonomia e emancipação. 
 A metodologia, “ 
 ” 
modo coletivo e dialógico a proposta pedagógica de avaliação, na qual 
as vozes dos educandos(as) se fizeram ouvir e materializar em ações 
educativas. A interpretação dos dados foi feita com base na análise do 
discurso, levantando-se as categorias de: domínio de conteúdo, base 
técnica, criticidade, dialogicidade, aprendizagem colaborativa, direito 
de errar, superar e aprofundar os conhecimentos científicos e 
criatividade. 
Diálogos com Paulo Freire: contemporaneidade de Ana 
Paula Abreu Moura busca sistematizar as discussões realizadas na série 
Diálogos com Paulo Freire com o tema Contemporaneidade e traz para 
a discussão categorias centrais da obra do educador como: 
dialogicidade, concepção bancária de educação, relação educador-
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
22 
 “ ” 
em diálogo estas categorias, a partir da narrativa de situações vividas 
do lugar atual de professora universitária e de reflexões construídas 
quando ainda lecionava na Educação Básica, alfabetizando operários da 
Construção Civil. 
As reflexões tecidas ao longo do texto reafirmam que, apesar 
de o educador não estar mais fisicamente presente entre nós desde o 
ano de 1997, seu pensamento continua a inspirar e transpirar em 
muitos de nós ao conceber e realizar o ato educativo expressando uma 
ética de solidariedade, que reforça sua grande utopia e incansável 
esperança nas possibilidades históricas de humanização. 
Os autores Eliana Romão, Telma Romão e César Nunes são 
educadores(as) motivados(as) em prestar homenagem a Paulo Reglus 
Neves Freire (1921-1997) - Educador de primeira grandeza - e 
amparados por sentimentos de admiração e de gratidão por este 
Educador com o texto Paulo Freire: os laços afetivos no tear da vida 
dos(as) educadores(as). Mostram a importância do legado de Paulo 
Freire para a educação no Brasil e no mundo, sem ficar à margem dos 
fios que enredam sua história de vida. Amar as pessoas, acreditar nelas, 
escutá-las, libertá-las dos opressores e, enfim, rir com elas é sua marca 
e fontes de inspiração. Para os autores, é necessário sorrir com as 
pessoas, sem o que diminui a disposição de ensinar e, menos ainda, de 
aprender. A intenção, ao fazer esse artigo, é potenciar a dimensão 
humana para além do ofício da docência, pois optar por uma educação 
que se faz amorosamente e aprender a se tornar mais humano é, mais 
que um convite, uma convocação que pede a palavra em tempos de dias 
obnubilados, sombrios e frios. 
O texto Prática pedagógica, Educação Popular, exílio e 
outros temas: o que dizia Freire? de Ana Cavalcanti, Lara Matoso e 
Bruna Nascimento analisam os conteúdos dos áudios, disponíveis na 
home page do Acervo Paulo Freire, em contraponto com suas obras. 
Para tanto, utilizaram-se da pesquisa qualitativa, descritiva, com 
levantamento documental, selecionando nove áudios dos vinte e oito 
disponíveis, a partir dos quais foram realizados análise e estudo das 
obras relacionadas aos temas abordados nos materiais. Como 
metodologia de análise, os autores empregaram a Análise Textual 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
23 
Discursiva – ATD e afirma que os dados revelaram a coerência dos 
discursos de Freire com a sua extensa obra bibliográfica e detalhes de 
sua biografia, sobretudo o período do exílio. Destacam que um dos 
áudios indica uma temática nunca abordada (claramente) em sua 
produção bibliográfica, mas consonante com os ideais democráticos 
sempre defendidos pelo educador, mas só lendo esta obra poderá 
encontrar esta curiosidade como outras manifestadas pelo conjunto de 
autores. 
O trabalho Práticas literárias na Educação de Jovens e 
Adultos a partir de contribuições freirianas de Juliana da Costa 
Neres entende que a Educação de Jovens e Adultos representa outra 
possibilidade de acesso ao direito àeducação escolar, para além disto, 
 “Leituras literárias na Educação de Jovens e Adultos: 
Experiências com o gênero fábula nas aulas de leitura” 
apresenta uma discussão freireana que permite à pesquisa da autora a 
compreensão do processo de alfabetização na modalidade de jovens e 
adultos, compreendendo-os como sujeitos de direitos, principalmente 
com direitos à leitura literária, visando o estabelecimento do pacto 
ficcional e a capacidade de se de se apropriar efetivamente dela. 
Em Resistência multicultural à luz de uma trama 
conceitual freiriana de Raisa Albuquerque Andrade e Rita de Cassia 
Cavalcanti Porto, objetiva apresentar uma trama conceitual freiriana 
centrada na Resistência Multicultural, estabelecendo os enlaces 
possíveis entre o conceito central defendido por McLaren (1997) e os 
pressupostos filosóficos, epistemológicos e pedagógicos do 
pensamento freiriano. No esquema, os conceitos dialogam entre si, 
complementando-se. Ao mesmo tempo em que a Resistência 
Multicultural aparece como caminho à superação de situações-limite, 
ela é um percurso aos encontros e concretizações de inéditos viáveis – 
este é o movimento de decifração das situações e descoberta dos 
percebidos destacados. 
Este percurso se constrói em e para a conscientização, que é 
ponto de partida à Educação para a libertação. Estas ações consolidam 
o desenvolvimento da práxis política. Em síntese, a Resistência 
Multicultural à luz do pensamento freiriano tem a ver com a tomada 
de consciência aliada às ações transformadoras comprometidas com a 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
24 
luta contra o racismo, machismo, sexismo, homofobia e todas as outras 
formas de opressões relacionadas às identidades e diferenças. 
Para Andrade e Porto, as tramas conceituais freirianas são 
representações gráficas que se assemelham e ao mesmo tempo 
diferenciam-se dos mapas conceituais. A semelhança se dá pela 
articulação de conceitos que propicia uma compreensão das temáticas 
por intermédio das relações estabelecidas entre um conceito e outro, 
sendo um recurso didático pedagógico significativo para auxiliar na 
compreensão de determinados conhecimentos. As distinções são 
perceptíveis na medida em que, nos mapas conceituais há uma 
linearidade entre os conceitos destacados. 
Enfatizam que, nas tramas conceituais freirianas, a 
representação gráfica rompe com a linearidade e hierarquização entre 
os conceitos, visto que aparecem de modo relacional e dialógico, 
consonante a base do pensamento freiriano. O conceito central 
movimenta-se em direção aos demais conceitos – no sentido de ir e/ou 
vir. Resistência Multicultural trata-se de um conceito aprofundado por 
McLaren, fundamentado em abordagens mais críticas do 
Multiculturalismo, consistindo em intervenções comprometidas com 
problematizações referentes aos lugares e sentidos atribuídos à raça, 
classe, gênero e orientação sexual. Almeja-se o desenvolvimento de 
práticas que ressaltem políticas para as diferenças, questionando e 
desestruturando os padrões normativos estabelecidos pelo 
Capitalismo, Colonialismo e Patriarcado - estruturas de dominações 
responsáveis pela produção de muitas das situações de opressões. 
O texto Educação do Campo e Paulo Freire: contribuições 
para uma educação emancipadora de Maria Girlene Callado da Silva, 
Maria Fernanda dos Santos Alencar e Saulo Ferreira Feitosa objetiva 
aprofundar reflexões acerca da contribuição de Paulo Freire para a 
materialização de uma educação emancipatória no contexto da 
Educação do Campo. Para essa finalidade acolhe estudos desenvolvidos 
 “ j 
Ensino Médio: desafios para a garantia de permanência na educação do 
 ” 
autora. Neste sentido, aponta a importância de se pensar a Educação 
do Campo como um paradigma de educação emancipadora que valoriza 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
25 
a cultura, os saberes e valores dos povos campesinos, enquanto sujeitos 
de direito, partindo do pensamento de Paulo Freire para o 
desvelamento da realidade dos povos campesinos. 
Exploração do acervo Paulo Freire: o que dizem os artigos 
por Carla Netto, Fernanda Carvalho e Slaine Senra analisa os artigos 
disponibilizados no Acervo Paulo Freire. Para tanto, a metodologia 
utilizada foi a pesquisa qualitativa, descritiva, com levantamento 
bibliográfico de 19 artigos, enriquecida com as contribuições buscadas 
na metodologia de análise de dados Análise Textual Discursiva - ATD. 
Com base no que foi analisado, os autores concluem que o conteúdo 
dos artigos pontua a visão de Paulo Freire na busca por novos 
elementos para conceber a vida humana em sociedade de forma 
radicalmente libertadora e democrática. A crença de Freire na 
democracia se dá a partir da certeza de que a educação e a esperança 
são as condições da ação e da política. 
 O texto Formação Política em Paulo Freire: 
leitura/releitura e escrita/reescrita de mundo de Alder Júlio 
Ferreira Calado é uma homenagem e um convite à compreensão política 
de Paulo Freire ou por Paulo Freire, no qual o autor sublinha seu 
entendimento de política para além da relação sociedade – estado que 
significa também passar pelo exame das relações sociedade - estado, 
não as reduzindo, contudo, a esta dimensão. 
De contribuições aprofundadas e significativas nesta 
contemporaneidade, o autor trata de, sem negar a importância da 
política enquanto expressão das relações sociedade - estado, sublinhar 
as relações desta dimensão com outra dimensão não menos importante, 
especialmente na atual encruzilhada histórica. Aponta a compreensão 
da política como expressão também de uma malha de microrrelações 
no chão do cotidiano. Microrrelações que atravessam as diferentes 
dimensões da vida social: do âmbito da família às relações de trabalho; 
do âmbito econômico à esfera cultural; dos compromissos 
socioambientais às relações do Sagrado. 
O texto de Alder Júlio enfatiza que não basta ler o mundo, é 
preciso também reescrevê-lo, sempre lembrando da importância do 
contexto em que se dão as relações sociais, o que importa, de modo 
conjugado, é, segundo o autor, entender tal exercício em dinâmica 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
26 
interconexão na perspectiva de irmos construindo um mundo 
alternativo à atual barbárie capitalista. 
O autor conclui não dando respostas esperadas; entretanto, 
 “Q 
passos, então, somos chamados a usar, nesta direção? Aprendendo com 
a história e com a memória dos oprimidos de todos os tempos e lugares, 
o que é tarefa comum dos de baixo, como eles se têm organizado para 
enfrentar exitosamente este desafio? Que papel tem jogado os núcleos, 
as pequenas comunidades, os círculos de cultura, as células, quanto as 
suas potencialidades e eficácia no enfrentamento em defesa e promoção 
dos interesses dos debaixo e contra os interesses das classes 
dominantes e dirigentes? De que maneira as lutas mais diretas têm sido 
organicamente alimentadas tanto pelo processo organizativo quanto 
pelo processo formativo dest ?” 
apenas algumas das provocações realizadas pelo autor, só lendo o texto 
na íntegra que se pode deliciar com tanta responsabilidade social, 
amorosa e crítica. 
 O texto O mundo é uma história ou uma cela? de Sthella 
Laryssa Barros Loureiro Lima analisa os efeitos da leitura na população 
carcerária em Salvador. Propõe-se a reflexão em torno da problemática 
existente na ausência de atividades contínuas de leitura no interior dos 
presídios. A pesquisa empírica e qualitativa, desenvolve-se em um 
complexo penitenciário em Salvador, através da Metodologia da 
Observação-participante. A autora busca desenvolver uma reflexãosobre os impactos decorrentes de atividades de leituras a população 
carcerária, ancorada na Teoria da intersubjetividade de Freire, 
entendendo-se que a abordagem sobre atividades de leitura no interior 
do Sistema Prisional, é um tema de grande relevância para a 
minimização dos efeitos circunstanciais da pena. 
A autora relata que as rodas de leituras são realizadas por 
professores de uma universidade pública de Salvador, através de um 
projeto de extensão e, geralmente, possuem um ciclo de 6 meses e 
realizadas em uma sala localizada dentro de um dos pavilhões. Durante 
o encontro, a autora observou a presença de expressões afetivas, 
através da apresentação de desenhos e de interações socioeducativas, 
percebeu que a prática da leitura precisa ser enfatizada no ambiente 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
27 
prisional, visto que a leitura como instrumento de compreensão de si e 
do mundo, auxilia no processo de encontro e reencontro com a própria 
identidade. 
O pensamento freiriano e a igreja: nem ingênuos nem 
espertos de Jevison Cesário Santa Cruz e Maria do Rosário Alves Leite 
apresentam uma hipótese de compreensão acerca das ações 
desenvolvidas em uma congregação protestante, que tem cooperado no 
processo educacional de crianças e jovens, na comunidade de Jardim 
Jordão, divisa entre Recife e Jaboatão dos Guararapes. Com uma 
abordagem qualitativa, os autores mostram o estudo das concepções 
daquela instituição religiosa, levantamento de dados oficiais 
descritivos daquela comunidade, entrevistas e análise dos relatos de 
experiência de estudantes, professores e familiares que evidenciam 
profícuo diálogo entre a prática religiosa e o pensamento do educador 
Paulo Freire e que a aproximação com práticas educativas voltadas à 
população desassistida pelo Poder Público levaram os autores ao 
universo freiriano de busca por uma prática transformadora, 
abrangente, acolhedora, voltada para a libertação do homem da 
ingenuidade em que se encontra envolto, para o engajamento no 
movimento de construção de sua própria história. 
O texto A Educação de Jovens e Adultos e a Gestão 
Escolar: o papel do gestor inovador de Ana Patrícia Falcão de 
Oliveira, Dalva Lucia Carvalho e Patrícia Carla da Hora discute a 
complexidade da escola e o papel do gestor inovador numa perspectiva 
freireana de ensino, identificando os saberes escolares no Projeto 
Político Pedagógico (PPP). 
Para os autores, há necessidade de as escolas enquanto 
instituições de ensino buscarem a criticidade através dos saberes 
escolares de forma inovadora, objetivando a melhoria na qualidade de 
vida e de ensino para todos os sujeitos. Nessa perspectiva, o artigo 
busca reconhecer a escola como espaço diverso, participativo, inovador 
e democrático que concebe o ensino da EJA como princípio norteador 
da sua identidade. O trabalho justifica-se pela necessidade das 
instituições de ensino em EJA obter sua própria autonomia, fator 
preponderante na concepção freireana de ensino, considerando a 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
28 
participação da comunidade escolar em meio às decisões que buscam 
um convívio participativo e democrático. 
Para concluir, o texto O sujeito neoliberal e o sujeito de sua 
própria história: a ação dialógica como saída à subjetivação da 
nova razão do mundo de Elis Regina Arévalos Soares pretende realizar 
uma análise das problemáticas relativas à subjetivação da racionalidade 
neoliberal, buscando traçar pontos de convergência com o pensamento 
 “ ” 
como suporte para o desenvolvimento deste estudo as considerações a 
 “ j ” “ 
 ” 
Christian Laval. É demonstrada a presença dos elementos da Ação 
Antidialógica nas práticas da subjetivação da racionalidade neoliberal. 
A autora conclui, em síntese, que a contraconduta por meio da Ação 
Cultural Dialógica é capaz de abrir espaço para a libertação do 
oprimido moldado enquanto sujeito neoliberal. 
Destarte, a leitura deste livro não é linear, pois cada capítulo 
apresenta um olhar específico, por conseguinte, um modo de ler e de 
dialogar com o texto. Toda a complexidade do ato de ler deve-se à 
diversidade de gêneros, de sentidos e de leitores, o que torna a obra 
bastante interessante pela multiplicidade de olhares de seus autores, 
conduzindo a um cenário de vozes que se explicitam ou se ocultam nas 
atividades de linguagem realizadas pelos diversos sujeitos, através dos 
gêneros ou modos de dizer que veiculam socialmente e dão forma ao 
texto. 
Reafirmando uma carta que escrevi com Scocuglia5 (2021, no 
prelo), considero que esta obra se junta a uma reação mundial aos 
ataques contra a Paulo Freire e seu legado. Brotam diariamente 
iniciativas como esta deste Centro de entrar em contato com a obra, o 
legado e a presença distante do nosso grande mestre. Bem que 
gostaríamos de presenciar mais uma das tuas palestras a pedir (como 
fez na sua última entrevista por aqui, 1997) as muitas marchas pela 
terra, pela moradia, pela comida e o trabalho e, especialmente, pela 
educação. 
Quero desejar a quem ler esta obra o máximo da alegria que o 
mestre nos deu, a continuidade da esperança por um mundo mais 
SANTOS, E. C. dos. Apresentação – Ousar a esperançar: para iniciar a conversa com o legado de 
Paulo Freire 
29 
justo, a amorosidade com a qual respeitou todos os humanos, as boas 
lembranças que deixou por todos os caminhos que percorreu, com a 
proposta de hominização. Portanto, este que se encontra em suas 
mãos, prezado leitor, é um contributo inigualável para os estudos 
freirianos. Parabéns aos autores pela produção e aos leitores pela 
oportunidade de lê-los. 
 
Referências 
¹FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1984. 
²FREIRE, Paulo et alii. Pedagogia: diálogo e conflito. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 1987. 
³FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1983. 
4FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a 
Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 
5Ver A história das ideias de Paulo Freire e a atual crise de 
paradigmas. 
Em: 
www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/boo
k/138. Ver também o Programa Paulo Freire Vivo – YouTube (30 
vídeos) 
https://www.youtube.com/watch?v=iwjRzpDlLU0&list=PLGshD_
YWCkUQg6cIbeo_BvZpDqpuDlwTK 
http://www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/book/138
http://www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/book/138
https://www.youtube.com/watch?v=iwjRzpDlLU0&list=PLGshD_YWCkUQg6cIbeo_BvZpDqpuDlwTK
https://www.youtube.com/watch?v=iwjRzpDlLU0&list=PLGshD_YWCkUQg6cIbeo_BvZpDqpuDlwTK
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
30 
 
 
 
 
30 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
31 
 aria arla dos an os o ueira
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
32 
UM OLHAR FREIREANO SOBRE A EDUCAÇÃO 
PROFISSIONAL REMOTA 
 
Maria Carla dos Santos Nogueira2 
 
Introdução 
 
Em virtude da COVID-19 e considerando as mudanças 
globais, pode-se dizer que as instituições de educação tiveram que se 
reinventar buscando alternativas não presenciaispara continuar a 
desenvolver o processo de ensino e aprendizagem, sem perder o ritmo 
formativo e dando aos alunos o apoio educacional e psicológico 
necessário em tempos de pandemia. 
Diante do exposto, este artigo tem o objetivo de apresentar o 
pensamento freiriano como alicerce da Educação profissional remota 
ofertada pelo Senac de Balsas no ano 2020, mediante a uma análise 
acerca dos princípios da Pedagogia da Autonomia que possibilitaram a 
realização de trabalhos a distância, constituindo uma educação 
libertadora em oposição ao modelo de educação bancária. 
Em meio a realidade observada, levantou-se a seguinte 
problematização: Tomando os textos de Paulo Freire, como expressão 
da educação libertadora, com a finalidade de criar o conhecimento e de 
transformar-reinventar a realidade por meio da ação-reflexão, de que 
forma o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial poderá 
trabalhar sua metodologia ação-reflexão-ação no curso da 
Aprendizagem Profissional de Qualificação em Serviços 
Administrativos a fim de inserir docentes e discentes na realidade do 
ensino remoto? 
A revisão bibliográfica dos textos de Freire e dos documentos 
técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
fundamentaram as ideias formuladas no presente capítulo, assim 
também a pesquisa de campo com observação participante da realidade 
 
2Mestra em Ciências das Religiões pela FU (Ênfase em Marketing, Religião e Sociedade), Pós-
graduada em Psicologia da Educação pela UEMA, Pós-graduada em Docência para a Educação 
Profissional pelo Senac, Bacharel em Administração pela Faculdade de Balsas, Acadêmica do 3º 
período de Pedagogia pela UEMA. Instrutora no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
(Senac). E-mail: profmcarla@outlook.com 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
33 
vivenciada pelos docentes e discentes em meio a pandemia compôs o 
eixo do presente estudo. Os docentes responsáveis pelas turmas da 
Aprendizagem Profissional de Qualificação em Serviços 
Administrativos (total de 2) e os discentes inseridos nas turmas 31 e 
32, um total de 52 alunos corresponderam a amostra analisada. 
O ensino remoto passa a compor a realidade da Educação 
Profissional do Senac no início de junho de 2020, após os docentes 
receberem vários treinamentos acerca do funcionamento dessa 
modalidade de ensino, visto como alternativa instrucional aplicada em 
situações emergenciais. Também receberam orientações quanto ao uso 
das Tecnologias Digitais da Educação e Comunicação (TDICs) e sobre 
as Metodologias Ativas, se empoderando dessa nova realidade. 
A necessidade de adaptar o processo de ensino e aprendizagem 
durante a pandemia levou docentes e discentes a utilizarem 
ferramentas digitais mediadas pelo uso da internet o que modificou a 
perspectiva de interação e comunicação dos educadores com seus 
educandos. O ensino remoto foi inserido de forma temporária no 
contexto da Educação Profissional ofertada pelo Senac que passou a 
utilizar as ferramentas síncronas e assíncronas para dar apoio a 
condução das aulas remotas mediadas pelas plataformas Google Meet e 
Google Classroom. 
 “[ ] 
apenas para nos adaptarmos à realidade, mas, sobretudo, para 
transformar, para nela intervir, recriando- ” 
capacidade de aprender é intrínseca ao homem, logo desde o seu 
nascimento esse aprende, mediante situações concretas e a partir de 
ideias ou teorias testadas e vivenciadas. A crise sanitária provocou uma 
ressignificação na educação e nas formas de aprender, nos fazendo 
refletir acerca da revolução pedagógica como algo primordial à 
evolução das instituições de ensino. 
No novo normal, a educação escolar deve conduzir os sujeitos 
aprendentes ao desenvolvimento global e humano, enfatizando os 
valores sociais, despertando e estimulando-o para a prática da verdade, 
da justiça, do respeito e da solidariedade. Na Educação Profissional, 
essas ideais se equilibram com as concepções educacionais proferidas 
por Freire, que crê na edificação de uma educação autêntica direcionada 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
34 
a justiça e a paz. Para Freire (2014, p. 16) a escola deve construir uma 
“ 
 ” 
As obras de Freire reforçam que o processo educativo deve 
levar todos os participantes a alcançar a autonomia. Na sala de aula 
remota do Senac, a proposta de desenvolvimento de competências 
intensificou ainda mais a troca de saberes entre professores e alunos 
levando-os a construir e reconstruir os conhecimentos, habilidades, 
atitudes e valores essenciais a reinvenção e a busca por autonomia no 
nov “ 
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da 
reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente 
 j ” 
A pandemia reforçou a atuação do docente uma vez pautada na 
ocupação de várias funções e papeis no ensino remoto, onde esse 
tornou-se mais mediador, orientador, motivador e instigador do 
protagonismo dos discentes inseridos nessa modalidade emergencial 
de ensino. Antes mesmo da pandemia, os educandos já apresentavam 
um perfil autônomo diante do processo de aprendizagem, dessa forma 
o que se pretende expor é que a pandemia gerou a necessidade de 
apropriação das TDICs por parte dos docentes e discentes uma 
estratégia essencial a realização das aulas remotas. 
Para ampliar o engajamento dos alunos na Educação 
Profissional, o Senac reestruturou o processo de ensino e 
aprendizagem modificando seu modelo pedagógico para a realidade da 
cultura digital, ou seja, integrou o Google Meet, Google Classroom e as 
TDICs à sala de aula remota, de modo a desenvolver e recriar novas 
alternativas para a condução das aulas de forma virtuais. As 
metodologias ativas, já utilizadas na sala de aula presencial, passaram 
a fazer parte da realidade formativa do aluno de modo mais intenso nos 
últimos meses de 2020. 
Nesse sentido, as lições de Freire, em especial extraídas do 
livro Pedagogia da Autonomia, são compatíveis e reforçam a proposta 
do Senac de desenvolvimento de uma educação mais crítica, 
colaborativa, autônoma e emancipadora, onde a relação e posição dos 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
35 
educadores e educandos encontra-se em equilíbrio mesmo no período 
de pandemia. 
A pandemia direcionou o Senac a redesenhar suas estratégias 
educacionais, analisando as contribuições, os riscos e as mudanças 
advindas da inserção das TDICs na sala de aula remota. A prática da 
cultura digital, os recursos utilizados para condução das aulas remotas, 
as formas de apresentação e a linguagem midiática aplicadas a prática 
pedagógica, transformaram a postura dos docentes e discentes frente a 
educação profissional, dando-lhes a oportunidade de explorar seu 
potencial teórico-científico e de criar contextos genuínos de 
aprendizagem. 
 
Contribuições de Paulo Freire na Educação Profissional 
 
Decerto que a Educação Profissional praticada pelo Serviço 
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) tem transformado a 
vida de muitos jovens, ao longo dos últimos 74 anos. Entretanto, é 
possível afirmar que desde 1800, diversas são as ações e funções 
exercidas por essa modalidade de ensino no Brasil. Para a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a Educação 
Profissional é um modelo de ensino que complementa a Educação 
Básica, sendo ofertada por instituições técnicas de ensino nos âmbitos 
federal, estadual, municipal e privado. 
A associação da Educação Profissional às diferentes formas de 
educação, assim como ao trabalho, à ciência e à tecnologia, tem 
conduzido jovens e adolescentes, entre 14 e 24 anos incompletos, a 
intensificar o desenvolvimento de suas competências e aptidões 
vislumbrando alcançar uma vida maisprodutiva e bem-sucedida. 
Analisando a metodologia proposta por Paulo Freire, convém 
afirmar que esta muito se alinha à realidade da Educação Profissional. 
Patrono da educação brasileira, Paulo Freire se destacou pela 
relevância social de suas obras delegando à educação, o papel de 
promotora da emancipação humana. Cenário característico à Educação 
Profissional, a proposta do Modelo Pedagógico Senac traduz o 
significado que a instituição atribui ao fazer educacional, na 
perspectiva da formação humana e do trabalho, considerando as 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
36 
concepções filosóficas de ser humano, mundo, trabalho e educação para 
assim tornar os discentes ainda mais independentes. 
Derivados dos princípios filosóficos, os princípios pedagógicos 
– Escola, Currículo, Metodologia, Aluno, Docente e Avaliação – 
orientam a prática educativa do Senac. A escola representa o espaço 
para a construção do conhecimento e desenvolvimento de 
competências incorporando múltiplas formas de aprender. O currículo 
 “ documento dinâmico, cultural e historicamente 
 ” 
segmentação entre teoria e prática valorizando o desenvolvimento de 
competências a partir de práticas pedagógicas ativas, inovadoras, 
integradoras, colaborativas e centradas no protagonismo juvenil, 
social e econômico do aluno. 
O aluno nesse modelo metodológico torna-se mais ativo e 
autônomo, interagindo com o docente e se responsabilizando pela 
construção do próprio conhecimento. O docente não deixa de assumir 
seu papel, entretanto, constitui novos perfis, planejando, 
desenvolvendo e executando estratégias pedagógicas voltadas à 
promoção de uma aprendizagem mediada e significativa. Por fim, a 
avaliação envolve todo o ato educativo mantendo o foco docente e 
discente na edificação do processo de ensino e aprendizagem pautado 
no desenvolvimento de competências (SENAC, 2015). 
Na concepção freiriana, o processo educacional ocorre de modo 
a garantir uma formação que possibilite aos sujeitos aprendentes a 
edificação de seus conhecimentos, habilidades, atitudes e valores 
essenciais à intervenção no mundo, missão também assumida pelas 
instituições do Sistema S. No âmbito do processo educacional, Freire 
 “ [ ] nsfere, se cria, 
 ” 
Tal reflexão nos faz compreender que o conhecimento não é 
transferível, mas sim uma criação do homem inserido no espaço que 
habita. Fazendo um adendo, nota-se que a construção do conhecimento 
está alinhada ao pensamento humano uma vez embutido de caráter 
transformador. Por meio da ação-reflexão transformadora de Freire 
conseguimos criar esse processo social intitulado conhecimento, nos 
direcionando a repensar o mundo em que vivemos. 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
37 
É fato que o mundo não é apenas um espaço no qual o homem 
deve se relacionar, intervir, dialogar, ensinar, mas principalmente 
aprender, a partir do momento que deixa de constatar os fatos para 
modificar e edificar sua realidade. Tomando a educação como norte, 
Freire evidencia que ensinar é uma especificidade humana e exige do 
sujeito formador mais competência, segurança, curiosidade e apreensão 
da realidade. No que concerne à ação de aprender, Freire (2010, p. 69) 
 “ 
constatar para mudar, o que se faz sem abertura ao risco e à aventura 
 ” 
conhecimento provisório adquirido acerca de algo. 
Como práxis da Educação Profissional do Senac, o movimento 
voltado ao desenvolvimento de competências tem início na ação, sendo 
que após fazer uma reflexão sobre ela, retorna à ação na forma de uma 
nova ação (SENAC, 2015). A construção do conhecimento por esse viés 
nos faz perceber a influência freiriana na estrutura pedagógica do 
Sistema S, já que mantém as ações do agir e refletir, acrescida de uma 
nova ação, ou também chamada de ação corretiva, finalizando assim o 
processo de construção do conhecimento ao alcançar uma 
transformação efetiva no indivíduo, tanto nas condições objetivas de 
vida e trabalho como na capacidade de o sujeito aprendente ser o 
instigador dessas mudanças. 
 
Esse movimento de ação-reflexão-ação, incidindo sobre capacidades 
humanas complexas, tende a exigir e implicar um desenvolvimento 
humano integral. Essa dinâmica entre o domínio técnico do trabalho e 
o desenvolvimento humano integral é reforçada na visão da 
competência como práxis. Portanto, se por um lado a competência pode 
ser vista pelo seu aspecto procedimental da execução da tarefa 
prescrita na ocupação, por outro lado também pode representar uma 
alternativa na qual se vislumbre uma formação integral que represente 
o aumento do significado real do trabalho para o homem e impulsione 
sua capacidade de superação e transformação da sociedade. (SENAC, 
2015, p. 18). 
 
 
A Educação profissional, como fator de desenvolvimento 
conceitual, humano, inclusão social, cultural e produtiva, vai muito 
além da preparação de mão de obra, fortalecendo o seu papel frente à 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
38 
formação para o mundo do trabalho ao focar nos pressupostos da 
democracia, igualdade de direitos e dignidade humana. Assim, 
compreendemos que a Educação Profissional se torna efetiva à medida 
que agrega suas Marcas Formativas Senac (Domínio técnico-científico, 
Visão crítica, Atitude Empreendedora, Atitude Colaborativa e Atitude 
Sustentável) ao desenvolvimento dos sujeitos aprendentes, 
contribuindo para a formação cidadã desse, em sociedade (SENAC, 
2015). 
Enfatizando o diálogo de Freire acerca do processo social de 
construção do conhecimento, perceberemos que a ação-reflexão 
definida por esse pensador é a força que impulsiona o indivíduo a 
buscar novos saberes, da mesma forma que na Educação Profissional a 
ação-reflexão-ação atrelada ao desenvolvimento de competências 
potencializa a busca por novos conhecimentos, assim como, o fazer 
profissional e a criatividade dos sujeitos aprendentes, vinculando os 
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores ao passo que promove o 
desenvolvimento constante dos alunos. 
 
Pedagogia da Autonomia na Educação Profissional Remota 
 
A globalização e os avançados tecnológicos impulsionaram o 
surgimento de novas formas de comunicação e novos relacionamentos, 
causando mudanças no consumo de bens e serviços, além de conduzir 
escolas e professores ao desenvolvimento da educação em um cenário 
de ensino e aprendizagem virtual. 
A chegada abrupta da COVID-19 transformou de forma 
significativa a realidade educacional no mundo. Para não estagnar, as 
escolas tiveram que modificar seus métodos de ensino, superando os 
desafios impostos pela pandemia e realizando as aulas, que eram 
presenciais, de forma remota mediada pelo uso das Tecnologias 
Digitais da Informação e Comunicação (TDICs). 
Diante dessa nova realidade, os professores buscaram 
compreender a essência do ensino remoto para em caráter emergencial 
passar a aplicá-lo através de videoconferências realizadas por 
plataformas web diversificadas, as quais são possíveis citar: Google 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
39 
Meet, Zoom, Microsoft Teams, Google Classroom, Chat Gmail, entre 
outras. 
Muitos foram os desafios que docentes e discentes enfrentaram 
para se inserir nesse novo normal. Os docentes tiveram que passar por 
vários treinamentos envolvendo o uso de plataformas web, a aplicação 
de metodologias ativas de aprendizagem no ensino remoto e criação de 
estratégias pedagógicas para inclusão do discente no mundo digital. 
Enquanto isso, os discentes que receberam orientações dos docentes, a 
princípio via WhatsApp, passaram a utilizar o smartphone como 
recurso básico no processode aprendizagem, assumindo a 
responsabilidade de acessar as plataformas web e de manter uma 
participação ativa nas aulas remotas. 
É fato que ter internet de qualidade foi um dos primeiros 
desafios a serem superados durante a pandemia. Sendo 80% dos 
aprendizes inseridos no Programa de Aprendizagem 2020 do Senac de 
classe média-baixa, muitos apresentaram certas dificuldades para 
acessar as aulas realizadas através do Google Meet e Google Classroom, 
relatando a oscilação e a qualidade do sinal como os maiores problemas 
para permanecer conectado nas aulas remotas. 
Frente ao exposto, Demo (2009, p. 53) entende que, em tempos 
de internet, o apren “ logias 
podem nos trazer são oportunidades ainda mais ampliadas, em meio 
 ” 
a relevância de incrementarmos as metodologias pedagógicas 
mediante a inserção das tecnologias educacionais, proporcionando aos 
discentes momentos de identificação prévia dos seus conhecimentos e 
maior interação com os recursos digitais à medida que contribuímos 
para a não execução de uma educação bancária como cita Freire 
(FREIRE, 1987). 
Ao detectar os conhecimentos prévios dos educandos, os 
docentes devem considerar as atividades propostas no projeto 
pedagógico da unidade curricular conforme a realidade educacional do 
Senac, a partir das quais os discentes serão provocados a falarem ou 
escreverem sobre o que sabem apresentando seus conhecimentos 
mediante o compartilhamento de conteúdos e temas já aprendidos, um 
momento excepcional a troca de ideias preliminares. Assim, podemos 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
40 
compreender que a ação d “ nsinar exige respeito aos saberes dos 
educandos. [...] Por que não estabele ‘ ’ 
saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que 
eles têm como ?” 
No cenário do ensino remoto buscou-se estabelecimento um 
diálogo com os estudantes, e entre os estudantes, a fim de promover 
um levantamento acerca dos conhecimentos prévios quanto ao uso das 
plataformas digitais escolhidas pelo Senac para condução das aulas 
remotas. Esse momento também se configurou como um repensar 
sobre os aspectos que distinguem a Educação a Distância do ensino 
remoto. 
Diferentemente da Educação a Distância, o ensino remoto 
preconiza a realização da aula em tempo real, ou seja, a proposta é que 
o docente e os discentes acessem a plataforma digital escolhida para 
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem ao mesmo 
tempo, interagindo no dia e horário que a aula presencial acontecia, 
estando cada participante em um espaço geográfico distinto, porém 
dialogando no ambiente virtual de forma síncrona e dinâmica. 
Ferramenta síncrona, o Google Meet é um aplicativo criado pelo 
Google para ofertar o serviço de videochamada online. Essa plataforma 
digital compôs a realidade da Educação Profissional do Senac no 
período de pandemia, oportunizando aos docentes realizarem as aulas 
remotas em tempo real, garantindo a aplicação dos conteúdos 
programados no Plano de trabalho docente (PTD), a realização de 
debates, a apresentação de trabalhos online e a articulação das 
competências do perfil profissional demandado pelo mercado. 
Além da apropriação das novas tecnologias digitais, um desafio 
vivenciado pelos docentes foi adaptar os planos de aulas presenciais 
para o modelo remoto. Esse exercício levou os docentes a reescreverem 
as estratégias pedagógicas para a condução das unidades curriculares 
observando à realidade dos educandos, mantendo o roteiro 
previamente estruturado em uma perspectiva inovadora e virtual. 
Outra plataforma web utilizada pelos docentes do Senac 
durante a pandemia foi o Google Classroom ou Google Sala de Aula, uma 
plataforma social, gratuita e online que auxiliou os docentes e discentes 
frente ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
41 
forma assíncrona, agregar valor ao ensino praticado em períodos 
emergenciais, como no caso de pandemias. (GOOGLE, 2014) 
Pode-se afirmar que o Google Classroom se assemelha a um 
Ambiente Virtual de Aprendizagem no qual docentes e discentes 
interagem em tempo e espaços distintos. Ao usar esta plataforma, os 
docentes do Senac tiveram a possibilidade de criar turmas diversas 
organizando e disponibilizando aos discentes uma série de materiais e 
tarefas ordenadas, como criação de mural, diário de bordo, atividades 
individuais e grupais, questionários, entre outras. Essas atividades 
passaram a compor o script avaliativo do Senac e contribuíram para o 
desenvolvimento das competências pessoais, acadêmicas e 
profissionais dos aprendizes. (GOOGLE, 2014) 
É fato que durante a pandemia, os docentes vivenciaram 
experiências magníficas frente ao uso das tecnologias, das plataformas 
digitais e da aplicação de metodologias ativas de aprendizagem, por 
meio das quais enfatizaram o protagonismo dos discentes no ensino 
remoto, compreendendo que de nada serve apresentar um bom 
discurso se a ação-reflexão pedagógica é impermeável às mudanças 
(FREIRE, 1996). 
Pode-se dizer que as Metodologias ativas estão pautadas nas 
ações de ouvir, ver, refletir, perguntar, discutir, fazer e compartilhar. 
Esse método orientou os docentes do Senac a incentivar os discentes a 
assumirem o papel de protagonistas da sua própria história, sendo que 
em linhas gerais, a implantação de metodologias ativas durante a 
pandemia contribui para o desabrochar do discente, afastando-o dos 
estilos metodológicos tradicionais. 
Na atualidade, muitas são as Metodologias ativas aplicadas 
pelos docentes da Educação Profissional do Senac, as quais é possível 
citar: Ensino Híbrido; Cultura Maker; Sala de aula invertida (Flipped 
Classroom); Aprendizagem baseada em Projetos (Project Based 
Learning); Aprendizagem baseada em Problemas; Método do Caso 
(Teaching Case); Aprendizado em equipe (Team - based Learning); 
Aprendizado por pares (Peer Instruction) e Gamificação. Tudo isso nos 
faz compreender que apesar dos prejuízos causados pela pandemia, essa 
crise serviu para nos ajudar a refletir sobre a necessidade de 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
42 
aprofundamento dos conhecimentos construídos ao longo do processo 
formativo. 
Segundo Freire (1996) faz-se relevante aguçar a curiosidade, 
elemento que nos torna indagadores não somente quando percebemos 
as coisas, mas principalmente nos aprofundamos no conhecimento 
delas, buscando modos e maneiras para transformar nossa realidade, 
recriando-a. Na visão de Freire a prática da dialogicidade é dever do 
docente, sujeito responsável pela construção de uma educação crítica. 
 
A dialogicidade não nega a validade de momentos explicativos, 
narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O fundamental 
é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos 
alunos, é dialógica aberta, curiosa, indagadora, e não apassivada, 
enquanto fala ou enquanto ouve (FREIRE, 1996, p. 86). 
 
Tomando os saberes pedagógicos em crise, ao recolocar 
questões tão relevantes para o momento atual, assim quanto foram na 
década de 60, Freire traduz em seu tempo, a partir do lúcido e peculiar, 
aquilo que os estudos das ciências da educação vêm sinalizando nos 
últimos anos: a ampliação e a diversificação das fontes legítimas de 
 “ -fazer é o saber-ser-
 ” 
Em relação às lições de Freire sobre ensinar, pode-se dizer que 
muitas são as contribuições deixadas por esse autor para a realidade do 
 “ 
 ” j de que 
precisamos entender que a prática docente nos direciona a buscar 
saberes indispensáveis à nossa formaçãocrítica e, porque não dizer, 
progressista. 
 
Se, na experiência de minha formação, que deve ser permanente, 
começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me 
considero o objeto, que ele é o sujeito que me forma e eu, o objeto por 
ele formado, me considero como um paciente que recebe os 
conhecimentos-conteúdos-acumulados pelo sujeito que sabe e que são 
a mim transferidos. Nesta forma de compreender e de viver o processo 
formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar 
 j “ ” j o de meu ato formador. É 
preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
43 
cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se 
forma e re-forma ao for-mar e quem é formado forma -se e forma ao 
ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir 
conhecimentos, conteúdos nem forrar é ação pela qual um sujeito 
criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado 
(FREIRE, 1996, p. 13). 
 
 
Nessa perspectiva, professor e aluno assumem o papel de 
agentes produtores do saber, se convencendo definitivamente que 
ensinar não é transferir conhecimento, mas sim criar as possibilidades 
para a sua produção ou a sua construção. Assim é possível ressaltar 
que, nem o docente muito menos os discentes se reduzem ao papel de 
obj “Q 
 ” 
Para Freire (2014), o professor não pode se deter a ensinar 
conteúdos acreditando que assim estará transmitindo o saber. É 
preciso despertar no indivíduo a busca pela aprendizagem como um 
elemento inseparável do ambiente escolar e da vida, do mesmo modo 
que a construção do conhecimento não pode ser compreendida como 
algo acabado em si, já que esse deve ser revisto, recriado e repensado 
sempre que necessário. 
A partir dessas colocações, o docente atuante na Educação 
profissional passa a respeitar a natureza e o tempo de aprendizagem de 
cada aluno, lhes proporcionando autonomia para refletir e buscar um 
aprendizado mais significativo considerando suas necessidades e 
limitações. Freire (2014) ainda descreve a necessidade de o professor 
ter bom senso ao estruturar suas ações pedagógicas de modo que 
contribua efetivamente para a autonomia dos alunos. Assim, se 
percebermos as dificuldades de aprendizagem dos alunos, poderemos 
ajustar nossas estratégias metodológicas tornado a aula mais acessível 
e interessante para a construção do conhecimento. 
E não obstante a realidade do ensino remoto, o pensamento 
freiriano prevalece como se refletisse inconscientemente um passado-
presente construído com um olhar voltado para o futuro. Isso significa 
dizer que no atual cenário, a ação de ensinar de forma remota exige 
rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, 
criticidade, ética, rejeição ao preconceito, reflexão crítica sobre a 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
44 
prática, reconhecimento e assunção da identidade cultural, bem como 
aceitação ao novo. 
Cada situação de ensino e aprendizagem exige dos docentes e 
discentes uma reflexão crítica sobre como lidar com ela e, dessa 
maneira, Frei “ j 
 ” 
p.39). Assim sendo, ao se preparar para atuar no novo normal, o 
professor deve identificar as peculiaridades dos alunos, considerando o 
contexto atual, cultural, social e afetivo no qual está inserido. 
Durante a pandemia, o papel do docente tornou-se ainda mais 
indispensável para a constituição da subjetividade do educando. À 
medida que foram descobrindo os segredos do pensamento e da 
estrutura argumentativa, por intermédio de uma visão crítica, os 
discentes se tornaram inteligentes o suficiente para compreender o 
mundo e se enxergar nele, estando envolto por outros seres com 
interesses diversos. 
Freire (1996) afirma que o sujeito enxerga as relações de forma 
crítica aprendendo a olhar para as múltiplas dimensões e hipóteses das 
conexões de fenômenos que formam a realidade. Neste sentido, é 
imprescindível que a cada momento das aulas remotas reforcem a 
curiosidade crítica do educando, ensinando-o as múltiplas maneiras de 
aproximar-se dos objetos cognoscíveis e o fazendo entender sua teia de 
relações criticamente possíveis. 
Essas questões e a aceitação ao novo nos faz pensar que, se 
tradicionalmente nossa preparação se voltava à ação de despejar 
conteúdo nos alunos, hoje, fundamentados nas lições de Freire, temos 
a consciência de que nossa missão é contribuir para a construção dos 
conhecimentos dos educandos mediante o desenvolvimento de 
competências, habilidades, atitudes e valores que os levem à 
emancipação, a construção do pensamento crítico e progressista. 
No Novo normal, reconhecer e respeitar a autonomia dos 
alunos tornou-se fator preponderante ao exercício da docência na sala 
de aula remota. O primeiro grande passo foi apreender a realidade na 
qual nos encontramos, para então ampliar o senso da curiosidade de 
modo a compreendermos que, viver a experiência do ensino remoto foi 
inevitável se considerarmos o cenário da pandemia, o que não significa 
NOGUEIRA, M. C. S. Um olhar freireano sobre a educação profissional remota 
45 
dizer que essa modalidade comporá as ofertas de cursos do Senac de 
Balsas-MA de modo primário. 
No período de 3 meses, de junho a agosto, o comportamento 
dos aprendizes inseridos no curso Aprendizagem Profissional de 
Qualificação em Serviços Administrativos diante dessa nova forma de 
ensinar e aprender foi moldado para o desenvolvimento da consciência 
do inacabado citado por Freire. Ou seja, diante do incerto, os alunos da 
Educação Profissional compreenderam que para edificar sua história 
de vida, teriam que assumir novas posturas frente às formas de se 
colocar em sociedade, refletindo acerca do novo perfil profissional 
solicitado pelo mercado de trabalho em um tempo cheio de 
possibilidades e sem determinismo. 
No livro Pedagogia da Autonomia, Freire destaca que o 
processo educacional está intrinsecamente conectado à vida cotidiana, 
 “ ” 
eleva o professor ao posto de detentor absoluto do conhecimento, 
enquanto o aluno assume o papel de mero ouvinte. Dessa forma 
podemos dizer que mesmo participando das transformações do Mundo 
4.0, a pandemia reforçou a inversão desses papeis tornando a relação 
educador-educando mais evidente. 
Fundamentado no contexto atual que nos encontramos e na 
perspectiva do aprender experimentando, vivenciando e agindo sobre 
o próprio objeto de aprendizagem, a Educação Profissional remota 
praticada pelo Senac foi renovada mediante a imersão pedagógica nas 
metodologias ativas, já aplicadas previamente, mas que a partir de 
então se tornaram ainda mais essenciais ao movimento educacional que 
preconiza o protagonismo do aluno. 
As metodologias ativas propiciam uma interconexão entre 
educação, cultura, sociedade, política e escola, sendo desenvolvidas a 
partir da aplicação de métodos ativos e criativos, que colocam o aluno 
no centro do processo de ensino de modo a gerar aprendizagem. Essa 
concepção de aprendizagem ativa e significativa surgiu bem antes das 
TDICs e teve o propósito de disseminar a proposta de uma 
metodologia de ensino focada na aprendizagem pela experiência e no 
desenvolvimento da autonomia do aprendiz (BACICH e MORAN, 
2018). 
Educação e Prática Pedagógica em Freire: desafios da atualidade 
46 
Assim, para dar continuidade ao desenvolvimento de sua 
proposta educacional no período de pandemia e retomando aspectos 
anteriormente debatidos, o Senac utilizou as plataformas Google Meet 
e Google Classroom com as turmas da Aprendizagem Profissional de 
Qualificação do ano 2020. A dinâmica das aulas remotas foi

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