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PESQUISAS EDUCACIONAIS

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Prévia do material em texto

Ana Lúcia Ribeiro do Nascimento
Jenerton Arlan Schütz 
Marco Antônio Franco do Amaral 
Paulo Roberto Dalla Valle 
Rafael Soares Silva 
(Organizadores)
Editora Metrics
Santo Ângelo – Brasil
2021
PESQUISAS EDUCACIONAIS
CONTEXTOS E PERSPECTIVAS
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Responsável pela catalogação: Fernanda Ribeiro Paz - CRB 10/ 1720
2021
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora 
Metrics
Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Metrics
Rua Antunes Ribas, 2045, Centro, Santo Ângelo, CEP 98801-630
E-mail: editora.metrics@gmail.com
https://editorametrics.com.br
Copyright © Editora Metrics
Imagens da capa: Freepik
Revisão: Os autores
P474 Pesquisas educacionais [recurso eletrônico] : contextos e 
perspectivas / organizadores: Ana Lúcia Ribeiro do Nascimento 
... [et al.]. - Santo Ângelo : Metrics, 2021.
392 p.
ISBN 978-65-89700-35-7
DOI 10.46550/978-65-89700-35-7
 
1. Educação. 2. Formação de professores. 3. Educação 
inclusiva. I. Nascimento, Ana Lúcia Ribeiro do (org.). 
 
 CDU: 37
Conselho Editorial
Drª. Berenice Beatriz Rossner Wbatuba URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Dr. Charley Teixeira Chaves PUC Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil
Dr. Douglas Verbicaro Soares UFRR, Boa Vista, RR, Brasil
Dr. Eder John Scheid UZH, Zurique, Suíça
Dr. Fernando de Oliveira Leão IFBA, Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil
Dr. Glaucio Bezerra Brandão UFRN, Natal, RN, Brasil
Dr. Gonzalo Salerno UNCA, Catamarca, Argentina
Drª. Helena Maria Ferreira UFLA, Lavras, MG, Brasil
Dr. Henrique A. Rodrigues de Paula Lana UNA, Belo Horizonte, MG, Brasil
Dr. Jenerton Arlan Schütz UNIJUÍ, Ijuí, RS, Brasil
Dr. Jorge Luis Ordelin Font CIESS, Cidade do México, México
Dr. Luiz Augusto Passos UFMT, Cuiabá, MT, Brasil
Dr. Manuel Becerra Ramirez UNAM, Cidade do México, México
Dr. Marcio Doro USJT, São Paulo, SP, Brasil
Dr. Marcio Flávio Ruaro IFPR, Palmas, PR, Brasil
Dr. Marco Antônio Franco do Amaral IFTM, Ituiutaba, MG, Brasil
Drª. Marta Carolina Gimenez Pereira UFBA, Salvador, BA, Brasil
Drª. Mércia Cardoso de Souza ESEMEC, Fortaleza, CE, Brasil
Dr. Milton César Gerhardt URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Dr. Muriel Figueredo Franco UZH, Zurique, Suíça
Dr. Ramon de Freitas Santos IFTO, Araguaína, TO, Brasil
Dr. Rafael J. Pérez Miranda UAM, Cidade do México, México
Dr. Regilson Maciel Borges UFLA, Lavras, MG, Brasil
Dr. Ricardo Luis dos Santos IFRS, Vacaria, RS, Brasil
Dr. Rivetla Edipo Araujo Cruz UFPA, Belém, PA, Brasil
Drª. Rosângela Angelin URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Drª. Salete Oro Boff IMED, Passo Fundo, RS, Brasil
Drª. Vanessa Rocha Ferreira CESUPA, Belém, PA, Brasil
Dr. Vantoir Roberto Brancher IFFAR, Santa Maria, RS, Brasil
Drª. Waldimeiry Corrêa da Silva ULOYOLA, Sevilha, Espanha
Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
PREFÁCIO ........................................................................................13
Ana Lúcia R. Nascimento
Capítulo 1 - A ÉTICA DA EFICIÊNCIA: A EDUCAÇÃO A 
DISTÂNCIA EM ÉPOCA DA PANDEMIA ....................................15
Marta de Andrade de Oliveira
Lucimeire Calisto Pereira Ferreira
Wilson Cruz 
Jovânia Elza Teixeira da Silva
Capítulo 2 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM TEMPOS 
DE PANDEMIA ...............................................................................29
Sunamita de Souza Belido
Elza Lemes de Oliveira 
Neide Maria Montes e Souza
Edilaine Monteiro Santana
Capítulo 3 - ARTETERAPIA E AFETIVIDADE PARA ALUNOS 
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS ................45
Sônia Maria Ferreira dos Santos
Ana Claudia Gonçalves Araújo
Meire Elaine de Lourdes Dias
Vanessa Rodrigues Almeida de Oliveira
Capítulo 4 - FORMAÇÃO DOCENTE PARA O SÉCULO XXI: 
RUMO A UMA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA ....................59
Izildinha Martinez Campos
Capítulo 5 - INDISCIPLINA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO 
INCLUSIVA ......................................................................................75
Erica Lima Nascimento
Aparecida de Freitas Batista
Mariza de Lima Nascimento
Enrique López 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Capítulo 6 - JOGOS COMO METODOLOGIA AVALIATIVA NA 
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA .........................................................91
Emilio Parra Sanches Junior
Capítulo 7 - O USO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM 
UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA .................................................103
Sérgio Reis Ferreira dos Santos
Rosana Mendes 
Capítulo 8 - POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS ..............117
Eliana Alves da Gama
Capítulo 9 - REFLEXÕES ACERCA DOS DESAFIOS DISCENTES 
E DOCENTES NO CENÁRIO EDUCACIONAL DURANTE O 
PERÍDO DE PANDEMIA DO CORONAVÍRUS .........................129
Ana Flávia Fiuza da Silva 
Vanuza Fiuza da Silva
Capítulo 10 - A CONTRADIÇÃO DAS FORMAÇÕES 
DISCURSIVAS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA 
PORTUGUESA: DE UMA PROPOSTA INTERATIVA DE 
APRENDIZAGEM À DEMARCAÇÃO DO DISCURSO DA 
EXCLUSÃO ....................................................................................145
Georgia Carla Barreto Freire
Antônio Lailton Moraes Duarte
Danielly Mara Rodrigues de Melo
Capítulo 11 - ONOMATOPÉIAS EM TIRAS DA MALFADA: UMA 
QUESTÃO DE EXPRESSIVIDADE ..............................................165
Danielly Mara Rodrigues de Melo
Georgia Carla Barreto Freire
Antônio Lailton Moraes Duarte
Capítulo 12 - BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO 
INCLUSIVA E ESPECIAL ..............................................................175
Dayane Cristina Guarnieri 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Capítulo 13 - PROGRAMA DUPLA – ESCOLA: REFLEXÕES 
SOBRE EDUCAÇÃO E QUALIDADE .........................................189
Elaine Silva Mateus
Capítulo 14 - FORMAÇÃO DE PROFESSORES - CONSTRUÇÃO 
E (RE) CONSTRUÇÃO: REFLEXÕES ADVINDAS DA 
DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVIONADO III - DOCÊNCIA 
DO ENSINO MÉDIO....................................................................201
Elaine Silva Mateus
Capítulo 15 - REFERENCIAÇÃO SEQUENCIAL EM TEXTOS 
NO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................213
Elenilza Maria de Araújo Sousa
Capítulo 16 - DANÇA COMO ELEMENTO FACILITADOR 
NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR PARA CRIANÇAS COM 
SÍNDROME DE DOWN ...............................................................231
Lívia Maria Cesário Palmeira
Fabio Jose Antonio da Silva
Capítulo 17 - NARRATIVAS SOBRE REPRESENTATIVIDADE 
DE UMA ESTUDANTE NO CURSO DE LETRAS E SUAS 
VIVÊNCIAS ÉTNICO-RACIAIS ...................................................253
Cristina Aparecida de Jesus 
Fernando Silvério de Lima 
Capítulo 18 - A LITERATURA DA WEB COMO RECURSO ÀS 
PRÁTICAS DE LETRAMENTO LITERÁRIO ..............................271
Marianna Rego 
Jéssica Iung 
Capítulo 19 - ENSINAR E APRENDER EM TEMPO DE 
PANDEMIA: A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS 
EDUCACIONAIS, DOS PROFESSORES E DA PARTICIPAÇÃO 
DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO REMOTA ...................................285
Sonia Mari Kikuchi Nagano
Leandro Homma Nagano
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Capítulo 20 - O PAPEL DA ESCOLA NO CONTEXTO ATUAL: 
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO REMOTO ...............................295
Francisca Eleneide Xavier Ávila 
Beatriz Torres Pires 
Viviane Maria Vieira Rodrigues
Capítulo 21 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: O PAPEL DO 
EDUCADOR NESSE PROCESSO ................................................313
Rodi Narciso
Catyane Roberta Hauth
Capítulo 22 - DIREITO HUMANO À IDENTIDADES SEXUAIS 
E DE GÊNERO: UM ESTUDO DE CASO EM ESPAÇOS 
ESCOLARES ...................................................................................327
Carina Caetano de Oliveira de Oliveira Quines
Rosângela Angelin
Capítulo 23 - + QUE UM: O PODER DO APOIO FAMILIAR PARA 
O SUPERDOTADO .......................................................................349
Roselí Ana Fabrin
Capítulo 24 - A ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA E A SUA 
QUALIDADE: PERDAS OU CONQUISTAS? ..............................361
Tatiana Pinheiro de AssisPontes
Mauricio Fonseca Pontes
Capítulo 25 - A REINCIDÊNCIA CRIMINAL E A 
COMPLEXIDADE DA PROGRESSÃO DA PENA NO BRASIL: 
APONTAMENTOS SOBRE A REMIÇÃO PELA EDUCAÇÃO ..375
Tailan Cristina Maciel
Vanessa Elisabete Raue Rodrigues
SOBRE OS ORGANIZADORES ...................................................391
PREFÁCIO
As escolas, todavia, continuam sendo o exemplo típico do meio 
especialmente preparado para influir na direção mental e moral 
dos que a frequentam (DEWEY, 1979).
Afinado com a epígrafe acima, o desafio que os convidamos é, por intermédio dos capítulos que compõem este livro, 
elaborado em um contexto pandêmico, refletir sobre o processo 
educativo brasileiro, que tem a escola como principal meio de 
construção e disseminação do conhecimento. 
Num primeiro momento, ao ponderamos a função social 
da escola, alguns intelectuais contribuem para argumentarmos os 
contornos pelos quais a escola pública tem transitado ao longo do 
tempo. Bourdieu por exemplo, defende a ideia de que a escola é 
um mecanismo predominante na reprodução e conservação da 
desigualdade, Saviani indica que a escola pode promover o homem, 
Freire considera que a escola, nunca neutra, deveria promover a 
emancipação e autonomia. Nessa esteira, Dewey indica a educação 
escolarizada como única forma de promover a democracia em 
sua plenitude. Desse modo, o objetivo da educação em uma 
comunidade democrática “é habilitar os indivíduos a continuar sua 
educação” (DEWEY, 1979, p. 108), ou seja, é a possibilidade de 
estar em constante desenvolvimento. 
Acreditamos assim, que a escola deve ser um espaço de 
transformação social. A função social da escola e da educação são 
temas que se encontram em evidência, e de certo modo sempre 
estiveram envoltos nas discussões inerentes à educação. No Brasil, 
desde a sua institucionalização, a escola enfrenta adversidades 
de distintas ordens, seja estrutural, partidária, curricular e ou 
pedagógica.
Sabemos que a escola sempre atendeu os interesses de grupos 
dominantes. Nesse ínterim, os desafios de promover uma educação 
14 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
pública de qualidade na contemporaneidade permanecem, e a escola, 
considerada por nós como lócus de construção e socialização do 
conhecimento e de desenvolvimento de mecanismos de letramento 
e formação humana, pode ser considerada como propulsora para o 
exercício pleno da cidadania. 
Ana Lúcia R. Nascimento
Julho de 2021.
Capítulo 1
A ÉTICA DA EFICIÊNCIA: A EDUCAÇÃO A 
DISTÂNCIA EM ÉPOCA DA PANDEMIA
Marta de Andrade de Oliveira1
Lucimeire Calisto Pereira Ferreira2
Wilson Cruz3
Jovânia Elza Teixeira da Silva4
Este artigo operacionaliza os conceitos de eficiência e ética propostos por Pompeu em sua obra “Somos 
Maquiavélicos”; usa dos quadros teóricos propostos por Freud e 
Jung além de realizar uma interface entre Maquiavel e Sun Tzu para 
reafirmar a leitura dos grandes clássicos e apontar a necessidade 
de pensar um conceito de eficiência ética baseada no humanismo 
e não no idealismo. Tendo como estudo de caso a educação a 
distância em época de pandemia conclui que o imediatismo e os 
eufemismos usados pelo discurso pedagógico mascaram a falta de 
eficiência educacional que irá reverberar nos próximos anos de 
forma calamitosa.
Pensar sobre ética é abordar o agir humano no sentido 
kantiano como imperativo categórico, antepondo humanismo 
a idealismo para enfim sugerir o conceito de ética da eficiência. 
Abordemos a questão por sua pergunta geradora: Como classificar 
1 Marta de Andrade Oliveira, graduada em Educação Física e Pós graduada em 
Educação Física Escola e Gestão Escolar, e-mail: martaestadual@hotmail.com 
2 Mestre em Educação, e-mail: lucimeirecalisto@hotmail.com
3 Mestre em Ciências da Educação, e-mail: wilsoncruzprofessor@gmail.com
4 Mestre em Educação – E-mail: - jovaniateixeira-@hotmail.com
16 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
o agir humano? É possível falar de uma axiologia5, de uma 
deontologia6, dedutivas? 
Kant estabelece este silogismo “Aja apenas segundo a 
máxima que você gostaria de ver transformada em lei universal” 
(KANT, 1797), ou seja, uma ação cujos princípios podem ser 
reproduzidos e aceitos universalmente. É imperativo, porque é um 
dever moral; é categórico, porque atinge todos, sem exceção.
Em uma estrutura silógica dedutiva temos: Toda ação para 
ser considerada ética precisa ser universal. Uma ação é ética. Logo 
é uma ação universal. O silogismo está correto. Mas isto não é o 
bastante é preciso do teste empírico. De Paulo Freire, inspirado em 
Lenin, temos: “A teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como 
a prática sem teoria, vira ativismo”.7
A primeira pergunta vem da história: Em que momento e 
em que lugar e qual homem poderia estabelecer uma ação que fosse 
inteiramente universal e, portanto, ética?
O que mais pode se aproximar desta exigência são os 
discursos da ética religiosa, porém, por mais que se queira universal, 
tais discursos esbarram no paradoxo de qualquer estrutura religiosa 
– as forças de coesão e de coerção. Enquanto a primeira estabelece 
a sinergia do pertencimento, a segunda estabelece o princípio da 
exclusão. 
Para ficarmos na ética cristã. A promessa de salvação da 
alma vem de um agir ético kantiano em Mateus temos: 
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar 
será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se 
encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser 
a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe 
5 Axiológico é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma 
axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade. Disponível 
em https://www.significados.com.br/axiologico/ Acesso em 11/05/2021
6 A deontologia é um tratado dos deveres e da moral. É uma teoria sobre as escolhas 
dos indivíduos, o que é moralmente necessário e serve para nortear o que realmente 
deve ser feito. Disponível em https://www.significados.com.br/deontologia/ Acesso 
em 11/05/2021
7 Disponível in https://www.pensador.com/frase/ODUzNzg1/ Acesso em 11/05/2021
 17
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
disser: Tolo, será réu do fogo do inferno. Portanto, se estiveres 
apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu 
irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua 
oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem 
apresentar a tua oferta. (MATEUS, 5:21 – 24)
Esta promessa de salvação pelo agir ético universal é 
contrabalançada pela observação de que só se atinge a salvação pelo 
Redentor cristão.
Em João, temos - Assegurou-lhes Jesus: “Eu Sou o Caminho, 
a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (JOÃO, 
14:06).
Temos aqui um paradoxo lógico: Mesmo que eu me 
concilie com meu irmão (princípio da coesão e da ética universal) 
se não seguir e acreditar no Cristo não terei a salvação (princípio 
da coerção).
 Filósofos, lógicos, pensadores de todas as matizes e matrizes 
esbarram em outra dificuldade de conceituar o que é universal? 
Tal conceito apresenta uma dificuldade que se revela ao que parece 
intransponível: Máxima extensão (já que é universal) é mínima 
compreensão (Já que tudo é universal o que não é Universal?)8 e 
a lógica nos obriga a perguntar: Se existiu, existe ou existirá um 
homem que não atenda e não a aceite tal ação como universal ela 
não o é. 
Esta possibilidade é corroborada pela moderna neurologia 
quando nos apresenta a figura do psicopata9 como aquele indivíduo 
8 Disponível em: https://sites.google.com/site/filosofarliberta/areas-disciplinas-da-
filosofia/logica/logica-do-conceito/2-1-a-extensao-e-a-compreensao Acesso em 
11/05/2021
9 Psicopata: Descrita pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey 
M. Cleckley, do Medical College da Geórgia, a psicopatia consiste num conjunto de 
comportamentos e traços de personalidade específicos. Encantadoras à primeira vista, 
essas pessoasgeralmente causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que 
as conhecem superficialmente. No entanto, costumam ser egocêntricas, desonestas 
e indignas de confiança. Com frequência adotam comportamentos irresponsáveis 
sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio. 
Os psicopatas não sentem culpa. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis 
e detestam compromisso. Sempre têm desculpas para seus descuidos, em geral 
culpando outras pessoas. Raramente aprendem com seus erros ou conseguem frear 
18 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
que por questões NEURAIS não possui a capacidade de percepção 
do outro, portanto todas as suas ações e por consequência sua ética 
é voltada para a satisfação de suas necessidades e do seu prazer; ou 
excluímos os psicopatas do grupo dos humanos (o que parece ser 
uma ação não ética) ou ao admiti-los abrimos uma exceção para a 
universalidade do conceito que deixa de ser, portanto, universal. 
Este artigo cumpre uma das mais precípuas tarefas de todo 
o artigo: ser um convite para uma obra maior e a obra a que se 
refere é: “Somos Maquiavélicos” de Júlio Pompeu. O prof. Pompeu 
é um pensador de características notáveis: não tem medo de discutir 
sobre alguns mitos mais arraigados do pensamento contemporâneo
O maquiavelismo de Maquiavel; consegue atualizar o texto 
clássico com exemplos da modernidade, seu pensamento está 
sempre para o aqui e agora; não é dogmático, suas argumentações, 
talvez pela sua formação na área do direto, primam pelo silogismo 
e o que é mais importante não faz de sua “cátedra de papel” um 
púlpito para um doutrinamento de ocasião, o seu leitor tem sempre 
a liberdade de não concordar de suas análises sem ser ameaçado da 
excomunhão dos infiéis.
Realizado o preâmbulo e cumprida a norma da justificativa 
acadêmica passamos ao que realmente interessa: refletir sobre as 
questões suscitadas a partir da leitura de um texto e esta é sua 
natureza acadêmica: suscitar interrogações, se ele não consegue 
fazer isto, ou não é um texto cientifico ou o seu leitor não realizou 
a leitura adequada. 
A primeira destas indagações é: Por que ler Maquiavel nos 
dias de hoje? Invertamos a pergunta: Por que não ler Maquiavel? 
Pompeu nos demonstra claramente esta necessidade: ao ler (com 
maiúsculas) um autor amaldiçoado e resgata-lo, está se fazendo 
mais que um exercício acadêmico, se está atualizando mensagens 
que foram colocadas centenas de anos atrás nos “baús do tempo 
de papel” e desveladas por quem tiver competência de lê-las. A 
impulsos. Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_
um_psicopata__imprimir.html Acesso em 11/05/2021
 19
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
esta necessidade acrescentamos outra um pouco mais acadêmica e 
mais geral: Porque Maquiavel, como outros tantos, é um clássico! 
Ler um clássico é travar um combate intelectual com as melhores 
e mais ardilosas mentes que já aconteceram. Tentar acompanhar 
seu construto mental, o enredo de suas justificativas, desvelar seus 
objetivos ocultos, contextualiza-lo em tempo e espaço nos aprimora 
para os embates empíricos que são impostas no dia-a-dia. 
E o principal desafio que Maquiavel impõe é entender 
sua ética. Maquiavel ético? Precisamente. Mas para se aceite esta 
afirmação é preciso seguir os passos de Pompeu. 
O primeiro deles é sua afirmação que para Maquiavel somos 
todos seres desejantes, este “gerúndio” – viver no ato de desejar -, 
é a nossa natureza. O homem é a única proposta de vida das três 
milhões e quinhentas mil espécies até agora catalogadas que deseja. 
Souza nos alerta sobre este ponto sob outra perspectiva.
O homem é o animal que se recusa a aceitar o que gratuitamente 
lhe deram e gratuitamente lhe dão. Não me perguntem agora 
quem dá o que o homem recusa. Só importa a recusa da 
gratuidade. O homem se lhe recusa; o homem é a própria 
recusa, antes de ser o quer que seja ou o quer que venha a ser. 
(SOUZA, 1980, p. 15)
Recusar algo ou alguém é desejar outra coisa ou o outro 
alguém. Recusar e desejar fazem parte do mesmo universo 
existencial em que o homem está inserido.
O poder provoca o desejo, quanto mais perto do poder, 
qualquer que o seja, mais tal objeto se torna desejante. A lei da 
gravidade10 entendida a partir das forças da potência e do objeto. 
Humano essencialmente humano.
Conclui-se então que se está na natureza do homem desejar, 
é natural que deva utilizar todos os meios para atingir seu objetivo 
– “Os fins justificam os meios”. Frase atribuída a Maquiavel. Sua 
10 Lei da Gravitação Universal de Newton: “Dois corpos atraem-se com força 
proporcional às suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância 
que separa seus centros de gravidade.” Em outras palavras quanto mais perto e mais 
pesado mais força tem.
20 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
inveracidade e seu mal entendimento, aliás, são o mote e o emulo 
de toda a obra de Pompeu. 
É preciso redimi-lo. Fazer-lhe justiça ainda que tardiamente, 
pois pode ser que a sua absolvição nos permita ouvi-lo, não 
mais como o pai de todas as ardilosidades ou o homem que 
liberta a ambição ao afirmar que os fins justificam os meios, 
(frase que Maquiavel nunca formulou. N/A) mas como um 
revolucionário do pensamento político. (POMPEU, 2011, p. 
17).
O que este revolucionário do pensamento político nos 
traz de novo é o conceito de eficiência. Pompeu confirma é que 
o primato da conquista do objeto de desejo é a eficiência e ser 
eficiente é conquistar/atingir a meta com o menor desgaste/custo 
possível. Para isto Maquiavel irá analisar as ações de figuras que 
dentro da ótica tradicional não são éticos. Governantes que para 
atingirem seus objetivos de maneira eficiente lançaram mão do que 
fosse necessário para tal. 
Aparentemente, isto confirma a condição de que os fins 
justificam os meios, porém não é bem assim. O conceito de eficiente 
pode e deve ser entendido em sua potência humanística.
Uma sociedade eficiente seria aquela em que seus 
mecanismos de produção e manutenção nas suas várias dimensões 
politicas funcionassem com o mínimo de desgaste e custo, ou 
seja, uma sociedade onde os organismos de execução (executivo), 
representatividade (legislativo) e controle (judiciário) funcionassem 
em prol da comunidade que os sustentam.
Algo muito longe da realidade brasileira, onde temos os 
poderes, para dizer o mínimo, são ineficientes. Do macro para o 
micro.
Tomemos um fenômeno: cola no dia do exame. A cola 
é eficiente para se conseguir uma nota melhor em um exame 
especifico. Porem ineficiente para a formação do futuro profissional 
já que seu ato escamoteia a falta de aprendizado. 
Do pessoal para o profissional. Um advogado no exercício 
de sua função ao ser contratado por um criminoso para sua defesa 
 21
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
deve exercer as maneiras mais eficientes de retirar ou atenuar as 
penas do seu cliente. Se não é capaz de exercer esta ética da eficiência 
de maneira plena, por razões de foro íntimo, deve declinar da 
causa. Aceitá-la sem ter plena consciência de ser capaz de ser o mais 
eficiente possível é não ser ético.
Como seria então esta ética da eficiência? Em primeiro 
lugar se deve partir como quer Maquiavel e Pompeu, não do que 
o homem deveria ser, mas do que o homem é e se assumirmos esta 
premissa como verdadeira, assim descarta-se de uma só vez todos os 
idealistas tanto a direita quanto à esquerda do espectro ético.
À direita: os platônicos de plantão sempre a estabelecer um 
mundo ideal onde o homem deve ser adequar, o seu discurso se 
caracteriza fundamentalmente pelo verbo “deve” e pela imaginação 
desenfreada. Devemos ser assim, assado, guisados ou mal passados 
para atingir o Nirvana da bem aventurança, onde quer que ele esteja, 
seja ele, o Supremo Bem platônico, o Super-homem nietzschiano 
ou depois de desencarnados, naturalmente, os anéis de Saturno.
A esquerda, os pseudomaterialistascom suas teorias de 
manipulação “bigbrotherinianas” conspiratórias prevendo o fim da 
liberdade individual e da democracia a menos que todos sigam suas 
ideias e todas as outras que viram ou virão são um golpe contra a 
democracia por eles instaurada, e qualquer destituição de poder 
mesmo obedecendo todos os princípios legais é um atentado contra 
a sua democracia e liberdade.11 Como se liberdade e democracia 
pudessem existir sob a condição de posse de alguém.
O segundo passo a ser dado é passagem da realização do 
prazer imediato com o prazer a longo prazo em prol de uma maior 
eficiência política. Entendamos. 
Freud nos ensina que o homem se move entre duas forças: 
o princípio do prazer que é a realização de seus desejos no aqui e 
agora que Pompeu traduz para “o homem maquiavélico não está 
em guerra consigo mesmo, mas com o que o impede de alcançar o 
11 Alusão absolutamente intencional à teoria do golpe de estado vinculado ao 
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff
22 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
que deseja, contra o que lhe entristece, sejam coisas da natureza ou 
outros homens” (POMPEU, 2011, p. 09) e o princípio da realidade, 
o que seria o prazer a longo prazo ou o que iremos chamar de “ação 
eficiente”.
Optar pelo prazer a longo prazo é optar por uma ação 
mais eficiente e mais douradora. Nos cânones recomendados por 
Maquiavel e Sun Tzu é dominar de forma permanente, não importa 
se um país, uma empresa ou a mente, optar pela “ação eficiente” é 
apostar na inteligência do homem. 
Mas não seria isto também uma idealização? Imaginar que o 
homem como um todo seria capaz de realizar esta passagem: entre 
a eficiência a curto prazo, portanto não eficaz em sua plenitude, e 
uma eficiência a longo prazo – eticamente comprometida?
Vejamos! A aventura no homem na terra começou a 40.000 
mil anos atrás e tivemos a beira da extinção quando éramos apenas 
uns poucos grupos de homídeos amontoados nas costas da África 
do Sul antes atravessarmos o Golfo de Aden, o que nos levaria a 
todos os rincões da terra. 
Há sete mil anos conseguimos criar nossas primeiras 
civilizações, a dois mil e quinhentos anos inventamos a democracia, 
e a trezentos descobrimos o que é ser cidadãos de um pais, a cento 
e cinquenta estabelecemos que legalmente que não existiriam 
escravos, a cem que as mulheres teriam direito a voto, hoje 
enfrentamos o desafio de podermos falar a linguagem do outro. 
Embora a história da realização do homem não seja uma reta como 
querem os positivistas, também não é um círculo como querem 
os apocalípticos de plantão, a história do homem em suas diversas 
dimensões é uma espiral ascendente. 
Estamos caminhando rumo a um futuro onde o homem 
se enxergue como homem não porque uma ou outra ideologia o 
querem, mas porque esta é a única maneira de se manter vivo nesta 
terra, que é a única que temos - habitamos uma nave que está indo 
em um rumo desconhecido, em uma velocidade ignorada e que 
ninguém tem o manual de instruções – Podermos ler este manual e 
 23
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
continuar podendo habita-la! depende apenas da nossa capacidade 
de estabelecermos uma ética da eficiência. Nada mais maquiavélico, 
nada mais ético. Realizada esta exposição teórica e a conceituação 
operacional de que ser eficiente a longo prazo é ser ético.
Um caso particularíssimo. No réveillon de 2018 ninguém 
no mundo seria capaz de prever o que estaria por vir, a pandemia 
estabeleceu uma realidade que era inconcebível pré-pandemia, o 
conceito forjado de um “novo normal” é uma condição de existência 
e não uma alternativa, no mundo educacional repercute tal situação 
e soluções e alternativas operacionais se acumulam sobre a mesa 
do professor para serem logo depois descartadas, não há modelos 
a serem seguidos, por consequência não a julgamentos a serem 
realizados, contudo, mesmo neste novo normal, alguns padrões 
devem ser lembrados principalmente quando são escamoteados 
por um discurso de auto indulgencia e de transferência de 
responsabilidades. 
As considerações realizadas neste tópico se baseiam em três 
pontos: o teórico devidamente exposto nos tópicos anteriores, na 
observação e vivenciação deste autor nestes dois anos de pandemia 
e por último na exposição de alguns conceitos manipulados 
consciente ou inconscientemente que por sua manipulação irão 
trazer como consequência uma inevitável distorção de qualquer 
análise realizada ex-post-facto.
O papel da família. O discurso acadêmico educacional 
principalmente das series iniciais era, antes da pandemia, prodigo 
em estabelecer a importância da família na educação, e ao mesmo 
tempo, havia um discurso de que “a escola ensina, a família educa”, 
ambas as posturas carecem de um mínimo de aprofundamento. 
A grande maioria das famílias modernas tem os seus 
mantenedores envolvidos no processo de produção que os afasta 
dos afazeres de casa, a grande maioria das famílias possuem os 
dois ou três mantenedores em trabalhos que simplesmente não 
possibilitam o comparecimento da escola nos momentos que ela 
decide, e entre ser despedido por reiteradas faltas e comparecer 
24 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
em reuniões escolares, a lei da sobrevivência familiar exige que os 
responsáveis abram mão do comparecimento escolar, cabe notar 
que 60% dos lares brasileiros são mantidos por mulheres que por 
sua fez são também mães, assim por questões alheias a vontade da 
família seus pares esperam que a escola assuma algumas tarefas que 
o desenvolvimento social estabelece. 
Esta inevitável situação leva esta reflexão ao segundo 
conceito “escola ensina, família educa”, que a família exerce uma 
poderosa influência sobre o caráter e o procedimento do indivíduo 
é notório, porem de que família e de que influencia se está falando: 
uma situação mais que possível uma família de classe média onde 
todos os adultos trabalham fora, assim a transmissão dos valores 
comportamentais fica a cargo das babas contratadas, famílias de 
classe baixa recorrem a avós, avôs, vizinhas etc... por outro lado 
quando uma professora chega no horário, respeita os seus colegas, 
não grita com as crianças, mantem o mínimo de controle emocional 
em uma turma barulhenta ela não estaria educando esta criança os 
princípios mais básicos e claros de civilidade? 
Ao que parece escola e família devem somar esforços para a 
construção de um indivíduo capaz de exercer em sua plenitude sua 
capacidade política (habitante da polis) e não estabelecer um jogo 
de transferências onde a vítima maior e a criança, ou de acordo com 
a teoria exposta anteriormente uma eficiência a curto prazo (não 
se responsabilizar pelo ensino/educação) em uma ética distorcida 
tem como consequência a pouca eficiência civilizatória – natureza 
última da instituição escola. 
Esta relação de responsabilidades toma um sentido ainda 
maior em tempos de pandemia e “lockdown” onde pais e mães 
não podendo trabalhar se veem às voltas com as horas que a 
criança passaria na escola pensar que pais despreparados, ansiosos 
pelo futuro, crianças fechadas em casa sejam capazes de realizar as 
tarefas que lhe foram impostas por um colégio que neste momento 
está “longe” é o que este artigo chama de autoengano, em prol de 
uma eficiência a curto prazo pais resolvem questões para os filhos, 
estudantes copiam as respostas uns dos outros, ou simplesmente 
 25
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
desligam os consoles justificando a baixa qualidade da internet, 
professores diminuem a quantidade de exercícios a um nível que não 
condizente com qualquer teoria de aprendizagem estuda enquanto 
ouvem se seus coordenadores que as tarefas devem ser significativas 
e em prol desta “significação” apresenta-se o mínimo do mínimo 
possível, com a justificativa de que o aluno simplesmente não 
irá realizar as tarefas e tem razão quanto a isto já que este jovem 
aprendente não está em um ambiente propicio à aprendizagem. 
Talveza reação mais saudável seja dos alunos que 
simplesmente abandonam as tarefas esperando que as coisas voltem 
ao “novo normal” para assim refazer um mundo feito aos pedaços. 
Alguns, é claro, serão capazes de mesmo no caos e na inconsequência 
manter a disciplina, e por fatores internos ou externos conseguirem 
manter um nível de aprendizagem condizente com seus projetos, 
estes que não dependem do “ambiente de aprendizagem” serão 
os sobreviventes estarão mais capazes de sobreviver no mercado 
pós pandemia, como sempre, serão poucos serão raros, por que 
este é o papel fundamental e pouco lembrado da escola: criar um 
ambiente de aprendizagem eticamente eficiente nos moldes aqui 
apresentados e a gestores, professores, pais cabe a tarefa de sem 
eufemismos e autocomiseração considerar o cenário devastador em 
que se encontra a sociedade e tentar sem subterfúgios fazer o seu 
melhor.
Considerações finais
Se as conclusões desta reflexão se anunciam duras é por que 
são realmente duras a ética da eficiência a longo prazo delineada na 
primeira parte foi solenemente esquecida em troca de um discurso 
cheio de eufemismos e autocomiseração que mais atrapalha do que 
ajuda e só existe um grupo que é capaz de resolver esta questão 
deixando como legado talvez não soluções especificas, mas posturas 
éticas de seriedade e competência a desafios inéditos, não dogmas mas 
interações que visem em última análise uma eficiência humanística: 
26 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
nos professores, somos este grupo e se nós não conseguirmos dar 
conta destes desafios ninguém mais irá conseguir.
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 27
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
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Maquiavel (476 a.C. – 221 a.C.).
Capítulo 2
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM TEMPOS 
DE PANDEMIA
Sunamita de Souza Belido1
Elza Lemes de Oliveira2
Neide Maria Montes e Souza3
Edilaine Monteiro Santana4
Introdução 
Declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início de março de 2020, a pandemia causada 
pelo novo Coronavírus – COVID-19, tem levado autoridades 
governamentais de todo o mundo à adoção políticas públicas para 
a minimização do avanço e dos impactos da doença. A pandemia 
acelerou a digitalização dos mais diversos setores do Brasil e do 
mundo. Na educação, o ensino remoto emergencial foi – e continua 
sendo – a realidade de muitos alunos, pais e professores. 
Foi decretada a suspensão de aulas presenciais e sua 
consequente substituição por atividades não presenciais, por meio 
do ensino remoto. A proposta de educação a distância, em todos os 
níveis de ensino, tem sido discutida como solução massiva enquanto 
durar a situação de emergência de saúde pública. Diante desse 
contexto, este trabalho, objetiva discutir as relações dialógicas entre 
ensino e identidade leitora na perspectiva da cultura digital diante 
das recomendações do Ministério da Educação, com o intuito de 
refletir sobre a importância dos letramentos tradicionais e digitais 
1 Mestranda do Curso de Ciências da Educação da Universidade de Sol UNADES – 
PY, E-mail: sunamita.belydo@hotmail.com 
2 Doutora em Educação – E-amil: elzalemesdeoliveira7@gmail.com
3 Mestre em Educação – E-mail: neide.montes@hotmail.com
4 Mestre em Educação – E-mail: edilainemssantana@hotmail.com
30 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
para a efetiva qualidade do processo de ensino e aprendizagem em 
tempos de isolamento social.
Metodologia 
A fim de alcançar o objetivo de desenvolver uma discussão 
teórica sobre o assunto estudado, qual seja a importância da 
alfabetização e dos letramentos tradicionais e digitais diante 
das atuais recomendações do Ministério da Educação para as 
instituições de ensino em tempos de pandemia da COVID-19, 
esta pesquisa classifica-se como sendo de abordagem qualitativa 
e dialética. Trata-se, portanto, de uma pesquisa documental e 
bibliográfica, sustentada pelos pressupostos epistemológicos dos 
seguintes autores: Santos (2020), Santaella (2014), Soares (2009), 
Coscarelli & Ribeiro (2014) e Kleiman (1995). 
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos 
utilizados para coleta de dados, optou-se pelo viés descritivo, 
principalmente em referência à observação, registro e interpretação 
das políticas públicas recentemente adotadas no âmbito da 
educação, em comparação com a atual realidade fática educacional. 
Tendo em vista a abrangência e a dimensão do referido tema, 
bem como a necessidade de contextualização e posicionamento 
crítico em relação aos fenômenos estudados, a construção 
metodológica deste estudo também decorreu do material empírico 
obtido por meio da observação e análise de notícias, reportagens, 
instrumentos normativos e legais, entre outros textos, envolvendo 
a pandemia da COVID-19 no Brasil e no mundo. 
Por fim, a estrutura deste trabalho está organizada por 
meio da discussão dos seguintes pontos: as políticas educacionais 
adotadas no Brasil nos últimos meses e as diferentes perspectivas 
dos letramentos tradicional (analógico) e digital como práticas 
sociais em tempos de isolamento social. 
 31
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Desenvolvimento
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (2020), 
argumenta sobre os desdobramentos da pandemia à luz da situação 
mundial econômica e política dos últimos anos. Para o referido 
autor, o período de quarentena demonstra a necessidade de 
adaptação das sociedades a novas possibilidades de vida, necessária 
ao bem comum. Para ele, “[...] esta situação torna-se propícia a que 
se pense em alternativas ao modo de viver, de produzir, de consumir 
e de conviver nestes primeiros anos do século XXI” (Santos, 2020, 
p.29). 
Inclui-se a necessidade de um olhar crítico para nosso 
contexto educacional, nessa situação no que se refere à adoção de 
políticas públicas para a redução dos impactos da pandemia na 
educação. Conforme os últimos dados divulgadospela Organização 
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 
órgão que monitora os impactos da pandemia na educação, o 
fechamento de instituições de ensino afeta diretamente mais de 
72% da população estudantil no mundo (Unesco, 2020). 
Houve a suspensão de aulas presenciais dos cursos em 
andamento em todo o território brasileiro durante o período de 
pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), as redes de ensino 
de todo país tiveram que reorganizar e redefinir os métodos e formas 
para garantir a mediação e o processo de ensino-aprendizagem. 
As formas utilizadas em todo país foram as mais diversas. 
A maioria das redes optou por utilizar instrumentos (plataformas 
online, aplicativos, transmissão por televisão e rádio) que 
permitissem que as atividades ocorressem de forma remota. 
Professores precisaram reorganizar as formas de ensinar, planejar e 
mediar para garantir a aprendizagem dos estudantes. E os estudantes, 
e suas famílias, precisaram reorganizar o modo de aprender, para 
que conseguissem realizar tal processo sem a presença física de um 
profissional preparado.
32 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, em 
plenária virtual na segunda quinzena de abril de 2020, o Parecer 
CNE/CP nº5/2020, que contempla novas diretrizes de mitigação 
dos impactos causados pelo COVID-19 no fluxo do calendário 
escolar dos sistemas e redes de ensino no Brasil, em todos os níveis, 
etapas e modalidades. Em linhas gerais, tais diretrizes recomendam 
a soma de esforços para que os gestores da educação criem ou 
reforcem, dentro de suas condições e possibilidades, plataformas 
públicas para aulas on-line em todos os níveis de ensino, tanto em 
períodos de normalidade como em situações emergenciais como a 
atual. 
É inegável que a manutenção das atividades de ensino 
durante o período em que se está em casa é crucial para minimizar 
os prejuízos da ausência das aulas presenciais. Entretanto, ao 
mesmo tempo em que a proposta de ensino digital e a tecnologia 
apresentam-se como propulsoras de novos fazeres pedagógicos, 
trazem efetivas implicações educacionais, o que instiga reflexões 
imprescindíveis sobre a utilização das textualidades produzidas e 
acessadas em ambientes virtuais na contemporaneidade. 
Consoante a tais questões, o presente trabalho propõe 
um olhar sobre as relações dialógicas entre práticas de ensino, 
tecnologia e identidade leitora na perspectiva da cultura digital e do 
letramento, com vistas a discutir a inclusão do letramento digital 
no sistema escolar como alternativa para enfrentar o problema do 
distanciamento físico e social na pandemia da COVID-19. 
Alfabetização: mais que ler e escrever
A alfabetização sempre foi um desafio no Brasil, em tempos 
de pandemia esse quadro pode ficar ainda pior, com os últimos 
dados que apontam que, menos da metade dos estudantes do 3° 
ano do Ensino Fundamental alcançaram os níveis de proficiência 
suficientes em Leitura (Avaliação Nacional da Alfabetização, 2016). 
 33
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Segundo Magda Soares: a atual pandemia veio acrescentar 
novos desafios, afastando as crianças das escolas e das alfabetizadoras 
na fase fundamental do processo de escolarização. Por um lado, 
foi interrompido o processo de alfabetização no início do período 
em que a interação alfabetizadora-criança é indispensável, pois 
a aprendizagem do sistema de escrita alfabética depende da 
compreensão bem orientada das relações oralidade-escrita. 
Por outro lado, o afastamento das crianças da escola 
interrompe um processo apenas iniciado de escolarização, em que 
a criança começa a se inserir na “cultura escolar”. Tfouni distingue 
alfabetização e letramento para o autor:
A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto 
aprendizagem de habilidades para leitura, escrita e as chamadas 
práticas de linguagem. [...] A alfabetização pertence, assim, ao 
âmbito do individual. O letramento, por sua vez, focaliza os 
aspectos sócio históricos da aquisição da escrita. [...] procura 
estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam 
um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; 
procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as 
práticas “letradas” em sociedades ágrafas. (TFOUNI, 1995, p. 
9-10).
Os letramentos dependem do processo de alfabetização 
para serem desenvolvidos e, quanto mais consolidado o letramento 
tradicional, melhor será o letramento digital também. O letramento 
digital compreende interagir e entender as relações de interação 
no ciberespaço, as sociointerações nos espaços digitais provoca na 
realidade social mudanças de comportamento e aquisição de novas 
habilidades. Assim, Soares afirma que,
[...] diferentes tecnologias de escrita geram diferentes estados 
ou condições naqueles que fazem uso dessas tecnologias, em 
suas práticas de leitura e de escrita: diferentes espaços de escrita 
e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da 
escrita resultam em diferentes letramentos. (SOARES, 2002, 
p.144).
Por isso o letramento digital é um tópico importante a ser 
discutido. O letramento digital se refere ao modo de ler, escrever 
34 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
e interpretar informações, códigos e sinais, verbais e não verbais, 
com o uso de dispositivos digitais. Aborda o desenvolvimento 
de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas ao uso da 
tecnologia.
A participação da família
Independente do distanciamento social, a participação dos 
pais em toda vida escolar dos filhos sempre se fez importante, no 
processo de alfabetização não é diferente, se faz ainda mais essencial, já 
que a criança precisa receber estímulos e acompanhamento, sem essa 
participação, não conseguirá ir muito longe e dificilmente alcançara 
seus objetivos, com isso os prejuízos serão maiores ainda. A escola, 
mais do que nunca, precisa do apoio familiar neste momento tão 
difícil no qual todos passamos. Faz-se necessário que cada um 
cumpra seu papel de modo a garantir o direito fundamental do 
aluno.
Resultados e discussão
No atual contexto de adoção de atividades não presenciais 
em diversos suportes pelos sistemas de ensino, há múltiplas formas 
de se concretizar a leitura. Vivemos a “cultura da convergência”, 
conforme os pressupostos de Henry Jenkins (2006), para quem 
os produtos das novas e tradicionais mídias são desapropriados, 
tornam-se híbridos, relacionam-se, dialogam, e interpenetram-se 
com outros formatos e linguagens. 
A leitura e a escrita, na qualidade de práticas sociais, não 
constituem meramente atitudes mecânicas de decodificação de 
sons e letras. Deixar de ser analfabeto e tornar-se alfabetizado, ou 
seja, apenas aprender a ler e a escrever, não significa que o sujeito 
adquiriu a condição de quem faz da leitura e da escrita uma prática 
social, capaz de responder às contínuas exigências e demandas de 
seu tempo. 
 35
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Um leitor competente é aquele que usa efetivamente a 
linguagem escrita em diferentes circunstâncias de comunicação, 
de modo a se apropriar das estratégias e procedimentos de leitura 
característicos das diversas práticas sociais das quais participa, de 
tal forma que os utiliza no processo de construção dos sentidos dos 
textos. 
A postura dinâmica de compreender os significados do uso 
da leitura e da escrita em diferentes contextos garante uma efetiva 
interação do sujeito com os inúmeros textos que circulam na 
sociedade, sejam tais leituras realizadas dentro ou fora do ambiente 
escolar. 
Nesse sentido, o termo letramento surge como prática social 
que designa, na perspectiva de Soares (2009), o resultado da ação 
de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição 
que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência 
de ter se apropriado da escrita. Em outras palavras, letramento 
pressupõe o estado ou condição assumida porquem aprende a ler 
e a escrever, levando em consideração que a escrita carrega em si 
elementos sociais, culturais, políticos, cognitivos, sendo, assim, 
capaz de influenciar não só o sujeito que a pratica, mas também o 
grupo ou o meio em que ele se insere. 
Assim, Ibid (2009) ressalta que há diferenças significativas 
entre alfabetismo e letramento: enquanto alfabetizar um indivíduo 
significa ensinar a ler e escrever, compreender códigos e símbolos, 
o ato de letrar quer dizer condicionar a apropriação da escrita e 
da leitura em práticas sociais. Um indivíduo que não saber ler 
nem escrever (analfabeto) pode ser, de certa forma, letrado, quando 
consegue compreender e articular o fenômeno da escrita e leitura 
como exercícios que proporcionam a socialização; um adulto que 
não domina a “tecnologia” da leitura e da escrita, mas se interessa 
por ouvir a leitura de jornais, cartas e demais textos, ou uma criança 
que ainda não foi alfabetizada, mas brinca de escrever, de ler, folheia 
livros e gosta de ouvir histórias. 
36 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Ainda que o termo “letramento” seja conhecido e 
extremamente difundido atualmente, é preciso ressaltar que ele 
envolve uma diversidade de ênfases em sua caracterização. Kleiman 
(1995), por exemplo, amplia a conceituação de letramento 
inicialmente apresentada enfatizando que este compreende práticas 
sociais capazes de dar ao leitor a condição de identidade e de poder. 
Ela afirma que os estudos sobre o letramento devem estar voltados 
à transformação da ordem social, ou seja, potencializar, dar poder 
ao sujeito. Enfim, que o empoderamento da escrita se encontra 
no acesso e na manipulação da informação. Daí a importância de 
se estabelecer condições concretas para o letramento nas classes 
populares. 
Com as diversas mudanças nas formas de interação 
humana, a popularização da internet e a crescente demanda para a 
incorporação das tecnologias digitais da informação e comunicação 
nas práticas sociais e escolares, a noção de letramento digital ganha 
especial importância. Conforme as pesquisadoras Coscarelli & 
Ribeiro (2014), o letramento digital envolve “práticas sociais de 
leitura e produção de textos em ambientes digitais, uso de textos 
em ambientes propiciados pelo computador ou por dispositivos 
móveis, tais como celulares e tablets, em plataformas como e-mails, 
redes sociais na web, entre outras (COSCARALLI & RIBEIRO, 
2014, n. p. - Verbete). 
Embora o letramento digital abarque definições operacionais 
e também conceituais, as referidas pesquisadoras complementam 
que, diante da complexidade de se estabelecer parâmetro único 
para avaliar o grau de letramento digital de alguém, já que cada 
contexto pode demandar diferentes usos das tecnologias digitais, 
é fundamental que os indivíduos “[...] tenham desenvolvido 
habilidades básicas que lhes permitam aprimorar outras, sempre 
que isso for necessário”. (Coscarelli & Ribeiro, verbete, 2014).
Nessa perspectiva, ser letrado digitalmente significa não 
somente possuir a competência de se comunicar com desenvoltura 
em diferentes situações, mas também saber buscar e selecionar 
informações diversas no ambiente digital, com capacidade para 
 37
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
avaliar criticamente a credibilidade das mesmas, em atenção à 
autoria e às fontes da pesquisa. 
As práticas de letramento, como se sabe, não são restritas 
ao sistema educacional formal, mas devem ser potencializadas 
fundamentalmente nas escolas, as quais, assim como outras 
instituições próprias de uma sociedade globalizada e tecnológica, são 
consideradas agências de letramento, uma vez que abarcam enorme 
variedade de leitores, leituras, modos discursivos, tipos e gêneros 
textuais. Por um lado, há uma geração de jovens profundamente 
familiarizados com os recursos da Internet, os chamados “leitores 
ubíquos”, que conseguem falar ao telefone, conversar em chats e 
outros aplicativos de redes sociais, ler e-mails, notícias, ouvirem 
música e ainda estarem atentos ao que acontece no meio físico, 
simultaneamente. Ao lidar com vários aparelhos conectados, passa 
a interagir com uma diversidade de mensagens, ao mesmo tempo 
em que está corporalmente presente em ambientes físicos. 
Conforme a pesquisadora Santaella (2014), o perfil 
cognitivo do leitor ubíquo, que se aproveita dos diferentes recursos 
tecnológicos para acessar informações e realizar leituras em qualquer 
espaço e tempo, demonstra que a atenção dispensada é parcial 
contínua e continuamente parcial, pois responde simultaneamente 
a distintos focos, sem ater-se demoradamente a nenhum deles. 
O que caracteriza esse tipo de leitor é uma espécie de “prontidão 
cognitiva” (com ênfase para sua capacidade de processar paralela 
e conjuntamente, informações de ordens diversas), que serve 
para orientar-se entre o espaço virtual multimídia, sem perder o 
controle da sua presença e do seu entorno no espaço físico em que 
está situado. 
Essa geração espera que seu modo de ler o mundo seja 
contemplado na escola, o que nem sempre acontece, pois tais 
instituições não conseguem acompanhar em tempo real as 
mudanças ocorridas na sociedade, por diversos fatores que vão 
desde o econômico e social ao cultural e geográfico. Por outro lado, 
enquanto alguns realizam essas práticas sociais de leitura e escrita 
com desenvoltura, outros, porém, apesar de possuírem acesso a 
38 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
bens materiais e equipamentos tecnológicos de última geração, de 
dominarem as redes sociais e aparentemente terem incorporado a 
tecnologia em seus cotidianos, apresentam alguma dificuldade de 
discernimento e seleção do que é relevante ser lido em meio ao 
bombardeiro de informações disponíveis. Além disso, muitos não 
possuem habilidades para aproveitar todo o potencial ofertado pelas 
ferramentas tecnológicas, seja porque necessitam de orientação, seja 
porque faltam leituras críticas do mundo ou de como potencializar 
suas práticas.
Não tem sido fácil para as escolas, principalmente da rede 
pública, manter em funcionamentos as aulas no formato remoto, 
diante de tantos problemas sociais que permeiam as famílias dos 
alunos, bem como da falta de estrutura tecnológica das instituições 
de ensino e da pouca ou nenhuma qualificação aos docentes.
Em tempos de pandemia, a criação de ambientes virtuais 
destinados a práticas de comunicação, leitura, escrita e aprendizado 
transcende a pedagogia tal como foi pensada tradicionalmente. A 
visão do professor como um mero transmissor de conteúdos deve 
ser superada para ceder lugar à figura de um mediador entre os 
alunos e essas novas leituras, de um profissional que estimule a 
troca de conhecimentos e desenvolva estratégias metodológicas que 
possibilitem a construção autônoma e integrada de um aprendizado 
contínuo. 
Nesse contexto, faz-se necessário que família e escola cada 
um cumpra seu papel de modo a garantir o direito fundamental do 
aluno.
É hora de somar forças de modo que cada um dos atores 
envolvidos neste processo de garantia dos direitos das crianças e 
adolescentes cumpra seu papel e assim todos colham os bons frutos, 
mesmo em meio a tantas intempéries.
 39
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Considerações finais 
Enfatizou-se nesse artigo a importância das práticas sociais 
de Alfabetização e Letramento na sociedade contemporânea, 
envolvendo interseções entre ensino, tecnologia e identidade 
leitora, na perspectiva da cultura digital em tempos de pandemia 
da COVID-19.
Diante das discussões realizadas, observou-se que, se a criação 
de um modelo pedagógico que abarque a diversidade de indivíduos 
em situações distintas de letramento sempre foi um desafio para 
as escolas, as dificuldades são potencializadas no cenário inusitado 
do isolamento social. Assim, a realização de práticas letradas que 
atendam aos anseios de uma sociedade cada vez mais tecnológica 
exige várias reflexões.
No períododa quarentena, a adoção de políticas públicas 
que atendam ao imperativo de suprir a lacuna deixada pela ausência 
de aulas presenciais - com a simples transposição das tradicionais 
práticas pedagógicas para o universo digital - não constitui garantia 
de que o processo de ensino e aprendizagem aconteça de forma 
efetiva. 
Embora a experiência inerente ao ensino presencial deva 
ser considerada na construção de saberes para o ensino remoto, 
o desenvolvimento de atividades educativas intermediadas pelos 
meios digitais requer investimentos em práticas e recursos destinados 
a tais fins. A implementação de ações díspares sem uma mediação 
consciente e eficiente, sem condições iguais de acessibilidade e 
aproveitamento de ferramentas digitais, aliadas à desconsideração 
das diferentes realidades educacionais, pode ser irremediavelmente 
prejudicial à oportunização e à oferta de ensino de qualidade. 
É preciso refletir, ainda, sobre a importância das instituições 
de ensino e do professor, visto que a criação de ambientes educativos 
colaborativos e participativos ultrapassa o formato pedagógico 
concebido tradicionalmente.
40 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
No que se refere ao letramento digital para a formação de 
professores, vimos que há que se incluir nos programas de formação 
o caráter reflexivo crítico para que a inserção das novas tecnologias 
na prática docente não seja apenas mecânica e reprodutor. Antes, 
que se instrumentalize os professores com o questionamento 
contínuo sobre o que, como e por que ensinar sua disciplina 
adotando-se esta ou aquela ferramenta tecnológica. Como agentes 
do letramento os professores, por meio de sua liderança, devem 
articular novas ações, proporcionando aos alunos oportunidade de 
mobilizar seus saberes para participarem das várias práticas sociais 
que se utilizam da leitura e da escrita na vida, de maneira ética, 
crítica e democrática (Rojo, 2009, p.98). 
Auxiliar os alunos no desenvolvimento de competências 
e habilidades para interpretar, inferir, relacionar ideias em textos 
de diferentes gêneros e tipos, entre outras práticas, não deve ser 
atribuição específica do professor de português, mas de todos os 
docentes de distintos campos do conhecimento. Participação, 
colaboração e compartilhamento são funções de ambos os 
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, cabendo aos 
docentes à condução e divisão das tarefas, com vistas à autonomia 
do aluno e de sua participação social cidadã. 
Nesse sentido, o papel das instituições de ensino é 
imprescindível no sentido de proporcionar a aprendizagem para os 
ambientes informacionais de novas mídias e tecnologias, com ênfase 
no letramento digital e na linguagem, pois, tornou essencial para as 
aulas remotas, criando esforços para aprimorar e elevar o nível de 
letramento dos indivíduos, e não somente o nível de alfabetização, 
sendo esta uma necessidade premente nos processos de ensino com 
vistas a uma aprendizagem realmente significativa. Entretanto, para 
os professores pouco foi ensinado acerca dele dentro de um modelo 
de ensino completamente a distância.
Por isso, urge aprofundar os estudos teóricos e pesquisas de 
campo para a compreensão das propriedades e do funcionamento 
das textualidades em situações de uso cognitivo ou produtivo 
no cenário atual, a fim de entender como e quais letramentos as 
 41
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
instituições de ensino têm mobilizado nos discentes, por meio de 
plataformas digitais, nestes tempos de pandemia.
Disso dependerá o sucesso ou fracasso quando se pretende 
incentivar os alunos a manterem o interesse pelos estudos neste 
cenário de suspensão de aulas ou de aulas on-line, bem como de 
prosseguirem estudando e frequentarem as aulas presenciais quando 
o estado de emergência acabar. 
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Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
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Capítulo 3
ARTETERAPIA E AFETIVIDADE PARA ALUNOS 
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS 
ESPECIAIS
Sônia Maria Ferreira dos Santos1
Ana Claudia Gonçalves Araújo2
Meire Elaine de Lourdes Dias3
Vanessa Rodrigues Almeida de Oliveira4
Introdução
Fruto de uma pesquisa para obtenção ao título de Mestra em Educação, em que o objetivo foi verificar se as 
disciplinas dos cursos de Licenciatura em Pedagogia nas Instituições 
de Educação Superior no Estado de Goiás contribuem habilitam o 
discente a trabalhar com a Arteterapia no exercício da docência. 
Desse modo, a intenção deste estudo é apresentar os resultados da 
pesquisa empreendida.
A pesquisa bibliográfica e documental dedicou-se a 
analisar o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) nas seguintes 
instituições: Universidade Federal de Goiás (UFG) - Campus 
Goiânia; Universidade Federal de Catalão (UFCAT); Universidade 
Federal de Jataí (UFJ); o Instituto Federal de Educação, Ciência 
e Tecnologia de Goiás (IFG) e o Instituto Federal de Ciência e 
Tecnologia Goiano - Campus Morrinhos (IF-Goiano).
1 Mestre em Educação. Professora na Rede Básica de Ensino – Secretaria de Estado da 
Educação - GO. E-mail: sonia.fsantos@seduc.go.gov.br 
2 Mestre em Educação – E-mail: anaclaudiapsci@gmail.com
3 Doutora em Educação – E-mail: meiruel@hotmail.com 
4 Mestre em Educação – E-mail: vanessarodrigues.ped@hotmail.com
46 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Nesta perspectiva verificou-se que os documentos oficiais 
não abordam a nomenclatura “Arteterapia”, e, para além disso, 
apesar de oferecerem uma estrutura global no que concerne à 
inclusão, os projetos não possuem similaridade ao abordarem o 
ensino da arte.
Entendendo a Arteterapia
De acordo com Cionari (2004) a Arteterapia designa 
os métodos que envolvem as Artes no contexto terapêutico e ou 
educacional. Nesse sentido, é compreendida como:
Um campo de interface com especificidades própria, pois 
não se trata de simples junção de conhecimentos de arte e 
psicologia. Isso significa que não basta ser psicólogo e gostar 
de arte, ou ser artista/arte-educador e gostar de trabalhar com 
pessoas com dificuldades especiais para tornar-se arteterapeuta. 
(CIONARI, 2004, p. 7).
A autora destaca que a Arteterapia pode ser desenvolvida em 
diferentes contextos, e, a depender do campo de atuação permite a 
participação de diferentes profissionais. Nesse sentido, no contexto 
educacional,
É necessário que o arteterapeuta observe todo o processo 
realizado, indicando por onde o paciente / aluno iniciou 
o trabalho, de que forma uniu as partes; se foi feito 
individualmente ou em grupo, se necessitou da ajuda do 
terapeuta, se fez ou desfez alguma parte do processo etc. 
Sobretudo as possibilidades de interação e equilíbrio da 
estrutura organizada devem ser observadas (BORGES, 2010, 
p. 11, grifo nosso).
A arte é considerada por vários intelectuais como “a expressão 
mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada 
um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida” 
(GRASSI, 1997, p. 36), e desse modo, possibilita aos estudantes 
exteriorizar os sentimentos por vezes subjetivos, possibilitando a 
construção da aprendizagem.
 47
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
As metodologias de aprendizagem desenvolvidas a partir 
da Arteterapia, são simples e estimulam, nessa continuidade, a 
expressão verbal e ou não verbal e corporal. 
Na escola, os alunos com Necessidades Educacionais 
Especiais (NEE) irão se desenvolver, porém, para que ocorra este 
desenvolvimento é preciso atividades diferenciadas, contextualizadas 
às especificidades individuais e “necessitarão de mais tempo e de 
intervenções de um mediador comprometido com o despertar e 
o desejo de aprender” (SOUZA, CARVALHO, 2013, p. 2-3). 
E, de acordo com Souza e Carvalho (2013), nessa perspectiva, “a 
emoção proporcionada pela arte e a racionalização dessa emoção 
modificam o indivíduo e a sociedade, pois a arte é uma profunda 
fonte de comunicação e um excelente estímulo ao desenvolvimento 
da autoestima” (p. 4).
O primeiro contato com o ensino-aprendizagem da 
criança com NEE é com o Pedagogo, que irá acompanha-lo por 
no mínimo 5 anos. Nesse ínterim, é de extrema importância 
que o aluno ao adentrar o universo escolar, tenha garantido o 
acompanhamento de profissionais capacitados em atendê-lo, no 
auxílio ao desenvolvimento da aprendizagem. Desse modo, é em 
demasiado importante verificar como a questão é abordada nos 
cursos de formação.
A afetividade no contexto escolar
Segundo Mahoney e Almeida (2007) a afetividade se 
apresenta em três momentos na sua evolução, representados no 
quadro abaixo:
48 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Quadro 1 – Momentos evolutivos da afetividade
Momentos evolutivos da afetividade
Emoção É a exteriorização da afetividade, é sus expressão corporal 
motora.
Sentimento É a expressão representacional da afetividade. Não implica 
reações instantâneas e diretas como na emoção.
Paixão Revela o aparecimento do autocontrole como condição para 
dominar uma situação.
Fonte: Mahoney, Almeida (2007).
As autoras traçaram em sua pesquisa as etapas funcionais 
que a criança percorre, segundo Wallon, “do ato motor, do 
conhecimento e da pessoa” (2007, p. 117). Dito de outro modo, 
o indivíduo passa por diferentes etapas, desde o nascimento até a 
fase adulta e cada uma delas se caracteriza por comportamentos 
específicos à idade. “Cada estágio da afetividade, quer dizer as 
emoções, o sentimento e a paixão, pressupõem o desenvolvimento 
de certas capacidades, em que se revelam um estado de maturação” 
(SARNOSKI, 2014, p. 4)
Nessa perspectiva, Wallon considera que:
A afetividade é central na construção do conhecimento e 
da pessoa. O desamparo biológico que caracteriza os dois 
primeiros anos da vida humana, em razão das precárias 
condições de maturidade orgânica, determina um longo 
período de absoluta dependência da criança dos cuidados de 
um adulto para poder sobreviver (WALLON, 2010, p. 37).
Capelasso e Nogueira (2013), expõem que:
Por ser uma manifestação de sentimentos, carinhos ou 
cuidados, a afetividade pressupões que cultivemos em nós 
mesmos aptidões próprias do coração humano, que nos 
permite demostrar nossos sentimentos e emoções a outro 
ser ou objeto. Na psicologia afetiva é um termo que designa 
a suscetibilidade que o ser humano experimenta perante 
determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou 
em si próprio. (CAPELASSO, NOGUEIRA, 2013, p. 7).
 49
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
Sarnoski (2014) salienta que a afetividade tem papel 
substancial no desenvolvimento da personalidade da criança, 
considerando que o ser humano está sempre em processo de 
construção e amadurecimento mental e orgânico. Iniciado na 
infância, a construção da afetividade inicia-se em casa, com a 
família. De acordo com a autora, caso a criança não receba afeto 
e cuidado possivelmente na fase adulta terá mais resistência nas 
relações sociais. 
Além disso:
O tema afetividade ligado à aprendizagem está sempre em 
evidência nos ambientes escolares, impelindo professores a se 
superar ou fazendo-os recuar, chegando à desistência dos casos 
mais complexos. Porém, ela tem um papel muito importante 
nos resultados que os professores e alunos almejam. Hoje já 
se sabe que a afetividade é algo visceral, um sentimento, ou se 
tem ou se não tem. Isso não quer dizer que não se possa fazer 
nada para que as pessoas consigam vivenciá-las. (SARNOSKI, 
2014, p. 2).
Nessa continuidade, Ribeiro (2010) indica que a relação 
professor/aluno podecontribuir na formação da personalidade, a 
depender é claro, do tipo de relação estabelecida. Nas palavras de 
Ribeiro (2010):
Fica evidente que os estudantes apreciam mais as disciplinas 
ministradas por professores com os quais se relacionam melhor, 
pois a conduta desses profissionais influencia a motivação, a 
participação e a dedicação aos estudos. Motivar um estudante, 
então, não é uma questão de técnica, mas depende da relação 
que se estabelece com esse sujeito (RIBEIRO, 2010, p. 407).
Desse modo, podemos considerar que a afetividade se 
constitui como facilitadora da aprendizagem. Além de Henri 
Wallon, Jean Piaget e Lev Vygotsky considerados clássicos do 
desenvolvimento da aprendizagem infantil, outros intelectuais 
também discutem a importância da afetividade na construção da 
aprendizagem. Fernández (1991) considera que a aprendizagem 
é repleta de afetividade, uma vez que ocorre pela interação. Sob 
50 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
este ponto de vista a afetividade é a espinha dorsal do processo de 
ensino-aprendizagem. 
Vygotsky (2003) aponta que:
As reações emocionais exercem uma influência essencial e 
absoluta em todas as formas de nosso comportamento e em 
todos os momentos do processo educativo. Se quisermos que 
os alunos recordem melhor ou exercitem mais seu pensamento, 
devemos fazer com que essas atividades sejam ensinadas e 
instigadas emocionalmente. A experiência e a pesquisa têm 
demonstrado que um fato impregnado de emoção é recordado 
de forma mais sólida, firme e prolongada que um feito 
indiferente. (VYGOTSKY, 2003, p. 121).
A escola como instituição educativa que tem a função 
social de promover a aprendizagem de modo a construir junto aos 
alunos conhecimentos que possibilitem que os mesmos exerçam 
sua cidadania de modo crítico, consciente e transformadora das 
realidades sociais, torna-se nesse sentido como espaço fundamental 
de socialização, desde a infância, pois, é na escola que a criança tem 
o primeiro contato com o ensino institucionalizado. Desse modo, 
torna-se extremamente importante a formação específica para atuar 
na docência. Esta é uma reflexão proposta por esse estudo.
A Arteterapia e a aprendizagem para alunos com NEE
Já exprimimos que a Arteterapia é uma metodologia de 
aprendizagem que utiliza a Arte no processo educativo de alunos 
com NEE. Esse atendimento, bem como a inclusão são questões 
que começaram a ser discutidas no Brasil, na segunda metade de 
século XX. Segundo Jannuzzi (2004), por volta dos anos 30 é 
iniciada a discussão sobre o atendimento a esses alunos. No idos 
de 1930 foram criadas instituições filantrópicas para o cuidado dos 
indivíduos com NEE. 
Nesse período o Estado não reconhece que os indivíduos 
com NEE deveriam receber educação institucionalizada, mas 
subvencionava parcialmente as instituições que atendiam essas 
crianças. As instituições que funcionavam de modo precário se 
 51
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
expandiram na década de 1950 com a criação da Associações dos 
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de cunho assistencialista. 
As clínicas de reabilitação de pessoas com necessidades 
especiais surgem e se intensificam após a Segunda Guerra Mundial 
que deixou várias pessoas com lesões de toda ordem. No Brasil, 
o projeto de desenvolvimento econômico no Brasil, no contexto 
cívico-militar (1965-1985) articulava a tendência tecnicista, a 
formação para o trabalho. Nesse contexto, a escola foi considerada, 
nos moldes tecnicistas, como investimento. (ROMANELLI, 2003).
Em 1971 com a publicação da segunda Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação (LDB) – Lei 5,692/71 – é criado o Centro 
Nacional de Educação Especial (CENESP). As discussões acerca 
da Educação Especial se intensificam com a criação em 1978 do 
Programa de Pós-graduação em Educação Especial na Universidade 
de São Carlos (UFSCar). Porém, é na década de 1980 que se torna 
latente a luta dos direitos das pessoas com necessidades especiais, a 
integrar-se ao processo educativo. (SASSAKI, 2002).
No processo de redemocratização do Brasil, a Constituição 
Federal (CF) foi promulgada em 1988, e encontra-se em vigência 
até os dias atuais, e, foi a partir desse período que se intensificaram 
os debates para acesso e permanência das pessoas com NEE à escola.
É importante mencionar também ao ponderar sobre a 
educação inclusiva, a Declaração de Salamanca em 1994, elaborada 
a partir da Conferência Mundial sobre Educação Especial ocorrida 
na Espanha. Dois anos depois é publicada a terceira versão da Lei de 
Diretrizes e Bases sob o número 9.394/96, estabelecendo consoante 
a CF que a educação é direito de todos e dever do Estado. 
As escolas nessa conjectura deveriam proporcionar o ensino-
aprendizagem a todos, considerando todas as especificidades 
individuais. Em consonância com a Declaração de Salamanca:
As escolas integradoras constituem um meio favorável à 
construção da igualdade de oportunidades da completa 
participação; mas, para ter êxito, requerem um esforço comum, 
não só dos professores e do pessoal restante da escola, mas 
também dos colegas, pais, famílias e voluntários. A reforma das 
52 
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
instituições sociais não só é uma tarefa técnica, mas também 
depende, antes de tudo, da convicção, do compromisso e da 
boa vontade de todos os indivíduos que integram a sociedade 
(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 2004, p. 14).
A esse respeito, podemos inferir que a escola é uma instituição 
extraordinariamente importante à construção do conhecimento, 
e, nesse sentido, a figura do professor enquanto mediador dessa 
construção é significativa. E no que concerne à formação docente, 
é relevante analisar os currículos. Assim, a Resolução do Conselho 
Nacional de Educação Nº 02/2015 aponta que:
Os currículos dos cursos de formação deverão garantir 
nos currículos conteúdo específicos da respectiva área de 
conhecimento ou interdisciplinares, seus fundamentos 
e metodologias, bem como conteúdos relacionados aos 
fundamentos da educação, formação na área de políticas 
públicas e gestão da educação, seus fundamentos e 
metodologias, direitos humanos, diversidades étnico-racial, de 
gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira 
de Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais 
de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas 
socioeducativas (BRASIL, 2015).
Nesse sentido, os PPCs dos cursos analisados na pesquisa 
indicam a formação docente para atuarem na Educação Infantil, 
Ensino Fundamental I também na Educação de Jovens e Adultos nos 
primeiros anos do Ensino Fundamental. Consoante ao PPC da UFG:
Esse novo pedagogo/professor, como os demais licenciados em 
outras áreas do saber, deveria ser formado para compreender 
as questões da educação e da escola e nelas poder intervir pela 
discussão teórica e pelo trabalho docente. Além da atuação em 
área específica do saber e do trabalho de ensinar, cada licenciado 
deveria ser capaz de desempenhar funções de coordenação e de 
gestão nas escolas e nas redes de ensino, bem como de assumir 
outras atividades e funções educativas no serviço público e nos 
setores produtivos e de serviços (PPC/UFG, 2015, p. 05).
Em análise aos currículos os cursos não oferecem 
especificamente a disciplina Arteterapia, porém oferecem disciplinas 
que possivelmente abordam a questão da Arte na Educação, bem 
 53
Pesquisas Educacionais: Contextos e Perspectivas
como a questão da inserção de indivíduos com NEE na educação 
escolarizada, conforme o quadro abaixo:
Quadro 2 – Relação de Disciplinas que abordam a Arte e a Educação Inclusiva em 
Instituições de Ensino Superior (federais) em Goiás.
Relação de Disciplinas que abordam a Arte e a Educação 
Inclusiva em Instituições de Ensino Superior (federais) em Goiás.
Disciplinas Instituição
Psicologia da Educação / Fundamentos Teóricos e Práticos 
da Educação Especial e Inclusão Escolar / Libras / Arte e 
Educação.
UFG
Psicologia da

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